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Hospital do Trabalhador
Orientadores:
Dr. Adonis Nasr
Dr. Flavio Daniel Saavedra Tomasich
Dr. Iwan Augusto Collaço
Diretoria 2017:
Coordenadoras
Ana Luísa Bettega – 11o Período UFPR
Camila Guetter – 10o Período UFPR
Secretário
Breno Lopes Porto - 10º Período UFPR
Tesoureira
Geovanna Labbres de Souza - 10º Período PUCPR
Diretor Científico
Thamyle Moda - 8º Período UFPR
ÍNDICE:
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 4
2. BIOMECÂNICA DO TRAUMA. ....................................................................5
3. ABORDAGEM INICIAL AO PACIENTE TRAUMATIZADO ......................... 8
4. ABORDAGEM DAS VIAS AÉREAS E APARELHO RESPIRATÓRIO ......13
5. CHOQUE. ..................................................................................................17
6. REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR ....................................................... 23
7. TRAUMA TORÁCICO E DRENO DE TÓRAX. .......................................... 26
8. TRAUMA ABDOMINAL .............................................................................. 35
9. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO .............................................................. 40
10. TRAUMA RAQUIMEDULAR .................................................................... 46
11. TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO .....................................................52
12. ATENDIMENTO AO PACIENTE QUEIMADO ......................................... 56
13. TRAUMA PEDIÁTRICO ........................................................................... 60
14. TRAUMA NA GESTANTE E NO IDOSO ................................................. 65
15. EMERGÊNCIAS CLÍNICAS I - IAM, EAP E EP. ...................................... 72
16. EMERGÊNCIAS CLÍNICAS II - AVE E CRISE CONVULSIVA. ............... 79
17. TABELA PARA ATENDIMENTO INICIAL AO TRAUMATIZADO ............ 86
1. INTRODUÇÃO
Para fazer parte da LiAT basta participar do Curso Anual de Emergências e ser aprovado na
prova de admissão.
2. BIOMECÂNICA DO TRAUMA
COLISÃO AUTOMOBILÍSTICA:
Impacto Frontal
É a colisão contra um objeto que se encontra em frente ao veículo. Ocorre redução súbita
da velocidade, e o ocupante que não esteja devidamente contido continua a se movimentar para
frente. Caso se choque contra alguma parte da cabine, sua velocidade irá ser reduzida; caso
contrário ele poderá ser ejetado do veículo. Dentre as causas de lesão que podem ocorrer, as
mais comuns são: colisão da cabeça contra o pára-brisa, do tórax anterior contra o volante, dos
joelhos contra o painel inferior e dos pés contra o fundo do painel. O paciente pode apresentar,
então, feridas de partes moles em face e tórax, compressão de caixa torácica com contusão
pulmonar ou até mesmo pneumotórax, fratura de arcos costais e esterno, contusão abdominal e
compressão de vísceras, fratura de fêmur, luxações, etc. É o tipo de impacto que mais causa
lesões e mortes em acidentes de trânsito.
Impacto Lateral
Este tipo de colisão só perde para impactos frontais em causa de morte e lesões. Deve-
se dar importância ao lado do veículo que recebeu a colisão e à posição que o paciente ocupava,
além do grau de deformidade do veículo. A maioria das lesões ocorre por compressão de pelve
e tronco, do lado acometido (direito pulmão e fígado e esquerdo pulmão e baço).
Impacto Traseiro
Esse tipo de colisão geralmente ocorre quando um veículo está parado e outro o atinge
por trás. Os ocupantes são arremessados para frente e, pela posição dos assentos, o tronco
sofre aceleração para adiante. A cabeça dos ocupantes frequentemente não acompanha essa
aceleração, pois o encosto da cabeça não está devidamente posicionado. Como resultado, o
corpo acelera e a cabeça não acompanha, ficando o pescoço hiperextendido para trás. Tal
mecanismo estira as estruturas de sustentação do pescoço, produzindo lesão por mecanismo de
chicote (whiplash). Podem ocorrer fraturas de lâminas, dos pedículos e dos processos
espinhosos das vértebras e fraturas em vários outros locais, devido ao contato direto entre os
ossos.
Capotamento
Nesse caso, o ocupante que não esteja contido pode chocar-se contra qualquer parte do
interior da cabine. As lesões podem ser deduzidas a partir da observação das áreas de impacto
na pele do paciente. Admite-se que esse tipo de colisão produza lesões mais graves por causa
dos deslocamentos múltiplos que ocorrem durante a capotagem.
Ejeção de dentro do veículo
As lesões decorrentes da ejeção de dentro do veículo podem ser maiores do que aquelas
devidas ao impacto com o solo, em si. A probabilidade de lesões nessa forma de acidente
aumenta em 300%. Deve-se estar atento às lesões ocultas.
2.2 ATROPELAMENTO:
Entre as lesões sofridas por pedestres vítimas de atropelamento, as mais comuns são:
torácicas,
cranioencefálicas e de extremidades inferiores (nesta ordem). O atropelamento segue três
fases de impacto:
1) Impacto contra o pára-choque dianteiro, geralmente atingindo pernas e pelve no adulto e
lesões
torácicas e abdominais nas crianças;
2) Impacto contra o capô e o pára-brisa, geralmente afetando tronco e cabeça;
3) Impacto contra o solo, geralmente afetando cabeça, coluna e vísceras.
2.4. QUEDA:
2.5. EXPLOSÕES:
Nessa classificação estão os ferimentos por arma de fogo e os ferimentos por arma
branca. O trauma penetrante produz solução de continuidade entre o meio externo e o meio
interno do corpo. Produzem cavitação, que é o resultado da permuta de energia entre o objeto
em movimento e os tecidos. A identificação dos orifícios de entrada e de saída (quando existir)
são importantes para o reconhecimento de estruturas anatômicas que possam ter sido lesadas
nesse trajeto.
3. ABORDAGEM INICIAL AO PACIENTE TRAUMATIZADO
Bruno Bertoni Ferraz
No ano de 1976, o ortopedista James Styner, juntamente com sua esposa e seus 4 filhos,
caiu com seu avião em uma plantação de milho na zona rural de Nebraska. Sua esposa faleceu
instantaneamente, três de seus filhos sofreram traumatismos graves e o próprio Styner também
se feriu. Reconhecendo que o atendimento de emergência recebido por ele e sua família no
acidente fora inadequado, o ortopedista afirmou: "a partir do momento em que o atendimento
oferecido no local do acidente e com recursos limitados é melhor do que aquele que eu e minhas
crianças recebemos no hospital de atendimento primário, existe alguma coisa errada com o
sistema, e este deve ser modificado". Surgia, então, a iniciativa para desenvolver o Advanced
Trauma Life Support (ATLS) ou Suporte de Vida Avançado no Trauma (SAV).
Estatisticamente, as mortes no trauma ocorrem em 3 momentos (picos), os quais
também representam, de maneira decrescente, a quantidade de óbitos:
1. Segundos a minutos após o trauma: são causadas por apneia, devido a lesões cerebrais
ou medulares graves, ou por lacerações cardíacas, aórticas e de outros grandes vasos. Poucas
vítimas podem ser salvas nesse momento, o que torna esse período o principal responsável pelas
mortes no trauma. A única forma de reduzir a mortalidade é a prevenção;
3. Dias a semanas após o trauma: as mortes ocorrem por sepse e falência de múltiplos órgãos
ou sistemas, e têm ligação direta com as condutas tomadas nas fases anteriores. Sendo assim,
tanto a primeira quanto a última pessoa responsável pelo atendimento à vítima influenciam nessa
mortalidade, que pode ser reduzida pelo bom exercício da medicina.
Em todo paciente vítima de trauma, a via aérea (VA) é a prioridade absoluta e sua
avaliação deve ser a primeira a ser realizada, buscando manter sua permeabilidade. A avaliação
rápida permite identificar obstruções, presença de corpos estranhos, fraturas mandibulares ou
traqueolaríngeas. É importante frisar que todas as manobras para permeabilizar a VA devem ser
realizadas com a estabilização da coluna cervical, seja por meio do colar cervical ou pela
imobilização manual. Tais manobras serão melhor explicadas no capítulo de Abordagem de Vias
Aéreas e Aparelho Respiratório.
Pacientes capazes de comunicação verbal dificilmente apresentarão obstrução de VA,
mas mesmo assim é fundamental sua avaliação. Por outro lado, vítimas de trauma
cranioencefálico (TCE) grave com rebaixamento de nível de consciência ou Glasgow inferior a
8 exigem o estabelecimento de uma via aérea definitiva, ou seja, um tubo localizado na traqueia,
com balonete insuflado abaixo das pregas vocais, conectado a uma fonte de O 2 e fixada ao
paciente.
Todos os pacientes politraumatizados, até prova contrária, devem ser considerados
portadores de lesão cervical, principalmente aqueles que apresentam rebaixamento do nível de
consciência e traumatismo acima das clavículas. Caso os pacientes cheguem ao Pronto- Socorro
com esse tipo de história sem imobilização, estes devem ser prontamente imobilizados.
Sendo assim, a cabeça e o pescoço do doente não devem ser hiperestendidos,
hiperflexionados ou rodados até que se exclua uma lesão cervical. A proteção da medula espinhal
é feita por meio de dispositivos próprios (colar cervical) ou da imobilização manual. Se for
necessário, o colar cervical pode ser retirado para que se acesse a VA do paciente, desde que
mantenha-se a imobilização manual.
B - Ventilação e respiração
Uma via aérea permeável não é sinônimo de ventilação adequada, a qual exige um bom
funcionamento de pulmões, parede torácica e diafragma. Dessa forma, o tórax do paciente
deve ser exposto para que seja feita a inspeção e a avaliação dos movimentos respiratórios,
buscando uma provável assimetria da parede.
Logo após é feita a palpação ativa do tórax, a qual busca fraturas de arcos costais e
crepitação da pele, um sinal sugestivo de pneumotórax (escape de ar na cavidade pleural) e
subsequente enfisema subcutâneo. A percussão torácica segue o padrão normal da semiologia,
porém geralmente não é realizada em dorso. A ausculta é feita em bases, polos médios e ápices
de ambos os pulmões, também na face anterior. De maneira geral, há dois padrões de lesão que
podem e devem ser identificados nessa fase:
D - Disfunção Neurológica
Medidas Auxiliares
Exame Secundário
O exame físico deve ser completo e abrangente, investigando cabeça, pescoço, tórax,
abdome, pelve, períneo, sistema musculoesquelético, nervoso e vascular, sempre em busca de
lesões ainda não diagnosticadas. Instituiu-se a frase "dedos e tubos em todos os orifícios" para
explicitar a complexidade da avaliação secundária.
Após a estabilização do paciente e tratamento definitivo de suas lesões, é feita a sua
reavaliação seriada e, se assim ficar estabelecido, o paciente pode ser liberado do hospital.
4. ABORDAGEM DAS VIAS AÉREAS E APARELHO RESPIRATÓRIO
Guilherme Amando de Carvalho
Se algum problema for identificado ou suspeitado durante essa avaliação inicial, medidas
devem ser tomadas imediatamente. Essas medidas incluem técnicas de manutenção de vias
aéreas, obtenção de vias aéreas definitivas e instituição de ventilação suplementar. Como todas
essas medidas envolvem a movimentação cervical, a estabilidade da coluna cervical deve ser
garantida antes do início dessas manobras. Um alto fluxo de oxigênio é importante antes e depois
dessas medidas de manutenção das vias aéreas, assim como um dispositivo de sucção deve
estar disponível com facilidade.
• Tração da mandíbula:
Cada mão deve ser colocada em um dos ângulos da
mandíbula, deslocando-a para frente.
• Cânula Nasofaríngea: Uma cânula é inserida através de uma narina e passa através da
orofaringe posterior. Essa técnica não pode ser usada em pacientes com suspeita de
fraturas de lâmina cribriforme (trauma facial extenso, suspeita de fratura de base de
crânio)
• Dispositivos supra ou extra glóticos: Esses dispositivos, como o Combitubo ou a Máscara
Laríngea, podem ser usados em pacientes que necessitam de uma via aérea definitiva,
porém ela não foi bem sucedida.
Tórax instável e Contusão pulmonar: tórax instável é a lesão causada pela fratura de duas ou
mais costelas consecutivas em dois ou mais pontos, fazendo com que esse segmento da parede
torácica não tenha continuidade óssea com o resto da parede torácica. Dessa forma, ocorre
movimento paradoxal da parede torácica acometida, o que não causa hipóxia isoladamente. No
entanto, a
contusão pulmonar subjacente e a
dor durante a respiração podem
levar a um quadro de hipóxia. O
tratamento inicial deve ser feito
com ventilação adequada,
administração de oxigênio úmido e
reposição volêmica (cuidado com
hiperidratação). Pode-se utilizar no
tratamento analgesia, tanto com
narcóticos quanto com bloqueio
dos nervos intercostais. Em casos
de hipóxia grave, intubação e
ventilação mecânica deve ser
considerada.
Hemotórax maçico: acúmulo de mais de 1500
mL de sangue (ou mais de 1/3 da volemia) na
cavidade torácica, o que compromete a
respiração por comprimir o pulmão e impedir
ventilação adequada. É usualmente causado por
ferimentos penetrantes que atingem vasos
sistêmicos ou hilares. Podem ser encontradas
jugulares baixas, causadas pela hipovolemia
severa. Dificilmente ocorre balanço mediastinal
capaz de gerar diminuição do retorno venoso e
ingurgitamento jugular. O quadro clínico é
caracterizado por choque associado ausência de
murmúrios vesiculares e macicez à percussão de
um hemitórax. O tratamento deve ser feito imediatamente com reposição volêmica e
descompressão do hemitórax por toracostomia com drenagem fechada em selo d’água. A
toracotomia de emergência é indicada se houver drenagem inicial de 1500 mL ou mais de
sangue ou de 200 mL/h nas primeiras 2 a 4 horas, queda do estado geral, necessidade de
muitas bolsas de sangue ou se houver ferimento penetrante anterior medial à linha dos
mamilos ou posterior medial às escápulas.
O diagnóstico diferencial entre choque hemorrágico e não hemorrágico será feito a partir
de uma história clínica, exame físico e exames complementares. Além disso, a resposta à
reposição volêmica pode dar pistas sobre a etiologia. E mesmo que haja suspeita de que o
choque não seja hipovolêmico, deve iniciar repondo volemia (lembrando que a maioria dos
choques não-hemorrágicos respondem parcial ou transitoriamente à reposição volêmica).
Fisiologia cardíaca básica
O débito cardíaco é o volume de sangue bombeado pelo coração por minuto.
DC = FC x Volume Sistólico
O volume sistólico, por sua vez, está
diretamente relacionado à pré-carga,
contratilidade miocárdica e pós-carga. Ou
seja, quanto sangue chega ao coração,
quanto o coração consegue bombear e a
resistência vascular periférica.
Na perda sanguínea reduz-se o débito
cardíaco, pois cai o volume sistólico
(menos sangue circulante, menos pré-
carga).
Perda sanguínea
Em um estado de hipovolemia, o
organismo tenta realizar uma compensação, preservando os órgãos essenciais do nosso corpo.
Portanto, ocorre uma ativação dos sistemas nervoso simpático e parassimpático levando à
vasoconstrição da pele, músculos lisos e trato gastrointestinal (esplâncnica) e
preservação do fluxo em rins, coração e cérebro.
A frequência cardíaca também aumenta na tentativa de manter o débito cardíaco (pela
fórmula, há menos volume sistólico, então teremos que aumentar a FC para tentar manter o DC).
Ocorre liberação de catecolaminas endógenas que aumentam a resistência vascular
periférica. Isso gera uma maior pressão diastólica e redução da pressão de pulso (que é a
diferença entre pressão arterial sistótila e diastólica). Histamina, bradicinina, beta-endorfinas,
citocinas e outros hormônios com propriedades vasoativas são liberados e geram alterações na
permeabilidade vascular e na microcirculação.
Em nível celular, passa a ocorrer metabolismo anaeróbio, que forma ácido lático e
predispõe à acidose metabólica. A hipóxia celular gera lesão progressiva, edema tecidual e
morte. Esse processo é combatido pela administração de soluções eletrolíticas isotônicas.
O volume globular (VG) e a concentração de hemoglobina (Hb) não são confiáveis para
diagnosticar choque ou estimar a perda sanguínea aguda, pois demoram a se alterar. Os
parâmetros utilizados para diagnosticar o choque devem ser clínicos.
• Amostras de sangue: devem ser obtidas assim que tenha sido obtido o acesso venoso.
Os exames a serem solicitados são a tipagem sanguínea e a prova cruzada e teste de
gravidez para mulheres entre 10 e 50 anos (beta-HCG).
• Sonda nasogástrica: permite a descompressão gástrica, que ocorre devido ao ar
engolido. A distensão gástrica pode causar hipotensão, arritmias cardíacas e até
bradicardia pelo estímulo vagal. Além disso, acarreta risco de aspiração e dificulta o
tratamento do choque.
• Sonda vesical: essencial no paciente com sinais de choque, pois permite monitorar a
reposição volêmica (fornece uma estimativa fiel da perfusão renal) e ainda avalia a
presença de hematúria. Não deve ser utilizada em caso de suspeita de lesão de uretra.
• Monitorização cardíaca e oximetria de pulso.
Classificação do choque
A classificação do choque a partir de parâmetros clínicos permite estimar a perda
sanguínea. A classificação também é útil para determinar o tipo de reposição volêmica a ser feita
inicialmente. Entretanto, a reposição volêmica subsequente deve ser mais orientada pela
resposta individual ao tratamento inicial do que simplesmente pela classificação.
Para cálculo da porcentagem da volemia perdida, é útil saber que a volemia corresponde
a aproximadamente 7% do peso ideal de um adulto (não do peso real, no caso de obesos) e 8-
9% do peso de crianças.
Classe I Classe II Classe III Classe IV
Perda sanguínea Até 750ml 750-1500ml 1500-2000ml >2000ml
% de volume Até 15% 15-30% 30-40% >40%
sanguíneo
perdida
*No choque classe III a decisão de transfusão sanguínea vai se basear na resposta à reposição
líquida inicial e no estado de perfusão e oxigenação tecidual. A tendência atual é indicar
hemotransfusão mais precocemente.
É importante lembrar que o edema das partes moles traumatizadas também gera perda
adicional de líquido, depletando ainda mais o volume intravascular.
Débito urinário: A reposição será considerada efetiva se o débito urinário for de:
• ADULTO – 50 ml/h ou (0,5ml/kg/h)
• CRIANÇA – 1ml/kg/h
• BEBÊ - 2ml/kg/h
Débito urinário insuficiente indica ressuscitação inadequada.
6. REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR
Guilherme Damaceno Pereira
3. Posicionar a vítima
- evitar dano à coluna cervical (se suspeita de trauma)
- colocar vítima em decúbito dorsal em superfície dura
4. Detectar pulso
- palpar o pulso carotídeo (o coração está batendo?)
- em até 10 segundos decidir se há pulso ou não
8. Respiração artificial
- 2 ventilações para ver tórax da vítima elevar
- cada ventilação em 1 segundo
Enquanto o desfibrilador não chega ou caso não esteja disponível no local, a reanimação deve
iniciar o mais rápido possível. A American Heart Association (AHA) criou um algoritmo para
facilitar o manejo desses pacientes. Ele consiste em C-A-B.
• C = compressão torácica externa
• A = abertura das vias aéreas
• B = respiração artificial
COMPRESSÃO TORÁCICA
Essas três medidas estão organizadas em ordem de prioridade. Portanto, inicia-se a RCP
com as compressões torácicas. Elas devem ser feitas com força e rapidez, com uma frequência
mínima de 100 compressões por minuto. Deve ser permitido o retorno total da parede torácica
entre as compressões, minimizar interrupções entre as compressões e alternar as pessoas que
aplicam a RCP a cada dois minutos. Interrupções podem ocorrer por no máximo 10 segundos,
para verificar pulso ou desfibrilar.
Crianças e adultos possuem manejos diferentes em certos pontos da compressão.
RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL
Após a abertura das vias aéreas, deve-se dar início à respiração artificial. A relação
compressão ventilação-ventilação deve ser na proporção de 30 compressões para cada 2
ventilações (30:2) até a colocação de via aérea avançada.
• Avaliação primária
• Normalização dos sinais vitais
• Avaliação secundária pormenorizada
• Tratamento definitivo
O exame do paciente com trauma torácico segue a ordem normal de atendimento ao paciente
politraumatizado, e os problemas críticos devem ser corrigidos à medida que são identificados.
As lesões que devem ser tratadas neste momento são:
PNEUMOTORAX HIPERTENSIVO
O pneumotórax hipertensivo ocorre quando existe um vazamento de ar, por
mecanismo de “válvula unidirecional”, para o espaço pleural, tanto do pulmão como da parede
torácica. O ar entra, mas não consegue sair, aumentando cada vez mais a pressão
intratorácica. Assim, o pulmão do lado acometido acaba colapsando e o mediastino é
deslocado para o lado oposto, o que diminui o retorno venoso e comprime o pulmão
contralateral.
A causa mais comum de pneumotórax hipertensivo é a ventilação mecânica com
pressão positiva em pacientes com lesão de pleura visceral. Além disso, pode ocorrer: como
complicação de um pneumotórax simples decorrente de lesão torácica no qual não ocorreu o
fechamento da lesão do parênquima pulmonar; após tentativas mal direcionadas de obtenção
de acesso venoso central; em conseqüência de lesões traumáticas de parede torácica ou
fraturas com grande desvio da coluna torácica.
O diagnóstico de pneumotórax hipertensivo é clínico e seu tratamento deve ser
imediato, não se deve esperar a confirmação radiológica. Os sinais clínicos são dor torácica,
dispnéia importante, taquicardia, hipotensão, desvio da traquéia, ausência unilateral de
murmúrio vesicular, distensão das veias do pescoço e cianose como manifestação tardia.
O pneumotórax hipertensivo pode ser confundido com o tamponamento cardíaco pela
semelhança entre os quadros clínicos. Para diferenciá-los há o hipertimpanismo à percussão
e a ausência do murmúrio vesicular no hemitórax afetado, presentes no pneumotórax
hipertensivo.
O tratamento é a descompressão imediata por meio da inserção de uma agulha de
grosso calibre no segundo espaço intercostal na linha hemiclavicular do hemitórax afetado
(toracocentese com agulha). Tal manobra transforma o pneumotórax hipertensivo em
pneumotórax simples. O tratamento definitivo geralmente consiste apenas na inserção de um
dreno de tórax.
Fonte: http://nonaenfermaria.blogspot.com/2009_05_01_archive.html
TÓRAX INSTÁVEL
O tórax instável, retalho costal móvel, ocorre quando há múltiplas fraturas de costelas
(duas ou mais em dois ou mais lugares) e consequente perda da continuidade óssea deste
segmento com o resto do tórax. As maiores repercussões do tórax instável decorrem da
contusão pulmonar subjacente. A hipóxia ocorre pela dor associada à lesão do parênquima
pulmonar e à restrição dos movimentos da caixa torácica.
Suspeita-se de tórax instável quando o paciente apresenta dificuldade respiratória,
movimentos torácicos assimétricos e descoordenados e crepitação em costelas. Uma
radiografia de tórax e uma gasometria arterial podem ajudar no diagnóstico.
O tratamento inicial consiste em: correção da hipoventilação, administração de
oxigênio umidificado e reposição volêmica. A terapia definitiva consiste em reexpandir o
pulmão, garantir uma boa oxigenação, administração de líquido cautelosa para evitar hiper-
hidratação e analgesia para melhorar a ventilação. O alívio da dor pode ser conseguido
utilizando-se analgésicos potentes ou vários métodos de administração de anestésicos locais
que incluem bloqueio intermitente do nervo intercostal, intra e extrapleurais ou anestesia
peridural. Uma boa analgesia pode evitar a necessidade de intubação. Em alguns casos, no
entanto, pode ser necessário intubação e ventilação, num primeiro momento, até que se
complete o diagnóstico de todas as lesões.
HEMOTÓRAX MACIÇO
TAMPONAMENTO CARDÍACO
TORACOTOMIA DE REANIMAÇÃO
Pneumotórax simples
Hemotórax
O acúmulo de sangue na cavidade pleural (menos de 1500ml) pode ser causado por
laceração pulmonar, ruptura de vaso intercostal ou ruptura da artéria mamária interna, os
mecanismos podem ser tanto contuso quanto penetrante. As fraturas/luxações de coluna
torácica também podem levar a hemotórax.
Normalmente, esse tipo de sangramento tende a ser autolimitado e não necessita de
tratamento cirúrgico, porém quando este é visível na radiografia de tórax deve ser tratado com
drenagem torácica. Este dreno além de remover o sangue retido no espaço pleural e diminuir
o risco de formação de coágulos, também serve para monitorar a hemorragia torácica. A
exploração cirúrgica deve ser considerada sempre que a drenagem inicial for maior que 1500
ml de sangue, ocorra drenagem de mais de 200 ml/hora durante 2 a 4 horas ou quando se
torne necessária a transfusão contínua de sangue. Deve-se atentar que um hemotórax simples,
se não for evacuado adequadamente, pode se transformar em um hemotórax coagulado e
retido resultando em encarceramento pulmonar ou, se infectado, em empiema.
Contusão Pulmonar
Contusão cardíaca
O trauma cardíaco contuso pode resultar em contusão do miocárdio, ruptura de
câmaras cardíacas, dissecção e/ou trombose das artérias coronárias ou laceração valvular.
Quando há ruptura de câmara, o paciente apresentará um quadro de tamponamento cardíaco,
que deve ser reconhecido durante a avaliação primária. Esse quadro pode ser de evolução
mais lenta quando se trata de ruptura atrial, o FAST pode facilitar o diagnóstico.
Os pacientes se queixam de desconforto torácico. Anormalidades de condução, de
motilidade e queda na pressão arterial são consequências comuns da contusão miocárdica,
que só pode ter seu diagnóstico confirmado através da inspeção direta do miocárdio.
Os doentes com trauma cardíaco devem ser monitorados pelo menos nas primeiras
24 horas após o trauma, pelo risco que apresentam de desenvolver arritmias. O tratamento da
ruptura das câmaras cardíacas é a sutura do local afetado com acesso por toracotomia.
Sempre se deve atentar para o fato de que a lesão cardíaca pode ter sido a causadora do
traumatismo e não ocasionada por este.
Ruptura traumática da aorta
Nas colisões automobilísticas e nas quedas de grandes alturas, a ruptura de aorta é a
causa mais comum de morte súbita. Os doentes com lesão aórtica passíveis de tratamento
geralmente apresentam ruptura incompleta próxima ao ligamento arterioso. Alguns doentes
tendem a manter, mesmo que temporariamente, uma estabilidade hemodinâmica decorrente
do hematoma mediastinal gerado pela lesão ou pela manutenção da integridade da camada
adventícia, pois estes impedem um maior escape de sangue.
As lesões da aorta na porção de dentro do hemitórax esquerdo causam hipotensão
importante e geralmente evoluem para óbito, exceto nos casos em que ocorra prontamente a
exploração cirúrgica e a identificação da lesão. Os sinais clínicos dos pacientes com ruptura
de aorta geralmente são inespecíficos. Portanto, os principais meios para se chegar ao
diagnóstico são a história sugestiva de um trauma por desaceleração e os achados
característicos na radiografia simples de tórax e na arteriografia. Abaixo, estão os 12 principais
achados radiológicos sugestivos de lesões em grandes vasos do tórax:
Embora o mais comum seja a ruptura esofágica por trauma penetrante, pode ocorrer
também por lesão contusa, uma situação potencialmente fatal. A principal causa é a expulsão
forçada de conteúdo gástrico, por golpe forte em abdome superior, para o esôfago, o que gera
lacerações lineares em esôfago inferior com extravasamento de conteúdo para o mediastino
gerando uma mediastinite que pode evoluir para empiema, se esta invadir o espaço pleural.
Deve-se considerar uma possível lesão esofágica quando o doente: apresentar
pneumotórax ou hemotórax à esquerda sem fraturas de costela; for vítima de golpe em região
esternal inferior ou no epigástrio e eliminar material suspeito através do dreno de tórax. A
presença de ar no mediastino também sugere o diagnóstico que, frequentemente, pode ser
confirmado por estudos contrastados e/ou esofagoscopia.
O tratamento dessas lesões é a drenagem do espaço pleural e do mediastino seguido
de sutura primária da lesão por toracotomia.
As lesões discutidas abaixo não implicam em risco imediato ao paciente que as possui,
porém podem causar prejuízos à saúde do doente ou podem sinalizar para outras lesões mais
graves associadas.
Enfisema subcutâneo
Algumas lesões de vias aéreas, pulmonares ou até mesmo explosões, podem gerar
um acúmulo de ar no tecido subcutâneo do paciente, este acúmulo é chamado de enfisema
subcutâneo. Este achado não necessita de tratamento, porém as lesões associadas devem
ser investigadas.
As lesões de costelas são clinicamente significantes, uma vez que a dor que geram
causa restrição dos movimentos respiratórios prejudicando a ventilação, a oxigenação e a
tosse. Suspeita-se de tal lesão quando há mecanismo compatível, dor localizadas, piora da dor
à palpação, crepitação e deformidade visível ou palpável no tórax. A radiografia de tórax deve
ser pedida para avaliação de possíveis lesões intratorácicas e não só para avaliar as fraturas
dos arcos costais.
As fraturas de escápula e da primeira e segunda costela ou do esterno sugerem uma lesão
traumática de magnitude tal a colocar em risco outros segmentos, como a cabeça, o pescoço,
a medula espinhal, os pulmões e os grandes vasos.
As fraturas de esterno e escápulas, geralmente, são ocasionadas por impacto direto,
podendo estar relacionadas com contusão pulmonar. Nos casos de lesão esternal, sempre se
deve cogitar a hipótese de acometimento cardíaco.
Um fato raro, porém grave, que pode vir a ocorrer é a luxação posterior da articulação
esterno-clavicular com deslocamento da clavícula para dentro do mediastino, obstruindo a veia
cava superior, este trauma requer redução imediata.
Ataduras, cintos costais e fixações externas são contraindicados. O alívio da dor é
importante para permitir uma ventilação adequada.
DRENO DE TÓRAX
Geralmente, utiliza-se o sistema de drenagem com 1 frasco, como frasco coletor (tubo
dentro do frasco conectado ao tubo externo inserido na cavidade pleural e mergulhado
aproximadamente 2 cm na coluna liquida, o selo d’água). Em situações de grande saída de
líquido da cavidade pleural, pode-se optar pelo sistema coletor com 2 frascos, sendo um para
a coleta e outro como sistema de selo d’água. Quando a expansão pulmonar não é adequada,
apesar do dreno, pode-se utilizar um sistema de aspiração contínua da cavidade pleural,
criando pressão negativa no interior da cavidade de um frasco regulador.
INDICAÇÕES
TÉCNICA
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIO
• Cuidados gerais da ferida.
• Troca do líquido do frasco: no mínimo, uma vez ao dia (pinçando o dreno,
desconectando a tampa e esvaziando).
• Controle da drenagem: volume drenado por unidade de tempo e aspecto do líquido.
• Radiografia de tórax para avaliar o posicionamento do tubo e reexpansão pulmonar.
• Retirada do dreno: 12-24h após cessada a fuga aérea; drenagem líquida menor que
150 ml/24 horas; resolução da intercorrência pleural (tempo máximo de 10 dias);
pulmão completamente expandido. Na retirada, o fio usado para a fixação serve para
a oclusão da ferida, sendo útil solicitar ao paciente que faça a manobra de Valsalva,
impedindo a entrada de ar pelo orifício do dreno.
COMPLICAÇÕES
8. TRAUMA ABDOMINAL
Samia Talise El Horr de Moraes
A avaliação abdominal ainda é um desafio no paciente politraumatizado. Para evitar
que passem despercebidas lesões obscuras intra-abdominais, é essencial analisar o
mecanismo do trauma. O trauma abdominal pode ser fechado (contuso) ou aberto
(penetrante). Também devem ser lembradas as causas potenciais de lesão intra-abdominal:
qualquer lesão entre o mamilo e o períneo. Qualquer paciente com trauma abdominal
significativo deve-se considerar que tenha lesão vascular ou de víscera abdominal, pois mesmo
grandes quantidades de sangue na cavidade podem não alterar as dimensões abdominais e
também não causar sinais de peritonite, ou seja, não serem identificados no exame físico.
O mecanismo do trauma pode ser descoberto com a equipe de atendimento pré-
hospitalar, com a família, com o próprio paciente (quando consciente) ou com qualquer outro
informante disponível no local. Então, comecemos a avaliar os diferentes mecanismos do
trauma em seus principais dois grandes grupos.
TRAUMA PENETRANTE
Pode ocorrer por arma branca e projéteis de baixa velocidade (causando lesão por
corte ou por laceração) ou por projéteis de alta velocidade (provocando uma cavitação
temporária, maior lesão ao redor do trajeto). As lesões por arma de fogo são geralmente em
maior número devido ao ricocheteamento de estruturas ósseas, à formação de projéteis
secundários, à maior extensão da trajetória intracorporal e à grande energia cinética do projétil.
Os explosivos provocam uma combinação de ferimentos contusos e penetrantes.
CHOQUE
HISTÓRIA
EXAME FÍSICO
Deve-se seguir a sequência padrão (inspeção, ausculta, percussão e palpação).
Avaliar a presença de ruídos hidroaéreos (ausência: íleo paralítico por hemoperitôneo ou
conteúdo gastrointestinal na cavidade ou até lesões extra-abdominais). Procurar sempre por
sinais de peritonite (sempre evitando dor desnecessária ao paciente), tais como percussão
dolorosa (por causar leve deslocamento de peritônio), dor à descompressão brusca e defesa
involuntária.
A palpação pode alertar para a existência de um útero gravídico. Lembrar que a
hipotermina contribui para a coagulopatia e hemorragia contínua. Assim, após despir o
paciente e examiná-lo cuidadosamente, é importante cobri-lo com cobertores para evitar a
hipotermia.
Após feito o diagnóstico e resolvidos os problemas até então existentes, podem ser
usadas medidas auxiliares na fase de reanimação, como: sondas nasogástricas (para aliviar
dilatações agudas e descomprimir o estômago, eliminando riscos de aspiração de conteúdos
gástricos), orogástricas (quando contraindicadas as nasogástricas – fraturas faciais graves e
suspeita de fraturas de base de crânio), urinárias (para aliviar a retenção urinária, descomprimir
a bexiga e monitorar o débito urinário como índice de perfusão tecidual) ou até um cateter
suprapúbico (quando contraindicada a sonda vesical – lesões uretrais). Outros exames podem
ser úteis desde que não retardem a transferência do paciente para o tratamento definitivo.
Raio-X de tórax AP e de pelve são recomendados em trauma fechado multissistêmico.
Já no paciente vítima de trauma penetrante e instável hemodinamicamente, não se faz
necessário o exame radiológico de rotina. Ao paciente estável hemodinamicamente, com
trauma penetrante acima do umbigo ou com suspeita de lesão toracoabdominal pode-se
solicitar um raio-X de tórax em ortostase para excluir ou diagnosticar hemo ou pneumotórax e
até pneumoperitônio. Nesse caso ou em qualquer outro caso em que o paciente esteja
hemodinamicamente estável, o raio-X em posição supina poderia detectar ar em retroperitônio
ou mesmo determinar o trajeto de um projétil.
Para identificar hemorragia ou suspeita de lesão em víscera oca, podem ser usados o
FAST (avaliação ultrassonográfica direcionada ao trauma), o LPD (lavado peritoneal
diagnóstico) e a TC (tomografia computadorizada). FAST é um exame ecográfico, feito à beira
do leito, avalia o saco pericárdico, o espaço hepatorrenal, o espaço esplenorrenal, e da
pelve ou do Fundo de Saco de Douglas. Em pacientes estáveis com FAST positivo, pode
ser feita uma TC, enquanto em pacientes instáveis hemodinamicamente com FAST positivo,
está indicada laparotomia exploradora. Importante ressaltar a sua baixa sensibilidade quando
o valor de líquido livre na cavidade for inferior a 500mL.
A LPD positiva é indicação imediata de laparotomia exploradora, também permitindo
a realização de TC prévia à cirurgia se o paciente estiver estável. Consiste na colocação de
um cateter de diálise peritoneal na cavidade abdominal, através de pequena incisão infra-
umbilical, sob visão direta. Durante a aspiração inicial, devemos infundir 1000mL de soro
fisiológico aquecido. Procedem-se as manobras de lavagem e aspira-se um mínimo de 20mL
de líquido, que deve ser analisado laboratorialmente. A LPD é dita positiva quando na
presença de mais de 100.000 hemácias/mL, mais de 500 leucócitos/mL, amilase acima
de 75UI/L ou pesquisa positiva para bile ou fibras alimentares. Esse exame deve ser usado
em casos de modificação de consciência, modificações na sensibilidade, lesões de estruturas
adjacentes, achados duvidosos ao exame físico, previsão de longa perda de contato com o
doente e sinal do cinto de segurança. A única contraindicação de LPD é a indicação
estabelecida de laparotomia exploradora.
Tanto o FAST como a LPD podem ser feitos diante de instabilidade hemodinâmica. Já
a TC exige estabilidade hemodinâmica e transferência do doente. Porém, mostra lesões em
órgãos específicos, lesões de órgãos retroperitoneais e pélvicos. Algumas lesões
gastrointestinais, diafragmáticas e pancreáticas podem não ser diagnosticadas na TC. Sendo
assim, TC normal de abdômen, mas com presença de líquido livre na cavidade é sugestiva de
que há sim lesões e muitos cirurgiões indicam laparotomia precoce.
Estudos contrastados: uretrografia antes da sonda vesical na suspeita de ruptura de
uretra, cistografia para melhor identificar ruptura de bexiga intra ou extraperitoneal, uretrografia
excretora na falta de tomografia para diagnosticar lesão do sistema urinário.
Comparação entre LPD, FAST e TC no Trauma Abdominal Fechado
LPD FAST TC
Vantagens Diagnóstico precoce Diagnóstico precoce Mais específico para
Realização rápida Não invasivo definir lesões
Sensib: 98% Realização rápida Sensib: 92 a 98%
Detecta lesão intestinal Repetível
Desvantagens Invasivo Operador dependente Custo e tempo
Especificidade baixa Distorção da imagem por Pode não diagnosticar
Não diagnostica lesão de meteorismo e enfisema lesões do diafragma,
diafragma e retroperitônio subcutâneo intestino e algumas
Pode não diagnosticar lesões pancreáticas
lesões do diafragma, do Transporte necessário
intestio, do pâncreas e de
órgãos sólidos
TRATAMENTO CONSERVADOR
Para adotar uma conduta conservadora, dois aspectos são fundamentais: ausência de
sinais de peritonite ao exame físico e estabilidade hemodinâmica (que, quando ausente e
excluídas outras causas de choque, é indicação absoluta de laparotomia). O principal
determinante do sucesso deste tipo de conduta é o acompanhamento clínico constante e
horizontal do paciente, por meio de exames físicos seriados, por equipe médica habituada e
entrosada no atendimento a politraumatizados.
TRAUMA CONTUSO
Hemodinamicamente Hemodinamicamente
Trauma Trauma
Múltiplo
Hemodinamicamente
*Se ferimento na transição toracoabdominal e paciente assintomático, com possíveis lesões
de diafragma ou vísceras do andar superior do abdome, tem-se como opções diagnósticas
desde a reavaliação do exame físico e radiografia até toracoscopia, laparoscopia e TC.
9. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO
Rodrigo Krieger Martins
INTRODUÇÃO
ANATOMIA
O couro cabeludo reveste a calota craniana, sendo este constituído por cinco camadas:
pele, tecido conjuntivo, gálea aponeurótica, tecido areolar frouxo e o pericrânio. Por ser muito
irrigado, grandes lacerações do couro cabeludo podem levar a significativas perdas
sanguíneas, principalmente em crianças e bebês.
O crânio é constituído pela calota craniana e pela base. A base do crânio é um território
irregular o que, em movimentos bruscos de aceleração e desaceleração, favorece a ocorrência
de lesões cerebrais.
O cérebro é revestido por três meninges: dura-máter, aracnóide e pia-máter. A dura-
máter é a mais externa e resistente delas, em contato direto com o crânio, dividindo-se em dois
folhetos em algumas regiões, formando os seios venosos que drenam a maior parte do retorno
venoso cerebral. Vale ressaltar que entre a dura-máter e a face interna do crânio correm as
artérias meníngeas que, caso rompidas, desenvolve o hematoma epidural. Abaixo da dura-
máter está a aracnóide, fina e transparente, formando entre ela e a dura-máter o espaço
subdural, por onde trafegam as veias em ponte, que podem ser rompidas após um trauma
formando um hematoma subdural. A meninge mais interna é a pia-máter, que reveste o SNC.
Entre esta e a aracnóide tem-se o espaço subaracnóideo, preenchido pelo liquor (LCR). Lesões
como contusão cerebral ou que envolvam vasos da base do encéfalo podem cursar com
hemorragia subaracnoidea.
FISIOLOGIA
Linear/estrelada
Morfologia Fraturas de crânio De calota Com ou sem afundamento
Exposta ou fechada
Com ou sem perda de LCR
Basilares Com ou sem lesão de VII par
Epidural
Focais Subdural
Intracerebral
Lesões intracranianas Concussão leve
Difusas Concussão clássica
Lesão axonal difusa
Abertura ocular:
-Espontânea 4
-Estímulo verbal 3
-Estímulo doloroso 2
-Sem resposta 1
Resposta verbal:
-Orientado 5
-Confuso 4
-Palavras inapropriadas 3
-Sons incompreensíveis 2
-Sem resposta 1
Melhor resposta motora:
-Obedece a comandos 6
-Localiza a dor 5
-Flexão normal (retirada à dor) 4
-Flexão anormal (decorticação) 3
-Extensão (decerebração) 2
-Sem resposta (flacidez) 1
Fratura de crânio
As fraturas de crânio devem sempre ser cuidadosamente avaliadas, pois, para que
ocorram, é necessário que se tenha um trauma prévio de alta energia. Essas fraturas podem
ser na calota ou base do crânio, lineares ou estreladas, aberta ou fechadas. Para avaliação, o
melhor exame diagnóstico é a tomografia computadorizada, que permite identificar lesões
ósseas também na base do crânio, o que é limitado pela radiografia simples. Fraturas na base
do crânio são de extrema importância, e por isso seus sinais clínicos têm de ser conhecidos
para sua identificação. Esses sinais incluem: equimose periorbital (olhos de guaxinim),
equimose retroauricular (sinal de Battle), rinorréia, otorréia, disfunção de VII e VIII par
craniano (paralisia facial e perda de audição).
Hematoma epidural
Hematomas epidurais são lesões importantes,
encontradas em cerca de 0,5% de todos os pacientes com
TCE. São hematomas geralmente associados a fraturas de
crânio, sobretudo nas regiões temporal ou têmporo-parietal,
com lesão de artéria meníngea média. Na TC, o hematoma
epidural apresenta-se como um coágulo biconvexo.
Hematoma subdural
Hematomas subdurais são lesões mais graves, pois
geralmente comprometem maior área do córtex cerebral, com
pior prognóstico que os hematomas epidurais. São
encontrados em cerca de 30% dos pacientes com TCE grave.
Estão relacionados à dilaceração dos vasos ponte que drenam
para os seis da dura-máter (hemorragia venosa). Por não ser
uma hemorragia delimitada pelas pregas durais, assume a
forma dos contornos do cérebro na TC.
História
-Nome, idade, sexo, raça, ocupação
-Mecanismo de trauma
-Hora de ocorrência do trauma
-Perda de consciencia imediatamente após o
trauma
-Amnésia: retrógrada, anterógrada
-Cefaléia: leve, moderada, grave
Exame neurológico
Exame inicial:
-Mesmo organograma do TCE leve, com exames de sangue de rotina
-TC de crânio
-Admissão do paciente em hospital com serviço de neurocirurgia disponível
Depois da internação:
-Avaliações neurológicas seriadas
-Seguimento por TC em caso de piora/antes da alta hospitalar
Avaliação e tratamento:
-Admissão do paciente em hospital com serviço de neurocirurgia
disponível
-ABCDEs
-Avaliação primária e reanimação
-Avaliação secundária e história ampla
Tomografia Computadorizada
TRATAMENTO CLÍNICO
• Soluções salinas intravenosas: devem ser utilizadas soluções salinas isotônicas ou Ringer
lactato, a fim de reestabelecer a normovolemia do paciente. É importante monitorar o sódio
sérico desses pacientes, pois a hiponatremia está associada a edema cerebral e deve ser
evitada.
• Hiperventilação: somente é aceita por um período de tempo limitado, utilizada em casos
de déficit neurológico agudo, enquanto outras medidas ainda são iniciadas. A diminuição
da PaCO2 (<30mmHg) provoca vasoconstrição, podendo levar a isquemia cerebral.
• Diuréticos: utiliza-se preferencialmente o manitol, contudo, assim como a hiperventilação,
é aceito apenas em casos de déficit neurológico agudo, reduzindo significativamente a PIC
por ser um diurético osmótico muito potente.
• Anticonvulsivantes: a fenitoína pode ser administrada em pacientes vítimas de TCE pois
reduz a incidência de convulsões na primeira semana após o trauma, além de controlar as
crises convulsivas, evitando maior lesão cerebral secundária.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
O manejo cirúrgico pode ser importante para lesões no couro cabeludo, fraturas de
crânio, lesões de massa e ferimentos penetrantes:
INTRODUÇÃO
ANATOMIA
CLASSIFICAÇÃO
A classificação entre lesão completa ou incompleta exige avaliação clínica dos tratos
da medula. Qualquer função motora ou sensitiva preservada abaixo do nível da lesão indica
presença de lesão incompleta e, consequentemente, melhor prognóstico. A lesão incompleta
pode se manifestar através de qualquer tipo de sensibilidade (incluindo a percepção de posição
espacial) e qualquer movimento voluntário nas extremidades inferiores ou através da presença
de reflexos como sensibilidade perianal, contração voluntária do esfíncter anal ou flexão
voluntária do hálux.
Morfologia
Síndromes Medulares
Síndrome centromedular
Luxação atlanto-occipital
Por ser a maior vértebra cervical e ter formato peculiar, é suscetível a várias fraturas,
contabilizando 18% de todas as fraturas cervicais. Cerca de 60% das fraturas de C2 acometem
o processo odontoide.
Fraturas lombares
Lesões penetrantes
As lesões penetrantes em coluna vertebral são ferimentos por arma branca ou por
arma de fogo. Nestes casos é importante determinar o trajeto do projétil ou da arma branca e,
quando estes passam pelo canal vertebral, geralmente a lesão neurológica é completa. É
importante lembrar que, no caso da arma de fogo, lesões completas podem ocorrer mesmo
quando o projétil não passa pelo canal vertebral. Isto ocorre pela transferência de energia, em
lesões próximas à medula.
AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA
Coluna Cervical
O exame radiográfico de coluna cervical poderá ser dispensado após exame clínico
minucioso e realizado por profissional habilitado, apenas se o paciente se encontrar acordado,
alerta, sóbrio, neurologicamente normal, sem queixas de dor em cervical e que tenha idade
suficiente para descrever seus sintomas. Por outro lado, radiografias da coluna cervical estão
indicadas em todos os pacientes traumatizados, com dor em linha média do pescoço,
sensibilidade à palpação da região cervical, déficits neurológicos que se referem à coluna
cervical ou pacientes com rebaixamento do nível de consciência e intoxicados.
Quando indicadas, as radiografias devem ser realizadas nas incidências em perfil e
ântero-posterior. A incidência transoral pode ser feita, nas suspeitas de lesões cervicais altas,
para melhor visualização do processo odontoide. Na incidência em perfil, devem ser
visualizadas a base do crânio, todas as vértebras cervicais e a primeira vértebra torácica. Caso
não se consiga ver todas as vértebras cervicais, faz-se necessário a realização da radiografia
em posição de nadador para melhor visualização. Caso haja dúvidadepois destes exames
serem avaliados por um profissional experiente, uma tomografia computadorizada pode ser
pedida. A associação de radiografia e tomografia, quando corretamente interpretadas,
representa uma sensibilidade de 97% para fraturas de vértebras cervicais.
É importante lembrar de realizar radiografias de toda a coluna cervical do doente que
tenha fratura em vértebras cervicais e dos doentes que se encontram em coma, já que
aproximadamente 10% dos pacientes com lesão em coluna cervical têm uma segunda lesão
não contígua à primeira.
Em casos de pacientes com déficits neurológicos, a realização de uma ressonância
magnética pode evidenciar lesões por compressão da medula espinhal, como hematomas,
hérnia traumática de disco, contusões ou rupturas medulares, entre outros achados. Porém,
em pacientes hemodinamicamente instáveis, sua realização é difícil. Nestes casos, a
ressonância poderá ser substituída pela mielografia por tomografia computadorizada.
PROGNÓSTICO
CONDUTA
Imobilização
Sempre que se suspeite de uma lesão em coluna, o doente deve ser imobilizado desde
acima até abaixo do local suspeito, até que a presença de fraturas seja descartada
por exame radiológico. Para garantir uma imobilização adequada, o doente deve ser mantido
em posição neutra (supina), sem rotações ou arqueamentos da coluna. Quando existirem
deformidades evidentes, não se deve tentar corrigi-las.
A imobilização apenas com colar cervical não garante a estabilidade completa da coluna
cervical. Para isso, além do colar, deve-se utilizar uma prancha longa e imobilizadores de
cabeça até que opreocupação em lesões de medula e a intubação precoce pode ser
necessária.
Assim que chegar à sala de emergência, os exames radiológicos devem ser feitos de
tal forma que o paciente seja retirado o mais precocemente possível da prancha longa, para
evitar úlceras de decúbito.
Na avaliação secundária, a palpação da região dorsal exige que o paciente seja rolado
em bloco. Para isso, são necessárias várias pessoas, a fim de que o alinhamento anatômico
neutro da coluna vertebral seja mantido, evitando-se assim novas lesões ou o agravamento de
lesões prévias.
Infusão de líquidos endovenosos. Em doentes com suspeita de lesão de coluna,
administram-se líquidos da mesma forma que se faz durante a reanimação de qualquer doente
politraumatizado. Porém, caso não se suspeite ou não se detecte hemorragia ativa, a
hipotensão persistente após a reposição de 2 litros de líquido, associada à bradicardia deve
ser encarada como resultante de choque neurogênico.
Quando a pressão arterial não melhora após infusão de líquidos, pode estar indicado
o uso criterioso de drogas vasoativas, como a dopamina ou a noradrenalina. É preciso cuidado
na reposição volêmica em pacientes com choque neurogênico, devido ao risco de edema
pulmonar. Nestes pacientes, uma sonda vesical deve ser passada, para monitorar o débito
urinário e evitar a distensão vesical.
Medicação
O tratamento do trauma raquimedular deve ser de urgência. Até algum tempo atrás, a
administração de glicocorticoides em altas doses era feita em pacientes que haviam sofrido
trauma raquimedular há menos de 8 horas (com exceção de gestantes, menores de 12 anos e
ferimentos por arma de fogo) e continuava por até 24-48 horas após o trauma. Porém, hoje em
dia, esta conduta é controversa. A última revisão do ATLS (8th Edition – Compendium of
Changes) diz que “Não há evidência suficiente para apoiar o uso rotineiro de esteróides em
lesão da medula espinhal no presente momento”. Porém, alguns estudos recentes concluíram
que o uso de metilprednisolona está associado a uma melhora motora dos pacientes vítimas
de trauma raquimedular.
11. TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO
João Rafael Bora Ruggeri
AVALIAÇÃO PRIMÁRIA
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
Exames complementares
História
EXAME FÍSICO
Fratura de pelve
Toda fratura em membro associada a lesão aberta no mesmo segmento deve ser
considerada exposta, ou seja, uma fratura com comunicação com meio externo. Fraturas dessa
natureza requerem antibioticoprofilaxia precoce e profilaxia contra o tétano, e não se deve
tentar reduzir ou colocar uma eventual exposição óssea para dentro da pele fora do centro
cirúrgico para diminuir as chances de contaminação.
O tratamento inicial consiste na imobilização e avaliação da circulação e inervação
local. São lesões que requerem tratamento cirúrgico com debridamento e estabilização da
fratura.
Lesões Vasculares
Síndrome Compartimental
OUTRAS LESÕES
Contusões e Lacerações
Lesões articulares
Lesões de natureza articular que não resultam em luxação geralmente não trazem
perigo a integridade do membro. As luxações, que consistem num desalinhamento da
superfície articular ocasionando perda da congruência articular, podem trazer
comprometimento à função do membro. Esse fenômeno não pode ocorrer sem que haja lesão
ligamentar ou na cápsula articular, constituindo então uma situação de emergência. Uma
subluxação, por sua vez, constitui-se de um deslocamento parcial das superfícies articulares,
sem a perda total de contato entre elas. As articulações mais comumente vítimas de luxação
são a do ombro, quadril, cotovelo, tornozelo e as interfalangianas.
Geralmente as luxações são causa de intensa dor, assimetria, e impossibilidade de
realização dos movimentos normais daquela articulação. Podem ocasionar comprometimento
vascular, como percebe-se em 50% das luxações de joelho, que apresentam lesão da artéria
poplítea.
De maneira geral, cada articulação tem suas características típicas quando luxada, e
o exame físico é suficiente para constatar esse fenômeno. Mesmo assim, pode-se realizar a
radiografia da articulação lesada para verificar possíveis fraturas de avulsão nos pontos de
inserção dos ligamentos.
Para seu tratamento, deve-se avaliar os aspectos vasculares e neurológicos do
membro em questão antes e depois da redução da luxação. É importante a avaliação de um
cirurgião pois nem todas as luxações permitem uma redução incruenta. A lesão ligamentar
também deve ser tratada, situação que em determinados casos requer intervenção cirúrgica.
12. ATENDIMENTO AO PACIENTE QUEIMADO
Marco Aurélio Soato Ratti
INTRODUÇÃO
As queimaduras são fonte de grande dor física. É sabido que o agravo atinge não
somente ao traumatizado, mas também aos seus cuidadores, sendo reconhecido como
“terrível para quem sente, estressante para quem cuida”, em vista do extremo desconforto
gerado nos momentos dos banhos e curativos. No Brasil, apesar das lesões por queimadura
não terem tanta relevância na mortalidade geral, têm importância quanto à morbidade, já tendo
representado, inclusive, 9% do total de internações por causas externas. Como origens
prevalentes das queimaduras, temos os acidentes domiciliares e os acidentes em locais de
trabalhos.
FISIOPATOLOGIA
As queimaduras extensas causam não apenas dano à pele, mas levam a intensas
alterações sistêmicas que potencializam a lesão e a carregam a diferentes órgãos e tecidos,
adjacentes ou distantes. Ocorre uma junção de choque distributivo com choque hipovolêmico.
Há, assim, depleção do volume intravascular, aumento da resistência vascular sistêmica e
diminuição do débito cardíaco.
Em teoria, todos os componentes do controle de fluidos e da manutenção de proteínas
no meio intravascular são perdidos após a queimadura. O sistema da microcirculação perde a
integridade das paredes dos vasos, levando à perda de proteínas para o meio intersticial,
causando redução da pressão oncótica intravascular, precipitando a intensa perda de fluido.
Temos, com isso, também perda de eletrólitos, hemoconcentração, formação de edema,
diminuição do débito urinário e depressão da função cardiovascular. O edema, quando por
lesões circunferenciais, leva a hipóxia tecidual e elevação da pressão tecidual. Segundo
estudos, a maior parte do edema ocorre no local da lesão, sendo máximo aproximadamente
24 horas depois da injúria. Com isso, pode-se entender a forma com que o tratamento do
queimado é conduzido: deve ser feita reposição de volume, repondo o volume intravascular,
mas com cautela, evitando a piora do edema.
Observação: vale ressaltar a associação entre a temperatura e o grau de lesão celular: quando
menor que 44ºC, não há destruição celular; entre 44-46ºC há destruição celular, dobrando a
sua taxa a cada grau elevado; e quando acima de 51ºC há intensa destruição da epiderme.
Classificação do queimado
Como indicadores clínicos de lesão por inalação, a ser suspeitada quando há história
de confinamento durante o incêndio, temos:
Infusão de fluidos
Como dito anteriormente, o edema das lesões circunferenciais pode fazer pressão e
prejudicar a circulação. Assim, é importante a remoção de joias, a avaliação da perfusão distal
(tempo de enchimento capilar, cianose, comprometimento neurológico, como parestesia ou
dor), e, quando necessário, a realização de escarotomia ou fasciotomia (principalmente
naqueles outras lesões associadas, como ósseas ou musculares).
Por vezes, o paciente pode estar mais agitado e ansioso pela hipóxia e hipovolemia
que pela dor. Ainda assim, é válida a administração, conforme avaliação, de analgésicos e
sedativos.
Para reduzir a intensa dor nas queimaduras de segundo grau, é correto cobrir a ferida
com pano limpo, de forma delicada. Deve haver cautela para o uso de água e compressas
frias, pois podem causar hipotermia. As flictenas devem ser mantidas íntegras, e não rompidas.
QUEIMADURAS ESPECIAIS
Queimaduras químicas
Queimaduras elétricas
Elas são frequentemente mais graves do que parecem à inspeção externa, devido à
diferente resistência à eletricidade que os diferentes tipos de tecido têm. Assim, por mais que
a pele tenha nenhuma ou pouca lesão, tecidos profundos, como muscular, vascular ou
nervoso, podem ter sido mais gravemente lesados. Uma situação especial preocupante a ser
observada, nessa situação, é a rabdomiólise: caracterizada pela destruição muscular, tendo
nesse caso a queimadura elétrica como etiologia, leva à liberação de grande quantidade de
mioglobina ao sangue, determinante de mioglobinúria, que é causa de Insuficiência Renal
Aguda. Relembrando, a diurese esperada para queimaduras elétricas é maior que para as
queimaduras térmicas (> 100 ml/h). Deve ser feita monitorização de arritmias pelo ECG.
TRANSFERÊNCIA DE DOENTES
1) Queimaduras de segundo grau com SCQ > 10% com < 10 anos ou > 50 anos;
2) Queimaduras de segundo grau com SCQ > 20% entre 10-50 anos;
3) Queimaduras de terceiro grau com SCQ > 5%;
4) Queimaduras de segundo ou terceiro grau envolvendo áreas nobres;
5) Queimaduras elétricas graves (raios);
6) Queimaduras químicas importantes;
7) Lesões por inalação;
8) Doentes com comorbidades que sejam fatores de complicação ou piora;
9) Presença de trauma concomitante agravante (estabilizar pelo trauma antes de
transferir)
10) Crianças em hospitais sem qualificação adequada
11) Doentes com questões sociais consideráveis (suspeita de negligência, abuso infantil)
CURATIVO
INTRODUÇÃO
• Tamanho e forma: menor massa corporal predispõe a uma maior frequência de lesões de
múltiplos órgãos. A cabeça é proporcionalmente maior em crianças menores, resultando
em uma frequência elevada de lesões cerebrais contusas nessa faixa etária.
• Esqueleto: possui calcificação incompleta, múltiplos núcleos de crescimento ativo e é mais
flexível, sendo assim, as fraturas são menos frequentes. Por isso, fraturas de crânio e
arcos costais sugerem trauma de alta energia devendo-se suspeitar de lesões dos órgãos
internos.
• Superfície corporal: a relação entre superfície corporal e massa corporal é maior na
criança, predispondo à hipotermia.
• Estado psicológico: a criança apresenta uma instabilidade emocional que piora em
situações de estresse. Sua capacidade de interagir com outros é menor quando em um
ambiente com desconhecidos. A presença dos pais ou tutores é aconselhada para facilitar
o atendimento.
• Efeitos em longo prazo: é uma preocupação quando se fala em trauma pediátrico. Lesões
nos centros de crescimento podem levar a anormalidades de crescimento do osso lesado.
Ruptura de baço seguida de esplenectomia predispõe a sepse pós- esplenectomia e óbito.
• Equipamentos: é fundamental que tenham o tamanho adequado. A Fita Métrica de
Reanimação Pediátrica de Broselow é um acessório ideal para determinação rápida de
peso da criança.
ATENDIMENTO INICIAL
A – Via aérea
Quanto menor a criança, maior é a desproporção entre crânio e face. Isto leva a uma
propensão para a faringe posterior posicionar-se anteriormente e colabar por causa da flexão
passiva causada pelo occipício maior. Para evitar essa flexão, é necessário deixar a face
paralela à prancha de imobilização e não na “posição de cheirador”. Colocar um
acolchoamento abaixo do tronco da criança ajuda a manter o alinhamento neutro da coluna.
(ATLS 8ª edição)
As partes moles da orofaringe da criança são comparativamente maiores, a laringe
possui forma de funil permitindo um acúmulo de secreções, e as cordas vocais são mais difíceis
de visualizar. O pequeno comprimento da traqueia facilita a intubação seletiva do brônquio
principal, o deslocamento do tubo e/ou o barotrauma. Pela facilidade de deslocamento do tubo
a ausculta deve ser feita periodicamente.
• Tubo faríngeo (tubo de Guedel): só deve ser usado com a criança inconsciente para não
provocar vômito. A introdução NÃO deve ser feita com a concavidade para cima seguida
de rotação 180º, para que não haja risco de lesar partes moles. O abaixador de língua
pode auxiliar.
• Intubação orotraqueal: a criança tem um diâmetro mais estreito da via aérea ao nível do
anel cricóide, funcionando como selo natural ao tubo endotraqueal; por isso, o uso de tubo
com balão não é necessário. O tamanho do tubo deve ser ideal, e pode ser escolhido
comparando-o ao diâmetro da narina ou do dedo mínimo da criança. Crianças têm uma
resposta vagal mais intensa a intubação, a qual pode ser diminuída pelo uso de atropina.
• Intubação com uso de drogas em doentes pediátricos:
Hipovolêmico:
Etomidato 0,1mg/Kg
ou Intubar, verificar
Midazolam 0,1 Cloridrato de a posição do
Sulfato de mg/Kg succinilcolina <10 tubo
Pré- atropina Pressionar a Kg: 2 mg/Kg
Sedar
cricóide >10 Kg: 1 mg/Kg
0,1 - 0,5 mg Normovolêmico: Interromper a
Etomidato 0,3 mg/Kg ou pressão da
ou Vecurônio ou cricóide
Midazolam 0,3 Rocurônio 0,6
mg/Kg mg/Kg
(ATLS 8ª edição)
Intubação nasotraqueal: não deve ser realizada em crianças menores de 9 anos. Essa via é
extremamente difícil nesses pacientes pela anatomia particular, risco de perfuração do crânio
e ferimento de partes moles.
Cricotireoidostomia cirúrgica: contraindicada em bebês e crianças pequenas. Geralmente
pode se fazer em crianças acima dos 12 anos por terem uma cartilagem mais palpável.
B – Respiração e Ventilação
C – Circulação
Quando ocorre hipotensão, a taquicardia pode ser substituída por bradicardia. Isso
ocorre geralmente em lactentes. O tratamento do choque é feito com infusão rápida de
cristalóides e sangue:
• Reanimação volêmica: o objetivo é a rápida reposição de volume. O volume circulante
estimado da criança é de aproximadamente 80 ml/Kg. Na suspeita de choque, deve-se
repor inicialmente 20 ml/Kg de solução cristaloide. Para calcular o peso estimado do
paciente, o método mais fácil e rápido é pela Fita Métrica de Reanimação Pediátrica de
Broselow. Crianças com resposta transitória, ou sem resposta à administração de solução
cristaloide são candidatas à transfusão adicional de sangue, assim como um provável
procedimento cirúrgico.
• Acesso venoso: o acesso preferencial é por punção periférica percutânea. Caso haja
falha do acesso periférico após duas tentativas, pode-se considerar infusão intraóssea com
agulha de medula óssea (18G em lactentes e 15G em crianças), ou cateter venoso femoral
pela técnica de Seldinger ou através da agulha de tamanho adequado. O local preferencial
para a punção intraóssea é a tíbia proximal, abaixo da sua tuberosidade. Se houver fratura
no local, pode-se optar pela tíbia contralateral, ou, como última opção, o fêmur distal. Deve-
se ter cuidado para que a punção não seja feita distalmente a lesão. Se nenhuma opção
anterior for possível, um médico experiente pode realizar a dissecção venosa (apenas em
último caso, por se tratar de um procedimento relativamente demorado).
• Débito urinário: varia com a idade. Para recém-nascidos lactentes: 2 ml/Kg/hora; criança
que está começando a andar: 1,5 ml/Kg/hora; e criança mais velha: 1 ml/Kg/hora. Quando
adolescente, o limite inferior do débito se iguala ao débito urinário normal do adulto, que é
de 0,5 ml/Kg/hora. O débito urinário e a densidade da urina são ótimos métodos para
avaliar a evolução da reposição volêmica. Isso pode ser feito através de uma sonda vesical,
que deve ser sem balão para crianças de até 15 Kg.
• Termorregulação: a perda de calor é facilitada pela maior relação entre superfície e
massa corporal da criança, associada com a pele fina e a falta de tecido celular
subcutâneo. Deve-se atentar para isso, pois a hipotermia pode deixar a criança refratária
ao tratamento, prolongar o tempo de coagulação e comprometer o sistema nervoso central.
D – Disfunção Neurológica
E – Exposição
Deve ser feita com os mesmos cuidados do adulto, atentando para a temperatura
corporal, já que a criança tem maior facilidade de entrar em hipotermia.
PARTICULARIDADES
TRAUMA NA GESTANTE
INTRODUÇÃO
Sempre se deve assumir que toda mulher entre os 10 a 50 anos possa estar grávida.
A gravidez provoca grandes mudanças fisiológicas e modificações nas relações
anatômicas que afetam praticamente todos os órgãos do corpo humano. Essas
mudanças na estrutura e na função podem influenciar a avaliação da gestante
traumatizada, alterando os sinais e os sintomas das lesões, a abordagem e as respostas
às medidas de reanimação, e a interpretação dos exames laboratoriais. Sempre lembrar
que ao atender uma gestante, está na verdade atendendo dois pacientes: mãe e feto.
Mesmo que não apresente lesões provocadas diretamente pelo trauma, o feto pode
ser afetado por alteração da homeostase materna (principal causa de lesão). Todavia, as
medidas iniciais a serem adotadas no atendimento são iguais àquelas adotadas para a não
gestante. Se for necessário o estudo radiológico da paciente na fase aguda do tratamento,
este não é contraindicado pela presença da gestação.
São mudanças naturais que ocorrem durante a gravidez, e afetam todos os sistemas.
Entretanto, se não forem bem conhecidas pelo médico, podem ser confundidas com
situações patológicas e levar a interpretações errôneas dos dados diagnósticos e exames
laboratoriais. O conhecimento dessas alterações também irão influenciar a abordagem e
condutas no processo de reanimação.
Alterações Implicações
Útero 0-12ª semana de gestação: útero intrapélvico, protegido Feto e placenta se tornam mais
pela parte óssea. vulneráveis.
20ª semana: atinge a cicatriz umbilical. Ter em mente a progressão uterina, em
34-36ª semana: atinge altura máxima supra-umbilical, casos de abordagem da cavidade
alcançando o rebordo costal. abdominal, por exemplo, ao realizar
2 últimas semanas: fundo uterino desce à medida que a LPD (Lavado Peritoneal Diagnóstico).
cabeça fetal se encaixa na pelve.
Parede uterina e líquido 1º trimestre: útero protegido pela pelve e possui parede Ruptura uterina facilitada no 3º
amniótico de espessura aumentada. trimestre.
Após, feto é protegido pela grande quantidade de Líquido amniótico pode causar embolia
líquido amniótico e por sua mobilidade. e CIVD após traumatismos, desde que
3º trimestre: paredes mais adelgaçadas, ↓ do líquido ganhe acesso ao espaço intravascular.
amniótico, ↓ da mobilidade.
MECANISMOS DE TRAUMA
Avaliação secundária
Cuidados definitivos
Sempre que houver suspeita de envolvimento uterino, o obstetra deve ser consultado.
Em casos de ruptura uterina, é obrigatório que se faça a exploração cirúrgica.
As indicações cirúrgicas não mudam em função da gravidez, e a laparotomia precoce é
indicada em caso de dúvida diagnóstica.
Descolamento placentário extenso ou embolia por líquido amniótico podem ocasionar
coagulação vascular disseminada. Neste caso, deve ser realizada a evacuação uterina,
associada à reposição de plaquetas e fatores de coagulação.
Mães Rh-negativas podem ser isoimunizadas por fetos Rh-positivos pela hemorragia
feto-materna, desencadeada pelo trauma. Desta forma, deve-se iniciar, até 72horas após o
trauma, terapia com imunoglobulina em todas as gestantes Rh-negativo.
TRAUMA NO IDOSO
INTRODUÇÃO
A - Via Aérea
Estabelecer e depois manter uma via aérea permeável para oferecer oxigenação
tecidual adequada é o primeiro objetivo. Algumas medidas devem ser prontamente realizadas
quando se tratando de um paciente idoso:
• Intubação precoce: deve ser considerada para pacientes em estado de choque, com
lesões da parede torácica ou alteração do nível de consciência, devido à limitação da
reserva cardiopulmonar. Intubação endotraqueal é o método preferencial para controle da
via aérea.
• Remover dentaduras quebradas, manter dentaduras intactas e bem adaptadas no local até
que seja obtido o controle da via aérea.
B – Respiração e Ventilação
C – Circulação
D – Disfunção Neurológica
Doentes idosos com lesão cerebral têm menos contusões cerebrais graves do que
doentes jovens. Entretanto, os idosos têm maior incidência de hematoma subdural (três vezes
mais) e intraparenquimatoso. Anticoagulantes podem estar envolvidos na causa. Tomografias
computadorizadas de crânio devem ser usadas no doente idoso com lesão cerebral, pois
fornecem informações rápidas, acuradas e detalhadas sobre dano estrutural ao cérebro, crânio
e elementos suporte.
Lesões da coluna cervical parecem ser mais comuns ao doente idoso traumatizado,
embora possam ser mais ocultas e ser particularmente difíceis de diagnosticar se houver
presença de osteoporose e osteoartrite.
E – Exposição e Ambiente
Outros Sistemas
A presença destes achados deve determinar uma história detalhada que pode diferir
dos achados clínicos e pode desvendar um atraso significativo na procura por tratamento.
Estes achados devem determinar relatos e mais investigação para confirmar abuso de doente
geriátrico. Se presente, deve ser tomada decisão apropriada inclusive afastamento do doente
geriátrico da situação abusiva.
15. EMERGÊNCIAS CLÍNICAS I - IAM, EP E EAP
Camila Cristina Valério
Abordaremos nesse capítulo o infarto agudo do miocárdio (IAM) com elevação do segmento
ST. A mortalidade precoce (até 30 dias) do infarto agudo do miocárdio (IAM) é de
aproximadamente 30% e mais de metade dessas mortes ocorrem antes que a vítima chegue
até o hospital.
FISIOPATOLOGIA
ACHADOS CLÍNICOS
Pode haver um evento desencadeante da dor em até 50% dos casos de IAM, como
exercício físico intenso, estresse emocional e doença clínica ou cirúrgica. Ele pode ocorrer
durante qualquer período do dia, porém observa-se uma maior concentração de eventos no
período da manhã.
A dor é a queixa mais comum dos pacientes. Ela é intensa (duração maior que vinte
minutos) e não aliviada por nitratos ou pelo repouso. Normalmente, é descrita como uma
sensação de aperto, pressão ou peso. Ela ocorre parte central do tórax e/ou epigástrio e pode
irradiar-se para os braços, pescoço, mandíbula. Entre os sintomas e sinais associados estão:
fraqueza, sudorese, náuseas, vômitos e sensação de morte iminente. Idosos, diabéticos e
mulheres podem apresentar isquemia com sintomas atípicos e sem dor precordial.
EXAMES COMPLEMENTARES
ELETROCARDIOGRAMA
Os pacientes com dor ou desconforto pré-cordial devem ser submetidos ao ECG em,
no máximo, dez minutos da chegada ao pronto socorro.
Durante o estágio inicial, a oclusão total de uma artéria provoca um
supradesnivelamento do segmento ST. A maioria dos pacientes que apresentam essa
anormalidade evolui posteriormente com a onda Q no ECG. Entre os pacientes que se
apresentam com desconforto isquêmico sem elevação de ST, porém com marcadores séricos
de necrose presentes, o diagnóstico será de IAM sem elevação de ST.
Hemograma, eletrólitos, função renal, coagulação e perfil lipídico devem ser colhidos
junto com a primeira dosagem de marcadores de necrose do miocárdio.
A radiografia de tórax é recomendada, entretanto não deve retardar a trombólise.
TRATAMENTO NA EMERGÊNCIA
Como já dito anteriormente, o paciente com dor torácica deve ser submetido a um
ECG em no máximo dez minutos de sua chegada ao pronto socorro. A conduta diante dos
pacientes com IAM com elevação de ST depende da disponibilidade da terapia de reperfusão.
Resumindo:
MEDIDAS INICIAIS
• AAS: administrar 300 mg via oral amassados ou para mastigar para todos os
pacientes. Indicado mesmo antes do ECG quando dor precordial sugestiva de
isquemia e pacientes com fatores de risco coronarianos.
• Oxigênio: a saturação de oxigênio deve ser monitorada através da oximetria de pulso
e, se sinais de hipoxemia ou saturação de oxigênio menor que 90%, o oxigênio deve
ser ofertado por máscara ou cânula nasal a 2-4L/min.
• Se o paciente for submetido à angioplastia primária, as opções são o clopidogrel
(ataque de 600 mg e manutenção de 75mg/dia), o prasugrel (ataque de 60mg e
manutenção de 10mg/dia) ou ticagrelor (ataque de 180mg oral e manutenção de 90mg
de 12 em 12 horas) Evita-se o prasugrel e o ticagrelor se no paciente com idade acima
de 75 anos. Se o paciente for trombolizado, faz-se o clopidogrel (300mg de ataque e
75mg/dia de manutenção).
• Morfina: é um venodilatador que reduz a pré-carga do ventrículo esquerdo, diminui a
resistência vascular sistêmica, reduz a pós-carga e tem efeito analgésico sobre o SNC.
Prescrever 2 a 4 mg IV em bolus e doses adicionais podem ser feitas a cada cinco a
quinze minutos em casos de dor persistente.
• β-bloqueadores: Se não houver contraindicação e o paciente não tiver risco de evoluir
para choque cardiogênico (fatores de risco: idade maior que 70 anos, pressão sistólica
< 120mmHg, FC >110 bpm ou <60bpm), os β-bloqueadores devem ser prescritos.
Podem ser utilizados o propanolol, atenolol ou metoprolol.
• Anticoagulação: deve ser prescrita para todos os pacientes. Para angioplastia
primária: heparina não fracionada ou bivalirudina (é a escolha em pacientes com risco
de sangramento. Para trombólise: enoxaparina, fondaparinux ou heparina não
fracionada.
TERAPIAS DE REPERFUSÃO
EMBOLIA PULMONAR
O diagnóstico de embolia pulmonar (EP) tem grande importância, pois, sem
tratamento, a mortalidade atinge a marca de 30% e, quando a anticoagulação é feita, a
mortalidade fica em torno de 2 a 8%. Acredita-se que a sua incidência esteja aumentando
devido ao envelhecimento da população, ao aumento de casos de neoplasia, de doenças
respiratórias e do número de pacientes acamados.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Existem fatores de risco para TVP/EP conhecidos e muitos ainda não descobertos.
Como fatores primários estão: idade maior que 65 anos, viagem de longa distância, obesidade,
tabagismo, trombofilias, síndrome metabólica e eventos sem causa aparente. Como fatores
secundários ou provocados estão: imobilização, pós-operatório, doença clínica aguda, câncer,
trauma, anticoncepcional hormonal e gravidez.
A embolia pulmonar ocorre como consequência de um trombo, formado no sistema
venoso profundo, que se desprende e, atravessando as cavidades direitas do coração, obstrui
a artéria pulmonar ou um de seus ramos.
ACHADOS CLÍNICOS
EXAMES COMPLEMENTARES
RADIOGRAFIA DE TÓRAX
Tem uma grande utilidade para excluir outras causas de dispneia e dor torácica. As
principais alterações correlacionadas com a embolia são áreas de hipoperfusão pulmonar,
imagens cuneiformes, dilatação da artéria pulmonar, atelectasia, derrame pleural e elevação
da cúpula diafragmática.
TROPONINA E BNP
Nos pacientes com embolia pulmonar, o aumento da troponina indica pior prognóstico
e maior risco de complicações. O aumento do peptídeo natriurético cerebral (BNP) indica
dilatação das câmeras cardíacas com maior risco de complicações.
D-DÍMEROS
O resultado poderá ser: alta probabilidade (indica grande chance de o paciente ter
EP, e, com esse resultado, já está indicada a anticoagulação), normal (se V/Q normal e baixa
probabilidade clínica de EP, praticamente está descartado o diagnóstico de EP) e não
diagnóstico (necessita de exames adicionais).
TOMOGRAFIA DE TÓRAX
ARTERIOGRAFIA PULMONAR
ECOCARDIOGRAMA
TRATAMENTO
Classificação Definição
Baixo risco - EP na ausência de marcadores de maior risco
Intermediário risco - EP no paciente normotenso, mas que apresenta achados
de disfunção de VD ou necrose do miocárdio
Alto risco - EP com hipotensão sustentada (>15 min) ou que requer
droga
- O quadro não é causado por arritmia, hipovolemia, sepse
ou disfunção de VE.
• Baixo Risco De Morte: O tratamento de escolha é feito com heparina de baixo peso
molecular (HBPM) ou fondaparinux, desde que não haja contraindicações.
• Risco Intermediário: Há recomendação de trombólise naqueles pacientes que têm risco
de sangramento baixo, nas situações em que o custo-benefício é razoável e em EP
intermediários que estão evoluindo de forma ruim ou que possuem achados de prognóstico
adverso.
• Alto Risco: Suportes hemodinâmicos e respiratórios são essenciais. Não se recomenda a
HBPM ou fondaparinux nessa situação. Deve-se prescrever a heparina comum IV em
bolus, seguida de bomba de infusão contínua. Há indicação de trombólise.
EDEMA AGUDO DE PULMÃO
Edema agudo de pulmão (EAP) é o acúmulo de líquido extravascular no parênquima
pulmonar. Isso ocorre quando o movimento de líquido do sangue ao interstício e alvéolos
excede a drenagem pelos linfáticos.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
ACHADOS CLÍNICOS
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
PRÉ-HOSPITALAR
SERVIÇO DE EMERGÊNCIA
O acidente vascular encefálico (AVE) é a lesão neurológica aguda que corre como
resultado principalmente de duas condições: isquemia cerebral por trombose, embolismo ou
hipoperfusão sistêmica e hemorragia cerebral (intracerebral ou subaracnóidea). Mundialmente,
os AVE’s são a segunda maior causa de mortalidade e a terceira de incapacidade, e sua
prevalência vem diminuindo nos países mais desenvolvidos e aumentando nos países
emergentes.
O manejo inicial dos AVEs é de extrema importância para o prognóstico do paciente e
devemos nos lembrar que “tempo é cérebro”. Os objetivos imediatos do atendimento são
minimizar a lesão cerebral, tratar as complicações médicas e iniciar a avaliação da base
fisiopatológica dos sintomas do paciente.
CONDUTA INICIAL
Apesar de a grande maioria (80%) dos AVEs serem isquêmicos (AVEI), a conduta
inicial perante um caso de suspeita de AVE é o mesmo, independente da etiologia.
Deve-se suspeitar de um AVE quando o paciente apresentar déficit neurológico de
início súbito, com ou sem perda de consciência. Os sinais e sintomas mais comuns são:
A e B: monitorização respiratória
O dado mais importante é o horário preciso do início dos sintomas. Caso este dado
não seja disponível, deve ser considerado o horário como a ultima vez em que o paciente foi
visto assintomático. Deve-se também obter informação quanto a comorbidades, cirurgias
prévias, uso de fármacos anticoagulantes e história familiar.
O exame neurológico deve ser breve e sucinto, utilizando a Escala de Coma de
Glasgow e a escala de AVC do National Intitute of Health (NIHSS). A NIHSS (Figura 1) é a
escala mais utilizada para a avaliação da gravidade, evolução clínica e prognóstico do paciente
com AVE. Ela enfatiza os tópicos mais importantes do exame neurológico e uniformiza a
linguagem dos profissionais de saúde. É composta por 11 tópicos e sua pontuação varia de 0
a 42 pontos, sendo que uma pontuação maior ou igual a 20 indica AVE severo. Em casos de
AVEH, a ICH score deve ser realizada e em casos de hemorragia subaracnóidea, a escala de
Fisher e Hunt Hess, além da NIHSS.
Controle da Glicemia
Controle da Temperatura
Tomografia computadorizada
Exames Laboratoriais
AVE ISQUÊMICO
O AVEI é o tipo mais comum de AVE, correspondendo a 80% dos casos. Pode ocorrer
por 3 principais causas:
Tratamento do AVEI
Contraindicações relativas: HAS grave e não controlada, admissão com PAS > 180,
ressuscitação cardiorrespiratória traumática ou >10 minutos, demência ou outras patologias
intratáveis, gravidez ou puerpério, úlcera péptica ativa, uso de cocaína.
As complicações mais comuns são edema cerebral, convulsões, transformação
hemorrágica e infecções, cada uma com seu manejo específico, não sendo o foco deste
capítulo.
AVE HEMORRÁGICO
Tratamento do AVEH
CRISE CONVULSIVA
As crises convulsivas são desordens temporárias dos estímulos elétricas cerebrais que
resultam em contrações musculares intensas e generalizadas. Várias são as causas para as
crises convulsivas, tais como epilepsia (que corresponde a uma desordem cerebral crônica, de
várias etiologias, caracterizada por crises epilépticas recorrentes, conseqüência de descargas
neuronais excessivas e sincrônicas), TCE, abstinência de álcool e drogas, encefalite, AVE etc.
No atendimento inicial a um paciente com crise convulsiva, devemos investigar as
comorbidades, o uso de medicamentos, álcool e drogas ilícitas, a história de TCE e história
familiar de epilesia. Devemos também saber diferenciar as crises convulsivas, que duram
menos que dois minutos e muitas vezes não necessitam de tratamento farmacológico, do
estado de mal epiléptico, caracterizado por crises continuas com duração maior do que 5
minutos e que necessitam de tratamento farmacológico apropriado.
A maior parte das crises convulsivas regride espontaneamente em até 2 minutos, sem
a necessidade de uso de benzodiazepínicos ou drogas antiepilépticas. Entretanto,
aconselha-se que seja garantido um acesso venoso periférico o quanto antes para que os
medicamentos necessários possam ser administrados caso a crise se prolongue.
O paciente deve ser posicionado em decúbito lateral, protegendo-o de maneira a
evitar que o paciente caia da maca ou se machuque. Não se deve tentar abrir ou introduzir
nada na boca do paciente durante a crise. O paciente deve ter no mínimo uma pessoa
monitorando-o durante toda a crise, até que esta tenha passado e a respiração do paciente
volte ao normal. Após as crises, é comum que o paciente se sinta sonolento ou com cefaléia.
Passada a crise, deve-se tentar conversar com o paciente ou acompanhantes para recolher
o maior numero de informações quanto a historia prévia e familiar de epilepsia,
medicamentos em uso e doses, uso de substâncias e abstinência, outras comorbidades,
como diabetes, distúrbios eletrolíticos e doenças renais. Exames complementares podem ser
úteis no caso se uma primeira crise não associada a TCE, sendo solicitados exames
laboratoriais (eletrólitos, glicemia, cálcio, magnésio, provas de função renal e hepática), além
de possíveis exames de imagem e eletroencefalografia.
As crises convulsivas são uma complicação comum após o TCE. Sabe-se que a
principal causa de epilepsia sintomática em pacientes entre 15 e 24 anos são os TCEs. As
crises convulsivas pós-TCE podem ser divididas em precoces e tardias.
As precoces ocorrem em até uma semana após o trauma e são eventos sintomáticos
agudos e normalmente não representam epilepsia. Cerca de metade acontece nas primeiras
24 horas, sendo a maioria do tipo tônico-clônica generalizada. Pacientes com TCE severo ou
moderado e pacientes com TCE leve e convulsões devem realizar uma TAC de crânio para
melhor avaliação. Sabe-se que crises precoces estão associadas a uma maior incidência de
sangramento intracranial, o que aumenta o risco de complicações em longo prazo. O
eletroencefalogama não tem valor nas crises agudas.
Apesar das crises pós TCE normalmente não recorrerem, é preconizado o tratamento
medicamentoso com drogas antiepilépticas devido ao risco de estado e mal epiléptico ou piora
sistêmica. Dá-se preferência ao uso da fenitoína, devido ao fato de não causar sedação
significativa. Normalmente o tratamento é mantido até a alta do paciente e o medicamento é
retirado aos poucos nas semanas subseqüentes.
As crises que ocorrem mais de uma semana após o TCE são chamadas tardias e
refletem um dano estrutural e fisiológico permanente no cérebro, normalmente representando
uma possível epilepsia pós-traumática. Cerca de 85% dos pacientes apresentam crises
recorrentes sem o tratamento medicamentoso e por isso o tratamento a longo prazo com
anticonvulsivantes é recomendado.
17. TABELA PARA ATENDIMENTO INICIAL AO TRAUMATIZADO
Jean Raitz Novais