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Psicologia da

EDUCAÇÃO I

CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA


CEAD/UDESC/UAB
Centro de Educação a Distância
Universidade do Estado de Santa Catarina
Universidade Aberta do Brasil

Psicologia da
EDUCAÇÃO I

FLORIANÓPOLIS
CEAD/UDESC/UAB
Copyright © CEAD/UDESC/UAB 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição

Edição - Caderno Pedagógico

Governo Federal Pró-Reitora de Planejamento


Cecília Just Milanez Coelho
Presidente da República
Dilma Rousseff Centro de Educação
a Distância
Ministro de Educação
Fernando Haddad Diretor Geral
Estevão Roberto Ribeiro
Secretário de Regulação e
Supervisão da Educação Diretora de Ensino de
Superior Graduação
Luis Fernando Massonetto Ademilde Silveira Sartori
Diretor de Regulação e Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação
Supervisão em Educação Sonia Maria Martins de Melo
a Distância
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Solange Cristina da Silva
Governo do Estado de
Santa Catarina Diretor de Administração
Ivair De Lucca
Governador
João Raimundo Colombo Chefe de Departamento de
Pedagogia a Distância
Secretário da Educação CEAD/UDESC
Marco Antônio Tebaldi Rose Clér Beche
Secretária de Ensino de
UDESC Graduação
Maria Helena Tomaz
Reitor
Sebastião Iberes Lopes Melo
Universidade Aberta do Brasil
Vice-Reitor
Antonio Heronaldo de Sousa Coordenador Geral
Estevão Roberto Ribeiro
Pró-Reitora de Ensino
de Graduação Coordenador Adjunto
Sandra Makowiecky Ivair De Lucca
Pró-Reitor de Extensão, Coordenadora de Curso
Cultura e Comunidade Carmen Maria Cipriani Pandini
Paulino de Jesus F. Cardoso
Coordenadora de Tutores
Pró-Reitor de Administração Fátima Rosana Scoz Genovez
Vinícius A. Perucci
Jaime Bezerra do Monte

Psicologia da Educação I
Caderno Pedagógico
1ª edição

Florianópolis

Diretoria da Imprensa Oficial


e Editora de Santa Catarina

2011
Professor autor
Jaime Bezerra do Monte

Design instrucional
Ana Cláudia Taú

Professora parecerista
Enira Terezinha Braghirolli Damin

Projeto instrucional
Ana Cláudia Taú
Carmen Maria Cipriani Pandini
Roberta de Fátima Martins

Projeto gráfico e capa


Adriana Ferreira Santos
Elisa Conceição da Silva Rosa
Pablo Eduardo Ramirez Chacón

Diagramação
Elisa Conceição da Silva Rosa

Revisão de texto
Roberta de Fátima Martins

M772p Monte, Jaime Bezerra do


Psicologia da educação I : caderno pedagógico / Jaime Bezerra do
Monte; design instrucional Ana Cláudia Taú – Florianópolis : UDESC/CEAD/
UAB, 2011.
115 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-64210-20-2

1. Educação – Psicologia – I. Taú, Ana Cláudia. – II.Título.

CDD: 370.15 - 20 ed.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da UDESC


Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Programando os estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

CAPÍTULO 1 - História da Psicologia Científica e Considerações Sobre os Processos


Psicológicos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Seção 1 - A evolução da Psicologia Científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18


Seção 2 - O estruturalismo e o funcionalismo na Psicologia. . . . . . . . . . . . . . . . 23
Seção 3 - Concepções inatista e ambientalista na Psicologia .. . . . . . . . . . . . . . 25
Seção 4 - A Psicologia e os processos psicológicos básicos. . . . . . . . . . . . . . . . . 28

CAPÍTULO 2 - Escolas Psicológicas: Behaviorismo e Psicologia da Gestalt . . . . . . . . . . . 39

Seção 1 - O condicionamento clássico de Pavlov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42


Seção 2 - O condicionamento operante de Skinner. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Seção 3 - Gestalt: psicologia da forma. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

CAPÍTULO 3 - Escolas Psicológicas: Psicanálise e Humanismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

Seção 1 - Princípios da Psicanálise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68


Seção 2 - Desenvolvimento psicossexual de acordo com a Psicanálise. . . . . . 74
Seção 3 - Princípios da teoria humanista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Seção 4 - Educar de acordo com a teoria humanista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

CAPÍTULO 4 - Novas Tendências em Psicologia da Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

Seção 1 - Movimentos educacionais e a Psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96


Seção 2 - A Teoria histórico-cultural de Vygotsky: nova tendência da
psicologia e educação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 101

Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107


Conhecendo os professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Comentários das atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Referências das figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Apresentação
Prezado(a) estudante,

Você está recebendo o Caderno Pedagógico da disciplina de Psicologia da


Educação I. Ele foi organizado, didaticamente, a partir da ementa e objetivos
que constam no Projeto Pedagógico do seu Curso de Pedagogia a Distância da
UDESC.

Este material foi elaborado com base na característica da modalidade de ensino


que você optou para realizar o seu percurso formativo – o ensino a distância.
É um recurso didático fundamental na realização de seus estudos; organiza os
saberes e conteúdos de modo a que você possa estabelecer relações e construir
conceitos e competências necessárias e fundamentais a sua formação.

Este Caderno, ao primar por uma linguagem dialogada, busca problematizar


a realidade aproximando a teoria e prática, a ciência e os conteúdos escolares,
por meio do que se chama de transposição didática - que é o mecanismo de
transformar o conhecimento científico em saber escolar a ser ensinado e
aprendido.

Receba-o como mais um recurso para a sua aprendizagem, realize seus estudos
de modo orientado e sistemático, dedicando um tempo diário à leitura. Anote
e problematize o conteúdo com sua prática e com as demais disciplinas que irá
cursar. Faça leituras complementares, conforme sugestões e realize as atividades
propostas.

Lembre-se que na educação a distância muitos são os recursos e estratégias


de ensino e aprendizagem, use sua autonomia para avançar na construção de
conhecimento, dedicando-se a cada disciplina com todo o esforço necessário.

Bons estudos!

Equipe CEAD\UDESC\UAB
Introdução
Prezado(a) acadêmico(a),

O presente livro tem como objetivo apresentar os principais conteúdos da


ciência psicológica que são muito importantes para a formação do educador,
principalmente no que se refere à compreensão do relacionamento entre o
professor e o aluno, durante o processo de ensino e aprendizagem. A psicologia
é uma ciência que procura estudar o homem em seu processo evolutivo
considerando sempre o seu contexto social. Nesse sentido, busca compreender
a relação entre o processo de desenvolvimento do sujeito e a formação do seu
psiquismo. Portanto, nesse processo, a escola, as relações e as experiências
vividas no contexto escolar são fundamentais para a organização e constituição
do psiquismo humano.

Tendo em vista esses fatores, organizamos esse Caderno Pedagógico em quatro


capítulos. Acreditamos que o caminho mais indicado para fazer com que seu
aprendizado, nessa importante área de estudo, seja mais eficiente é realizá-
lo da seguinte forma: iniciaremos falando da evolução da Psicologia como
ciência. Abordaremos também os principais processos psicológicos (sensação,
percepção, atenção, memória, pensamento e linguagem) que estão relacionados
à aprendizagem espontânea e escolar.

Depois, você estudará as escolas psicológicas: Behaviorismo e a Psicologia


Gestalt. E assim, poderá entender o papel dessas escolas na educação ao longo
da história, principalmente no contexto de sala de aula. A Psicanálise de Freud e
o Humanismo de Rogers serão os temas do terceiro capítulo. Por fim, no último
capítulo, você acompanhará uma retrospectiva histórica da relação da Psicologia
com a Educação Brasileira.

Acreditamos que dessa forma você estará preparado para entender, discutir e
aplicar no dia a dia de seu trabalho como educador as principais temáticas que
envolvem a Psicologia.

Portanto, aproveite essa oportunidade!


Programando os estudos

Estudar a distância requer organização e disciplina; exige também estudos diários


e programados para que você possa obter sucesso na sua caminhada acadêmica.
Portanto, procure estar atento aos cronogramas do seu curso e disciplina para
não perder nenhum prazo ou atividade, dos quais depende seu desempenho.
As características mais evidenciadas na Educação a Distância (EaD) são o estudo
autônomo, a flexibilidade de horário e a organização pessoal. Faça sua própria
organização e agende as atividades de estudo semanais.

Para o desenvolvimento desta Disciplina você possui a disposição um conjunto


de elementos metodológicos que constituem o sistema de ensino, que são:

»» Recursos e materiais didáticos, entre eles o Caderno Pedagógico.

»» O Ambiente Virtual de Aprendizagem.

»» O Sistema de Avaliação: avaliações a distância, presenciais e de


autoavaliação.

»» O Sistema Tutorial: coordenadores, professores e tutores.

Ementa

Aspectos históricos e conceituais da interface Psicologia e Educação. Escolas


psicológicas (Behaviorismo, Gestalt, Psicanálise, Humanismo). Concepções
inatista e ambientalista. Novas tendências em Psicologia e Educação.

Objetivos da disciplina
Geral
Compreender a evolução da Psicologia científica e suas diferentes abordagens
teóricas. A finalidade é possibilitar ao educando a apropriação do conhecimento
psicológico com vistas a sua aplicação no contexto escolar.

Específicos
»» Descrever a evolução da psicologia científica.
»» Diferenciar o conhecimento científico do conhecimento de senso
comum.

»» Diferenciar as concepções filosóficas de homem: inatismo e


ambientalismo.

»» Explicar as diferentes escolas psicológicas: Behaviorismo, Psicologia da


Gestalt, Psicanálise e Humanismo.

»» Apontar o caminho feito pela Psicologia junto a educação na


atualidade.

Carga horária
54 horas/aula.

Anote as datas importantes das atividades na disciplina, conforme sua agenda


de estudos:

Anote as datas importantes das atividades na disciplina conforme o calendário


acadêmico e agenda de estudos:
DATA ATIVIDADE TIPO

Conteúdo da disciplina
Veja, a seguir, a organização didática da disciplina, distribuída em capítulos,
os quais são subdivididos em seções, com seus respectivos objetivos de
aprendizagem. Leia-os com atenção, pois correspondem ao conteúdo que deve
ser apropriado por você e faz parte do seu processo formativo.
12
Capítulos de estudo: 4

Capítulo 1 - No primeiro capítulo, você estudará um panorama da evolução


da Psicologia como ciência e os principais processos psicológicos
(sensação, percepção, atenção, memória, pensamento e linguagem)
que estão relacionados à aprendizagem espontânea e escolar.

Capítulo 2 - No segundo capítulo, você terá a oportunidade de aprender sobre


as escolas psicológicas: Behaviorismo e a Psicologia Gestalt. Nesse
sentido, estudará sobre o papel dessas escolas na educação ao
longo da história, principalmente no contexto de sala de aula.

Capítulo 3 - No terceiro capítulo, você estudará a Psicanálise de Freud e o


Humanismo de Rogers, acompanhando uma explicação sobre
os principais fundamentos teóricos da psicanálise e sobre o
desenvolvimento psicossexual do humano pautado na psicanálise.
Você estudará também sobre a relação entre a teoria de Rogers e
os processos educacionais.

Capítulo 4 - No quarto e último capítulo, você acompanhará uma retrospectiva


histórica da relação da Psicologia com a Educação Brasileira. Você
verá com maior ênfase o papel da Psicologia em cada movimento
educacional ao longo da história da Educação do nosso país.

Passemos, agora, ao estudo dos capítulos!

13
CAPÍTULO

História da Psicologia Científica e Considerações


1
sobre os Processos Psicológicos Básicos

Nesse capítulo, você terá a oportunidade de estudar as


diferenças entre a Psicologia construída por meio da intuição
e a da especulação, chamada de Psicologia de Senso Comum.
Você conhecerá, também, o desenvolvimento da Psicologia
Científica e suas implicações no processo de ensino-
aprendizagem. Ainda estudará os processos psicológicos e
sua relação com a aprendizagem. O objetivo é que você, ao
se apropriar do conhecimento sobre a Psicologia, possa rever
seus conceitos acerca da aprendizagem.
CAPÍTULO

História da Psicologia Científica e Considerações


sobre os Processos Psicológicos Básicos
1
Objetivos gerais de aprendizagem

Descrever a história da Psicologia Científica de maneira


a diferenciar o conhecimento psicológico científico do
conhecimento de senso comum.

Entender o que são processos psicológicos e como eles estão


presentes no processo de ensino-aprendizagem.

Seções de estudo
Seção 1 – A evolução da Psicologia Científica
Seção 2 - O estruturalismo e o funcionalismo na Psicologia
Seção 3 – Concepções inatista e ambientalista na Psicologia
Seção 4 - A Psicologia e os processos psicológicos básicos
Iniciando o estudo do capítulo
A Psicologia, assim como as outras ciências, estrutura o seu conhecimento
sobre o consenso do que é fazer ciência, do como fazer ciência e qual a
finalidade do conhecimento científico. Nem sempre foi dessa maneira,
houve um tempo em que o conhecimento não era categorizado como
científico. Nesse tempo, o conhecimento sobre os fenômenos psicológicos
estava misturado ao misticismo, às crenças e à cultura de modo geral.

A forma de produzir conhecimento mudou ao longo da história, adquiriu


contornos específicos que resultou na organização das ciências, nesse
contexto a Psicologia e os estudiosos da mente humana viram-se obrigados
a aderir ao método científico de produção do conhecimento para que a
Psicologia ocupasse o seu espaço no contexto das ciências, por isso, no
presente capítulo, você irá estudar esse processo de maneira detalhada.

Seção 1 - A evolução da Psicologia Científica


Objetivo de aprendizagem

»» Diferenciar a Psicologia Científica da Psicologia de Senso


Comum.

Antes de iniciar seus estudos sobre a Psicologia Científica, é preciso que


você saiba o que é conhecimento científico. Existem duas categorias de
conhecimento, o conhecimento de senso comum e o científico.

O conhecimento de senso comum é produzido no meio social, por meio


da vivência histórica. É um conhecimento assistemático, pois não possui
método científico. Também é um conhecimento prático que adquire valor
de verdade no meio social em que está inserido; por vezes está ligado ao
sistema de crenças do meio sociocultural de um sujeito.

É possível observar o conhecimento de senso comum em nosso cotidiano.


Ao longo da vida ouvimos e vimos nossos avós apresentarem soluções
práticas para problemas do cotidiano, como por exemplo, aquecer
Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
um pano e colocar sobre a barriga do bebê com cólica, como forma de
tratamento. O conhecimento de senso comum também pode ser visto na
ação daquelas pessoas, que detém conhecimento sobre o poder de cura
das ervas, que fazem rezas e benzeduras com finalidade terapêutica. Todas
essas manifestações de sabedoria popular são consideradas conhecimento
de senso comum.

O conhecimento de senso comum procura explicar os fenômenos


psicológicos, o comportamento das pessoas e tenta explicar o
desenvolvimento da criança a partir de evidências que não podem
ser consideradas seguras. É um conhecimento intuitivo e pode ser
questionado, desconsiderado por uma ou outra pessoa que discorde.
O critério de verdade do conhecimento de senso comum é a crença e a
cultura de cada pessoa.

O conhecimento científico é mais complexo que o conhecimento de senso


comum. O conhecimento científico, para ser considerado como verdadeiro
precisa atender a alguns critérios indispensáveis ao modo de fazer ciência.
Posteriormente, precisa ser validado por comunidades científicas. O
primeiro critério de validação do conhecimento é o rigor científico.

O rigor científico caracteriza-se pelo uso do método das ciências. O método


científico é uma construção teórica, cujos procedimentos de pesquisa lhes
são correspondentes, e tem como objetivo desvelar, descrever e traçar a
relação de causa e efeito de um dado fenômeno.

Por exemplo, se um pesquisador quiser saber qual é o comportamento


das mulheres em relação à escolha pela amamentação de seus
filhos, não basta aplicar um questionário, iguais aos encontrados em
revistas femininas. Antes, ele precisa descrever o comportamento
feminino ao longo da história, justificar o porquê do estudo sobre a
amamentação e descrever a forma e o método pelo qual ele irá obter
as informações necessárias a sua pesquisa.

Outro critério para que o conhecimento seja considerado científico é o


critério de neutralidade. A neutralidade científica é garantida quando o
pesquisador, o cientista, não interfere ou tira conclusões pessoais durante

19
CAPÍTULO 1

a pesquisa. Ele se distancia de suas crenças, de sua moral e de seus valores


pessoais para não influenciar nas conclusões finais de pesquisa científica.
A Psicologia adquiriu o status de ciência porque seguiu os critérios de
cientificidade de sua época, ou seja, construiu um método em que a
neutralidade foi assegurada.

Agora que você já sabe a diferença entre o conhecimento de senso comum


e o conhecimento científico é possível entender o porquê da Psicologia
ser considerada uma Ciência, uma vez seu conhecimento é baseado no
método científico.

A palavra psicologia tem sua origem em duas palavras gregas: psique e


logos. Psique significa alma, espírito ou mente e a palavra logos significa
estudo de algum assunto, então psicologia significa o estudo da mente
humana.

Psicologia é a ciência que estuda o homem em seu desenvolvimento


psicológico, biológico, social e em suas múltiplas formas de expressão.

A Psicologia não se tornou uma ciência da noite para o dia. Até atingir esse
status, a Psicologia passou por várias etapas. Em cada etapa, ao longo da
história da Humanidade, a Psicologia se organizou de uma determinada
forma.

Foram três grandes períodos que determinaram os caminhos da busca


pelo conhecimento:

»» O Período Cosmológico em que se procurava explicar a origem


do universo.

»» O Período Antropocêntrico em que a preocupação estava


centrada em “como conhecemos”.

20 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
»» O Período Teocêntrico, ocorrido no final da Idade Antiga.
Marcado pela ascensão do Cristianismo. Esse período tem como
característica principal a ideia de Deus como centro do universo,
sendo, então, todas as explicações dadas por meio da fé.

O final da Idade Média é marcado pela releitura do Período Antropocêntrico.


Com isso, temos a instauração da Modernidade onde o homem passa a
ser responsável pelo conhecimento. É neste período que se originam as
ciências.

Na Grécia Antiga, Aristóteles em seu trabalho Peri Psyches (Sobre a Alma),


já especulava sobre a inteligência e a causa das emoções. Na Idade Média,
as explicações sobre o psiquismo eram sustentadas sobre os sistemas de
crenças humanos. A Santa Inquisição, por exemplo, considerava qualquer
manifestação psicológica diferente, daquela vista como normal pela Igreja,
A Santa inquisição era uma
uma heresia, como foi o caso das doenças mentais e de outras deficiências, espécie de tribunal religioso
tidas como manifestações demoníacas. criado na Idade Média para
condenar todos aqueles que
eram contra os dogmas pre-
Na Modernidade, momento em que o conhecimento científico havia se gados pela Igreja Católica.
estruturado, o filósofo Aguste Comte desenvolveu a ideia de ciência e
definiu os critérios para que um conhecimento seja considerado científico.
O pensamento de Comte ficou conhecido como positivismo. O positivismo
foi uma corrente teórica que criticava todos os conhecimentos baseados
em crenças humanas. No positivismo, o único conhecimento considerado
verdadeiro era o científico. Para essa corrente, o conhecimento de senso
comum não podia ser considerado ciência, uma vez que não segue um
método científico. A ciência, segundo o positivismo, é aquela que produz
o conhecimento em laboratório, que reconstrói artificialmente o fenômeno
da natureza. De acordo com Comte, todo conhecimento produzido no
meio social precisa ser verificado, ou seja, testado em laboratório para que
seja considerado verdadeiro.

Portanto, para que seja considerado como verdadeiro, todo conhecimento


precisa de sistematização científica. De outro modo, o conhecimento
passa a ser considerado senso comum.

21
CAPÍTULO 1

Foi neste sentido que a Psicologia, assim como outros campos do


conhecimento, procurou o respeito das comunidades científicas. Para
tanto, buscou no positivismo de Comte o caminho para sair do estágio
“pré-científico” em que se encontrava.

Em 1879, na cidade de Leipzig, na Alemanha, Wilhelm Wundt fundou


o primeiro laboratório de Psicologia. Com a fundação desse primeiro
Wilhelm Wundt era
médico, ensinou fisiologia
laboratório, a Psicologia tornou-se uma ciência porque passou a fazer
durante 17 anos. Seu experiências científicas que atendiam aos critérios do positivismo de
trabalho uniu a filosofia Comte.
à fisiologia e deu origem
a Psicologia Científica.
Wilhelm Wundt foi o Wundt, para realizar suas pesquisas no laboratório de Leipzig, usou como
responsável por fazer da método científico a introspecção analítica, também chamada de método
Psicologia uma ciência
plena. introspectivo. Para Wundt, a Psicologia deveria estudar a consciência do
homem, mais especificamente, a experiência consciente. Para ele, era
importante estudar as operações mentais conscientes como a atenção,
intenção metas e as experiências imediatas do sujeito.

Em suas experiências, Wundt colocou


um metrônomo diante de si e registrou
todas as suas sensações e percepções no
O metrônomo é um
instrumento que mede decorrer de um tempo determinado. Ao
o tempo, produz um final da experiência, Wundt descreveu
som no início e outro que sentiu uma ligeira tensão, enquanto
som ao final do tempo;
é ajustável e determina esperava o início do som; descreveu
o padrão de um som. O que sentiu também uma sensação
metrônomo é utilizado de excitação quando a velocidade do
por músicos para marcar
o ritmo de uma música som aumentava e alívio quando o som
cessou. Com o experimento, Wundt
mostrou a possibilidade de descrever as
impressões psicológicas, relacionadas
aos estímulos externos, a partir da auto-
observação, por meio da introspecção. Figura 1.1 - Metrônomo
Ao realizar sua a experiência, o
pesquisador demonstrou que era possível recriar sensações cotidianas em
laboratório, de acordo com os critérios científicos do positivismo.

22 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
Seção 2 - O estruturalismo e o funcionalismo na Psicologia
Objetivo de aprendizagem

»» Descrever dois movimentos que constituem a Psicologia


Científica: o estruturalismo e o funcionalismo.

Logo após a Psicologia se tornar uma ciência, alguns conflitos ocorreram


entre os psicólogos. Os estudiosos da Psicologia foram divididos em dois
grupos, um grupo chamado de estruturalistas e outro grupo chamado de
funcionalistas, que passaremos a estudar agora.

Wundt, além de fundar o primeiro laboratório de Psicologia, foi considerado


o fundador de um movimento científico chamado Estruturalismo, mas
foi seu discípulo Eduard Titchener que difundiu o estruturalismo na
Universidade de Cornell, nos EUA. Para o estruturalismo, a Psicologia
deveria estudar os processos sensoriais conscientes e deveria analisar os
processos mentais em seus elementos, com a finalidade de descobrir suas
conexões e combinações. O objetivo era localizar, no sistema nervoso, as
estruturas que correspondiam a cada processo mental. Os estruturalistas
entendiam que, para cada percepção que temos de um objeto, existe um
ponto no cérebro que corresponde ao objeto percebido.

Por exemplo, para que possamos compreender a cor de uma fruta é


preciso ter a estrutura daquela cor no nosso cérebro. A cor vermelha
que identificamos na maçã, é um tipo de vermelho encontrado
somente na maçã, não é o mesmo vermelho encontrado no morango.
Isto porque, para cada tipo de vermelho, existe uma estrutura
correspondente no cérebro, que nos leva a identificar e diferenciar a
maçã do morango. O mesmo acontece com a forma e dimensões das
frutas e dos objetos.

Um grupo de cientistas discordou e não aceitou o movimento estruturalista.


Os cientistas desse grupo acreditavam que o objeto de estudo da
Psicologia deveria ser o funcionamento da mente, o que resultou em

23
CAPÍTULO 1

um movimento chamado funcionalismo. Diferente do estruturalismo, o


funcionalismo levou os psicólogos a buscarem o conhecimento de outras
áreas, como a Biologia e Estatística, para poder medir o funcionamento
mental. Os psicólogos funcionalistas foram influenciados pelas ideias
de hereditariedade abordadas por Charles Darwin. Alguns psicólogos
funcionalistas acreditavam que a inteligência era hereditária e que filhos
de pais inteligentes também eram inteligentes. A partir dessas ideias
funcionalistas, foram criados os testes para medir a inteligência das
pessoas, os famosos testes de QI (Quociente de Inteligência).

Você sabe o que são testes de QI?

Os testes de QI são provas que procuram medir o


funcionamento mental. Os resultados são demonstrados
por idade mental ou por escalas numéricas. É interessante
observar, que o QI do sujeito pode mudar ao longo dos
anos. Por exemplo, se uma pessoa é analfabeta e faz um
teste de leitura provavelmente o resultado do teste vai
ser baixo. Entretanto, se o mesmo teste for realizado na
mesma pessoa depois que ela for alfabetizada o resultado
mudará, ou seja, ela apresentará um desempenho melhor
na segunda vez que for submetida ao teste de leitura.
Figura 1.2 – Teste de QI

As ideias dos estruturalistas e dos funcionalistas não foram abandonadas,


pois elas influenciam o trabalho dos psicólogos e educadores da atualidade.

No contexto escolar, a influência dos movimentos estruturalista e


funcionalista se evidencia na organização escolar, na forma de gestão do
processo pedagógico dentro e fora da sala de aula e no modo de perceber o
aluno. Um professor funcionalista entenderá que a eficiência ou ineficiência
se relaciona ao funcionamento mental do mesmo. Desse modo, o método
pedagógico e o trabalho do professor não são questionados, o problema
fica centrado no aluno. Um professor estruturalista poderá desacreditar no
potencial de aprendizagem de uma pessoa com paralisia cerebral, porque
a paralisia cerebral afeta as estruturas do cérebro de forma que limita a
possibilidade de aprendizagem. Por isso, é preciso ter cuidado ao se fazer
julgamentos precipitados, desarticulados do contexto e da proposta
pedagógica da escola.

24 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
Seção 3 - Concepção inatista e ambientalista na
Psicologia
Objetivo da aprendizagem

»» Explicar a origem do conhecimento a partir das concepções


inatistas e ambientalistas

Nessa seção, você estudará duas concepções teóricas: o inatismo e o


ambientalismo. A primeira afirma que a capacidade de aprendizagem do
sujeito é inata, ou seja, vem com ele ao nascer. A abordagem ambientalista
pressupõe que a aprendizagem se desenvolve no meio social, como você
verá mais adiante.

Ao longo da existência do homem, uma questão permeia o conhecimento


científico:

Nascemos com a capacidade de aprender ou a adquirimos no meio


ambiente?

Há séculos a ciência procura uma resposta para essa questão. Para a


concepção teórica inatista, nascemos com nossos talentos e inteligência,
ou seja, nossa capacidade de aprendizagem é herdada.

Para a concepção inatista o homem já nasce pronto, e o que precisamos


do ambiente é o tempo para crescer e evoluir. De acordo com o inatismo,
nossas capacidades são determinadas geneticamente, ou seja, não são
originadas pelo meio em que vivemos.

Platão, em seus textos, já traçava algumas ideias relacionadas à concepção


teórica do inatismo. Segundo Platão, já nascemos com algumas ideias
inatas e com o potencial para o pensamento. No entanto, o filósofo afirma
que existem conhecimentos os quais necessitam da experiência para se
configurar.

25
CAPÍTULO 1

O filósofo Descartes (1596 – 1650), também afirmou que temos ideias inatas.
Para ele, as ideias inatas fazem parte da natureza humana. Para Descartes,
o ser humano também é dotado de ideias derivadas, que são aquelas
provenientes do nosso contato com o meio ambiente, social e histórico.

A Psicologia e a Educação estabelecem uma comunicação direta, desde


que a Psicologia tornou-se uma ciência. Não é por caso que as influências
das ideias provenientes do inatismo encontram-se presentes na Educação.
O inatismo, que tem uma visão individualizante do sujeito, na Educação
contribuiu para a compreensão das características individuais do aluno. O
foco psicológico na individualidade também criou critérios para determinar
o que é normal e o que é anormal, no processo de desenvolvimento do
sujeito.

As ideias inatistas tomam força na segunda metade do século XIX e na


primeira metade do século XX. Sua propagação é tão forte e intensa que
passa a fazer parte dos sistemas de crenças da maioria das pessoas. É
possível observar a influência do inatismo, no nosso cotidiano, a partir
de alguns ditados populares como: “pau que nasce torto, morre torto”
e” tal pai, tal filho”.

As ideias inatistas influenciam fortemente o pensamento educativo, no


Brasil. Durante todo período em que prevaleceu o ensino tradicional,
acreditava-se que o potencial para aprendizagem era hereditário. As
ideias inatistas ainda estão presentes em nosso cotidiano. Até hoje, alguns
educadores acreditam que a capacidade para aprendizagem está no aluno
e faz parte da sua constituição biológica e psicológica. O educador que
acredita no inatismo investe pouco no potencial de desenvolvimento do
aluno, porque visualiza somente as limitações da criança. Dessa forma, o
educador não é responsável pelo processo de evolução do estudante.

A concepção ambientalista de aprendizagem discorda do pensamento


inatista. Para o ambientalismo, o homem adquire o conhecimento no meio
ambiente, e o potencial de aprendizagem é desenvolvido no meio em que
o indivíduo vive.

26 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
Segundo o filósofo Aristóteles (384 - 322 a.C.), o homem conhece e
Conhecimento empírico
aprende por meio dos órgãos dos sentidos: visão, gustação, audição, é aquele conhecimento
olfato e sensação. Dessa forma, órgãos dos sentidos captam os elementos que vem da experiência do
dispostos no meio ambiente e os transformam em aprendizagens, em sujeito, da prática cotidiana.
Podemos dizer que um
conhecimento. Alguns filósofos como: John Locke, Thomas Hobbes e professor com formação em
Francis Bacon acreditam que o conhecimento é empírico e compartilham magistério, que ainda não fez
do pensamento de Aristóteles. o curso de pedagogia, possui
um conhecimento pedagó-
gico empírico, vindo da sua
Jonh Locke (1632 – 1704), famoso pensador inglês, levou mais de 20 anos prática profissional no dia a
para responder a seguinte questão: “como conhecemos?”. De acordo com dia da escola.
Locke, no momento do nascimento, nossa mente é uma “tabula rasa”,
como uma folha de papel em branco. A atividade mental de conhecimento
é iniciada com a experiência sensorial, no meio ambiente. Para ele a
experiência é a fonte de conhecimento.

As ideias ambientalistas influenciam o processo pedagógico. É possível


observar, no cotidiano de algumas escolas, ações e posturas educacionais,
por parte dos professores e da direção escolar, que demonstram a influência Por processo pedagógico
entendemos a relação de
desta concepção, por meio da valorização exagerada dos estímulos ensino e aprendizagem no
ambientais. contexto escolar. O processo
pedagógico abrange o
método de ensino e a filosofia
Nesse caso, a ausência ou a presença de estímulos está diretamente ligada pedagógica da escola.
ao sucesso ou ao fracasso escolar do aluno. Nessa ótica, a escola entende
que a criança, não tendo estímulos suficientes em casa, por exemplo,
terá dificuldades de se desenvolver adequadamente, correndo o risco de
reprovar. O ambientalismo fomenta a ideia de que modelos ideais servem
como base para a criança desenvolver seu caráter e sua sexualidade. Para
os teóricos dessa concepção, o controle de alguns estímulos contribuirá
para uma melhor formação da criança. Sustentam ainda que os estímulos
ambientais em que a criança vive são determinantes para a formação do
seu psiquismo.

27
CAPÍTULO 1

Seção 4 - A Psicologia e os processos psicológicos básicos


Objetivo de aprendizagem

»» Caracterizar os processos psicológicos em sua relação com


o processo de aprendizagem.

Agora você estudará alguns dos processos psicológicos básicos. Os


processos psicológicos são elementos que constituem a esfera cognitiva
do psiquismo. A esfera cognitiva é uma região do psiquismo que
possibilita ao sujeito compreender, traçar relações de causa e efeito e
determinar as relações de diferença e igualdade entre os objetos por meio
de operações simbólicas. Dito de outra maneira, a esfera cognitiva refere-
se às ações intelectuais do homem. Os processos psicológicos básicos são
encontrados também na esfera afetiva do psiquismo humano. A esfera
afetiva compreende as reações afetivas e possibilita ao sujeito desenvolver
sentimentos de várias natureza. Os processos psicológicos básicos são
objetos de investigação da Psicologia. São eles:

»» sensação e percepção ;

»» atenção;

»» memória;

»» pensamento;

»» linguagem;

»» emoções;

»» sentimentos.

A compreensão dos processos psicológicos básicos é fundamental para


você entender o homem em sua relação consigo, com o outro e com o
contexto em que vive.

Todos os homens e mulheres possuem os mesmos processos psicológicos.


A forma como estão articulados e a dinâmica desses processos configuram
as características individuais de cada pessoa. Durante a vida, as pessoas

28 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
sofrem influência do meio social e cultural e a relação de interação do
homem com o contexto constitui e organiza o seu psiquismo. A maneira
como cada pessoa internaliza as experiências vividas e como essas
experiências influenciam no comportamento de cada um constitue as
particularidades de cada pessoa.

Os processos psicológicos básicos estão relacionados a toda forma de


aprendizagem que o indivíduo faz ao longo da vida.

A aprendizagem pode ser:

Espontânea - a aprendizagem espontânea é aquela que não carece de


organização metodológica, são as aquisições que fazemos no dia a dia, na
relação com as pessoas do nosso contexto social.

Sistematizada - a aprendizagem sistematizada ocorre na escola, o


conteúdo acadêmico é organizado e sistematizado de forma didática para
Outra forma de aprendiza-
facilitar a compreensão do aluno. gem sistematizada são as
aprendizagens realizadas
A seguir acompanhe a explicação sobre cada um dos processos psicológicos no cotidiano, por meio dos
meios de comunicação de
básicos. massa: rádio, televisão e
outros.

Sensação e percepção

A percepção é o processo psicológico que nos permite identificar e


diferenciar objetos, pessoas, fenômenos no tempo e no espaço. É a partir
da percepção que interpretamos e compreendemos os fenômenos que
nos cercam.

Quando nascemos, nossos processos psicológicos ainda não estão


organizados e a sensação é o primeiro recurso que usamos para
experimentar a variedade de estímulos existentes no ambiente. A sensação
é uma resposta imediata do organismo por meio dos órgãos dos sentidos
(visão, audição, tato, gustação e olfato). Todos nós sentimos e reagimos

29
CAPÍTULO 1

aos estímulos ambientais. A sensação tem função de defesa do organismo,


possibilita a sobrevivência, ao evitar estímulos que possam ser prejudiciais
ou coloque em risco a sobrevivência do sujeito. É a sensação responsável
pelo desencadeamento de resposta reflexa ao calor, como tirar a mão de
uma chapa quente para não nos ferir, por exemplo.

O bebê recém-nascido apreende o mundo por meio das sensações. O bebê


ao nascer é imaturo neurologicamente, por isso, não consegue distinguir
os estímulos do meio ambiente, não os classifica ou os caracteriza. A
capacidade do bebê, ao nascer, é a de sentir sensações orgânicas como:
mudança de temperatura, fome, desconforto ou dor. As experiências
sensoriais e a maturação neurológica no bebê possibilitam a ele diferenciar
e reconhecer as qualidades dos estímulos ambientais como: cor, textura,
sabor, imagens, pessoas e objetos. O movimento evolutivo leva o bebê a
ampliar seu psiquismo e a partir das diferentes sensações surge a percepção
na criança.

Figura 1.3 – Sensação e Percepação

A percepção é um processo psicológico fundamental no nosso psiquismo.


É por meio da percepção que adquirimos a capacidade de nos localizarmos
no tempo e no espaço, que desenvolvemos a noção de ritmo, fazemos
classificações, a partir da relação de diferença e igualdade, e podemos
compreender as diferenças de peso, textura e tons. Todos esses fatores
são fundamentais no processo de aprendizagem.

30 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
O desenvolvimento da percepção do sujeito está relacionado às
experiências vividas por ele, tanto no contexto social quanto geográfico;
está relacionado também à educação e ao trabalho ao longo da vida.

Atenção

A atenção é nossa capacidade psicológica de distinguir os fenômenos,


estáticos ou em movimentos, de forma consciente. A atenção é a
confluência dos processos psicológicos para um determinado objeto. A
atenção permite ao homem acompanhar um fenômeno do início ao fim, de
maneira que o sujeito identifica o processo evolutivo de um dado evento.
Do ponto de vista da Psicologia, a atenção pode ser classificada de acordo
com o objeto da atenção e a sua origem.

Atenção classificada de acordo com o objeto se caracteriza por:

»» Atenção externa ou periférica - quando o estímulo vem do


exterior e modifica imediatamente o comportamento do sujeito,
ou seja, ao ouvir um barulho o sujeito volta-se para a direção do
som.

»» Atenção interna ou central – quando o estímulo tem sua origem


no organismo, no interior do sujeito.

Atenção classificada em relação à sua origem se caracteriza por:

»» Atenção passiva - quando a resposta do sujeito independe da sua


vontade, é involuntária. Quando um estímulo no meio externo é
muito forte faz com que o indivíduo se volte para ele, por exemplo,
um grito.

»» Atenção espontânea - esse tipo de atenção é voluntária. O sujeito


dirige os seus processos psicológicos para um objeto de seu
interesse.

»» Atenção esforçada - quando requer esforço do sujeito para se


ater a um dado objeto. Uma criança está estudando, porém quer
brincar ao mesmo tempo em que estuda. A tarefa de estudar
requer esforço mental para que a criança consiga realizá-la com
eficiência.

31
CAPÍTULO 1

Memória

A memória é responsável pela organização dos estímulos do passado.


Tem como função reter e armazenar as experiências vivenciadas pelos
sujeitos. Relaciona-se diretamente com os órgãos dos sentidos por meio da
associação. Outra função da memória é a evocação dos estímulos passados
na forma de lembrança.

Para que um conteúdo seja armazenado pela memória é necessário que


ele seja decodificado. A decodificação é processo pelo qual a memória
identifica o tipo de estímulo e o associa ao conteúdo pré-existente do
psiquismo. Após a codificação do estímulo é realizado o armazenamento
da informação, o armazenamento é um registro do estímulo no sistema
nervoso que conserva o conteúdo na memória. Uma vez que o conteúdo
esteja armazenado ele pode ser recuperado, trazido à consciência do
sujeito.

A recuperação do conteúdo pode ser: espontânea, quando a pessoa


associa imagens, cheiros a um dado evento passado e lembra-se da
experiência vivida; ou recordado, quando a recordação exige esforço
mental para produzir a informação.

A memória possui três estruturas:

1. A memória sensorial: é aquela em que a informação sensorial


permanece na memória por menos de um segundo. O conteúdo da
memória sensorial pode ser transferido para memória de curto prazo,
nesse caso, a informação é retida por mais tempo.

2. A memória de curto prazo: ocorre quando a informação é retida por


mais tempo, ou seja, dura alguns segundos, tempo suficiente para o
sujeito solucionar problemas como anotar uma informação ou digitar
um número de telefone. Essa memória armazena um número maior de
dados.

3. A memória de longo prazo: possui capacidade ilimitada para


armazenar dados. É nessa memória que estão armazenadas todo
conteúdo significativo, experimentado pelo sujeito ao longo de sua
vida. Para que um conteúdo seja significativo, ao ser armazenado ele
precisa ligar-se ao conteúdo existente na memória e ser relacionado

32 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
a outras informações como: ideias, sentimentos, conhecimento e
lembranças.

A relação estabelecida entre os conteúdos da memória configura uma


rede de conceitos lógicos que modifica e se reorganiza de acordo com as
aprendizagem e experiências novas de cada pessoa.

Pensamento

Vários estudiosos da Psicologia concentram seus estudos acerca do


pensamento como processo psicológico, entretanto, não há consenso ou
uma única definição do que é pensamento.

O termo pensamento é utilizado para designar a obra de um teórico das


ciências humanas: como “o pensamento de Descartes” “o pensamento de
Freud”. A palavra pensamento designa também a atividade mental, cujas
representações (imagens) são organizadas no psiquismo para executar a
função de compreensão, identificação e resolução de problemas.

O pensamento tem sua origem nas experiências sensoriais do bebê. É por


meio do nosso aparato sensorial que apreendemos o mundo e traçamos
as primeiras relações entre os objetos. Nesse momento da vida, a imagem
não é retida na mente da criança. Mais tarde, quando a criança adquire a
função mental de representar os objetos, ela poderá evocar, lembrar de
um dado objeto sem presença do mesmo.

Além da representação mental o pensamento possui outras funções tais


como:

»» Simbolizar: o processo mental de simbolização consiste conferir


significado, valor afetivo e/ou estético a uma imagem. A imagem
traz consigo um significado coletivo e um sentido particular.
O significado coletivo é aquele compartilhado socialmente,
por exemplo, a imagem de um avião representa um meio de
transporte (significado social). A mesma imagem do avião para um

33
CAPÍTULO 1

piloto ou para um praticante de aeromodelismo tem um sentido


especial, em virtude do seu desejo e da suas experiências que se
relacionam com o avião e que configuram o sentido particular.

»» Solucionar problemas: no plano mental, é uma habilidade


da criança quando é capaz de utilizar o pensamento abstrato.
A solução de um problema, pelo sujeito, está na habilidade
de traçar relações entre os objetos concretos e abstratos, de
maneira a descobrir suas conexões, sua função e sua finalidade.

»» Criar: a criatividade, como função do pensamento, consiste


em realizar ou solucionar um problema de maneira
original. A criatividade leva o sujeito a transformar uma
coisa em outra, a partir do conhecimento prévio. O processo
criativo reuni desejos, juízo de valores, intencionalidade,
experiências cognitivas e afetivas para se criar algo novo.

Linguagem

A linguagem é um sistema de códigos linguísticos de origem cultural. A


linguagem é cultural porque ela é o resultado da aquisição dos signos
e códigos de uma dada sociedade ou de uma cultura específica que
permitem ao sujeito a comunicação social e a organização do pensamento.

Dolle (1996), ao explicar a linguagem, do ponto de vista de Piaget, afirma


que a inteligência precede a linguagem como função comunicativa, a
representação psicológica do objeto é anterior a fala que expressa esse
objeto.

Para Vygotsky (2001), a linguagem apresenta um aspecto físico e outro


semântico. Veja a seguir uma breve explicação de ambos:

1. No aspecto físico, a linguagem externa da criança se desenvolve a


partir da compreensão da palavra. A criança faz uso da palavra devido
as suas necessidades.

34 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
Por exemplo, quando a criança está com sede chama de “água”
todo e qualquer tipo de líquido. Aos poucos a palavra de desloca do
plano da necessidade e passa ser relacionada aos diferentes tipos
de líquido acessível à criança em seu meio social. Em seguida, a
criança relaciona duas ou três palavras que a levam a formar frases
simples e evolui para frases mais complexas.

2. No aspecto semântico da linguagem, o objetivo é compreender o


significado da palavra. A criança parte do todo, do genérico para
apreender, se apropriar do significado e das particularidades da palavra.
Ao se apropriar dos significados das palavras, a criança a relaciona ao
objeto e a sua função social. E ao ampliar seu vocabulário, a criança
amplia a rede de significados das palavras que favorece as operações
mentais.

Emoção

A emoção é um evento afetivo, acompanhado de reações biológicas, e é


responsável pelo comportamento expressivo do sujeito como: as várias
expressões faciais, o choro e o riso. As emoções são iguais em todos os
seres humanos, entretanto, suas expressões ocorrem de acordo com os
estímulos ambientais em conformidade com a cultura e o contexto social
em que o sujeito vive. Por exemplo, o sujeito pode expressar uma reação
emocional de medo frente à aparição repentina de um animal feroz, nesse
caso, a reação de medo está relacionada à presença do animal. Outro
exemplo, agora cultural, um brasileiro pode expressar uma reação de nojo
ao ver um chinês se alimentar de carne de cachorro, isto porque a carne de
cachorro não faz parte da dieta alimentar do brasileiro.

O sentimento é uma construção histórica cujo significado está relacionado


aos valores de uma cultura. Por isso não podemos generalizar os
sentimentos, ou seja, a forma como as pessoas amam; essas emoções estão
em harmonia com o conceito de amar da cultura de cada um . Por exemplo,
uma mãe brasileira raramente entregaria seu filho de seis anos para ser
educado em outra casa, outra cidade longe dos seus cuidados. Diferente

35
CAPÍTULO 1

da mãe brasileira, uma mãe israelita tranquilamente entrega seu filho de


seis anos para ser educado nos “Kibutz”, longe dela. E isso não significa que
ela não ame seu filho, pelo contrário, por amar seu filho ela deseja que ele
tenha uma educação considerada ideal dentro da sua cultura.

Síntese do capítulo

»» Você estudou, nesse capítulo, a evolução da Psicologia Científica,


estudou também os movimentos estruturalistas e funcionalistas.
Conheceu as concepções inatistas e ambientalistas de
aprendizagem, e ainda estudou os processos psicológicos.

»» Você viu que a Psicologia procura conhecer o homem em todas


as suas dimensões, do nascimento até a morte. É a Psicologia
que estuda a aprendizagem como processo. O conhecimento
produzido pela Psicologia contribui para o trabalho pedagógico
no contexto escolar.

»» Você pode observar também que existem vários estudos


psicológicos acerca da aprendizagem, entretanto, não há consenso
sobre esse fenômeno intrapsicológico. Alguns pesquisadores
entendem a aprendizagem como resultado dos estímulos do
ambiente em que a criança vive. Outros, por sua vez, afirmam que
a aprendizagem ocorre na interação entre os sujeitos e o meio
social.

»» Você pode estudar também que os campos de Psicologia e


Educação estão relacionados. A História da Educação nos mostra
que a maioria das mudanças no ensino ocorreu a partir dessa
relação.

Você pode anotar síntese do seu processo de estudo nas linhas a


seguir:

36 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 1
Atividades de aprendizagem

1. Nesse capitulo, você estudou a história da Psicologia Científica, estudou


ainda, as teorias inatista e ambientalista e os movimentos: estruturalistas
e funcionalistas, que buscaram compreender o psiquismo humano.

A partir do que você aprendeu relacione os itens da primeira coluna


com os seus respectivos conceitos na segunda coluna.

01 – Inatismo ( ) Defende que para cada objeto existente no


contexto em que o sujeito vive existe uma
correspondência na anatomia do cérebro.
02 – Estruturalismo ( ) Afirma que nascemos com alma e que a capacidade
de aprendizagem do sujeito é resultado da herança
genética. Todo o potencial de aprendizagem já
vem com o sujeito ao nascer.
03 – Funcionalismo ( ) Acredita que é possível medir a produção mental
por meio dos testes de QI.
04 – Ambientalismo ( ) Desenvolveu estudos para provar que o homem é
um produto dos estímulos do meio ambiente.

Aprenda mais...

Para saber mais sobre o conteúdo estudado neste capitulo você poderá ler o
livro:

TEIXEIRA, Maria de Lourdes; BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair. Psicologias


- Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2007.

37
CAPÍTULO

Escolas Psicológicas: Behaviorismo e Psicologia


2
da Gestalt

Nesse capítulo, você estudará o conceito de escola psicológica


e terá a oportunidade de conhecer duas escolas psicológicas,
uma de origem americana e outra constituída na Alemanha. A
escola americana é chamada de Behaviorismo e a escola alemã
é conhecida como Psicologia da Gestalt. Ambas influenciaram
a constituição da educação brasileira, daí a importância de
estudá-las.
CAPÍTULO

Escolas Psicológicas: Behaviorismo e Psicologia


da Gestalt
2
Objetivo geral de aprendizagem

Estudar as escolas psicológicas do Behavorismo e da Gestalt


de forma a compreender a diferença entre os fundamentos do
Behaviorismo Clássico e as teorias que embasam a Psicologia
da Gestalt.

Seções de estudo
Seção 1 – O condicionamento clássico de Pavlov
Seção 2 – O condicionamento operante de Skinner
Seção 3 – Gestalt: Psicologia da Forma
Iniciando o estudo do capítulo
Nesse capítulo, você estudará as principais escolas psicológicas. A partir
do momento que a Psicologia adquiriu o status de ciência, em várias
partes do mundo foram realizados estudos com a finalidade de entender o
psiquismo. Você verá que o Behaviorismo surgiu nos EUA e no Brasil ficou
conhecido como psicologia do comportamento. Essa escola psicológica
tem como objeto de estudo a relação do organismo com os estímulos do
meio ambiente.

Verá também que a Psicologia da Gestalt foi desenvolvida na Alemanha.


A finalidade dessa Psicologia é compreender os processos psicológicos:
percepção e atenção. A Gestalt desenvolveu estudos sobre princípios
que regulam a atividade de compreensão no homem com a finalidade
de compreender a psique humana. Você estudará essas duas escolas
psicológicas de forma a relacioná-las com a educação.

Seção 1 - O condicionamento clássico de Pavlov


Objetivos de aprendizagem

»» Descrever o condicionamento clássico.

»» Relacionar o condicionamento clássico ao processo de


aprendizagem.

Você já estudou a história da Psicologia Científica, as concepções


ambientalistas e inatistas e os processos psicológicos. Nesse capítulo,
você estudará algumas escolas psicológicas. Antes de explicar as escolas
psicológicas, é necessário que você compreenda o que na Psicologia
configura-se como uma escola psicológica. Acompanhe.
Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
Considera-se como uma escola psicológica a adesão de um grupo
de pesquisadores por uma forma de explorar o objeto de estudo, por
meio da reunião e sistematização de pressupostos teóricos, que unidos
formam uma linha de pensamento com método de pesquisa particular.

Nossos estudos, sobre as escolas psicológicas começam com uma escola


chamada Behaviorismo. Dentre as escolas psicológicas, o Behaviorismo,
é considerado essencialmente positivista. A fonte de conhecimento do
A palavra behaviorismo
Behaviorismo é a pesquisa em laboratório e o objetivo dessa escola é não tem tradução para o
estudar o comportamento observável. O Behaviorismo não se preocupa português, sua origem vem
em estudar o que ocorre dentro da mente, ou seja, os processos mentais; da palavra behaviour, que
significa comportamento
seu objetivo é descrever e moldar o comportamento do homem por meio em inglês, por isso, essa
do controle de estímulos ambientais. escola é conhecida no Brasil
como Psicologia do
Comportamento.
John Broadus Watson (1878 – 1958), psicólogo americano, é considerado
o fundador da Psicologia Behaviorista. Para Watson, o objeto de
estudo da Psicologia é o comportamento observável, por possibilitar a
experimentação com finalidade científica. As pesquisas de Watson foram
influenciadas pelos experimentos do fisiologista russo Ivan Pavlov (1849
-1936), no final do século XIX e início do século XX.

Figura 2.1 – Pavlov em seu laboratório

43
CAPÍTULO 2

Você sabe quem foi Pavlov?

Ivan Petrovich Pavlov foi um famoso fisiologista russo que nasceu na Cidade de Ryazan, na Rússia
Central, em 14 de setembro de 1849 e faleceu em 1936, em Leninegrado, atual São Petersburgo.
Embora tenha iniciado seus estudos em um seminário, acabou por renunciar à carreira religiosa e
formou-se na Universidade de São Petersburgo, na área de Ciências e Medicina. Pavlov foi diretor
do Departamento de Fisiologia do Instituto de Medicina Experimental dessa Universidade, onde
iniciou as suas pesquisas.

Pavlov, em seu laboratório, realizava pesquisas sobre os processos digestivos. Para alcançar o
seu objetivo alimentava os animais que utilizava em suas experiências todos os dias. Certo dia
observou que os cachorros utilizados em suas pesquisas salivavam ao ouvir os passos do tratador,
no momento em que o tratador iria dar-lhes comida. As reações dos cães colocaram Pavlov diante
de um dilema: a salivação dos cachorros, anterior a alimentação dificultavam os experimentos
sobre sucos gástricos, por outro lado, intrigaram Pavlov. O pesquisador teve então a ideia de
estudar o cérebro dos animais. Pavlov havia lido em um livro de Sechnov sobre os reflexos do
cérebro, essa leitura o motivou a pesquisar sobre o reflexo de salivar dos cães de seu laboratório.

Em 1904, Pavlov recebeu o prêmio Nobel de ciência na cidade de Estocolmo, na Suécia. Ao receber
o Nobel, Pavlov fez um discurso no qual descreveu os experimentos que estava fazendo com
cães, suas palavras despertaram o interesse de vários psicólogos, especialmente dos psicólogos
americanos.

Fonte: Portfólio Biografias, 2011 (adaptado pelo autor).

O experimento que relacionou a fisiologia de Pavlov à Psicologia é chamado


de Condicionamento Clássico ou Condicionamento Respondente. A seguir,
você poderá acompanhar uma explicação sobre esse experimento.

Condicionamento Clássico

Em seu experimento sobre condicionamento Pavlov observou o reflexo


Todo reflexo é uma salivar de um cachorro e, a partir de então, pode verificar quais tipos
resposta involuntária, ou de estímulos desencadeavam o ato de salivar. Para tanto, acoplou um
seja, independe do sujeito.
Por exemplo, retirar rapi- medidor de saliva às glândulas salivares de um cão. Em seguida, deu a ele
damente a mão de uma uma mistura de carne com biscoito. Nesse instante, Pavlov pode notar que
chapa quente ao sentir o com o estímulo da comida o cão salivou. A mistura de carne com biscoito
calor com o objetivo de
evitar a dor. foi chamada de estímulo incondicionado (EI). A salivação do cachorro,
na presença do estímulo (carne com biscoito) Pavlov chamou de reflexo
incondicionado (RI), porque é uma resposta reflexa, não aprendida.

44 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
Em outro momento de seu experimento, Pavlov tocou uma sineta,
esperando qualquer resposta do animal. Entretanto, o cachorro não teve
nenhuma reação. Essa sineta, apresentada ao cão, foi chamada de estímulo
neutro (EN) uma vez que não provocava nenhum tipo de resposta por
parte do animal.

Figura 2.2 – Cachorro com medidor de saliva

O passo seguinte de Pavlov foi emparelhar o estímulo incondicionado


(carne com biscoito) e o estímulo neutro (a sineta), apresentando ambos
ao cachorro. O experimentador fez o emparelhamento de estímulos,
várias vezes ao dia, durante mais de um mês. Pavlov observou que o
cachorro passou a encher o medidor com saliva, ao ouvir a sineta, sem a
presença da carne com biscoito. A conclusão que se pode chegar foi que o
emparelhamento de estímulos levou o cachorro a associar o som da sineta
à comida, por isso sempre que ouvia a sineta respondia com salivação. Para
o animal, sineta e comida adquiriram o mesmo valor.

Dessa forma, a resposta do cachorro ao ouvir a sineta passou a ser uma


resposta condicionada (RC), e o estímulo neutro (EN) passou a ser um
estímulo condicionado (EC) porque o cachorro emite uma resposta
aprendida. Observe o quadro a seguir:

45
CAPÍTULO 2

ANTES DO CONDICIONAMENTO

resposta resposta
salivação não há salivação
estímulo resposta estímulo sem resposta
incondicionado (EI) incondicionada (RI) neutro (EN) condicionada
DURANTE O CONDICIONAMENTO

resposta

emparelhamento resposta
de estímulos incondicionada (RI)
APÓS O CONDICIONAMENTO

resposta
estímulo resposta
condicionado (EC) condicionada (RC)
EI + EN = RC
EN passa a ser um EC

Figura 2.3 - Resumo ilustrado do experimento de Pavlov

O grande mérito do estudo de Pavlov, para a psicologia e para a educação,


foi provar que existe aprendizagem por associação e que essa
aprendizagem pode ser observada. Até Pavlov, a aprendizagem era um
fenômeno intrapsíquico não observável. Ao ensinarmos algo a alguém,
não temos condições de prever como e quando o sujeito irá aprender.

Por exemplo: uma professora de alfabetização pode passar meses


ensinando uma criança a ler sem que a criança apresente algum
rendimento, e quando menos se espera a criança começa a ler. Por
vezes isso ocorre no último bimestre do ano letivo e surpreende a
todos.

46 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
O interesse pelos animais e o desconforto com o método introspectivo fez
com que outro pesquisador estudasse empiricamente o comportamento
de aprendizagem: Watson. Diferente de Pavlov, Watson utilizou ratos em
seus experimentos e o mais famoso experimento do pesquisador foi com
um bebê humano.
No contexto em que Watson
desenvolveu suas pesquisas
Você sabe quem foi John Watson? era permitido fazer experi-
ências com humanos. Hoje
as pesquisas com humanos
John Watson, nascido em 1878, foi um psicólogo americano fundador da corrente behaviorista, precisam passar por um co-
dentro da Psicologia. O pai, violento e desordeiro, abandonou a família quando Watson tinha mitê de ética das universida-
13 anos. Era ambicioso e persistente e apesar de pobre conseguiu entrar para a Universidade des que avalia e determina
Furman, aos 16 anos. Recebeu o diploma de mestre após cinco anos de estudos, ingressando se é possível a realização do
posteriormente na Universidade de Chicago para doutorar-se em Psicologia, em 1903. Mais experimento.
cinco anos e foi nomeado professor de Psicologia Experimental e comparada na Universidade
Johns Hopkins, em Baltimore.

Watson estudou as descobertas feitas por Ivan Pavlov, na mesma época de seu doutoramento,
e desenvolveu pesquisas semelhantes em biologia, fisiologia e comportamento de animais.
Estudou também o comportamento da criança, concluindo que o comportamento humano
era, sob muitos aspectos, semelhante ao comportamento animal. Foi com base nesta
constatação e inspirado pelas descobertas de Pavlov, que Watson inaugurou, dentro da
Psicologia, a corrente que ficou conhecida por Behaviorismo (Comportamentalismo).

Fonte: Adaptado de Cobra, Rubem Queiroz - Educação e Comportamento: Resumos Biográficos.


Site COBRA PAGES, www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.

Em 1920, Watson afirmou que as reações emocionais se desenvolvem por


condicionamento. Watson pode chegar a esta conclusão através de um
experimento com um bebê de nove meses, chamado pelo pesquisador
de Albert. O experimento foi realizado da seguinte forma: antes de iniciar
a pesquisa propriamente, Watson apresentou a Albert vários estímulos
e observou a reação do bebê. Mostrou ao bebê um rato branco, um
coelho, um cão, um macaco, uma máscara e papel em chamas. Albert
não apresentou reações de medo com nenhum dos estímulos. O bebê só
demonstrou medo quando exposto a ruídos altos e repentinos.

Watson emparelhou dois estímulos para condicionar Albert. Colocou


diante do bebê um rato branco e toda vez que Albert tocava o rato um
ruído alto acontecia. Foi então que Watson, ao final do experimento, pode
observar que o bebê apresentava o comportamento de choro e medo ao
ver o rato, mesmo que não tivesse o ruído alto.

47
CAPÍTULO 2

Figura 2.4 – Watson e Albert, durante o experimento

Watson provou que o comportamento emocional do ser humano está


relacionado às situações vividas no meio ambiente, à forma como os
estímulos do meio afetam o indivíduo.

Ao observarmos uma situação de sala de aula, podemos perceber também


a questão do comportamento condicionado. Você já pensou em como a
conduta do professor influencia no desempenho do aluno?

Por exemplo, se um (a) professor (a) ao apresentar uma expressão


de reprovação a cada vez que o aluno perguntar algo relacionado
à aula, o aluno experimentará sensações, emoções e sentimentos
negativos e tenderá a não mais fazer perguntas, mesmo que para
outro professor. Isto ocorre porque o aluno foi condicionado pelo
comportamento do(a) primeiro(a) professor(a). O comportamento
de reprovação do professor faz com que o aluno generalize a
resposta a essa situação, passando a sentir as mesmas reações em
aulas com professores diferentes.

48 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
Você estudou o trabalho de Pavlov sobre o condicionamento respondente
e como acontece a aprendizagem por associação. Viu também um exemplo
do condicionamento de Pavlov na escola. A seguir, você estudará outra
forma de condicionamento realizada por um pesquisador nos EUA.

Seção 2 - O condicionamento operante de Skinner


Objetivos de aprendizagem

»» Identificar os elementos do condicionamento operante.

»» Verificar como o condicionamento operante se apresenta


no processo educativo.

Burrhus Frederick Skinner é considerado pelos psicólogos como o mais


radical dos behavioristas. Skinner é autor de vários estudos sobre o
comportamento. Ele desenvolveu seu trabalho após tomar conhecimento
das pesquisas de Pavlov e Watson.

Skinner observou que o ser humano apresenta vários tipos de


comportamentos: comportamentos reflexos, voluntários e os
comportamentos operantes. Veja uma breve explicação sobre cada um
deles:

»» O comportamento operante é aquele cujo estímulo emitido


pelo ambiente desencadeia um comportamento observável.

»» O comportamento reflexo é aquele em que o indivíduo age de


forma involuntária.

»» O comportamento voluntário é uma ação consciente do


indivíduo em direção ou em relação a um evento que ocorre no
meio ambiente.

O trabalho de Skinner teve como objetivo estudar o comportamento


operante que são respostas do organismo aos estímulos do meio. Tais

49
CAPÍTULO 2

estímulos operam e agem sobre o organismo, entretanto, esses não são


observáveis de maneira espontânea.

Para Skinner, todos os comportamentos humanos podem ser moldados


através do controle dos estímulos do meio ambiente. Para ele, é possível
criar ou eliminar comportamentos, ao adicionar ou eliminar os estímulos
do ambiente.

Skinner identificou e nominou os estímulos do meio. Os principais são: o


reforço positivo, o reforço negativo e a punição. Veja a explicação sobre
cada um deles:

Reforço Positivo

O reforço positivo é um estímulo que é aplicado pelo experimentador sobre


um organismo imediatamente após um comportamento desejado ou
correto. O reforço positivo aumenta a probabilidade de o comportamento
acontecer novamente. Consideram-se reforços positivos os estímulos que
gratificam, causam prazer no sujeito, e que por isso eles tendem a repetir o
comportamento. Veja o seguinte estudo de caso:

O caso Pedro

Pedro tem nove anos, seu comportamento em sala de aula atrapalha o trabalho do
professor(a). Pedro não faz as tarefas propostas pelo professor, caminha pela sala e conversa
muito durante a aula. O ano letivo transcorre e Pedro não consegue realizar aprendizagens
significativas. O professor decide pedir ajuda ao psicólogo(a) da escola.
O psicólogo observa o comportamento de Pedro e percebe que ele se sente inseguro ao ler
qualquer tipo de texto. O psicólogo decide auxiliar Pedro através do uso do reforço positivo.
A cada leitura bem sucedida o psicólogo o elogia e em seguida lhe dá um prêmio.
Após vários dias de trabalho com o psicólogo, Pedro deixa de apresentar o comportamento
de insegurança em relação à leitura e melhora significativamente seu comportamento em
sala de aula.

50 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
Muitas vezes no nosso dia a dia, reforçamos comportamentos que nem
sempre são desejados, por exemplo: uma criança em um supermercado
chora e grita ao ver o seu doce preferido, a mãe para evitar o constrangimento
acaba por comprar o doce para a criança com a finalidade de acalmá-
la. Sem se dar conta, a mãe reforçou o comportamento de choro e grito
apresentado pela criança.

Reforço Negativo

O reforço negativo é diferente do positivo. Enquanto o reforço positivo


é aplicado imediatamente após um comportamento correto, no reforço
negativo é a retirada do estímulo aversivo que aumenta a probabilidade
de aumentar a frequência de ocorrer o comportamento desejado pelo
experimentador. Vamos a um exemplo.

Pense em uma pessoa que tem compulsão alimentar. O desejo dela


é comer mais e mais para obter prazer. Suponha que essa pessoa
esteja usando uma cinta modeladora que aperta o seu estômago
e a impede de comer. Em um dado momento ela retira a cinta e
passa a comer mais. A retirada da cinta reforça o comportamento
de comer. O mesmo pode acontecer quando um barulho te impede
de estudar, a retirada do objeto que provoca o barulho aumenta o
seu comportamento de estudar.

Os reforços positivos e negativos aumentam a frequência de um


dado comportamento. O reforço positivo aumenta a frequência do
comportamento pela possibilidade do organismo sentir conforto e prazer.
O reforço negativo aumenta possibilidade de um comportamento ocorrer
porque cessa o desconforto do organismo, é a retirada do desconforto
(estímulo aversivo) que aumenta a possibilidade do comportamento vir a
ocorrer.

51
CAPÍTULO 2

Punição

A punição é um estímulo que causa dor ou desprazer no organismo, é


utilizado para extinguir comportamentos indesejáveis. Durante todo
o período que vigorou o ensino tradicional, a punição foi utilizada para
moldar o comportamento de alunos indisciplinados. No Brasil, durante
muitos anos os professores utilizaram a palmatória para punir os alunos.
A palmatória, também
Se desrespeitasse o professor ou brigasse,
conhecida como Férula, é o aluno apanhava com a palmatória. Essa
um artefato de madeira medida tinha como objetivo eliminar a
que foi muito utilizado
para castigar os alunos indisciplina e colocar o aluno no caminho
indisciplinados, nas esco- correto para “ser um homem ou mulher de
las brasileiras de outros bem”.
tempos.

Skinner foi o pesquisador que descreveu os


tipos de reforços. Ele criou um instrumento
para fazer experimentos com animais que
ficou conhecido como “Caixa de Skinner”,
desde a sua criação, esse instrumento
passou por várias adaptações e é utilizado
na maioria dos cursos de Psicologia das
universidades brasileiras. Figura 2.5 - Palmatória

A caixa de Skinner

O interior da caixa de Skinner possui iluminação, uma sineta, um bebedouro


e um pedal. Quando o animal empurra para baixo o pedal, sob condições
estabelecidas pelo experimentador, o alimento ou água cairá em um
recipiente. Na parte externa da caixa, existe um painel de controle em
que o experimentador, ao acionar diferentes botões, pode liberar água,
controlar a iluminação ou dar choque elétrico no animal.

A caixa de Skinner é utilizada na modelagem de comportamentos e outros


experimentos. Na modelagem do comportamento, toma-se um rato em
privação de alimento e água por 24 horas e o coloca na caixa. Inicialmente
observa-se o comportamento natural do rato. Depois de algum tempo, o
experimentador aciona um botão externo que libera água e toca a sineta
dentro da caixa (emparelhamento de estímulos). Pelo instinto o rato chega
ao local onde está a água. O experimentador repete essa ação por várias

52 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
vezes, até que o rato associa o som da sineta com a liberação da água.
Nesse momento do experimento, o rato pode estar em qualquer ponto da
caixa e ao ouvir o som da sineta o rato se dirige exatamente ao ponto em
que é liberada a água.

O passo seguinte do experimento é levar o rato a beber água sozinho.


Para isso, ele precisará abaixar o pedal interno da caixa que tocará a sineta
e simultaneamente liberará a água no bebedouro. Para alcançar o seu
objetivo o experimentador faz uso do reforço positivo, ele seleciona os
comportamentos que serão reforçados.

Auto-falante

Luzes sinalizadoras
Alavanca
Tubo
alimentador

Alimento

Grade elétrica

Gerador de choque

Figura 2.6 – Caixa de Skinner

O experimentador aplica o reforço quando:

»» o rato fica parado;

»» o rato para próximo ao pedal;

»» o rato coloca as patas no pedal;

»» o rato abaixa o pedal.

53
CAPÍTULO 2

A cada aprendizado do rato, o experimentador abandona o comportamento


aprendido para ensinar o próximo, ou seja, é feita uma aproximação
sucessiva do objetivo do experimento, que é fazer com que o rato sozinho
tome água.

Observe que nesse experimento há aquisição de novos comportamentos


por meio do reforço.

Os comportamentos também podem ser extintos pelo experimentador.


A extinção do comportamento se dá quando o comportamento não é
reforçado, quando o animal está saciado ou quando o animal é punido, por
exemplo, quando apresenta um comportamento indesejável aos objetivos
do experimentador.

O experimento exemplificado demonstra como ocorre a aprendizagem


por meio do controle dos estímulos do meio ambiente.

O trabalho de Skinner foi e é utilizado no contexto escolar. Na avaliação


escolar, o sistema de notas é um exemplo de uma escala de reforço para o
comportamento adequado do aluno. No sistema de ensino brasileiro, a ideia
de distúrbio de comportamento e indisciplina é herança do Behaviorismo.

Do ponto de vista do Behaviorismo, a aprendizagem é um produto da


organização dos estímulos pelo professor. O papel do professor, em sala
de aula, é o de planejar rigorosamente cada aula, organizar e controlar
os estímulos do ambiente e aplicar escalas de reforços para que o aluno
adquira comportamentos adequados, que correspondam ao ambiente
escolar.

Você estudou as concepções inatista e ambientalista. Observe que para o


Behaviorismo o desenvolvimento e aprendizagem são determinados pelo
meio ambiente, por isso, podemos dizer que o Behaviorismo é uma escola
que representa a concepção ambientalista de homem.

54 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
Seção 3 - Gestalt: Psicologia da forma
Objetivo de aprendizagem

»» Mostrar a evolução de Psicologia da Gestalt na Alemanha.

»» Conhecer os principais fundamentos da psicologia da


Gestalt.

A psicologia da Gestalt nasceu na Alemanha, entre 1910 e 1912, é também


conhecida como psicologia da forma. Ao longo de sua história, destacam-
se três grandes pesquisadores: Marx Wertheimer, Kurt Kofka e Wolfgang
Köler.

Do ponto de vista filosófico, a Psicologia da Gestalt tomou como base os


trabalhos de Kant sobre o apriorismo no sujeito.

O apriorismo Kantiano refere-se ao conhecimento, as percepções


e categorias cognitivas inerentes ao sujeito que são anteriores à
experiência.

Marx Wertheimer (1880-1943) é o primeiro protagonista do movimento


que deu origem à psicologia da Gestalt, seus estudos foram focados na
compreensão do movimento aparente. Wertheirmer realizou um estudo
com dois pontos de luz. Nesse estudo, ele observou o acender e apagar
de duas luzes no escuro. O pesquisador testou várias vezes a velocidade
do intervalo de tempo em que acendia e apagava primeira lâmpada em
relação à segunda. Quando o intervalo era longo o sujeito percebia duas
luzes acender uma após a outra. Quando o intervalo era curto, cerca de
sessenta milissegundos, o sujeito percebia uma luz se movimentando ao
invés de duas lâmpadas acendendo uma após a outra. A conclusão a que
se chega é que o movimento percebido ocorre somente no plano mental
do sujeito, isto porque, a percepção humana não acompanha a velocidade
em que se acende e apaga uma luz para em seguida se acender e apagar

55
CAPÍTULO 2

outra luz, por isso, tem-se a ideia de deslocamento, gerando uma ilusão de
ótica.

Para confirmar sua hipótese sobre o movimento aparente Wertheimer e


seus colaboradores fizerem um segundo experimento:

»» foram usadas três luzes: A, B, C em linha reta;

»» as luzes A e C piscavam simultaneamente;

»» a luz B piscava após sessenta milissegundos.

A percepção que se tinha era que as luzes A e B se moviam em direção ao


ponto central. Esse experimento derrubou a hipótese de que a percepção
estava relacionada somente ao movimento ocular, isto porque os olhos
não podem se mover em duas direções ao mesmo tempo.

Kurt Kofka (1886 -1941) é o principal responsável pela difusão da Psicologia


da Gestalt, nos Estados Unidos. Na primeira metade da década de vinte,
Kofka proferiu uma série de palestras nas universidades americanas. Sua
produção acadêmica foi escassa porque não estava vinculado a nenhum
programa de pós-graduação. No contexto de Kofka, a Psicologia americana
estava voltada para o positivismo. Para os psicólogos americanos, os
pesquisadores que estudavam a Psicologia da Gestalt estavam mais
interessados em produzir teoria do que em fazer experimentos. Wolfgang
Köler (1887-1967), outro pesquisador da Gestalt, realizou pesquisas com
macacos durante a Primeira Guerra Mundial, período em que vivia nas
Ilhas Canárias. Köler procurou conhecer a capacidade mental dos macacos.
Após a guerra, retornou a Alemanha, onde lecionou no ensino superior.
Em 1935, saiu da Alemanha, migrou para os Estados Unidos e foi o primeiro
pesquisador da Psicologia da Gestalt a tornar-se presidente da American
Psychological Association (APA).

O conhecimento da Psicologia da Gestalt atravessou fronteiras, seus


estudos sobre a percepção apontam para princípios essenciais para a
apreensão, integração e interpretação das informações dispostas no meio
ambiente, pelo sujeito.

56 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
A psicologia da Gestalt afirma que a percepção se configura a partir de
alguns princípios fundamentais:

»» o todo é mais que a soma das partes;

»» princípio de proximidade;

»» princípio de fechamento;

»» princípio de semelhança;

»» a relação figura/fundo.

Veja, a seguir, a explicação de cada um desses princípios.

Dizer “o todo é mais que a soma das partes”, significa dizer que quando
observamos um objeto, tendemos a perceber a totalidade desse. A primeira
vista, não percebemos os detalhes e as partes que o compõem, por isso,
interpretamos o objeto de uma forma e quando lançamos um olhar mais
minucioso sobre o mesmo, este adquire outro sentido para nós.

Um exemplo disso é quando assistimos a um filme pela primeira


vez, tendemos a perceber a organização geral do filme. Ao
assistirmos o mesmo filme mais de uma vez, observamos
elementos novos que não estavam relacionados à primeira
impressão que tivemos.

O princípio de proximidade significa que quando percebemos objetos,


somos levados a agrupá-los de acordo com sua relação de proximidade, é
o que ocorre com a figura a seguir.

57
CAPÍTULO 2

Figura 2.7 – Exemplo de princípio de proximidade

Observe que os elementos mais próximos tendem a ser agrupados por isso
vemos três colunas e não três linhas.

No principio de fechamento, tendemos a buscar em nossa memória um


elemento que se aproxima do objeto, em termos de conteúdo e forma,
para facilitar nossa compreensão. Observe a figura abaixo.

imagem oficial como observamos

Figura 2.8 – Exemplo de princípio de fechamento

Na figura, há um grupo de linhas no espaço, entretanto, tendemos a ver


um felino porque preenchemos, “psicologicamente”, os espaços faltantes
do desenho. O mesmo acontece quando vemos um quadrado, na figura
seguinte.

Pelo princípio de semelhança, tendemos a agrupar os elementos pela


semelhança, por isso vemos três linhas ao invés de cinco colunas.

58 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
Figura 2.9 – Exemplo de princípio de semelhança

Na figura abaixo, podemos ver a relação figura/fundo. Do todo, emerge


uma parte que se diferencia do restante da gravura. Essa parte que emerge
é a figura e os demais elementos da gravura são o fundo. A figura será
sempre o objeto que aparece em destaque na gravura, ou seja, aquela que
percebemos imediatamente.

Figura 2.10 – Exemplo de relação figura/fundo

Outro conceito importante da Gestalt é o insight. O insight é um evento


cognitivo em que a relação e ligação de eventos psicológicos dão forma
a uma figura e levam o sujeito a compreensão da figura formada. Cabe

59
CAPÍTULO 2

esclarecer que o conceito de imagem e forma se aplica à música, à literatura


e à tomada de consciência pelo sujeito.

Até aqui, você estudou a evolução da Psicologia da Gestalt e seus principais


princípios. A seguir, você estudará a relação da Psicologia da Gestalt com a
concepção inatista no processo educativo.

Psicologia da Gestalt e a Educação

A Gestalt é uma escola psicológica que considera a concepção inatista de


homem, Wertheimer, köhler e Koffka acreditavam que o comportamento
cognitivo humano é resultado de estruturas inatas, que são inerentes aos
sujeitos. Para eles, não é o estímulo que determina a aprendizagem.

Para a teoria da Gestalt a aprendizagem é determinada pela capacidade


de perceber do sujeito e pela maturação do sistema nervoso.

Do ponto de vista da psicologia da Gestalt, a aprendizagem ocorre de


dentro para fora do sujeito. O conhecimento depende da prontidão do
aluno para aprendizagem. E a prontidão para aprendizagem depende
do processo de maturação neurológica ao longo da vida do aluno. É a
maturação biológica quem determina o interesse e a motivação do aluno,
durante a aprendizagem do conteúdo escolar.

O planejamento do professor deve centrar-se na maturação do aluno e


por isso as turmas na escola são homogêneas. As crianças precisam ter
o mesmo nível de maturidade para que o trabalho do professor tenha
sucesso. A atuação e o trabalho do professor auxiliam a aprendizagem,
mas não é determinante para o desenvolvimento do aluno.

60 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
O trabalho do professor consiste em auxiliar o aluno, a reorganizar seu
campo perceptual, a partir do conteúdo ensinado.

A escola da Gestalt, no contexto escolar, sofre muitas críticas por parte dos
educadores. Para alguns educadores, a super valorização da individualidade
do sujeito desfavorece o processo de ensino-aprendizagem, porque não
permite a realização de atividades escolares em grupo ou em pares etc.
Outro aspecto negativo é que o insight, por parte do aluno, depende do
seu conhecimento prévio e não é papel da escola trabalhar os pré-requisitos
para aprendizagem. Essa bagagem a criança tem que trazer de casa e está
relacionada a sua maturação nervosa. Se o aluno apresentar problemas de
aprendizagem, não há o que fazer no contexto escolar.

Para os educadores, o contexto escolar e as relações sociais que se


estabelecem na escola são determinantes para o desenvolvimento do
sujeito, por isso os fundamentos da Pedagogia de Gestalt são criticados na
educação.

Síntese do capítulo

»» Neste capitulo, você teve a oportunidade de estudar o


Behaviorismo e a Psicologia da Gestalt.

»» Você pode ver também como essas psicologias compreendem o


homem e sua relação com a educação formal.

»» Você teve a oportunidade de conhecer os condicionamentos


respondente e operante.

»» Você também estudou os princípios de fechamento, aproximação


e a relação figura/fundo da Psicologia da Gestalt.

61
CAPÍTULO 2

Você pode anotar síntese do seu processo de estudo nas linhas a


seguir:

Atividades de aprendizagem

1. Nesse capitulo, você estudou as escolas psicológicas chamadas de


Behaviorismo e Psicologia da Gestalt. Com base nesses estudos, escolha
e assinale, dentre as alternativas abaixo, aquela que corresponde à
Psicologia da Gestalt.

a. ( ) A Psicologia da Gestalt afirma que o homem é resultado da


organização e do controle dos estímulos do meio.

b. ( ) Para podermos dar forma a um objeto precisamos ter uma


estrutura mental que corresponda ao objeto observado no interior do
nosso cérebro.

c. ( ) O princípio de figura/fundo afirma que a figura é todo objeto


que se destaca em nossa percepção em meio ao universo variado de
elementos dispostos no meio ambiente.

d. ( ) O reforço positivo tem força para manter um comportamento


condicionado por um experimentador.

62 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 2
2. Você estudou o Behaviorismo. De acordo com seus estudos sobre
o Behaviorismo, assinale, dentre as alternativas abaixo, aquela que
corresponde ao experimento de Skinner.

a. ( ) Skinner procurou medir a salivação dos cães.

b. ( ) Realizou o condicionamento respondente.

c. ( ) Criou os reforços positivos e negativos.

d. ( ) Iniciou seus estudos a partir dos sucos gástricos dos animais.

Aprenda mais...

Para saber mais sobre o conteúdo estudado neste capitulo você poderá ler o
livro:

ATKINSON, R. L.; ATKINSON, R. C.; SMITH, E. E.; BEM, D. J.; NOLEN- HOEKSEMA,
S. Introdução à Psicologia de Hilgard. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

63
CAPÍTULO

Escolas Psicológicas: Psicanálise e Humanismo


3
Nesse capítulo, você estudará duas escolas psicológicas. A
Psicanálise, criada por Sigmund Freud e o Humanismo, de
Carl Rogers. Essas duas teorias voltam-se para os processos
afetivos do sujeito. Ambas descrevem o desenvolvimento da
personalidade ao longo da infância e demonstram a relação da
personalidade com as atitudes do sujeito quando adulto.
CAPÍTULO

Escolas Psicológicas: Psicanálise e Humanismo


3
Objetivo geral de aprendizagem

Estudar a teoria psicanalítica, a partir do desenvolvimento


psicossexual e a teoria de Rogers e o desenvolvimento da
personalidade de acordo com o Humanismo.

Seções de estudo
Seção 1 – Princípios da Psicanálise
Seção 2 – Desenvolvimento psicossexual de acordo com a
Psicanálise

Seção 3 – Princípios da Teoria Humanista


Seção 4 – Educar de acordo com a Teoria Humanista
Iniciando o estudo do capítulo

Nesse capítulo, você terá a oportunidade de conhecer os principais


conceitos das teorias de Sigmund Freud e Carl Rogers. Para tanto você
acompanhará uma explicação sobre essas duas teorias psicológicas,
as quais consideram os processos afetivos como determinantes para o
desenvolvimento psicológico do indivíduo.

Você estudará que os trabalhos de Freud e Rogers são fundamentais para a


compreensão do papel da educação no desenvolvimento da personalidade
do sujeito; é a partir da psicanálise que a escola passa a considerar os
processos afetivos do aluno em desenvolvimento. É nesse sentido que
o papel da escola foi revisto e o professor passa a ser considerado como
figura social fundamental para a organização da afetividade do aluno.

Seção 1 - Princípios da Psicanálise


Objetivos de aprendizagem

»» Conhecer o processo de formação da psicanálise.

»» Expor os aspectos topográficos e dinâmicos do aparelho


psíquico.

Agora, você estudará as seguintes escolas psicológicas: a Psicanálise, de


Freud, e a escola conhecida como Humanismo, de Carl Rogers. A Psicanálise
e o Humanismo são de fundamental importância para a Psicologia e para
a Educação. Há algumas décadas o objetivo da escolarização era ensinar
o conteúdo científico, independente da análise das condições em que
se processa a aprendizagem e do estado emocional do aluno. Caso o
aluno fracassasse no projeto de escolarização, o fracasso era atribuído ao
estudante; a escola e o professor não eram responsabilizados. É nesse
contexto que as escolas psicanalítica e humanista contribuíram para a
mudança no olhar sobre a relação de ensino e aprendizagem.
Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Antes de estudar a teoria de Carl Rogers é importante você entender o que
é a Psicanálise de Sigmund Freud.

Sigmund Freud (1856-1939) foi o fundador


da Psicanálise. Durante seu trabalho clínico
como neurologista ele observou que em
algumas desordens mentais não tinha uma
causa biológica e por isso o tratamento
com remédios e outras técnicas médicas
não resolviam o problema. É o interesse
de Freud por esse tipo de distúrbio que
o faz sair de Viena e trabalhar com Jean
Martin Charcot (1825-1893), em Paris.
Na sugestão hipnótica, o
médico induz o paciente
Charcot era um psiquiatra reconhecido ao sono, nesse estado o
e usava a hipnose como método de cura paciente é induzido à cura
dos problemas mentais. Freud, durante através da fala do médico.
Há muitos anos, a hipnose
Figura 3.1 – Sigmund Freud o tempo em que trabalhou com Charcot, foi abandonada como mé-
em Paris, pôde observar os benefícios e todo de tratamento, hoje
os limites da hipnose como tratamento. A técnica de Charcot consistia em ela é utilizada em shows e
espetáculos populares.
submeter o paciente à hipnose e durante o estado hipnótico, o sintoma
era removido por sugestão. Os sintomas desapareciam temporariamente
e logo voltavam.

Após trabalhar com Charcot, Freud retorna a Viena e passa a trabalhar com
outro médico: Dr. Josef Breuer (1842-1925). Breuer, assim como Charcot,
também realizava pesquisas com a hipnose. Em seu trabalho com pacientes
histéricos, Breuer avançou em direção ao que viria ser a Psicanálise.

O caso mais famoso de Breuer foi o de uma paciente que padecia fisicamente
em virtude de uma neurose histérica. A paciente foi chamada de “Ana O”,
para preservar sua identidade. Em uma das consultas de rotina, Breuer,
O nome da paciente
por meio da hipnose, colocou Ana em um estado de sonambulismo como era Ana O, é assim que
se tivesse usado tranquilizante. Nesse estado, a paciente passou a narrar aparece na literatura
fatos passados que lhe foram dolorosos e a marcaram profundamente. psicanalítica.
Os episódios narrados por Ana, no estado de sonambulismo hipnótico,
não lhe eram conscientes. Por isso, quando Ana voltava da hipnose não
se lembrava de nada que havia acontecido durante a sessão, por isso a
hipnose foi abandonada.

69
CAPÍTULO 3

Breuer, durante o tratamento de Ana, pouco a pouco passou a intervir e


auxiliar Ana a recordar dos fatos passados que eram dolorosos para ela. A
cada lembrança, Ana revivia as emoções, dessa forma os sintomas histéricos
desapareciam.

Essa forma de tratamento, em que a paciente ao lembrar revivia as


emoções do passado ficou conhecida como Método Catártico.

A partir dos resultados do tratamento de Ana, Breuer e Freud passam a


trabalhar e tratar seus pacientes com o Método Catártico, ao mesmo tempo
em que realizavam o tratamento eles faziam novas descobertas sobre a
vida psicológica humana.

Freud, durante o seu trabalho com o método catártico, observou que os


conteúdos explicitados por seus pacientes tinham uma origem arcaica, e
faziam parte da história de vida do paciente ou eram fantasias relacionadas
a conteúdos infantis. Ele observou ainda, que os pacientes quando lhe
contavam algum acontecimento doloroso sofriam como se o fato estivesse
acontecendo naquele momento, esses fatos o levaram a formular uma
hipótese sobre o aparelho psíquico.

Para Freud, o aparelho psíquico é constituído de três instâncias:

1. Inconsciente – lugar onde estão os conteúdos psicológicos


instintivos e os elementos reprimidos inacessíveis à consciência.

2. Pré-consciente – lugar onde estão as memórias, as lembranças


que podem vir à consciência a qualquer momento.

3. Consciente – lugar onde estão os conteúdos que estamos


cientes em um determinado momento e os acessamos de forma
voluntária.

Para Freud, o objetivo da Psicanálise é fazer com que o conteúdo do


inconsciente venha para o consciente do paciente. Esse método de trabalho
é chamado de associação livre. Por meio da análise, o conteúdo reprimido

70 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
no inconsciente movimenta-se em direção à consciência e apresenta-se de
forma simbólica nos sonhos e aparecem nos “atos falhos” do paciente. O
ato falho nada mais é que o conteúdo inconsciente que aparece na fala da
pessoa sem que ela tenha a intenção de comunicar o que foi dito.

Exemplo

Maria teve um relacionamento amoroso durante muito tempo com


João. Maria insatisfeita com os rumos da relação decide romper o
namoro, mas continua gostando de João. Maria tem que seguir em
frente, por isso seu sentimento é reprimido (fica no inconsciente).
Algum tempo depois Maria começa um novo relacionamento com
Marcos. Algumas vezes ao chamar Marcos , o chama de João, nome do
antigo namorado. Esse equivoco é chamado de ato falho. Maria teve a
intenção de chamar o novo namorado de Marcos e nome que lhe veio
à consciência foi o de João.

Freud, também formulou a hipótese dinâmica do aparelho psíquico. Ele


afirma que nosso psiquismo possui três grandes sistemas: o Id, Ego e o
Superego.

O id é a única estrutura psicológica que já vem conosco ao nascer. É a parte


original do aparelho psíquico e é a partir do id que se desenvolve o ego e
o superego.

Acompanhe, a seguir, a explicação de cada um deles.

Id

O Id é a fonte primária de energia psíquica (libido), nele estão também os


nossos instintos. De acordo com Freud, nosso psiquismo opera por meio
de dois instintos básicos:

»» O instinto de vida - o objetivo desse instinto é a manutenção


da vida do sujeito e da espécie, ele se apresenta sob a forma de
fome, sede e desejo sexual.

71
CAPÍTULO 3

»» O instinto de morte - se apresenta na forma de agressão. Em


casos patológicos o instinto de morte se apresenta na forma de
depressão, psicose e autodestruição.

Os instintos de vida e morte não são excludentes, porque para preservarmos


a vida precisamos da agressividade para mastigar a carne de um animal
que nos serve de alimento.

Instinto de vida e morte buscam um equilíbrio para alcançarem o


objetivo de manter a vida de uma pessoa. O problema é quando o
instinto de vida enfraquece e o instinto de morte predomina, dando
origem a psicopatologias e outras doenças que colocam em risco a vida
do sujeito.

O Id tem características particulares, seu conteúdo é totalmente inconsciente


e não tolera tensão. Se o grau de tensão em seu interior se eleva, ele tende a
descarregar essa tensão, o objetivo é eliminar o desconforto, a dor e buscar
o prazer. A busca do id em reduzir a tensão é chamada de princípio do
prazer. Sua busca pelo prazer é irracional, pois o Id desconhece os limites
da realidade objetiva.

No psiquismo do bebê ao nascer, por


exemplo, só existe o id inicialmente.
A fome gera no bebê um estado de
desprazer que eleva a tensão e coloca
o recém nascido em desespero. O
Id, para se livrar do desprazer cria
mecanismos para descarregar a
tensão e voltar ao estado de conforto.
É nesse momento que o Id vai em
busca do prazer: a tensão diminui
quando o bebê é amamentado. Na
medida em que o bebê ingere o leite
materno, juntamente com a força
Figura 3.2 – O ID e o Bebê
que ele faz para sugar o seio da mãe

72 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
ou a mamadeira, diminui a tensão gradativamente, aumenta o estado de
conforto gerando prazer que o acalma.

Quando o id não consegue obter prazer o bebê vive a frustração, agora é


preciso lidar com a insatisfação por meio da adaptação, daí surge o ego.

Ego

Diferentemente do id, o ego opera pelo princípio da realidade. A criança,


ao se deparar com as exigências do meio, precisa se reorganizar frente
à realidade, por isso redireciona os impulsos do id e passa a operar pelo
princípio da realidade. Agora, a criança terá que suportar a frustração de ver
seus desejos não se realizarem imediatamente, ela precisa adiar o prazer,
tolerar a frustração. Nesse contexto, o ego canaliza a energia psicológica
para outros objetos de maneira a fazer com que o sujeito se adapte a
realidade.

No processo de adaptação à realidade, a criança se depara com as normas,


regras e os valores que modulam sua conduta afetiva por meio da
repressão dos seus desejos. Nesse momento, se desenvolve outra estância
psicológica, o superego.

Superego
CONSCIÊNCIA

O superego é a incorporação das normas EGO PRÉ-CONSCIENTE

sociais, sua função é decidir o que é certo


INCONSCIENTE
ou errado. Ele é punitivo o responsável pelo ID
sentimento de culpa, pelo remorso que
SUPEREGO
tortura o sujeito.

O id, o ego e o superego configuram ao


aparelho psíquico, como você pode ver na Figura 3.3 - Estrutura psíquica segundo Freud
figura ao lado.

A dinâmica do aparelho psíquico pode ser explicada da seguinte forma:

1. O id lança um impulso na forma de desejo proibido e imoral


culturalmente.

73
CAPÍTULO 3

2. O superego se relaciona com esse desejo de maneira a reprimi-lo,


porque é considerado errado socialmente.

3. O ego, por sua vez, medeia a relação entre o id e o superego;

4. O ego pega o impulso do id e a repressão do superego e encontra


uma saída socialmente aceita para atender as essas duas estâncias
psicológicas.

Pense na seguinte situação: uma mulher, ao sair do trabalho sente muita


fome, ao passar em frente a uma panificadora, vê uma deliciosa torta na
vitrine o seu primeiro impulso é quebrar a vitrine e comer a torta (id); logo
o seu superego entra em ação a sinaliza a ela que se quebrar a vitrine e
pegar a torta ela irá presa; reprime o impulso, gerando um conflito. É neste
momento que seu ego entra em ação e sinaliza para ela entrar e ver quanto
custa a torta; se a torta for muito cara, seu ego cria outra alternativa sinaliza
para ela comprar um pedaço da torta, assim o conflito é resolvido e as
demandas do id e do superego são atendidas sem danos ao sujeito.

Observe que as três instâncias psicológicas (id, ego e superego) se articulam


para manter o equilíbrio psicológico do sujeito. Se uma dessas instâncias
predominar sobre a outro, tem-se como resultado a formação de doenças
psíquicas.

Seção 2 - Desenvolvimento psicossexual de acordo com a


Psicanálise
Objetivos de aprendizagem

»» Estudar as fases do desenvolvimento sexual do homem.

»» Conhecer o papel da Psicanálise na educação.

Freud causou polêmica e foi severamente criticado ao dizer que o homem


não é senhor de suas ações, porque é conduzido pelo inconsciente. Outro

74 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
fator que estremeceu os pilares da sociedade médica e da população em
geral foi a afirmação de Freud sobre a sexualidade da criança, para ele a
criança é sexuada. De acordo com Freud, o prazer erótico está presente
desde o nascimento do sujeito e que sua manifestação ocorre a partir dos
primeiros dias de vida.

Para Freud, a sexualidade infantil não está pronta ao nascer, ela se


desenvolve ao longo da vida do sujeito do nascimento até a puberdade.

Para entendermos como se desenvolve a sexualidade da criança durante


a infância, precisamos, antes, conhecer o conceito de libido segundo a
Psicanálise.

Você estudou que o aparelho psíquico é dinâmico e suas partes (id, ego
e superego) estão em interação constante. A energia que mobiliza o
conteúdo psicológico é chamada de libido e sua fonte é o id.

A organização da sexualidade humana está relacionada à expansão da


libido, essa expansão Freud denominou de fases do desenvolvimento
psicossexual. As fases são: oral, anal, fálica, de latência e genital.

Para a Psicanálise, o desenvolvimento psicológico acontece juntamente


com os processos de maturação neurobiológico da criança. Para explicar
a relação entre o desenvolvimento libidinal e a maturação biológica do
sujeito, foram identificadas zonas erógenas no corpo da criança. As
zonas erógenas são partes do corpo em que a libido está mais concentrada.
Quando essas regiões são estimuladas o sujeito sente prazer.

As fases do desenvolvimento descritas na Psicanálise são caracterizadas de


acordo com a maior concentração de libido em uma dada região do corpo.

Veja a seguir a explicação de cada uma das fases do desenvolvimento


psicossexual.

75
CAPÍTULO 3

Fase oral

A fase oral do desenvolvimento psicossexual vai de zero a um ano. Nessa


fase, a libido está concentrada na boca e no trato gastrointestinal, por
isso a boca é uma zona erógena. O prazer, nessa fase, ocorre por meio da
alimentação. A criança sente prazer ao ser alimentada.

Imagine um bebê faminto, a sensação


de desconforto é imensa enquanto
espera o alimento. A espera pelo
alimento aumenta a tensão no bebê
por isso ela chora desesperadamente.
Nesse momento, a criança opera pelo
id, quer que seus impulsos e desejos
sejam satisfeitos imediatamente. A
criança luta em busca do prazer. No
memento seguinte, a mãe lhe oferece o
seio ou seu substituto. O bebê ao sugar
o seio descarrega a tensão; na medida
em que o alimento é ingerido a criança
sente alivio, o prazer é imenso. Quando
Figura 3.4 – Fase oral o bebê está satisfeito a tensão é zerada
e ele volta a ficar calmo e tranquilo.

A mãe, ao alimentar o bebê o aconchega lhe dá afeto, o seu carinho o


tranquiliza, por isso a criança incorpora além do alimento o afeto materno.
O cuidado com o bebê é fundamental, porque as experiências vividas no
primeiro ano de vida podem determinar os padrões de reações futuras
do sujeito. É a mãe que faz a ligação entre o mundo interno da criança
e a realidade externa; o bebê atribui à mãe os seus estados afetivos. As
experiências de gratificação e frustração vão ser fundamentais na formação
da personalidade da criança e na forma que ela lidará com a realidade.

Fase anal

A fase anal inicia-se a partir do segundo ano e vai até aproximadamente


o quarto ano de vida. Nesse período, há uma expansão da libido para a
região anal, o ânus passa a ser a zona erógena na criança. Cabe lembrar,

76 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
que nessa fase, ocorre a maturação biológica dos músculos anais (esfíncter)
e das musculaturas de base que favorecem a mobilidade da criança, ela
coordena suas ações e torna-se mais independente.

A criança sente prazer ao evacuar. É dada uma atenção especial para o “fazer
cocô”. Nesse período, a criança passa pelo treino de toalete e os adultos
dão atenção especial ao momento em que a criança irá evacuar. Por outro
lado, a criança se depara com um produto que é seu, nesse sentido as
fezes tornam-se muito importantes para criança. A valorização do produto
criado pela criança e a valorização social são elementos que estruturam
as fantasias do infante. Ela “imagina” que seu produto é importante para
todos, e durante o treino de toalete ela o oferece como recompensa a um
ambiente agradável. Se o ambiente for desagradável, a criança se recusa a
oferecer o seu produto às pessoas, podendo então reter as fezes.

A fase anal apresenta duas subfases: a expulsiva e a retentiva. A atividade


de excreção e retenção são ações biológicas naturais, quando o intestino
ou a bexiga está cheio, a criança expulsa seu conteúdo para obter alívio e
prazer.

Na sociedade em que vivemos, não é permitido o movimento biológico


natural. O ato de evacuar está sujeito a normas e regras: como local
apropriado e horários, por exemplo. Essas normas levam a criança a reter
os excrementos quando o desejo é eliminá-los. Nesse processo educativo,
a criança descobre que ao reter as fezes adiando a evacuação, o prazer é
maior durante a expulsão.

Em termos psicológicos, a fixação na fase expulsiva pode levar o sujeito


a ter dificuldades de administrar suas emoções, tornando-se por vezes
agressivo e hostil. A fase retentiva fornece a base para que o sujeito
tenha controle de suas emoções e dos demais seguimentos da sua vida.

De acordo com a Psicanálise, o indivíduo fica fixado em uma das fases do


desenvolvimento psicossexual, quando é despendida grandes quantidades
de libido em uma determinada fase, que pode ocorrer por gratificação,
insatisfação ou trauma. Tal fixação fará parte da personalidade do sujeito e

77
CAPÍTULO 3

quando ele estiver em estados de tensão e ansiedade tenderá a expressar


características da fase na qual está fixado. Pense na seguinte situação: ao
ficar ansioso, tenso, o sujeito passa a comer mais , uma forma encontrada
para descarregar a tensão. O prazer em comer é uma característica
proveniente da fase oral.

3.5 – As fases do desenvolvimento

Fase fálica

A fase fálica do desenvolvimento psicossexual inicia-se por volta dos


quatros e termina por volta do seis anos de idade. Nessa fase, a libido
está concentrada nos genitais da criança, que é sua zona erógena. Esse é o
Em termos simbólicos, o momento em que as crianças manipulam essas áreas erógenas em busca
falo significa poder. Tudo de prazer. O menino e a menina descobrem o pênis e esse passa ser o alvo
que se relaciona ao falo
adquire o significado de de interesse da criança. Ela passa a atribuir valor ao órgão sexual e procura
poder gerador de força. o pênis em objetos inanimados, como por exemplo, a criança ao ver um
O pênis masculino é uma
representação fálica de
vazamento de água em um carro ela pensa que o carro tem pênis e está
poder. Por isso a psicanáli- fazendo “xixi”.
se deu o nome a esta fase
de fálica porque as rela-
ções afetivas vividas nesse
De acordo com os psicanalistas, nessa fase, as meninas acreditam que
período estão relacionadas o clitóris é um pênis que irá se desenvolver. Por outro lado, os meninos
ao poder masculino durante muito tempo ignoram a existência da vagina. O valor atribuído ao
pênis é simbólico, pois durante muito tempo os homens dominavam os
espaços sociais.

78 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Nessa fase, a tensão e o conflito estão relacionados às relações afetivas que
a criança estabelece com seus pais. É nesse momento que a criança vive o
que Freud chamou de “complexo de Édipo”.

O complexo de Édipo se caracteriza pela rivalidade do filho para com o


pai. Em busca do amor da mãe, há desejos incestuosos do menino em
relação à mãe. O menino tem sentimentos ambivalentes em relação ao
pai, ao mesmo tempo em o que ama, também o odeia. Esses sentimentos
se relacionam à disputa pelo amor da mãe e pela identificação do
menino com o pai.

Tabu significa uma proibição


imposta por tradição ou
O objeto de amor do menino é a mãe. Ele percebe que existe uma relação costume. O incesto é a relação
sexual entre parentes de
entre o pai e a mãe e fantasia que o pai quer lhe tirar a mãe, por isso o primeiro grau. O tabu do
odeia. Por outro lado, o menino admira o pai e o percebe como poderoso incesto refere-se à proibição
esse fato leva a criança a se identificar e imitar o pai. Na disputa com o pai, da relação sexual entre pais
e filhos. Do ponto de vista da
o menino vive angustia da castração, ele tem medo de ser castrado pelo Psicanálise, o tabu do incesto
pai por causa do amor pela mãe. Esse sentimento de castração juntamente é a maior lei cultural internali-
com o tabu do incesto faz com que o menino reprima seu desejo pela zada pela humanindade.
mãe.

Após a vivência do medo da


castração, o menino reprime
os desejos experimentados no
Complexo Édipo, em virtude
dessa repressão o menino sai do
Complexo de Édipo.

Nesse momento, o superego está


totalmente pronto, o que favorece
a internalização e operação
mental das normas sociais.
Figura 3.6 – Complexo de Édipo

79
CAPÍTULO 3

Na mulher, a fase fálica inicia-se com o complexo de castração. Em virtude


do valor atribuído ao pênis, a menina ao perceber que não tem o orgão, se
sente impotente e vive o complexo de castração.

A menina atribui a sua falta de pênis e


todas as suas impossibilidades à mãe. Ela
se sente herdeira da castração materna,
dessa forma, a menina tem sentimentos
ambivalentes (amor e ódio) em relação à
mãe, ela percebe a mãe como rival. O pai
é o objeto de amor da filha dessa forma
configura-se o complexo de Édipo na
mulher. Ao vivenciar o tabu do incesto, a
menina reprime os desejos eróticos pelo
pai, o superego está totalmente formado
e a menina passa a operar com as normas
do meio cultural e social.

Para a psicanálise, quando a criança


Figura 3.7 – Complexo de Édipo na mulher elege como objeto de amor, durante o
complexo de Édipo, o progenitor do sexo
oposto, essa criança faz uma escolha inconsciente pela heterossexualidade.
Da mesma forma, se durante o complexo de Édipo a criança escolher como
objeto de amor o progenitor do mesmo sexo, essa criança faz uma escolha
inconsciente pela homossexualidade.

Com a instauração do superego os desejos sexuais são reprimidos, a libido


será dirigida para outras coisas do cotidiano e a criança entra na fase de
latência por volta dos seis anos.

Fase de latência

Nesta fase, diferentemente das anteriores, a libido não predomina em uma


região específica do corpo. Agora a libido é direcionada para o mundo
externo. A criança torna-se mais independente em relação aos pais e seus
interesses estão voltados para os relacionamentos sociais e intelectuais.

80 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Cabe observar, que na fase de latência a criança tem curiosidade sobre
o corpo do adulto, busca outros recursos afetivos para solucionar os
seus problemas e por isso fica vulnerável à sedução do adulto. Embora
a criança seja independente e circule sozinha pela vizinhança é um
período que exige atenção e cuidado.

As crianças começam a se organizar


em grupos. Na escola menina só
anda com menina e menino só se
relaciona com menino. Esses grupos
circunscrevem os papéis sociais
que a criança irá desempenhar.
É nesse período que as crianças
fazem os jogos sexuais como meio
de descoberta do próprio corpo,
do corpo do outro e das funções
sexuais.
Figura 3.8 – Grupos de Crianças: Meninos e Meninas

Fase genital

Para a psicanálise, a fase genital é o último estágio do desenvolvimento


psicológico. Neste momento do desenvolvimento, o objeto erotizado não
está no próprio corpo do indivíduo, mas em um objeto externo – no outro.
A libido é investida no meio, com vistas ao relacionamento afetivo. Alcançar
a fase genital significa tornar-se um adulto capaz de amar, trabalhar e lidar
com a realidade sem prejuízo ao seu psiquismo.

Observe que ao voltar-se para o desenvolvimento psicossexual do ser


humano, a psicanálise trouxe novos elementos para as questões que envolvem
o desenvolvimento da criança como um todo, e consequentemente pode
trazer muitas contribuições para a área da educação. Essas contribuições
se deram principalmente no campo da afetividade.

81
CAPÍTULO 3

É a psicanálise, no contexto escolar, que resgata o papel da afetividade


no processo de ensino e aprendizagem.

Durante muitas décadas, o papel da educação escolar resumia-se ao


desenvolvimento cognitivo do aluno. A escola era o lugar da disciplina
e da formação moral. Os processos afetivos eram negados, no contexto
escolar, em favor da autoridade dos educadores. É nesse contexto, que a
Psicanálise adentra ao espaço escolar e auxilia os educares a constituir uma
nova visão sobre as relações no contexto da sala de aula.

Existem problemas, os quais interferem no processo de ensino e


aprendizagem, que estão além da Didática e dos métodos de ensino.
É natural que o aluno deposite no professor afetos e é natural também
que o professor reaja a esses afetos. Nessa troca afetiva, cria-se um clima
interpessoal, sem que os envolvidos, professor e aluno, se dêem conta
do quanto estão sendo afetados por conteúdos inconscientes de sua
constituição psicológica.

Do ponto de vista psicanalítico, as dificuldades de aprendizagem perpassam


o campo da relação professor e aluno, onde a capacidade de aprendizagem
do estudante pode ser reprimida pela autoridade excessiva do professor ou
apresenta-se reprimida em virtude de problemas emocionais da criança.

Por exemplo, um o aluno pode apresentar dificuldades em lidar


com as relações de autoridade na família e projeta esse conteúdo
psicológico no professor, assim o aluno pode desenvolver uma
timidez excessiva, por medo. O aluno pode ainda passar a desafiar
o docente, como forma de diminuir o seu desconforto psicológico
durante a aula.

A maior contribuição da Psicanálise para a educação foi à compreensão


da sexualidade infantil. A sexualidade infantil deixou de ser vista pela

82 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
ótica da moral e passou a ser encarada como um processo natural, com
manifestações em correspondência à fase do desenvolvimento psicossexual
da criança. Isso levou os educadores a encarar a sexualidade da criança
como objeto da educação, a sexualidade passou a pertencer ao campo de
estudo da educação.

Figura 3.9 – Educação e Sexualidade

Seção 3 - Princípios da Teoria Humanista


Objetivos de aprendizagem

»» Apresentar os principais conceitos da teoria Humanista.

»» Demonstrar a teoria humanista por meio de exemplos


cotidianos.

Você estudará agora a teoria de Carl Rogers (1902 - 1987). Esta teoria
apresenta diferenças marcantes em relação às outras teorias psicológicas.
Rogers não usou o método introspectivo e não entende o homem como um
produto dos estímulos do meio. Ele tem uma compreensão de consciência
diferente da compreensão de Freud.

83
CAPÍTULO 3

O trabalho de Rogers é conhecido como Teoria Humanista. Segundo esta


teoria o homem não é conduzido por forças inconscientes, e sim guiado
pela razão e consciência. Para Roger é a partir da experiência consciente
que o sujeito irá se definir e evoluir.

Rogers afirma que há um campo da experiência para cada indivíduo. O


campo da experiência é compreendido como o mundo privativo, pessoal
que pode não corresponder à realidade. Isto quer dizer que as experiências
vivenciadas por uma pessoa apresentam-se como única e particular. Um
mesmo evento no espaço e no tempo pode ser vivido por duas ou mais
pessoas simultaneamente. No entanto, essa experiência será compreendida
de forma diferente por pessoas diferentes porque existem particularidades
em cada sujeito que lhe permite uma consciência única do evento vivido.

O campo da experiência é organizado de acordo com as sensações,


percepções e significados atribuídos à experiência vivida. Nesse
processo, a pessoa não tem consciência imediata de suas apreensões. É
esse conjunto de elementos que conferem valor particular à experiência.

De certa forma, podemos dizer que o evento atual se liga aos eventos
anteriores experimentados pelo sujeito e essa ligação reconfigura o evento
externo tornando-o particular. Por isso, o psiquismo de cada sujeito é único
e confere características peculiares a cada pessoa.

Para explicar as características particulares do ser humano, Rogers


desenvolveu o conceito de Self. Ao contrário do que se pensa, o self não
é uma instância psicológica hermeticamente fechada, ele está situado
no campo da experiência, é mutável e instável. Na teoria de Rogers, o
self é o auto-conceito e a visão que uma pessoa tem de si própria. Essa
visão repousa sobre as experiências passadas, estimulações presentes e
expectativas de como ela será no futuro.

84 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Para Rogers, o ser humano apresenta uma tendência natural à evolução,
como os outros animais. O homem evolui em direção a autonomia, com a
finalidade de usar todas as suas potencialidades. Para a Psicologia Humanista
o homem é um ser inacabado, um eterno vir-a-ser e seu objetivo maior, a
finalidade da vida é a auto-realização. De acordo com Rogers, o conflito
psicológico pode ser explicado nas contradições entre o que o sujeito é de
fato e seu self ideal. A teoria humanista entende o self ideal como outra
instância psicológica.

O self ideal também é mutável, pode ser descrito como um conjunto de


características que o indivíduo entende ou gostaria que fossem suas. O
sujeito se percebe de uma forma que não corresponde ou encontra pouca
correspondência com o self. A falta de correspondência, de sincronicidade
entre o self e o self ideal tem como produto o conflito o desconforto
psicológico. Esse conflito é um obstáculo ao crescimento pessoal e impede
o sujeito de vir-a-ser, de tornar-se pessoa.

Para a teoria humanista, o tornar-se pessoa significa que o objetivo


do homem é aprimorar-se a cada dia. O aprimoramento vem com a
assimilação da experiência. Essa assimilação permite a maturidade da
pessoa de maneira que ela possa se colocar no lugar de outra pessoa e
assim entender o sujeito sem fazer juízos de valores. O tornar-se pessoa é
chegar a um grau de humanidade que permite a compreensão do sujeito
com vistas a eliminar os conflitos internos e externos ao sujeito em suas
relações interpessoais e tem como produto o funcionamento pleno do
seu psiquismo.

Para entender melhor essa colocação, pense na seguinte situação: em uma


grande metrópole havia um engenheiro que era muito bem sucedido.
Suas obras eram consideradas criativas e originais. O traço marcante do
seu trabalho era a inovação por isso, seus clientes eram pessoas arrojadas
e com gostos peculiares. Ao terminar uma construção, seu cliente não
gostou do trabalho realizado e ele foi duramente criticado por colegas
de trabalho. Após algum tempo, o engenheiro abandonou a profissão,
alegando que queria ter outras experiências. A dificuldade do engenheiro
em aceitar seus erros, em aceitar sua limitação era imensa, de maneira que

85
CAPÍTULO 3

o self ideal o levou a abandonar a profissão de engenheiro para “proteger”


sua autoimagem.

Observe, que a experiência atual do engenheiro (o fracasso) não fazia parte


do seu campo de experiência, não correspondia ao seu self, o conflito estava
instalado. Entretanto, ele precisava integrar àquela experiência negativa à
sua personalidade para poder continuar se desenvolvendo. Após alguns
meses de psicoterapia, o engenheiro assumiu que podia cometer erros,
que poderia aprender com seus próprios erros e que precisava se atualizar
em seu campo de trabalho. Ao tomar consciência do seu conflito o
engenheiro integrou a experiência em sua personalidade, isso lhe permitiu
continuar evoluindo em direção ao vir-a-ser e tornar-se pessoa.

A tomada de consciência ocupa lugar de destaque na teoria rogeriana.


Para Rogers, existem dois princípios no funcionamento psicológico que
determina o conforto e o desconforto psicológico, são eles: a congruência
e a incongruência.

Acompanhe a seguir a explicação de cada um delas:

Congruência

A congruência é a correspondência e a sincronicidade entre a experiência


atual, a comunicação dessa experiência e a consciência dessa experiência.
Existe uma correspondência entre a
imagem (pensamento) percebida, as
sensações e os sentimentos vivenciados,
associados às experiências anteriores da
pessoa. No processo de congruência, o
que é percebido pelo sujeito é possível
de ser observado pelas pessoas que o
cercam.

A congruência e a sincronicidade podem


ser observadas na criança. Se a criança
está feliz, ela expressa essa felicidade,
se ela tem vontade de chorar ela chora,
Figura 3.10 – Congruência e Sexualidade se fica surpresa com algo expressa suas
emoções. Quando há congruência entre

86 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
o que a pessoa sente, o que ela faz e o seu self ideal a probabilidade para
ela desenvolver uma doença psicológica diminui.

Para a Teoria Humanista, na medida em que crescemos e entramos em


contato com o meio social e no meio social, encontramos elementos
que nos impedem de realizar nossos objetivos pessoais, porque o meio
social normatiza o processo de realização das nossas necessidades. A
normatização pode fazer oposição ao nosso objetivo, essa oposição gera
a incongruência.

Incongruência

A incongruência é o elemento que pode bloquear e impedir o nosso


processo de tornar-se pessoa. Ser incongruente significa que o que é sentido
pelo sujeito não corresponde ao que ele expressa verbal e corporalmente.

A incongruência se caracteriza pelas diferenças entre a experiência, a


comunicação dessa experiência e a tomada de consciência. A incongruência
leva a pessoa ao sofrimento psíquico e pode ser sentida como tensão,
ansiedade ou confusão interna. A incongruência é possível de ser observada
naquelas situações em que as pessoas expressam, comunicam os seus
sentimentos de forma oposta ao que realmente sentem.

Podemos pensar em uma pessoa totalmente insatisfeita com o trabalho.


Essa pessoa levanta-se pela manhã já em sofrimento por ter que ir trabalhar,
fica ansiosa e infeliz. Ao chegar ao seu trabalho, ela não pode expressar
seus verdadeiros sentimentos de insatisfação. Sua função exige que ela seja
simpática e amável. A simpatia e a amabilidade são reações em oposição
ao que ela sente. Ela se mantém no trabalho por pura necessidade de
sobrevivência. Nesse caso, há incongruência entre o que a pessoa sente
e o que expressa, se ela continuar nessa situação, logo ela desenvolverá
doenças mais sérias. A incongruência é um obstáculo ao crescimento, ao
desenvolvimento, ao torna-se pessoa.

87
CAPÍTULO 3

A intervenção profissional, do psicólogo em psicoterapia ou do


educador em sala de aula tem como objetivo facilitar o processo de
desenvolvimento da pessoa. O educador é um facilitador do vir-a ser. A
eficiência do trabalho educacional ou do educador e do aluno no processo
é garantida pela capacidade de empatia.

A empatia é supervalorizada, na teoria de Rogers. O relacionamento


interpessoal e a capacidade empática do sujeito são fundamentais para
o seu desenvolvimento psicológico. Ter empatia ou ser empático significa
colocar-se no lugar do outro, é o modo mais humano de compreender
uma pessoa. Ao colocar-se no lugar do outro, o sujeito vivencia os
sentimentos e emoções da outra pessoa, é uma forma de penetrar no
mundo subjetivo da pessoa para ver se nossa compreensão está correta.

Para a Teoria Humanista, o tornar-


se pessoa significa que o objetivo do
homem é aprimorar-se a cada dia. O
aprimoramento vem com a assimilação
da experiência, essa assimilação permite
a maturidade da pessoa de maneira que
ela possa se colocar no lugar da outra
pessoa e assim entender o sujeito sem
fazer juízos de valores. O tornar-se pessoa
é chegar a um grau de humanidade que
permite a compreensão do sujeito com
vistas a eliminar os conflitos internos
e externos ao sujeito em suas relações
interpessoais e tem como produto o
Figura 3.11 – No lugar do outro
funcionamento pleno do psiquismo.

88 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Seção 4 - Educar de acordo com a Teoria Humanista
Objetivos de aprendizagem

»» Entender a Teoria Humanista relacionada ao processo


educativo.

»» Compreender o papel do professor e da escola de acordo


com a Teoria Humanista.

Para Teoria Humanista, o conhecimento é uma experiência subjetiva no


processo de vir-a-ser. A percepção que o sujeito tem do mundo é a realidade,
essas percepções estão presente em todas as relações interpessoais que
o sujeito estabelece em seu meio social. Para Rogers, a tendência ao
crescimento pode ser facilitada por qualquer relação interpessoal em que
um dos membros esteja livre da incongruência.

Durante a infância, a criança enfrenta obstáculos normais do


desenvolvimento, em uma determinada fase ela lança mão de um
repertório de ações e sentimentos que favorecem ao seu desenvolvimento.
Entretanto, esse repertório é reavaliado em cada etapa do desenvolvimento
porque os motivos de um estágio podem não ser utilizados para solucionar
problemas em outra etapa da vida. É na infância que a criança tem o
primeiro contato com seu self, ela toma consciência das suas necessidades
universais de amor e de relações positivas com outros seres humanos.

A criança se percebe como uma totalidade, ao receber um elogio ela se


sente aprovada. Ao ser reprovada por uma ação, ela reage à desaprovação
como se tivesse sendo desaprovada em tudo faz, se sentem desaprovadas
em sua totalidade. A criança se opõe ao meio quando o seu desejo não
encontra correspondência na realidade. Nessa situação, ela passa a viver a
incongruência que a impede de continuar se desenvolvendo em direção
ao tornar-se pessoa.

A aprendizagem faz parte do campo de experiências subjetivas da criança


e constituem a percepção que a criança tem de si mesma, nesse caso, a
educação escolar vai para além do ensinar conteúdos acadêmicos. A
educação então assume o papel de educar para que a criança continue
se desenvolvendo em direção ao tonar-se pessoa, a partir de um processo
contínuo de avaliação e reavaliação de si e de suas ações.

89
CAPÍTULO 3

De acordo com a Teoria Humanista, o processo educativo é centrado no


aluno, o educando é visto como um ser em transformação constante de
si e do mundo. Em cada aluno, há uma consciência que lhe permite fazer
escolhas autônomas e a escola tem como princípio fundamental criar e
preservar essa consciência por meio de posicionamentos pedagógicos
democráticos.

Por este ponto de vista, o papel do educador é o de facilitador da


aprendizagem, seu trabalho pedagógico deve ser congruente, ou seja,
o que o professor comunica deve corresponder as suas ações e ao seu
posicionamento no mundo. O método de ensino é não-diretivo. O
professor não dirige o processo de ensino, ele cria condições para que o
aluno possa se desenvolver de forma autônoma. O professor observa e
sua intervenção tem como objetivo de criar um espaço de liberdade para
facilitar a aprendizagem. Nesse sentido, a aprendizagem é uma resposta
ao vínculo interpessoal que potencializa o processo de desenvolvimento
em direção ao vir-a-ser.

Síntese do capítulo

»» O papel da Psicanálise e do Humanismo no processo educativo.

»» O desenvolvimento da personalidade e sua importância no


processo educativo.

»» A teoria de Rogers apresenta uma proposta que define o papel


do professor no processo educativo.

»» O valor da autonomia e da democratização do espaço escolar


como elemento formador e constituinte da personalidade do
educando.

90 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 3
Você pode anotar síntese do seu processo de estudo nas linhas a
seguir:

Atividades de aprendizagem

1. Nesse capitulo, você estudou a Psicanálise e o Humanismo. Essas teorias


apresentam diferenças marcantes. Assinale a alternativa correta que
corresponde aos princípios da Psicanálise.

a. ( ) A autonomia é essencial no desenvolvimento do sujeito.

b. ( ) O homem não dirige suas ações de maneira autônoma e


consciente.

c. ( ) A empatia é fundamental para maturidade psíquica.

d. ( ) O homem é determinado por seus processos conscientes.

2. Assinale a alternativa correta. De acordo com a Teoria Humanista é


correto afirmar que:

a. ( ) A incongruência é o movimento harmônico entre o desejo do


sujeito e sua ação.

b. ( ) A autoridade do professor é necessária para inibir os elementos


indesejáveis da personalidade do aluno.

91
CAPÍTULO 3

c. ( ) O self ideal em harmonia com o self resulta em congruência


psíquica.

d. ( ) O objetivo do homem, ao longo de sua vida, é tomar consciência


dos elementos traumáticos durante o seu desenvolvimento
psicossexual.

Aprenda mais...

Se você se interessar em saber mais sobre a Psicanálise recomendamos que


você leia os textos de Freud no original. Você poderá começar lendo o seguinte
livro:

FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo:


Harbra, 1979.

92 Universidade do Estado de Santa Catarina


CAPÍTULO

Novas Tendências em Psicologia da Educação


4
Nesse capítulo, você terá a oportunidade de estudar os
movimentos educacionais que nortearam o trabalho
pedagógico ao longo da história da educação brasileira.Você
terá a oportunidade de conhecer de forma introdutória as
teorias de Jean Piaget e Lev Vygotsky e sua relação com o
processo educativo.
CAPÍTULO

Novas Tendências em Psicologia da Educação


4
Objetivo geral de aprendizagem

Estudar o contexto dos movimentos educacionais no Brasil


e ver qual o papel da Psicologia na constituição desses
movimentos.

Seções de estudo
Seção 1 – Movimentos educacionais e a Psicologia
Seção 2 – A Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky: nova
tendência da Psicologia e Educação
Iniciando o estudo do capítulo

Agora você estudará a relação entre a Psicologia e a Educação ao longo


da história da educação brasileira. Você verá os principais movimentos
educacionais que constituíram a educação brasileira durante o século XX.
Ao final do capítulo, você compreenderá o papel ideológico do uso do
conhecimento psicológico na educação.

Seção 1 - Movimentos educacionais e a Psicologia


Objetivos de aprendizagem

»» Contextualizar os movimentos educacionais brasileiros.

»» Relacionar os movimentos educacionais à Psicologia.

A história da educação brasileira evidencia vários movimentos educacionais.


A Psicologia contribuiu de forma significativa para a estruturação de cada
movimento. Ao longo dos anos, a Psicologia e seus estudos foram a base
para “o fazer pedagógico” cotidiano. Cada reforma educacional inspirava-
se em uma corrente ou escola psicológica. É por essas razões que podemos
dizer que a evolução da educação brasileira é indissociável da Psicologia.
Logo, para explicarmos as novas tendências da Psicologia na educação,
faremos uma pequena retrospectiva histórica da relação da Psicologia com
a educação. Acompanhe!

A participação da ciência psicológica no processo educativo é mais visível


nos movimentos educacionais que se opõe ao Ensino Tradicional.

O Ensino Tradicional tinha como característica básica a educação particular


e era associado ao ensino religioso. O objetivo da escola era transmitir o
Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 4
conhecimento por meio da autoridade do professor, o aluno era visto como
um receptáculo de informações, sendo assim, a aprendizagem consistia na
capacidade do aluno em armazenar informações. No Ensino Tradicional,
a memorização do conteúdo ensinado pelo professor era um requisito
fundamental para a verificação da aprendizagem.

O professor era a autoridade máxima em sala de aula, e como autoridade


ele podia tudo. No ensino tradicional, na relação entre professor e aluno, o
aluno não tinha voz e estava submisso a autoridade do mestre. O professor
ao avaliar o aluno considerava o produto ao invés do processo. O professor,
ao avaliar uma prova, não se preocupava com a forma pela qual o estudante
chegou a uma dada resposta, o importante era o resultado final: certo ou
errado. No ensino tradicional toda educação era baseada no rigor e na
disciplina.

O castigo corporal, no ensino tradicional, era tido como o caminho para


moldar o caráter do estudante indisciplinado. A escola era um ambiente
frio, austero, pois tinha a finalidade de fazer o aluno concentrar-se. Se o
ambiente escolar apresentasse muitos estímulos poderia levar o estudante
a pensamentos desnecessários ao processo educativo.

Pela ótica do ensino tradicional, o fracasso escolar era atribuído ao aluno.


Em caso de reprovação não se cogitava rever a estrutura pedagógica
nem mesmo o modo de ensinar da instituição de ensino.

No contexto da educação tradicional brasileira, a Psicologia estava


totalmente ausente. Mas no decorrer dos anos, a relação com a Psicologia
fica cada vez mais recorrente. Neste contexto, então surgem novas escolas
de pensamento no campo da educação. Acompanhe a seguir uma
explicação sobre cada uma delas.

Escola Nova

Nas primeiras décadas do século XX surgiu um movimento que buscava


superar o ensino tradicional: a Escola Nova.

97
CAPÍTULO 4

A Escola Nova foi um movimento baseado nas ideias de Jonh Dewey e na


Psicologia Americana. O maior expoente desse movimento no Brasil foi
Anísio Teixeira.

A Escola Nova se apresenta como uma inovação no processo educativo.


Para esse movimento, a escola deveria ser pública e gratuita; sua finalidade
é que todos tenham acesso à educação. Para a Escola Nova a educação
deveria ser igual para todos e separada da orientação religiosa; os alunos
receberiam o mesmo tipo de educação. Para os escolanovistas, as diferenças
entre os indivíduos são percebidas através das características particulares
de cada um.

O papel da educação, segundo a ótica escolanovista, era promover a livre


expressão, possibilitando a formação do cidadão livre e consciente para
que pudesse se adequar ao país que passava por transformações.

Na Escola Nova, a educação enfatiza o


aluno, procura valorizar a criatividade e
a curiosidade do estudante. Em sala de
aula, o aluno é estimulado a buscar o
conhecimento. Ao aluno é delegada a
responsabilidade pela iniciativa para a
aprendizagem e as salas de aula contêm
recursos para facilitar essa aprendizagem;
nesse sentido, os alunos são classificados
como interessados ou desinteressados.

Na pedagogia escolanovista, as
A expressão classe domi- diferenças de aprendizagem estão nas
nante é utilizada a partir diferenças individuais que se justificam
da teoria de Karl Marx e
designa a classe social nas diferenças sociais, étnicas e
que controla os meios cognitivas. No entanto, essa pedagogia
de produção e o sistema
econômico e político de
acabou por se restringir aos experimentos
Figura 4.1 - A Escola Nova
um país. pedagógicos que favoreceram e se
voltaram para as classes dominantes.

98 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 4
Nesse contexto, a Psicologia realizava avaliações por meio dos testes
psicológicos. Esses testes são resultados de pesquisas científicas e somente
os psicólogos podem utilizá-los no processo de diagnóstico do sujeito. O Os testes psicológicos são
resultado desses testes eram desligados da história de vida do aluno e do instrumentos de avaliação
contexto social e cultural em que ele se desenvolvia. O resultado dos testes elaborados para medir o
funcionamento mental do
aplicados nos estudantes servia aos professores para classificar os alunos ser humano
em sala de aula.

A Escola Nova foi considerada como um movimento pedagógico não


crítico, pois perpetua a divisão social de classes no interior da escola e
contribui para a manutenção da desigualdade social. O sistema de avaliação
da Escola Nova, com atribuição de nota, reproduz a hierarquia social: os
melhores alunos serão os que controlarão o modo de produção e os piores
serão os operários cujo único bem que possuirão é a força de trabalho. Essa
situação cria uma organização social em que o rico aumenta sua riqueza e
o operário continua na pobreza.

A teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget

A partir da década de 60, a educação brasileira tomou a teoria psicológica


de Jean Piaget como referência para o trabalho educativo.
A teoria de Piaget será
estudada no caderno
dois de psicologia. Sua
Você sabe quem foi Piaget? apresentação aqui é para
não dissociá-lo da história
Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado biólogo da educação.
e psicólogo suíço, conhecido por seu trabalho
pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget
passou grande parte de sua carreira profissional
interagindo com crianças e estudando seu
processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um
grande impacto sobre os campos da Psicologia e
Pedagogia.
Figura 4.2 - Jean Piaget

A teoria de Piaget passou a ser pesquisada pelos educadores com objetivo


de aumentar a qualidade no processo de ensino. O resultado das pesquisas
foi a criação e o uso Método de Ensino Construtivista na maioria dos
estados brasileiros.

99
CAPÍTULO 4

Para o construtivismo, a aprendizagem é resultado de um processo


adaptativo em que o indivíduo interage com o objeto de aprendizagem
no meio ambiente. A escola construtivista realiza o seu trabalho de ensino
de acordo com o desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget.

As Teorias Crítico-reprodutivistas

O contexto social e econômico brasileiro no final dos anos 70 levou os


educadores a repensar a educação. O Brasil vivia sob a ditadura militar e a
censura estava presente em todas as esferas da vida. A educação era então
o meio de difusão da ideologia que sustentava o a ditadura militar.

Em oposição à Escola Nova, surge a Pedagogia Crítico-reprodutivista. Essa


corrente de pensamento se opõe ao ideal pedagógico da Escola Nova e da
escola Tradicional.

A Teoria Crítico-reprodutivista toma como base as teorias sociológicas


principalmente no que se refere ao trabalho de Karl Marx. Para esse
movimento, as diferenças sociais, no contexto escolar, são uma reprodução
da divisão social. A escola acaba por marginalizar o aluno que apresenta
dificuldade de aprendizagem. O aluno marginalizado será o adulto que
não poderá ascender à classe dominante, dessa maneira as instituições
perpetuam o ideal burguês de dominação de uma classe social sobre a
outra.

Para a Teoria Crítico-reprodutivista, a escola é o local em que a ideologia


capitalista é reproduzida, ou seja, é possível observar, no contexto escolar,
a reprodução da ideologia dominante pelo sistema de avaliação. Para a
Pedagogia crítico-reprodutivista, a avaliação dos alunos promove a divisão
social no interior da sala de aula. Portanto, o sistema de avaliação, proposto
pela Escola Nova, no qual o aluno é avaliado por uma nota que representa
o quanto ele aprendeu é excludente. De acordo com a ótica escolanovista,
o aluno que não atinge uma nota considerada ideal para seu aprendizado
é considerado, perante a escola, como um fracassado e a tendência é que
ele reproduza esse fracasso na sua vida. Provavelmente esse aluno será o
operário do chão de fábrica na vida adulta.

100 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 4
Teoria Histórico-crítica

Na década de 80, surge a Teoria Histórico-crítica. Essa concepção também


toma a teoria de Marx para constituir-se. Para essa Pedagogia, a educação
é o meio para a transformação social. No interior da escola, são valorizadas
as relações históricas e dialéticas no processo de ensino e aprendizagem.

Para a pedagogia Hitórico-crítica, a educação é vista como um agente


de transformação social. O objetivo da educação é a transformação da
consciência dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com esta corrente, o homem é visto como um ser histórico que
ao mudar sua consciência, muda também a realidade. A educação é o
instrumento que irá tirar o sujeito do estado de alienação para promover
uma nova ordem social. É nesse contexto que a Teoria Psicológica de Lev
Vygotsky adentra ao contexto educacional brasileiro.

Seção 2 - A Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky: nova


tendência da Psicologia e Educação

Objetivos de aprendizagem

»» Conhecer a teoria de Vygotsky.

»» Compreender o papel social da escola.

101
CAPÍTULO 4

Nas ultimas décadas, a Psicologia da Educação passou a considerar o


contexto social como fundamental para se compreender o processo de
ensino e aprendizagem. O contexto social abrange condições materiais de
vida do aluno, a cultura a qual ele pertence e as suas relações sociais. As
relações no interior da escola são fundamentais para a compreensão do
fracasso escolar, porque há uma interdependência entre o professor e o
aluno, no processo de ensino aprendizagem; isso quer dizer que se o aluno
fracassa o professor também fracassa.

Na década de 80, as pesquisas na área de educação voltaram-se para


os trabalhos Vygotsky, porque se entendia que sua Psicologia atenderia
aos propósitos educacionais de formar cidadãos, que seriam agentes de
transformações sociais.

Você sabe quem foi Vygotsky?

Lev S. Vygotsky (1896 - 1934), foi professor e realizou pesquisas no campo da Psicologia.
Foi contemporâneo de Piaget, e nasceu e viveu na Rússia, quando morreu, de tuberculose,
tinha 37 anos. Vygotsky estudou arte e filologia. Suas pesquisas, na Psicologia, tiveram como
objetivo superar o dualismo cartesiano.

Vygotsky, ao formular sua teoria tomou como base epistemológica o


trabalho de Karl Marx. Sua Psicologia considera que o homem é resultado
das relações culturais e sociais do contexto onde vive.

Para Vygotsky, todas as aprendizagens do sujeito são mediadas pelo meio


social.

A mediação é o processo em que entre o objeto de aprendizagem e o


sujeito existe um elemento intermediário. Esse elemento intermediário
pode ser a comunicação oral, um instrumento como um livro. A
mediação permite ao aprendiz ampliar o seu conhecimento a partir do
seu conhecimento prévio.

102 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 4
O conhecimento mediado socialmente possibilita a aprendizagem
pelo processo de apropriação do conhecimento. Apropriação de
um conhecimento significa que o aluno incorporou o objeto desse
conhecimento e poderá operar mentalmente com esse objeto.

O conhecimento apropriado constituirá uma parte do psiquismo do sujeito.


Uma vez que o conhecimento foi apropriado pelo sujeito, ele irá operar com
esse conhecimento e agirá no meio social e cultural de acordo com suas
apropriações. Esse processo é chamado de objetivação do conhecimento.

O papel da escola, do processo educativo é passar o conteúdo acadêmico e


levar o aluno a refletir acerca da organização social, política e econômica.
O aluno ao se apropriar do conhecimento acerca do processo histórico
que constitui a sociedade, mudará sua consciência e objetivará esse
conhecimento tendo como resultado a mudança do contexto histórico e
social em que ele vive.

Atualmente a teoria de Vygotsky é amplamente pesquisada e aplicada


ao contexto da Educação Brasileira. Essa teoria tem norteado o trabalho
educacional, principalmente nos estados do Sul do Brasil. (MONTE, 2008).

Os educadores viram no trabalho de Vygotsky, a oportunidade de mudar


os rumos da educação e modificar as relações no interior da escola. O
discurso das teorias sociais permeia as relações escolares, no entanto,
no espaço escolar coexistem teorias pedagógicas. Você encontrará na
escola professores que assumem as mais variadas posturas teóricas.
Por isso, alguns professores resistem à teoria de Vygotsky e fazem uma
leitura individualizante do aluno. O professor considera somente as
particularidades do educando e descarta o contexto escolar e social do
educando.

O Brasil é um país geograficamente imenso, por isso, não tem uma única
cultura, o que dificulta a adoção de um único referencial teórico para a
educação. A adoção de um único referencial teórico, como já aconteceu,
quando as cartilhas distribuídas pelo governo engessavam o trabalho

103
CAPÍTULO 4

pedagógico e desconsideravam as diferenças culturais e individuais no


processo de ensino. Nesse contexto, o aluno era obrigado a se adaptar
ao ambiente escolar, havia uma padronização do sujeito em termos de
desenvolvimento biopsicológico e ideológico. Assim, a teoria de Vygotsky
é utilizada para romper com essa forma de ensino por entender o sujeito
do processo educativo (professores e alunos) como agentes de construção
e transformação social.

Para os educadores, adeptos da teoria de Vygotsky e das teorias sociais,


o fracasso escolar não está somente no aluno. Está relacionado à forma
como a Educação é vista e tratada nas esferas governamentais, à gestão
escolar, ao trabalho, às relações no interior da sala de aula e ao contexto
histórico e social do aluno e de todos envolvidos no processo educacional.

Síntese do capítulo

»» Os movimentos educacionais brasileiros.

»» Pôde perceber a relação da Psicologia com a educação ao longo


de sua história.

»» Viu, também, um pouco da teoria de Vygotsky como uma teoria


crítica e como o eixo norteador do trabalho pedagógico em
alguns Estados brasileiros.

»» Você estudou, ainda, a crítica à educação feita pelas teorias sociais


e pôde perceber que a discussão sobre a organização educativa
brasileira continua sendo objeto de discussão da educação.

Você pode anotar síntese do seu processo de estudo nas linhas a


seguir:

104 Universidade do Estado de Santa Catarina


Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 4
Atividades de aprendizagem

1. Nesse capítulo, você estudou um pouco da história da educação, você


viu também um pouco da Teoria de Vygotsky. De acordo com seus
estudos, assinale a alternativa correta que corresponde a teoria de
Vygotsky:

a. ( ) Esta teoria foi chamada de ensino tradicional porque não


considerava o aluno como um sujeito ativo no processo de
ensino-aprendizagem.

b. ( ) Esta teoria modificou o trabalho no interior da escola quando


trouxe a Psicologia para o contexto escolar.

c. ( ) É uma teoria que considera a história e o contexto social como


determinante no processo de aprendizagem do sujeito.

d. ( ) A teoria afirma que a escola reproduz os aparelhos ideológicos


do Estado.

2. Você estudou, nesse capítulo, os movimentos escolares ao longo da


história da Educação Brasileira. De acordo com seus estudos sobre
esse assunto, coloque as correntes pedagógicas na ordem cronológica
correta na coluna da direita.


01 – Escola Nova ( ) ________________________
02 – Pedagogia Crítico-reprodutivista ( ) ________________________
03 – Ensino Tradicional ( ) ________________________
04 – Pedagogia Histórico-crítica ( ) ________________________

105
CAPÍTULO 4

Aprenda mais...

Para saber mais sobre as teorias estudadas nesse capitulo você poderá ler o
livro:

Silva, Tomaz Tadeu da. Teorias do Currículo uma introdução Crítica.


Porto: Porto Editora, 2010.

106 Universidade do Estado de Santa Catarina


Considerações finais

Ao longo desse livro, você pôde conhecer a história da Psicologia científica, os


principais processos psicológicos que estão implicados no processo de ensino-
aprendizagem. Foi possível conhecer as escolas psicológicas clássicas que se
entrelaçam com a história e os movimentos educacionais brasileiros.

O conteúdo estudado, nesse texto, é necessário a sua formação de educador,


pois não há relação humana em que não esteja implicado o nosso psiquismo, as
nossas experiências, o psiquismo e as experiências das outras pessoas. Conhecer
a Psicologia é condição fundamental para o educador. A Psicologia possibilita
ao professor fazer análises acerca do aluno, da escola e de si embasadas no
conhecimento científico de maneira a diferenciar o conhecimento do educador
do conhecimento de senso comum.

O conhecimento, sobre o desenvolvimento psicológico, subsidia o trabalho do


professor e possibilita a ele lançar um olhar para o aluno, longe dos juízos de
valor particulares inerente ao processo educativo formal e informal ao qual o
professor foi submetido. O objetivo é garantir um olhar crítico sobre processo
de ensino e aprendizagem para que o diagnóstico, a avaliação dos problemas
não seja concentrada no aluno ou no professor.

A finalidade do conhecimento psicológico, na educação, é perceber como o aluno


funciona no contexto escolar e compreender a relação de interdependência
entre todos os elementos que constituem o processo educativo, para possibilitar
a avaliação e reestruturação da organização escolar com vistas à superação dos
problemas inerentes ao processo educativo.
Conhecendo os professores

AUTOR
Jaime Bezerra do Monte

Doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Psicologia


pela Universidade do Estado de Santa Catarina e psicólogo, bacharel, licenciado
em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. Possui experiência
profissional nas áreas de Psicologia clínica e escolar. É professor do ensino
superior, desde 1997.

PARECERISTA
Enira Teresinha Braghirolli Damin

Possui graduação em licenciatura em Matemática pela Universidade de Caxias


do Sul (1975), graduação em Psicologia pela Universidade de Caxias do Sul
(1984), Mestrado em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade
Federal do Pará (1996) e Doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade
Federal do Pará (2000) . Atualmente faz parte do quadro de docentes efetivos
na Universidade do Estado de Santa Catarina atuando no Centro de Educação
a Distância CEAD/UDESC e no Cento de Ciências da Saúde – CEFID/UDESC onde
coordena o Projeto de Extensão: Núcleo de Psicologia. Tem experiência na área
de Fisiologia, com ênfase em Fisiologia do Sistema Visual Humano e também em
Psicologia relacionada às áreas da Educação e da Saúde.
Comentário das atividades

Capítulo 01

1. Nesse capítulo, você estudou a história da Psicologia Científica, estudou


ainda, as teorias inatista e ambientalista e os movimentos: estruturalistas e
funcionalistas que buscaram compreender o psiquismo humano. Abaixo você
encontrará conceitos que correspondem a cada item estudado. Relacione os
itens da primeira coluna com a segunda.

A resposta correta é: 02, 01, 03 e 04

2. Após seus estudos sobre a Psicologia, faça uma síntese do capítulo no espaço
abaixo. Após a realização da síntese verifique com seus colegas de curso se há
consenso acerca da compreensão do capítulo.

Observação: Antes de escrever seu texto, esclareça suas dúvidas com o


professor(a) da Disciplina.

Capítulo 02

1. Nesse capitulo, você estudou as escolas psicológicas chamadas de Behaviorismo


e Psicologia da Gestalt. Com base nesses estudos, escolha e assinale, dentre as
alternativas abaixo, aquela que corresponde à Psicologia da Gestalt.

A resposta correta é a letra C.

2. Você estudou o Behaviorismo. De acordo com seus estudos sobre o


Behaviorismo, assinale, dentre as alternativas abaixo, aquela que corresponde
ao experimento de Skinner.

A resposta correta é a letra B  

Capítulo 03

1. Nesse capitulo, você estudou a Psicanálise e o Humanismo. Essas teorias


apresentam diferenças marcantes. Assinale a alternativa correta que
corresponde aos princípios da Psicanálise.
A resposta correta é a letra B

2. Assinale a alternativa correta. De acordo com a Teoria Humanista é correto


afirmar que:

A resposta correta é a letra C

Capítulo 04

1. Nesse capítulo, você estudou um pouco da história da educação, você viu


também um pouco da Teoria de Vygotsky. De acordo com seus estudos,
assinale a alternativa correta que corresponde a teoria de Vygotsky:

A resposta correta é a letra C

2. Você estudou, nesse capítulo, os movimentos escolares ao longo da história da


Educação Brasileira. De acordo com seus estudos sobre esse assunto coloque
as correntes pedagógicas na ordem cronológica correta na coluna da direita.

A resposta correta é: 03, 01,02 e 04

110
Referências

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MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São


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VYGOTSKY, L.S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo:


Martins Fontes, 2001.

112
Referências das figuras

Figura 1.1 - Pág. 22 Figura 1.2 - Pág. 24


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Figura 1.3 - Pág. 30 Figura 2.1 - Pág. 43


Sensação e Percepação Pavlov em seu laboratório
Fonte: Disponível em: <http://www.sxc.hu/photo/161049>. Fonte:Disponível< http://3.bp.blogspot.com/_Rqoz6OcWbhc/
Acesso em: 03 de agosto de 2011. S8Yi3suMezI/AAAAAAAAAq0/pWEOaM7L3R8/s1600/pavlov-dog.
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ANTES DO CONDICIONAMENTO

resposta resposta
salivação não há salivação
estímulo resposta estímulo sem resposta
incondicionado (EI) incondicionada (RI) neutro (EN) condicionada
DURANTE O CONDICIONAMENTO

resposta

emparelhamento resposta
de estímulos incondicionada (RI)
APÓS O CONDICIONAMENTO

resposta
estímulo resposta
condicionado (EC) condicionada (RC)
EI + EN = RC
EN passa a ser um EC

Figura 2.2 - Pág. 45 Figura 2.3 - Pág. 46


Cachorro com medidor de saliva. Resumo ilustrado do experimento de Pavlov
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ Fonte: Ilustração de Caio Mello
commons/thumb/e/ec/One_of_Pavlov%27s_dogs.jpg/250px-One_
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Figura 2.4 - Pág. 48 Figura 2.5 - Pág. 28


Watson e Albert, durante o experimento Palmatória
Fonte: Disponível em: < http://3.bp.blogspot.com/_Rg2vOgLY4e0/ Fonte: Disponível em: < http://1.bp.blogspot.com/-OWEP4O8yI8s/
TF5Ej38zA0I/AAAAAAAAGXI/cQh4RmxZ2rc/s1600/brooks2.450.jpg>. TZtP3AVbqoI/AAAAAAAAKgE/gg1Bduytwq8/s1600/palmatoria.jpg>.
Acesso em: 03 de agosto de 2011. Acesso em: 03 de agosto de 2011.
Auto-falante

Luzes sinalizadoras
Alavanca
Tubo
alimentador

Alimento

Grade elétrica

Figura 2.7 - Pág. 58


Gerador de choque

Figura 2.6 - Pág. 53 Exemplo de princípio de proximidade


Caixa de Skinner Fonte: Equipe CEAD/UDESC.
Fonte: Ilustração de Caio Mello.

imagem oficial como observamos

Figura 2.8 - Pág. 58 Figura 2.5 - Pág. 59


Exemplo de princípio de fechamento Exemplo de princípio de semelhança
Fonte: Equipe CEAD/UDESC. Fonte: Equipe CEAD/UDESC.

Figura 2.6 - Pág. 59


Exemplo de relação figura/fundo
Fonte: Equipe CEAD/UDESC. Figura 3.1 - Pág. 69
Sigmund Freud
Fonte: Disponível em:< http://4.bp.blogspot.com/_FgVGw8zbEBQ/
TDdGYZfl3GI/AAAAAAAAAKc/VyDUKZ6tmr8/s1600/sigmund_freud.
jpg>. Acesso em: 03 de agosto de 2011.

CONSCIÊNCIA

EGO PRÉ-CONSCIENTE

INCONSCIENTE
ID

SUPEREGO

Figura 3.2 - Pág. 72 Figura 3.3 - Pág. 73


O ID e o Bebê Estrutura psíquica segundo Freud
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Fase Oral As fases do desenvolvimento
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114
Figura 3.6 - Pág. 79 Figura 3.7 - Pág. 80
Complexo de Édipo Complexo de Édipo na mulher
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Figura 3.8 - Pág. 81 Figura 3.9 - Pág. 83


Grupos de Crianças: Meninos e Meninas Educação e Sexualidade
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Congruência e Sexualidade No lugar do outro
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115

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