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ANTÔNIO MOREL DE PAIVA NETO

GABRIELLA EMILLY DIAS


LUCAS BURANI BRITO
POIANI LEONARDO BARCELOS

VULNERABILIDADE E SOCIEDADE:
RACISMO EM GERAL

POUSO ALEGRE - MG
2021
ANTÔNIO MOREL DE PAIVA NETO
GABRIELLA EMILLY DIAS
LUCAS BURANI BRITO
POIANI LEONARDO BARCELOS

VULNERABILIDADE E SOCIEDADE:
RACISMO EM GERAL

Seminário apresentado à turma de Psicologia


como requisito parcial para qualificação na
disciplina de Bioética, da Universidade do Vale
do Sapucaí (UNIVÁS).

Orientadora: Profª Emilene Bueno Rodrigues

POUSO ALEGRE - MG
2021
RESUMO

O presente estudo aborda sobre vulnerabilidades na nossa sociedade, no trato dos riscos
vividos pela população indígena, do tráfico/exploração sexual de jovens/crianças e da
desigualdade de gênero entre homens e mulheres. As categorias trabalhadas são: histórico das
vulnerabilidades na sociedade, fundamentos bioéticos e a intervenção da Psicologia, com
fundamento em Masettoe Behrens, (2000), Subirats, (2010), Foucault, (1979) e Saffioti,
(1992). Bem como, a análise da película Anjos do Sol, revisão da literatura e legislação atuais.
O seminário consiste na metodologia da pesquisa qualitativa, em que estudos evidenciam o
caráter informativo da psicologia da bioética que conduzem à clareza das relações da
sociedade e à necessidade de humanização individual e social.

Palavras-chave: Vulnerabilidade. Sociedade. Bioética. Psicologia.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................01

2 ESTUDO DE CASO – FUNDAMENTOS BIOÉTICOS..................................06

3 INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA.................................................................13

4 CONCLUSÃO......................................................................................................20

REFERÊNCIAS...................................................................................................21
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1. INTRODUÇÃO

Primordialmente, o conceito da palavra “vulnerabilidade” foi usado cientificamente na

década de 80, período em que foi utilizada inicialmente para pacientes com HIV. Em virtude

disso, após o estudo extensivo e das ações sociais, a palavra começou a ter um significado no

ramo da saúde em geral, em questões sociais e de direitos humanos.

Na sequência, Ayres, França Júnior, Calazans e Saletti Filho (2009) também utilizam

esse conceito de vulnerabilidade em grupos de pessoas com HIV. Entretanto, o desamparo

existe em todas as questões políticas, sociais e jurídicas dos indivíduos, independente de

classe social, ela está presente em inúmeros aspectos do cotidiano.

Ainda, Pedersen e Silva (2013), colocam em pauta a afirmação de que todos os

conceitos de vulnerabilidade estão atrelados a uma grande parcela da população. Isso se deve

em virtude do fim do século XX, em que o desemprego e os problemas sociais começam a

inflar. Junto a isso, a reformulação do mercado de trabalho ganha importância para

representar fatores que podem interferir em diferentes aspectos da palavra.

Segundo Morais, Raffaelli e Kolle (2012), temos o conceito de vulnerabilidade social

empregado a pessoas que vivenciam situações socias adversas em seu cotidiano, como fatores

de risco que os afetam negativamente ou situações indesejáveis, mas nunca esquecendo da

saúde e bem estar do indivíduo.

Já para Paulino e Lopes (2010), o comportamento de risco tem definição em fatores

psicossociais e isso pode acarretar em desenvolvimento de problemas de saúde e até

comportamentos de risco em modo geral. Assim, tendo como estudo, o comportamento de

risco e as variáveis psicológicas e sociais que interferem no bem-estar do individuo (Koller,

De Antoni & Carpena, 2012; Morais, Reis & Koller, 2010)

Todavia, esse conceito de vulnerabilidade não está ligado apenas a pobreza, e sim a
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falta de disponibilidade de recursos matérias e simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou

grupos, e o acesso a estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que preveem do

Estado, do mercado e da sociedade. (Figueiredo & Noronha, 2008, p. 131).

Diante do exposto, podemos concluir que, as visões dos especialistas sobre o emprego

da palavra vulnerabilidade, abarca diferentes questões que afetam a dignidade humana. Infere-

se tembém que, pessoas vulneráveis vivem em condições de risco onde não há melhorias e

auxílio. Dessa maneira, por exemplo, um dos grupos de pessoas em vulnerabilidade são os

indígenas. Haja vista que, historicamente no Brasil, os índios sempre lutaram e morreram a

fim de defender suas culturas, costumes e terras, questões essas, ignoradas pelo Estado.

Como também, muitos outros grupos foram expostos aos riscos diante da COVID-19,

doença causada pelo coronavírus denominado SARS-CoV-2, identificada pela primeira vez

em dezembro de 2019, na China. A partir do avanço da transmissão da doença em diversos

países, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara um

cenário de pandemia, devido a rápida velocidade de disseminação da doença em um curto

espaço de tempo.

Diante da pandemia, no Brasil, o Ministério da Saúde (MS) implementou protocolos

de prevenção ao coronavírus, que contém, dentre eles, medidas de isolamento dos casos

suspeitos e o distanciamento social. Dessa maneira, compondo estratégias fundamentais para

conter o aumento exponencial dos casos da doença e a sobrecarga no serviço de saúde.

Entretanto, tais recomendações têm severas repercussões negativas para a atividade

econômica em todos os seus níveis e para a vida em sociedade.

Ainda, podemos indagar sobre a vulnerabilidade da aprendizagem infantil, que cresceu

ainda mais com o atual cenário pandêmico, e trouxe um debate sobre a vulnerabilidade da

educação em toda uma geração, pela qual foi extremamente precarização e os efeitos contidos

a longo prazo deste déficit no ensino em nosso país.


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No atual cenário, ocorrem disputas entre as medidas a serem adotadas e com uma

tímida política pública de apoio financeiro para as populações mais pobres, grande parcela

desta população segue sua rotina de trabalho em busca de sustento, sem poder se beneficiar

das medidas protetivas do distanciamento social.

Nesse debate, uma questão que vem sendo pouco discutida são as repercussões do

distanciamento social no relacionamento interpessoal, especialmente entre parceiros íntimos e

entre pais e filhos. Com base em situações de distanciamento social anteriores e no aumento

súbito do registro de casos de violência no contexto de pandemia, organizações internacionais

e pesquisadores estão preocupados com os indícios de aumento da violência doméstica, sendo

o lar, muitas vezes, um lugar de medo e abuso.

Ademais, segundo dados do Ligue 180, disponibilizados pelo Ministério da Mulher, da

Família e dos Direitos Humanos, houve um aumento de cerca de 17% no número de ligações

com denúncias de violência contra a mulher durante o mês de março, período inicial da

recomendação do distanciamento social no país. No Rio de Janeiro, dados do plantão do

Ministério Público Estadual revelam um aumento de 50% nos casos de violência doméstica já

no primeiro final de semana após os decretos estaduais que propuseram o distanciamento

social, sendo a maior parte das denúncias envolvendo violência contra a mulher.

Mais precisamente, as Instituições que compõem a rede de proteção a mulheres,

crianças e adolescentes no Brasil também denunciam o aumento do número de casos e

chamam a atenção para a possibilidade de menor visibilidade das situações em função da

recomendação de se permanecer em casa, além do fechamento ou redução da jornada de

trabalho dos serviços de proteção, tais como a delegacia de mulheres, conselhos tutelares etc.

A situação torna-se ainda mais relevante porque em cenários de violência doméstica contra a

mulher, na maior parte das vezes, também há violência contra crianças e adolescentes. Como

apontado adiante, a maior incidência ou o acirramento das situações de violência de foro


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íntimo tem motivações em comum, mas também especificidades.

Por fim, a vulnerabilidade é um assunto que abre portas pra inúmeras discussões e

abrange o ser humano e a falta de auxílio do Estado sobre questões necessárias. Destaca-se

que o Brasil, um pais continental, com diferentes culturas e doutrinas, aindo é um pais

dividido por questões políticas e que ao final, se esquece do mais importante e necessário: a

dignidade e bem estar da nação.

Ao escrever sobre o vulnerabilidade estrutural, esclarece Subirats (2010):

(...) precariedade do trabalho, analfabetismo digital, incapacidade

mental, habitação precária, desestruturação familiar, proteção social

insuficiente ou antecedentes criminais. Essas fontes incidirão com mais

força nos grupos de alta vulnerabilidade estrutural: mulheres, Jovens,

idosos, imigrantes ou classes de baixa renda (circunstâncias

Intensificadoras). (SUBIRATS, 2010, p.107).

Em síntese, os aspectos sociais em um dos contextos em que podemos aplicar nossa

tese de estudos é na educação, e seguindo a linha de reciocínio dos autores, nossa discussão

sobre o assunto se torna muito pertinente, principalmente no período em que vivemos de

pandemia. O covid chegou em um momento de fragilidade de nosso país quando já existia

uma crise na educação, economia, segurança e saúde, e só acabou agravando a situação. Ao

passo que, enfrenta-se um cenário de grandes injustiças sociais, considerando a questão

econômica, em decorrência do emprego, gera uma maior taxa de desigualdade e perda de

qualidade de vida Segundo o IBGE (IBGE, 2020).

Destarte, fica claro as inúmeras questões sociais a serem discutidas, se tratando de um

tema amplo e que abre as portas para a imersão da discussão. Todavia, o principal ponto a ser
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utilizado de base são as causas da vulnerabilidade e a ligação entre esses pontos. Logo,

sempre podemos constar que todo e qualquer indivíduo em situação de vulnerabilidade tem

como precedente a falta de amparo em alguma esfera como Estado, social ou de saúde.
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2. ESTUDO DE CASO – FUNDAMENTOS BIOÉTICOS

A ética não pode ser só uma palavra, esvaziada no dia-a-dia. Uma ética aplicada tem

que ser eficaz. Como tal, a bioética, não deve ser somente a reflexão sobre os problemas

morais e sim um instrumento para empreender mudanças concretas, pois ao ser concebida sob

o signo do pluralismo moral, convida todas as correntes de pensamento a buscar soluções para

os problemas que se apresentam para a humanidade.

A reflexão bioética tem que identificar o que possa predispor mais as pessoas a

sofrerem danos e serem vítimas de açõesde desatenção, negligência ou malícia por parte de

terceiros. A bioética, como “o conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e

legitimam eticamente os atos humanos, cujos efeitos influem profunda e irreversivelmente, de

um modo real ou potencial sobre os processos vitais”

Para a implementação de bioética, alguns princípios do Relatório Belmont e

implementado por Beauchamp e Childress, consistem em recomendações para enfocar e

resolver os conflitos éticos suscitados pelas ciências biomédicas. Sobre isso, ele foi

oficialmente promulgado em 1978 e causou grande impacto. Tornou-se a declaração

principialista clássica, não somente a ética ligada à pesquisa com seres humanos, mas também

para reflexão bioética em geral.

Os quatro princícios identificados são: autonomia (valoriza a escolha do indivíduo),

beneficência (maximiza o benefício e diminui o prejuízo), não-maleficiência (menos prejuízo

ou agravos à saúde do sujeito), justiça (dar a cada um o que lhe for devido) e diteito à

informação (consentimento).

1.1 POPULAÇÃO INDÍGENA EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE:

VULNERABILIDADE DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL AO COVID-19;


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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Socioambiental (ISA) em colaboração com a

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta quais terras indígenas (TI) no Brasil

são mais vulneráveis à pandemia Covid-19. A previsão mostra um conjunto de 151 terras

indígenas com índices de vulnerabilidade acima da média. As condições de acesso e o

background socioeconômico dos TIs podem ter um peso decisivo na exposição em maior

escala à doença, tornando-se, assim, um motor de disseminação do novo coronavírus. Outro

fator importante é a contínua disseminação da doença pela comunidade que mora perto do

território.

A perspectiva de Covid-19 entrar em comunidades indígenas pode representar um

cenário devastador. Devido ao caráter altamente contagioso da doença, à vulnerabilidade

social de populações isoladas e às restrições relacionadas ao atendimento ao paciente e à

logística de transporte, grande parte da população indígena pode ser afetada. A possibilidade

de notificação inadequada da população indígena e a falta de vigilância dos vetores de

doenças podem afetar gravemente a capacidade de controlar a propagação da Covid-19. Além

da mortalidade populacional, o declínio da integridade socioeconômica reduzirá ainda mais a

capacidade dos povos indígenas de responder a políticas cada vez mais frágeis.

Nesse caso, um esforço colaborativo entre o Centro de Sensoriamento Remoto (CSR-

UFMG) e o Instituto Socioambiental estudaram as dimensões geográficas da Covid-19 nas

terras indígenas brasileiras. Este estudo monitora a vulnerabilidade das terras indígenas em

resposta ao possível impacto da Covid-19. Para tanto, integra dados de vulnerabilidade social,

disponibilidade de leitos hospitalares, número de casos em cada município, número de óbitos,

perfil etário da população indígena, vias de acesso e outros fatores relacionados à estrutura de

saúde indígena e territorial mobilidade. Dada a urgência, o modelo de previsão identifica e

prioriza as áreas mais vulneráveis.


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No momento da publicação desta análise, os casos aumentaram em algumas regiões,

principalmente no Dsei Manaus, onde ocorreram 12 casos e 1 óbito. Os resultados

apresentados pelo modelo descentralizado Covid-19 e a vulnerabilidade das terras indígenas

podem ser usados como subsídios para ações prioritárias e alocação de recursos. O índice de

vulnerabilidade das terras indígenas permite avaliar as necessidades de saúde pública e a

relação mais ampla entre esses territórios e os serviços de saúde. Além disso, além de

monitorar, interpretar e ajustar a dinâmica descentralizada da Covid-19, também permite a

avaliação da logística adequada.

O desmatamento e garimpo ilegal, bem como invasões e assentamento ilegais são

percebidos pelos povos indígenas como questões de saúde pública também, principalmente

sobre como essas ameaças impactam as comunidades indígenas em termos de segurança

alimentar e medicina preventiva. Estudos e modelos preditivos futuros devem avaliar a

possibilidade de incorporação dessas variáveis de pressão e ameaça. Com o cuidado

necessário, novas análises serão necessárias para avaliar o impacto diferencial da Covid-19

frente à heterogeneidade das populações indígenas no Brasil e a diversidade dos contextos

regionais em que vivem, bem como, com seu perfil epidemiológico específico. (Basta et al,

2012).

Este projeto representou uma colaboração significativa de parcerias institucionais,

unindo grupos de pesquisadores no compromisso de desenvolver soluções para problemas

relacionados a essa pandemia. Por fim, promove o acesso a informações relevantes,

visualização e análise de dados, com o objetivo de acessar e expandir os conhecimentos sobre

a Covid-19.

1.2 VULNERABILIDADE DE MULHERES E CRIANÇAS: TRÁFICO/EXPLORAÇÃO

SEXUAL, FILME “ANJOS DO SOL”;


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O filme brasileiro, “Anjos do sol” trata sobre a exploração sexual comercial de

crianças e adolescentes no nordeste brasileiro, tem um roteiro engrenado e pesado, com várias

cenas eletrizantes de fugas em meio à Selva Amazônica e passagens dramáticas friamente

cruéis. A longa-metragem nacional, baseado em fatos, eleito no ano de 2006 o melhor filme

pelo júri popular no Festival Internacional de Miami e foi utilizado pelo Clube de Bioética e

Educação Estética- CBE, para ampliar a discussão a respeito da exploração infanto-juvenil

que atinge milhares de crianças e adolescentes no Brasil.

No verão de 2002, um “recrutador de prostitutas” faz uma viagem para o sertão da

Bahia para examinar meninas com a finalidade de comprá-las. Maria (Fernanda Carvalho)

uma jovem de 12 anos, filha de pescador e dona-de-casa, é cedida e vendida pelos pais, que

têm outros filhos menores para cuidar, como uma mercadoria e um excelente produto de pura

qualidade sem defeitos, ou seja, uma menina boa e que “não dá trabalho”. Maria é informada

pelos pais que terá uma vida melhor, um lugar onde vai ter um bom trabalho. Após ir embora

é adquirida por um dono de uma boate em um leilão de meninas virgens e em seguida é

adotada e enviada a um prostíbulo localizado em uma pequena cidade perto de um garimpo,

na Floresta Amazônica. Forçada a trabalhar na região como prostituta, Maria sofre inúmeros

abusos. Após meses sofrendo no garimpo, a menina foge e passa a cruzar o Brasil através de

caronas de caminhoneiros. Ao chegar ao Rio de Janeiro à prostituição se coloca frontalmente

em seu caminho e suas atitudes frente aos novos desafios que se tornam inesperados e

surpreendentes.

Sobre isso, podemos concluir que, Maria está imbricada em uma cadeia econômica,

onde várias pessoas ganham ao comercializar seu corpo. Primeiro, é o seu pai que a vende

para um recrutador de meninas. Ele a entrega a uma cafetina e, por esse trabalho, ele tem o

seu ganho. A cafetina promove um leilão onde Maria e demais meninas são adquiridas. Ao ser
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transportada para o prostíbulo, o cafetão passa a explorá-la. Na tentativa de sair dessa cadeia,

Maria foge e encontra uma nova cafetina no Rio de Janeiro, que a vende para um francês.

Novamente foge, agora para qualquer lugar e, ao tentar a carona de um caminhoneiro, ele lhe

cobra como pagamento, o corpo.

Desde os tempos primitivos, por questões de sobrevivência, as mulheres se sujeitavam

aos favores sexuais e neste filme, podemos observar o quanto à natureza do homem é

colocada à prova, em que o ímpeto sexual e o valor econômico sobressaíram-se diante de

quaisquer valores éticos e morais. A mulher é vista com uma imagem menosprezada e

deionizada acerca da ganância do homem que lucra com o sofrimento das meninas. É por

essas e outras razões de fundo econômico que a sociedade está destruindo valores humanos e

morais.

Em um passado recente da história do Brasil víamos que o tráfico de negros era

predominante. Hoje apesar de ainda existir, é feito com meninas ainda crianças que são

escravizadas e vivem em cárceres privados, principalmente na região amazônica, local em que

a fiscalização é mais rara. Vemos que a prostituição infantil e a consequente violência sexual

contra essas meninas também não estão presentes só em garimpos, mas nas ruas e até dentro

de casa e em todos os locais do Brasil. São inúmeros os casos de prostituição infantil ou

exploração sexual, meninas que são vendidas pelas próprias famílias, escravizadas ou

assassinadas por donos de bordeis em áreas de garimpo ou exploradas por cafetões que

atendem aos estrangeiros em locais de luxo da cidade. A família se torna em muitos casos um

elo frágil, em meio à miséria que assola muitas famílias no sertão e acabam por oferecer suas

filhas por um local melhor para morar ou por um “prato de comida”.

Segundo a Unesco (2006), muitas crianças que estão fora da escola tendem a engajar-

se em alguma forma de trabalho, devido na maioria dos casos à pobreza crônica e em parte da

negligência dos pais. Desse total, cerca de 126 milhões entre as idades de 5 a 17 anos estão
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envolvidos nas piores formas de exploração infantil-tráfico, escravidão, prostituição,

endividamento e outras atividades ilegais. De acordo com pesquisas mais atuais, (UNESCO,

2011) estão havendo reduções do número de crianças fora da escola, mas as disparidades

ainda são um enorme empecilho para o progresso da educação. O Brasil carece muito de

consciência, por parte da sociedade e de uma atenção especial de governantes e operadores

das redes de atenção e defesa de crianças e de adolescentes para a implementação de um mais

efetivo combate a esse tipo de crime.

A nossa sociedade é extremamente ligada ao consumo exacerbado e no caso do filme

escrito e dirigido por Rudi Lagemann “Anjos do Sol” a trama expõe além do sofrimento das

meninas, as práticas das pessoas que lucram com esse mercado, a exemplo dos cafetões e

políticos e o regime de servidão, pelo qual as meninas passam sendo violentadas e ameaçadas

caso queiram fugir. Vê-se a motivação econômica em jogo, nos homens que lucram com o

“negócio” e por parte dos pais da personagem. Maria vive quando o capitalismo está

plenamente solidificado. Como o patriarcado já tinha deslocado a mulher para um menor

status, o capital conseguiu potencializar essa posição, tratando inclusive de transformá-la em

mercadoria. Assim, Maria não se prostitui, mas participa dessa mesma rede ao ser objeto de

exploração sexual.

Sobre o mundo capitalista, Behrens (2009) diz que:

O capitalismo selvagem do ter superou a formação do ser, e este

processo tem subsidiado conflitos relevantes sobre o direito dos

injustiçados, que não são atendidos com dignidade para morar,

alimentar-se e educar-se. Por isso, torna-se saber pensar, refletir,

para não ser engolido pela obtenção material em detrimento da

formação pessoal e grupal. (BEHRENS, 2009, p. 84).


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Sobretudo, o processo de globalização econômica favoreceu ao aumento das

desigualdades sociais. Com isso, a crescente miséria e a falta de apoio da família contribuem

para que os índices de tráficos para fins de exploração sexual alavancassem e espalharem-se

por todo país. Meninas que são obrigadas a oferecer seus corpos como possibilidade de

melhorar sua expectativa de vida e mantidas em cárceres privados nas regiões de garimpos, na

maioria ilegal na Amazônia.

Sob o viés do princípio da Justiça do Relatório de Belmont, o Decreto da Presidência

da República nº 5.948 de 26/10/2000, que aprova a Política Nacional de enfrentamento ao

tráfico de pessoas, declara o comércio de crianças e jovens como um crime reconhecido pela

legislação. O Cap. I do artigo 1° deste estabelece nas suas disposições gerais que a Política

Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas a finalidade de estabelecer princípios,

diretrizes e ações de prevenção e repressão ao tráfico de pessoas e de atenção às vítimas,

conforme as normas e nacionais e internacionais de direitos humanos e a legislação pátria.

Como nas tramas as protagonistas tentam por duas vezes fugir dos seus opressores, ou

seja, exercem resistência ao poder de forma recorrente, não é demais convocar Foucault, e as

suas considerações a respeito da circularidade do poder, quando afirma que:

O poder deve ser analisado como algo que circula [...] nunca

está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca

é apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e

se exerce em rede. Nas suas malhas os indivíduos não só

circulam, mas estão sempre em posição de exercer este poder e

de sofrer sua ação. (FOUCAULT, 1979, p.183)


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Tais pressupostos são inseridos nas dinâmicas das relações de gênero por Heleieth

Saffioti (1992) que, ao se referir à posição das mulheres conclui que - “sua subalternidade [...]

não significa ausência absoluta de poder”, intuindo sobre a dinâmica que se estabelece entre

poder e resistência. Essa mesma autora utiliza o mesmo conceito de circularidade para apontar

que:

Em todas as sociedades conhecidas, as mulheres detêm parcelas

de poder, que lhes permitem meter cunhas na supremacia

masculina e, assim, cavar-gerar espaços nos interstícios da

falocracia [...] como na dialética entre o escravo e o senhor,

homem e mulher jogam, cada um com seus poderes, o primeiro

para preservar sua supremacia, a segunda para tornar menos

incompleta sua cidadania. (SAFFIOTI, 1992, p.184)

Então, mesmo que os homens dos filmes exerçam o poder a ponto de subjugar as

mulheres, Maria e Dona Oribela conseguem subverter a ordem hegemônica quando se

rebelam, desobedecem, fogem e são também capazes inclusive de sonhar com suas liberdades.

Ao final do filme, após tantas tentativas de fuga, não apenas do cortiço no interior, mas

também da cafetina Vera (Darlene Glória) no Rio de Janeiro, finalmente Maria consegue sua

liberdade tentando superar a desumanização do mundo, tendo liberdade de pensamento e

responsabilidade sobre seus atos, na busca de desenvolvimento dos processos de aprender a

ser, destacando a importância do princípio de Autonomia.

Em suma, o problema da exploração na sociedade capitalista não se extingue pelas

vontades individuais. O que pode ser feito, além do uso da justiça, é haver consciência que

esse quadro pode ser superado por movimentos da própria sociedade, no que se destaca o

papel da educação, com o princípio do Direito à Informação. Para isso, é importante uma
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reflexão interdisciplinar e principalmente ética sobre temas como a própria exploração sexual,

a questão do preconceito e até do machismo, para que haja uma reestruturação da rede de

enfrentamento ao tráfico infanto-juvenil, um maior fortalecimento na fiscalização nos locais

de incidência e medidas educacionais que privilegiem uma mudança na educação e cultura

dos povos.

Desse modo, promover a ética, principalmente sobre direitos humanos, na escola e na

sociedade poderá auxiliar na solução dessa problemática. Muitos temas polêmicos não são

muito debatidos em sala de aula nem nos lares familiares, entretanto, pode ocorrer de um

aluno ou filho estar na prostituição. Por isso, se faz tão importante essa discussão por meio da

discussão dos pilares da educação, ética e moral. Assim, por meio destas reflexões e práticas

haverá o desenvolvimento do pensar crítico para que ao chegar façam a diferença não apenas

em sala de aula, mas no campo da sociedade brasileira.


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2. INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA

2.1 VULNERABILIDADE INFANTOJUVENIL

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) apresenta à categoria e à sociedade o

documento “Referências Técnicas para atuação de psicólogas (os) na Rede de Proteção às

Crianças e Adolescentes em situação de violência sexual”, produzido no âmbito do Centro de

Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). Esta publicação é uma

revisão da antiga publicação “Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas

de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do

psicólogo”, publicada pelo CFP em 2009. Ao longo dos últimos dez anos a referida política

pública passou por significativas mudanças o que mobilizou a revisão da publicação e

significativas modificações foram feitas, inclusive quanto ao título. Importante reafirmar o

Princípio Fundamental II do Código de Ética do Psicólogo, o qual preconiza que a (o)

profissional “contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

A Psicologia compreende a violência sexual contra a criança e adolescente por meio

de diversas abordagens teóricas, e vem desenvolvendo uma gama de técnicas e práticas de

avaliação e intervenção. Por estar presente em diferentes políticas públicas — especialmente

aquelas pertencentes Referências técnicas para atuação de psicólogos na rede de proteção às

crianças e adolescentes em situação de violência sexual à Rede de Proteção à infância e

adolescência, como Saúde, Assistência social, Educação, Segurança pública e Sistema de

justiça — deve lidar com marcos legais, objetivos, tarefas e públicos variados. Cada campo e

cada caso incide diretamente na demanda que chega às (aos) profissionais, assim como sobre

seu modo de atendê-la.

Hoje a Psicologia tem produzido muitos conhecimentos que rompem esse viés
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normalizador, higienista e individualizante de ciência e de atuação profissional. Há um

enfoque cada vez maior na construção de referências com vistas a uma atuação profissional

comprometida com a garantia dos direitos humanos (GESSER, 2013, p. 69). A necessidade de

a Psicologia ter um posicionamento voltado para o rompimento da noção de políticas públicas

como uma assistência às pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade e a

incorporação da noção dessas políticas como um direito da população legitimado pela

constituição. Esse posicionamento transcende a questão legalista, abrangendo também a

dimensão ética, da potencialização do sujeito para a promoção da autonomia e da superação

do sofrimento ético-político (GESSER, 2013, p. 74).

Aproximando-se do tema da atuação da Psicologia junto às políticas públicas do

Sistema de Garantia de Direitos à Criança e ao Adolescente, Alves (2013) analisa o papel da

(o) psicóloga (o) como especialista cujo discurso versa sobre a subjetividade, com finalidade

de avaliar e/ou intervir. Entende que a (o) psicóloga (o) se baseia em “noções consideradas

científicas” e “técnicas de exame”, as quais explicam “sentimentos e desejos”, “motivação

subjetiva do indivíduo” e “aspectos da história íntima, pessoal”, sendo compreendidas como

“produtoras de um discurso de verdade” (ALVES, 2013, pp. 99-100). Contudo, ainda que haja

uma pluralidade de referenciais técnico-científicos que discutem e fundamentam práticas da

Psicologia relacionadas ao fenômeno da violência sexual contra crianças e adolescentes, a

escolha de quais referenciais utilizar estará relacionada ao entendimento da (o) profissional

quanto aos propósitos desse uso.

A atuação profissional no sentido protetivo e socioeducativo é mais debatida pelas (os)

as (os) profissionais inseridas (os) nas Políticas Públicas municipais e estaduais de Assistência

Social, Saúde, Educação e Cultura e Lazer, assim como no Terceiro setor, nos Serviços-escola

e projetos de extensão de Universidades. Nestes espaços, prevalecem as práticas interventivas,

nas quais a avaliação psicológica é realizada com o objetivo de traçar estratégias que visem
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tanto a proteção como a prevenção de situações de violência sexual contra crianças e

adolescentes.

A Psicologia contribui no antes, no durante e no depois quando se trata de crianças e

adolescentes e enfrentamento da violência sexual, pois estuda os fenômenos psicológicos

individuais e sociais a ela relacionados. Está inserida em diversas áreas de atuação, avalia e

atende crianças, adolescentes e suas famílias, se articula com outros campos de saber e

atuação, dada a complexidade que reconhece na questão e, ainda, analisa possíveis impactos à

vida das pessoas e coletividades envolvidas.

3.1.1 VULNERABILIDADE DE GÊNERO

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da descriminalização e

legalização do aborto no Brasil, pois entende que a defesa dos Direitos Sexuais e

Reprodutivos das mulheres faz parte da defesa dos seus Direitos Humanos. A autonomia das

mulheres sobre seus corpos deve ser ampliada para que as mesmas tenham condições de

decidir ou não interromper uma gravidez. A Psicologia deve se posicionar agindo sobre as

situações que favorecem situações de vulnerabilidade social e psicológica, que provocam

intensas situações de sofrimento psíquico, como é o caso da manutenção de uma gravidez que

não foi escolhida pela gestante. Atualmente, o aborto no Brasil é crime previsto no artigo 128,

incisos I e II do Código Penal Brasileiro. A lei data da década de 20 e autoriza a interrupção

da gestação em apenas dois casos: risco de vida para a mãe e/ou estupro.

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Guttmacher, nos

Estados Unidos, chamado Aborto Induzido: Incidências e Tendências pelo Mundo de 1995 a

2008, revelou que as interrupções de gravidez sem assistência clínica – ou seja, de risco e

clandestinas – aumentaram de 44 para 49 por cento e que 220 em cada cem mil mulheres

acabam morrendo, principalmente no continente africano. O estudo foi publicado no periódico


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The Lancet.

Segundo o estudo, em todo o mundo, os abortos inseguros foram a causa de 220

mortes por 100 mil procedimentos em 2008 – 35 vezes mais do que a taxa de abortos legais

nos Estados Unidos – e de quase uma em cada sete do total de mortes maternas. As regiões

que correm mais riscos de aborto inseguro são a América Central e do Sul, além da África

Central e ocidental, onde 100% de todas as interrupções da gravidez foram inseridas nesta

categoria. Anualmente, cerca de 8,5 milhões de mulheres em países em desenvolvimento

sofrem complicações sérias decorrentes do aborto sem condições de segurança.

O relatório também alertou sobre o uso crescente do medicamento chamado

misoprostol, utilizado no tratamento de úlceras gástricas. Apesar de ser ilegal, seu uso tem

aumentado em países onde há leis restritivas ao aborto.

No Brasil, a OMS estima que 31% dos casos de gravidez terminam em abortamento

(quase três em cada dez mulheres grávidas abortam). Já conforme estimativas do Ministério

da Saúde, todos os anos ocorrem cerca de 1,4 milhão de abortamentos espontâneos e ou

inseguros, com uma taxa de 3,7 abortos para 100 mulheres de 15 a 49 anos.

Com base nestes dados, percebemos que a lei atual impede que estas mulheres tenham

direito a sua cidadania e aos seus direitos humanos sexuais e reprodutivos, direitos estes

estabelecidos por importantes Conferências Internacionais de Direitos Humanos que

produziram Documentos dos quais o Brasil é signatário.

Sabe-se que a lei que criminaliza o aborto não impede, ou sequer reduz a sua

incidência, e não dá conta da complexidade da temática da questão. O debate sobre a

liberdade de optar por não seguir com a gestação é distante da realidade e necessidades das

mulheres.

O CFP se posiciona conforme os Tratados Internacionais assinados pelo Estado

brasileiro, nos quais o governo se compromete a garantir o acesso das mulheres brasileiras aos
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direitos reprodutivos e aos direitos sexuais, referendando a autonomia destas frente aos seus

corpos.

O conselho também segue os encaminhamentos do VII Congresso Nacional de

Psicologia (CNP), entre eles a discussão dos Projetos de Lei que regulamentam o aborto

seguro e a garantia do diálogo com os movimentos que lutam pela legalização do aborto.

Lembramos ainda a moção aprovada no VII CNP, de apoio à legalização do aborto:

“Reconhecendo tanto a complexidade do tema, quanto os direitos sexuais e

reprodutivos das mulheres e entendendo a situação de sofrimento decorrente da

criminalização e da falta de acesso aos serviços de saúde, os/as delegado(as) do VII

Congresso Nacional de Psicologia vêm manifestar seu apoio à legalização da prática do

aborto no Brasil, independente de a gravidez ser decorrente de violência ou haver risco de

morte para a mulher”.

O CFP tem ainda como diretriz-base o Código de Ética Profissional do Psicólogo que

determina, segundo os seus Princípios Fundamentais, que:

I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da

dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores

que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

E ainda, de acordo com o Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:

a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;

b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas,

de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício

de suas funções profissionais;


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O CFP luta pela promoção da saúde da mulher, tanto física quanto mental, e pelo

reconhecimento e integração dos diversos momentos e vivências na subjetividade da mulher,

entre eles a decisão de ter filhos. Defendemos, sobretudo, o acolhimento e escuta para as

mulheres em situação de aborto.

3.1.2 VULNERABILIDADE INDÍGENA

De acordo com o último censo do IBGE (2010), 0,4% da população brasileira é

composta por indígenas, população que vem aumentando nos últimos anos e cresceu 39% em

relação ao censo de 2000, embora ainda continue sendo uma população invisibilizada e só

recentemente tenha começado a ser estudada pela Psicologia.

Como mostram Vianna et al. (2012), a Psicologia brasileira tem como base o modelo

ocidental de pensamento, um modelo que compreende o sujeito como individualizado; mas

esse modelo precisaria sofrer alterações ao lidar com povos indígenas, uma vez que estas

sociedades se baseiam na coletividade e possuem uma compreensão de mundo diferente da

ocidental. Nesse aspecto podemos salientar a importância da interdisciplinaridade para a

superação desses limites, considerando que outras ciências – principalmente a Antropologia –

podem auxiliar na formação de uma Psicologia que seja mais condizente com a realidade e as

demandas das populações indígenas.

A Psicologia tem muito a aprender com outras disciplinas – e não somente com elas,

mas também com os povos indígenas. Em relação aos psicólogos que trabalham com povos

indígenas, destacamos a necessidade de conhecerem e respeitarem as especificidades culturais

das etnias com os quais trabalham. Em outras palavras, é necessário que o psicólogo, ao entrar

em contato com essas populações, esteja aberto ao modo como elas compreendem o mundo,

servindo de mediador entre culturas e possibilitando um diálogo que permita realizar um

trabalho em que ambas as partes – tanto o profissional quanto a população envolvida –


21

contribuam com seus conhecimentos.

No que diz respeito às contribuições, os psicólogos podem atuar no atendimento aos

povos indígenas, na fomentação de diálogos, na superação de preconceitos e na criação de

políticas públicas que considerem a diversidade cultural e a subjetividade destes povos. O

psicólogo também pode ser incluído nas equipes de saúde, tendo como enfoque a saúde

mental e o suporte emocional aos membros das equipes multiprofissionais que trabalham com

estas populações, assim como na realização de ações conjuntas com educadores indígenas

visando à melhoria na qualidade da educação ofertada a essa população.

Partindo destes apontamentos que são apresentados no livro “Psicologia e Povos

Indígenas”, vale ainda destacar as colocações de Maldos (2010) de que a escuta é uma

ferramenta fundamental no trabalho do psicólogo e que o seu papel no trabalho com povos

indígenas está relacionado à construção de novas subjetividades e relações sociais que

permitam a superação de ideologias baseadas na relação predatória do homem com a

natureza, as quais foram consolidadas há tanto tempo. Uma alternativa para tal superação

apresentada pelo autor é perceber as contribuições que minorias, como os povos indígenas,

têm a nos oferecer na construção de uma relação mais harmônica com o mundo de modo

geral, ou seja, o que podemos aprender com estas populações deve servir como promotor de

mudanças nas relações sociais, de modo que estes povos que são considerados do passado

passem a ser vistos como povos que têm uma grande contribuição a dar na construção do

futuro.
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CONCLUSÃO

A vulnerabilidade é conceito com diferentes perspectivas regionais, o que permite

diálogo para uma bioética global na busca de novas abordagens que incluam essas

perspectivas com o compromisso de enfrentar problemas bioéticos atuais e futuros. Além

disso, os avanços científicos em diversas áreas de estudo reiteram a importância da bioética

como instrumento para garantir direitos fundamentais e prevenir ou interromper abusos

praticados contra populações ou sujeitos vulneráveis. Portanto, certas pessoas são mais

suscetíveis à vulneração que outras, o que implica em proteções adaptadas às suas

necessidades específicas.

Diante do exposto, torna-se imprescindível reconhecer que a vulnerabilidade não pode

ser completamente eliminada, mas pode ser amenizada através da responsabilização dos

Estados na formulação de políticas públicas, também é necessário estratégias sociais no

âmbito nacional e internacional que eliminem as desigualdades e promovam o bem-estar dos

vulneráveis.

Por fim, promovendo o indivíduo, fazendo com que ele seja compreendido em sua

totalidade e inserido em uma bioética de diretos e deveres, poderá exercer sua cidadania.

Afinal, a vulnerabilidade e a integridade devem ser reconhecidas como dimensões

intrinsecamente humanas, são componentes da identidade individual que devem ser levadas

em consideração em todas as funções.


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REFERÊNCIAS

Aliança para a Proteção da Criança na Ação Humanitária. Nota técnica: proteção de crianças
durante a pandemia de coronavírus. v. 1. https://alliancecpha.org/en/COVD19

Barone I. Coronavírus: denúncias de violência doméstica aumentam e explicam o impacto


social da quarentena. Gazeta do Povo 2020; 28 mar.
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/coronavirus-denuncias-de-
violencia-domestica-aumentam-e-expoem-impacto-social-da-quarentena/

Ministério da Saúde. COVID-19: Painel Coronavírus. https://covid.saude.gov.br/ (acessado


em 30 / Set / 2021)

Marques E.S., Moraes C.L., Hasselmann M.H., Deslandes S.F. & Reichenheim M.E. (2020).
A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pandemia pela
COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Espaço Temático:
Covid-19 - Cad. Saúde Pública, 36(4), 1-6. doi: 10.1590/0102-311X00074420

Nações Unidas Brasil. Relatora da ONU: Estados devem combater a violência doméstica na
quarentena por COVID-19. https://nacoesunidas.org/relatora-da-onu-estados-devem-
combater-violencia-domestica-na-quarentena-por-covid-19/

Organização Mundial da Saúde; Fundação das Nações Unidas para a Infância; Fim da
violência contra as crianças; Internet das Coisas Boas; Parenting for Longlife Health;
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional; et al. COVID-19
parentalidade. https://www.covid19parenting.com/ (acessado em 05 / Out / 2021).

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Interrupção


educacional e resposta da Covid-19. https://en.unesco.org/themes/education-
emergencies/coronavirus-school-closures (acessado em 30 / Out / 2021).

Organização Mundial da Saúde. A COVID-19 e a violência contra a mulher: o que o setor /


sistema de saúde pode fazer. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2020.

Organização Mundial da Saúde. Declaração dos líderes conjuntos - violência contra as


crianças: uma crise oculta da pandemia COVID-19. Genebra: Organização Mundial
da Saúde; 2020.

ONU Mulheres Brasil. Gênero e COVID-19 na América Latina e no Caribe: dimensões de


gênero na resposta. Brasília: ONU Mulheres Brasil; 2020.

BRASIL. Presidência da República. Decreto n° 5.948, de 26 de Outubro de 2006. Brasília:


Planalto. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/De-creto/D5948.htm>. Acesso em: 31 jan. 2012.

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