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Teste de Direito Constitucional - 8 de Fevereiro de 2019

Tópicos de correcção:
I
Comente as seguintes afirmações:

a. O constitucionalismo moderno surgiu em finais do séc. XVIII e constituiu,


fundamentalmente, uma reacção contra o absolutismo monárquico.

O constitucionalismo moderno surge, de facto, em finais do séc. XVIII, na sequência


das revoluções liberais enquanto “o ideal e a prática do governo limitado para fins de
garantia”. Tem como objetivo primordial a limitação do poder do monarca, o que
acontece por duas vias: organização do poder político segundo um princípio de
separação de poderes e o reconhecimento de direitos fundamentais aos cidadãos. O
art. 16.º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão ilustra isso.
É, precisamente, para fazer face a essa concentração do poder que caracteriza as
monarquias absolutas que surge o constitucionalismo moderno: passamos a ter
constituições escritas e com o surgimento das primeiras constituições escritas o
Estado moderno passa a adotar a forma de Estado limitado pelo direito.

b. O modelo português de fiscalização da constitucionalidade, previsto na


Constituição actualmente em vigor, define-se como um modelo misto, difuso na
base e concentrado no topo. (7 valores: 3,5+3,5)

O modelo português de fiscalização da constitucionalidade: é, de facto, um modelo


misto, na medida em que é influenciado por dois modelos:
- o modelo kelseniano: este é um modelo de controlo concentrado num órgão criado
especificamente para esse efeito: o Tribunal Constitucional. Podemos ver a influência
deste modelo na fiscalização preventiva, na fiscalização abstracta sucessiva e também
no recurso para o TC, em sede de fiscalização concreta
- o modelo difuso norte-americano: este é o modelo de controlo difuso,
disperso pelos diferentes órgãos jurisdicionais. Podemos ver a influência deste modelo
na fiscalização concreta, difusa, prevista no art. 204.º CRP.

II

Diga se estas afirmações são verdadeiras ou falsas e justifique a sua resposta:


a. A judicial review, espelhada no caso Marbury versus Madison, constituiu um
contributo fundamental do constitucionalismo norte-americano para o
reconhecimento de força normativa aos textos constitucionais.

Verdadeiro. No caso Marbury versus Madison o Supremo Tribunal Federal Norte


Americano afirmou o poder dos juízes de controlar a constitucionalidade das leis. A
partir do momento em que passa a haver instâncias a quem compete controlar a
constitucionalidade das leis, afirma-se a primazia da Constituição sobre os restantes
actos normativos, isto é, afirma-se a força normativa da Constituição.

b. Uma lei retrospectiva é aquela que visa a produção de efeitos para o passado,
não obstante poder afectar situações que venham a constituir-se no futuro.

Falso. Uma lei que visa a produção de efeitos para o passado é uma lei retroactiva.
Uma lei retrospectiva produz efeitos a partir da sua entrada em vigor, isto é, visa
aplicar-se para o futuro mas vai afectar relações jurídicas já constituídas antes da sua
entrada em vigor.

c. A assunção de poderes de revisão extraordinária carece de uma maioria de dois


terços dos deputados em efectividade de funções. (6 valores: 2+2+2)

Falso. A assunção de poderes de revisão extraordinária, isto é, aquela que não


respeita o limite temporal de revisão, que é de 5 anos, exige uma maioria de 4/5
dos deputados em efectividade de funções, nos termos do art. 284.º CRP.

III

Aprecie a conformidade constitucional das seguintes medidas, à luz dos princípios e


direitos constitucionais pertinentes:

a. Uma lei do Parlamento que proíbe o uso de burca islâmica nas aulas de
educação física, não obstando, porém, ao uso de crucifixos e outros símbolos
religiosos;

Estamos neste caso perante uma lei que vem restringir um direito, liberdade e
garantia: a liberdade religiosa (art. 41.º CRP), mais concretamente a liberdade de
culto. Neste caso coloca-se particularmente a questão de saber se esta lei
restritiva não será atentatória do princípio da igualdade (art. 13.º), na medida em
que proíbe apenas o uso de burca islâmica, mas não outros símbolos religiosos.
Está aqui em causa uma categoria suspeita, o que, para alguns autores, implica
uma presunção de inconstitucionalidade, devendo o escrutínio do julgador ser mais
exigente. Ainda assim, discutir a questão de saber se há um fundamento objectivo
que justifica a diferenciação de tratamento ou se esta é arbitrária.

b. Uma lei do Parlamento que, de modo a conter a onda de violência que se tem
feito sentir, impõe aos agentes policiais a repressão de toda e qualquer
manifestação através da aplicação de gás mostarda sobre os manifestantes. (7
valores: 3,5+3,5)

Estamos neste caso perante uma lei que vem restringir um direito, liberdade e
garantia: o direito de manifestação, previsto no art. 45.º CRP. Neste caso coloca se
particularmente a questão de saber se esta lei restritiva respeita as exigências que
o art. 18.º da CRP estabelece para que o legislador possa restringir direitos,
liberdades e garantias. O art. 18.º exige desde logo que a restrição seja feita por lei
da AR (o que se verifica) e nos casos expressamente previstos na CRP: não é o
caso – referir a discussão a propósito disso. Particularmente relevante nesta sede:
princípio da proporcionalidade nas suas três vertentes: adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito: discutir a admissibilidade da medida sob esse
ponto de vista. Pode também desde logo discutir-se a legitimidade do meio
utilizado.

Duração da prova: 2 horas. Máximo de duas páginas por grupo.

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