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ENSINO DE CIÊNCIAS POR INVESTIGAÇÃO E O PROGRAMA DE

RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: UMA EXPERIÊNCIA NO FORMATO


ONLINE
Raissa de Paula Pimenta 1
Tatiana Schneider Vieira de Moraes 2

RESUMO

Fundamentação teórica: Este trabalho apresenta algumas considerações sobre o desenvolvimento de


uma proposta investigativa, conduzida em formato online no contexto do Programa de Residência
Pedagógica (PRP). O grupo de trabalho constituído teve por objetivo discutir, entre outras perspectivas,
questões afetas à inserção do Ensino de Ciências por Investigação na etapa do Ensino Fundamental.
Problema: Como que as atividades investigativas, efetivadas em formato online, podem contribuir para
o envolvimento dos alunos com processos de escrita, no contexto do PRP? Objetivo: investigar se o
aluno, ao se engajar em atividades de cunho investigativo em formato online, registra as ações que
vivencia. Percurso metodológico: pesquisa qualitativa, na qual os dados empíricos foram produzidos
a partir da aplicação de uma Sequência de Ensino Investigativa. Os dados gerados na forma de registro
gráficos foram analisados a partir de dois eixos temáticos: Registro de sistematização das atividades e
Registro de atividades experimentais. Os dados gerados na forma de transcrições das falas foram
analisados com base nos indicadores de Alfabetização Científica. Resultados: os registros e as falas da
criança podem favorecer a sua inserção em processos associados ao fazer científico, como a necessidade
de escrever e comunicar seus achados, atividade inerente ao trabalho investigativo. Considerações
finais: Esse cenário reforça a potencialidade do PRP, enquanto elemento articulador entre a universidade
e a escola básica, contribuindo para a instrumentalização de professores em formação inicial, a partir de
discussões relativas ao processo investigativo.

Palavras-chave: Ensino de Ciências por Investigação, Ensino Fundamental, Programa de Residência


Pedagógica, Online.

INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta algumas considerações sobre o desenvolvimento de uma


proposta investigativa, conduzida no formato online no contexto do Programa de Residência
Pedagógica (PRP) - Edital CAPES nº 01/2020 - (BRASIL, 2020). O desenvolvimento do
subprojeto da Pedagogia “Leitura e escrita em diferentes áreas do conhecimento” motivou o
desenvolvimento das ações propostas a partir da constituição de um grupo de trabalho formado
por três residentes bolsistas, três residentes voluntários, uma professora preceptora (escola
básica) e a docente orientadora (universidade). Esse grupo teve por objetivo discutir, entre
outras perspectivas, questões afetas à inserção do Ensino de Ciências por Investigação (ENCI)

1
Graduanda do Curso de Pedagogia, Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP de Marília - SP,
r.pimenta@unesp.br;
2
Docente do Curso de Pedagogia, Doutora em Educação e professora orientadora do Programa de Residência
Pedagógica, Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP de Marília - SP, tatiana.moraes@unesp.br
na etapa do Ensino Fundamental (EF). Entretanto, em função da situação pandêmica enfrentada
no Brasil e no mundo provocada pelo SARS-CoV-2 (Coranavirus disease, 2019, conforme
designação na língua inglesa) foi necessário repensar as ações propostas e desenvolver o projeto
em formato online. O redirecionamento do projeto foi bastante desafiador para o nosso grupo
de trabalho, que se propôs a refletir sobre estratégias para o engajamento das crianças em
processos autênticos de investigação científica, incluindo tarefas de resolução de problemas,
levantamento e teste de hipóteses e sistematização do conhecimento, de forma a articular o
universo da ciência com a linguagem científica.
O desenvolvimento de ações investigativas é apontado por Sasseron (2015) como um
processo inerente à própria construção de conhecimentos científicos, sendo a investigação um
caminho que pode oferecer condições para que os alunos resolvam os problemas apresentados
a eles e busquem situações que expliquem o fenômeno observado. A autora ainda argumenta
que o processo investigativo exige que o professor valorize a manifestação de pequenas ações
por parte dos alunos, assim como considere os erros apresentados por eles. Com essa
perspectiva, pode ser efetivado um trabalho de parceria, confiança e respeito entre professor e
alunos, no qual o aprendizado se dá de forma mútua, cujo objetivo central é permitir que o
processo investigativo seja concretizado em sala de aula. Essa abordagem pode ser entendida
como um caminho possível para a compreensão dos conhecimentos de Ciências, bem como
uma forma de desenvolver a Alfabetização Científica (AC) dos alunos a partir de diferentes
atividades, como aula de campo, experimentos, leituras de diversos gêneros textuais, dentre
outras possibilidades. Assim [...] “contamos com a curiosidade, a perspicácia e a sagacidade
próprias das crianças desta faixa etária como motores de propulsão para as diversas e diferentes
formas de buscar resolver problemas e explicá-los aos demais” [...] (SASSERON e
CARVALHO, 2008, p. 338).
Para tanto, a proposição de Sequência de Ensino Investigativas (SEI) (CARVALHO,
2013) podem representar uma proposta pedagógica sistematizada que articula as ações do
professor e a efetivação de um processo investigativo que valoriza o aluno como protagonista
de sua aprendizagem. O trabalho com a SEI pode ser realizado a partir da proposição de
problemas investigativos, que possibilitam o levantamento e teste de hipóteses por parte dos
alunos, associado a proposição de atividades manipulativas, experimentais ou não, leitura de
textos de sistematização do conhecimento, entre outros elementos que permitam o engajamento
dos alunos em ações investigativas. [...] “Estes indicadores são algumas competências próprias
das ciências e do fazer científico: competências comuns desenvolvidas e utilizadas para a
resolução, discussão e divulgação de problemas em quaisquer das Ciências” [...] (SASSERON
e CARVALHO, 2008, p. 338).
Com base no entendimento que as atividades investigativas podem representar um
caminho possível para as propostas que almejam a Alfabetização Científica, emerge a questão
central desta investigação: Como que as atividades investigativas, efetivadas em formato online
podem contribuir para o envolvimento dos alunos com processos de leitura e escrita, no
contexto do Programa de Residência Pedagógica?
Com essa perspectiva, este trabalho objetiva investigar se o aluno, ao se engajar em
atividades de cunho investigativo em formato online, registra as ações que vivencia. Dessa
forma, buscamos compreender a importância da escrita articulada às atividades investigativas
como uma ferramenta inerente ao trabalho de construção de conhecimento em um processo
investigativo no contexto do Programa de Residência Pedagógica.
O PRP é uma iniciativa da CAPES que integra a Política Nacional de Formação de
Professores do Ministério da Educação, visando intensificar a formação prática nos cursos de
licenciatura e promover a integração entre a educação básica e a educação superior (BRASIL,
2019). Com esse propósito, o PRP preenche algumas lacunas urgentes que são relativas à
necessidade de um Projeto Político Pedagógico explícito para a formação docente e coloca o
estágio como um possível articulador desse processo formativo. A partir das ações efetivadas
pelos residentes na escola campo vinculada ao Programa de Residência Pedagógica, este relato
apresenta possibilidade de inserção do Ensino de Ciências por Investigação no formato online.

Ensino de Ciências por Investigação

Estudos relativos ao Ensino de Ciências por Investigação e a proposição de Sequência


de Ensino Investigativa pautaram a sistematização do relato ora apresentado.
Carvalho (2013) argumenta sobre a importância de um problema para a construção
inicial de um conhecimento no contexto da sala de aula. A autora explora a ideia de que a
proposição de um problema para que os alunos possam resolver, representa uma ruptura com o
ensino tradicional e expositivo, o qual é centrado na figura do professor, para um ensino em
que se estabelece condições ao aluno, com a perspectiva de fomentar seu raciocínio científico
e engajá-los em processos autêntico de construção de conhecimento.
Sendo assim, é possível compreender que, no ensino expositivo o professor detém o
conhecimento e o aluno apenas procura assimilar esse conhecimento, na maioria das vezes, sem
senso crítico e sem protagonismo. Com a proposição de situações problemas e atividades
manipulativas, experienciais ou não, o professor pode organizar situações pedagógicas que
envolvam o aluno no processo de construção de um novo conhecimento. Dessa forma, o
professor assume um papel de orientar e auxiliar nas reflexões do estudante, entendendo a
importância da tomada de consciência que alunos precisam ter em relação às suas ações.
O planejamento de uma Sequência de Ensino Investigativa tem o intuito de engajar o
aluno na construção de um dado conceito, contemplando atividades manipulativas, incluindo
um experimento, jogos ou leitura de texto/imagens para o desenvolvimento da questão ou
problema. A passagem da ação manipulativa para a construção intelectual do conhecimento
pode ser efetivada a partir da sistematização do conteúdo trabalhado, sendo a mediação do
professor uma estratégia valiosa para esse momento (CARVALHO, 2013).
Ao possibilitar aos alunos o envolvimento com as diferentes linguagens das Ciências,
potencializamos a inserção desse aluno na cultura cientifica, corroborando com a ideias de
Lemke (1997) que evidência: ‘ensinar Ciências é ensinar a falar Ciências’. Por isso é importante
que essa introdução seja feita pelo professor, entendendo que ele é o adulto mais experiente na
sala de aula, que pode também conduzir os alunos da linguagem cotidiana para a linguagem
científica.
Carvalho (2013) define as Sequências de Ensino Investigativas como:
“(...) sequências de atividades (aulas) abrangendo um tópico do programa escolar em
que cada uma das atividades é planejada, sob o ponto de vista do material e das
interações didáticas, visando proporcionar aos alunos: condições de trazer seus
conhecimentos prévios para iniciarem os novos, terem ideias próprias e poder discuti-
las com seus colegas e com o professor passando do conhecimento espontâneo ao
científico e tendo condições de entenderem conhecimentos já estruturados por gerações
anteriores.” (CARVALHO, 2013, p. 7).

Em complemento, Sasseron (2015) evidencia que as SEIs consideram o encadeamento


de algumas atividades propostas com o intuito de inserir uma determinada temática em
contextos investigativos, estabelecendo relações entre essa temática, os conceitos, as práticas
científicas e as questões sociais que circundam o conhecimento trabalhado.
A Sequência de Ensino Investigativa deve privilegiar algumas atividades centrais
como menciona Carvalho (2013), incluindo a proposição de um problema, experimental ou
teórico e o levantamento e teste de hipóteses, como forma de apresentar aspectos essenciais
sobre a temática estudada aos alunos, possibilitando que eles pensem e trabalhem com variáveis
relevantes do fenômeno científico observado. Em seguida, o professor pode priorizar atividades
de sistematização do conhecimento, na quais os alunos são envolvidos com leitura de um texto
escrito, científico, de literatura, de livros didáticos, de jornais ou revistas com o intuito de
ampliar os conhecimentos relativos à temática estudada e procurar explicações para a resolução
do problema proposto, comparando situações e refletindo com os colegas sobre as possíveis
soluções apresentadas para resolver o problema. “Uma terceira atividade importante é a que
promove a contextualização do conhecimento no dia a dia dos alunos, pois nesse momento eles
podem sentir a importância da aplicação do conhecimento construído do ponto de vista social”
(CARVALHO, 2013, p. 7).
Dessa forma, a implementação da SEI considera a proposição de ciclos investigativos
que podem garantir que tanto as atividades manipulativas quanto as propostas de leitura de
textos, sejam efetivadas de forma investigativa, envolvendo os alunos em problemas que
precisam ser resolvidos.

PERCURSO METODOLÓGICO

No contexto do Programa de Residência Pedagógica, as ações foram efetivadas em


formato online em parceria com a escola campo, vinculada ao programa. O objetivo da proposta
foi articular aspectos do ENCI com a escola básica, no contexto da leitura e da escrita,
apresentando um enfoque predominantemente qualitativo. Sendo assim, foi estruturada uma
Sequência de Ensino Investigativa (SEI), pautada nos pressupostos de Carvalho (2013).
Lüdke e André (2004, p. 18) apontam que uma pesquisa de natureza qualitativa “se
desenvolve numa situação natural, é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível
[...] focalizando a realidade de forma complexa e contextualizada”. As autoras evidenciam
ainda que os dados produzidos neste contexto permitem a análise e interpretação de fatos e
fenômenos exatamente como ocorrem no real, embasados em uma fundamentação teórica
consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado.
O percurso metodológico foi efetivado a partir da organização de Sequências de Ensino
Investigativas (SEIs) (CARVALHO, 2013) oferecidas online e em formato de Oficina
Pedagógica. O nosso grupo de trabalho sistematizou três Oficinas Pedagógicas, as quais foram
disponibilizadas aos pais por meio de formulário eletrônico (plataforma GoogleForms),
informando as temáticas que seriam trabalhadas com os alunos e o período para o oferecimento
de cada oficina. Foi elaborado um folder com a proposta de cada oficina e esse material foi
enviado aos pais, via WhatsApp pela professora preceptora.
Os temas das Oficinas Pedagógicas elaboradas por nosso grupo de trabalho foram: 1) “A
cobertura vegetal e a sua importância para o ciclo da água”; 2) “O que é sustentabilidade?” e 3)
“Ar puro – Essencial para o sustento da vida”
Após o período de inscrição, foram criados três grupos de WhatsApp (com contato dos
pais, disponibilizado no formulário eletrônico) para cada oficia. Dessa forma, os residentes
responsáveis por cada oficina puderam interagir com os pais, enviando informações sobre dia
e horário de oferecimento, link de acesso aos encontros, bem como materiais relativos à
temática de estudo. Por sua vez, os pais poderiam usar o mesmo canal para tirar dúvidas ou
enviar fotos dos registros dos alunos ou vídeos das atividades realizadas.
Importa destacar que para este relato serão descritas as ações efetivadas no âmbito da
Oficina Pedagógica intitulada de “A cobertura vegetal e a sua importância para o ciclo da água”,
a qual foi aplicada aos alunos inscritos na referida oficina, de forma online, a partir da utilização
da plataforma Google Meet. A estruturação da oficina foi realizada a partir de encontros
periódicos entre a docente orientadora, os alunos residentes do PRP e a professora preceptora.
Os princípios éticos foram adotados preservando-se os nomes dos participantes
envolvidos e da escola-campo, bem como mediante termo assinado e recolhido pela escola
sobre o direito de imagem das crianças.
A partir da aplicação da SEI (Oficina Pedagógica) foram obtidos dados na forma de: 1)
registros gráficos (desenho e escrita) das crianças, os quais foram enviados pelos pais, via
WhatsApp e 2) transcrições das falas das crianças, a partir da gravação das interações online ou
dos vídeos enviados pelos pais.
Os dados empíricos produzidos na forma de registro gráficos foram analisados com base
na técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2011), a partir da elaboração de eixos temáticos
de análise, a saber: Registro de sistematização das atividades, Registro de experiência. Os dados
produzidos na forma de transcrições das falas das crianças foram analisados com base nos
indicadores de Alfabetização Científica (SASSERON; CARVALHO; 2008)
Em decorrência de algumas dificuldades no processo de envio dos registros pelos pais
das crianças, importa destacar que não foi possível categorizar todos os registros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base no referencial teórico e metodológico do Ensino de Ciências por Investigação


foi estruturada uma SEI, a qual foi aplicada online, em formato de Oficina Pedagógica,
mediante a inscrição dos alunos interessados. Essa proposta foi configurada como atividade de
regência do Programa de Residência Pedagógica, que de acordo com a portaria CAPES
259/2019 (BRASIL, 2019, art. 3º) “o PRP tem por finalidade promover a experiência de
regência em sala de aula aos discentes da segunda metade dos cursos de licenciatura, em escolas
públicas de educação básica, acompanhados pelo professor da escola”. Com essa perspectiva,
a proposta foi pautada nos pressupostos teóricos e metodológicos de Carvalho (2013) para a
elaboração de Sequência de Ensino Investigativa (SEI), que compreende um conjunto de
atividades, intencionalmente planejadas, envolvendo um conteúdo escolar e organizada de
modo a privilegiar as discussões dos alunos durante a resolução de problemas, permitindo o
levantamento de hipóteses, a sistematização do conhecimento e o registro das atividades
realizadas.
As Oficinas Pedagógicas foram divulgadas pela professora preceptora no grupo de
WhatsApp dos pais dos alunos do 2º e 5º anos, contendo um folder com link de acesso à um
formulário eletrônico, criado pela plataforma GoogleForms, no qual foram disponibilizadas as
informações relativas à três Oficinas Pedagógicas organizadas pelo nosso grupo de trabalho.
Os pais das crianças, bem como as próprias crianças poderiam escolher uma oficina ou então,
poderiam optar por participar de 2 ou 3 oficinas, uma vez que elas não foram oferecidas de
forma concomitante. O quadro 1 apresenta os temas das oficinas oferecidas e quantidade de
alunos inscritos.

Quadro 1: Oficinas Pedagógicas oferecidas no PRP e disponibilizadas para inscrição na plataforma


GoogleForms.
Oficina Pedagógica Quantidade de crianças
inscritas (*)
A cobertura vegetal e a sua importância para o ciclo da água 12
O que é sustentabilidade? 08
Ar puro – Essencial para o sustento da vida 08
Fonte: Dados produzidos – PRP 2021. (*) uma criança desistiu de participar com a justificativa de não
ter acesso a internet no momento da oficina.

Em relação ao ano em que as crianças participantes das Oficinas Pedagógicas estão


matriculadas foi possível identificar o perfil apresentado através do gráfico disponibilizado pelo
GoogleForms, sendo: 5º ano - 50% das crianças; 4º ano - 41,7% das crianças e 2º ano - 8,3%
das crianças.
Antes do início de cada oficina foram organizados kits pedagógicos específicos contendo
materiais experimentais, textos de apoio e material para registro das ações realizadas. Esses kits
foram enviados para a escola-campo e os pais dos alunos inscritos foram convidados a retirar o
kit com a coordenação da escola, em período específico informado no grupo de WahtsApp dos
pais.
Para esta comunicação serão detalhadas as ações desenvolvidas no âmbito da SEI “A
cobertura vegetal e a sua importância para o ciclo da água”, que teve por objetivo discutir sobre
os diferentes tipos de solos bem como a importância de prever a construção de casas ou rodovias
que respeitem a natureza. O kit pedagógico enviado para as crianças foi composto por:
Materiais experimentais - pedaços de barbantes, copo descartável com furos, 3 tipos de solos
(terra vermelha, areia e uma terra com pedaços de madeira e galhos) e alpiste. Objetivo: simular
a mata ciliar e discutir sobre a importância da sua preservação para o solo; Textos de apoio
sobre a temática a ser estudada com o objetivo de sistematizar os tópicos apresentados sobre a
compreensão da importância da mata ciliar e florestas, bem como estimular a interpretação
textual, com a seleção de palavras novas e criação de vocabulário específico; bem como folhas
de registos das ações desenvolvidas.
Essa oficina foi organizada com 5 encontros virtuais consecutivos (Quadro 2). Ao
término da oficina foi disponibilizado um certificado de participação para cada criança inscrita,
o qual foi enviado no WhatsApp de cada responsável.

Quadro 2: SEI aplicada em formato online para alunos do EF inscritos na Oficina Pedagógica.
TÍTULO: “A cobertura vegetal e a sua importância para o ciclo da água”
Problema de investigação: ‘Por que é importante compreender a importância da cobertura
vegetal para a manutenção do ciclo da água?
ENCONTRO 1 Entrega dos Kits Pedagógicos (Foto1) e montagem do experimento
para o último encontro (Foto 2).
ENCONTRO 2 Leitura e descoberta de novas palavras encontradas no texto: “A
Função das Florestas na Manutenção da Temperatura Local”;
Apresentação de PPT.
ENCONTRO 3 Produção textual; Apresentação de reportagens locais a respeito de
erosão;
Apresentação de PPT. (Foto 3)
ENCONTRO 4 Roda de conversa;
Apresentação de vídeo do Show da Luna: Como a água vira chuva;
Proposta de atividade: Nuvem, qual sua função no ciclo hidrológico;
Explicação sobre a mata ciliar.
ENCONTRO 5 Apresentação PPT;
Roda de conversa;
Contextualização por meio de desenho feito pelos alunos;
Discussão sobre a experiência dos diferentes tipos de solos (Foto 4).
Fonte: Dados produzidos – PRP 2021.

No conjunto das descrições das ações efetivadas, são apresentadas algumas fotos dos
elementos destacados nos encontros descritos acima.
Foto 1: Kits pedagógicos enviado para as Foto 2: Montagem do experimento.
crianças (via coordenação da escola).

Fonte: Dados produzidos – PRP 2021. Fonte: Dados produzidos – PRP 2021.

Foto 3: Print de tela com momentos da Foto 4: Foto do experimento organizado pela
apresentação em PPT. criança e apresentado no último encontro.

Fonte: Dados produzidos – PRP 2021. Fonte: Dados produzidos – PRP 2021.

Ao término de cada encontro, foi solicitado que os alunos realizassem os registros


gráficos das ações vivenciadas por eles, bem como alguns trechos das discussões foram
transcritos. Esses dados foram analisados com base nos eixos temáticos propostos
anteriormente, bem nos indicadores de AC (SASSERON; CARVALHHO; 2013).
A Figura 1 apresenta um Registro de sistematização das ações realizadas pela criança,
no qual ela apresenta o ciclo dá água, nomeando os processos de evaporação e condensação.
De acordo com Carvalho (2013) o processo de sistematização das ideias contribui para a
compreensão do problema investigado e pode ser feito a partir da discussão de um texto que
utiliza uma linguagem mais formal sobre o assunto estudado e possibilita a compreensão dos
fenômenos observados.
A Figura 2 apresenta um Registro de atividade experimental no qual a criança relata as
observações efetivadas durante o desenvolvimento do experimento. Silva (2017) aponta que os
registros classificados como “relatos de experimentos” representam um gênero textual típico
da cultura científica e apresentam indícios da interação dos alunos com a cultura científica uma
vez que evidenciam, de forma mais relevante, o uso da escrita, enquanto elemento do fazer
científico.

Figura 1: Registro de sistematização das Figura 2: Registro de atividade


atividades experimental

Fonte: Dados produzidos – PRP 2021. Fonte: Dados produzidos – PRP 2021.
Transcrição da fala da criança ao apresentar seu Transcrição da fala da criança ao apresentar
registro - “Eu fiz meio que o ciclo da água, e seu registro - “No primeiro quadradinho o
como o sol está quente, está na fase da vasinho com a semente germinada, ao
evaporação, depois dessa fase está indo para as colocarmos água, a água passou e não levou
nuvens, das nuvens tem a fase da condensação sujeira, no segundo quadradinho pintei o
que vai transformar em chuva”. vaso que tinha só a terra vermelha, quando
coloquei a água, a água passou para o
vasinho de baixo com muita sujeira e no
terceiro quadradinho quando coloquei água,
a água no vasinho está mais ou menos suja,
minha conclusão foi que a planta consegue
filtrar a água mesmo não sendo ar”.

Na sequência é apresentado um trecho transcrito do momento em que a residente


conversa com as crianças sobre o ciclo da água. Neste trecho fica evidente a presença dos
indicadores Levantamento de hipóteses, no qual a criança “coloca a prova as suposições
anteriormente levantadas (SASSERON; CARVALHO, 2008, p. 339). As autoras argumentam
ainda que esse indicador pode se apresentar na forma de afirmação ou pergunta, como é possível
de observar na fala da aluna A. Outro indicador presente nesse trecho é a Seriação de
informação, que “pode ser um rol de dados, uma lista de dados trabalhados” (p. 338) (Quadro
3).

Quadro 3: Trecho de transcrição das falas – Encontro 4


Participantes Fala transcrita Indicadores de AC
Residente O que vocês lembram do ciclo da
água? Que nomes vocês lembram?
Aluna A Bom assim, eu lembro de pouca coisa, Levantamento de
eu estudei quase outro dia mesmo, sei hipóteses
que é bem importante e que o ciclo da
água pode fazer chover, não? É, ela
sobe, evapora, vai e depois chove.
Aluno B Evaporação Seriação de informação
Aluna A Condensação Seriação de informação
Fonte: Dados produzidos PRP (2021).

O último momento da oficina teve o intuito de discutir com as crianças sobre o


desenvolvimento do experimento do plantio de alpiste em diferentes solos. Essa ação foi
essencial para sistematizar os conceitos estudados e refletir sobre a compreensão do problema
investigado a partir da constatação da importância da mata ciliar no solo. Nesse momento fica
evidente o indicador Explicação, proposto para o entendimento da situação analisada, o qual
“surge quando se busca relacionar informações e hipóteses já levantadas. (SASSERON;
CARVALHO, 2008, p. 339) (Quadro 4).

Quadro 4: Trecho de transcrição das falas – Encontro 5.


Participantes Fala transcrita Indicadores de AC
Residente (...) A água com a sementinha saiu
transparente porque se misturou. Outros
falaram porque filtra. Lembra que a gente
estava falando ontem sobre a mata ciliar? E
na mata ciliar, a importância dela porque
tinha as raízes e essas raízes seguram a terra?
Aluna C Ah! Agora eu raciocinei, agora eu entendi. Explicação
Por causa que a planta é tipo uma mata ciliar
para água, ela segura toda a sujeira para água
sair mais limpa.
Fonte: Dados produzidos PRP (2021).
Nesse trecho foi possível observar o momento em que a aluna compreende o objetivo
do experimento e utilizada o indicador “Explicação” apresentar seu argumento sobre a
importância da mata ciliar para o solo e para a água. Esse fala colabora para que todos os
envolvidos possam sistematizar a ideia de que a mata ciliar contribui para evitar o processo de
erosão, pela presença de raízes profundas, firmes e variadas, as quais atuam como uma
segurança para o solo, impedindo também que as impurezas sejam drenadas para o leito do rio.
A abordagem Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA) está vinculada à
educação cientifica e ambiental do cidadão e tem como princípio básico formar os alunos para
conviver em sociedade, permitindo uma articulação entre os saberes pessoais e cotidianos com
universo das Ciências. A importância de trabalhar com metodologias inovadoras que
privilegiam essa abordagem é urgente e de acordo com Pinheiro (2007), o enfoque CTSA pode
“ser introduzido já no ensino fundamental, a fim de formar um cidadão que tenha sua atenção
despertada para os aspectos que envolvem o contexto científico-tecnológico e social”.
De acordo com Pinheiro (2007) as questões ambientais permeiam nossas vidas, nosso
cotidiano e, de forma imediata, os problemas e temas ambientais estão cada vez mais presentes
nas mídias e nas artes, como músicas e cinema. Ao relacionar os problemas ambientais com as
questões cotidianas da vida das crianças, é possível desenvolver diferentes aspectos de sua
formação, considerando o aluno um cidadão que se relaciona com o mundo e é capaz de
transformar aquilo que está em sua volta. Essa perspectiva tem trazido contribuições muito
importantes para a educação.
Ao possibilitar o conhecimento científico para os estudantes com base na abordagem
CTSA, é possível refletir sobre a construção de conhecimentos e habilidades junto a valores
que são necessários para tomadas de decisões conscientes a respeito de questões como Ciência
e Tecnologia presentes em uma sociedade, bem como discutir sobre possíveis soluções para
essas questões.
A abordagem CTSA pode possibilitar a construção do conhecimento quando existe a
relação de troca entre os alunos com o professor, a percepção do local em que estão inseridos,
bem como valendo-se da apropriação de processos investigativos. A discussão e compreensão
dessas questões podem modificar a realidade em que vive esses alunos, transformando-os em
sujeitos reais da construção do conhecimento e participação crítica da sociedade em que vivem.
A organização da Oficina Pedagógica e sua consequente aplicação, em formato online,
para as crianças participantes representa uma etapa importante do processo de imersão dos
licenciandos no cotidiano da sala de aula, mesmo que em condições atípicas, fomentadas pelo
distanciamento entre as pessoas. A vivência das interações estabelecidas possibilitou
oportunidades reais para a reflexão de aspectos essenciais do Ensino de Ciências por
Investigação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no exposto foi possível compreender a efetivação de ações associadas ao
Ensino de Ciências por Investigação em um contexto online mediante a percepção do
engajamento das crianças com as atividades propostas. Esse processo foi evidenciado pelos
registros produzidos e pelas falas transcritas das crianças participantes da oficina.
Um dos grandes desafios da educação em Ciências da atualidade é promover a inserção
dos alunos com processos autênticos de Alfabetização Cientifica, visando contribuir para a
formação de sujeitos autônomos e auxiliando-os a participarem de forma efetiva da sociedade
em que vivem. Com esta perspectiva, o Ensino de Ciências por Investigação se apresenta como
uma possibilidade metodológica, que visa a promoção de atividades investigativas e o
envolvimento dos alunos com a resolução de problemas. Para tanto, o desenvolvimento de
Sequências de Ensino Investigativas propicia a organização do assunto a ser trabalhado e podem
potencializar o processo de ensino e aprendizagem, na medida em prioriza elementos da
investigação e diferentes linguagens da Ciências, bem como a possiblidade de valorizar as
questões locais, nas quais as crianças estão inseridas e contribuir para o processo de
Alfabetização Cientifica.
A proposição da SEI “A cobertura vegetal e a sua importância para o ciclo da água”,
oferecida no contexto do Programa de Residência Pedagógica possibilitou refletir sobre a
importância da utilização de diferentes atividades que podem proporcionar amplo acesso aos
aspectos da cultura cientifica e possibilitar a inserção da criança em processo de AC. Esse
cenário reforça a potencialidade do PRP, enquanto programa articulador entre a universidade e
a escola básica, contribuindo para a instrumentalização de professores em formação inicial, a
partir de discussões relativas ao processo investigativo, incluindo a proposição de problemas, o
levantamento e teste de hipóteses e a promoção de ações de sistematização do conhecimento
científico.
AGRADECIMENTOS

À CAPES pela proposição e efetivação do Programa de Residência Pedagógica.


Aos alunos da escola-campo que participaram das oficinas.
Aos colegas residentes, professores e orientadora pelas vivências efetivadas, as quais
contribuíram para a minha formação acadêmica.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BRASIL. EDITAL CAPES nº 01/2020. PROGRAMA DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA.


Chamada Pública para apresentação de propostas no âmbito do Programa de Residência Pedagógica,
2020. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/06012020-edital-1-2020-
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CARVALHO, A. M. P. O Ensino de Ciências e a proposição de Sequências de Ensino Investigativas.


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