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Análise da Produção Científica em Finanças entre 2000-2008: um Estudo Bibliométrico

dos Encontros da ANPAD


Autoria: Marcos Antônio de Camargos, Wendel Alex Castro Silva, Alexandre Teixeira Dias

Resumo:
O objetivo deste artigo foi fazer um levantamento da produção científica da área de finanças
no Brasil, nos 391 artigos publicados nos anais do principal congresso da área de
Administração, o Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação em
Administração (Enanpad) entre 2000 a 2008, a partir da identificação e análise dos seguintes
indicadores bibliométricos: distribuição por instituição, estado, subáreas e temas; Lei de
Lotka; estrutura dos artigos, referências e impacto dos periódicos nacionais. Constatou-se que
a distribuição da produção acadêmica é ainda concentrada em poucas instituições e em três
estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais). O mainstream da área continua sendo a
subárea finanças corporativas, responsável por quase um terço da produção no período,
seguida da área de investimentos e mercados financeiros e de capitais. O número de autores
que publicaram apenas um artigo no período analisado está acima do previsto pela teoria
bibliométrica, evidenciado pelo coeficiente de Lotka estimado. Os artigos, principalmente em
outros idiomas, foram as referências mais utilizadas, seguidos de livros e teses, dissertações e
monografias; os principais periódicos nacionais têm baixo impacto na produção acadêmica do
período, sendo pouco citados (média de 0,89 citações por artigo), bem distante da realidade
dos periódicos estrangeiros.

1. INTRODUÇÃO
Em seus primeiros estágios, a área de finanças tinha como enfoque normatização e
padronização das demonstrações contábeis, de maneira a possibilitar comparações entre
diferentes empresas, além dos direitos legais dos títulos de crédito e os procedimentos do
mercado financeiro voltados à captação de recursos. Haugen (2001) considera essa fase como
sendo das finanças antigas cuja base era formada pela Contabilidade e pelo Direito.
Ainda de acordo com esse autor, as finanças modernas se originaram na década de 1950, com
os estudos seminais de Markowitz (1952 e 1959), cujo modelo serviu de base para desenvolvimento
do CAPM (Capital Asset Pricing Model) nos estudos de Sharpe (1964), Lintner (1965), Treynor
(1966) e Mossin (1966). O grande salto da área se daria com as contribuições de Modigliani e Miller
(1958 e 1963). Em seus estudos, os autores demonstraram resumidamente que: a) o valor de uma
empresa alavancada deveria ser igual ao de uma empresa não alavancada (Proposição I); b) o custo
do capital próprio seria uma função linear do nível de endividamento da empresa (Proposição II); e
c) uma empresa deve investir em projetos que ofereçam retorno esperado igual ou superior ao custo
de capital ajustado ao seu risco, ou seja, o determinante do valor de uma empresa é a sua política de
investimentos e não sua política de financiamento, sendo independentes entre si (Proposição III).
Em 1961 os autores, utilizando essa mesma linha de argumentação, mostraram a irrelevância da
política de dividendos e em 1963 fizeram algumas correções no modelo original. Assaf Neto (2003)
ressalta a importância desse trabalho na medida em que contribuiu para a reflexão da lógica
econômica do processo de tomada de decisões financeiras das corporações, enquanto Terra (2008)
destaca que eles mudaram radicalmente a forma como eram pensados os problemas financeiros até
então, principalmente por aplicar um raciocínio econômico rigoroso que levava a conclusões que
contrariavam o senso comum vigente até então.
Outro pilar das finanças modernas é oriundo da proposição dos mercados eficientes de
Fama (1970 e 1991), segundo a qual os preços dos títulos mudavam de forma aleatória de um
período para o outro mediante surgimento de informações relevantes, novas e imprevistas. A
rapidez com que essas informações são incorporadas ao preço desses títulos conduz a níveis
diferentes de eficiência (Fraca, Semi-Forte e Forte). Por outro lado o teorema de Modigliani e

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Miller é fortemente questionado por Stiglitz (1969) no que se refere ao posicionamento em
torno do risco de falência das empresas.
Em síntese, pode-se dizer que, na evolução da área de finanças, houve um deslocamento
de foco dos fatos relacionados ao cotidiano financeiro da empresa (proteção contra falência,
reestruturação), por meio da adoção de corretas políticas de financiamento (estrutura de
capital), para o uso de complexos modelos matemáticos que conseguissem fazer a leitura de
um ambiente no qual a informação assumiu um papel importante e imprescindível para
gestores e empresas, inserido em um contexto de crescente incerteza e risco, no qual as
economias de diferentes países estão cada vez mais integradas.
Atualmente, na perspectiva de um arcabouço teórico ainda em construção, a área de
finanças tem como objetivo principal a maximização da riqueza dos proprietários das
empresas, tomando para isso decisões de investimento, de financiamento e de destino dos
lucros (política de dividendos), em um ambiente no qual as práticas de governança
corporativa e de responsabilidade sócio-ambiental são cada vez mais valorizadas e vistas
como saída para vários problemas organizacionais e empresariais. Em termos de perspectivas
futuras, destaca-se a vertente da área de finanças voltada ao estudo dos diversos mecanismos
(de controle, estratégicos, operacionais, etc) que levam ao crescimento sustentável das
empresas, além do resgate dos estudos sobre a “racionalidade limitada” e o comportamento
dos gestores no cotidiano empresarial e de mercado, combinando a Teoria Econômica
Clássica, os estudos de Psicologia Humana e a Neurociência, em um campo denominado de
finanças comportamentais.
Na perspectiva da ciência como um sistema de produção de informações, ela pode ser
vista como uma “empresa com insumos e resultados”, cujas análises e mensurações
demandam o desenvolvimento de metodologias apropriadas para isso. Dentre as várias formas
de análise da difusão do conhecimento científico destaca-se a bibliometria, que tem como
foco a análise científica pelo estudo quantitativo das publicações. De acordo com Dios (2002),
o objetivo principal dos estudos bibliométricos é o desenvolvimento de indicadores cada vez
mais confiáveis, distribuídos em cinco tipos principais: de qualidade, de circulação, de
dispersão, de consumo de informação e de repercussão.
Pode-se dizer que entre os autores de maior contribuição para o avanço da bibliometria
destaca-se Lotka (1926), cuja lei bibliométrica afirma que o número de autores que publicam
n artigos em um determinado campo científico, é aproximadamente 1/n2 daqueles que
publicam somente um artigo, e a proporção de autores que publicam somente um artigo deve
ser 60,8% do total de autores. Mensura assim, a produtividade dos autores mediante um
modelo de distribuição tamanho-freqüencia dos diversos autores em conjunto de publicações.
Para Saes (2000), são vários os aspectos das publicações científicas que podem ser
analisados pelos indicadores bibliométricos, dentre os quais se destacam: 1. crescimento de
um campo da ciência (variação cronológica do número de trabalhos publicados no campo); 2.
envelhecimento do campo científico (vida média das referências de suas publicações); 3.
evolução cronológica da produção científica (ano de publicação dos documentos); 4.
produtividade de autores e instituições (quantidade de trabalhos); 5. colaboração entre
pesquisadores e instituições (quantidade de trabalhos, número de autores por trabalho,
instituições envolvidas); 6. impacto ou visibilidade das publicações (número de citações que
recebem em trabalhos posteriores); 7. análise e avaliação de fontes difusoras de trabalhos
(indicadores de impacto); e 8. dispersão da produção científica entre as diversas fontes.
No que se refere à área de finanças especificamente, ainda são poucos os levantamentos
já realizados na literatura nacional. Leal, Oliveira e Saluri (2003) traçaram o perfil da
pesquisa na área, a partir da análise de 551 artigos publicados em periódicos e nos anais do
Enanpad entre os anos de 1974 e 2001. Camargos, Coutinho e Amaral (2005) empreenderam
trabalho semelhante, cujo objetivo foi fazer um levantamento da produção científica da área

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baseado na análise dos 171 artigos publicados nos anais do Enanpad entre os anos de 2000 e
2004. Souza et al. (2008) em seu estudo tiveram por objetivo fazer um levantamento das
características de periódicos internacionais da área, no intuito de identificar os autores e
artigos mais citados.
O objetivo desta pesquisa foi fazer um levantamento da produção científica da área de
finanças no Brasil, nos anais do principal congresso da área de Administração, o Encontro
Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração (Enanpad) entre 2000
a 2008, a partir da identificação e análise de indicadores bibliométricos. Este artigo é
constituído de 4 seções. Na seqüência desta seção introdutória são apresentados os
procedimentos metodológicos, seguidos da análise bibliométrica na seção 3. Encerra-se com
as considerações finais e conclusão na seção 4, seguida das referências.
2. METODOLOGIA
Para analisar a produção científica de finanças no Brasil, no intuito de se identificar
indicadores bibliométricos, foi adotada metodologia composta por cinco etapas: 1. definição
dos objetivos, indicadores bibliométricos a serem analisados, classificação da área de
finanças; 2. elaboração do instrumento de coleta de dados, cujo pré-teste foi realizado em seis
artigos que não faziam parte da amostra estudada, por pelo menos dois autores, com os
devidos ajustes e correções na sequência; 3. coleta de dados nos artigos foi realizada por meio
do preenchimento do instrumento desenvolvido para esse fim para cada um deles. Esta fase
foi realizada entre os meses de outubro de 2008 a janeiro de 2009; 4. organização e tratamento
bibliométrico dos dados coletados, elaboração de tabelas e gráficos por meio dos software MS
Excel, com a Lei de Lotka sendo testada utilizando Statistical Package for the Social Sciences
- SPSS -, versão 13.0; 5. análise dos resultados.
O período foi selecionado visando identificar tendências recentes da área, sendo que
cada artigo foi analisado por pelo menos um dos autores, com base em leituras e coleta de
dados e informações no instrumento elaborado para os propósitos da pesquisa. Os critérios e
variáveis desse instrumento foram amplamente discutidos e compilados em formato de tabela
que continha os campos específicos a serem preenchidos. As dúvidas e ambiguidades foram
dirimidas por meio do consenso em reuniões dos autores.
A base de dados da pesquisa foi constituída dos 391 artigos publicados pela área de
finanças entre 2000 e 2008 no caderno de resumos dos Anais do Enanpad. Destaca-se,
entretanto, que foi encontrada divergência entre o número total de artigos que constam do
caderno de resumo, 391 e os que constam do CD-ROM de cada ano, 396. Optou-se por fazer
a análise baseada no primeiro, tendo em vista que eram demandados dados sobre a autoria e
vínculo institucional que constam do caderno.
Os aspectos identificados e analisados no levantamento bibliométrico foram:
• a área de finanças no Enanpad: trabalhos submetidos e aprovados no Enanpad x área de
finanças, artigos em outros idiomas, participação de homens e mulheres como autores;
• distribuição dos artigos por instituição, estado e região do país;
• distribuição dos artigos por subárea e temas;
• foco da Instituição de Ensino Superior (IES): subárea versus tema versus Instituição de
Ensino Superior - IES;
• Lei de Lotka: produtividade relativa em relação o número de autores por artigo;
• estrutura dos artigos: número médio de páginas, quantidade média de página destinada a
metodologia, resultados e conclusão antes de após a inserção da página adicional (2004);
• análise das referências bibliográficas: quantidade média de livros, teses, dissertações,
monografias, artigos de revistas e congressos, documentos não científicos e eletrônicos
(nacionais e estrangeiros);
• impacto dos periódicos nacionais: identificação dos periódicos brasileiros mais citados.
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A delimitação das subáreas de finanças foi feita com base na classificação da Sociedade
Brasileira de Finanças (SBFIN) e Enanpad, com algumas adaptações que visaram definir
melhor a área, que foi então dividida em seis subáreas: 1) derivativos e gestão de riscos; 2)
finanças corporativas; 3) finanças internacionais; 4) investimentos; 5) mercados financeiros e
de capitais; 6) outras. Essas subáreas foram divididas em 26 temas (Tabela 6), que melhor
expressam as teorias e os estudos da área. Os autores salientam que essa delimitação, bem
como a classificação de um artigo em determinado tema de determinada subárea é carregada
de subjetividade e reflete a visão ou o conhecimento sobre a área. Além disso, nos casos de
dúvida essa classificação foi feita a partir do consenso entre os autores.
No levantamento das quantidades de cada variável, na maioria dos casos optou-se por
selecionar as dez e em alguns casos as cinco mais representativas em termos percentuais,
agrupando as demais, visando melhorar a apresentação dos resultados.

3. ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA
3.1 Aspectos Gerais da Produção Acadêmica em Finanças
De início, foi constatado que na área de finanças ainda prevalece uma quantidade maior
de homens entre os autores dos artigos analisados, mas essa diferença diminuiu, quando
comparada com o levantamento feito por Camargos, Coutinho e Amaral (2005). Esses autores
constataram que, entre 2000 e 2004, os percentuais de homens e mulheres eram de 82,16% e
17,84%, respectivamente. A análise dos dados para 2000 e 2008, que englobam o período
analisado por esses três autores, mostrou que 502 autores diferentes publicaram na área de
finanças, dos quais, 397 (79,1%) são homens e 105 (20,1%) são mulheres.
A Tabela 1 apresenta dados referentes ao volume de artigos submetidos e aprovados
pela área de finanças e aprovados pelo Enanpad, além de publicações em outro idioma. O
volume médio de artigos submetidos e inscritos no Enanpad, entre os anos de 2000 e 2008, foi
de 703 trabalhos. Já a média de trabalhos submetidos à área de finanças, no mesmo período,
foi de 153 artigos e de artigos aprovados na área foi de 44, dos quais 11,6%, em média, foram
escritos em língua estrangeira. Cabe salientar que publicações em outro idioma,
principalmente o inglês, refletem, no contexto do Enanpad, um esforço dos autores para, em
um segundo estágio, publicar o artigo em periódicos internacionais. Isso sem mencionar
autores que estudaram fora do país ou que tenham o hábito de escrever em outros idiomas.
Conforme se observa, o número de artigos em língua estrangeira publicados pela área de
finanças no período foi baixo, apesar de ter sido constatada a tendência de crescimento do
percentual de artigos.
TABELA 1: Aprovados Enanpad x Submetidos e Aprovados Finanças x língua Estrangeira
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Média
Aprovados Enanpad 366 418 556 630 783 762 835 973 1001 703
Submissão finanças 79 55 115 147 180 198 208 200 196 153
Aprovados finanças 27 20 39 38 47 50 51 63 61 44
L. Estrangeira 2 2 8 3 6 7 5 11 3 5
% finanças * 7,4% 4,8% 7,0% 6,0% 6,0% 6,6% 6,1% 6,5% 6,1% 6,3%
% Aprovação** 34,2% 36,4% 33,9% 25,9% 26,1% 25,3% 24,5% 31,5% 31,1% 29,9%
% L. Estrangeira*** 7,4% 10,0% 20,5% 7,9% 12,8% 14,0% 9,8% 17,5% 4,9% 11,6%
* percentual de artigos aprovados na área de finanças em relação ao total de artigos inscritos no evento;
** percentual de artigos submetidos e aprovados na área de finanças;
*** percentual de artigos em língua estrangeira aprovados na área de finanças.
FONTE – Elaborada pelos autores.

Cerca de 30%, em média, dos trabalhos submetidos à área de finanças foram


aprovados para publicação e apresentação. A proporção entre artigos aprovados na área de

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finanças e o total de artigos inscritos no evento, no período analisado, reflete uma redução da
participação da área nos anos de 2000 a 2003 (de 7,4% em 2000 para 6,0% em 2003) e uma
estabilização em torno de 6,0% no período entre os anos de 2003 e 2008. Quando comparada
ao crescimento médio de 14,0% a.a. no número de artigos inscritos no evento, essa
constatação fica mais evidente.
Associando a publicação em língua estrangeira com as IES, observa-se que a FGV-SP
aprovou o maior número de trabalhos em outro idioma no período, 11 (23,4%), seguida da
Unisinos, com 4 (8,5%), UnB e UFRJ, com 3 (6,4%) cada e de FGV-RJ, Ibmec-RJ e USP,
com dois artigos cada (4,3%). As demais IES juntas publicaram 20 artigos (42,4%) em outro
idioma.
Na análise da distribuição da produção acadêmica entre as instituições, observa-se que
a produção de artigos na área de finanças continua concentrada em poucas instituições. De um
total de 45 instituições que publicaram no congresso, as dez cujos pesquisadores publicaram
mais trabalhos corresponderam juntas por mais de 55% dos artigos, com 215 trabalhos. A
FGV-SP aparece como a instituição que mais publicou no período, com 13,0% dos artigos,
seguida por USP, UFMG e Mackenzie, com 11,5%, 7,2% e 4,9% do total, respectivamente.
Das dez IES com maior número de publicações no período, quatro são do Estado de São
Paulo, duas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, uma de Minas Gerais e uma do Distrito
Federal. Quando se comparam estes resultados com os de Leal, Oliveira e Soluri (2003), que
analisando os anais do Enanpad entre 1974 e 2001, constataram que UFRGS (23,48%), UFRJ
(23,11%), PUC-RJ (20,83%), USP (6,06%) e UFSC (5,3%) foram as cinco IES brasileiras de
maior produtividade do período, identifica-se que as IES que mais perderam espaço, em se
tratando de publicações nos congressos, foram UFRJ, PUC-RJ e UFRGS, enquanto que FGV-
SP, USP, UFMG e Mackenzie foram as que mais ganharam espaço.
TABELA 2: Produção acadêmica em finanças por instituição, 2000 - 2008
Instituição Quantidade % % Acumulado
FGV – SP 51 13,0 13,0
USP 45 11,5 24,6
UFMG 28 7,2 31,7
Mackenzie 19 4,9 36,6
UFRGS 14 3,6 40,2
UFRJ 13 3,3 43,5
UnB 12 3,1 46,5
UNISINOS 12 3,1 49,6
IBMEC-SP 11 2,8 52,4
IBMEC-RJ 10 2,6 55,0
Outras 176 45,0 100,0
Total 391 100,0
FONTE - Elaborada pelos autores.

Ao examinar a Tabela 3 verifica-se que sete estados representaram 90,3% das


publicações na área de finanças. Entre estes, comparando-se os resultados com o de Leal,
Oliveira e Soluri (2003), observa-se que Rio de Janeiro (45,45%) e Rio Grande do Sul
(23,48%) perderam participação, enquanto São Paulo e Minas Gerais, que representavam
9,09% e 4,55%, respectivamente, ganharam. Quando se compara os resultados da tabela 3
com os de Camargos, Coutinho e Amaral (2005), observa-se um crescimento de 7,58, 2,89 e
0,86 pontos percentuais (p.p.) de São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, respectivamente,
o que fez com que o penúltimo e o último passassem a ser o terceiro e o quinto, assumindo o
lugar do Rio Grande do Sul e Pernambuco, respectivamente. Juntamente com o Rio de
Janeiro, esses dois estados foram os que reduziram a participação no volume de publicações

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na área em 4,33, 0,75 e 8,45 p.p., respectivamente. Um dado importante foi a pequena
desconcentração da área observada pelo aumento na contribuição dos demais estados da
federação, que passou de 7,27% em 2005 para 9,7% em 2008.

TABELA 3: Produção acadêmica em finanças por estados brasileiros, 2000 - 2008


Estado Quantidade % % Acumulada
São Paulo 153 39,1 39,1
Rio de Janeiro 64 16,4 55,5
Minas Gerais 54 13,8 69,3
Rio Grande do Sul 35 9,0 78,3
Distrito Federal 20 5,1 83,4
Pernambuco 16 4,1 87,5
Santa Catarina 11 2,8 90,3
Outras UF 38 9,7 100,0
Total 391 100
FONTE - Elaborada pelos autores.

A região sudeste ainda prevalece com maior representatividade (70,59%), seguida pela
região sul com 13,55% dos trabalhos apresentados nos anais do Enanpad ao longo do período
analisado. Em relação à pesquisas anteriores (CAMARGOS, COUTINHO e AMARAL,
2005), houve um aumento de 2,82 e de 2,11 p.p. na região centro-oeste e sudeste e um
decréscimo de 4,63 p.p. na participação da região sul. De maneira geral, observa-se que a
produção da área ainda é bastante concentrada na região sudeste, com destaque para São
Paulo que sozinho foi o responsável por mais de 39% do total de artigos publicados (Tabela
3), a região sul perdeu espaço para a região centro-oeste, notadamente o Rio Grande do Sul
(UFRGS) na primeira região, enquanto que o Distrito Federal foi uma das unidades da
federação que apresentou crescimento na segunda região. Ademais, a região norte continua
sem nenhuma produção na área.

Distribuição da produção de finanças pelas regiões do país, 2000 - 2008

7,67%
8,18%

Sudeste
13,55%
Sul
Nordeste
Centro-Oeste
70,59%

GRÁFICO 1: Distribuição da produção acadêmica finanças pelas regiões do país, 2000-2008


FONTE - Elaborado pelos autores.

3.2 Produtividade relativa (Lei de Lotka):

TABELA 4: Número de autores por quantidade de artigos publicados, 2000 - 2008


Nº de Artigos Total de Autores por n Artigos Lotka C=2 (%) Freqüência Estimada (%)
1 351 60,80 69,92
2 77 15,20 15,34
3 36 6,80 7,17

6
4 18 3,80 3,59
5 7 2,43 1,39
6 4 1,69 0,80
7 5 1,24 1,00
8 3 0,95 0,60
9 1 0,75 0,20
10 0 0,61
11 0 0,50
*** 0 ***
22 0 0,13
Total 502 100,00
Coeficiente Estimado 2,373420617
χ2 0,940574
Probabilidade 0,999563
FONTE - Elaborada pelos autores.

Segundo a Lei Lotka (1926) o número de autores que publicam n artigos, em um


determinado campo científico, é aproximadamente 1/n2 daqueles que publicam somente um
artigo. O autor estabelece um coeficiente padrão igual a dois (C = 2) e freqüência teórica na
qual a proporção de autores que publicam somente um artigo deve ser 60,8% do total de
autores. Conforme se observa na tabela 4, o coeficiente estimado para a produção acadêmica
de finanças (Enanpad 2000 a 2008) foi maior do que 2 e estatisticamente significante. Assim,
espera-se que o número de autores que publicam apenas um artigo esteja acima do previsto
pela teoria bibliométrica, sinalizando, por um lado, o rigor na seleção dos trabalhos a serem
apresentados e publicados; e por outro lado, que os autores brasileiros não demonstram
efetividade em publicações no evento. Uma possível explicação para isso seria que boa parte
dos autores se utiliza do evento para publicar artigos oriundos de trabalhos de conclusão de
programas de mestrado e doutorado, e que muitos deles não se dedicam à pesquisa.

3.3 Distribuição da Produção Acadêmica de Finanças por Subáreas e Temas

De início, cabe ressaltar que a classificação apresentada nesta seção, tanto para as
subáreas, quanto para os temas é subjetiva e contém viés dos autores deste trabalho,
destacando-se, entretanto, que foi resultado de muitas discussões. Conforme se observa na
Tabela 5, a subárea finanças corporativas representa quase um terço de toda a produção
acadêmica da área no período (32,7%), com 128 artigos publicados, podendo ser considerada
como o mainstream da área. É seguida da área de investimentos (20,2%) com 79 artigos e
mercados financeiros e de capitais (17,4%) com 68 artigos. A predominância das duas
primeiras subáreas pode ser entendida como um reflexo da importância que as três grandes
áreas de decisão em finanças (investimento, financiamento e política de dividendos) têm
dentro da área, sendo, portanto, as que mais despertam o interesse dos pesquisadores.
A subárea finanças internacionais, assim como no estudo empreendido por Camargos,
Coutinho e Amaral (2005), continua a apresentar os temas de menor interesse para os
pesquisadores brasileiros. Uma possível explicação para isso seria que esses temas estão mais
relacionados com economia do que com administração. Além disso, as poucas fontes e
dificuldade de obtenção de dados podem ser variáveis que explicam essa baixa atratividade.
Destaca-se também que as subáreas mercados financeiros e de capitais e de derivativos
e gestão de risco guardam relação direta, sendo inclusive tratadas conjuntamente pelos
currículos de pós-graduação. Dessa forma, se analisadas em conjunto, representam 34,3% do
total da produção em finanças no período analisado, mostrando sua relevância para a área.

7
Trata-se de duas subáreas que certamente ganharão força nos próximos anos, tendo em vista
estarem diretamente ligadas à conjuntura econômica internacional atual, pois aspectos como
regulação e regulamentação de mercados e gestão do risco em carteiras de investimento
deverão ser temas a serem explorados com os desdobramentos da crise atual, levando,
possivelmente, a um aumento da sua participação em anos futuros.
TABELA 5: Produção acadêmica em finanças por subárea (%), 2000-2008
Subárea 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 % do Total
FCO 25,0 15,0 26,3 29,7 39,1 31,3 33,4 46,0 29,9 32,7
INV 35,7 20,0 26,2 13,5 19,5 14,7 17,7 17,4 23,3 20,2
MFC 21,5 25,0 13,2 24,3 13,1 18,8 21,6 9,6 18,3 17,4
DGR 14,3 20,0 26,4 16,2 15,2 18,8 9,9 20,7 13,4 16,9
OUT 0,0 20,0 5,3 13,5 6,5 14,6 13,7 3,2 8,3 9,0
FIN 3,6 0,0 2,6 2,7 6,5 2,1 3,9 3,2 6,6 3,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE - Elaborada pelos autores.

Quando se analisa a evolução da participação de cada subárea no volume total de


publicações da área no período (Figura 1), duas subáreas apresentaram tendência de
crescimento (finanças corporativas e finanças internacionais) com a primeira apresentando
uma menor variabilidade do que a segunda, sinalizando um crescimento mais consistente. A
subárea outros temas apresentou uma discreta tendência de crescimento e junto com finanças
internacionais foram as que apresentaram maior variabilidade de publicações no período. As
outras três subáreas (investimentos derivativos, mercados financeiros e de capitais e gestão de
risco) apresentaram tendência de decréscimo no período, apesar de serem as segunda, terceira
e quarta, respectivamente, no volume de publicações (Tabela 5).

Derivativos e Gestão de Risco Finanças Corporativas Finanças Internacionais

30,0% 50,0% 8,0%

25,0% 40,0%
6,0%
20,0% 30,0%
15,0% 4,0%
20,0%
10,0% 2,0%
10,0%
5,0%
0,0% 0,0%
0,0%
00 01 02 03 04 05 06 07 08 00 01 02 03 04 05 06 07 08 00 01 02 03 04 05 06 07 08
Ano Ano
Ano

Mercados Financeiros e de Capitais Outros Temas


Investimentos

40,0% 30,0% 25,0%


25,0% 20,0%
30,0%
20,0%
15,0%
20,0% 15,0%
10,0%
10,0%
10,0% 5,0% 5,0%

0,0% 0,0% 0,0%


00 01 02 03 04 05 06 07 08 00 01 02 03 04 05 06 07 08 00 01 02 03 04 05 06 07 08
Ano Ano
Ano

FIGURA 1: Visualização gráfica da tendência das subáreas de finanças, 2000-2008.


FONTE – Elaborada pelos autores.

No que se refere especificamente aos temas dentro de cada subárea (Tabela 6), bancos e
risco de crédito (33,3%), apreçamento de ativos de risco e derivativos (30,3%) e value-at-risk
(22,7%) representam mais de 86% das publicações dentro da subárea derivativos e gestão de
risco e, aproximadamente, 13,7% do total de trabalhos do período. Governança corporativa e
políticas de financiamento e estrutura de capital, com aproximadamente 32,8% e 31,3% de
participação na área e 20,7% do total de trabalhos do período foram os mais pesquisados da
subárea finanças corporativas, mostrando, por um lado, a importância e a atualidade do
8
primeiro, em um cenário de crise internacional, o qual em termos de finanças pode-se dizer
que começou a receber maior atenção por parte de pesquisadores brasileiros nesta década, e
por outro, que o debate sobre a estrutura de capital ainda permanece um quebra-cabeças a ser
resolvido pelas pesquisas na área, desde os estudos seminais de MM, publicados há mais de
meio século, mostrando sua relevância para a área e principalmente para a gestão financeira
das empresas. Na subárea finanças internacionais prevaleceu o tema previsão de câmbio,
responsável por 53,3% dos trabalhos da área e 2% do total de trabalhos publicados no
período. Na subárea investimentos, os temas de destaque foram gestão de fundos e carteiras
(39,2%), project finance e opções reais (21,5%) e análise e gestão de investimento (20,3%),
que juntas representam aproximadamente 81% do volume de trabalhos da área e 16,3% do
total de trabalhos da área de finanças no período. Na subárea mercados financeiros e de
capitais, os temas mais pesquisados foram liquidez de mercado e volatilidade acionária,
interdependência de mercados e anomalias e finanças comportamentais, responsáveis por
35,3% e 17,6% (duas últimas) da produção da área, respectivamente, atingindo 12,3% do total
da área.
TABELA 6: Produção acadêmica em finanças por temas, 2000-2008
Quant. % Total % do
Subárea Temas
Artigos Área* Total**
Apreçamento de Ativos de Risco e Derivativos 20 30,3% 5,1%
Opções 8 12,1% 2,0%
Derivativos e Gestão de
Risco e Derivativos Cambiais 1 1,5% 0,3%
Riscos (DGR)
Bancos e Risco de Crédito 22 33,3% 5,6%
Value at Risk 15 22,7% 3,8%
Governança Corporativa e Agency 42 32,8% 10,7%
Políticas Financiamento e Estrutura de Capital 40 31,3% 10,2%
Finanças Corporativas Política de Dividendos 13 10,2% 3,3%
(FCO) Desempenho Econômico-Financeiro 21 16,4% 5,4%
Capital de Giro 7 5,5% 1,8%
Fusões, Aquisições e Reestruturação Corporativa 5 3,9% 1,3%
Previsão de Cambio 8 53,3% 2,0%
Finanças Internacionais
Finanças, Políticas Monetária e a Economia 4 26,7% 1,0%
(FIN)
Estrutura a Termo de Juros 3 20,0% 0,8%
Asset Pricing 11 13,9% 2,8%
Gestão de Fundos ou Carteiras 31 39,2% 7,9%
Investimentos (INV)
Crescimento e Valor da Empresa 4 5,1% 1,0%
Opções Reais e Project Finance 17 21,5% 4,3%
Análise e Gestão de Investimento 16 20,3% 4,1%
Market Timing 2 2,9% 0,5%
Interdependência de Mercados 12 17,6% 3,1%
Mercados Financeiros e Eficiência de Mercados 11 16,2% 2,8%
de Capitais (MFC) Liquidez de Mercado e Volatilidade Acionária 24 35,3% 6,1%
Racionalidade / Estabilidade Mercado Capitais 7 10,3% 1,8%
Anomalias e Finanças Comportamentais 12 17,6% 3,1%
Outros (OUT) Outros 35 100% 9,0%
Total Artigos 391 ----- 100%
* participação relativa de cada tema no total de artigos publicados na área;
** participação de cada tema no total de artigos publicados no período (N = 391);
FONTE - Elaborada pelos autores.

A tabela 7 apresenta os dados das publicações relativos às cinco instituições de maior


número de artigos publicados, no período. A instituição com maior diversificação na

9
produção acadêmica foi a FGV-SP, que teve trabalhos publicados em 18 temas diferentes nas
cinco subáreas identificadas, além de outros temas, seguida da USP, com publicações em 13
temas identificados em 4 das subáreas, além de outros temas.
Analisando-se o foco de cada instituição, observa-se que o foco da FGV-SP e da USP
está no tema governança corporativa e agency; da UFMG está na gestão de fundos, enquanto
que o da Mackenzie foi políticas de financiamento e estrutura de capital. Já a UFRGS não
apresentou um tema com maior relevância, mas apresentou uma maior distribuição de suas
publicações entre os temas. O segundo tema mais pesquisado por FGV-SP e USP foi
respectivamente, gestão de fundos e políticas de financiamento e estrutura de capital. As
demais apresentaram vários temas.

TABELA 7: Produção acadêmica em finanças por temas, 2000-2008


Porcentagem do Total de Artigos de cada IES
Temas
FGV-SP USP UFMG Mackenzie UFRGS
Apreçamento Ativos Risco e Derivativos 7,8% 10,7%
Opções 7,1%
Risco e Derivativos Cambiais 5,3%
Bancos e Risco de Crédito 6,7% 3,6% 10,5% 7,1%
Value at Risk 2,0%
Governança Corporativa e Agency 15,7% 22,2% 10,7% 5,3% 7,1%
Políticas Financiamento e Estrutura Capital 5,9% 17,8% 7,1% 21,1% 14,3%
Política de Dividendos 5,9% 7,1% 14,3%
Desempenho Econômico-Financeiro 3,9% 6,7% 5,3%
Capital de Giro 3,9%
Fusões, Aquisições e Reestr. Corporativa 4,4% 3,6% 5,3%
Previsão de Cambio 5,9% 7,1%
Finanças, Políticas Monetária e Economia 2,0%
Asset Pricing 2,0% 6,7% 7,1%
Gestão de Fundos ou Carteiras 11,8% 6,7% 17,9% 10,5%
Crescimento e Valor da Empresa 2,2% 5,3%
Opções Reais e Project Finance 5,9% 4,4%
Análise e Gestão de Investimento 2,0% 2,2% 5,3% 7,1%
Interdependência de Mercados 2,0% 10,7% 5,3%
Eficiência de Mercados 2,0% 2,2% 3,6%
Liquidez Mercado e Volatilidade Acionária 5,9% 4,4% 10,7% 14,3%
Racionalidade/Estabilidade Mercado Capitais 2,0%
Anomalias e Finanças Comportamentais 2,0% 6,7% 10,5% 14,3%
Outros 11,8% 6,7% 7,1% 10,5% 7,1%
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Número Artigos Publicados 51 45 28 19 14
FONTE - Elaborada pelos autores.

O que essas cinco instituições apresentam em comum é a subárea finanças corporativas


como a de maior número de artigos publicados, seguida de investimentos para FGV-SP, USP,
UFMG e Mackenzie e mercados financeiros e de capitais para a UFRGS.

3.4 Análise da Estrutura dos Artigos

Conforme se observa na Tabela 8, o tamanho dos artigos publicados no congresso no


período variou de 8,0 a 17,5 páginas, com média de 14,27. Os anos de maior dispersão no
tamanho dos trabalhos foram 2001, 2004 e 2008. Além disso, observa-se que ocorreu um
10
crescimento no tamanho médio no período passando de 13,21 em 2000 para 14,15 páginas
em 2008, com destaque para o ano de 2005, quando foi aumentado o limite máximo de
páginas para 16.
TABELA 8: Tamanho dos artigos da área de finanças, 2000-2008
Ano N Mean Std. Deviation % of Total N Minimum Maximum
0 28 13,214 1,6354 7,2% 10,0 16,0
1 20 13,100 2,2396 5,1% 8,5 17,5
2 38 13,711 1,5667 9,7% 10,0 16,0
3 37 14,432 1,9691 9,5% 10,0 16,5
4 46 14,478 2,0137 11,8% 9,0 16,5
5 48 15,083 1,8546 12,3% 8,0 17,0
6 51 15,059 1,7078 13,0% 9,5 17,5
7 63 15,032 1,4449 16,1% 10,0 16,5
8 60 14,150 2,1771 15,3% 8,0 16,5
Total 391 14,427 1,9359 100,0% 8,0 17,5
FONTE - Elaborada pelos autores.

No ano de 2004 a coordenação do evento ampliou o número de páginas do evento de 15


para 16, visando conferir maior consistência principalmente aos aspectos metodológicos,
resultados e a conclusão dos artigos. No intuito de identificar se esta página adicional foi
realmente utilizada para essas três partes importantes dos artigos, foram comparadas
estatisticamente as suas médias no período anterior (2000-2003) com o posterior (2004-2008)
à sua implantação, tanto individualmente (qual delas teve a média aumentada), quanto as três
juntas. Conforme se observa na tabela 10, a média das três seções citadas acima, quando
analisadas conjuntamente, é significante estatisticamente e maior do que a média do período
anterior, fornecendo evidências de que a página adicional foi realmente utilizada nessas três
seções dos artigos, o que é positivo para a área, pois permite, por um lado, maior
detalhamento dos aspectos metodológicos, e por outro, maior discussão dos resultados e das
conclusões.
TABELA 9: Comparação número médio de páginas metodologia, resultados e conclusão
(Independent Samples Test)
Levene's Test for Equality
Std. Sig. (2-
Period N Mean of Variances t Df
Deviation tailed)
Equal Variances F Sig.
00-03 123 6,8577 2,56435 Assumed 0,821 0,365 -2,715 389 0,007
04-08 268 7,5896 2,43288 Not assumed -2,663 225,99 0,008
FONTE - Elaborada pelos autores.

Na identificação de qual dessas três seções foi a mais ou simplesmente a contemplada


com a página adicional, conforme se observa na tabela 10, foi apurado um aumento com
significância estatística de aproximadamente meia página na metodologia, o que permite
afirmar que a página adicional foi utilizada para um maior detalhamento desta seção.

11
TABELA 10: Comparação número médio de páginas da metodologia, dos resultados e da conclusão
(Independent Samples Test)
Levene's Test for Equality
Std. Sig. (2-
Seccion Period N Mean of Variances T df
Deviation tailed)
Equal Variances F Sig.
00-03 123 2,81 1,846 Assumed 0,065 0,799 -2,280 389 0,023
Metodologia
04-08 268 3,27 1,829 Not assumed -2,273 234,97 0,024
00-03 123 3,150 2,0244 Assumed 1,021 0,313 -1,009 389 0,314
Resultados
04-08 268 3,388 2,2240 Not assumed -1,044 258,37 0,297
00-03 123 0,894 ,5663 Assumed 0,337 0,562 -0,683 389 0,495
Conclusão
04-08 268 0,933 ,4945 Not assumed -0,649 210,54 0,517
FONTE - Elaborada pelos autores.

3.5 Análise das Referências Bibliográficas

Analisando-se as referências bibliográficas da produção acadêmica de finanças no


período, conforme se observa no gráfico 2, que há um predomínio de artigos (ART), com
62,8% do total, seguidos de livros (LI) e teses, dissertações e monografias (TDM), 27,1% e
5,1% respectivamente. Os documentos não científicos (DNC) representaram no período 4,9%
das referências utilizadas. O predomínio de artigos é salutar para a área, pois sinaliza a
preocupação dos pesquisadores em se referenciar no que é mais atualizado no mundo
científico.

80,0%
62,8%
% do Total

60,0%
40,0% 27,1%
20,0% 5,1% 4,9%
0,0%
ART LI TDM DNC
Tipo de referência

GRÁFICO 2: Referências bibliográficas da produção acadêmica finanças, 2000-2008


FONTE - Elaborado pelos autores.

Quando se analisa as referências em relação ao idioma em que foram escritas (tabela


11), constata-se que há um forte predomínio de trabalhos em outro idioma (74,3% do total),
com destaque para artigos provenientes de revistas e periódicos de língua estrangeira, 51,3%,
além da baixa participação de artigos provenientes de anais de congressos internacionais
(proceedings), com apenas 1,8%. Isso mostra, por um lado, a preocupação dos pesquisadores
em seguir a evolução da área baseada na comunidade internacional, e por outro, a baixa
participação ou acesso dos autores brasileiros a eventos internacionais importantes da área. Os
livros em outros idiomas foram responsáveis por 17,9% das referencias utilizadas no período.
Além disso, 1,6% e 3,0% das referências foram de documentos não científicos e de fontes
eletrônicas. No que se refere às referências em português, que representam apenas 25,7% do
total, observa-se que há um predomínio de livros (9,2%), seguida de artigos 9,7% (4,4% de
revistas e periódicos e 5,3% de congressos), documentos não científicos e de fontes
eletrônicas, com 3% cada.

12
TABELA 11: Análise das referências bibliográficas da produção acadêmica finanças, 2000–2008 (%)
Referências 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Total
Livros (LE)* 23,6 21,5 21,0 24,5 22,0 14,5 11,9 17,1 16,2 17,9
Teses, dissertações e monografias (LE) 0,0 1,4 0,4 0,5 0,4 1,8 1,9 5,2 0,1 1,7
Artigos de revistas e periódicos (LE) 37,3 61,4 50,5 46,7 51,4 56,3 52,7 49,7 50,0 51,3
Artigos anais congressos (LE) 0,9 3,0 2,1 1,4 1,6 0,9 6,8 0,5 0,1 1,8
Documentos não científicos (LE) 1,3 0,7 5,2 1,0 0,1 0,6 4,1 1,2 0,7 1,6
Documentos de fonte eletrônica (LE) 0,0 0,5 2,7 1,8 1,9 3,3 4,6 4,7 2,6 3,0
Livros (P)** 12,9 2,1 6,9 12,0 8,2 8,5 9,5 9,1 11,8 9,2
Teses, dissertações e monografias (P) 2,6 3,9 3,5 5,1 4,3 2,7 2,4 2,8 4,2 3,5
Artigos de revistas e periódicos (P) 6,9 4,6 4,0 2,7 4,6 4,7 3,8 3,6 6,0 4,4
Artigos anais congressos (P) 9,0 1,4 3,9 4,6 5,3 5,9 4,9 4,7 7,3 5,3
Documentos não científicos (P) 5,6 0,2 2,4 1,4 2,1 4,0 1,9 6,1 3,5 3,3
Documentos não científicos (P) 0,0 0,7 0,9 3,3 1,9 4,1 3,9 4,3 4,8 3,3
(LE)* - Referência em língua estrangeira, predominantemente inglês.
(P)** - Referências em português.
FONTE - Elaborada pelos autores.

3.6 Análise do Impacto dos Principais Periódicos Nacionais

Uma constatação interessante e até certo ponto preocupante diz respeito ao impacto
(citação) de periódicos nacionais nos artigos analisados no período. Conforme se observa na
tabela 12, a revista mais citada nos 391 artigos analisados foi a RA-USP, seguida por RAE e
REGE-USP (antigo Caderno de Pesquisas em Administração), mas com uma participação
ínfima de menos de 0,15 citações por artigo. Ou seja, uma participação muito baixa nas
referências dos artigos analisados. Além disso, o total de citações de periódicos nacionais
(348) no total de referências da produção acadêmica de finanças (8.521) é, também, muito
baixo, apenas 4,08% do total. Isso implica na falta de contextualização dos resultados
empíricos com a realidade pesquisada (outros autores nacionais); e pode significar: 1. a
competição entre os autores de diferentes centros de pesquisa, que preferem citar pares
estrangeiros a citar pares nacionais, uma vez que boa parte dos trabalhos apresentados nos
anais do evento pesquisado é, posteriormente, publicada nesses periódicos; 2. a dificuldade de
acesso por boa parte dos pesquisadores aos periódicos nacionais que existia até recentemente;
3. é simplesmente o reflexo da influência da literatura estrangeira sobre os autores brasileiros.
O que se indaga é até que ponto o baixo impacto de periódicos nacionais contribui para
o avanço da área, uma vez que boa parte dos trabalhos publicados no congresso analisado é
direcionada posteriormente para a publicação em periódicos nacionais? Além disso, essa
constatação vai de encontro à política da CAPES em fomentar a produção acadêmica em
periódicos em detrimento de anais de congresso. Ou seja, por um lado, incentiva-se a
publicação em periódicos, mas por outro, observa-se que os principais periódicos nacionais
apresentam baixo impacto, nos anais do evento pesquisado. Espera-se que em anos futuros
isso se reverta, tendo em vista as diretrizes da CAPES e a política de maior disponibilidade de
acesso a artigos dos periódicos em ambiente virtual.

13
TABELA 12: Análise do impacto dos principais periódicos nacionais na produção acadêmica finanças,
2000–2008
Periódico Máximo Total Média
Revista de Administração da USP (RAUSP)* 4 53 0,14
Revista de Administração Empresas (RAE)* 4 52 0,13
Revista de Gestão da USP (REGE-USP) 3 44 0,11
Revista de Administração Contemporânea (RAC)* 2 31 0,08
Revista Eletrônica de Administração (REAd) 1 4 0,01
OUTRAS 6 164 0,42
Total ----- 348 0,89
(*) Formato eletrônico e impresso.
FONTE - Elaborada pelos autores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO

Neste artigo procedeu-se um levantamento bibliométrico da produção acadêmica da


área de finanças no Brasil, baseado na análise dos 391 artigos publicados no caderno de
resumos do principal evento de pós-graduação do país, o Enanpad, entre 2000 e 2008.
Foi constatado que a prevalência de homens como autores dos artigos apresentou uma
pequena redução, de 3,08%, quando comparadas com pesquisas anteriores, mas ainda
continuam sendo responsáveis por quase 80% das autorias. Apesar do crescimento de
125,93% no número de trabalhos aprovados, a área de finanças no Enanpad perdeu um pouco
de sua participação relativa no total de trabalhos aprovados no evento, estabilizando nos
últimos anos em torno de 6% do total de trabalhos do congresso. A quantidade de artigos
publicados na área em outros idiomas oscilou entre 20,5% (2002) e 4,9% (2008) do total, o
que reflete por um lado, a baixa internacionalização do evento e, por outro, falta de interesse e
motivação por parte dos autores brasileiros em utilizar-se do evento para refinar o trabalho
para uma possível publicação internacional. A distribuição da produção acadêmica é ainda
concentrada em poucas instituições, com as dez maiores sendo responsáveis por 55% do total
de artigos. Juntas FGV-SP, USP e UFMG responderam por quase um terço das publicações.
A FGV-SP é a instituição com maior diversificação na produção acadêmica, com USP em
seguida, ambas tendo como tema mais pesquisado governança corporativa e agency, sendo o
foco da terceira instituição mais profícua a gestão de fundos.
O predomínio de instituições sediadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais faz
com que a produção da área em termos de estados também fique concentrada nos seus
domínios. Esses três estados juntamente com o Rio Grande do Sul foram responsáveis por
78,3% da produção acadêmica. Se forem levados em consideração os sete estados de maior
volume de produção, esse percentual sobe para mais de 90% do total. A concentração da área
em poucas instituições e estados também é refletida na distribuição da produção acadêmica da
área por regiões do país, com o sudeste sendo responsável por mais de 70% do total, seguido
pela região sul, com 13,55%.
No mapeamento das subáreas e temas mais recorrentes da área, constatou-se que a
subárea finanças corporativas representa quase um terço de toda a produção acadêmica da
área no período (32,7%), seguida da área de investimentos (20,2%) e mercados financeiros e
de capitais (17,4%). A predominância das duas primeiras subáreas reflete a importância que
as três grandes áreas de decisão em finanças (investimento, financiamento e política de
dividendos) têm dentro da área, sendo, portanto, as que mais despertam o interesse dos
pesquisadores. As subáreas mercados financeiros e de capitais e derivativos e gestão de risco,
que juntas representam 34,3% do total da produção em finanças, no período analisado,
certamente ganharão força nos próximos anos, tendo em vista estarem diretamente ligadas à

14
conjuntura econômica internacional atual, pois aspectos como regulamentação e regulação de
mercados e gestão do risco em carteiras de investimento deverão ser temas a serem
explorados com os desdobramentos da crise atual, levando possivelmente, a um aumento da
sua participação em anos futuros.
Em termos de evolução e tendência das suas subáreas, finanças corporativas e finanças
internacionais apresentaram tendência de crescimento; a subárea outros temas apresentou uma
discreta tendência de crescimento e junto com finanças internacionais foram as duas que
apresentaram maior variabilidade de publicações no período. As outras três subáreas,
investimentos derivativos, mercados financeiros e de capitais e gestão de risco, apresentaram
tendência de decréscimo no período, apesar de serem a segunda, a terceira e a quarta,
respectivamente no volume de publicações.
O número de autores que publicaram apenas um artigo no período analisado está acima
do previsto pela teoria bibliométrica (Lotka), sinalizando, por um lado, o rigor na seleção dos
trabalhos a serem apresentados e publicados; e por outro lado, que os autores brasileiros não
demonstram efetividade em publicações no evento.
Foi constatado que aparentemente, a página adicional nos artigos, introduzida em 2004
foi realmente utilizada nessas três seções metodologia, resultados e conclusão, com destaque
para a primeira, o que permite, por um lado, maior detalhamento dos aspectos metodológicos,
e por outro, maior discussão dos resultados e das conclusões.
Os artigos, principalmente em outros idiomas, foram as referências mais utilizadas nos
artigos analisados, seguidos de livros e teses, dissertações e monografias. Além disso, os
periódicos nacionais têm baixo impacto na produção acadêmica do período, sendo pouco
citados (média de 0,89 citações por artigo), bem distante da realidade dos periódicos
estrangeiros, os mais citados, refletindo uma contradição entre a busca por maior
produtividade por parte dos autores nacionais e a relativa insipiência de relações ou parcerias
entre instituições, o que favoreceria a consolidação de trabalhos brasileiros publicados na área
de finanças.
Por fim, como limitações deste trabalho, podem ser destacadas: 1. a concentração da
análise em somente um veículo de publicação; ii) a subjetividade inerente à análise de cada
um dos autores deste trabalho, que pode ter levado a conclusões distintas para uma mesma
situação / variável, apesar dos esforços empreendidos em dirimir todas as dúvidas e
ambigüidades.

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