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Verso e Reverso, 32(79):34-45, janeiro-abril 2018

2018 Unisinos – doi: 10.4013/ver.2018.32.79.04

As representações de bruxaria na série Salem:


um estudo comparativo

Representations of witchcraft in the TV series Salem: A comparative study

Isabel Cristine Machado de Carvalho


Universidade Potiguar. Av. Engenheiro Roberto Freire, 2184, Capim Macio, 59082-902, Natal, RN, Brasil.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Campus Universitário, Lagoa Nova, 59078-970, Natal, RN,
Brasil. isabelcristine@unp.br

Manoel Pereira da Rocha Neto


Universidade Potiguar. Av. Engenheiro Roberto Freire, 2184, Capim Macio, 59082-902, Natal, RN, Brasil.
manupereira@unp.br

Resumo. Neste artigo, trazemos a série de TV Salem Abstract. In this article, we bring the Salem TV se-
para analisarmos elementos da bruxaria utilizados ries to analyze elements of witchcraft used as part
como parte da construção da trama. Para isso, ado- of the plot construction. To do so, we adopt a quali-
tamos uma abordagem qualitativa e desenvolvemos tative approach and develop a comparative analysis
uma análise comparativa que leva em consideração that take into account the following aspects: witches
os seguintes aspectos: as bruxas em Salem; a divin- in Salem; the divinity of the witches; the transmis-
dade das bruxas; a transmissão do saber bruxo; os sion of wizarding knowledge; the family members
familiares e a marca da bruxa; o sabá, os voos no- and the witch mark; the Sabbath, the night flights
turnos e os objetos mágicos. As práticas e represen- and the magical objects. The practices and repre-
tações de bruxaria, configuradas nos episódios da sentations of witchcraft embodied in the episodes
série, revelam muito mais aproximações do que dis- of the series reveal far more approximations than
tanciamentos no tocante aos aspectos considerados distances in regard to aspects considered real by
reais por praticantes tanto da bruxaria tradicional practitioners of both traditional and modern witch-
quanto da moderna, e também se abeiram dos rela- craft, as well as the inquisitorial reports during the
tos inquisitoriais durante o período mais elevado de highest hunting period witches, between the years
caça às bruxas, entre 1560 e 1660. 1560 and 1660.

Palavras-chave: Salem, bruxaria, ficção televisiva. Keywords: Salem, witchcraft, television fiction.

Introdução bida pelo canal FOX 1. Seus episódios narram


histórias sobre o universo da bruxaria e do que
Salem é uma série de TV lançada em abril de ficou conhecido pelos historiadores como o perí-
2014 pela produtora americana 21st Century Fox odo da caça às bruxas.
e transmitida pelo canal WGN America de TV A segunda temporada, exibida nos EUA
fechada. No Brasil, a série é correntemente exi- entre maio e junho de 2015, registrou uma mé-

Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC-BY 4.0), sendo per-
mitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
As representações de bruxaria na série Salem: um estudo comparativo

dia de 350 mil telespectadores, com 0.13% en- Lançamos mão, portanto, de uma abordagem
tre o público alvo ao vivo. Números abaixo da qualitativa, tendo em vista que sua finalidade
primeira, que conquistou uma média de 690 não é dispor de métodos e técnicas estatísticas,
mil telespectadores, com 0.2% entre o público contar opiniões ou pessoas, mas, ao contrário,
alvo ao vivo. No entanto, segundo os dados “explorar o espectro de opiniões, as diferentes
divulgados pelo canal, a segunda temporada representações sobre o assunto em questão”
teriam chegado a 1.1 milhão de telespectado-
(Gaskell, 2002, p. 68). A partir desse enfoque, de-
res quando somado o DVR1 de sete dias (com
senvolvemos uma análise comparativa que leva
545 mil entre o público alvo), números que se-
em consideração os seguintes aspectos: as bruxas
riam maiores que aqueles conquistados pela
primeira temporada, quando somado o DVR em Salem; a divindade das bruxas; a transmissão
dessa (Furquim, 2015). do saber bruxo; os familiares e a marca da bru-
A terceira temporada foi renovada e será xa; o sabá, os voos noturnos e os objetos mágicos.
composta de treze episódios. A produção teve Tais aspectos configuram categorias de análi-
início no segundo semestre de 2015. Sua estreia se que possibilitam identificar aproximações e
mundial ocorreu em novembro de 2016 e ainda distanciamentos, percebidos pelos praticantes
está sendo exibida até a presente data. Criada da bruxaria tradicional e moderna no Brasil, no
por Brannon Braga e Adam Simon, a série ofe- tocante às práticas e representações de bruxa-
rece uma versão peculiar sobre a caça às bruxas ria na série Salem. Para tanto, utilizamos como
na cidade de Salem, nos Estados Unidos. fonte para o estudo comparativo: os artigos As
Segundo Carvalho e Fontoura (2015a), no “verdades” em Salem (Parte 1) e As “verdades” em
seriado, os ritos, os feitiços, os encantamen-
Salem (Parte 2), publicados no blog sobre artes e
tos, a marca da bruxa, a divindade associada
paganismo, Sono de Endimião, produzidos pelos
ao culto, a transmissão de saberes bruxos, os
bruxos Odir Fontoura2 e Adriano de Carvalho3;
familiares, os objetos mágicos, o sabá (tipo de
assembléia ou reunião) e o voo noturno são, as duas temporadas da série Salem; registros en-
inevitavelmente, recorrentes; revelam ainda, contrados nos livros sobre a temática; e material
em sua grande maioria, uma construção de fei- disponibilizado na Internet.
tiçaria diabólica, com todos os seus acessórios: Em Salem, dois aspectos nos chamaram a
pactos com o “diabo”, sabás e profanação dos atenção. O primeiro está relacionado ao dis-
sacramentos. Essa construção foi elaborada tanciamento da imagem estereotipada e fanta-
em meados do século XIII e XV, por teólogos siosa da bruxa, que fora construída em filmes
e inquisidores. Posteriormente, espalhou-se infantis e está marcada em nossas memórias.
gradualmente por toda Europa através de tra- O segundo diz respeito aos determinantes his-
tados, sermões e imagens, atingindo, depois, tóricos que engendram a narrativa da série.
até mesmo outros continentes. Bruxas e bruxos sempre tiveram espaço nas
Essa situação europeia da Idade Média ser-
produções televisivas e cinematográficas. Nas
ve de ponte para apresentarmos, neste artigo,
histórias de contos de fadas, por exemplo, a an-
os elementos da bruxaria tradicional e moder-
tagonista invariavelmente era uma “bruxa má,
na utilizados como parte da construção da tra-
ma em Salem – que se aproximam no tocante velha, enrugada e feia, que comia criancinhas,
às práticas e representações consideradas reais era uma imagem bem viva no inconsciente da
por praticantes da bruxaria na contemporanei- maioria das pessoas” (Pedrosa, [s.d.]). Pode-se
dade e que se abeiram dos relatos inquisito- perceber que a imagem da bruxa, nesse cená-
riais durante o período mais elevado de caça rio, particularmente, sempre está associada à
às bruxas, entre 1560 e 1660. figura da mulher.

1
Sistema de gravação de vídeo criado para impulsionar as vendas de TV por cabo e por satélite digital, que permite gravar
os programas, podendo estes serem posteriormente reproduzidos livremente.
2
Bruxo de tradição wiccana. Criador do blog Sono de Endimião (antigo Diannus do Nemi). Autor do romance Sob o sol já
deitado, publicado em 2011 – romance épico e histórico que trata da transição paganismo-cristianismo nos últimos anos do
Império Romano, com Diocleciano empreendendo as últimas perseguições aos cristãos.
3
Em entrevista ao blog Veneno Serpentino, publicada no dia 25 de abril de 2015, Draku-Qayin (pseudônimo) registra a sua
formação e orientação dentro da bruxaria. Atua de forma solitária, embora reúna em conclave com alguns irmãos da Arte
em determinados momentos do ano. É inspirado em grande parte pela tradição sabbática, mas não é membro da ordem
conhecida como Cultus Sabbati, sendo a tradição sabbática a base e fundamento de suas práticas pessoais, principalmente
por meio da obra conhecida como The Dragon-Book of Essex.

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Isabel Cristine Machado de Carvalho, Manoel Pereira da Rocha Neto

Personagens imaginários, representados como mente na cultura adolescente. Em 1996, a Sony


velhas horrorosas, com verrugas no nariz, que Pictures lançou Jovens Bruxas, filme que, Segun-
criam gatos pretos e dão gargalhadas malignas, do Russel e Alexander, era uma obra “sensacio-
bastante parecidas com cacarejos. A Rainha Má,
nalista a respeito de bruxas adolescente que foi
de A Branca de Neve de Walt Disney, o desempe-
nho de Margaret Hamilton como a Bruxa Malva- um grande sucesso de bilheteria” (2008, p. 190).
da em O Mágico de Oz e, por trás delas, uma lon- O referido filme foi o primeiro de uma série de
ga tradição artística que se estende do século XIII produções sobre bruxos e bruxaria, lançados
a Goya, fixaram essa imagem em nossas mentes sucessivamente por Hollywood em um curto
(Russel e Alexander, 2008, p. 9). período de tempo.
Ainda em 1996 foi lançado Sabrina, Apren-
Segundo os pesquisadores, nenhuma bru- diz de Feiticeira, uma série televisiva. No ano
xa, em tempo algum, jamais teve as caracte- seguinte, Buffy, a caça-vampiros se tornou po-
rísticas desse estereótipo. Nessa perspectiva, pular entre seu público-alvo. Mas foi em 1998,
configura-se uma imagem da feiticeira, cons- com a série de televisão Charmed e com o filme
truída pela Inquisição. Da magia à sedução, os dois estrelados por jo-
vens atrizes no auge de suas carreiras, que a
temática alcançou seu clímax.
As bruxas existem realmente. De fato, a bruxaria
é considerada como religião de pleno direito por Em Salem, as bruxas são mulheres jovens e
numerosas instituições [...]. Dentre as bruxas belas, seguindo a tendência, surgida na déca-
que conhecemos, nenhuma correspondeu jamais da de 1990, das produções audiovisuais sobre
a esse estereótipo, exceto talvez em festas à fanta- a temática; visual, portanto, distante das pri-
sia (Russel e Alexander, 2008, p. 9). meiras representações exibidas pelo cinema e
que reforçam a afirmação de Russel e Alexan-
As bruxas más, velhas e enrugadas são, der: “a compleição física não era uma unani-
portanto, fortes no imaginário coletivo, fru- midade para acusações de bruxaria. Os traços
to de uma herança discursiva, especialmente mais decisivos, suscetíveis de acarretar acusa-
no que diz respeito à relação da bruxaria com ções de bruxaria, eram mendigar, resmungar,
seres diabólicos – relação essa que foi social-
praguejar e altercar” (2008, p. 114).
mente construída por autoridades religiosas.
No tocante aos aspectos históricos presen-
Os enunciados sobre bruxaria e suas práticas
tes na série Salem, identificamos os simbolis-
são manifestados pela mídia; neste caso, pela
mos da bruxaria antiga e moderna, bem como
ficção televisiva seriada. Esses enunciados não
a reconstrução de práticas mágicas encontra-
são, de maneira alguma, inéditos e inaugurais,
apesar de assim parecerem, em virtude do das nos documentos religiosos. O mais famo-
grande investimento que se faz. “A mídia [...], so deles foi o Malleus Maleficarum, traduzido
como todo falante, é uma instituição respon- como O Martelo das Feiticeiras. São 256 páginas
dente a outros discursos. As narrativas midiá- de um texto produzido em latim, no ano de
ticas são produções que carregam uma heran- 1486, pelo inquisidor alemão Heinrich Kra-
ça da fala” (Brasiliense, 2009, p. 127). mer, também conhecido pelo nome latinizado
Aspectos bizarros, monstruosos e estereo- Heinrich Institoris. Trata-se de um manual ju-
tipados foram perdendo força. As narrativas rídico bastante completo, criado para provar
sobre bruxaria moderna4 ganharam espaço em que as bruxas eram reais e que deveriam ser
meados da década de 1990, quando uma forte mortas. Nos séculos XVI e XVII, com mais de
disseminação de temas relacionados à feitiçaria 30 mil exemplares impressos, o livro espalhou
nos meios de comunicação firmou uma imagem pela Europa e, um tempo depois, chegou tam-
e uma definição da bruxaria moderna, especial- bém ao novo mundo.

4
Não está historicamente ligada ao fenômeno medieval, mas sim às especulações sobre a bruxaria, que
começaram a surgir posteriormente ao declínio do próprio fenômeno. A bruxaria neopagã da atualidade
consiste, em sua maior parte, de definições, afirmações e terminologias elaborados nos duzentos anos entre
o final do Iluminismo e o começo do século XXI. Entende-se, portanto, por bruxaria moderna, um sistema
de práticas e crenças relativas ao fenômeno da bruxaria tradicional retomado por meio das investigações
da egiptóloga e antropóloga inglesa, Margaret Murray, na década de 1920. Gardner (2003), pai da bruxaria
moderna, desencadeou a evolução e disseminação da Wicca Gardneriana, que, segundo Russel e Alexander
(2008), aconteceram rapidamente.

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As representações de bruxaria na série Salem: um estudo comparativo

Ginzburg nos revela, acerca dos relatos Esses elementos não passaram despercebi-
confessionais de bruxaria, durante o período dos pela comunidade de bruxos no Brasil. Car-
de caça às bruxas, que: “o que contava era valho e Fontoura (2015a) consideram Salem a
apenas a demonstração da barbárie e da ir- melhor série já produzida sobre o tema. Ainda
racionalidade da perseguição e as narrativas segundo os autores, a reconstrução histórica
das bruxas eram liquidadas como fantasias faz com que o telespectador se transponha
absurdas ou confissões arrancadas pela fero-
facilmente para a realidade daquele tempo e
cidade e superstição dos juízes” (2010, p. 9).
lugar, o que leva a crer que a produção do se-
Ou seja, os juízes tinham desinteresse total
pelas confissões das bruxas; eles só queriam, riado dispõe de uma consultoria de pesquisa-
a todo custo, ouvir o que estava posto nos do- dores e estudiosos da bruxaria.
cumentos religiosos. Ter uma série renovada significa que comu-
Segundo Russel e Alexander (2008), o uso nidades de interpretação reagiram de maneira
da tortura seria uma explicação suficiente positiva à temática. Adotamos o termo “comu-
para a maioria das confissões. Nos tribunais nidades de interpretação” proposto por Stan-
do continente, a confissões eram quase sem- ley Fish e recepcionado por Esquenazi (2010).
pre obtidas por meio de tortura. Eram enco- A denominação significa que tais comunida-
rajadas pelo terror, pela sugestionabilidade. É des são formadas por aqueles que partilham
legítimo constatar, portanto, que a maioria dos as mesmas estratégias de interpretação e que
acusados era inocente. No entanto, o caráter reagem de forma comum face a um objeto sim-
persuasivo dessas confissões, mediante tortu-
bólico. A consciência de pertencimento a essa
ra, não descredibiliza a representação das prá-
comunidade é decisiva para a adesão à série.
ticas de bruxaria abordadas no seriado, tendo
em vista que é provável que algumas daquelas A ideia de que os públicos apenas assis-
pessoas interrogadas realmente tenham par- tem aos programas para romperem com as
ticipado de encontros noturnos com grupos suas tristes vidas cotidianas não cabe mais. De
secretos, praticado alguma espécie de magia e acordo com Esquenazi (2010), durante muito
acreditassem ter convivido intimamente com tempo, essa ideia do prazer do telespectador
o “diabo”. sobrecarregou a análise da ficção televisiva.
Eliade (2011) afirma que a confissão de ho- Hoje, deve-se levar em consideração a afeição
mens e mulheres mediante tortura se tornou pelas séries também pela sensação de reconhe-
uma justificativa de autores contemporâneos cimento e identificação do universo apresenta-
para promover o argumento de que o mítico- do como parte de sua vida privada.
-ritual de bruxaria não passava de uma inven- Essa concepção de pertencimento foi perce-
ção de teólogos e inquisidores. Para ele, essa
bida nos artigos As “verdades” em Salem (Parte
opinião deve ser examinada com cuidado:
1) e As “verdades” em Salem (Parte 2), produzi-
Com efeito, se as vítimas não eram culpadas dos dos pelos bruxos Adriano de Carvalho e Odir
crimes e heresias que lhes imputavam, algumas Fontoura, ambos integrantes de uma comuni-
admitiam ter realizado cerimônias mágico-reli- dade de interpretação da série Salem. A aná-
giosas de origem e estrutura “pagã”; tais ceri- lise comparativa dos artigos e dos episódios
mônias tinham sido havia muito tempo proibidas das duas temporadas de Salem nos permitiu
pela Igreja, ainda que estivessem, às vezes, su-
perficialmente cristianizadas. Essa herança míti- identificar elementos da bruxaria tradicional5
co-ritual fazia parte da religião popular europeia e moderna utilizados como parte da constru-
(Eliade, 2011, p. 217). ção da trama.

5
No site oficial do Conselho Tradicional de Bruxaria no Brasil, Rogério Draco, fundador da entidade, apresenta a bruxa-
ria tradicional como uma religiosidade pré-cristã, advinda das famílias pagãs europeias, dos clãs. É o culto, o costume,
a mitologia e a sabedoria do povo da terra. Seu entendimento advém da vivência, da percepção, do contato mágico do
humano com a flora e fauna; seus remédios, seus instrumentos, seu som, sua força, sua proteção, seu meio de existência,
dando à mesma uma característica tão íntima como a fé, como a sensação pura e simples das manifestações plenas das
divindades. Os membros dessa antiga crença constituem agrupamentos de pessoas que trabalham com foco na magia
natural, servindo como um entendedor das particularidades de cada estação, da chuva, da lua, do sol, da semente e da
criação. Honram e respeitam o poder transmitido no culto às divindades da natureza em seu digno habitat. O poder an-
cestral é transmitido de geração a geração, por meio da palavra falada e do conhecimento compartilhado pelos membros
do clã. A sabedoria é guardada sob juramento e repassada às próximas gerações através dos membros mais antigos, dos
espíritos dos ancestrais.

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Isabel Cristine Machado de Carvalho, Manoel Pereira da Rocha Neto

Práticas mágicas e representações de Sibley, vivida pela atriz Janet Montgomery.


bruxaria em Salem Mary Sibley, uma sacerdotisa, é a líder do co-
ven6; Tituba, por sua vez, faz parte dele.
A série é ambientada no século XVII, ano de Além de Tituba e Mary Sibley, mais três
1685. Seu nome faz referência à vila de Salem. personagens presentes na trama são destaca-
A bruxaria tornara-se um sério problema na dos nos textos de Odir Fontoura e Adriano de
Inglaterra na década de 1560, mas só a partir Carvalho, permitindo identificar elementos de
da década de 1640 a Nova Inglaterra (colônias práticas e representações da bruxaria tradicio-
americanas) se tornou palco de perseguições. nal e moderna: Anne Hale, Mercy Lewis e a
Salem não foi a primeira cidade a registrar Condessa Marburg. A primeira, interpretada
enforcamento de bruxa – o primeiro ocorreu
pela atriz Tamzin Merchant, é uma jovem artis-
em Connecticut, em 1647 –, mas o julgamento
ta que se rebela contra o conservadorismo da
ocorrido ali foi o mais emblemático.
vila. Ela descobre que é uma bruxa no decorrer
Contudo, a série não faz referência a tal
julgamento, que ocorreu em 1692 e teve início da série. Elise Erbele dá vida à segunda per-
com “histeria de duas garotas, de 9 e 11, após sonagem, uma garota com aflições estranhas
uma brincadeira de adivinhação numa tenta- e violentas, causadas por algo desconhecido.
tiva mais ou menos séria de descobrir quem Com o desenvolvimento da história, torna-se
seriam seus futuros maridos” (Russel e Ale- uma feiticeira, e, aos poucos, vai acumulando
xander, 2008, p. 108). Na proposta ficcional, forças e aumentando seus poderes. Por fim,
encontramos uma versão reconfigurada do Lucy Lawless, a Condessa Marburg, é uma
que ocorreu, em um dos: das últimas bruxas, de uma longa linhagem de
poderosas bruxas alemãs, e é a maior inimiga
[...] mais memoráveis e bem documentados jul- de Mary Sibley.
gamentos por bruxaria nas colônias americanas.
[...] Precedentes intelectuais e legais já haviam
predisposto os habitantes da Nova Inglaterra a As bruxas de Salem
acreditar em bruxaria, e certo número de tensões
sociais e políticas existentes em Massachusetts, Mary Sibley, Tituba, Anne Hale, Mercy
sobretudo em Salem, inclinavam o povo a exte- Lewis e a Condessa Marburg são bruxas jo-
riorizar acusações e a acreditar nelas (Russel e
vens, belas e que estão intimamente associa-
Alexander, 2008, p. 108).
das aos poderes da natureza. Elas estão próxi-
No tocante aos fatos, ocorridos na vila ho- mas das “mulheres selvagens do folclore, que
mônima, os roteiristas deram a dois de seus representam a rusticidade agreste da natureza
personagens os mesmos nomes de sujeitos re- em contraste com o mundo da humanidade
ais que fizeram parte do julgamento na referida civilizada” (Russel e Alexander, 2008, p. 53).
localidade: Cotton Mather, interpretado pelo Essa forma arquetípica de se reportar à bru-
ator Seth Gabel, e Tituba, papel da atriz Ashley xa significa estabelecer padrões de comporta-
Madekwe. Segundo Russel e Alexander (2008), mento que estão associados a uma força natu-
Cotton Mather foi um dos líderes intelectuais ral, possuidora de grandes poderes, contra os
da Nova Inglaterra que defendiam a crença em quais não há sujeito capaz de se prevenir ou de
bruxas, e não fez o mínimo esforço para ajudar se defender.
as acusadas. Seus textos Memorable providences
Distante do mundo dos homens e próximas
relating to whichcraft and possessions, de 1689, e
à natureza, a representação das bruxas em Sa-
Wonder of the invisible word, de 1693, sustenta-
lem constitui uma ameaça à ordem social, ética
ram a tradição na crença em bruxas. Tituba,
uma escrava, das Índias Ocidentais, foi uma e até mesmo física do cosmo. Configura, por-
das acusadas de bruxaria pelas meninas da vila. tanto, uma presença ameaçadora. Estabelecen-
Na ficção televisiva, Cotton Mather é um do conexões com a representação de mulher,
aristocrata e lidera uma cidade dominada pelo apresentada por Lipovestky, a identidade de
delírio da caça às bruxas. Tituba é uma espé- bruxa em Salem está mais próxima da “primei-
cie de criada da personagem principal, Mary ra mulher”:

6
O termo vem de “couentus”, que significa “estar junto, reunir-se”. Nome dado aos grupos de bruxas e bruxos que per-
tencem a uma mesma tradição.

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As representações de bruxaria na série Salem: um estudo comparativo

Dos mitos selvagens ao relato do Gênese, domina A tese defendida na obra O Ramo Dourado é a de
a temática mulher, potência misteriosa e maléfi- que todas as religiões possuem um cerne comum:
ca. Elemento obscuro e diabólico, ser que se serve um culto de fertilidade, baseado na adoração e
de encantos e astúcias, a mulher é associada às periódico sacrifício de um Rei Sagrado. Este rei
potências do mal e do caos, aos atos de magia e seria a encarnação ou representação terrena de
de feitiçaria, às forças que agridem a ordem social uma divindade solar, que realizaria um casamen-
(Lipovestky, 2000, p. 233). to místico com uma deusa da Terra, morreria na
época da colheita e renasceria na primavera [...]
Segundo esse autor, além dessa, ainda exis- todas as mitologias do mundo possuiriam como
tem dois tipos de mulher: a “segunda mulher”, núcleo comum a profunda associação com o ciclo
das estações do ano, visando assegurar a fertili-
que é aquela idolatrada, idealizada a partir da dade da terra e a continuidade da vida (Duarte,
Idade Média, sentada num trono, a Grande 2013, p. 16).
Mãe, uma divindade feminina; e a “tercei-
ra mulher”, que seria aquela que aponta um A egiptóloga Margareth Murray, influen-
novo modelo de comando, onde ela escreve ciada pelas teorias de Sir James Frazer, em O
sua própria história, seu próprio destino, ca- culto das bruxas na Europa Ocidental, argumen-
racterizado por sua autonomização em relação ta que a bruxaria europeia é uma antiga reli-
à influência tradicional exercida pelos homens gião da fertilidade, datando do neolítico. Essa
(contudo, a diferença entre os sexos ainda se não seria uma religião centrada numa Grande
faz presente). Mãe, conforme afirma Frazer, mas sim basea-
As bruxas em Salem não se aproximam da da no culto de Dianus, o deus chifrudo. Essa
“segunda mulher”, visto que a sua adoração divindade teriomórfica era cultuada em ritos
reside, provavelmente, apenas numa divin- bem definidos; sua organização era altamente
dade masculina. O deus cornífero, divindade desenvolvida e o seu ritual era comparado a
masculina, é alicerçado pela bruxaria tradicio- muitos outros rituais antigos. As sacerdotisas
nal, muito embora a bruxaria moderna tam- e figuras centrais do culto seriam mulheres: as
bém adote a crença em um deus, mas a deusa bruxas.
tem um lugar de destaque. As bruxas contem- Contudo, o culto ao deus de chifres em
porâneas certamente sofrem a atuação dessas nada tem a ver com a figura do diabo, pre-
mulheres, inclusive a da “segunda mulher” – conizado pela Igreja, embora ela deva ter se
que não se faz presente na série –, ou seja, a baseado em Dianus para criar a imagem do
bruxa imersa na tradição moderna ou wiccana. demônio. Imagens pagãs foram mais tarde
transformadas na ideia do diabo cristão. A
A divindade ou deidade das bruxas mudança, portanto, foi fruto da ação do pen-
samento cristão sobre a sociedade e a religião
A associação que se faz entre o culto das pagãs. O moderno saber histórico não recep-
bruxas e a figura do diabo é um tema que ciona a tese de Murray. De acordo com Duarte
perpassa a elaboração da cristandade medie- (2013) e Russel e Alexander (2008), no entanto,
val e o nascimento da bruxaria. A bruxaria, as críticas ao seu trabalho à época em que foi
enquanto grande conspiração demonolátrica escrito foram muito esparsas e publicadas em
que aterrorizou os princípios da Modernida- periódicos especializados, o que acabou por
de, não encontra, segundo Nogueira (1995), não afetar a popularidade de sua teoria.
correspondência nos sistemas mágicos da O tema é ressaltado logo no início da série.
Antiguidade Clássica. Duarte (2013) afirma No entanto, não fica claro qual é a  “divinda-
que o surgimento de obras de antropólogos e de” associada ao culto das bruxas em Salem.
folcloristas que preconizavam a sobrevivência Nas imagens que aparecem no primeiro epi-
de antigas formas religiosas também afastam sódio é possível encontrarmos os símbolos do
a tese do culto das bruxas associado ao culto chifre, dos pelos animalescos no corpo e dos
ao diabo. O Ramo Dourado, de Sir James Ge- pés de bode. “Em outros episódios, no entanto,
orge Frazer, Aradia: o evangelho das bruxas, de também em formato de flashes, outras imagens
Charles Godfrey Leland e, especialmente, O podem ser percebidas” (Carvalho e Fontoura,
culto das bruxas na Europa Ocidental, de Marga- 2015a). Os autores indagam se essas represen-
ret Murray, são as mais representativas obras tações poderiam se tratar de Pã ou do próprio
a respeito desse tema. demônio presente nas escrituras cristãs.

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Isabel Cristine Machado de Carvalho, Manoel Pereira da Rocha Neto

Se por um lado muitos ramos da Bruxaria, na convencionou chamar de “Bruxaria Tradicional”


atualidade (principalmente na Wicca), estão clamam exatamente o mesmo. Entre os diversos
muito ligados ao paganismo e procuram retratar exemplos conhecidos, podemos citar o Toad-Rite,
os seus deuses à maneira antiga, pré-cristã, e por um certo rito inglês no qual havendo o sucesso
isso encontram certa resistência em ver no Dia- em sua conclusão, a bruxa recebe o poder e o co-
bo uma face do Deus das Bruxas; por outro lado, nhecimento diretamente do próprio Diabo (Car-
existem grupos ‘tradicionais’ que não sentem a valho e Fontoura, 2015a). 
necessidade de distanciarem-se do cristianismo,
e conseguem observar, também no corpus simbó- A representação de Kanaima se aproxima
lico, teológico e ritualístico do cristianismo, um de uma deidade primitiva, rústica, associada
“meio” de transmissão pelo qual as Máscaras dos
aos poderes da natureza e com atributos con-
seus Deuses estão presentes (Carvalho e Fontou-
feridos a um espírito da natureza. Assemelha-
ra, 2015a).
-se muito ao nome “Karnayna”, como o deus
das bruxas é chamado dentro da tradição
A divindade das bruxas em Salem aproxi-
alexandrina de Wicca. Variações deste mes-
ma-se do deus cornífero, identificado de várias
mo nome são conhecidas em grupos tradicio-
formas: Cernunnos, Pã, Janus, Dianus, Herne
nais, segundo Carvalho e Fontoura (2015a). A
e Puck. Também pode ser representado na for-
personagem Tituba ainda qualifica Kanaima
ma zoomórfica de um bode negro. Contudo, o
como aquele que salva os exilados, os pobres,
deus de chifres, na bruxaria tradicional, não é
os proscritos, e demonstra que o mundo que
o “diabo”, princípio do mal. O velho cornífero
ele quer criar é um mundo onde cada um e
é a força dinâmica, selvagem e vital do aspecto
todos os párias da sociedade podem viver
masculino de toda a natureza.
em harmonia, sem medo de julgamento ou
perseguição. Para os autores, é interessante
Nós o veneramos porque veneramos a vida. Ele
possui chifres e cauda, que denotam seu conheci- notar que em Aradia: o evangelho das bruxas
mento instintivo e animal, sua sapiência natural. também é vista dessa forma, conforme des-
Este Deus é parte bicho e parte homem, mescla da crita por Charles Leland: uma Salvadora, em
força vital e perícia xamânica. O Deus Cornífero, plena Idade Média, que liberta os campone-
como a Deusa, é sexual, terreno, apaixonado e sá- ses da escravidão da Igreja. Jackson e Howard
bio. Entre os dois, a Mãe Deusa e seu companhei- (2008) afirmam que, na obra desse folclorista
ro, se constrói o mundo (Beth, 1997). americano, publicada na década de 1890, uma
visão alternativa de Lúcifer também pode ser
Portanto, o “diabo” cultuado pelas bru- encontrada: “Uma bruxa toscana chamada
xas da série é uma força antiga, indômita e de Maddalena supostamente forneceu o material
tempos imemoriais, assim como para muitas desse livro para Leland e alegou seguir a tra-
bruxas tradicionais. Com o advento do Cris- dição familiar hereditária no norte da Itália”
tianismo – a esfera do bem, conforme registra (Jackson e Howard, 2008, p. 63).
Nogueira (2004) –, a entidade passou a desem-
penhar uma configuração maléfica, destrutiva A transmissão do saber bruxo
– a esfera do mal –, associada ao paganismo.
Mercy Lewis, Anne Hale e Tituba; três per-
Na segunda temporada, Mary Sibley se refere a sonagens femininas que, no decorrer da trama,
ele com as seguintes palavras: ‘Nem o mundo, a apresentam às comunidades de interpretação
carne e nem o próprio diabo é como um traje pu- as três formas costumeiras pelas quais o saber
ritano onde só há negro e branco. Tudo é cinza.
bruxo é transmitido de geração a geração: por
E o diabo que eles temem não é o diabo que eu
conheço’ (Carvalho e Fontoura, 2015a). 
meio da comunhão entre semelhantes, pela
transmissão dos conhecimentos restrito aos
membros da família sanguínea ou pela pró-
No episódio House of Pain, da primeira
pria Divindade. 
temporada, Tituba, quando torturada pelo in-
A sacerdotisa Mary Sibley, no sexto episó-
quisidor Cotton Mather, chama a deidade de
dio da primeira temporada, The Red Rose and
“Kanaima”.
the Briar, convida formalmente Mercy Lewis a
De acordo com o personagem, Kanaima é um
fazer parte do seu coven. Carvalho e Fontoura
deus “pagão” da natureza e selvageria. Titu- (2015a) ressaltam que os autores da série de-
ba também diz que ela aprendeu sua bruxaria cidiram customizar mais sua “mitologia”, uti-
diretamente com Kanaima. O que é um fato in- lizando o termo hive, ou colmeia, em lugar da
teressante, visto que muitas bruxas do que se denominação mais comum coven.

40 Verso e Reverso, vol. 32, n. 79, janeiro-abril 2018


As representações de bruxaria na série Salem: um estudo comparativo

Após certa resistência da jovem, acaba sendo as que tem, ou supõem ter, uma ascendência
persuadida [...] é, primeiramente, levada até o pagã (mãe, tia, avó, por exemplo). A maioria
local da Iniciação pela sua tutora. Esse acom- dos hereditários não aceita a infiltração de
panhamento é profundamente simbólico onde, outras pessoas fora de sua dinastia. Porém,
na Wicca, por exemplo, os Iniciadores sempre
algumas tradições familiares “adotam” alguns
guiam os Iniciados pelo Círculo e ajudam-nos
a caminhar. Mercy está nua, e um dos textos membros, escolhidos criteriosamente.
sagrados da Wicca deixa claro, onde a própria Quase no fim da primeira temporada,
Deusa teria dito: “E em sinal de que são verda- no décimo primeiro episódio, Catand Mouse,
deiramente livres, estarão nus em Meus ritos” Anne Hale descobre que pertence a uma fa-
[...]. A partir de então passa a exercitar a sua ex- mília de bruxos. Seu pai, o magistrado Hale,
periência Bruxa em uma nova “família” até que, interpretado pelo ator Xander Berkeley, conta-
gradualmente, passa a distanciar-se de Mary e -lhe sobre a história dos seus antepassados. A
se torna mais independente. Na vida “real” os bruxa hereditária, Anne Hale, que nasceu bru-
Covens, ou Círculos, organizam-se de forma se-
xa, após descobrir essa verdade, passa então a
melhante: novos membros são formalmente con-
vidados e passam por um processo de adaptação
se fazer feiticeira.
e de treino. Algumas vezes, partem para trilhar Tituba, entretanto, afirma ter recebido a
suas próprias jornadas depois disso (Carvalho e transmissão de seu conhecimento bruxo por
Fontoura, 2015a). meio da própria deidade. Ser instruída na Arte
diretamente de seu deus é um rito que ocorre
O fragmento acima representa a prática da entre as bruxas solitárias. De acordo com Aset
transmissão da sabedoria Feiticeira entre pes- (2011), uma bruxa solitária é aquela pessoa
soas que, naturalmente, não pertenciam a uma que pratica a Arte sozinha, mas ocasionalmen-
mesma família sanguínea. Utiliza-se a nomen- te pode se juntar às festividades de sabá em
clatura “sabedoria Feiticeira”, pois, segun- um coven ou com outros bruxos solitários. Ela
do Carvalho (2015), há um ditado que diz: a pode seguir, ainda, quaisquer das tradições ou
bruxa nasce, a feiticeira se faz. Esse dito está nenhuma delas.
relacionado à crença de que as bruxas nascem Ficção e realidade se misturam em Salem
bruxas; portando, o sangue bruxo, seja por he- também no tocante à forma de transmissão
reditariedade direta ou linear, seja pelo nasci- do saber bruxo atribuído à personagem Ti-
mento de uma bruxa após gerações. Quando o tuba. Como apresentado anteriormente, a
indivíduo passa a estudar, aprender e praticar personagem, no episódio House of Pain da pri-
os procedimentos da arte bruxa, ou seja, passa meira temporada, afirma que aprendeu sua
a exercitar o conhecimento operacional, é dito bruxaria diretamente com Kanaima, seu deus
que a feiticeira se faz. pagão. Ser instruída pela própria deidade
aparece no depoimento da escrava das Índias
O bruxo é uma condição, ou você nasce ou não, Ocidentais, imersa em saberes e tradições
não há escolha, é uma bênção e também uma mal- mágicas. As meninas de Salem, submetidas a
dição. Já o feiticeiro é aquele que estuda, aprende um intenso interrogatório por adultos e sob
e obtém o conhecimento de suas Artes. Assim, pressão, acusaram três mulheres de tê-las en-
um nascido bruxo, um nascido do sangue-bru- feitiçado: Sarah Goode, Sarah Osborne e Titu-
xo, quando passa a estudar as Artes, torna-se
ba – “as duas primeiras negaram, enquanto
também um feiticeiro. Quando digo que ambos
os termos são concomitantes é porque a Arte pri-
que Tituba confessou com grande satisfação
mordial da bruxa, independente de seus cultos e volúpia, declarando que tinha relações com
particulares, é e sempre foi a Arte de fazer feitiços o diabo na figura de uma coisa toda peluda,
ou bruxedos (Carvalho, 2015). rosto peludo e um longo nariz” (Russel e Ale-
xander, 2008, p. 108).
A personagem Anne Hale é uma nascida do
sangue bruxo. Temos, portanto, a transmissão Os familiares e a marca da bruxa
dos conhecimentos restritos aos membros da
família sanguínea. Ela se descobre uma bruxa Na capa do livro Discoverie of witches, de
hereditária, visto que seu pai também é bruxo. Matthew Hopkins, publicado em 1647, o
Na tradição familiar ou hereditária, temos um caçador-mor de bruxas da Inglaterra é visto
bruxo que foi iniciado por um ente familiar e/ observando duas bruxas cercadas por seus fa-
ou pode localizar sua história familiar em ou- miliares. Na página, surgem sapos, ratos, ga-
tro bruxo ou bruxos. Os bruxos hereditários, tos, coelhos, bode, touro. Carvalho e Fontoura
ou genéticos, segundo Aset (2011), são pesso- (2015a) explicam que os animais ditos familia-

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Isabel Cristine Machado de Carvalho, Manoel Pereira da Rocha Neto

res são espíritos que, tradicionalmente, são ti- um procedimento conhecido dentre os estudiosos
dos como auxiliares mágicos das bruxas. Esses e conhecedores dos manuais de Inquisição medie-
espíritos por vezes são desencarnados. Mas, vais e modernos. Presente, por exemplo, no fa-
em certas ocasiões, também podem encarnar moso Malleus Malleficarum, o procedimento que
visa encontrar a chamada Marca do Diabo parte
(através de uma série de procedimentos ritu-
do princípio de que qualquer marca estranha,
ais específicos) em um animal de estimação
mancha, sinal ou verruga, poderia servir como
da feiticeira. Cotidianamente, eles podem au- prova de que a acusada pertenceria a um grupo
xiliar em métodos divinatórios, por exemplo, de bruxas. Em tese, seria por esta marca que a
ao “escolherem” cartas ou runas nas ocasiões feiticeira alimentaria os seus Familiares com seu
oraculares – “o familiar seria ainda um demô- próprio sangue (Carvalho e Fontoura, 2015b).
nio que acompanha e presta serviços à bruxa.
Essas entidades adotavam com frequência a Algumas marcas eram visíveis, como uma
forma de animais, especialmente gatos pretos cicatriz ou um lunar, mas também havia ou-
e cães” (Russel e Alexander, 2008, p. 98). tras, invisíveis, que podiam ser localizadas
Esses familiares eram alimentados por punçando a acusada com instrumento pon-
meio de uma marca. Essas marcas, algumas tiagudo, como nos revelam Russel e Alexan-
vezes chamadas de marca da bruxa ou mami- der (2008). Os pesquisadores ressaltam que a
los de bruxa, estão registradas em manuais de marca do diabo é diferente da marca da bruxa.
Inquisidores, tanto medievais quanto moder- A respeito dessa última, Carvalho e Fontoura
nos. Segundo a tradição, devem ser alimenta- (2015b) explicam que é interessante notar que
dos com o próprio sangue do feiticeiro, como muitas vezes ela não é necessariamente algo
uma forma de fortalecer o laço entre o mago físico, mas, diferente disso, pode ser como um
ou a bruxa e o espírito em questão. sinal ou uma espécie de selo mágico – quando,
Em Salem, os familiares escolhidos foram por exemplo, nos rituais de Iniciação da Wicca
um sapo, uma aranha e um rato. O animal (tradição moderna), a cada elevação de grau, o
familiar de Mary Sibley é o sapo; Tituba tem Iniciado é marcado pelo símbolo respectivo do
uma aranha; e Anne Hale um rato. Ao longo seu grau, que pode ser um pentagrama nor-
do seriado, em diversos episódios, é possível mal, invertido ou coroado.
observar quando as três alimentam seus fami-
liares com gotas do seu sangue, direto de seus Dentro de diversos ramos da chamada Bruxa-
corpos. Segundo Carvalho e Fontoura (2015a), ria “Tradicional” a Marca da Bruxa ou Marca
é verdade que muitos feiticeiros alimentam, do Diabo (Stigmata Diaboli) é uma cicatriz feita
em uma ou outra ocasião, seus animais fami- em alguma parte do corpo da bruxa, normalmen-
liares com sangue, mas isso não ocorre, neces- te no formato de uma pequena cruz, durante a
cerimônia de admissão da nova bruxa dentro de
sariamente, com o animal bebendo diretamen-
um Coven ou Congregação. Essa Marca tradicio-
te do corpo da Bruxa. nalmente é feita pelo Magister, o líder masculino
A busca pela marca ou mamilo de bruxa de um grupo [...]. Variações no formato e local da
– ou ainda, protuberância adicional – era um marcação existem, porém o sentido é o mesmo,
dos aspectos mais impiedosos da denúncia marcar aquela pessoa, como uma forma de empo-
por bruxaria. deramento, para que a partir daquele momento
ela seja reconhecida como parte do grupo (Carva-
Alguns suplícios destinavam-se a testar a culpa lho e Fontoura, 2015b).
ou a inocência da bruxa [...]. Na prova da marca
da bruxa, buscava-se no corpo da bruxa qualquer Ainda no âmbito da bruxaria tradicional, a
protuberância que pudesse ser considerada um marca do diabo é confundida com a marca de
mamilo adicional no qual, pressupunha-se, os de- Caim ou a marca de Seth.
mônios mamassem na forma de familiares (Rus-
sel e Alexander, 2008, p. 87).
A marca de Caim é uma referência à maldição que
Deus (deus este, visto pelos bruxos e também por
Admitia-se também que as bruxas possuí- muitas seitas gnósticas como, na verdade, o De-
am pontos insensíveis difundidos pelo corpo, miurgo) colocou sobre Caim e sua descendência.
os quais teriam sido marcados pelo “diabo”. Marcado, tido como pária na sociedade, margi-
nalizado e exilado, ao mesmo tempo essa marca
No oitavo episódio da primeira temporada, De- indica que Caim não poderia ser morto por nin-
partures, o inquisidor Increase Mather obriga seu guém. A marca de Caim dentro desses ramos tra-
filho, o também pastor, Cotton Mather, a fazer dicionais é uma metáfora, e, como tal, simbólica,
um exame de reconhecimento em uma das acusa- para o mistério conhecido como “Sangue-Bruxo”
das de bruxaria, a saber, sua amante. Trata-se de (Carvalho e Fontoura, 2015b).

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As representações de bruxaria na série Salem: um estudo comparativo

Essa marca é um símbolo da herança mági- ser interpretadas como uma separação entre
ca em ramos cainitas da Arte, como o povo da espírito e corpo – “uma mulher condenada à
serpente. Eles são os membros verdadeiros do fogueira em 1571 [...] Margheritadi San Rocco,
sangue das bruxas, herdado (raramente) fisi- declara: ‘fui ao sabá mas não pessoalmente, e
camente ou pela reencarnação da alma, segun- sim em espírito, deixando o corpo em casa’”
do Jackson e Howard (2008). Portar a marca (Ginzburg, 2010, p. 39).
de Caim é carregar, de acordo com Carvalho Contudo, a partida (voo noturno) para
e Fontoura (2015b), em suas veias, o sangue o sabá e a própria assembleia ou reunião das
bruxo, o sangue mestiço entre a raça do ho- bruxas podem estar associadas a experiências
mem e a raça das fadas. Essa marca é vista e fora do corpo bem como a encontros físicos.
reconhecida apenas por aqueles que também a
carregam, e cada bruxo ou grupo detém seus Uma mulher de Gaiato, Orsolina, chamada “a
métodos para identificá-la. Ruiva”, processada pela Inquisição de Modena,
em 1539, ao juiz que lhe perguntava se ia ao sabá
“sempre corporalmente ou em sonho”, respon-
O sabá, os voos noturnos e os deu que “muitos vão como visões” quando que
objetos mágicos “outros corporalmente”; quanto a ela, “ia sempre
corporalmente” (Ginzburg, 2010, p. 42).
Tituba e Mary Sibley representam, no epi-
sódio The Vow, um rito que está alinhado aos Se, por um lado, para os wiccanos ou bru-
registros históricos de confissões de bruxas, xos modernos o sabá consiste em uma experi-
documentados nos relatos da Inquisição: a ência ritualística, de encontro sazonal ou físi-
preparação de partida (voo noturno) para o co, por outro, para muitos praticantes da arte
sabá. tradicional, a ideia de sabá consiste em, de fato,
Recorrente não apenas na série, mas na fic- uma experiência onírica.
ção televisiva e literária, bem como no folclore
de diversas partes do mundo, uma das carac- E para alcançar tal estágio, seja através dos cha-
terísticas mais atribuídas às bruxas é a capa- mados “sonhos lúcidos” ou mesmo pelo que pode
cidade de voar. Este processo, de acordo com ser chamado por alguns de “projeção astral”,
Carvalho e Fontoura (2015b), é retratado de existe uma série de preparativos que vão, sim,
desde a ingestão de substâncias alucinógenas
maneira profunda e fidedigna na série:
quanto a processos de respiração, concentração ou
meditação controlada e até mesmo guiada. Lem-
Tituba “unge” a vassoura com uma substância
bremo-nos que em Salem o voo é sempre guiado
especial e com o mesmo líquido parece tocar a tes-
por alguém, como na ocasião em que Mary ajuda
ta, o nariz e os lábios da sua Sacerdotisa. Após
Mercy a projetar-se para fora do corpo também
um momento, Mary literalmente “monta” a vas- (Carvalho e Fontoura, 2015b).
soura e depois é vista na cama com seus músculos
enrijecidos entrando então em um estado alterado
de consciência. Ela “voa”, então, não fisicamente, Em Salem, o sabá físico é configurado, e o ri-
mas sim “espiritualmente” ao ponto de encontro tual, repleto de máscaras, chamou a atenção dos
e de comunhão com os demais Feiticeiros (Carva- bruxos Odir Fontoura e Adriano de Carvalho.
lho e Fontoura, 2015b).
O elemento da máscara é profundamente sim-
Ginzburg (2010) mostra que, em meados do bólico dentre os diferentes ramos da Bruxaria.
século XV, o teólogo espanhol Alfonso Tosta- Em um sentido prático, indo ao encontro do que
Gardner chama de palingenesia no seu livro A
do, comentando o Gênese, notava, casualmen-
Bruxaria Hoje, a prática de “mascarar-se” sob
te, que as bruxas espanholas, depois de terem uma perspectiva Bruxa está relacionada ao in-
pronunciado certas palavras, besuntavam-se tuito de “vestir” uma outra personalidade, de
com unguentos e caíam num sono profundo, “nascer” novamente, mas sob outra forma. Ao
que as tornava insensíveis até ao fogo ou às fe- usar, por exemplo, uma máscara ritualística de
ridas, e que, ao despertar, afirmavam ter ido um animal selvagem, como a de um gamo, por
a este ou àquele lugar (sabá) para encontrar-se exemplo, o Bruxo invoca para dentro de si aspec-
tos da natureza deste animal: a força, a rapidez, a
com outras companheiras.
virilidade, ou a fertilidade. Ao mascarar-se como
Tanto a ingestão de chás quanto a fricção uma coruja, uma Feiticeira pode reivindicar para
de certos unguentos no corpo provocavam, de si a natureza da noite, da visão, da esperteza ou
fato, reações alucinógenas. Tais reações confe- da habilidade de camuflar-se (Carvalho e Fontou-
riam certa perda da sensibilidade e poderiam ra, 2015b).

Verso e Reverso, vol. 32, n. 79, janeiro-abril 2018 43


Isabel Cristine Machado de Carvalho, Manoel Pereira da Rocha Neto

Segundo Russel e Alexander (2008), a re- A indagação da Condessa Marburg sugere


presentação desse ritual sabático tem uma que a criação do mito do Éden deve ser perce-
semelhança com as danças praticadas há mil bida como uma crença falsa e perniciosa, que
anos na Europa, nas quais as pessoas vestiam assombra a humanidade há eras.
roupas de animais – talvez essa tenha sido
uma das origens da ideia das máscaras e da Como resultado desse mito judaico-cristão, a pro-
metamorfose, condenadas pela igreja cristã e paganda rotulou a serpente como uma criatura
associadas à bruxaria. Usar a máscara de um má e detestável e, em comum com ela, as religiões
patriarcais costumam representar as mulheres
deus ou de uma deusa pode significar que o
como tentadoras malignas que levam os homens
bruxo ou bruxa busca repetir o mito ou a sua à perdição com seus ardis femininos (Jackson e
jornada, bem como se mostrar aberto para re- Howard, 2008, p. 191).
ceber as benesses daquela deidade. Trata-se,
portanto, de um costume tradicional e que, se-
gundo Carvalho e Fontoura (2015b), embeleza Para a comunidade de bruxos e pagãos, a
muitos rituais.  “tentação” de Eva é considerada um ato de
Uma maçã, esculpida com diversos símbo- libertação para o futuro da humanidade. A
los, é, de fato, um pequeno vaso ou recipien- serpente representa a sabedoria na sua forma
te, que contém a praga que as bruxas libertam mais pura. Jackson e Howard (2008) lembram
ao final da primeira temporada – “este é, sem que os Ofitos, ou Irmandade da Serpente, no
dúvida, um dos objetos mais interessantes que século II d.C., viam a serpente como a perso-
aparece na série” (Carvalho e Fontoura, 2015b). nificação da sabedoria absoluta e da humani-
Vasos e recipientes, lembram os bruxos, são dade, a mãe e autora de todo o conhecimento e
extremamente comuns dentro da bruxaria, as- das ciências. Portanto, a “queda” não era algo
sim como em outros cultos de orientação feiti- do qual se arrepender, “mas a transição da hu-
ceira, como o vodu. São largamente utilizados manidade antiga para um estado mais eleva-
para guardar, manter espíritos e poderes. do de conhecimento e consciência” (Jackson e
Howard, 2008, p. 193).
Em Salem, o Malum [objeto utilizado para fei-
tiço] é uma maçã, o que nos leva obviamente ao Considerações finais
fruto do conhecimento do Bem e do Mal do mito
Edênico. A Bíblia não nos diz exatamente qual Bruxos, bruxas, feiticeiros, feiticeiras, ma-
era esse fruto, mas a tradição popular atribui o gia, rituais pagãos; palavras que ainda hoje
mesmo a uma maçã – fruto sagrado para Vênus. povoam, despertam e inquietam as mentes e a
[...] É sabido que, para diversas vertentes da Arte, imaginação. Até a década de 1990, as práticas
o mito Edênico é uma tradução do próprio atavis- de bruxos e bruxas de todo o mundo não ti-
mo de onde flui o “Sangue-Bruxo”, onde a Ser- nham a nitidez que têm hoje. Antes do adven-
pente, vindo como uma libertadora da opressão to da internet, eles permaneciam isolados uns
do Deus/Demiurgo, permite à primeira mulher dos outros. Mas, em 1997, a inauguração do
e ao primeiro homem que comam do fruto e, por- website witchvox.com, de Wren Walker e Fitz
tanto, se tornem sábios como os deuses (Carvalho Jung, e seu rápido crescimento, gerou enorme
e Fontoura, 2015b). repercussão sobre essas comunidades.
Russel e Alexander (2008) reforçam que as
Os autores apontam ainda que o interes- indústrias cinematográficas e televisivas cap-
sante é que essa mesma visão, compartilhada turaram bem esse movimento, que ganhava
por muitos bruxos, é dada na série quando a corpus e que acabou, em meados da década de
personagem da Condessa Marburg, interpre- 1990, por implantar e dar visibilidade a uma
tada pela atriz Lucy Lawless, cita, no episódio imagem e um conceito de bruxaria – em espe-
Midnight Never Come, da segunda temporada, cial, a moderna – ligada a uma cultura mais
as seguintes palavras sobre a serpente e a ár- popular e voltada para o público adolescente.
vore do conhecimento: “A primeira e melhor Os resultados dessa explosão na cultura pop
mulher, nossa mãe Eva, seguiu a serpente. desse período, conforme afirmam os dois pes-
Desde então, homens mesquinhos tem nos quisadores, ainda se fazem sentir entre nós.
atormentado. Já se perguntou que tipo de deus A série Salem vem se somar a tantos ou-
planta uma árvore carregada com o fruto do tros títulos a respeito da temática. Contudo,
conhecimento apenas para proibir a sua cria- as representações de bruxaria em seus episó-
ção de partilhá-lo?” (Salem, 2015). dios revelam muito mais aproximações e do

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As representações de bruxaria na série Salem: um estudo comparativo

que distanciamentos no tocante aos aspectos ESQUENAZI, J. 2010. As séries televisivas. Lisboa,
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derna. É possível perceber elementos que se ro, Guanabara Koogan, 257 p.
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