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ECCV

O factor 1 engloba 11 itens no total (7, 11, 13, 14, 23, 24, 25, 26, 28,
29, 35) e explica 12,6% da variância dos resultados. A este factor atribuímos
a designação de Determinantes Socioculturais, na medida em que o conteúdo
dos itens, remetem-nos no geral para as assimetrias históricas e culturais que
numa sociedade podem servir de fundamento para o exercício da violência
(Bowker, Arbitell & McFerron, 1990; Summer, 1997). Summer (1997) refere
que a violência é um sinal cultural e histórico, sujeito aos usuais filtros de
interesses, prejuízos e princípios. Segundo Straus (1999) existem algumas
normas culturais implícitas (e.g., infidelidade, correção da criança) que
permitem à pessoa ‘perder o controlo’ ou que sugerem que sob estas
circunstâncias a violência é culturalmente esperada.

Factor 1 – Determinantes socioculturais


Item Conteúdo do item
7 Só controla a violência quem a exerce, os outros nada podem fazer.
11 A violência entre dois adultos é normal e aceitável.
13 A violência entre crianças não passa de brincadeira.
14 Só conseguimos lidar com a violência se formos violentos também.
23 É mais grave uma mulher bater num homem do que um homem bater
numa mulher.
24 É mais grave uma criança bater num adulto do que um adulto bater
numa criança.
25 As mulheres têm direitos diferentes dos homens e por isso mais vale
aguentar a violência.
26 As crianças têm direitos diferentes dos adultos e por isso mais vale não
contar que são maltratadas.
28 A violência é um dos métodos para tentar resolver um problema.
29 Os homens têm mais direito de bater nos outros do que as mulheres.
35 A violência não pode ser controlada.

Alguns desses determinantes podem ligar-se a processos de


discriminação, relacionados com a idade (cf. 11, 13, 24, 26) ou o género (cf.
itens 23, 25, 29), os quais apoiam, por vezes, o exercer de violência de certos
indivíduos sobre outros. A aceitação de tais diferenças pode modelar uma
tolerância diferenciada da pessoa à violência, mesmo que a violência seja um
acto intolerável.
Este primeiro factor integra, ainda, outras crenças relacionadas com o
coping com a violência e que se destacam quer pela aceitação da
impossibilidade de confronto com esta (cf. 7 e 35) quer pela assunção da
própria violência como uma estratégia em si mesma para resolver um
problema, inclusive o da própria violência (cf. 14 e 28). Digamos que a
valoração de uma ou outra ideia podem delinear comportamentos e atitudes
passivas ou mesmo agressivas, em vez de um posicionamento sensato e
intermédio de respeito por si e pelos outros.

O factor 2 é, porventura, o mais complexo, pois engloba 12 itens (1, 2,


5, 8, 9, 10, 16, 19, 20, 22, 34 e 36), reunindo uma variedade de razões
pessoais para a ocorrência de violência entre os indivíduos, pelo que
designámos este factor de Determinantes Individuais. Alguns dos aspectos
presentes nestas afirmações são frequentemente apontados como causas
próximas para a violência entre as pessoas, como é o caso da patologia (cf.
item 8) ou os comportamentos aditivos (cf. itens 9 e 10) do ofensor. A
aceitação destes aspectos pode pressupor uma desculpabilização da conduta
violenta e/ou do ofensor.
A existência de um motivo indefinido (cf. item 1) ou específico como o
cometimento de erros (cf. item 2), a proximidade afectiva (cf. itens 5, 16, 34)
são razões, por vezes, evocadas para justificar a violência, aspectos cuja
concordância extrema pode fazer supor a culpabilização da vítima.

Factor 2 – Determinantes Individuais


Item Conteúdo do item
1 Para uma pessoa magoar outra tem que haver um motivo.
2 Quando se bate em alguém é porque essa pessoa fez algo errado.
5 É porque se confia nas pessoas que algumas abusam ou magoam
outras.
8 As pessoas violentas são doentes da cabeça e por isso não sabem o que
fazem.
9 O álcool é responsável pela violência de algumas pessoas.
10 Quem se droga não tem culpa de ser violento.
16 A violência sobre as pessoas é sobretudo cometida por estranhos.
19 Quando a violência ocorre em casa é dentro de casa que tem que ser
resolvida. Ninguém deve meter-se.
20 Só quando a violência ocorre na rua ou noutros sítios públicos devemos
metermo-nos para acabar com a situação.
22 As pessoas que são maltratadas e não pedem ajuda é porque não se
importam de apanhar.
34 A violência está sobretudo ligada com relacionamentos pobres entre as
pessoas.
36 A violência deve ser uma preocupação somente para quem é violento.
A definição do problema como mais ou menos particular (cf. itens 22 e
36), por vezes, atendendo ao contexto de ocorrência (cf. itens 19 e 20) da
violência, pode igualmente orientar um maior ou menor posicionamento
pessoal no confronto com o mesmo. A crença na violência como problema
privado conduz geralmente a adopção de uma posição distanciada daquilo que
é um problema social.

O factor 3 é composto por 6 itens (4, 12, 17, 18, 30, 31) e explica
7,3% da variância dos resultados. Este factor foi designado de Determinantes
Educativos, uma vez que o conteúdo destes itens faz subentender que a
violência seria justificada quando usada como estratégia punitiva para educar
uma pessoa. A violência física pode enquadrar-se em algumas famílias e
outros contextos educativos (e.g., escola) como estratégia privilegiada de
educação, fazendo com que a criança desenvolva ideias que legitimam a
violência se esta tiver como objectivo disciplinar e educar.

Factor 3 – Determinantes Educativos


Item Conteúdo do item
4 Só as pessoas da família (ex: pais) têm direito de bater ou tratar mal.
12 Um adulto (ex: pai, professor) tem direito a magoar uma criança para a
educar.
17 Um pai ou uma mãe tem direito a tratar mal o seu filho, porque eles é
que mandam em casa.
18 Quem cuida (ex: pais) tem todo o direito de bater.
30 Quando os pais batem nos filhos é para eles se corrigirem.
31 Algumas pessoas merecem apanhar para aprenderem.

O factor 4 é constituído por 3 itens (27, 32 e 33) e explica 5,7% do


total da variância. Nomeámos este factor de Etiologia da violência, querendo
este reunir crenças centrais sobre a origem da violência, considerando-se
basicamente duas posições: i) uma com argumento biológico: de que a
violência não é aprendida, logo é inata (cf. 27); ii) outra com argumento
psicossocial: de que a violência não emerge das diferenças criadas pelos e
entre os indivíduos, logo há igualdade psicológica e social (cf. 32, 33). De
certa forma, os itens contidos neste agrupamento, reflectem a ideia geral
subjacente aos itens do factor 3 (reveja-se o conteúdo do item 27) e mesmo
do factor 1 (cf. conteúdos dos itens 32 e 33).

Factor 4 – Etiologia da violência


Item Conteúdo do item
27 A violência não é algo que se aprende.
32 A violência nada tem a ver com poder ou desigualdade.
33 A violência nada tem a ver com o querer exercer controlo.

A formulação na negativa destes itens, obriga a uma maior reflexão


sobre o problema em causa, mas pode igualmente dificultar a interpretação e
consequentemente a decisão de resposta, pelo que pode ser desejável a
reformulação final destes itens pela positiva.
Atendendo aos resultados das análises estatísticas, concluímos
igualmente que é insuficiente, a representação de um construto referente à
etiologia da violência, baseados em apenas três itens. Num estudo posterior
com esta escala, uma das tarefas deverá passar necessariamente pelo
desenvolvimento de mais alguns itens ou, em último caso, prescindir destes
itens, eliminando o quarto factor.
Em conclusão, com base nos resultados do nosso estudo podemos
afirmar que a E.C.C.V. é uma escala que apresenta um estrutura diferenciada
(heterogénea), que originou a emergência de quatro factores. Tendo em
consideração isoladamente cada um dos factores obtidos na E.C.C.V.
verificámos que esta apresenta uma estrutura consistente (cf. quadro 6.8). O
alpha para os quatro componentes oscila entre .54 e .77, sendo este valor
satisfatório, permitindo-nos dizer que esta escala, pelo menos ao nível dos
três primeiros factores, aproxima-se dos critérios de fidelidade exigidos.

Somos da opinião de que a análise factorial foi sobretudo útil na


explicitação de agrupamentos de itens, permitindo-nos reconhecer alguns
factores subjacentes a um conjunto determinado de crenças,
operacionalizadas sob a forma de afirmações. Julgamos que uma maior ou
menor concordância com determinada crença não nos remete
necessariamente para um resultado algo similar do sujeito num outro item do
mesmo agrupamento (e.g., não é porque o sujeito acha que o álcool é
responsável pela violência das pessoas, que vai achar que a droga também o
é). Por outro lado, o sujeito pode assumir um grau de concordância
semelhante por ideias agrupadas em factores distintos (e.g. achar que a
violência não é algo que se aprende e aceitar também que as pessoas
violentas são doentes da cabeça), como possível seria também posicionar-se
de forma antagónica.
Do ponto de vista clínico, consideramos que este instrumento pode ter
contributos importantes quer para a avaliação quer para a intervenção, na
medida em que da análise de algumas das crenças do sujeito, podemos
favorecer com o debate lógico, a desconstrução e reconstrução de ideias mais
racionais sobre a violência.

Num segundo momento, ansiávamos conhecer as crenças que as


crianças participantes do nosso estudo possuíam em relação à violência
interpessoal, nomeadamente atendendo à sua experiência de vida com o
fenómeno. No geral, encontrámos diferenças estatisticamente significativas
quanto às crenças sobre o fenómeno entre as crianças do grupo normativo e
as crianças dos grupo de risco. No entanto, só uma análise aprofundada nos
permitiu compreender essas diferenças.
QUADRO 7.8 – Teste T de Student para os G I e G II no conjunto dos
itens da escala E.C.C.V.
N
Média
Desvio Padrão
t
g. l.
Sig.
Grupo I 605 64,16 12,23
Grupo II 68 67,66 14,50
-2,19 671 .029

Como podemos constatar pela análise do quadro 7.8, o grupo I


apresenta uma média global mais baixa à média obtida pelo grupo II, assim
como um desvio padrão menor no primeiro grupo. Tal desvio revela que o
grupo normativo exibe nesta escala, níveis de dispersão inferiores aos
manifestados pelo grupo de crianças em risco, muito embora não haja
diferenças significativas ao nível da variância (F=2,707;p=.100), assumindose
a equivalência na dispersão dos resultados num e noutro grupo. A partir
do Test T de Student verificámos que existem diferenças estatisticamente
significativas (p <.05) entre os dois grupos de crianças, querendo isto dizer
que as crianças sem experiência de vida violentas (G I), no geral, diferem
quanto às crenças sobre a violência interpessoal, das crianças com histórias
de violência familiar (G II).

CAPÍTULO VII 273


Estudo Comparativo

Na distribuição por factores (cf. quadro 7.9), observam-se resultados


bastante interessantes, os quais apontam na maioria dos componentes, para
a inexistência de diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, no
que toca à definição de alguns aspectos subjacentes às crenças dos sujeitos, à
excepção dos determinantes socioculturais, retratados no factor 1, que
parecem justificar orientações diferentes no modo como se pensa a violência.
Assim, os resultados do teste de comparação de médias sugerem-nos que os
sujeitos do grupo II apresentam mais crenças enraizadas a um substracto
social e cultural, que os sujeitos do grupo I.

QUADRO 7.9 – Teste T de Student para os G I e G II nos factores da escala


E.C.C.V.
N
Média
D. Padrão
t
g. l.
Sig.
Factor 1 G I 605 17,38 5,25
Det. Socioculturais G II 68 20,04 5,93
-3,55 79,28 ,001
Factor 2 G I 605 28,84 5,67
Det. Individuais G II 68 29,06 6,09
-,293 671 ,770
Factor 3 G I 605 10,95 3,27
Det. Educativos G II 68 11,96 4,46
-1,80 75,32 ,076
Factor 4 G I 605 6,99 2,32
Etiolog.da violência G II 68 6,60 2,45
1,28 671 ,200

A análise pormenorizada das diferenças de médias para cada item dos


respectivos factores (cf. anexo) permite-nos compreender melhor, pela
especificidade dessas crenças, as dissemelhanças apuradas entre os grupos.
Assim, no que concerne aos determinantes socioculturais é de realçar o facto
de que, para todos os itens deste primeiro factor, registaram-se valores
ligeiramente superiores no grupo II, comparativamente aos encontrados no
grupo I. Genericamente isto significa que o grupo de crianças com
experiência de exposição à violência familiar (G II) situa-se em termos de
aceitação de determinada crença numa posição um pouco mais concordante 40,
que o grupo de crianças sem história de exposição à violência (G I).
No grupo I, embora se apresentem globalmente para todos os itens
deste factor valores mais baixos, o facto é que estes sujeitos não discordam
nitidamente com tais crenças, revelando num ou noutro aspecto tendências
de aceitação muito próximas das encontradas no grupo de crianças em risco.
Assim, por exemplo, no item 7 - “Só controla a violência quem a exerce os
outros nada podem fazer”, no item 13 – “A violência entre crianças não passa
de brincadeira” e no item 29 – “Os homens tem mais direito de bater nos
outros que as mulheres”, não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas, sendo bastante pequena a amplitude da diferenças nas médias,
que foram respectivamente de 0.12, 0.08 e 0.05.
Outros itens testemunham essa aproximação, tais como o item 14 –
“Só conseguimos lidar com a violência se formos violentos também” ou o item
26 – “As crianças têm direitos diferentes dos adultos por isso mais vale não
contar que são maltratadas”. As diferenças entre as médias encontradas para
um e outro grupo neste itens são igualmente baixas, respectivamente 0.21 e
0.22.
Nos restantes seis itens (itens 11, 23, 24, 25, 28, 35) que compõem
esta escala, as diferenças encontradas foram estatisticamente significativas
para p<.05, mas curiosamente a amplitude respeitante à diferença de médias
é baixa e nunca superior a meio valor (0.5). Nesta análise pormenorizada
não detectamos a existência de um padrão (e.g., em função do género, idade,
etc.), que fosse base de sustentação para determinadas crenças, pois olhando
às categorias que compunham as dimensões da escala, detectámos diferenças
40Os valores apurados para os dois grupos aproximam-se mais de 1 (não concordo) e 2
(concordo pouco) do que de 3 (concordo) e 4 (concordo completamente). O grupo II apresenta
valores mais próximos de 2 que o grupo I, ligeiramente abaixo deste valor na maioria dos itens.
entre os grupos para alguns itens (e.g., item 11), enquanto outros não
evidenciavam valores nesse sentido (e.g., item 13).
Num olhar muito geral pelos outros itens nos respectivos factores (2, 3
e 4), observámos que as diferenças nas médias entre o grupo I e o grupo II
são sempre muito pequenas e nunca superiores a 0.5, não obstante em dois
casos ser essa diferença significativa (item 22 do factor 2 e item 18 do factor
3). As únicas situações em que as médias atingem valores um pouco
superiores (próximos de 2 e 3 pontos) é quando procedemos às confrontação
dos grupos por subgrupos, de acordo com o género (masculino vs. feminino)
e por idade (< de 14 anos vs. = 14 anos), como teremos oportunidade de
discutir mais à frente.
Particularmente interessante foi notar que nos restantes factores (2, 3
e 4), os valores das médias para cada item, na maioria dos casos, eram
superiores aos encontrados no Factor 1, destacando-se o Factor 2 com
resultados que se situam entre 2 (concordo pouco) e 3 (concordo) e
sobressaindo, especificamente, o item 9 (relativo ao alcoolismo) com a média
mais elevada (acima de 3). Assim, poderemos eventualmente afirmar que
existem outros aspectos relacionados com a violência interpessoal que
merecem maior aceitação por parte das crianças, que não propriamente os
aspectos socioculturais (Factor 1), talvez porque menos conjecturados na sua
vivência diária. De facto, as crenças que a generalidade das crianças
apresentavam sobre a violência entre os indivíduos, eram sustentadas por
factores particulares e/ou pessoais (e.g., má conduta, doença,
comportamentos aditivos, confiança, proximidade afectiva, privacidade, etc.),
muitos destes, relativos ao ofensor, à vítima e também ao contexto.
A aceitação da violência como estratégia correctiva foi outra
constatação em ambas as amostras. Quanto à etiologia da violência, o
posicionamento das crianças de ambos os grupos vai mais no sentido de
aceitar de que a violência não é apreendida (pressuporia isso um fundamento
da violência em algo mais inato) e pouca aceitação de que as desigualdades
psicossociais estariam na origem da violência. Todavia, embora achemos tais
resultados vão ao encontro das conclusões tiradas aquando da confrontação
dos resultados nos factores, a verdade é que admitimos que a própria
construção do item possa ter criado alguma confusão nos sujeitos e
influenciado, necessariamente, as suas respostas.
Outro aspecto curioso foi o reconhecimento de itens em que os valores
das médias do grupo I eram ligeiramente superiores aos do grupo II,
designadamente os itens 1, 2, 8, 9, 10 e 19 (Factor 2), o item 4 (Factor 3) e
os itens 27 e 32 (Factor 4). Focando-nos primeiramente no Factor 2, tais
resultados sugerem-nos que a experiência de contacto directo ou indirecto
com a violência poderá ter um duplo efeito ao nível da formulação de crenças,
quer no sentido de apoiar a construção de ideias erradas sobre a violência
interpessoal quer no sentido de apoiar a desconstrução de ideias previamente
concebidas e mal fundamentadas. Embora as diferenças encontradas entre os
grupos não tenham importância estatística é curioso notar que as crianças
sem experiência de violência associam mais a violência à existência de
motivos (item 1), enquanto as crianças expostas à violência concordam
menos com essa associação. A ideia de que os erros (item 2) poderão ser o
fundamento para actos violentos é mais uma convicção das crianças do grupo
I, do que as dos grupo II, assim como a ligação dos comportamentos aditivos
à violência (álcool – item 9 e droga – item 10) é mais aceite pelo primeiro, do
que pelo segundo grupo. A não intromissão nos quadros da vida familiar em
situações de violência é uma ideia mais partilhada pelas crianças do grupo
normativo, do que pelas crianças do grupo de risco. Quanto aos níveis de
CAPÍTULO VII 277
Estudo Comparativo
variância, somente nos itens 2 e 19 estes são assumidos como idênticos num
e noutro grupo. Achámos que a experiência de vida das crianças do grupo II
as conduziu nestes pontos, a modos de pensar menos distorcidos da realidade
e que a ausência de contacto das crianças do grupo I com situações de
violência familiar, não lhe permitiu a mesma elaboração cognitiva. No fundo
as crenças evidenciadas pelo grupo I revelam um registo mais convencional,
que se assemelha ao da população em geral sem grande contacto com a
violência.
O valor superior da média do grupo I no item 4 resulta numa diferença
tão mínima (0,02) que por isso mesmo não é estatisticamente significativa na
distinção dos dois grupos e qualitativamente não sugere nenhum comentário
particular. A mesma apreciação fazemos dos itens 27 e o 32.
Atendendo à distribuição por sexo, constatámos que, quer a população
masculina (cf. quadro 7.10) quer a feminina (cf. quadro 7.11), dum e doutro
grupo não apresentam na generalidade dos factores, diferenças
estatisticamente significativas, que os permita diferenciar ao nível das crenças
sobre a violência, sendo a única excepção o factor 1.

QUADRO 7.10 – Teste T de Student para o género masculino do G I e G II


nos factores da escala E.C.C.V.
N
Média
D. Padrão
t
g. l.
Sig.
Factor 1 G I 289 18,79 5,77
Det. Socioculturais G II 37 20,81 5,05
-2,04 324 ,042
Factor 2 G I 289 29,72 5,77
Det. Individuais G II 37 29,70 5,85
,020 324 ,984
Factor 3 G I 289 11,53 3,32
Det. Educativos G II 37 13,08 4,66
-1,96 40,82 ,056
Factor 4 G I 289 7,03 2,37
Etiolog.da violência G II 37 6,68 2,51
,86 324 ,389
QUADRO 7.11– Teste T de Student para o género feminino do G I e G II
nos factores da escala E.C.C.V.
N
Média
D. Padrão
t
g. l.
Sig.
Factor 1 G I 316 16,09 4,37
Det. Socioculturais G II 31 19,13 6,81
-2,44 32,47 ,021
Factor 2 G I 316 28,04 5,47
Det. Individuais G II 31 28,29 6,37
-,24 345 ,812
Factor 3 G I 316 10,43 3,14
Det. Educativos G II 31 10,61 3,88
-,31 345 ,759
Factor 4 G I 316 6,94 2,27
Etiolog.da violência G II 31 6,52 2,42
,99 345 ,324

Na categoria que agrupa algumas crenças com fundamento


sociocultural, verificámos existirem diferenças entre o grupo I e o grupo II,
quer no subgrupo masculino quer no subgrupo feminino, sendo neste último
que se encontram valores mais significativos. As raparigas em situação de
risco apresentam médias superiores às raparigas do grupo normativo,
conduzindo-nos a pensar que as primeiras terão mais tendência para aceitar a
presença de determinantes socioculturais nas interacções violentas que as
raparigas sem experiência de exposição à violência. Os rapazes em situação
de risco, comparativamente aos do grupo normativo, apresentam uma
tendência semelhante, todavia o valor da média neste factor 1, embora
maior, não dista muito do obtido pelas raparigas em situação de risco.
De qualquer modo os valores das médias são menores nas raparigas
do que nos rapazes, sobretudo no grupo normativo. Isto pode-nos levar a
pensar que o ser de determinado sexo, poderá modelar no sujeito, crenças
mais ou menos determinadas por aspectos socioculturais, consoante a
percepção que se detém sobre as diferenças sociais e culturais sejam mais ou
menos acentuadas. Assim, uma visão algo versada em perspectivas
feministas, pode levar o sujeito que as detém (mais nas mulheres) a reportar
mais facilmente alguns determinantes socioculturais, retratados em itens que
compõem o factor 1 (e.g., 23, 25,29), enquanto que menor percepção e
aceitação sobre tais diferenças não ocasionar uma rejeição tão nítida por tais
fundamentos socioculturais (mais nos homens).
Os restantes factores não apresentaram, como já dissemos, valores de
T que indicassem diferenças estatisticamente significativas entre os subgrupos
masculino e feminino, todavia os valores das médias nos rapazes é algo
superior no factor 3 ao registado pelas raparigas, o que pode significar que
eles são mais tolerantes do que elas quanto ao uso da violência como
estratégia punitiva na educação da pessoa. Neste ponto, os rapazes em
situação de risco são os que apresentam a média mais alta.
Na análise por idades, tomando comparativamente o subgrupo de
crianças com menos de 14 anos (cf. quadro 7.12) e o subgrupo de crianças
com idade igual ou superior a 14 anos (cf. quadro 7.13), encontramos
diferenças estatisticamente significativas somente no factor 1. No subgrupo
com menos de 14 anos, as crianças do grupo II são as que apresentam
médias superiores, acontecendo o mesmo no subgrupo dos mais velhos (= 14
anos). A diferença entre G I e G II é mais significativa do ponto vista
estatístico no subgrupo dos mais velhos. Curiosamente são os mais pequenos
em situação de risco que manifestam médias superiores, evidenciando que
estes possuem ideias mais concordantes com justificativos socioculturais nas
interações pessoais conflituosas. A maturidade, não apenas física, mas
também cognitiva poderá, eventualmente, ajudar na compreensão destes
resultados. Talvez o raciocínio crítico menos evidente nos mais novos, os faça
pronunciar-se mais em favor desses argumentos, acolhendo porventura
crenças mais enviesadas sobre a violência entre as pessoas, enquanto que os
mais velhos, mais autocríticos, possam mais vezes debater logicamente esse
fenómeno e como tal aceitar menos ideias tendencialmente erróneas.

QUADRO 7.12 – Teste T de Student para o subgrupo de crianças < de 14 anos


do G I e G II nos factores da escala E.C.C.V.
N
Média
D. Padrão
t
g. l.
Sig.
Factor 1 G I 304 17,87 5,19
Det. Socioculturais G II 28 21,14 6,78
-2,49 29,99 ,019
Factor 2 G I 304 30,13 5,51
Det. Individuais G II 28 30,18 7,27
-,03 29,92 ,974
Factor 3 G I 304 11,43 3,23
Det. Educativos G II 28 12,71 5,06
-1,32 29,06 ,197
Factor 4 G I 304 7,28 2,35
Etiolog.da violência G II 28 6,93 2,67
,74 330 ,459

QUADRO 7.13 – Teste T de Student para o subgrupo de crianças = de 14 anos


do G I e G II nos factores da escala E.C.C.V.
N
Média
D. Padrão
t
g. l.
Sig.
Factor 1 G I 301 16,88 5,28
Det. Socioculturais G II 40 19,27 5,20
-2,70 339 ,007
Factor 2 G I 301 27,54 5,55
Det. Individuais G II 40 28,28 5,06
-,79 339 ,431
Factor 3 G I 301 10,48 3,25
Det. Educativos G II 40 11,43 3,97
-1,45 46,20 ,154
Factor 4 G I 301 6,69 2,25
Etiolog.da violência G II 40 6,38 2,30
,83 339 ,405

Os restantes factores apontam para a inexistência de diferenças


estatisticamente significativas entre os dois subgrupos. Note-se apenas, para
o factor 2, o qual reúne uma gama de aspectos individuais geralmente
associados à violência, que as médias apresentadas pelos mais novos são algo
superiores às das crianças mais velhas. Uma vezes mais pensámos que a
maturidade física e cognitiva permitiria desmontar alguns dos aspectos
consubstanciados nesse factor e conduzir a crenças menos distorcidas.

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