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FORTALEZA - CEARÁ
2007
1
El
ESMP - ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO
UECE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
FORTALEZA - CEARÁ
2007
4 4
Universidade Estadual do Ceará - UECE
Centro de Estudos Sociais Aplicados - CESA
Coordenação do Programa de Pós-Graduação - Lato Sensu
*
COMISSÃO JULGADORA
JULGAMENTO
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94arcus 't2iníciusfimo tim tfr Oliveira Sani'fra Maria Pereira fMe&,
Orientador/Presidente/Mestre Membro/Mestre
4 SiMa Lúcia Correia Lima
Membro/ Mestre
3241.213
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PISTOLAGEM NO VALE DO JAGIJARIBE
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1*
Fortaleza - Ceará
2007
1s
AGRADECIMENTOS
Oliveira Maia
Is
RESUMO
i•
Este trabalho analisará os crimes de pistolagem no Vale do Jaguaribe, procurando
demonstrar através de leituras de livros e entrevistas com pessoas consideradas
Pistoleiros, desvendar o que leva um homem enveredar por esse caminho, e o que foi
feito entre 1980 e 1990. A maioria dos entrevistados se dizem justiceiros e tem uma
História para contar do passado e de seu primeiro crime. A pistolagem remonta aos
tempos dos coronéis, dos grandes latifundiários, que no início tinham seus capangas
para protegê-los e defender suas terras, posteriormente passaram a ter guarda -
costas e homens de confiança. O pistoleiro de hoje tomou-se independente, "Pistoleiro
Profissional", fazendo o "serviço" para qualquer pessoa que em troca tenha um
• pagamento. Dai nasceu o Sindicato do Crime. A década de oitenta foi considerada a
de maior combate a esse tipo de crime. Houve várias prisões de "famosos Pistoleiros",
inclusive do Mainha, conhecido como maior Pistoleiro do Nordeste. Depois de sua
prisão, houve urna pequena trégua nos crimes praticados com características de
Pistolagem, mas, ele continua preso e os crimes de pistolagem continuam
acontecendo com mais intensidade e freqüência. É como o povo daquela região diz:
• "eles tem peças de reposição, é como enxugar gelo, nunca vão conseguir êxito total no
combate a esse tipo de crime".
1*
Is
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1
SUMÁRIO
1.
1 INTRODUÇÃO. 07
2.4 Os Diógenes..........................................................................................33
Is
CONCLUSÃO...................................................................................................53
REFERÊNCIAS................................................................................................55
1•
Is
1. INTRODUÇÃO
Escolhi a década de 80, por ter sido na minha opinião, a década que
mais se investiu no combate a pistolagem, quando foram presos os mais
1 famosos Pistoleiros inclusive o mais famosos dos Pistoleiros do Nordeste como
era publicada na imprensa local, foi capa de uma grande revista de circulação
nacional e hoje se encontra preso na cadeia pública de Maranguape - Ce, esse
famoso Pistoleiro a quem vou dedicar o terceiro capítulo é o Mainha (ldelfonso
Maia Cunha, famoso pistoleiro atualmente preso na cadeia pública de
Ia Maranguape) pessoa que tinha conhecido antes de sua prisão e voltei a
conversar com ele em entrevistas na cadeia de Maranguape, durante os meses
de fevereiro e março do corrente ano.
1s
Is 8
e ajudar meus conterrâneos depois de alguns anos fora, embora tenha nascido
e vivido sempre em Jaguaribara, tive os meus primeiros contatos com pessoas
ligadas ao assunto, quando fui procurado por dois homens, em minha
1* residência para atender um paciente à noite, pois um deles sofria de uma
odontalgia insuportável, e cumprindo o meu dever de profissional de saúde e o
juramento que tinha feito, fui atendê-lo já bem tarde da noite no consultório do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaguaribara, onde exercia minha
profissão, fiquei curioso quando todas as perguntas que eu fazia tinha como
Ia resposta o silêncio ou monossilábicas, sim ou não. Foi feito o atendimento,
sanada a dor e os dois foram embora: paciente e acompanhante. No outro dia,
soube se tratar de dois famosos pistoleiros: Mainha e Zé de Judite.
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is o
5
o 11
dos coronéis eram "seu pessoal", famílias humildes que diante da submissão
econômica dispunham seu voto como prova de fidelidade.
Is 12
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Esta, entre tantas outras saídas, como: democratizar as águas,
fazendo pequenas barragens para favorecer a piscicultura e evitar desperdício
para o mar, criar condições, junto a essas pequenas barragens, para
desenvolver distritos irrigados; transpor as águas do rio São Francisco, tão
alardeado em épocas eleitorais; enfim, politicamente as secas têm solução e
i.
são essas omissões por parte dos órgãos competentes que nos fazem
desacreditar das intenções de se fazer na prática uma política séria, voltada
para a coletividade, para essa gente tão calejada pelo sofrimento e pela fome.
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o 13
a) 20% (vinte por cento), quando concorrer apenas com a terra nua; (Redação da LEI NO
11,443 /05.01.2007)
(Redação anterior) - a) dez por cento, quando concorrer apenas coma terra nua;
b) 25% (vinte e cinco por cento), quando concorrer com a terra preparada: (Redação da LEI
a N°11.443/05.01.2007)
(Redação anterior) - b) vinte por cento, quando concorrer com a terra preparada e moradia;
e) 30% (trinta por cento), quando concorrer com a terra preparada e moradia; (Redação da
LEI NO 11.443 105.01.2007)
[1
(Redação anterior) - c) trinta por cento, caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias, constituído
especialmente de casa de moradia, galpões, banheira para gado, cercas, valas ou currais, conforme o
caso;
d) 40% (quarenta por cento), caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias,
constituído especialmente de casa de moradia, galpões, banheiro para gado, cercas, valas
Is
ou currais, conforme o caso; (Redação da LEI N° 11443 105-01-2007)
(Redação anterior) d) cinqüenta por cento, caso concorra com a terra preparada e o conjunto básico de
benfeitorias enumeradas na alínea c e mais ofomecimento de máquinas e implementos agrícolas, para
atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais de tração e, no caso de parceria pecuária,
com animais de cria em proporção superior a cinqüenta por cento do número total de cabeças objeto de
qp
parceria;
e) 50% (cinqüenta por cento), caso concorra com a terra preparada e o conjunto básico
de benfeitorias enumeradas na alínea d deste inciso e mais o fb.mecimento de máquinas e
implementos agrícolas, para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e
animais de tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em proporção
superior a 50% (cinqüenta por cento) do número total de cabeças objeto de parceria,
(Redação cia LEI N° 11.443 / 05.01.2007)
VÁ
Is 14
(Redação anterior) - e) setenta e cinco por cento, nas zonas de pecuária ultra-extensiva em que forem os
animais de cria em proporção superiora vinte e cinco por cento do rebanho e onde se adotem a meação
deleite e a comissão mínima de cinco por cento por anima! vendido;
O 75% (setenta e cinco por cento), nas zonas de pecuária ultra-extensiva em que forem
os animais de cria em proporção superior a 25% (vinte e cinco por cento) do rebanho e
onde se adotarem a meação do leite e a comissão mínima de 5% (cinco por cento) por
animal vendido; (Redação da LEI N° 11.443 105.01-2007)
1 (Redação anterior) -fi o proprietário poderá sempre cobrar do parceiro, pelo seu preço de custo, o valor
de fertilizantes e inseticidas fornecidos no percentual que corresponder à participação deste, em qualquer
das modalidades previstas nas alíneas anteriores;
g) nos casos não previstos nas alíneas anteriores, a quota adicional do proprietário será
fixada com base em percentagem máxima de dez por cento do valor das benfeitorias ou
dos bens postos à disposição do parceiro;
Porém, a dependência não pára por ai. A água era cedida pelo
coronel, de seu açude, reservatório construído em sua propriedade, pelo poder
municipal ou estatal através de um órgão Governamental existente na época a
'e COMPANHIA CEARENSE DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - CODAGRO.
A educação se dava em casas particulares, sendo os professores também
patrocinados pelo coronel. De fato, este gerava um enorme sentimento de
gratidão por parte pais que viam seus filhos com oportunidades de se projetar e
poder um dia conseguir um diploma. Tal sonho dificilmente se realizava.
Is
O coronel era também proprietário de uma bodega, termo que apesar
de pejorativo, se denomina no interior, pequeno comércio, onde era fornecido o
abastecimento das famílias que trabalhavam na propriedade quase que a base
de farinha e rapadura, em troca de trabalho ou produtos da terra.
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1.2 A PISTOLAGEM
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corajosos, que matam por dinheiro, capazes de arriscar suas próprias vidas por
seu patrão nos serviços que lhe são conferidos.
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1 Existem três tipos de pistoleiros:
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e
Is 22
O valor pago pelo 'serviço' deve ser suficiente para que o pistoleiro
fuja e consiga sustentar-se enquanto estiver longe de onde foi executado o
serviço. Normalmente o mandante providencia o lugar onde o executor possa
1 s se esconder.
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A pecuária foi uma atividade de destaque e permanente, fazendo
do leite, queijo e manteiga, ingredientes da cultura sertaneja. O gado apresenta
a extensão do círculo familiar. A lida com o rebanho significa para o fazendeiro
e sua gente uma terapia e amansar o touro bravo para o vaqueiro e
admiradores da tradição sertaneja, uma massagem ao ego.
Is 24
de presenciar tudo, ainda chegou a socorrê-lo, mas quando foi arrolado como
testemunha, começou o interrogatório dizendo ao Juiz que ele estava lá para
falar do que sabia a respeito da morte do senhor Fransquinho, mas quando
perguntado o que sabia a respeito do citado crime, respondeu como se nada
soubesse: "Esse homem era gente boa, tô sabendo agora porque o senhor está
me dizendo, é verdade esse homem morreu?"
a
Berço dos Diógenes, Jaguaribara passou momentos de muito medo
e muita apreensão, pois jamais alguém poderia discordar de um Diógenes.
Contam os residentes de Jaguaribara, que um dos capangas dos Diógenes
tentou assassinar um policial desferindo-lhe várias facadas, numa festa que se
realizava na quadra de esportes daquele município. Foi montado um cerco
25
1 a pessoa no conflito, alguém que entra na questão e vai silenciar uma das partes.
Ele é identificado, sobretudo pelo mistério em que foi praticado e pelo uso de
armas de fogo, pistola de onde advém à derivação ou qualquer outra arma
similar.
Homicídio simples
Art 121. Matar alguém:
TIR
*
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*
"Olha, se eu lhe disser uma coisa que eu nem conheço ele, você
acredita? Ele falou para um amigo meu e esse amigo me pediu: rapaz ele fez
isso.. ele tem muita raiva e vontade de fazer o serviço. O cara estuprou a
sobrinha dele, fez a maior estripulia com uma menina de 14 anos, só basta ser
pai de família para se revoltar com isso. Então eu disse: ah peste, você fez isso,
pois você vai pagar caro, e fiz" (Mainha , em uma das entrevistas na cadeia de
Maranguape).
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a 29
30
a
"O bandido quando vai operar numa área ele compra logo o mapa
da região, vai conhecer todos os caminhos, as veredas, aquela Jaguaribara eu
e conheço como a palma da minha mão, assim como o INCRA( INSTITUTO
NACIONAL DE COLONIZAÇÂO E REFORMA AGRÁRIA) conhece ali, eu fiz
isso, conheci a área todinha pra depois fuzilar Delmiro Ferreira" (Mainha em
uma das entrevistas).
EL
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1.
e 32
1e
* 33
e 2.4 Os Diógenes
o
e 34
1•
iS 35
Is 36
"Te livra da morte que eu te livro da prisão", era esse o lema dos
protetores e padrinhos do braço armado que se incumbia das questões
burocráticas relativas ao crime. A condescendência da Polícia e do Poder
1 Judiciário incentivou a violência na região Jaguaribana, levando as pessoas a
se considerarem juizes e advogados de causas próprias, porque nos sertões
não havia um poder neutro capaz de fazer a justiça acontecer em todas as
classes sociais. Contam casos, que quando a Policia organizava uma operação
para prender um pistoleiro, por exemplo, o Mainha, alguém ficava encarregado
Is de avisar para o pistoleiro o dia e hora em que a operação seria iniciada. Então,
quando a Policia chegava não encontrava ninguém, dai o povo da região
comentava: "à bicho de sorte, parece que adivinha".
Mas a questão não deve ser vista apenas do ponto de vista local,
Es existia uma estrutura maior responsável por este desalinho. O processo de
nomeações para esses delegados era inescrupuloso. A própria Secretaria de
Segurança perdeu as rédeas da situação, relegando as regionais do interior às
insanas prefeituras municipais, que abusando das atribuições legais,
ultrapassavam os limites da jurisdição do executivo apontando qualquer
Is cidadão para o cargo de delegado, esquecendo a preparação, os
conhecimentos e a maturidade necessários para esta árdua função.
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ensinei, e se você derrubar minha cerca não vai dar certo ". Como podemos
observar, a cultura das armas está enraizada no povo daquela região, quando
afirmam que não sabem ler, mas sabem atirar, como se em termos de beneficio
• pessoal fossem iguais. Conversei muitas vezes com Sr. Pedro, era um senhor
alto moreno que cultivava um bigode bem grande. Lembro-me de algumas
frases que ele costumava dizer quando alguém o cumprimentava: "como vai Sr.
Pedro?", ele respondia: "não vou muito bem não, porque para viver bem no
Ceará tem que ter três vezes cem, cem vacas no curral, cem mil no Banco e
cem léguas longe de um Diógenes".
o
*
• Pelo fato do MAINHA ser sempre citado em quase todos os livros que
tratam de pistolagem que li, em razão de ter sido considerado o maior matador
de aluguel da época e por ter se mostrado mais aberto e receptivo que os
demais entrevistados, que dedicarei este capítulo a ele, a sua vida, a sua
história e a seus crimes.
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entrevista).
1•
Depois de várias tentativas, finalmente a policia conseguiu prender o
rei da pistola, em agosto de 1988 Por mais de uma década Mainha driblou
tanto a polícia do Ceará quanto de outros Estados. Tal prisão, noticia em todos
.
t 41
a
3.1. Mainha, o maior pistoleiro do Nordeste
(.. .)
Dizia pra todo mundo
Na sua terra natal
• - Sou um bom atirador
E provo o meu natural
Assim sacava da arma
Provando ser marginal.
(..
No ano setenta e seis
Bem no mês de fevereiro
Dezessete foi o dia
Lá no bar de seu Pinheiro
Matou João Feitosa Costa
Com um tiro bem certeiro,
Este crime cometido
Foi por simples discussão
Pois Mainha discordou
Da estória de seu João
• Por dizer que seu cavalo
Era o melhor alazão.
Por viver sempre impune
Jamais fora a julgamento
E dado por esquecido
• O tal cenário cruento
Matou Paulino da Silva
E o Antônio do Jumento.
(. ..)
Pois do Rei da Pistolagem
Que muita gente tombou
Tirando as sua vidas
Por contrato que assinou
Is
43
• Da Policia Secretário
O terrível pistoleiro
Que já quase era lendário
Já deixou de ser o mito
Hoje é presidiário.
e
Fim
*
Autor: Guaipuan Vieira
Eu escrevi um folheto
De grande repercussão
A respeito de Mainha
• E sobre a sua prisão
Cujo folheto atingiu
A sua quinta edição.
Por causa disso Mainha
Me mandou uma mensagem
• Me enviando a mensagem
(. .
Que assim começo dizendo:
-"As duas grandes famílias
Com muito orgulho pertenço
Aos Maias pelo meu pai
Que sempre teve bom senso
Da mamãe herdei Diógenes
o
t 44
Is 45
1s
0.
"Onde está essa que se diz tal sociedade, mora aonde? Eu não conheço, os mais ricos são os
mais ladrões, os políticos são os mais safados, eu não conheço uma sociedade, me mostre um
rico que não é corrupto, eu digo isso porque já convivi com certos deles por aqui (Ceará). Os
caras que deram os tiros no meu pai foram pelo menos numa delegacia? Quem matou minha
irmã foi na delegacia? Nunca foi" (Desabafo do Mainha entrevistado em 25022007.)
Is
Há alguma justificativa para a entrada no mundo do crime? Para
Mainha, considerado o maior matador de aluguel do Nordeste, há sim: a honra.
1
48
Is
Finalmente, em 06 de agosto de 1988, Mainha foi preso na cidade de
Quiterianópotis - Ceará em uma churrascaria. Não foi difícil prendê-lo, pois ele
encontrava-se desarmado e houve a ação de quatro policiais fortemente
armados.
1
49
1
o Durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 2007, em todos os
domingos fui entrevistar o Mainha. Numa das conversas, ele disse algo que me
deixou curioso: afirmou que as pessoas têm tendências assassinas e utilizou o
exemplo de um rapaz que assumiu ter matado duas pessoas, quando na
verdade ele (Mainha) era que havia praticado os assassinatos. Procurado pela
família dos mortos, tal rapaz nunca negou o fato. Um dia o Mainha perguntou a
ele porque fez aquilo, se era para protegê-lo e ele respondeu: "estou querendo
ficar famoso como você".
50
II para caixão'. A afirmação foi suficiente para que acreditassem ser verdadeiras
as palavras por ele proferidas. Finalmente, declarou: "imagine se uma
saciedade dessas pode dar certo" (risos).
Outro fato interessante que ele me contou foi que certa vez foi
"peitado" para fazer um "serviço" e o mandante foi logo lhe perguntando se ele
Is tinha coragem, no que prontamente respondeu: "não tenho coragem, tenho
costume" e encerrei o papo com esse cidadão pois não senti a firmeza
necessária e gente assim não merece confiança, e continuou: "você sabe que
eu não gosto muito que fiquem me perguntando as coisas, se eu quiser contar
uma coisa eu conto, se eu não quiser nem na peia".
Is
Na versão de Mainha sua prisão serviu para muita coisa: "serviu para
mostrar que eu não era o único matador como queriam; que os crimes de
aluguel não diminuíram, fizeram foi aumentar, para eleger um deputado federal;
para vender matérias sensacionalistas; só não serviu para mim que até hoje
'e ainda estou preso".
Em nossos diálogos a frase: "me lembro como se fosse hoje" era por
ele bastante repetida. Isso vem transparecer a lógica de que Mainha vive preso
1 51
Nas últimas entrevistas que tive com Mainha, ele sempre perguntava
se hoje um advogado podia acreditar na Policia e na Justiça e Jogo em seguida
respondia: "não dá para acreditar, no Rio Grande do Norte eu era acusado de
Is três crimes, dos três eu cometi dois, pois bem, fui julgado dos três, dos dois que
cometi fui absolvido e fui condenado pelo que não cometi, de qualquer maneira
saí lucrando (risos)", outra frase que sempre dizia era: "durante todo esse
tempo aprendi uma coisa, com Polícia não se briga, se corrompe, sai muito
mais barato". Em seguida disse que no vale do Jaguaribe há mais de quarenta
Is assassinatos insolúveis, por motivos diversos, uns porque a Polícia não quer
desvendar, outros porque a justiça não tem interesse e outros porque os
mandantes são inatingíveis. Por fim asseverou: testa é quem entrega um
mandante".
Is Mainha fez um breve relato da sua prisão, disse que tinha ido embora
do Vale do Jaguaribe porque tinha feito um acordo com gente ligada ao
Governo, nos seguintes termos: ia embora, deixava de matar gente e em troca
a Polícia cessava as buscas. No mais, concluiu: "é tanto que quando me
pegaram eu estava desarmado, estava mesmo pensando em deixar essa vida";
Is (...)"veja como são as coisas, das pessoas que se diziam pistoleiros na minha
época, o único que está vivo sou eu e talvez porque estou preso", procurando
demonstrar que o crime não compensa.
i.
i•
1t
o
CONCLUSÃO
o
BARREIRA, César. Trilhas e atalhos do poder e conflitos sociais no sertão.
Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1992
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