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ENTREVISTA
David
Rodrigues
l. 11 / Nº2
DOSSIER TEMÁTICO Vo
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Educação Inclusiva
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em tempos de pandemia…
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VOL. 11 Nº2 — DEZEMBRO 2020
Palavras do Centro Formação
alunos com Necessidades Educativas Específicas. Estes es- sejo que todos nos vejamos livres desta pandemia para de-
tão a ser também fortemente penalizados por esta situação. pois, livres do vírus, repensarmos as nossas vidas, as nossas
Muitos destes alunos dependem, ainda mais que outros, de profissões e o nosso mundo. Talvez a palavra de ordem para
uma interação próxima que os motive e que lhes proporcione 2021 seja “voltar ao novo”: voltar a não pensar no vírus, para
um feedback imediato para o seu progresso na aprendiza- podemos pensar melhor no que podemos fazer para melho-
gem. Para estes, e para todos os outros, falta ainda avaliar os rar a Vida. E melhorar a Inclusão.
efeitos (as modificações?) que estes meses que passaram (e os
que ainda temos pela frente…) irão causar. David Rodrigues
A Pró–Inclusão continuou a trabalhar. E afincada- Diretor da revista Educação Inclusiva
Sumário
04 ENTREVISTA: David Rodrigues 26 ARTIGO: Resposta à diversidade 35 RECENSÃO: A Salvação da Primavera
Cidadania e Desenvolvimento: através do diálogo aluno-professor Elvira Cristina Silva
a cidadania não é uma opção! Patrícia Palma, Dilar Martins, Maria
Daniela Pereira e Bruno Fernandes, 36 RECENSÃO: Três Tristes Tigres
08 ARTIGO: Formação inicial Teresa Vitorino e Jorge Santos Elvira Cristina Silva
de professores para a promoção
de uma educação inclusiva 32 CAMINHAM AO NOSSO LADO… 37 INSTANTES INCLUSIVOS...:
Alexandra Frias e Teresa Leite A Agência Europeia para as Necessidades Leituras em tempos conturbados
Especiais e a Educação Inclusiva — uma Elvira Cristina Silva
13 ARTIGO: Conceções e boas práticas: intervenção independente e ativa para
intervenção junto de alunos com sistemas educativos mais inclusivos DOSSIER TEMÁTICO: Educação
dislexia Filomena Pereira Inclusiva em tempos de pandemia...
Rita Simas Bonança Organização: Helena Neves e Olga Sá
A Escola é um lugar
de Educação e Educação
sem Cidadania não
é Educação
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Durante o Verão de 2020 desenvolveu-se em Portugal uma PI: Mas então o que é da família e o que é da escola?
polémica sobre a obrigatoriedade ou não das aulas da dis-
ciplina de “Cidadania e Desenvolvimento”. A nossa revista, DR: É uma pergunta difícil de responder. Como vimos, hoje
“Educação Inclusiva”, resolveu entrevistar um dos primei- em dia, muitas oportunidades de aprendizagem se passam
ros subscritores do Manifesto “Cidadania não é opção”. Este em casa. Temos pais mais cultos, habitações muito mais
Manifesto reuniu numa semana cerca de 8000 assinaturas e, apetrechadas com instrumentos simbólicos, muito maiores
desta forma, constitui-se como um movimento incontorná- oportunidades de conhecer e discutir o conhecimento do
vel da sociedade civil e da comunidade educativa. mundo. Por outro lado, a família transmite também valores
O nosso entrevistado é o Professor David Rodrigues, (sobretudo pelo exemplo). Por outro lado, a escola não pode
também Presidente da Pró–Inclusão, mas que nesta entre- ser reduzida ao conhecimento das “disciplinas”. A discus-
vista assume o papel de dinamizador deste manifesto. são e o comentário às situações do quotidiano são sempre
desafios e questionamentos aos valores dos alunos e a sua
PI: Disse num texto de escreveu que a polémica sobre as aulas aprendizagem e discussão não pode deixar de os influenciar.
de Cidadania serem consideradas optativas reaviva uma ques- Por exemplo não será possível estudar a história das dita-
tão antiga. O que quer dizer com isso? duras sem um comentário crítico que aponte as vantagens
da democracia, ou não será possível falar das modificações
DR: O que quero dizer é que nem sempre foi pacífica a sepa- do trabalho sem mencionar o estatuto da Mulher. Estes dois
ração de competências educativas entre a escola e a famí- mundos de valores interpenetram-se e, certamente, a prin-
lia. Gosto sempre de lembrar que a criação da escola laica cipal preocupação não deve ser como é que eles se separam,
e obrigatória no século XIX se deveu a exigências novas mas sim como eles se complementam e completam. De certa
de educação que a família não era capaz de prover. Numa forma, gostaria que a escola fosse sempre supletiva face a
sociedade que se tornava rapidamente mais complexa pela atitudes, valores e competências que a família não propor-
industrialização e pela urbanização, a incapacidade da fa- cionasse ou proporcionasse de forma parcial.
mília para proporcionar a educação necessária aos seus fi-
lhos ficou muito evidente. Na verdade, a educação familiar PI: A família é sempre parcial? 5
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA
PI: E para terminar… que relação tem este assunto com a In-
clusão?
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Formação inicial
de professores para
a promoção de uma
educação inclusiva
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA
No âmbito do Doutoramento em Educação no Instituto de mativo; conhecer medidas e recomendações apontadas por
Educação da Universidade de Lisboa, na especialidade de formadores, estudantes em formação e recém-formados para
Formação de Professores, foi realizado um trabalho de in- a conceção de um processo formativo que corresponde às
vestigação que teve como tema: Formação Inicial de profes- atuais necessidades dos nossos alunos e das nossas escolas.
sores de 1º CEB para atuar em contextos inclusivos. Para a prossecução destes objetivos, realizou-se este
Este estudo nasceu de uma crescente consciencializa- estudo através de processos inferenciais e indutivos, enqua-
ção da importância da ação docente na resposta às neces- drados no paradigma interpretativo, orientando o processo
sidades específicas de todos os alunos e no atendimento à de investigação para responder às questões de partida. Para o
heterogeneidade existente em cada sala de aula, bem como efeito, foi realizado um estudo de caso, analisando uma ins-
numa constatação das dificuldades sentidas pelos professo- tituição formadora que se mostrou disponível , confrontando
res em contexto escolar, face à complexidade da ação docen- as perspetivas dos diferentes atores e procurando compreen-
te perante os crescentes desafios da sociedade. der holisticamente o “caso”, no seu todo e na sua unicidade.
Também nos motivou para este estudo o papel deter- Foram realizadas entrevistas semiestruturadas a doze
minante que a Formação Inicial ocupa e que se pretende professores recém-formados, bem como a oito formadores
alinhada com as mais recentes medidas da tutela que enfati- de professores e dinamizados grupos focais com doze estu-
zam a necessidade de uma escola verdadeiramente inclusiva, dantes em formação.
requerendo do futuro professor a aquisição de destrezas e Relativamente aos professores recém-formados, uma
aprendizagens de foro académico e técnico, alicerçado numa amostra por conveniência, os entrevistados tinham que ter
competência reflexiva e crítica no desempenho de um con- entre 1 a 5 anos de serviço e terem sido formados pela insti-
siderável número de papéis, pois “ser professor é uma lenta tuição formadora selecionada.
e metódica metamorfose. É um movimento perpétuo entre No que respeita aos formadores de professores, foi sele-
a lagarta e o casulo. É um vaivém contínuo entre o saber e cionada uma amostra não aleatória e criterial, uma vez que
o desaprender. É a adaptação permanente à mudança: dos procurámos entrevistar formadores de todas as componentes
saberes, das metodologias, das culturas, das tecnologias...” formativas (didáticas específicas, educacional geral e prática
(Ruivo, 2015, p.171). educativa supervisionada), sendo que a opção pela entrevis- 9
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O documento da Agência Europeia para o Desenvolvi- ta semiestruturada se deveu, essencialmente, ao seu caráter
mento da Educação Especial (TE4I, 2012), reconhece a neces- flexível e à liberdade e profundidade de respostas que suscita.
sidade de uma investigação rigorosa no âmbito da formação Os grupos focais procuraram apreender a realidade
inicial, procurando aferir “as áreas de competência necessá- através das interações grupais, promovendo o diálogo e a
rias para a prática inclusiva de qualidade que permitem jul- reflexão em grupo, recolhendo perceções e opiniões dos
gamentos consistentes sobre a eficácia da formação de pro- formandos.
fessores e sobre a prática dos novos professores e as formas Nos resultados obtidos, verificam-se algumas simi-
mais eficazes de terem impacto sobre as competências dos laridades no que respeita ao olhar dos formandos, recém-
futuros professores (valores, atitudes, capacidades, conheci- -formados e formadores. Assim, como aspetos positivos: i)
mentos e compreensão), isto é, conteúdo, pedagogia e ava- apontam perceções enquadradas e ajustadas à premissa da
liação que os prepare para a prática inclusiva.” (p. 311 e 312). Escola Inclusiva e do Perfil do Professor Inclusivo; ii) iden-
Neste sentido, procurámos perceber que formação inicial de tificam um forte investimento nas competências de reflexi-
professores poderá contribuir de modo efetivo para a inter- vidade e na consciencialização da necessidade de formação
venção dos futuros professores em contextos inclusivos? ao longo da vida.
Sendo esta a pergunta orientadora de todo o traba- Como aspetos negativos: i) ainda que reconheçam a im-
lho desenvolvido, procurámos conhecer e compreender os portância que a flexibilidade curricular e a diferenciação pe-
atuais percursos da Formação Inicial; identificar conceções dagógica assumem na resposta às necessidades específicas
de professores recém-formados e em formação acerca da in- de cada aluno, elencam uma formação muito dirigida para
clusão de alunos com necessidades específicas, bem como a homogeneidade, ou seja, para o aluno-padrão; ii) referem
as suas perceções sobre a sua preparação para a atuação em que os períodos de estágio são curtos e os contextos de es-
contextos inclusivos; identificar as perceções dos formado- tágio não tendem a promover boas práticas inclusivas, reco-
res de professores sobre a preparação dos formandos para nhecendo acentuadas dificuldades na seleção de contextos e
esta realidade e conhecer práticas letivas em contexto for- de professores cooperantes que permitam a experienciação
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
que está a ser desenvolvido pela instituição formadora, re- tentadas na equidade e no respeito pela diferença.
conhecendo-lhe potencialidades e fragilidades, numa ótica É possível concluir ainda que o desenvolvimento de
de reflexão e reestruturação constante. competências de planeamento diferenciado, de gestão fle-
No que respeita a sugestões e recomendações, forman- xível e criativa do espaço, do tempo e dos recursos, a cons-
dos, recém-formados e formadores comummente referem tante avaliação e reflexão sobre a ação docente são aspetos
que: a UC de NEE deveria assumir uma carácter obrigatório ainda pouco enfatizados na formação inicial e que deveriam
e uma maior carga horária; identificam a necessidade de um assumir um importante papel na dotação de futuros profes-
maior estreitamento da relação entre a teoria e a prática; sores capazes de operacionalizar uma pedagogia inclusiva
consideram importante garantir uma maior interdisciplina- nas suas salas de aula.
ridade entre todas as componentes formativas e assegurar O acentuado afastamento verificado entre as compo-
a transversalidade da Educação Inclusiva a todas as áreas nentes de formação leva-nos a concluir que a promoção de
de formação; sugerem o aumento dos períodos de estágio e trabalho colaborativo e interdisciplinar assume um caráter
uma seleção mais criteriosa dos mesmos. Face a esta última urgente e determinante, bem como a centralização da Práti-
sugestão, Gusmão e Rodrigues (2014) alertam que “um está- ca Educativa Supervisionada, de modo a permitir uma teori-
gio desprovido de uma forte estrutura de acompanhamento zação mais consistente a partir das situações reais.
à reflexão sobre a prática e de apoio à modificação da mesma Ao longo deste estudo também concluímos que o mo-
torna-se a maior parte das vezes uma experiência frustrante delo de infusão (Loreman, 2010), isto é, a transversalida-
que pode conduzir à inversão dos valores inclusivos vincu- de do tema da escola inclusiva, que permitiria desenvolver
lados nas disciplinas teóricas do curso e ao mimetismo acrí- nos alunos uma ação metodológica e didática na resposta
tico das práticas educativas dos professores cooperantes, à diversidade, é ainda muito difícil para os formadores das
sejam elas inclusivas ou não.” (p.176). diferentes componentes de formação. Estas dificuldades
Além destas recomendações identificadas em todos os prendem-se com a evidente fragmentação dos cursos por
grupos que constituem esta amostra, referem os formados e áreas disciplinares, pela rigidez dos planos de estudos e, até
recém-formados que seria igualmente importante a promo- mesmo, pelas dificuldades no trabalho colaborativo e inter-
ção de debates e colóquios sobre o tema da Educação Inclusi- disciplinar entre formadores. 11
13
va e os formadores identificam necessidade de investimento Com este trabalho procurámos contribuir para uma
noutras áreas, nomeadamente: psicologia educacional, so- reflexão conjunta em prol de uma formação inicial promo-
ciologia, bem como no desenvolvimento de competências de tora da inclusão. Wiens (2012) considera que deverá haver
trabalho colaborativo, gestão de comportamentos e confli- exatamente este esforço concertado entre investigadores da
tos, articulação com as famílias, etc. É ainda sugerido pelos área da formação de professores para um trabalho articula-
formadores uma formação mais pausada e reflexiva e a neces- do e uma agenda comum, para que se possa construir uma
sidade de uma aposta numa Unidade Curricular no âmbito da compreensão mais abrangente da forma e natureza da for-
Pedagogia Inclusiva, dotando os futuros professores de maio- mação praticada no país, tornando possível a identificação
res competências na seleção e operacionalização de práticas das características que tornam um programa de formação
pedagógicas que promovam a inclusão de todos os alunos, realmente eficaz (p.258).
atendendo às suas características, ritmos e necessidades.
Este estudo permitiu-nos concluir a importância de Neste sentido, e com base nos resultados obtidos, apre-
uma formação holística, integrada e compreensiva, centra- sentamos algumas recomendações a serem analisadas pelas
da no desenvolvimento de conhecimentos, capacidades e instituições formadoras de professores:
atitudes que potenciem a participação e aprendizagem de
todos os alunos, desmontando crenças profundas e enrai- a) Criar grupos de trabalho para a construção de uma de-
zadas sobre a educação que poderão conduzir a uma repro- finição coletiva das finalidades formativas e do perfil de
dução acrítica de modelos pedagógicos que não promovem competências do professor a formar para que todos, de
uma escola inclusiva. Neste sentido, parece determinante modo consciente, contribuam para a construção desse
que em contexto formativo se desenvolvam comportamen- perfil;
tos isomórficos que contribuirão, indubitavelmente, para a
construção do perfil de um professor inclusivo, que reflita b) Refletir acerca do currículo existente e transformá-lo
sobre as suas crenças e construa o seu saber em bases sus- num currículo de formação inclusivo e que responda
elencadas transversalmente práticas potenciadoras do Roldão, M.C. (2017). Conhecimento, didática e compromisso: o triângulo
atendimento à diversidade; virtuoso de uma profissionalidade em risco. Cadernos de Pesquisa. Vol.
47, (16), p.1134-1149.
d) Promover o trabalho colaborativo, articulado e inter- Ruivo, J. (2015) Formar professores, melhorar a escola, mudar a
sociedade. Formação inicial de professores – Seminários e Colóquios.
disciplinar entre formadores, construindo um projeto Lisboa: Conselho Nacional de Educação.
global de formação para assegurar a transversalidade
Wiens, P. (2012). The Missing Link: Research on Teacher Education. Action
do tema da Educação Inclusiva; in Teacher Education. Vol. 34, (3), p.249-261.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
ARTIGO
Conceções e boas
práticas: intervenção
junto de alunos com
dislexia
Resumo
Este artigo procura definir e enquadrar a dislexia como uma disfunção
neurológica que se manifesta em indivíduos com um QI normal ou aci-
ma da média, com dificuldades na leitura, envolvendo, igualmente, difi-
culdades na escrita. Atinge uma franja significativa da população estu-
dantil, podendo manifestar-se noutras áreas académicas, com impacto
emocional e comportamental. Neste artigo, sustentado numa revisão da 13
15
literatura mais atual, apresentamos alguns dados, com base num estudo
desenvolvido pela Federação Nacional de Educação (2019), que refletem a
insatisfação provocada pelas recentes mudanças legislativas, nas escolas
portuguesas, no que concerne à conceptualização e operacionalização
do Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho, no nosso país. Discute-se, ain-
da, as suas causas, tipos e sinais de alerta, apresentando sugestões de
intervenção, junto destes alunos.
PALAVRAS-CHAVE: Perturbações da Aprendizagem Específica, Dislexia e Intervenção.
Abstract
This article tries to define and contextualize dyslexia as a neurologic
dysfunction that is manifested in individuals with a normal or above-av-
erage IQ, with difficulty reading and writing. It affects a significant per-
Rita Simas Bonança centage of the student population and can also manifest itself in other
Doutoranda em Educação learning areas, with an impact on an emotional and behavioral level. In
Universidad Iberoamericana (México) this article and based on recent literature, we present facts based on a
Diretora da Associação Portuguesa study performed by National Education Federation (2019), that reflects
de Dislexia — Polo Açores this dissatisfaction of Portuguese schools regarding the latest legislative
Técnica Superior de Educação Especial changes in regards to the conceptualization and operationalization of
the Decree-Law n.º 54/2018, from July 6th in our country. Also discussed
rita.bonanca@gmail.com are the causes, types, alert signs and suggestions to intervein with these
students.
KEYWORDS: Specific Learning Disorders, Dyslexia and Intervention.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
questão em que as “diferenças significativas” são relega- exame não salvaguardam o previsto nas adaptações. O estu-
das para segundo plano, equiparando-as a uma qualquer do destaca ainda que sobre o Centro de Apoio à Aprendiza-
diferença banal, tal como a altura de um indivíduo, a cor gem (CAA), nomeadamente 82,11% não conseguem dar res-
do cabelo, as preferências gastronómicas e demais de- posta a todas as solicitações previstas no n.º 6, do art.º 13.
sigualdades triviais. (...) ignora, pura e simplesmente, a Outros 93,66% entendem que as horas da componente não
multiplicidade de características, distribuídas por catego- letiva dos docentes são insuficientes para prestar respostas
rias, que as NEE englobam, conferindo a cada uma delas inclusivas. Ainda, 90,41% responderam que as funções do
uma identidade própria e diferentes graus de severidade. professor de educação especial não estão esclarecidas de
forma clara. 58,21% recorrem a instrumentos para a identi-
O mesmo autor, Correia (2019), defende que “as ambi- ficação dos fatores que facilitam e/ou dificultam o processo
guidades contidas no diploma parecem atuar como um tra- e o desenvolvimento da aprendizagem. Por último, 78, 26%
vão ao sucesso educativo dos alunos com NEE”. entendem que as parcerias não funcionam em tempo útil.
A esse respeito, a Federação Nacional da Educação – Na verdade, são inúmeras as dúvidas que foram levan-
FNE (2019) realizou uma consulta a nível nacional, a 615 do- tadas pelos docentes neste inquérito, pelo que a FNE (2019)
centes, onde destaca uma série de aspetos, relacionados com veio a apresentar um conjunto de propostas, pois conside-
a aplicação do diploma, sendo que registamos, em seguida, ram que as alterações na Lei n.º 116/2019 foram ainda insufi-
algumas conclusões que achamos mais relevantes. Segundo cientes para assegurar mecanismos de inclusão nas escolas.
esta investigação, até à data do estudo, 29,92% das escolas Desta forma, destacam um conjunto de aspetos, dos quais
não se encontravam a implementar o diploma em pleno. passaremos a apresentar, entre eles os seguintes: a redução
Neste estudo, 83,91%, dão conta das dificuldades/dúvidas da carga burocrática do diploma; a obrigatoriedade de tur-
na aplicação do diploma. Outros 62,44% destacam a fraca/ mas reduzidas; a criação de um novo diploma, ou a alteração
pouca funcionalidade e, ainda, a excessiva burocratização do atual, acrescentando referências específicas aos alunos
(65,05%). 55,45% não concorda com a abrangência deste di- com NEE; a atribuição de horas destinadas ao trabalho co-
ploma a “todos os alunos”, sendo que a maioria está a favor laborativo (docentes e técnicos); a clarificação das funções
da referência específica aos alunos com NEE (79,35%). dos docentes de Educação Especial, na componente letiva e 15
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Um número significativo de participantes, mais pro- não letiva; a articulação dos diplomas, como por exemplo, as
priamente 80%, aponta a necessidade da existência de re- condições no processo de avaliação do aluno, durante o seu
ferências mais específicas, no que se refere a alunos com percurso escolar, devem ser as mesmas nas provas e exames
NEE. As conclusões desta investigação ainda destacam que nacionais; a clarificação do conceito e modo de operaciona-
52,04% não compreendem as definições e nomenclaturas do lização do CAA e sua regulamentação; a atribuição de horas
diploma. No que se refere à abordagem multinível, 57,81% de componente letiva aos docentes de Educação Especial,
dos respondentes afirmam não entender ou ter dificuldades no âmbito da intervenção direta junto dos alunos; o reforço
nos pressupostos deste princípio. No que se refere à parti- do número de docentes de Educação Especial; a definição de
cipação dos pais ou encarregados de educação nas reuniões uma metodologia que integre um conjunto de instrumentos
multidisciplinares, 65,35% apontam não se reunir com es- (com uma linguagem universal) para a identificação dos fa-
tes. Outros 95,52% informam-nos que os pais não dominam tores que facilitam e/ou dificultam o processo e o desenvol-
a terminologia do referido diploma e ação proposta e, ainda, vimento das aprendizagens; a definição sobre o número de
não são informados. 59,26% dos docentes não se sentem de- horas destinado ao trabalho das equipas multidisciplinares,
vidamente esclarecidos para elucidar os pais ou encarrega- à antecipação e reforço da aprendizagem, ao apoio tutorial,
dos de educação. 91,22% dos respondentes consideram que à intervenção com foco académico ou comportamental em
o tempo que dispõem para aplicá-lo é insuficiente. Outros pequenos grupos, ao apoio psicopedagógico e ao desenvol-
79,4% referiram que não foram comtempladas horas, com vimento de competências de autonomia pessoal e social; um
vista ao trabalho colaborativo. No que se refere à definição maior investimento nas escolas, no que se refere às condi-
das medidas de suporte à aprendizagem, 33% dos inquiridos ções materiais e humanas, no âmbito dos Planos Individuais
consideram que estas devem ficar a cargo de uma “Equipa de Transição; a especificação, na lei, de medidas alternati-
Multidisciplinar” e 67% referiram que devem ser da respon- vas, no âmbito da criação de parcerias, especificamente des-
sabilidade do “Conselho de Turma/Professor Titular de Tur- tinadas às escolas localizadas no interior do país, por exem-
ma”. 81,79% dos participantes entendem que as provas de plo, de forma a compensar as dificuldades dos alunos e, por
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Por último, na área psicolinguística “os maus leito- as caraterísticas principais destas dislexias. Na dislexia fo-
res mostram um vasto conjunto de défices da linguagem nológica, os indivíduos conseguem ler palavras regulares
que, frequentemente, são interdependentes e que, em ge- ou irregulares, desde que frequentes ou familiares, por via
ral, apontam para um problema comum a nível fonológico, léxica, no entanto, não conseguem ler palavras desconhe-
o qual está na base de muitas das dificuldades na leitura.” cidas ou pseudopalavras, porque não conseguem utilizar
(Cruz, 2009, p. 160). o mecanismo de conversão de grafemas em fonemas (via
subléxica). Por outro lado, a dislexia de superfície inclui
Tipos de Dislexia indivíduos que leem através do processamento fonológico
Cruz (2009) distingue dois tipos de dislexia: a dislexia ad- (via subléxica ou indireta), porém não o fazem a partir da
quirida e a dislexia evolutiva (Cruz, 2007; Citoler, 1996). A via léxica (direta), isto é, a identificação das palavras é reali-
dislexia adquirida integra indivíduos, previamente leitores zada a partir do som. Por norma, não são capazes de ler uma
competentes, que sofreram uma lesão cerebral resultante palavra como um todo. Revelam mais dificuldades com as
de um acidente (traumatismo craniano...), por exemplo. A palavras irregulares e excecionais, mostrando maior facili-
dislexia evolutiva ou de desenvolvimento engloba indiví- dade na leitura de palavras regulares, familiares ou não. Na
duos com dificuldades na aquisição inicial da leitura, sendo a dislexia profunda, os indivíduos não leem pseudopalavras,
sua causa desconhecida (Castro- Caldas, 2002; Citoler, 1996) mostram dificuldades em aceder ao significado das palavras
Segundo o autor, as dislexias fonológicas, superficiais e cometem erros visuais e derivados. Demonstram dificul-
e profundas podem integrar as dislexias adquiridas e evo- dades na leitura de palavras abstratas, verbos e palavras
lutivas, apesar de encontrarmos caraterísticas muito se- função (Cruz, 2009) (Cf. Tabela 1).
melhantes entre elas, pelo que destacaremos, em seguida,
Dislexia adquirida Dislexia fonológica: dificuldades no uso do procedimento subléxico por lesão cerebral. 17
19
Dislexia evolutiva Dislexia fonológica: dificuldade na aquisição do procedimento subléxico por problemas
fonológicos, perceptivo-visuais e neurológicos.
Primeira Infância e Jardim de Infância 1.º Ciclo 2.º, 3.º Ciclos e Secundário
Os primeiros sinais indicadores surgem A criança, neste ciclo de ensino, apresenta As dificuldades na leitura e na escrita
na linguagem oral, podendo a criança lentidão e, geralmente, relutância nas tarefas persistem.
apresentar um atraso na linguagem. de leitura e escrita. Leitura muito vacilante e lenta.
No jardim de infância, a criança continua Não consegue acompanhar o ritmo de Necessita ainda de tempo suplementar
a apresentar uma linguagem infantilizada, aprendizagem dos restantes alunos da para concluir as tarefas escolares.
com frases excessivamente simples, turma.
mal pronunciadas, com substituições Os seus textos continuam a apresentar
A fluência e a precisão leitora encontram-se erros de escrita.
e omissões, demonstrando ter pouco abaixo dos valores normativos.
vocabulário. Opta por utilizar palavras mais simples e
Na leitura de um texto, apresenta vacilações, familiares.
Apresenta dificuldades em memorizar omissões, repetições e pausas.
canções, poesias, lengalengas e em Apresenta ideias originais e um talento
aprender o nome de objetos, cores e Por norma, mostra falta de prazer pela especial em áreas mais especializadas e
pessoas... leitura. práticas: arquitetura, engenharia, artes,
Dificuldades em interpretar e recontar Dificuldade em manter-se concentrado e informática...
uma história. atento. Expressa-se melhor oralmente do que na
Dificuldades na divisão silábica, nas rimas, Dificuldades na compreensão de textos. escrita.
nos sons... Frustração e baixa autoestima. Insegurança em pronunciar palavras mais
18
20 complexas.
Dificuldades nas noções de espaço e Dificuldades em desenvolver as ideias de um
temporais: em cima/em baixo, à frente/ texto, em resumir, fazer apontamentos...
atrás, direita/esquerda/depois/antes ... Dificuldades em distinguir o que é o
essencial e o que é acessório num texto lido.
Na escrita, apresenta um elevado número de
erros ortográficos, gramaticais, fonológicos,
de acentuação e pontuação.
Consegue compreender melhor
os conteúdos quando são lidos e
exemplificados.
Melhores resultados nas disciplinas que não
dependem da escrita: desporto, música,
matemática...
Necessita de tempo suplementar para
concluir as tarefas/testes.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Do Diagnóstico à Intervenção das Perturbações • Certifique-se que todos os professores do seu filho es-
da Aprendizagem Específica com défice da leitura tão informados sobre o teor da avaliação e as recomen-
Caso se identifique dificuldades na leitura, escrita e, ainda, dações que nela constam. Peça para que seja entregue
défices fonológicos, sugere-se a realizada uma avaliação psi- uma cópia da avaliação a cada um dos professores;
copedagógica. Esta deve incidir no historial clínico do alu-
no, nas suas competências cognitivas e comportamentais, • Procure manter um contacto regular com os professo-
na linguagem compreensiva e expressiva, no processamen- res, esclarecendo-os sobre as caraterísticas do seu filho
to fonológico e, ainda, nas funções executivas. É elementar e elucidando-os sobre a melhor forma de o ajudar;
avaliar para diagnosticar, de forma a identificar as áreas fra-
cas e fortes, podendo esta avaliação ser realizada em qual- • Identifique os livros e materiais com cores para que o
quer idade, não existindo um único teste para o diagnóstico seu filho os reconheça instantaneamente;
da dislexia. Após os resultados desta avaliação, recomenda-
mos a criação um plano de intervenção que deve ser con- • Procure ensinar o seu filho a organizar a mochila e to-
cebido por uma equipa multidisciplinar, para garantir um dos os materiais de que necessita;
trabalho articulado entre docentes, profissionais de saúde e
família. No entanto, antes desta avaliação, deve ser realiza- • Registe o tempo que o seu filho dispensa para concluir
do um exame auditivo e da visão, para despiste de eventuais os trabalhos de casa e procure partilhar estas informa-
dificuldades relacionadas com a visão e audição. Ainda é de ções com os professores.
extrema importância conhecer o contexto sociocultural da
criança, a conjetura familiar e, ainda, aferir se as metodolo- Estratégias
gias de ensino são favoráveis.
Em seguida, apresentamos um conjunto de sugestões, • Procure ler, regularmente, ao seu filho a partir de livros
com base num trabalho teórico de investigação, de acordo ou outro material recomendado, explicando o signifi-
com pesquisas internacionais e nacionais, que estão em cado de palavras novas e discutindo o sentido global
permanente construção, sobre as perturbações da apren- dos textos; 19
21
Competências psicomotoras Exercícios de motricidade fina (rasgar, encaixar, manusear a plasticina, pintar, enfiamentos,
enroscar, abotoar, seguir linhas pontilhadas, desenhar, recortar, escrever...).
Exercícios de motricidade grosseira (andar de bicicleta, saltar ao pé coxinho, equilíbrio
num só pé, saltos à tesoura, cavalgar, saltar à corda, saltar obstáculos).
20
22
Leitura Ler palavras, frases ou textos para aumentar a fluência (velocidade, precisão e prosódia) e
compreensão leitora.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Áreas de Intervenção Sugestões de Intervenção
Funções executivas
Memória de trabalho (localização, Repetir uma sequência de números por ordem direta e inversa.
recuperação, utilização da informação Recontar uma história.
relevante, manipulação, etc.) Cálculo mental/operatório.
Atividades com instruções com vários passos (aumentando o grau de complexidade).
Memorizar mnemónicas.
Mudança (capacidade de alterar Reler as respostas para detetar eventuais erros ortográficos.
a estratégia; detetar erros)
Controlo emocional (autorregulação Explicar as consequências dos seus atos e o impacto das suas atitudes
das emoções) e comportamento nos outros.
Reserve tempo para conversar com a criança sobre os seus sentimentos.
Encorajar a criança a falar sobre as suas emoções.
Ensinar a criança a ser capaz de reconhecer o que os outros sentem.
Localização/organização Sentar o aluno num lugar próximo do professor, com visibilidade total para o quadro.
em sala de aula Dispor as mesas da sala em U.
Organizar trabalhos de grupo.
Ficar junto do aluno quando estão a ser realizadas explicações sobre as tarefas/atividades.
Disposição dos alunos em pequenos grupos de trabalho.
Coadjuvação em sala de aula (antecipação e reforço das aprendizagens).
Permitir que o aluno faça pequenas pausas e possa sair da sala (time out).
Sentar o aluno num lugar afastado de fatores distráteis que prejudiquem a sua atenção.
Sentar o aluno perto de um colega que sirva de modelo.
Dar a oportunidade para o aluno se levantar na sala de aula.
Afixar um calendário com as datas de testes e apresentações orais na sala.
Colocar um relógio na sala para o aluno poder estimar o tempo que dispensa em cada tarefa.
3
Observações: Sugerimos a consulta do website do Comité para as Novas Tecnologias da BDA (BDA New Technologies Comité), através do seguinte
link: http://bdatech.org/what-technology/typefaces-for-dyslexia/
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Apresentação dos conteúdos Usar letra legível (ARIAL, COMIC SANS), tamanho 12-14, espaçamento 1.5. Alguns disléxicos
(fichas de trabalho, tarefas) podem necessitar de um tamanho de letra maior. Outras opções: Century Gothics, Tahoma,
Trebuchet ou Verdana. Também sugerimos o tipo de letra Open dyslexic.4
Apresentar as informações importantes, destacadas, num tipo de letra maior.
Usar o texto justificado.
Oferecer um glossário com explicação das palavras mais difíceis usadas no enunciado.
Usar caixas de texto, para destacar alguma informação.
Assinalar as palavras-chave e verbos de comando a negrito ou com um marcador
ou lápis de cor da preferência do aluno.
Usar um tipo de papel com gramagem suficiente para que o que seja escrito não seja visível
no lado oposto.
Evitar tons verdes, vermelhos e rosas, no caso de crianças e jovens disléxicos com daltonismo.
Usar tópicos em vez de texto corrido.
Utilizar papel mate, num tom creme ou pastel, em vez de acetinado.
Evitar o sublinhado ou itálico e palavras escritas com letras maiúsculas, pois são mais difíceis de ler.
Usar no máximo 60 a 70 caracteres por linha.
Numerar do lado esquerdo do texto as linhas, por exemplo, de 5 em 5.
Simplificar as orientações escritas, reduzindo palavras e numerando os passos da tarefa.
Apresentar, sempre que possível, um modelo que sirva de exemplo aos alunos e que lhes permita
compreender a lógica do que é solicitado e realizar com sucesso a atividade na sua totalidade.
Tentar que cada tarefa tenha algo motivante na sua realização (exemplo: desenhos, mapas, incentivos).
Aplicar mnemónicas como estratégia de memorização de conhecimentos relevantes.
Acompanhar a leitura dos textos de dinâmicas que envolvam os diferentes sentidos, numa
aposta eclética, sinestésica e lúdica.
Avaliação
23
25
Aspeto formal dos testes Possibilitar que o aluno beneficie de condições especiais de avaliação na correção de provas/
exames (Ficha A).
Ler os enunciados da prova, explicando a organização geral da mesma, bem como o valor
a atribuir a cada parte que a compõe.
Beneficiar os alunos com testes diferenciados: perguntas diretas; escolha múltipla; resposta
curta; preenchimento de espaços; legendagem de imagens; questões de V e F, com uma
linguagem simples e acessível.
Evitar agrafar as folhas de teste.
Evitar a impressão dos testes escritos na frente e verso das folhas.
Numerar as páginas dos testes.
Reduzir o número de tarefas por página nos testes escritos.
Oferecer o enunciado da prova no computador para que os alunos possam beneficiar das
funcionalidades deste recurso, nomeadamente no que diz respeito à mudança do tamanho da
letra e da cor do texto, audição do texto escrito, recurso a tutores ou orientações escritas ou em
áudio, glossários, imagens complementares que ajudam na compreensão, gravar as suas respostas
às questões, usar ferramentas que possibilitem apresentar o seu saber de outra forma, etc.
Evitar colocar um x (errado) ou o uso do vermelho nos erros ortográficos. Poderão
rodeá-los, apenas, em sinal de que aqueles vocábulos exigem mais esforço ou atenção.
Evitar testes com demasiada informação ou informação visualmente condensada por página.
Colocar no final dos textos um glossário com a definição das palavras difíceis.
Permitir a releitura da prova e/ou audição do enunciado, sempre que for necessário e explicar
os vocábulos que o aluno não compreendeu.
Supervisionar se o aluno compreendeu o que é pedido, ressalvando para prestar atenção aos
enunciados das questões, bastando apontar para as palavras-chave. Ex: “Lê melhor esta palavra ou frase”
ou “A resposta encontra-se neste parágrafo” ou “Respeita o exemplo apresentado”, etc. Sugere-se que a
leitura da prova seja realizada pelo professor titular ou por um professor que lecione a mesma disciplina.
4
Poderá realizar o download da fonte a partir do seguinte link: https://opendyslexic.org
Instrumentos de avaliação Permitir aos alunos que escolham o tipo de teste ou outras formas de apresentação
do seu conhecimento.
Proceder à alteração dos instrumentos de avaliação e certificação.
Modificar a graduação de avaliação ou avaliar segundo outros parâmetros.
Atribuir maior peso na avaliação a partir das atividades práticas em detrimento da avaliação
da escrita e da leitura.
Atribuir maior peso na avaliação formativa, realçando as aquisições efetuadas.
Avaliar, com bases em estratégias de auto e heteroavaliação, apenas o que foi ensinado em
profundidade e consolidado previamente em momentos significativos de prática dos conteúdos
a testar.
Avaliar o interesse e desempenho do aluno com base em diferentes tipos de leitura, oferecendo
roteiros de leitura que vão da leitura modelada pelos docentes, prosseguindo com a leitura em
coro, em grupo, aos pares, até chegar à leitura individual. Ex.: os roteiros de leitura permitem
libertar o leitor do stress e ansiedade conotados com as atividades de leitura e escrita,
desenvolvendo, assim, de forma ecológica, as competências orais e a fluência leitora.
Valorizar o desenvolvimento global do aluno, privilegiando a evolução na aquisição
e desenvolvimento de competências e capacidades relevantes para a convivência em meio
escolar e para a vida em geral.
Formas e meios de comunicação Recorrer a outros instrumentos de avaliação em contexto de sala de aula, evitando demasiada
matéria em cada teste, ou seja, realizar trabalhos de grupo, apresentações orais, questões aula, etc.
Fornecer matrizes, guias de estudo, súmulas e apontamentos com informações sobre os
24
26
conteúdos programáticos. Os mesmos devem ser, previamente, preparados e entregues aos
pais e alunos, antes dos momentos avaliativos, sendo instrumentos de apoio e um elo de ligação
entre a escola e a família. Pode ser criado um e-mail para este efeito.
Utilizar uma agenda ou outro registo escrito como canal de comunicação entre o professor,
pais e equipa multidisciplinar.
Usar como ponto de partida para a avaliação contínua, momentos bem-sucedidos de práticas
de oralidade formais e informais, associando-os ao quotidiano dos alunos e ao meio circundante,
com recurso a diferentes tipos de estratégias/atividades: conversas; comentários; debates;
entrevistas; dramatizações; gravações; realização de vídeos, explicação de conteúdos/regras, etc.
Utilizar o reforço positivo e estimular a realização de trabalho autónomo.
Proceder à valorização da oralidade.
Explicitar o significado das palavras que o aluno não compreende.
Periodicidade Evitar a realização de mais de dois testes numa semana. Realizar, no máximo, dois testes
por período, em cada disciplina. Há outras formas de avaliar.
Proporcionar, ao longo do processo de aprendizagem e de forma continuada, a recolha
de elementos de avaliação de outra natureza que não envolvam a escrita e a leitura.
Fornecer aos alunos e aos pais, no início do ano ou do período, a calendarização das provas/
testes.
Local e duração Os testes podem ser realizados dentro e fora de aula, de acordo com o perfil do aluno
e as necessidades contextuais da turma e sala.
Permitir mais tempo para a conclusão das tarefas/testes. O cumprimento rígido de horários
gera muita insegurança.
Permitir que os testes possam ser realizados faseadamente, de preferência no período da manhã.
Fonte: Adaptado de Bonança, Medeiros & Botelho (2020, pp. 88-94), citado por Bonança, revisto por Castanho (2020).
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Conclusão REFERÊNCIAS
A dislexia é uma condição hereditária que abrange um nú- Bakker, D. (2002). O cérebro e a dislexia. In Sanson, J. (Coord.s), O choque
linguístico – A dislexia nas várias culturas (pp. 14-21). Bruxelas: Dyslexia
mero significativo de alunos, com capacidades cognitivas International – Tools and Technologies.
dentro dos valores normativos ou acima da média, sendo
Bonança, R. Medeiros, T. & Botelho, T. (2020). Referencial de boas
desconhecidas as suas causas. Traduz-se numa dificuldade práticas: as perturbações da aprendizagem específicas e os princípios
neurológica, com sinais de alerta desde o jardim de infância da educação inclusiva. Guarda: Disbedo.
até à fase adulta. Coelho, D. (2019). Dificuldades de aprendizagem específicas. Porto: Areal Editores.
Nos contextos de escolarização, a dislexia é uma dificul- Correia, L. (2013). Inclusão e necessidades educativas especiais. Porto: Porto Editora.
dade que merece maior destaque, dada a falta de formação Correia, L. (2018). Educação dos alunos com necessidades educativas
especias: a profecia cumpre-se. Disponível em https://www.
de um elevado número de docentes nesta área, sendo a causa publico.pt/2018/07/16/sociedade/opiniao/educacao-de-alunos-com-
mais frequente do insucesso escolar. Na maioria dos casos, necessidades-educativas-especiais-a-profecia-cumpre-se-1837375.
Acedido em: 4/4/2020.
não é identificada precocemente, nem recebe o atendimen-
Correia, L. (2019). Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de Julho: um ano passado,
to adequado. No nosso país, o Decreto-lei n.º 54/2018, que
um ano perdido?. Disponível em: https://www.publico.pt/2019/10/09/
regulamenta a Educação Inclusiva em Portugal, aplica-se a sociedade/opiniao/decretolei-n-542018-6-julho-ano-passado-ano-
todos os alunos, porém não se vê qualquer referência neste perdido-1887854. Acedido em: 4/4/2020.
diploma sobre as medidas de diferenciação junto de alunos Cruz, V. (2009). Dificuldades de aprendizagem específicas. Lisboa: Lidel-
edições técnicas, Lda.
com dislexia, ficando as medidas universais ao encargo dos
Davis, R. (2002). O que os pais podem fazer. In Sanson, J. (Coord.s), O
professores titulares, que, por norma, não têm formação
choque linguístico – A dislexia nas várias culturas (pp. 55-57). Bruxelas:
nesta área, persistindo a ideia de que todos precisam do Dyslexia International – Tools and Technologies.
mesmo para ter sucesso. O acompanhamento psicopedagó- Decreto-Lei n.°3/2008, de 7 de janeiro de 2008. Diário da República,
gico, sendo esta uma medida seletiva, geralmente, é atribuí- 1.a Série, N.º 4 – 7 de janeiro de 2008. Lisboa: Ministério da Educação.
Disponível em: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.
do a outros alunos, com dificuldades de natureza cognitiva, php?nid=1405&tabela=leis. Acesso em: 4/4/2020.
não havendo assim a devida intervenção das áreas em défice, Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho. Diário da República, 1.a Série, N.º
junto de alunos com dislexia. Ainda, a instabilidade sentida 129- 6 de julho de 2018. Lisboa: Presidência do Conselho de Ministros.
pela maioria dos docentes, a par do estudo promovido pela Disponível em: https://dre.pt/home/-/dre/115652961/details/maximized. 25
27
Acedido em: 4/4/2020.
FNE (2019), em relação aos conceitos e operacionalização,
Federação Nacional da Educação (2019). Consulta Nacional Educação
do Decreto-lei n.º 54/2018, também não é favorável a esta Inclusiva. Disponível em https://fne.pt/uploads/documentos/
conjetura. Aliás, este estudo aponta que em algumas esco- documento_1575631457_1855.pdf. Acedido em: 4/4/2020.
las o diploma não está a ser implementado em pleno, sendo Hennigh, K. (2003). Compreender a Dislexia - Um Guia para Pais e
Professores. Porto: Porto Editora.
evidentes as dificuldades e dúvidas na aplicação do mesmo,
Lei n.º 21/2008, de 12 de maio de 2008. Diário da República, 1.a Série, N.º
quanto às definições da nomenclatura, destacando a sua
91 – 12 de maio de 2008. Lisboa: Assembleia da República. Disponível em:
pouca funcionalidade e burocracia. A maioria dos docentes http://www.ige.min-edu.pt/upload/Legisla%C3%A7%C3%A3o/Lei_21_08.
não se encontra ainda capaz de esclarecer os pais, sendo que pdf. Acesso em: 4/4/2020.
um elevado número de pais não é chamado a participar nas Lei n.º 116/1999, de 13 de setembro de 2019. Diário da República, 1.a Série, N.º
176 – 13 de setembro. Lisboa: Assembleia da República. Disponível em: https://
reuniões multidisciplinares. Apontam que não estão defini-
dre.pt/pesquisa/-/search/426747/details/maximized. Acedido em: 4/4/2020.
das as horas no âmbito do trabalho colaborativo, vindo este
Moura, O. (2013). A Problemática dos 3Ds: Dislexia, disortografia e
trabalho de articulação a ser uma mera utopia nos estabele- discalculia. Revista CRIAP Educação, 2, 34-35.
cimentos escolares, com prejuízo e um impacto crescente na Shaywitz, S. (2003). Overcaming Dyslexia: A new and complete science-
aprendizagem dos alunos com dislexia. Para além disso, as based program for overcaming reading problems at any level. Knopf.
funções do docente de Educação Especial não estão muito Serra, H. (2006). Não culpo os professores pela falta de formação.
Disponível em: https://www.educare.pt/noticias/noticia/
bem esclarecidas, sendo as horas da componente não letiva ver/?id=13143&langid=1. Acedido em: 28-09-2010.
insuficientes, com consequências no sucesso destes alunos. Serra, H. & Estrela, M. (2007). Dislexia e perturbações associadas:
Aliás, a dislexia requer uma intervenção consciente e ajus- memória e atenção. Cadernos de estudo, 5, 93-115.
tada, tendo em conta um conjunto de medidas e estratégias Shaywitz, S. (2008). Vencer a Dislexia. Porto: Porto Editora.
ajustadas ao perfil de cada aluno com estas dificuldades e Teles, P. (2004). Dislexia: Como Identificar? Como Intervir?. Rev. Port. Clin.
Geral, 20, 713- 30.
que podem estender-se a toda a população estudantil, re-
Vale, A., Sucena, A. & Viana, F. (2011). Prevalência da dislexia entre crianças
vigorando os princípios enunciados pelo Desenho Universal
do 1.º ciclo do Ensino Básico falantes do Português Europeu, Revista
da Aprendizagem. Lusófona, 16, 45-56.
Resposta à diversidade
através do diálogo
aluno-professor
Resumo
Esta publicação foi escrita conjuntamente por professores e investigado-
res que participaram no projeto ‘Reaching the hard to reach: inclusive res-
ponses to diversity through child-teacher dialogue’ (ReHaRe)1. Conta a ex-
periência da ‘escola de referência’ (hub school), em Portugal, e centra-se
26
28 particularmente na forma como utilizaram os materiais do projeto para
dar resposta à diversidade dos alunos. Pensamos que este relato pode
ser relevante para outras escolas em Portugal e noutros países onde são
Lúcia Canha encorajadas abordagens colaborativas do trabalho nas escolas e de como
anha@uwm.edu o diálogo professor-aluno pode potenciar a inclusão.
Patrícia Palma PALAVRAS-CHAVE: Colaboração; Diversidade; Educação inclusiva;
Alunos investigadores; Pesquisa Inclusiva
pmpalma@aeprosa.pt
Dilar Martins
dmmartins@aeprosa.pt Introdução
Maria Daniela Pereira A Escola hoje é um desafio permanente, é um tempo de mudança, de ques-
mdpereira@aeprosa.pt tionamento, é um crescer por dentro… Como pode a escola tornar-se mais
Bruno Fernandes inclusiva? Com pode a escola responder positivamente aos desafios que
bmfernandes@aeprosa.pt lhe são colocados pela diversidade que nela habita? Foram estas preocu-
pações que levaram um grupo de docentes do 1º ciclo do Ensino Básico
Agrupamento de Escolas (CEB), do Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa (AEPROSA), de Faro a
Pinheiro e Rosa, Faro participar neste projeto de investigação-ação, em colaboração com inves-
tigadores da Universidade do Algarve. Um projeto Erasmus+ que trouxe
para primeiro plano a participação e intervenção ativas dos alunos no seu
Teresa Vitorino processo de ensino-aprendizagem. E em que as dinâmicas desenvolvidas
tvitorin@ualg.pt tomam forma fora dos circuitos comunicacionais habitualmente consti-
Jorge Santos tuídos na escola, visto que cada sala de aula se abre à observação de alu-
jsantos@ualg.pt
1
Alcançar os difíceis de alcançar: respostas inclusivas à diversidade através do diálogo
Universidade do Algarve aluno-professor.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
nos e de professores de outras turmas, numa lógica dialógica trabalho do projeto.
circular e colaborativa. Na sequência da formação realizada em cada país,
O objetivo central deste projeto de três anos (2017- crianças, professores e investigadores da universidade traba-
2020) foi desenvolver estratégias para incluir todas as crian- lharam colaborativamente, experimentando, desenvolvendo
ças nas aulas, particularmente aquelas que podem ser consi- e refletindo acerca de uma nova forma de trabalhar ao nível
deradas como ‘hard to reach’/ ‘difíceis de alcançar’. O projeto da sala de aula – a Pesquisa Inclusiva, seguindo as especifi-
ReHaRe procurou responder à seguinte questão de pesquisa: cações apresentadas no Guia do projeto 4.
Como podemos chegar a todos os alunos, especialmente aque- A primeira etapa de investigação ação – a fase piloto,
les que são vistos como ‘difíceis de alcançar’, através do uso da decorreu na sequência da constituição de trios de professo-
‘Pesquisa Inclusiva’ como modelo para o desenvolvimento da res nas cinco escolas participantes. Ao longo desta fase, cada
aprendizagem e do ensino? ‘escola de referência’ realizou atividades de auscultação das
O modelo Pesquisa Inclusiva (‘inclusive inquiry’) é uma opiniões dos alunos e de formação dos ‘alunos investigado-
abordagem estruturada e exigente para o desenvolvimento res’, para implementar o modelo Pesquisa Inclusiva.
da aprendizagem e do ensino nas escolas (Messiou & Ains- O segundo ciclo de investigação ação (setembro 2018
cow, 2020). Implica o desenvolvimento de uma metodologia - maio 2019) pretendeu aprofundar a colaboração das par-
de investigação ação colaborativa que permite a participa- cerias estabelecidas e ampliar o impacto do projeto. Foram
ção ativa de professores e alunos, enquanto parceiros de in- estabelecidas redes de escolas, cada uma envolvendo outras
vestigação, juntamente com os professores investigadores cinco escolas primárias. O modelo foi implementado em trin-
das universidades, com o objetivo comum de melhorar as ta escolas5 - seis escolas em cada um dos países parceiros, im-
práticas na sala de aula. plicando a formação de novos trios. A formação dos trios de
professores e das suas turmas nas escolas da rede baseou-se
numa proposta do Guia6, que salienta que a Pesquisa Inclusi-
va é uma abordagem que pode ser utilizada nas escolas para
reforçar as práticas de inclusão existentes. As redes de esco-
las, constituídas em cada país, foram apoiadas pela ‘escola de 27
29
2
Primary schools; em Portugal, escolas do 1º ciclo do Ensino Básico (1º
CEB). Nesta publicação é assumida a designação de ‘escola primária’.
3
Áustria: Universitaet Graz; Dinamarca: Aarhus Universitet; Espanha:
O projeto
Universidad Autoznoma de Madrid; Inglaterra: Southampton University;
O projeto ReHaRe envolveu parceiros - escolas primárias2 e Portugal: Universidade do Algarve.
universidades, de cinco países: Áustria, Dinamarca, Espa- 4
Guia da Pesquisa Inclusiva. Detalhes deste projeto, incluindo os
nha, Inglaterra e Portugal. O projeto visou experimentar a materiais desenvolvidos, em: https://reachingthehardtoreach.eu/
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Devido à dimensão reduzida das salas, considerou-se O processo de observação
que apenas se deviam selecionar dois alunos investigadores
por turma para participarem nas aulas de pesquisa. Esta se- Criámos um primeiro guião de observação, que foi debati-
leção foi ajustada às especificidades de cada turma. Aliás, a do com os miúdos. Tínhamos um guião com escolha múlti-
autonomia e responsabilidade dos docentes e a flexibilidade pla e outro aberto. E os miúdos experimentaram cada um
do processo, foram dimensões positivas do projeto eviden- dos dois guiões nas suas turmas, como forma de treino. E
ciadas pelos professores. depois voltámos a reformular, para o guião final, que eles
aplicaram.
A formação dos alunos investigadores divergiu na for-
ma, mas não no conteúdo. “No fundo, elaborámos ati- Os alunos propuseram alteração da linguagem e eliminação
vidades que permitiram aos alunos refletir e identificar de uma das questões. Como forma de os desinibir, aplicaram
quais os fatores potenciadores da sua aprendizagem e o guião de recolha de dados primeiramente no seu contexto,
quais os que eram um obstáculo ao processo”. onde se sentiam à vontade. Só depois é que foram aplicá-lo
noutra turma, de forma rotativa. Cada par de alunos inves-
Após a seleção dos alunos investigadores, e como forma tigadores foi a uma das outras turmas. Os professores não
de preparação para a observação das aulas de pesquisa, estes foram.
auscultaram os pares da sua própria turma e das outras duas
turmas do trio, sobre o que os ajudava a aprender, o que os
fazia felizes na escola, como preferiam trabalhar e, na posse
desta informação, colaboraram ativamente na planificação
das aulas dos diferentes ciclos investigativos.
Tal como na fase piloto, o trio de professoras optou por
manter dois alunos investigadores por turma. No entan-
to, da primeira para a segunda fase do projeto escolheram
crianças diferentes para que outras tivessem oportunidade 29
31
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Sementes de curiosidade disseminadas responsável da parceria escola e os dois investigadores da
pelacomunidade escolar universidade. Este processo culminou na realização de um
O impacto positivo deste projeto foi imenso e alguns cole- seminário online aberto, com a participação de muitos pro-
gas questionavam, informalmente, se os alunos teriam ma- fessores e estudantes de cursos de formação de professores
turidade para perceber o que deles era esperado num projeto de todo o país. Neste seminário os professores que partici-
deste tipo. O trio inicial de professoras, que entrou no proje- param no projeto tiveram a oportunidade de partilhar as
to com duas turmas de 1º e uma de 2º ano, tinha suplantado suas experiências e o modo como estas contribuíram para o
todas essas incertezas e exortaram os colegas a entrar na envolvimento dos alunos na aprendizagem e no desenvolvi-
‘aventura’, permitindo que outros olhos observassem o que mento profissional dos professores.
se passava na sua sala de aula, de forma a torná-la o mais
inclusiva possível. A surpresa com os resultados alcançados
foi tal que, no terceiro ano de implementação da metodolo-
gia de Pesquisa Inclusiva, apenas uma das docentes titulares
de turma não se mostrou interessada em participar. Todos
os outros professores da escola se organizaram em duos ou
em trios, pois sentiram que lhes permitiria um verdadeiro
diálogo aluno-professor, orientado para as grandes questões
da aprendizagem, auscultando desejos, opiniões e também
constrangimentos que os alunos sentiam no seu percurso
escolar e, deste modo, incorporar as suas sugestões na prá-
tica pedagógica. As sugestões que as crianças forneceram
na planificação da aula estavam a torná-la mais exequível e
mais motivante, pois correspondia aos desejos e aspirações
dos alunos.
31
33
Conclusões REFERÊNCIAS
Agência Europeia
para as Necessidades
Especiais e a
Educação Inclusiva
Uma intervenção independente e ativa
para sistemas educativos mais inclusivos
32
34
Filomena Pereira Mestre em Educação Especial pela Faculdade de Motricidade Humana, Universidade
Técnica de Lisboa, é Directora da Direcção de Serviços de Educação Especial e de
Direção-Geral da Educação
Apoio Sócio-Educativo da Direcção-Geral de Educação do Ministério da Educação.
Com experiência docente nos ensinos básico e superior e de coordenação de cursos
de formação contínua tem participado em projetos de âmbito nacional e internacional
no domínio das necessidades especiais e da educação inclusiva, área onde se inserem
a maior parte das publicações por si produzidas ou em co-autoria. Tem desenvolvido
atividades de colaboração com instituições de ensino superior público na organização
de cursos de formação especializada de professores. Colabora com o World Bank e a
UNICEF para a área da Educação Inclusiva. É representante do Ministério da Educação
em diversos Grupos de Trabalho da União Europeia que estudam a temática das
necessidades especiais e é membro do Conselho de Representantes da European
Agency for Special Needs and Inclusive Education, em representação da Direção-Geral
da Educação.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o Conselho da
Educação Inclusiva (Agência) https://european-agency.org/ União Europeia, bem como com outras estruturas de âmbito
é uma organização independente que atua como plataforma internacional como o Cedefop, Eurostat, Eurydice, UNESCO,
de colaboração entre os Ministérios da Educação dos países UNICEF, OCDE e outras.
membros. Um dos trabalhos sobre os quais a Agência se foca, é o
Criada em 1996, este é também o ano em que Portu- de revisão e análise da política de cada país membro1 (CPRA).
gal, representado pela Direção-Geral da Educação, se torna Os resultados dessa análise e revisão fornecem a cada estado
membro da Agência. Através desta participação, existem membro uma reflexão sobre as suas políticas no âmbito da
oportunidades diversas de trabalho em rede, de aprendi- educação inclusiva. A Agência elabora também recomenda-
zagem entre pares, de autoavaliação de políticas e práticas ções individualizadas quanto às prioridades a estabelecer.
assim como de pesquisa e investigação. A recolha de dados relativos à educação inclusiva em
Originalmente, recebeu o nome de Agência Europeia cada país membro é outra das tarefas da Agência. O objetivo
para o Desenvolvimento em Necessidades Educativas Espe- é o de informar o trabalho dos países segundo os princípios
ciais. A um de janeiro de 2014, contudo, verifica-se uma al- da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pes-
teração para a atual designação, no sentido de ir ao encontro soas com Deficiência e com os objetivos da União Europeia
das atuais e futuras atividades da Agência. para a educação e formação. Os dados fornecem informação
O foco do trabalho incide no apoio ao desenvolvimen- sobre as populações com necessidades específicas segundo
to de sistemas educativos inclusivos de forma a assegurar o uma perspetiva inclusiva, informando o discurso quanto ao
direito de cada criança e jovem a oportunidades educativas acesso e participação em educação inclusiva.
inclusivas e equitativas. A Agência desenvolve, em simultâneo, vários projetos
O Conselho da União Europeia, na sua Recomendação que cobrem diferentes, mas relevantes tópicos, que vão desde
de 22 de maio de 2018, relativa à promoção de valores co- a Intervenção Precoce na Infância à Formação de Professores
muns, da educação inclusiva e da dimensão europeia do en- ou ao Financiamento de Sistemas Educativos Inclusivos.
sino, encoraja os estados membros a promover uma educação Atualmente, tem em desenvolvimento, entre outros,
inclusiva para todos os alunos e a utilizar eficazmente a Agência projetos como: Formação de Professores para a Inclusão – 33
35
Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva, TPL4I2 (2018-2020); Prevenção do Insucesso Escolar: análise
numa base voluntária, para implementar e acompanhar aborda- ao potencial das políticas da educação inclusiva em relação ao
gens inclusivas eficazes nos respetivos sistemas de educação. sistema e indivíduos3 — PSF (2018-2020); Apoio a Lideranças
O trabalho em rede, permanente e contínuo, entre os Escolares Inclusivas4 — SISL (2017-2020) e Alteração do Papel
representantes ministeriais, permite definir as prioridades do Provisionamento Especial no Apoio à Educação Inclusiva5 —
concretas dos programas de trabalho anuais e plurianuais, o CROSP (2017-2020).
que assegura que as atividades estão alinhadas com as prio- Salienta-se que todos os produtos das atividades6 da
ridades dos ministérios da educação dos países membros. Agência são traduzidos para a língua de cada um dos paí-
Tratando-se de uma plataforma que reúne represen- ses participantes, tornando acessível toda a informação não
tantes de 31 países, seria difícil que todos se encontrassem apenas aos ministérios da educação como também a todos
no mesmo ponto quanto a políticas, práticas e contextos os envolvidos na promoção de escolas mais inclusivas.
educativos. Daí que a Agência assuma como objetivos es- Portugal tem estado, desde sempre, ativamente en-
tratégicos: (i) promover a qualidade no âmbito nas neces- volvido nos projetos da Agência. Alguns destes projetos
sidades especiais e da educação inclusiva através de uma realizaram estudos de caso no nosso país, designadamen-
estrutura duradoura de colaboração europeia; (ii) facilitar te, (i) Políticas de Financiamento para Sistemas de Educação
uma partilha eficaz de experiências e conhecimentos entre
e nos países membros; (iii) identificar fatores chave que di- 1
https://www.european-agency.org/projects/country-policy-review-and-
ficultem ou apoiem o progresso, fornecendo informação e analysis
orientação aos países membros; (iv) analisar e rever políti- 2
https://www.european-agency.org/projects/TPL4I
cas de cada país apoiando o desenvolvimento de sistemas 3
https://www.european-agency.org/projects/PSF
educativos inclusivos eficazes e sustentáveis. 4
https://www.european-agency.org/projects/SISL
Sendo uma organização que advoga a inclusão e a di- 5
https://www.european-agency.org/projects/CROSP
7
https://www.european-agency.org/sites/default/files/lisbon-
declaration-young-people2019s-views-on-inclusive-education_
declaration_pt.pdf
8
https://www.european-agency.org/news/new-agency-collaboration-
portugal-within-eu-structural-reform-support-programmehttps://www.
european-agency.org/news/new-agency-collaboration-portugal-within-
eu-structural-reform-support-programme
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
RECENSÃO
A Salvação
da Primavera
Texto & ilustração Filipe Keil
Edição de autor (2020)
Filipe Keil, autor das letras que canta e de textos que vai escrevendo no
seu blogue http://filipekeil.blogspot.com/, homenageia, nesta publicação,
alguns desses poemas escritos no referido blogue ao longo de oito anos.
Poemas, que porventura refletem, talvez a maturidade e a visão do mun-
do pessoal e coletivo numa passagem individual pela vida.
Num tempo conturbado, mediaticamente afastado dos tempos pró-
ximos de envolvimento são visíveis dúvidas atuais (como o caso do poe-
ma Rua, onde se “visualiza” as ausências vividas durante uma pande-
mia), contrastando com um tempo passado (como o poema Cor onde são
notáveis as metáforas de serenidade e de esperança). 35
37
As “cores” das relações e as narrativas ficionais ou não, permitem viajar
numa linha cinematográfica da vida de um jovem, cujos poemas, embora não
apresentados de forma cronológica da sua criação, constantemente se cru-
zam com a justificação da reescrita de sentimentos numa viagem pessoal.
As ilustrações, também da autoria de Filipe Keil, de composição to-
talmente digital, iluminam o texto, extrapolando-o para outra leitura
expressiva, alargando os significantes textuais.
Este pequeno livro, de capa mole, termina com um poema intitula-
do A minha verdade, onde o autor escreve, questionando: “quem serei eu
nesta terra em que habito?”.
Questões e memórias de uma verdade que se manifesta e possibilita
em muitas interpretações e argumentações, dando-nos esta capacidade
ficional, embora porventura, com relevân-cia para dados autobiográfi-
cos, (afinal somos reflexo do que vivemos e os poemas, obviamente são
também simbólicamente um retrato do autor), mas na sua versão existe,
como é óbvio, a margem para que o leitor possa construir outra narra-
tiva pessoal, disseminando o deleite e a riqueza da poesia peculiar, jus-
tificando e remendando alguns sentimentos da realidade de que somos
feitos enquanto seres humanos.
O livro fisico, e-book ou audiobook (com declamações do autor) podem ser adquiridos
no seu site http://www.filipekeil.com/ ou em https://www.amazon.com/
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
INSTANTES INCLUSIVOS...
Leituras
em tempos
conturbados
Elvira Cristina Silva
37
39
Na coleção intitulada Tudo vai ficar bem, muitos foram os títulos desta editora
dedicados a esta temática. Editados em março 2020, foram partilhados online,
durante o período de estado de emergência devido à pandemia por Covid-19.
Neste título, a narrativa de carater lúdico visa informar sobre os sintomas
do víruss, cuidados preventivos a ter em consideração, bem como ideias (dicas)
de combater o isolamento que a todos desafiou. A importância da alimentação, o
estudo e a saúde não são esquecidas nesta publicação.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A minha mãe é médica e já tenho saudades dela
Texto: Susana Amorim e Miguel Correia
Ilustração: Beatriz Braga
Editora: Ideias com História (2020)
O meu herói és tu
Roteiro e ilustração: Helen Patuck
Editora: IASC (2020)
Terceiro livro da coleção Yoga das estações, (já referida na anterior revista), desta
vez dedicado ao outono, mantendo, como expetável a sua coerência tanto ao nível
do texto, como no aspeto gráfico.
Remetendo para o método Montessouri, em que se inspira esta coleção, a
narrativa em torno dos sentidos, desta feita, numa aventura em clima outonal,
reforça a conexão com a natureza e a referência à família como suporte afetivo e
elemento de segurança.
40 A ilustração muito arejada em cada página, mantem a simplicidade e beleza
42
de aguarelas, a par de desenho a lápis e composição digital, harmonizando a dis-
tribuição equilibrada da mensagem gráfica pretendida. Os elementos da estação
são o mote para as diversificadas posturas que vão surgindo a par da narrativa
que apela para as descobertas do tempo, numa ligação à familia alargada como
fonte de passagem de transmissão de conhecimentos. Mantendo a linha editorial
dos livros anteriores, no término da narrativa são apresentadas todas as posturas
e ainda conselhos a experimentar de exercícios de respiração e de relaxamento.
No final da narrativa uma proposta de expressão livre deixa em aberto a pos-
sibilidade individual de outras narrativas. Mais um excelente livro desta coleção
para a prática de yoga e mindfulness.
Aquisição do livro em: https://casacapaz.myshopify.com/collections/yoga-das-estacoes/
Água da Vida
Texto: Raquel Gonçalves
Ilustração: Isa Silva
(2020)
Raquel Gonçalves é a autora deste texto e responsável pela capa da revista que te-
mos em mão. Já mencionada na publicação anterior, esta autora, surge agora com
outro livro, onde de modo lúdico e recorrendo uma vez mais à escrita em versos,
apresenta-nos Manuel, o protagonista do enredo, segundo a autora, “inspirado
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
no ciclo da água, na preservação de algumas espécies marinhas, tendo subjacente
o imaginário dos Açores”, apelando, deste modo, para a consciencialização da
proteção do mar e da água.
Com base nesta premissa, a narrativa acumula a pertinência terapêutica da
água numa relação com o yoga, evidenciando um olhar inclusivo, tanto a nível
gráfico como a nível textual. Apresenta-nos a molécula do sal (existente no mar e
no nosso coração), vinculando a pertinência do respeito pela natureza mas tam-
bém a ligação ao outro, evidenciado na postura a pares.
As ilustrações, de Isa Silva, de recurso à composição digital, acompanham
em cada página as respetivas posturas indicadas, revelando fielmente o texto e em
alguns casos prolongando-o, evidenciando-se em cada página dupla muito preen-
chimento de detalhes e cenários em vários planos, com imagens sobrepostas.
Com base nos pressupostos do yoga referidos nesta aventura, no final da
narrativa, o livro possui 16 cartas de yoga, com as posturas que surgem ao longo
da narrativa. Cartas que podem ser destacadas do livro para a prática das postu-
ras. No verso de cada carta, existem explicações detalhadas sobre as respetivas
posturas e curiosidades sobre as mesmas, oferecendo diversificadas potencialida-
des a ser exploradas individualmente.
No final do livro existe ainda uma caixa para montar e guardar as cartas. Ao
contrário das ilustrações do livro, nas cartas o enfoque é nas posturas, resultando
numa ilustração mais arejada e objetiva.
Um livro que se constitui como um manual para a prática do Yoga e dos seus
benefícios, na pertinência da utilização dos nossos recursos internos para conhe-
cer o nosso corpo e criar resiliências.
Sendo uma edição de autor podem adquirir este livro em: https://raquelgoncalves.com/livros/. 41
43
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
EDUCAÇÃO Dossier
EM TEMPOS
Neuza Pedro
DE PANDEMIA…
"A escola somos nós"
Álvaro Almeida dos Santos
“A tecnologia em tempos
de pandemia: desafio ou
oportunidade?”
ORGANIZADO POR: Marco Bento
45
Olga Margarida Paulo de Sá
(Re)pensar o CRI APPC...
em tempos de confinamento
Docente de Educação Especial
Diana Lisboa – CRI APPC
Coordenadora do Departamento
de Educação Especial
De volta à rotina
Agrupamento de Escolas
Rómulo Neves
Infante D. Henrique, Porto
“Ouvir os alunos e
envolvê-los na Escola”
Paula Cleto
Filipa Rafael
Ana Vila
Diana Moreira
SPO AEIDH
PRÓ-INCLUSÃO
Associação Nacional
de Docentes de
Educação Especial
Foi no ano letivo de 2019-2020 que vivemos umas das expe- do chamado ensino à distância ou ensino remoto de emergên-
II46 riências mais impactantes quer da nossa vida pessoal, quer cia, nomeadamente aqueles sem acesso à Internet ou computa-
profissional. Decorriam as dinâmicas próprias da Escola, até dor, outros ainda, viram ampliadas as assimetrias, os atrasos e
que surgiu a notícia de uma Pandemia – Covid 19 que se es- alguma impreparação do nosso sistema educativo e formativo.
palhava à escala mundial. A Escola, que era preenchida pela Foi um período de transformação e adaptação, por isso,
vivacidade das vozes e sorrisos, movimentação nos corredo- neste dossier convidamos o leitor(a) a submergir nas dife-
res, organização própria, no que concerne às rotinas e pro- rentes perspetivas e conceptualizações sobre a Educação In-
cedimentos educativos, vê a sua realidade transformada a clusiva neste contexto de Ensino Remoto de Emergência. Des-
partir do dia 16 de março de 2020. Os portões das escolas fo- tacamos o olhar, a opinião e a experiência de Investigadores,
ram encerrados e dar-se-ia início a um período em que quase Diretores de Agrupamentos de Escolas, Docentes, Família,
dois milhões de alunos iniciaram um processo de aprendiza- Centro de Recursos para a Inclusão, Serviços de Psicologia
gem à distância. e Orientação e Alunos, sobre uma visão holística do perío-
As Direções continuaram na linha da frente na organi- do de confinamento e o regresso à escola. Que constrangi-
zação, na planificação e execução de orientações emanadas mentos? Que sentimentos? Que conclusões e aprendizagens
pela Direção Geral de Saúde e Ministério de Educação. retirámos? Como podemos melhorar? Foram questões como
A Escola alicerçou a sua ação no corpo docente, téc- estas, que conduziram a estrutura deste Dossier. E tal como
nicos especializados, técnicos administrativos, assistentes na missão Apollo 13, enunciada pelo Dr. Álvaro Santos, está
operacionais, não esquecendo um conjunto de parceiros neste dossier refletida a premência de um trabalho colabo-
primordiais: Famílias, Câmaras Municipais, Entidades Pú- rativo por parte de toda a comunidade educativa, para lidar
blicas, Comissões de Proteção a Crianças e Jovens em Risco, com a adversidade e agir com precisão na busca de soluções
Centros de Recursos para a Inclusão, Equipas Locais de In- para o problema: garantir a qualidade e o caráter inclusivo do
tervenção Precoce, Centros de Recursos de Tecnologias de ensino em tempos de pandemia!
Informação e Comunicação (CRTIC) para a Educação Espe-
cial, Empresas e tantos outros. “Houston, we have a problem!” ou será antes “We have
O caminho não foi fácil, muitos alunos ficaram à margem a mission!”.
DOSSIER
EDUCAÇÃOEDUCAÇÃO
INCLUSIVAINCLUSIVA
Entrevista a Neuza Pedro
5. Houve comprometimento profissional e motivacional por NP: A tecnologia em si não foi promotora de exclusão. As tecno-
parte dos docentes? logias são artefactos e não têm esse poder. As diferenças socioe-
conómicas das famílias, essas sim, levam ao acesso ou ao não
NP: Diria que sim, que houve um grande sentido-de-missão acesso, à utilização regular ou incipiente das tecnologias e dos
entre a classe docente nacional, tal como junto dos profis- serviços de conectividade (ambos caríssimos na realidade na-
sionais de saúde, da ordem pública… A meu ver a pandemia cional!) e, isso sim, intensificou as desigualdades e a exclusão.
trouxe ao de cima, coisas muito positivas na sociedade civil A E@D por si, é e tem sido, há muitos anos apontada
portuguesa. A escola, na figura dos seus profissionais, direto- como mais uma via de acesso ao conhecimento contribuindo
res, professores, assistentes operacionais adotou uma atitude para aumentar a equidade. Nomeadamente porque permite
muito responsiva e, mesmo na ausência de meios e na falta eliminar deslocações, quebrar barreiras geográficas, flexibi-
de formação e informação adequada, procurou responder lizar a gestão de recursos temporais e financeiros e mesmo
prontamente ao desafio que lhe foi lançado: ensinar remota- por dar acesso ao processo formativo a quem, por limitações
mente. E note-se que na vida dos nossos professores, nada os de natureza motora ou sensorial, não consegue aceder ao
preparou para o cenário estranho que tiveram que viver, nem formato clássico de oferta formativa. Contudo, aquilo que
a sua formação inicial, nem contínua, nem os anos de expe- vivemos em si, por não se ter revelado efetiva E@D e por
riência acumulada. Nenhum professor estava capaz de pensar não termos conseguido garantir a todos os meios de aces-
a ‘sala de aula’ sem alunos… Conceptualmente, e depois pro- so que um ERE realmente exigia, acabou por intensificar as
cedimentalmente isto foi um choque. Se para os alunos o foi, desigualdades de que o nosso sistema educativo e formativo
não se ache o contrário em relação aos professores. já padecia.
6. As proliferações de ferramentas tecnológicas foram adequa- 8. Que aprendizagem retirámos deste Ensino Remoto de Emergência?
das para a proficiência digital dos professores e para as neces-
sidades das crianças e alunos? NP: Muitas, assim queiramos aceitar isso. Poucas, se qui-
DOSSIER
EDUCAÇÃOEDUCAÇÃO
INCLUSIVAINCLUSIVA
sermos somente achar que, apesar dos pesares, até correu NP: Completamente, a atividade profissional hoje na gran-
tudo muito bem. Salientando três, diria que a primeira será de parte das profissões é realmente híbrida, há atividades
a tomada de consciência de que não tínhamos uma escola feitas presencialmente e atividades feitas online. De igual
preparada para 2020. As infraestruturas, a mobilização das modo, a própria formação que as empresas proporcionam
soluções que a ciência e a tecnologia colocaram ao nosso aos seus trabalhadores também ela é total ou parcialmen-
serviço (que outros setores públicos têm vindo a utilizar te realizada online ou mediada por plataformas virtuais.
produtivamente, como por exemplo, a saúde e as finanças) Mantendo-se à margem deste hibridismo, a escola está a
não estavam ainda conseguidos. A segunda, seria a dispo- preparar os estudantes para um mundo profissional que
nibilidade, apesar da impreparação do corpo docente para não existe. Continuemos o raciocínio a pensar no próprio
cumprir dois propósitos fundamentais da escola atual: i) dia-a-dia do cidadão: parte das nossas atividades diárias de
tornar realmente a escola inclusiva e perceber o benefício comunicação e gestão familiar são feitas em meio presencial
disso (não só os custos!), ii) tirar partido dos meios digitais e em meio digital, é tão natural que assim seja que nem se-
que temos ao dispor para melhorar o processo de ensino, quer conseguimos muito bem definir a fronteira entre um e
aprendizagem e de avaliação. A terceira, diria que se prende outro. Logo, a escola teria vantagem em trazer mais destas
com o valor inestimável que tem para os nossos alunos (para verdades naturais do dia-a-dia para o seu interior.
todos nós em geral), independente do ciclo de ensino, o es- Costumo dizer a brincar que a pior mentira que a escola
tar-uns-com-os-outros e o quanto desvalorizamos isso no me contou foi dizer-me que eu deveria aprender a concentrar-
processo diário de ensino-aprendizagem. Acho que muitas -me e a fazer uma coisa de cada vez. Procurei especializar-me
escolas reabriram esquecendo-se que realmente o período nisso e, hoje, há tão pouco tempo que não posso fazer uma
‘março-julho’ foi primordialmente isso que nos ensinou… coisa de cada vez. Na nossa rotina atual, a regra é fazermos
várias coisas em simultâneo (ou intercaladamente, será o
9. Tem referido a necessidade de se pensar menos em salas de mais correto do ponto de vista cognitivo), logo a escola tam-
aula e mais em espaços de aprendizagem. Qual o significado bém tem que nos preparar para isso. O mundo de hoje é híbri-
desta afirmação? Que espaços de aprendizagem? do e complexo. A escola também deveria experimentar sê-lo.
V
49
NP: A sala de aula é um cenário demasiado estático. Ao lon- 11. No sentido do desenvolvimento profissional docente, como
go de muitas décadas e transversalmente a muitas culturas, devem os professores de hoje estar preparados no que concerne
a sala de aula tem-se mantido igual. É aquela área quadrada ao uso de ferramentas digitais? Qual a formação mais adequada?
composta de cadeiras e mesas enfileiradas de fronte para um
quadro, ponha-se-lhe a cor que se quiser, preto, verde, branco, NP: A investigação na área da integração educativa das tec-
dependerá da época... Esta imagem e a falta de mudança nela nologias tem recorrentemente sinalizado a ideia de que, neste
é sintomática do pouco que temos atualizado as práticas esco- domínio, pode não ser muito aprazível para as nossas institui-
lares. Mas, em oposição, nas últimas décadas, as nossas casas ções de formação de professores e para o modelo formal que
mudaram, os nossos espaços de trabalho mudaram, os locais temos estabelecido. Ainda assim, pensar sobre ela: a formação
de lazer mudaram, todos procuraram tornar-se mais adapta- informal, em contexto, entre pares, não estratificada no tem-
tivos, confortáveis, atraentes e multifacetados. É isso mesmo po, bem como a autoformação ou a exploração (des)orientada
que se reclama para a sala de aula, que ela se torne menos um em tempo propositadamente criado pelo próprio professor
espaço de ensino e mais um espaço de aprendizagem, de traba- para o efeito, tem demonstrado revelar efeitos mais favoráveis
lho, de movimentação, de interação, de modelação, fabricação e perduráveis no desenvolvimento profissional docente.
etc. E que além disso, há necessidade de se começar a entender Assim sendo, acho que temos de conjugar aquilo que são
outros espaços, por exemplo os virtuais, os informais, como as soluções formais de formação docente existentes na área
também eles sendo espaços de aprendizagem. Só mesmo ar- e fazê-las articular em torno de objetivos comuns de atuali-
tificialmente é que hoje se pode pensar a aprendizagem como zação profissional docente. Ao mesmo tempo, temos de criar
acontecendo de forma estanque entre quatro paredes. TEMPO e condições (sendo que a maior delas é realmente o
TEMPO!) para que nas escolas os professores se possam or-
10. Concorda que aprender em ambientes híbridos prepara ganizar em sentido individual, a pares, em grupos disciplinar
para o mundo laboral? Porquê? ou interdisciplinarmente orientados para responder aos de-
safios que atualmente se lhes levantam.
DOSSIER
EDUCAÇÃOEDUCAÇÃO
INCLUSIVAINCLUSIVA
tanciamento físico, alimentava a angústia face aos riscos de Cada diretor de turma, coordenador do desenvolvimento
diminuição significativa da qualidade da interação relacio- curricular dos seus alunos, reuniu em cada final de semana,
nal, sustentada ao longo de anos por um clima em que o “cui- “online”, com os seus alunos, para avaliar o trabalho reali-
dado” constituía um dos principais pilares da ação educativa. zado, identificar necessidades, convidar à reflexão sobre a
Em tempo de emergência, um dos principais problemas aprendizagem e apresentar o plano de trabalho para a sema-
em análise era o de procurar proporcionar o acesso univer- na seguinte. Tratava-se, afinal, de transpor uma prática que
sal à educação em condições de equidade. A constituição vinha sendo realizada no modelo presencial, em programa
imediata de uma equipa de apoio E@D, diversificada na sua de “reunião de turma” há alguns anos.
constituição disciplinar, mas ligada nas competências e no Havia, naturalmente, uma especial atenção aos alunos
suporte tecnológico e pedagógico a desenvolver junto dos com medidas seletivas e adicionais, designadamente aos da
colegas, terá sido um dos eixos fundamentais para que pu- sala de ensino estruturado. O envolvimento de todos os pro-
déssemos desenvolver ações de forma inclusiva. Apesar da fessores, terapeutas e parceiros institucionais, entre outros,
urgência, este foi um período para “dar tempo ao tempo”, contou com a colaboração dos alunos e das famílias. Estabe-
refletir, estabelecer novas lideranças, desenhar processos de leceu-se como prioridade o acompanhamento das lideranças
formação urgente para o período de interrupção letiva e ga- intermédias, de forma persistente, para que os alunos fossem
rantir que não deixaríamos alunos por contatar. capazes de gerir as ferramentas de aprendizagem à sua dis-
posição. Foram constituídas, em várias turmas, sob super-
A nitidez da caricatura e a colegialidade como visão do(a) respetivo(a) diretor(a), mentores que auxiliaram
prática natural colegas. O programa de mentoria entre alunos do ensino se-
De entre as revelações desse período, a possibilidade de cundário e do básico manteve-se, embora agora à distância.
vislumbrarmos com maior nitidez traços de personalidade Ao longo do período de trabalho não presencial, o di-
pedagógica de cada professor/indivíduo constitui uma das retor comunicou com os professores, através de “briefings”
mais relevantes. Como numa caricatura, as marcas de per- diários, remetidos em cada manhã, contendo incentivos,
sonalidade ficaram mais acentuadas e visíveis. Esta era a pistas de resolução de problemas e de formação, convites à
constatação de que um professor se revela não por aquilo reflexão, disponibilização de materiais e conselhos para que VII
51
que faz ou que diz, mas por aquilo que é. Os bons professores pudesse ser garantida a necessária estabilidade emocional.
no regime presencial continuaram a merecer elogios pela
forma como desempenhavam a sua prática no novo modelo, A normalidade possível
pela capacidade de adequação pedagógica, flexibilidade de Embora todos prefiramos o desenvolvimento da ação peda-
raciocínio, recorrendo a um amplo e diversificado reportório gógica de modo presencial, há um conjunto de fatores que
de estratégias e de ações pedagógicas. representam obstáculos organizativos e pessoais ao desen-
Com o estabelecimento de redes de apoio, de geometria volvimento de processos de ensino e de aprendizagem com
variável, a colegialidade passou a ser considerada como uma os níveis de qualidade mais elevada: a limitação de horá-
prática natural, não forçada, que permitiram processos de rios para trabalho colaborativo; a sua extensão promotora
auto e de heteroformação intensiva, apoio e trabalho coo- de desencontros; o distanciamento físico em sala de aula; a
perativo. Muito embora tenha existido, por algum tempo, a dificuldade de leitura de expressões faciais; o convite à des-
centralidade dos instrumentos tecnológicos, não demorou confiança de tudo e de todos.
a que a integração de novas ferramentas nos processos de Seja qual for o modelo de trabalho, a ligação aos alu-
ensino e de aprendizagem convidasse à reflexão sobre o que nos pelos professores é absolutamente essencial. A inter-
é ensinar, aprender e avaliar. mitência do trabalho presencial, por razões conhecidas de
A mobilização de recursos da escola e o desenvolvi- imposição sanitária, constitui uma ameaça adicional, que
mento de um programa de oferta material tecnológico por nos mobiliza a um trabalho acrescido para evitarmos a frag-
parceiros na comunidade auxiliaram a combater isolamento mentação e a fragilização de práticas inclusivas.
e a incluir alunos de famílias sem recursos disponíveis. Teremos ainda reservas de humanidade para evitarmos
que a acidez relacional destes dias corroa o que ainda resta
A comunicação como fator de inclusão de tolerância, compaixão e solidariedade?
O estabelecimento de redes e a regularidade da comunicação
constituíram um dos mais importantes fatores de inclusão.
DOSSIER
EDUCAÇÃOEDUCAÇÃO
INCLUSIVAINCLUSIVA
realmente desejam obter. São basilares para as crianças de- passou para a resolução do mesmo questionário, mas com
senvolverem as capacidades de observação, de reflexão e de o uso de uma aplicação digital, do tipo quizz, mantendo o
coordenação psicomotora. Aliás, a introdução de recursos modelo pedagógico e apenas alterando o formato.
multimédia, adaptados e adequados aos contextos da apren- Por outro lado, também temos tido as escolas a solici-
dizagem, evidenciado por múltiplos estudos e investiga- tar acessos rápidos e constantes à internet, equipamentos
ções, são instrumentos quase insuperáveis numa dinâmica 1:1 para alunos e professores, software educativo e platafor-
de sala de aula envolvente, catapultando os alunos para um ma de gestão da aprendizagem seguras e fidedignas. A esta
estado de predisposição para a aprendizagem, mas sobretu- questão fica sempre a dúvida entre uma escola que deses-
do, potenciando uma aprendizagem mais rápida, profunda e pera por igualdade nas oportunidades para os seus alunos
proficiente, com uma ligação muito importante ao quotidia- e professores. Todavia, as escolas precisam de compreender
no, numa ajuda ímpar de construção de conceitos estrutu- o conceito de equidade, porque quantas foram as escolas e
rantes, que tornam o abstrato em concreto. turmas que tiveram acessos a tablets, computadores e pla-
Com o confinamento provocado pela pandemia do CO- taforma digitais de comunicação e interação, e estes, nunca
VID-19, pelo impacto que teve o fecho das escolas, foi por chegaram a sair das Sedes dos Agrupamentos de Escolas ou
demais visível e sentida a constatação de que as experiên- das embalagens que chegavam às casas de cada aluno? Nes-
cias de ambientes digitais em contexto educativo fizeram tas situações, os alunos podem ter acessos, máquinas e os
falta e continuam a fazer. Tornou-se ainda mais evidente, professores não terem condições e conhecimentos, acima de
que foram as escolas, os professores e os alunos, que já esta- tudo, pedagógicos para potenciar essas aprendizagens ou a
vam com hábitos naturais de inclusão da tecnologia em ati- realidade em casa de cada aluno não permitia existir tempo
vidades pedagógicas presenciais, que ultrapassaram melhor e acompanhamento de um adulto para aprender, devido a
toda a fase de confinamento. Por outro lado, a implementa- questões de teletrabalho dos pais.
ção abrupta de aulas com tecnologia, aulas online, deixou Estes pequenos exemplos não seriam problemáticos
evidente que experiências sem contexto, sem planeamento, para aqueles alunos que nós sabemos que, independente-
sem visão de um conceito de escola, sem formação real e mente das condições, vão naturalmente aprender, porque
adequada à realidade da escola e dos alunos de hoje, se tor- existem muitos alunos que sem qualquer apoio aprendem IX
53
nou um enorme e complexo erro. por si. Por outro lado, são muitos os alunos que sem um pro-
Não podemos deixar de salientar, e que nos parece mui- fessor, sem um orientador e guia de aprendizagem, não dão
to preocupante, o retrocesso pedagógico nas nossas esco- o passo seguinte. O processo de aprendizagem deve acima
las, e até uma certa aversão ou diabolização da utilização de tudo preocupar-se com estes alunos, que aguardam por
da tecnologia em atividade educativas, referindo-se às más uma diferenciação pedagógica que tarda em acontecer. Des-
experiências do chamado ensino “online”. Estas perceções se ponto de vista, a tecnologia permite essa diferenciação
devem-se muito a algumas dificuldades sentidas no “contro- pedagógica numa turma, por permitir a autoaprendizagem
lo da turma” e das ações dos alunos no “digital”. Ora, talvez, dos alunos que querem e vão progredindo, deixando o pro-
inicialmente os alunos quererão experimentar os jogos e fessor mais liberto para apoiar estes alunos. O investimento
outras possibilidades de um equipamento digital, as poten- digital tem e deve passar por um suporte ao corpo docente,
cialidades de plataformas e aplicações digitais, e, por isso, o dando competências pedagógicas com utilização de tecno-
professor deve dar esse tempo aos alunos, essa experiência logia, que implica com alteração dos processos formativos
e garantir também com essas atividades exploratórias o de- do seu desenvolvimento profissional. Mas também, numa
senvolvimento da autonomia. Com o passar do tempo, esse dedicação local, nomeadamente, ao nível dos municípios,
aspeto vai sendo ultrapassado, desde que não se encetem para reconhecerem os alunos, as famílias que necessitam de
mecanismos de trabalho semelhantes aos que executam em apoios, de modo a assegurar a participação de todos. Não
papel ou com o manual escolar. esquecendo, que é a experiência pedagógica em tempo real
Porém, também importará esclarecer, que não existiu e presencial, que vai ajudar a dissipar eventuais problemas
um verdadeiro ensino online, mas sim, atividades analó- para quando se passa para um ambiente à distância.
gicas, dentro de um mesmo espaço temporal, num planea- Não fará sentido continuar constantemente e em di-
mento maioritariamente expositivo, com a utilização de versos contextos e em diversas entidades, a debater sobre a
plataformas digitais. A título de exemplo, a realização de um inclusão das tecnologias na educação, quando já chegámos
questionário, que antes era em papel na sala de aula física, ao consenso de que esta inclusão não precisa de ser mais
DOSSIER
EDUCAÇÃOEDUCAÇÃO
INCLUSIVAINCLUSIVA
por ser uma abordagem pedagógica que move o processo de refas ao aluno, informando-o sempre dos tempos médios de
ensino para o controlo do próprio aluno, uma vez que num execução de cada uma.
momento prévio, o aluno interage com o conteúdo: vídeo, A utilização da tecnologia só fará sentido quando inte-
áudios, software, textos ou outros recursos online, enviados grada por modelos pedagógicos ativos, em que a aprendiza-
ou propostos pelo professor, que tem o papel de determinar gem invertida é exemplo e pode, assim, inaugurar uma nova
quais os materiais que o aluno deve explorar por conta pró- visão de organização dentro da sala de aula. O que está em
pria (garantindo a fidedignidade dos mesmos). Isso permite causa não é uma simples atualização pedagógica da escola,
que o tempo em sala de aula possa ser gasto em atividades mas a sua organização em função de novas necessidades e
que exercitam o pensamento crítico, com o professor a orien- de novos objetivos sociais, pelo que introduzir a tecnologia
tar os alunos na exploração criativa dos conteúdos que es- em contexto educativo não deve ser perspetivado à margem
tão a estudar, ou seja, permite reconhecer que os alunos que do processo educativo em geral. Proporcionar aos alunos um
previamente desenvolveram conhecimento possam avançar ambiente motivador, de descoberta, de construção ativa do
para atividades mais detalhadas, aprofundadas e concretiza- desenvolvimento intelectual, torna-se possível colocando
ção de pequenos projetos de aplicação dos conceitos aprendi- as crianças perante o desafio que lhes podem proporcionar
dos, libertando o professor para trabalhar com os alunos que certos recursos multimédia com a utilização de dispositivos
precisam de apoio na concretização dessas aprendizagens. móveis, por exemplo.
O professor deve reorganizar fisicamente o espaço de Acreditamos que a utilização pedagógica da tecnologia,
aprendizagem para apoiar tanto o trabalho de grupo como vai ajudar os professores a perspetivar formas diferentes de
individual, criando espaços flexíveis para que o aluno possa ensinar e de construir um currículo inovador e mais adap-
escolher quando e onde aprende, de acordo como o seu estilo tado às necessidades específicas dos alunos e às exigências
de aprendizagem. Além disso, o professor também é flexível de uma sociedade em contínua e rápida evolução. É indis-
nos tempos para a aprendizagem, porque nem todos os alu- pensável que os professores, para além de tomarem decisões
nos aprendem ao mesmo ritmo, e na avaliação da aprendiza- quanto a metodologias, estratégias e recursos a utilizar de
gem que promove, permitindo que cada aluno possa eviden- acordo com os objetivos curriculares que se propõem atin-
ciar os seus conhecimentos de formas distintas. gir, reflitam, igualmente, sobre as potencialidades pedagó- XI
55
Durante a aula, o professor deve observar constante- gicas de uma utilização da tecnologia no desenho de uma
mente os seus alunos, proporcionando-lhes feedback cons- atividade, ou seja, vantagens, limitações e riscos inerentes à
tante, e ir fazendo aferições aos seus trabalhos. O professor sua utilização na aprendizagem.
precisa tolerar o “caos” controlado na sala de aula, uma vez
que o ritmo e as atividades dos alunos são diferentes. Sugestões/ferramentas digitais:
Muitos professores podem construir uma aprendi- https://new.edmodo.com/
zagem invertida em que colocam os alunos a ler, a assistir https://classflow.com/pt-pt/
a vídeos ou a resolver problemas em casa, mas sem que a https://edpuzzle.com
verdadeira aprendizagem aconteça. O valor deste modelo de
flipped learning está na redefinição do tempo de aula presen-
cial que passa a ser um espaço dinâmico onde o aluno pode
testar-se na aplicação do conhecimento e interagir com os
outros colegas em atividades práticas significativas. Duran-
te as sessões presenciais é possível ao professor funcionar
como orientador e facilitador, incentivando os alunos a usar
os conhecimentos, quer do ponto de vista individual quer de
esforço colaborativo. O modelo de aprendizagem invertida
permite diferenciar para que todos aprendam, e nesse senti-
do, podemos criar grupos de trabalho segundo os interesses
e capacidades dos alunos, entregar um guia exploratório de
conteúdos passo a passo, fornecer a mesma informação em
formatos e recursos diferenciados (vídeo, texto, esquema,
imagem, áudio,…) e adequar o tempo de realização das ta-
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A possibilidade de incorporar nos diferentes blocos pe-
dagógicos resoluções, reflexões e formas de abordagem pela
voz dos alunos tornou a abordagem mais próxima da reali-
dade vivenciada em tempos ditos normais.
2. As dificuldades iniciais
O desconhecimento e a falta de experiência de um mode-
O passo seguinte foi o de criar as equipas responsáveis lo de aula sem alunos foi o maior obstáculo. Planificar uma
por cada disciplina, o que em alguns casos passou por inte- aula num tempo mais restrito, gerir tempos sem pausas e
grar docentes de outras escolas para enriquecer o projeto. Foi propostas de atividades sem expectativa de feedback era
ainda necessário mobilizar alguns professores com outras uma realidade nova para todos e a solução foi experimentar,
valências, nomeadamente ao nível da edição de som e vídeo refletir e (tentar) melhorar.
para apoiar as diferentes equipas na produção de materiais. A organização das sessões de preparação das aulas, foi
A equipa do agrupamento que abraçou este projeto teve a única dificuldade completamente ultrapassada. Depois da XIII
57
perto de 70 elementos, entre professores, educadores e até fase inicial de alguma desorganização do trabalho, foram sen-
alunos. Nem todos foram pivôs, mas foram muitos os que do criadas rotinas, ajustadas as tarefas assumidas por cada
estiveram na retaguarda a produzir materiais e a preparar elemento numa lógica de complementaridade e no final este
em conjunto os trinta minutos que se apresentavam em cada processo de organização do trabalho funcionava muito bem.
sessão do #EstudoEmCasa. A gestão do tempo televisivo foi outra dificuldade que
A introdução nas equipas de docentes de outras áreas tivemos de ultrapassar. O tempo limite era estanque e não
disciplinares trouxe valor acrescentado. Por um lado, per- podíamos, de forma alguma, ultrapassar os trinta minutos
mitiu a elaboração de materiais diversificados e ricos em di- definidos para cada bloco pedagógico. No nosso entendi-
ferentes experiências, por outro lado permitiu estabelecer mento, não seria sensato terminar uma aula deixando al-
pontes entre as diferentes áreas trazendo aos grupos o saber gum dos assuntos sem uma abordagem completa. A forma
instrumental de cada um destes elementos. de ultrapassar esta adversidade passou muito pelo treino,
A inserção nos grupos de trabalho de alunos do agrupa- simulação e a experiência da prática. As sessões eram simu-
mento foi um ponto chave neste trabalho. ladas por forma a averiguar se o tempo disponível era sufi-
ciente para o planificado em cada aula.
A gestão do currículo trouxe dificuldades muito seme-
lhantes à planificação de qualquer aula. Selecionar as me-
lhores tarefas, definir a ordem de encadeamento das ideias e
a intencionalidade de cada elemento na aula, incluir o grau
de formalismo adequado a cada situação e usar uma lingua-
gem rigorosa e clara ao mesmo tempo foram dificuldades
comuns a todos os professores, embora agravadas pela cons-
ciência da visibilidade deste trabalho.
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Com o evoluir do projeto passamos a incluir partici-
pações especiais para acrescentar elementos de interesse às
aulas e ajudar a promover atitudes positivas em relação à
disciplina.
4. A importância da flexibilidade
A experiência acumulada do Agrupamento de Escolas Fer-
nando Casimiro Pereira da Silva, de Rio Maior, na gestão
flexível do currículo foi determinante na assunção da au-
tonomia na gestão curricular, assumindo o grupo a res-
ponsabilidade das opções tomadas, de forma consciente e
refletida. No atual cenário em que vários documentos orien-
tadores do currículo concorrem sem a desejável compatibi-
lidade, a necessidade de fazer escolhas e assumir opções na
gestão curricular é um imperativo. Mesmo com um cenário
mais favorável ao nível dos documentos curriculares será
sempre necessário fazer escolhas. Os professores são artí-
fices do currículo, na medida em que o interpretam, lhe dão
corpo e consistência. Esta experiência tornou-nos bem mais XV
59
5. A inclusão
A forma como as escolas lidaram com este tempo que não
tem tempo foi extraordinário. O #EstudoEmCasa foi apenas
mais uma resposta às adversidades com que todos nos de-
parámos. Contudo, foi uma resposta essencial que permitiu
incluir, nas práticas dos docentes de todas as escolas, res-
postas determinantes para alunos que não tinham outros
meios de comunicação com a escola e com a aprendizagem.
Desta forma, foram muitos os docentes que aproveitaram,
sempre que o entendiam, os blocos pedagógicos na sua pla-
nificação articulando desta forma o trabalho a desenvolver
com os blocos pedagógicos transmitidos diariamente.
Numa escola inclusiva que procura incluir todos e ex-
ponenciar as capacidades individuais de cada aluno, a res-
posta dada, não sendo a ideal, foi determinante para manter
os alunos ligados à escola.
O período de suspensão da atividade letiva realçou al-
guns aspetos que pareciam mais disfarçados quando a res-
posta escolar tinha caracter presencial. Por um lado, a he-
terogeneidade de acesso a ferramentas básicas que, numa
XVI
60 sociedade cada vez mais global, são essenciais para a cons-
trução de cidadãos devidamente preparados para a cons-
trução de um projeto de vida de sucesso. Por outro lado, a
importância da escola para um conjunto alargado de alunos
vulneráveis, cuja escola se apresenta como porto de abrigo e
refúgio, como lugar de conforto e de proteção.
A classe docente demonstrou a força de uma missão de
serviço publico de qualidade, que em tempos nunca vividos
se adaptou de forma rápida e flexível encontrando soluções
e respostas, mesmo quando as mesmas pareciam não existir.
Os professores do #EstudoEmCasa desempenharam o seu
papel contribuindo, à sua maneira e na medida do possível,
para mais um trabalho com o máximo de qualidade possível.
Enfim, este período difícil demonstrou a importância
e o valor da escola e dos seus agentes, mas também deixou
claro a urgência da metamorfose da escola, da forma como a
escola de repensa, como se incorpora nas dinâmicas da co-
munidade e na forma como a comunidade assume a escola
e os seus profissionais como um polo de desenvolvimento.
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Quando a distância não se VÊ!
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Repensar o CRI…
em tempos de confinamento
Equipa CRI Março de 2020… Em Portugal, este foi o mês que mudou, por XIX
63
educabilidade
equidade inclusão personalização
universal • novas necessidades
• novos interesses
Ambiente
outros
aluno docentes • Familiar — necessidades levantadas pela família relacionadas
envolvidos
com o quotidiano em casa, centradas nas aprendizagens
funcionais e/ou académicas; suporte dado ou passível de
ser dado; recursos tecnológicos disponiveis, rotinas; fatores
promotores de bem-estar
• Escolar — atitudes facilitadoras e/ou barreiras no acesso
à aprendizagem e participação do aluno, à distância
técnicos • ...
CRI
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E em seguida, e de forma mais ou menos formal, mas Infelizmente nem sempre conseguimos ser bem-suce-
sempre em conjunto com docentes e família, (re)definimos e didos neste suporte à distância. Nem sempre conseguimos
implementamos novas estratégias: chegar a todos os alunos e nem sempre se atingiu um tra-
balho colaborativo entre todos conforme urgia... Mas traba-
lhamos com respeito pela diversidade humana e na certeza
• objetivos e estratégias a manter
que, naquela altura, cada um estava a dar o seu melhor face
e respetivas adaptações; ao que estava a acontecer. Fomos escutando e fomos ten-
• objetivos e estratégias que, neste tando. Tentamos até esgotarmos todas as possibilidades que
novo contexto, não eram significativos
ou passíveis de continuidade; nos ocorriam.
O quê
• novos objetivos e estratégias face às Regra geral tivemos, também, uma articulação estreita
novas necessidades.
com as Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação In-
clusiva, principalmente nestes maiores desafios, mas tam-
bém como ponto de situação do trabalho desenvolvido.
• momentos assíncronos – ex.: partilha No final do ano letivo foi altura de avaliar as aprendi-
de atividades e materiais de aprendizagem;
articulação e partilha de estratégias;
zagens (não só alcançadas pelos alunos, mas também por
feedback/comentário de registos enviados todos os intervenientes e serviços). É verdade que nem tudo
pelas famílias, etc. (ex.: vídeos);
foi fácil e que nem tudo foram sucessos. Mas também é ver-
• momentos síncronos – ex.:
Como videochamadas/conferências, de forma dade, por todos reconhecida, que, como nunca, trabalhamos
colaborativa (ex.: com os docentes e a em equipa, que enaltecemos e estreitamos a relação com os
turma/grupo de referência) ou diretamente
ao aluno. alunos e famílias, que demos um suporte mais flexível, di-
nâmico e com maior foco na capacitação e que reafirmamos
uma cultura de compromisso com cada aluno, família e com
• privilegiamos a figura de gestor de caso cada Agrupamento de Escola parceiro.
para comunicação direta com a família Ficou assim provado, pela experiência (e adaptações)
e com a equipa educativa (de forma a
criar um canal de comunicação) e um deste 3º período e dos últimos meses que, apesar de todas XXI
65
Quem responsável por aquele aluno (que ativava as dificuldades, continuamos a ser um efetivo recurso para a
os outros recursos, sempre que necessário).
inclusão, aprendizagem e participação. E fundamentalmen-
te escrevemos através da prática, que inclusão rima mesmo
com união.
• identificamos a ferramenta de Vai ficar tudo bem.
comunicação a usar, privilegiando a
plataforma escolar eleita bem como as
preferências do aluno e família, como por
Onde exemplo WhatsApp, Facebook, Zoom,
Teams, email, contacto telefónico.
XXII
66 Em setembro, quando voltámos presencialmente à escola,
todos partilhávamos a vontade imensa de voltarmos à roti-
na. O E@D ensinou-nos tantas coisas, fez-nos crescer tanto
e colocou-nos desafios que tão bem ultrapassámos. De re-
pente, fomos forçados a implementar planos de aula à dis-
tância, a partilhar ferramentas e competências, a dominar
plataformas de aprendizagem e a incluir todos num mesmo
ecrã, pois tínhamos consciência que a aprendizagem tinha
de acontecer, na medida do possível, para cada uma das
crianças e jovens deste país. Nada nos parou!
Neste ano letivo, num misto de ensino presencial
e E@D, mantemos a nossa missão, retirando o melhor do
E@D, recuperando conhecimentos e, em simultâneo, traba-
lhando e consolidando novas aprendizagens.
Por conseguinte, partilhamos aqui quatro ideias-chave
que devem estar presentes na nossa rotina e que favorecem
Rómulo Neves a operacionalização de uma escola cada vez mais inclusiva.
Professor do Ensino Básico,
Secundário e Superior / Membro Planificação
dirigente do Grupo de Investigação A planificação é a base de trabalho de qualquer professor e,
Inclusive Practices & Special em pleno século XXI, este instrumento ganha primazia na
Educational Needs ação docente, pois, na sala de aula, a função do professor é
de orientador e facilitador da aprendizagem.
romulosoton@hotmail.com Partindo dos diferentes referenciais para a ação (Perfil
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dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória; Aprendiza- fluorescente) ou o colega que está junto de si. A supervisão
gens Essenciais; Estratégia Nacional de Educação para a Ci- do docente ou o posicionamento do aluno de costas para ou-
dadania e as orientações para a operacionalização da Edu- tros alunos podem também ser estratégias a considerar.
cação Inclusiva) é fundamental que os professores apostem O material escolar também deve ser algo que merece a
em momentos de aprendizagem formais diversificados, nas orientação do professor, pois por vezes uma régua de leitu-
quais os alunos possam desenvolver as diferentes com- ra, um caderno em tom pastel ou um apoio para a pega do
petências hoje exigidas pelo mundo empresarial. Glasser material de escrita pode fazer toda a diferença (https://www.
(2001) recorda-nos que aprendemos menos apenas a ouvir, thedyslexiashop.co.uk/).
numa aula expositiva por exemplo, do que se se tivermos a
oportunidade de praticar, de fazer. Logo, apesar de todo o Gestão de informação
distanciamento social necessário, é indispensável combater O registo de informação é fundamental para um bom estu-
a probabilidade de regressarmos a modelos de ensino assen- do, no entanto, não poderemos assumir que todos os alunos
tes maioritariamente na exposição e transmissão de conteú- gerem a informação da mesma maneira. Há alunos que são
dos. É assim fundamental que sejam criados momentos para auditivos daí, a atenção e concentração na aula facilitam a
os alunos questionarem, colaborarem entre si, partilharem concretização da mesma. Para estes, incentivar o desenho
a sua criatividade e comunicarem ativamente em prol da de mapas conceptuais pode ser fundamental para sintetizar
construção holística do conhecimento. ideias-chave (https://tobloef.com/text2mindmap/) ou mesmo
Não obstante, a planificação docente deve obedecer ao os resumos orais com recurso a um gravador de voz (https://
Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), o qual con- vocaroo.com/).
siste numa abordagem curricular que favorece a eliminação Outros são visuais e precisam de ver e de ler a infor-
do maior número possível de barreiras, assentando numa mação para a consolidar. Por conseguinte, a escolha de um
planificação intencional, proactiva e flexível da prática, con- tipo de letra ‘friendly’ pode ser determinante. Sugerimos a
templando a diversidade dos alunos na sala de aula. fonte ‘Open Dyslexic’ (https://opendyslexic.org/), totalmente
Consequentemente, a noção de que todos os alunos gratuita, e facilitadora de leitura dado o desenho da própria
são iguais perde validade e impera a verdade de que todos letra diminuir a probabilidade de rotação ou sobreposição XXIII
67
os alunos são diferentes e aprendem de formas diferentes. das letras. O uso duma aplicação que passa a texto o discur-
Logo, é primordial que o professor deixe claro qual o obje- so oral pode também ser um organizador de ideias e uma
tivo da sua aula (learning goal), assim como o porquê (why), alavanca para um exercício de expressão escrita (https://
o quê (what) e o como (how) é que se desenvolverá o conhe- speechnotes.co/pt).
cimento. Sabendo onde queremos chegar, vamos desafiar os Acima de tudo, o professor deve dar a conhecer a im-
alunos a escolherem o(s) método(s) e os materiais que pode- portância da gestão da informação e competirá ao aluno a
rão utilizar para concretizar o objetivo da aula. escolha da melhor forma de o fazer, sabendo, antecipada-
mente, o ponto de chegada de cada aula.
Sala de aula
A sala de aula é, para muitos, o espaço privilegiado para Avaliação
contactar com o saber curricular. Por esse motivo, todos os Uma vez mais alinhada com o Desenho Universal para a
detalhes são relevantes e devemos atender à planta da sala Aprendizagem, a avaliação deve ser flexível e sempre rigoro-
de aula, a fim de proporcionar ao aluno o melhor local para sa sem que isso constitua uma infindável e complexa ativi-
a aprendizagem. dade de preenchimento de grelhas para o professor. Devem
Por um lado, para alguns, estar sentado num local com privilegiar-se diferentes instrumentos de recolha de infor-
menos distratores (o placard, a porta ou uma janela) é es- mação, rentabilizando diferentes suportes e enaltecendo as
sencial para que estes prestem menos atenção a tudo o que potencialidades de cada aluno. Não deve ser facilitista, nem
os rodeia e assim se foquem no que realmente importa. Por o processo de avaliação deve ser infantilizado. Permitam
outro, há alunos que apresentam stress visual e, consequen- que os alunos demonstrem o domínio de conteúdos através
temente, maiores dificuldades de leitura. Para estes alunos de um vídeo, ou de uma apresentação oral, ou de uma ques-
importa um maior cuidado com a visibilidade para o quadro/ tão-aula ou de um teste de avaliação ou de uma represen-
projeção, o reflexo que poderá ser incómodo, o local onde o tação… O mais importante é combater a ideia de que isto é
aluno se senta (evitar sentar por baixo de uma luz branca importante, porque sai no teste. A relevância dos conteúdos
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Ouvir os alunos e envolvê-los na Escola
XXV
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o que acham que poderia ser feito para melhorar a situação intervenção temas que não tínhamos pensado abordar,
atual. mas que os alunos pediram.
3º Momento (3ª semana): Ajudar os alunos a mobilizarem os 2.1.1. O que nos disseram alunos
seus recursos pessoais e interpessoais para lidar com a si- Na educação pré-escolar, nos 1.º e 2.º ciclos, as crianças
tuação atual. Tópicos: (1) a socialização, a empatia e a cola- relataram medo e preocupação relativamente à pande-
boração; (2) como estão a pensar atuar, o que aprenderam mia, mas referiram que se sentem seguras e protegi-
com experiências anteriores; (3) a importância de pertença das na escola e que as sessões ajudaram a diminuir as
à turma e à escola. preocupações e a sentirem-se mais felizes. Participa-
ram bastante na intervenção, demonstrando curiosida-
4º Momento (4ª semana): Preparar os alunos para a incerte- de em aprender “coisas” novas. Os constrangimentos
za futura. Tópicos: (1) eventual interrupção das aulas pre- verificados relacionaram-se com a articulação dos ho-
senciais, se as autoridades assim o preconizarem; (2) como rários da intervenção, assim como com algumas tur-
lidar com a situação, tendo em conta o que anteriormente mas mais indisciplinadas. No 3º ciclo, o sentimento de
aprenderam com a experiência do ano letivo anterior; (3) a medo foi, também, verbalizado pelos adolescentes, que
importância da ligação aos outros – diferença entre distân- consideraram a intervenção importante para relembrar
cia física e social. os cuidados a ter para prevenir a doença e, ajudou a ter,
também, mais cuidados em casa, “estivemos atentos
5º Momento (5ª semana): Promover a integração dos momen- nas sessões, discutimos sobre o Covid, e ficamos
tos anteriores. Tópicos: (1) algumas conclusões a que chega- mais tranquilos e mais conscientes”. Para os alunos
ram; (2) assuntos que gostariam de aprofundar e/ou abor- do ensino secundário, os problemas mais apontados
dar; (3) críticas, comentários, sugestões e avaliação final da relacionaram-se com a interrupção das atividades leti-
intervenção. vas no ano letivo anterior e na dificuldade em aprender
através das aulas online, referindo, mesmo, que preju-
Monitorização da intervenção: presença dos alunos, dicou bastante a componente prática nos cursos pro- XXVII
71
participação, avaliação qualitativa e/ou quantitativa de fissionais. Dado, eventualmente, as suas idades e por
cada sessão. vezes inibição, os alunos não referiram ter medo.
Ainda ao nível do ensino secundário, de uma ma-
2.1. Como decorreu a intervenção neira geral, podemos afirmar que para alguns alunos,
A intervenção decorreu em grupo turma, envolvendo a os menos envolvidos na escola, a interrupção das ati-
educação pré-escolar, os 1º, 2º e 3º ciclos, os percursos vidades letivas presenciais foi um momento apreciado
de dupla certificação de nível básico - cursos de educa- (dormir até tarde, estar com a família, não ser obrigado
ção e formação (CEF) – e de nível secundário - cursos a ir para a escola…), embora, a maioria deles tenha con-
profissionais - em articulação com os professores titu- siderado que foi uma experiência negativa, em que se
lares de turma, diretores de turma e outros docentes, sentiram condicionados, presos, com medo, com sau-
assim como professores de educação especial, quando dades dos amigos, namorados/as, das rotinas da escola,
justificável. Sempre que possível, privilegiaram-se os de estar sempre em casa com a família. Acima de tudo
espaços curriculares de “Assembleia de Turma”, “Cida- foi sentida como uma situação inesperada: “foi estra-
dania e Mundo Atual” e “Área de Integração”, discipli- nho - julgávamos que seriam para aí duas semanas
nas habitualmente ministradas pelos diretores de tur- sem ter de ir à escola, rimo-nos sobre a situação,
ma; contudo, por motivos de conciliação de horários, mas depois…”. Disseram, ainda, que estar na escola,
a intervenção ocorreu, por vezes, em aulas de outros frente a frente com o professor é mais vantajoso do
professores. Enquanto que para os alunos mais novos que as aulas online; “é difícil aprender, é confuso…”.
foram utilizadas atividades mais lúdicas, mas também Acrescente-se que, para alguns alunos, não existem,
mais estruturadas, para os adolescentes privilegiamos em casa, condições favoráveis a este tipo de estudo. A
um equilíbrio entre o diálogo e atividades mais apela- interrupção de atividades de lazer, tais como praticar
tivas e, com os mais velhos privilegiamos o diálogo en- futebol, canoagem, box, futsal, e outras foi péssima
tre os envolvidos. Em todos os casos, introduzimos na para os alunos, sendo até mesmo o que mais os afe-
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A PRÓ INCLUSÃO — ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE DOCENTES DE
EDUCAÇÃO ESPECIAL, FOI CRIADA
EM JULHO DE 2008 POR UM GRUPO
DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO
ESPECIAL.
COMO ADERIR?
Morada: Localidade:
Formação Especializada:
Grupo de Recrutamento (caso não seja docente, escreva 'n/a'): Área de docência: DEE Docente de outra áera disciplinar:
Situação Profissional/Atividade:
Outra situação:
VOL. 11 Nº2 — DEZEMBRO 2020
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