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Coronavírus: Certezas para um mundo em pânico

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Por Ribamar Diniz

Introdução

Depois da pandemia novo coronavírus, a sociedade vive muitas incertezas. Veja alguns
dados sobre o covid-19, que começou em novembro do ano passado, na China, e se
espalhou por 178 países, nos 5 continentes [1].

Infectados: 782.365

Mortes: 37.582
Países mais infectados:
1. Estados Unidos: 161.807
2. Itália: 101.793
3. Espanha: 87.956
4. China: 82.198
5. Alemanha: 66.885

Há 12 países com mais de 10 infectados:

Países com mais mortes:


1. Itália: 11.591
2. Espanha: 7.716
3. China: 3.186
4. França: 3.024
5. Irã: 2.757

Brasil:
Infectados: 4.579
Mortes: 159

Países infectados com mortes


Países infectados sem mortes

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pandemia_de_COVID-19_por_pa%C3%ADs
Como os números não param de crescer, as pessoas estão perplexas. Elas têm muitas
dúvidas. O pânico começa a fazer parte do dia a dia de multidões. Elas se perguntam:
Será controlado o novo coronavírus? Será descoberta uma vacina ou tratamento?
Achataremos a curva a ponto dessa pandemia passar em poucos meses? As pessoas
continuarão a morrer? As restrições aglomerações irão demorar? Continuaremos
presos em casa? Quanto tempo vai demorar para a economia melhorar? E se a violência
aumentar? No âmbito religioso, as perguntam são: Quando teremos cultos novamente?
Quanto tudo vai voltar ao normal?

Essas incertezas tem gerado problemas emocionais (ansiedade, medo); problemas


comportamentais (estocar alimentar, comprar remédios e se automedicação) e
problemas espirituais (apatia, desânimo espiritual, infidelidade, etc.)

Segundo um grupo de psicólogos “a ansiedade pode se manifestar de várias formas:


nervosismo, agitação, estado de alerta; não conseguir pensar em outra coisa;
necessidade de ver e ouvir constantemente informações sobre o coronavírus;
dificuldade para realizar tarefas diárias. Também é percebida nas pessoas que estão
com problemas para adormecer e que “acham difícil controlar sua preocupação e
perguntam persistentemente aos familiares sobre seu estado de saúde, alertando-os
sobre os graves perigos que correm toda vez que saem de casa”. [2]
Essa ansiedade se amplia quando um parente é infectado ou morre por causa da
pandemia. O Ministério da Saúde publicou uma orientação sobre velório de pessoas
que morreram em decorrência do covid-19. Segundo a instituição.
“Se ocorrer, a orientação é que seja realizado em local ventilado e aberto, com caixão
fechado. O enterro deve acontecer com, no máximo, dez pessoas, respeitando o espaço
entre elas. Além disso, a pasta diz que pessoas do grupo de risco não devem participar.”
[3]

Nesse contexto caótico, esse artigo apresenta cinco certezas baseadas em Hebreus,
capítulo 10, versos 19 a 25. Certeza é “confiança”, “fé”, “segurança”, “firmeza”. Vamos
conhecer o contexto de Hebreus para captar o sentido do texto em destaque.

Contexto da carta aos Hebreus

O autor: Há um debate histórico e interminável sobre quem escreveu a epístola. A


maioria dos eruditos estão convencidos que “da perspectiva estilística, é impossível
atribuir a carta a Paulo”. Alguns autores prováveis seriam, então, Lucas, Silas, um
escriba, Apolo, Barnabé ou Priscila [4]. A Bíblia Andrews menciona que “a tradição
atribui a epístola a Paulo” (ver Hb 13:23). O autor era um orador enérgico; conhecia
profundamente o AT e era acima de tudo um pastor (Hb 13:22) [5]. Ellen White afirma
em seis citações originais que Paulo escreveu a carta aos Hebreus. [6]

O público alvo: Pessoas que haviam aceitado a Jesus, sofreram perseguição devido
ao desprezo da sociedade, mas começaram a perder a fé. A carta é uma advertência
contra a apostasia. Pode ter sido escrita aos cristãs de Roma (13:24). Se for o caso, o
decreto de Cláudio de expulsar os judeus de Roma em 49 d.C. pode explicar a
perseguição que os leitores sofriam (Hb 10:32-34) [7]. Estavam sendo provados em sua
fé. Atravessavam um momento difícil, com muitas incertezas. Podiam desanimar e
voltar atrás. Foi escrito antes de 70 d.C. pois não menciona a destruição do templo.

1ª Certeza: A salvação e o acesso a Deus foram garantidos pela morte de


Jesus (vs. 19-20)

A salvação gera convicção, suscita certeza e produz paz. A palavra intrepidez,


mencionada por Paulo, significa ousadia, franqueza, audácia, coragem, confiança,
segurança. Não precisamos de mediadores para ter acesso a Deus. Temos um novo e
vivo caminho. (Jo 14:6). Ele é novo porque não existia na antiga aliança e é novo por
ser eficaz, diferente do sangue de touros e bodes. Cristo vive sempre para interceder
por nós (Hb 7:25). O novo caminho está centrado numa pessoa viva para sempre. Ele
é o caminho, e a verdade, e a vida. (Jo 14:6) [8]

Esse texto menciona duas coisas muito importantes para nossa salvação. A primeira é
o sangue de Jesus e a segunda é a sua carne, ou seja, seu corpo. Isso lembra sua morte
na cruz do Calvário. O véu mencionado pode ser uma referência a cortina do santuário
que se rasgou de alto a baixo, na hora que Ele bradou “está consumado”, completando
o plano de redenção. Jesus, de fato, Ele é o único caminho ao Pai.

Muitos propuseram outros caminhos para Deus. Talvez os principais sejam a salvação
pelas obras humanas. Outro caminho é a ciência. De repente todos se voltam para a
ciência como uma divindade que pode resolver todos os problemas humanos. Mais
recentemente outro caminho foi proposto. A espiritualidade. Sam Harris é um dos
principais representantes do neo ateísmo. Ele propõe o desenvolvimento da
espiritualidade sem Deus. Chega a dizer que “a espiritualidade deve ser distinta da
religião. Pessoas de todos os credos e aquelas que não têm fé alguma têm os mesmos
tipos de experiências espirituais. Um princípio mais profundo deve estar em
funcionamento.” [9]

Para Harris, desligar a espiritualidade das religiões é o grande passo que faltava às
doutrinas seculares. Em seu livro, Despertando, o filósofo mostra que é possível chegar
à transcendência e atingir plena felicidade sem se aproximar da essência divina. Mais
que isso, indica técnicas, como meditação, respiração e até o uso de alucinógenos
(drogas), que facilitam o percurso até a espiritualidade dos ateus.[10]

2ª Certeza: Deus continua guiando e liderando o Seu povo (verso 21)

O ver apresenta Jesus como um “grande sacerdote sobre a casa de Deus”. Jesus é um
grande líder para a Igreja de Deus. Embora o texto esteja falando sobre Seu ministério
sacerdotal santuário celestial, gostaria de destacar o fato de que Jesus é o cabeça da
Igreja. O grande líder do povo de Deus.

O livro de Hebreus destaca a superioridade da pessoa e obra de Jesus Cristo. Ele é


superior a Moisés (Hb 3:1-6); é superior aos anjos (Hb 1:4); é superior a Abraão (Hb
7:2) e é superior a Arão (Hb :311). O sumo sacerdote era o líder da casa de Deus no
Antigo Testamento. Ele representava o povo perante Deus. Hoje Cristo nos representa
diante do Pai.
Enquanto os governos estão com discursos desencontrados, Jesus tem uma só
mensagem para a Sua Igreja: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação
do século” (Mt 28:20).

Ellen White escreveu algo que conforta, nesse período de incertezas para a Igreja.
“Ao recapitular a nossa história passada, havendo revisado cada passo de progresso até
ao nosso nível atual, posso dizer: Louvado seja Deus! Ao ver o que Deus tem realizado,
encho-me de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos que recear
quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado,
e os ensinos que nos ministrou no passado.” [11]. Apesar de enfatizar a liderança de
Cristo, ela admite que Ele atua através de líderes humanos, que devem ser escutados.
“Não espero viver muito tempo. Meu trabalho está quase terminado. ... Penso que não
mais terei testemunhos para o nosso povo. Nossos homens de mente firme sabem o
que é bom para o crescimento e progresso da causa. Porém, com o amor de Deus no
coração, precisam aprofundar-se mais e mais no estudo das coisas de Deus.” [12]

3ª Certeza: A nova vida em Cristo pode ser vivida, pela graça de Deus (v
22).

Se queremos ser beneficiados pela salvação, devemos desenvolver, pela graça de Deus,
quatro qualificações. A primeira é um sincero coração, isso significa sinceridade. A
entrega do coração sem reservas. (Is 38:3). A segunda é plena certeza de fé.

“Aqueles que se aproximam devem fazê-lo com fé no poder de Cristo em purificar do


pecado e conceder graça para viver acima do pecado. A dúvida e a incredulidade
restringem a capacidade de se apropriar dos méritos do Salvador. A importância da fé
para uma experiencia de vida cristã constitui o tema de Hebreus 10:38 a 11:40. [13]

A galeria de Hebreus 11 é um grande estímulo para o povo de Deus em tempos de crise.


Fé é confiança, lealdade, convicção, fidelidade, confiabilidade. A palavra fé (pistis)
pode denotar tanto a atitude mental com o padrão de conduta. A atitude de fé levou
aos atos fiéis dos notáveis do capítulo 11. “Não existe fé cega. A fé genuína sempre
descansa sobre a firme certeza, circundada de provas suficientes, para justificar a
confiança naquilo que ainda não é visto. A palavra certeza (Hupostasis) era usado para
documentos legais em que uma pessoa provava seu direito de propriedade. Pode ser
traduzida aqui como título de domínio, a fé um título de domínio. Pela fé, o cristão se
considera já na posse do que lhe foi prometido. Sua confiança absoluta naquele que a
fez não deixa dúvida quanto a seu cumprimento no tempo devido. [14]

Podemos, pela fé, confiar que a crise será superada; que o alimento será suprido; que
será descoberta a vacina para o coronavírus e que voltaremos a congregar em nossos
templos.

As duas últimas qualificações representam a comunhão interna e externa. Coração


purificado de má consciência – Lv 8:30 é comunhão interna. Moisés aspergiu o óleo da
unção e o sangue do sacrifício do cordeiro sobre Arão, seus filhos e vestes, para
consagrá-los. Nós também fomos separados para uso santo. Por isso devemos ter
coração puro. Intenções corretas. Consciência tranquila. Tudo isso está relacionado a
comunhão interior (Ez 36:25) [15].

A comunhão externa é ter o corpo lavado com água pura. Isso simboliza o batismo.
Todos necessitam ser batizados, caso queiram ter os privilégios da salvação oferecidos
no Santuário (Marcos 16:16).

4ª Certeza: Os meus deveres espirituais são essenciais para o testemunho


da Igreja (vs 23-25).

Depois de falar sobre as qualificações da vida cristã, Paulo nos orienta a praticar alguns
deveres essenciais, para nosso crescimento contínuo. A primeiro é guardar firme a
confissão. Continuar testemunhando de sua fé. Não vacilar – não duvidar ou dá mal
testemunho. Nos estimulemos e ajudemos mutualmente – socorrer a quem precisa.
Congregar e admoestar - Os judeus da Diáspora se reuniam nas sinagogas e os cristãos
nas casas. “os cristãos parecem ter se reunido pelo menos semanalmente. Entretanto,
a perseguição (Hb 10:32-39) pode haver dissuadido algumas pessoas de participar até
mesmo das igrejas domésticas relativamente privadas; os romanos suspeitavam de
reuniões particulares.” [16] (777)

5ª Certeza: Jesus voltará em breve, para buscar Seu povo (v 25)

A destruição de Jerusalém, para os cristãos hebreus, aconteceria em poucos anos. Sem


dúvida, esse terrível acontecimento ilustraria o fim de todas as coisas (Mt 24:1-3). No
capítulo 24 de Mateus Jesus anunciou sinais que antecederiam a Sua vinda. Os sinais
gerais são aqueles que sempre aconteceram, mas se intensificariam nos últimos dias.
Conflitos bélicos (Mt 24:6-7); desastres naturais (24:7); agitação social (24:9-12);
enganos religiosos (24:4,5, 11) e a pregação do evangelho global (24:14). Os sinais
específicos são aqueles que já aconteceram e anunciam a proximidade da vinda do
Senhor (24:29-31;).

O autor de Hebreus nos insta a intensificar nossas exortações à medida que


percebemos que a volta de Jesus se aproxima. A intenção do autor não está centrada
na descoberta de qual será o Dia, mas no preparo para Aquele Dia (ver Mt 24:36). A
palavra “vedes”, pode nos lembrar a importância da vigilância; do empenho por
conhecer as profecias do tempo do fim. De todas as doutrinas bíblicas, a volta do
Senhor ocupa grande parte da Escritura. Há livros bíblicos completos que dela tratam.
Apocalipse é um deles. Esse dia é especial por várias razões.

Será o dia do fim do sofrimento, da morte e das doenças (Ap 21:4)


O dia de reencontrar os entendes queridos, que já dormem na sepultura (1 Ts 4:13-17).
O dia de conhecer Cristo, nosso amado Salvador, face a face (1 Co 13:14).
Você pode ter certeza que Aquele que vem virá, e não tardará (Hb 10:37).

Ribamar Diniz
É pastor, escritor e editor. Atualmente é mestrando em Teologia pelo SALT/FADBA,
membro da Sociedade Criacionista Brasileria e pastor distrital na Missão Pará Amapá. Seus
artigos podem ser lidos em www.ribamardiniz.com. Contato: ribamardiniz@hotmail.com.
Referências:

1. https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/opsdashboard/index.html#/bda7594740fd402994
23467b48e9ecf6(Aacesso:: 29 de março de 2020)

2. https://brasil.elpais.com/smoda/2020-03-14/medo-e-ansiedade-com-a-crise-do-
coronavirus-conselhos-dos-psicologos-para-tranquiliza-lo.html (Acesso: 28/03/2020).

3. https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/296219/ministerio-da-saude-recomenda-
nao-fazer-velorios-d.htm (Acesso: 28/03/2020)

4. Craig S. Keener, Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento (São Paulo: Vida
Nova, 2017), 756.

5. Bíblia de Estudo Andrews, introdução ao livro de Hebreus. (Tatuí, São Paulo: CPB, 2015),
introdução ao livro de Hebreus. 1589.

6. O Grande Conflito 347, 411, 413; Nos lugares celestiais (Meditações Matinais 1968), 268;
Testemunhos Seletos, V. 2, 267. Ver
http://www.perguntas.criacionismo.com.br/2007/06/quem-escreveu-carta-aos-
hebreus.html. (Acesso: 29 de março de 2020).

7. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, V. 7, 501; Bíblia de Estudo Andrews,


introdução ao livro de Hebreus, 1589.

8. CBASD, v. 7, 501.
9. https://veja.abril.com.br/ciencia/a-espiritualidade-sem-deus/. Acesso: 29/03/2020
10. https://veja.abril.com.br/ciencia/a-espiritualidade-sem-deus/ Acesso: 29/03/2020
11. Review and Herald, 15 de abril de 1915.[12]
12. Ellen G. White, Testimonies, Life Sketches, pág. 196, 1915.

13. CBASD, V. 7, 502


14. CBASD, V. 7, 511
15. Comentário da Bíblia Shedd de Hb 10:21-25).
16. Craig S. Keener, Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento, 777.

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