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O artigo “Análise de Conteúdo”, elaborado por G. B. Rossi, F. A Serralvo e B. N.

João e publicado em 2014 pela Revista Brasileira de Marketing discorre de forma


introdutiva sobre algumas das metodologias mais utilizadas para realização de análise de
conteúdo. Através da revista em que foi publicado, é notável que esta metodologia pode
ser utilizada em marketing e consequentemente em estudos relacionados ao turismo
considerando toda a cadeia que envolve esse fenômeno, como a percepção dos visitantes
e dos anfitriões, a busca pelo fomento do turismo em locais potenciais etc.

Segundo os autores, a análise de conteúdo é uma metodologia tradicionalmente


quantitativa, mas que uma abordagem qualitativa está cada vez mais sendo utilizada nos
últimos anos. Essa afirmação, indica uma certa versatilidade no método podendo
contribuir em diferentes formatos de pesquisas.

Para a realização desse tipo de estudo primeiramente é importante decidir em que


tipo de análise o estudo será focado, se será realizada uma abordagem qualitativa (latente)
ou quantitativa (manifesto). A análise quantitativa é realizada de acordo com o que o texto
diz e atua com descrição e componentes claros referindo-se a conteúdos manifestos
contáveis. Já as análises que tratam aspectos que envolvem a interpretação e o significado
oculto do texto da forma em que são referenciados, é definido como um conteúdo latente
e considerado abordagem qualitativa. Para conferir embasamento à sua afirmativa Rossi,
cita 2 autores de temporalidades diferentes um de 1992 e outro do ano 2002.

De acordo com essas duas possíveis abordagens para análise de conteúdo, é


notável a sua possibilidade para utilização em pesquisas sobre o turismo, sejam elas no
âmbito econômico mercadológico ou ainda em análises epistemológicas.

Após essa introdução os autores inserem uma revisão de literatura para demonstrar
a origem, o histórico e a evolução da análise de conteúdo contextualizando assim a sua
utilização e na sequência seguem inserindo as definições e os tipos de metodologia
comumente utilizados.

Com a revisão de literatura foi observado que os primórdios desse método datam
do século 18 evoluindo ao longo do tempo e já no século 20 se consolida durante a
Segunda Guerra Mundial onde os Estados Unidos o utilizou como um método científico
rigoroso para analisar e avaliar a propaganda inimiga. Seguindo o contexto temporal,
inicialmente a análise de conteúdo era utilizada de forma qualitativa ou quantitativa,
posteriormente se firma como um método qualitativo e mais recentemente, a partir da
década de 90 conforme as indicações bibliográficas do texto é reconhecido o potencial
deste método em pesquisas qualitativas, podendo ser definido como um “método para a
interpretação subjetiva do conteúdo de dados de texto por meio de processos de
classificação sistemática de codificação e da identificação de temas ou padrões”.

Após a revisão da literatura, os autores adentram sobre os diferentes conceitos


atribuídos a ao método de análise de conteúdo, citando a definição formal “técnica de
pesquisa para obter inferências válidas e replicáveis dos dados em seu contexto” de 1980
que engloba mais três definições de diferentes autores entre as décadas de 50 (cinquenta)
e 60 (sessenta). É interessante destrinchar essas definições, já que separadamente
fornecem uma visão melhor das diferentes possibilidades dentro das metodologias de
análise de conteúdo.

De forma bem didática uma dessas definições cita que o método de análise de
conteúdo em sua clássica formulação versa: quem diz o que, para quem, com qual efeito?
Em outro caso, aborda de forma qualitativa o método de análise de conteúdo, em que
versa: análise de conteúdo é uma técnica quantitativa, sistemática e objetiva que descreve
o conteúdo manifesto de uma comunicação Com essas definições novamente pode-se
notar a funcionalidade deste método para utilização em estudos sobre o turismo, inclusive
de acordo com a realidade atual com a globalização do acesso a internet e dos sites
voltados ao setor, seja para a venda de hospedagens e pacotes ou sites com dicas e reviews
sobre destinos..

Os autores, afirmam que este método é conectado com a comunicação e refere-se


a fazer deduções replicáveis e objetivas em relação a mensagens de acordo com regras
explicitas, sendo passíveis deste tipo de metodologia cartas, jornais, músicas, histórias
curtas, documentos ou qualquer outro símbolo. De acordo com essa última passagem,
observa-se a importância desse método para análise de artigos científicos, ensaios e
resumos.

Após abordar as definições e conceitos, os autores apresentam os detalhes


específicos dos tipos de análise, iniciando pelos dois tipos genéricos considerados para
análises quantitativas, a análise conceitual ou a relacional.
A análise conceitual foca na definição de um conceito o qual é quantificado
através de códigos (palavras, frases), muito utilizado para análise de discursos. Os autores
citam por exemplo discursos políticos, utilizando a codificação de algumas palavras para
quantificá-las podendo se estabelecer uma classificação entre palavras positivas ou
negativas. Sobre a pesquisa, a intenção é relacionar a presença de palavras que dialogam
com o tema a ser pesquisado.

Após essa conceituação os autores discorrem sobre a metodologia, em que no


primeiro momento se deve decidir o nível de análise que será realizada, escolhendo como
código uma palavra ou um conjunto de palavras ou frases. A partir desse ponto, deve-se
decidir em quantos conceitos e categorias serão codificados, se todas as palavras positivas
e negativas serão codificadas ou se apenas as que o pesquisador julgar relevante e
definindo se vai haver alguma flexibilidade dentre os conjuntos de conceitos definidos, o
que pode contribuir para o resultado final.

O próximo passo, é decidir se a codificação será realizada por existência ou


frequência, sendo esta segunda opção uma indicação da importância do conceito o que
pode contribuir para uma pesquisa mais relevante. Seguindo a ordem indicada no texto,
deve-se definir como serão distinguidos os conceitos para que as diferenças semânticas
não impliquem em resultados errôneos e desenvolver regras para codificar os textos
validando ou invalidando as categorias conceituadas.

Neste ponto, se faz necessário decidir o que fazer em relação as informações


relevantes, se estas serão ignoradas ou se poderão ser utilizadas para reexaminar o
esquema de codificação. Enfim, deve-se codificar o texto, de forma manual, que pode
identificar erros mais facilmente ou com auxílio de softwares que agiliza o trabalho, mas
que em contrapartida deve se ter um bom preparo quanto a construção das categorias,
principalmente quando se tratar de codificação com informação implícita.

Por fim, será realizada a análise dos resultados, onde são pesquisados os dados
decorrentes da codificação/identificação e a decisão sobre o que fazer com as informações
não codificadas. Cabe destacar que a análise conceitual é uma metodologia quantitativa,
possuindo limitações, mas que indica tendências que são indicadores de ideias mais
amplas. Essa metodologia pode ser utilizada em turismo para análise de conteúdos em
sites de reviews sobre destinos, ou ainda para indicar a tendência de adjetivos atribuídos
a um atrativo turístico, ou a um determinado estabelecimento, ou anfitrião sejam eles
positivos ou negativos.

Prosseguindo com o desenvolvimento do texto, os autores discorrem sobre a


metodologia para a realização da “Análise de Conteúdo Relacional”, também chamada
de análise semântica. Esta metodologia também se inicia com a identificação de
conceitos, mas que vai além estabelecendo relação entre os conceitos identificados, se
tornando assim uma metodologia qualitativa.

De forma a contextualizar a análise relacional são apresentadas duas abordagens


teóricas que podem ser utilizadas, a linguística e a ciência cognitiva. A primeira enfoca a
análise dos textos a nível da unidade linguística, como tipicamente em uma oração a qual
analisa cada oração através de um procedimento que utiliza notas numéricas baseadas em
diferentes escalas emocionais/psicológicas ou que pode codificar um texto
gramaticalmente em orações e partes de discurso para estabelecer uma matriz de
representação. Já a ciência cognitiva inclui a criação de mapas de decisão e modelos
mentais, os mapas têm o intuito de representar as relações entre ideias, crenças, atitudes
e informações disponíveis para o autor conforme um texto escolhido indicando relações
lógicas, inferenciais, causais, sequencial e matemáticas. Já os modelos mentais são
considerados como redes de conceitos inter-relacionados que refletem percepções
conscientes ou subconscientes da realidade.

Como primeiro passo para a realização da análise relacional, deve-se decidir quais
os conceitos serão explorados, considerando ainda que a análise relacional apresenta três
subcategorias, as quais estão resumidas abaixo:

- Extração afetiva: objetiva uma avaliação emocional dos conceitos explícitos no texto,
mas que possui como desvantagem a possibilidade de que a emoção pode variar no tempo
e espaço ou entre as populações;

- Análise de proximidade: busca investigar a ocorrência de conceitos explícitos no texto,


onde é feita uma janela com um dado conjunto de palavras determinado que é analisada
para a verificação de co-ocorrência de conceitos resultando na criação de uma matriz de
conceito. A desvantagem dessa técnica é que os recortes de janela explicitam conceitos e
tratam significados como co-ocorrência próxima;
- Mapeamento cognitivo: busca criar um modelo geral de significados do texto avançando
as análises dos resultados obtidos pela extração afetiva e a análise de proximidade,
podendo criar um mapa gráfico que pode representar a relação entre os conceitos o que
permite a comparação de conexões semânticas presentes no texto escolhido. Essa
metodologia pode indicar “como significados e definições mudam através de pessoas e
tempo”, o que pode ser utilizado em pesquisas sobre destinos turísticos e sua relação com
as pessoas que o usufruíram, indicando pontos negativos ou positivos, como por exemplo
ocorrência de overtourism, ou ainda indicando locais que antes não havia exploração
turística, mas que devido a algum fato passou a ser um destino turístico.

A partir dessa introdução aos conceitos, os autores indicam que nos próximos
parágrafos indicarão em como efetivamente realizar a análise de conteúdo através de uma
abordagem geral dos conceitos apresentados.

Para análise quantitativa, é apresentado um quadro resumo que indica o propósito


(características do conteúdo), as questões (Que? Como? Para quem? Qual o efeito? Por
quê?) e por último o problema de pesquisa, indicando assim de forma bem didática a
aplicação dessa metodologia.

Para a análise qualitativa, esta foca nas características da linguagem da


comunicação com atenção ao conteúdo ou significados contextuais do texto,
considerando que a realidade pode ser interpretada de várias formas e que um texto pode
ter vários significados, sempre havendo algum grau de interpretação. A análise qualitativa
engloba três abordagens, a convencional utilizada quando a descrição do fenômeno é o
objetivo da pesquisa, a análise direta utilizada para validar ou completar uma teoria ou
conceito e a análise acumulativa utilizada para se compreender o uso contextual de uma
palavra ou conceito.

Sendo assim, conforme conclui os autores, as análises de conteúdo podem ser utilizadas
de forma quantitativa ou qualitativa, sendo está última mais extensa e profunda, podendo
identificar a relação entre os termos/temas centrais a pesquisa que podem propor
hipóteses que poderão ser verificadas por técnicas de estatística multivariadas. A análise
de conteúdo pode ainda ser utilizada na revisão de literatura, sendo um importante
instrumento para se identificar modelos teóricos e construção de hipóteses.
Como a minha pesquise pretende realizar uma vasta investigação sobre os artigos
publicados até o momento sobre as Unidades de Conservação no Estado do Rio de
Janeiro, este tipo de metodologia pode ser útil para se identificar as problemáticas
abordadas nestes estudos, indicando tendências e pendências, que após análise podem
indicar as necessidades futuras para o fomento do turismo nessas áreas.

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