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Aluno: Helena Freitas Gonçalves 110061

Disciplina: Laboratório de Expressão e Criação Artística

Tema geral: Autorretrato/ Autorrepresentação

Título: “Self”

 Estudo de representação de identidade


 Visualidade individual
 Plasma do “eu” interno dentro de um discurso nas artes
 Desenvolvimento de identidade autoral
 Definição de conceito de retrato e representação
 Reconhecimento do desenho como prática autónoma na relação com a identidade e a
expressão individual

Após exposto o conceito de trabalho e o levantamento de algumas questões que o subjaz


como quem sou eu? quais são os meus espelhos? que camadas existem por detrás do meu
autorretrato? o que estou aqui a fazer? comecei por refletir sobre como poderia traduzir a
minha individualidade, de modo a revelar determinadas características e particularidades
singulares próprias.

Desta maneira parti do entendimento de conceitos como a representação, retrato e


autorretrato.

A representação:

O que é a representação? O que pode ser a autorrepresentação?

O que é isto de representar a realidade? O não real? Como é que podemos captar a realidade?
Teremos que ter algum género de semelhança? Se a semelhança não é um critério, o que
será?

Alguns autores apresentam várias hipóteses para responder a estas e outras questões:

Nelson Goodman (Linguagens da Arte, 1976) defende que toda a representação é


convencional, e em diferentes sistemas simbólicos há diferentes convenções cuja chave
permite identificar o que é representado.

Já em Ernst Gombrich (Arte e Ilusão, 1960) a noção de representação está associada à imitação
ou semelhança, entre a imagem e o que é representado.

Em Roland Barthes a representação inclui a denotação e a conotação: denotativo descreve ou


tende a ser mais literal, óbvio ou de senso comum; conotativo refere-se às associações
socioculturais e pessoais (ideológicas, emocionais, etc.) do próprio sinal de representação.
O retrato:

do Latim, retractus, particípio do verbo retrahere que significa “tirar para fora”, “copiar”.

Retrato, substantivo masculino

1. Imagem (de pessoa) reproduzida pela pintura, pelo desenho ou pela fotografia.
2. Imagem fotográfica. = FOTOGRAFIA
3. Semelhança.
4. Descrição de um carácter, de uma época, etc.

“retrato”, in Dicionário Priberam da língua Portuguesa

O retrato apresenta-se como um tema específico ou género na história da arte, no qual


se representa uma figura ou personagem. Na História ocidental o retrato afirma-se
como género autónomo a partir do século XIII. No entanto foi utilizado muito antes,
infelizmente com poucos vestígios, tendo chegado até nós retratos do Antigo Egipto,
Grécia ou Roma Antiga. Uma das formas mais comum de propagação do retrato é a
moeda.
A difusão do retrato acompanhou o crescimento de uma sociedade burguesa durante o
século XIV, cada vez mais avisa da arte, tendo um feliz crescimento e transformação. O
retrato na pintura e na escultura transforma-se radicalmente com o surgimento da
fotografia, popularizando-se. Hoje em dia é uma das mais comuns formas de expressão
e comunicação através das conhecidas “selfies” - os autorretratos contemporâneos.

Mona Lisa - Leonardo da Vinci, 1503-1506, Gold Marilyn Monroe - Andy Warhol
Técnica Pintura a óleo sobre madeira de (1928–1987), 1962.
álamo, 77 cm × 53 cm. Encontra-se no Louvre. Serigrafia sobre tela, 211.4 x 144.7
cm. Encontra-se no MOMA.
À esquerda uma das pinturas mais famosas do mundo, um retrato. Quase cinquenta anos mais
tarde, uma famosa atriz é retratada. O que é que estes dois retratos têm em comum? Como é
que isso altera a representação do retrato? O que nos contam estas duas mulheres?

O autorretrato:

Autorretrato (auto- + retrato), substantivo masculino

1. Retrato desenhado ou pintado pela própria pessoa.


2. Fotografia que alguém tira a si mesmo. = AUTOFOTO, AUTOFOTOGRAFIA

“autorretrato”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

O autorretrato é um subgénero dentro do retrato, caracterizado pela


representação do retrato do próprio artista.
Esta prática tem raízes na antiguidade clássica, mas pouca informação sobreviveu, por
um lado por não terem restado muitas obras por outro por falta de informação sobre o
artista. A consolidação do retrato dá-se a partir do Renascimento com a construção de
uma consciência artística, com o reconhecimento da sua capacidade criadora,
liberdade e conhecimentos. Com a afirmação do artista surge a afirmação da sua
identidade, memória, reconhecimento e valorização.

Hironymus Bosch (1450-1516),


Tríptico do Jardim das Delícias,
c.1480-1505, óleo sobre painéis,
220x390cm. (Prado, Madrid).
Encontra-se no Museu do Prado.

ALBRECHT DÜRER (1471 - 1528)


As Meninas - com
Autorretrato Diegocasaco
Velázquez (1599(1500),
de peles - 1660),
1656, Óleocm.
67.1 x 48.9 sobre tela, 320,5
Encontra-se x 281,5 cm.
na Pinacoteca.
Encontra-se no Museu do Prado.
Frontalidade, olhar direto para o observador, mão
Éeminteressante sublinhar
primeiro plano e acomo o artista
seguinte olha "Foi
inscrição:
diretamente
assim que eu,para o observador
Albrecht da tela, me
Dürer, de Nuremberg,
transformando-o, de certa aos
criei com cores características forma, em
28 anos".
protagonista.
Rembrandt, Autorretrato com dois círculos,
c. 1665 – 69, óleo sobre tela, 114.3 x 94
cm. Encontra-se na casa de Kenwood.

Frida Kahlo (1907 - 1954), Autorretrato


Ana Mendieta (1948-1985), s/título, 1976, com o cabelo cortado, 1940, óleo sobre
“Silueta Series, Mexico”, Fotografia a cores. tela, 40 x 27.9 cm. Encontra-se no MOMA.
39.8 x 31 x 3.2 cm.
Mendieta formou a sua silhueta na praia de La Esta é uma mulher vestida de homem.
Ventosa, no México, enchendo-a de pigmento Esta mulher cortou o cabelo curto. Todo o
vermelho que foi levada pelas ondas do mar. A
trabalho desta mulher é a sua vida e a sua
artista documentou o desaparecimento da
figura, levada pela maré numa sequência de vida é o seu trabalho?
slides de 35mm.
Será um autorretrato ou uma autorrepresentação?

Cindy Sherman é fotógrafa e diretora de cinema


norte-americana, conhecida pelos seus
autorretratos conceituais.

Trabalho divulgado no instagram da artista


(2018) – os autorretratos do século XXI ?

Refletir sobre o que pode ser o autorretrato.

 Como se pode definir o autorretrato?


 Tem que haver semelhança formal ou parecença?
 Um autorretrato é um exercício narcisista?
 Qual a relação entre autorretrato e o artista?
 Qual é o objetivo do autorretrato?
 O autorretrato ainda faz sentido na contemporaneidade?

Documentação do processo:

1. Abordagem: Aspetos a observar no estudo das proporções entre os elementos que


constituem a face (desenho de contorno).

Leonardo Da Vinci “Cabeça


masculina no perfil com
proporções”, 1490, 280x222
cm. Gallerie dell’Accademia
(Veneza, Itália)

Apontamentos:

Os olhos estão a meio entre o limite inferior do queixo e o topo da cabeça.

A base do nariz está a meio entre os olhos e o queixo.

A boca está a meio entre o limite inferior do nariz e limite inferior do queixo.
Os cantos da boca alinham com o centro dos olhos.

As orelhas ficam enquadradas entre os olhos e a parte inferior do nariz.

A cabeça pode ficar inscrita num quadrado, cujo centro é o ouvido.

2. Abordagem: Desenhos realistas com base no estudo prévio da avaliação e proporção


dos vários elementos do rosto; exploração e sobreposição de diferentes camadas de
diversos tipos suportes; busca pela semelhança.
3. Abordagem: Procura de uma nova linguagem, com maior expressividade. Transmitida
a partir do registo das alterações da forma provocada pelo movimento e manipulação
dos elementos plásticos, pela técnica e materiais utilizados, pela imaginação e pelo
acaso.
Referências Artísticas

Graça Morais, Autorretrato (2002) Acrílico,


Oskar Kokoschka (1886 - 1980) carvão e pastel sobre tela 195x130 cm
Autorretrato

Marlene Dumas Evil is Banal 1984


Collection Van Abbemuseum, Eindhoven, The
Netherlands
© Marlene Dumas

Egon Schiele, nu masculino agachado


(self portrait), 1918, lápis, 30,1x47,1
cm.
©Albertina, Viena.
4. Abordagem: Desenho cego_ autorretrato táctil

Duração 20-30 min cada; não observação do processo nem do rosto no decorrer do desenho;
tocar/sentir/explorar através do contato as variações da pele, ossos, pilosidades, etc.; procura
pela sincronização das mãos (a que toca e a que desenha); tradução gráfica para a experiência
do toque; exploração da ideia de tridimensionalidade;
Sobreposição de pequenos fragmentos de papel vegetal nas zonas ou áreas que deveriam
ser re/desenhadas a caneta vermelha. De modo a explorar as transparências,
sobreposições e opacidades.

Claude Heath, Buddah (referência)


5. Abordagem: Desenho que prioriza a sobreposição e sequência de três diferentes
momentos que juntos sugerem movimento, volume e energia; marcas gráficas
caracterizadas pela fluidez e textura.

Manual “Drawing Projects” pp. 137


SELF

(série de dezasseis autorretratos)

Nesta série o autorretrato apresenta-se como uma imagem da representação e uma


interpretação de mim mesma. Utilizando diversas técnicas e distintos materiais, cada folha
espelha um momento de reflexão, uma oportunidade e um ensejo de exprimir emoções, uma
circunstância e uma ocasião para expressar o encontro comigo própria. Para além do registo
gráfico, é possível incluir o incompleto (projeção), a distorção, a irregularidade, a delicadeza e
a precisão do registo como forma de expressão. Com o objetivo de evidenciar o meu caráter e
a minha fisionomia, “Self” acabou por se traduzir num exercício de revelação e uma tentativa
de afirmar a condição de precaridade fase à efemeridade da vida.

Durante três semanas realizei dezasseis autorretratos como forma de estudo anatómico,
embora alguns deles apresentem alegorias e também expressem condições emocionais
específicas. O autorretrato é um instantâneo do momento em que me encontro, mas não por
muito tempo. Em última análise, pode-se revela-lo como uma metáfora da
contemporaneidade e suas identidades nômadas.

De que serve um retrato se ele não se parece com o representado?

Este tipo de questões põe em discurso aspetos referentes a uma representação rígida, repleta
de cânones e regras frente a qualquer tipo de expressão por parte do artista.

Quando um retrato não se parece com o retratado, ele serve para fornecer pelo menos o seu
retrato intelectual, conceptual, estético e também espiritual.
Principais influências:

Os retratos psicológicos de Alice Neel; o interesse pela superfície / pele e a sensação de


solidão em Lucien Freud; a captação do momento em Arikha e o olhar em David Hockney.

O desenho linear de David Hockney (1937- )

Desde cedo desenhou retratos, mas é a partir de 1966, com o retrato de Nick Wilder, que o
retrato como género se inicia e se tornará central na sua obra. Estes desenhos são
realizados a partir da observação direta do modelo.
Nos retratos desenhados, serve-se da linha precisa de contorno, para, com espontaneidade e
segurança, registar a aparência do modelo, demonstrando grande capacidade de observação e
interpretação. Consegue subtilezas de tom variando a espessura e os tipos de linha.
No retrato é através do olhar que a face se anima. Através do olhar transmite-se um conjunto
de sentimentos ou de pensamentos que informam a expressão fisionómica. Para além dos
traços fisionómicos, a pose e as mãos são também elementos portadores de significado.
Autorretrato, 30 Set.1983, carvão, 76,2x57,2 cm Self-portrait 26th Sept. 1983,
carvão, ©National Portrait Gallery 762x572 mm

Auto-retrato, Baden-Baden, 10 junho 1999,


Lápis sobre papel cinzento.

Avigdor Arikha (1929-2010)

Exercício de reflexão acerca do processo de transformação da informação visual captada num


dado momento (espaço e volume) em representação gráfica (linhas, formas e cores e suas
relações mútuas). A estratégia está na observação e na concentração. O conteúdo expressivo
está nas qualidades da superfície, no traço/pincelada irrepetível e não no significado da
imagem. Os materiais usados são parte integral do modo de ver.
Controlo do pincel na modelagem da figura, na
tradução dos elementos do rosto. Superfície
quebrada e vibrante pelas pequenas marcas, riscos e
linhas.

Self-portrait, shouting one morning, 7 Nov. 1969,


tinta sumi/papel preparado, 46,1x38,0 cm ©The
British Museuam

Retrata-se com olhar concentrado no ato de se auto


representar. Os materiais usados são parte integral do modo
de ver, como é o caso das qualidades tácteis no retrato a
pastel sobre papel veludo.

Self Portatir III, 24 February, 1991, black and white chalks,


papel acetinado castanho, 348x243 mm

Arikha desenha para ver. Não lhe interessa o contorno elegante e a definição rígida da forma,
mas o minucioso exame do motivo.
Com o seu registo incompleto, Arikha parece sugerir a incerteza na perceção da realidade
como algo fixo. Investiga a instabilidade da perceção, exposta nas formas interrompidas, nos
traços inacabados.
“No desenho de observação, a linha que desenhamos é ditada pela resposta sensorial e
exploratória aos dados visuais.”

Alice Neel (1900-1984)

Desenha diretamente na tela a linha de contorno em preto e azul, preenchendo as formas com
cor, servindo-se de técnica espontânea e execução rápida. Pincelada fluida, espontânea.
Os retratos de Alice Neel, mais do que representarem uma verdade anatómica, exibem uma
parecença psicológica, ficcional. A expressão do olhar, a pose e a capacidade comunicativa das
mãos transmitem-nos traços de carácter da autora.

Alice by Alice, 1932, lápis, 30,5x20,3 cm Alice Neel Self-Portrait, 1980,


óleo/tela © National Portrait
Gallery – Washington.

A emoção da carne em Lucien Freud (1922-2011)

A primeira sensação que os retratos de Lucien Freud causam é a da força, da intensidade e da


singularidade da sua pintura. O que lhe interessa é o processo de construção da pintura, a
modulação do corpo através da manipulação da matéria pictórica.

Sobreposição das manchas e tinta, com pincelada


solta, evoluindo para uma superfície espessa e
granulosa. A cor contribui para o caráter
expressionista na descrição da pele.

Reflection (Self-portrait) 1985, óleo/tela, 56x53 cm

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