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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciȇncias Sociais


Departamento de Arqueologia e Antropologia

Estado de arte sobre a problemática do Albinismo e assuntos


relacionados

Jeremias Mário
João Chambisso

Maputo, Dezembro de 2017


1. Contextualização, tipologias e prevalências do fenómeno albinismo
Diante da literatura analisada sobre a contextualização e tipologias de albinismo, é possível
compreender o que o albinismo é uma condição natural genética em que uma pessoa carece total
o parcialmente de pigmentação na pele, olhos cabelo, porém, em uma dimensão estritamente
biológica (Bíscaro 2012; Teixeira s/d; Ribeiro 2004; Melo 2016; Souza 2016).

Esta literatura permite também compreender que existem dois tipos de albinismo, um
considerado parcial em que o indivíduo apresenta apenas algumas áreas do corpo
despigmentadas e é causada pela ausência ou redução de melanina nessas áreas específicas e
outro tipo considerado albinismo universal em que o indivíduo apresenta despigmentação em
todo o corpo e ocorre como consequência de algum defeito na síntese de melanina, em razão de
alguma anomalia bioquímica ou de estrutura. As PCAS quando se expõem ao sol correm risco de
ficar com câncer de pele e ulcerações devido as queimaduras (Bíscaro 2012; Teixeira s/d;
Ribeiro 2004; Melo 2016; Souza 2016).

A literatura permite também compreender que o quotidiano do albino é marcado pela


intolerância à luz solar e ameaçado, constantemente, pelos riscos da cegueira e do câncer de pele.

De acordo com Borcat e Severino (s/d) as pessoas com albinismo são desconhecidas da maioria
da população, sequer existem dados estatísticos acerca dessas pessoas. A invisibilidade dos
albinos faz com que estes tenham seus direitos suprimidos, além de não possuírem os
instrumentos necessários para viver em sociedade em igualdade com as demais pessoas.

Quanto as tipologias de albinismo, esta literatura o albinismo permite compreender que existem
três tipologias. A primeira tipologia é chamada albinismo ocular que afecta apenas a área dos
olhos, a segunda tipologia é o albinismo cutâneo que afecta apenas a pele e o cabelo e, a terceira
tipologia é o albinismo óculo – cutâneo que afecta a parte dos olhos, pele e cabelos. Nesta ultima
tipologia, o indivíduo albino possui uma visão muito baixa por isso, recomenda-se que
indivíduos desta tipologia de albinismo e os albinos de tipologia ocular ao prestarem algum tipo
de concurso público apresentem-se como deficientes visuais e solicitar provas com letras
ampliadas (Bíscaro 2012; Teixeira s/d; Ribeiro 2004; Melo 2016; Souza 2016).
A literatura sobre contextualização, prevalência e tipologias de albinismo centra-se em questões
dermatológicas e ao centrar-se apenas em questões dermatológicas perde de vista aspectos como
a distribuição demográfica e estatística das PCAs. Na literatura é possível compreender que
existe uma carência de trabalhos sobre a contextualização do albinismo. A literatura carece ainda
de dados estatísticos sobre o número de PCAs e sua distribuição.

Os dados estatísticos sobre a distribuição dos albinos facilitaria instituições como por exemplo
MISAU a proverem de modo mais eficaz insumos de saúde as PCAs existentes no país. A
referida informação poderia também facilitar a outras instituições na elaboração de programas de
protecção e escolarização de PCAs.

2. O quotidiano das pessoas portadoras do albinismo e questões identitárias -Auto-


percepção e percepções dos outros
Da literatura analisada sobre o quotidiano das pessoas com albinismo e questões identitárias é
possível compreender que as PCAs são discriminadas tanto no ambiente doméstico assim como
no público. No ambiente doméstico são rejeitados pelos parentes de pele normal e as vezes pelos
pais quando eles não são albinos porque acreditam que pessoas albinas são frutos de algum tipo
de maldição ou adultério. Por seu turno, no ambiente público eles são impedidos de frequentar
ambientes públicos tais como restaurantes, alguns empregadores impedem-nos de manter
contacto com o publico, com alimentos para ser consumidos por outras pessoas e também são
impedidos de ser vistos pelo publico utente de seus ambientes de trabalho.

Ainda de acordo com a literatura, na escola as PCAs são vítimas de chacotas por parte de
colegas, são chamados de retardados mentais e, na sala de aulas são colocados em posições que
dificultam a sua visibilidade do quadro, visto que eles têm problemas de visão.

As crianças albinas são as principais vítimas da discriminação. As condições de pobreza


impedem que as famílias lhes possam fornecer os meios básicos de protecção: pomadas
cicatrizantes para a cura de feridas que podem degenerar em cancros de pele, cremes protectores,
bonés, chapéus e óculos de sol, entre outros (http://www.un.org/en/events/albinismday/ ).

De acordo com um relatório da ONU (2016) mitos perigosos alimentam esses ataques a pessoas
inocentes. Muitos erroneamente acreditam que as pessoas com albinismo não são seres humanos,
mas são fantasmas ou sub-humanos e não podem morrer, mas apenas desaparecer, explicou.

Ainda de acordo com a literatura, em algumas comunidades africanas pensam que os albinos são
retardados mentais por isso, algumas famílias africanas que acreditam que os PCAs são
retardados mentais acabam por impedir que seus filhos com albinismo vão a escola. Devido a
falta de escolarização muitos dos albinos analfabetos acabam sendo obrigados a aceitar trabalhos
mal pagos ou se convertem em vendedores ambulantes, mendigos, actividades que os expõem ao
sol ao câncer de pele e as ulcerações das queimaduras aos quais são propensos (Burgos 2014).

A literatura refere que as PCAs sofrem várias formas de preconceito e são expostas a crenças e
superstições. Em Moçambique há pessoas que acreditam que pessoas albinas não morrem, eles
simplesmente desaparecem, partilham também a opinião de que nunca presenciaram funeral de
algum albino. Essas crenças são transmitidas em forma de história e ficção. Há também em
Moçambique uma crença generalizada de que existem mais albinos em Moçambique em relação
as outras partes do mundo (Bíscaro 2012; Teixeira s/d; Ribeiro 2004; Borcat e Severino s/d).

Na literatura ainda fica por compreender como as PCAs se auto-identificam diante dos
preconceitos a eles rotulados visto que, existe uma tendência autobiográfica na literatura sobre o
quotidiano e questões identitárias das PCAs. Entretanto, há uma necessidade de serem realizados
estudos que explorem narrativas das próprias PCAs para compreender como elas se auto-
identificam e quais as experiencias quotidianas que eles vivenciam devido a sua condição
natural.

3. Tradições de uso de partes de órgãos humanos, com destaque para portadores de


albinismo, em rituais
Da literatura sobre Tradições de uso de partes de órgãos humanos, com destaque para portadores
de albinismo, em rituais é possível compreender que em África, em particular na região dos
grandes lagos, na Tanzânia, Malawi e em Moçambique há quem ataca a os albinos, os matam, os
mutilam, vendem seus membros, bebem seu sangue, violam as mulheres albinas para obter
penitência, exumam seus cadáveres para converte-los em porções que dêem saúde, sorte ou
riqueza. As PCAs são atacadas e mortas para propósitos rituais (Souza 2016; Torres 2007; IFRC
2009; BERLINGUER 1993; Cabral s/d).

Esta literatura permite também compreender que em outras partes do mundo, pessoas albinas são
caçadas e mutiladas por praticantes de bruxaria, que usam as partes do corpo de suas vítimas em
rituais e na fabricação de amuletos e poções (RCMPHARMA 2012).

De acordo com a literatura em Moçambique, há tradições em algumas zonas, muitas vezes


associadas à religião que permitem o uso de órgãos humanos para fins obscurantistas, os
agressores acreditam que se mantiverem relações sexuais com uma pessoa pura, consumir seus
órgãos genitais ou por matarem uma pessoa pura, irá assegurar que o agressor “apodere-se” das
virtudes da vítima pura e, por isso, terá maiores probabilidades de ter sucesso na vida. Os ataques
se iniciaram e intensificaram a partir de 2007, quando os feiticeiros de países vizinhos de
Moçambique começaram a encomendar partes de corpos de albinos para seus amuletos de sorte.
A partir de então as caçadas e mutilações as pessoas albinas aumentaram. Essas caçadas
estenderam-se para além fronteiras, PCAs são caçadas em Moçambique e traficadas (Souza
2016; Torres 2007; IFRC 2009; BERLINGUER 1993; Cabral s/d).

No geral esta literatura permite compreender que no mundo há pratica de uso de órgãos de PCAs
para diversas finalidades, mas o foco destas explicações tende a buscar explicações de
finalidades rituais, fabricação de amuletos e poções, entretanto essas explicações ao fixarem-se
apenas nos propósitos rituais e obscurantistas perdem de vista as outras finalidades do tráfico de
órgãos como por exemplo o transplante de órgãos.

Estudos mais abrangentes que incluíssem outras categorias humanas procuradas para o trafico de
órgãos humanos e suas finalidades, permitiria melhor compreensão do fenómeno e contribuiriam
no desenho de estratégias por parte das instituições provedoras de protecção de acção com vista a
manter melhor controle sobre o fenómeno do trafico de órgãos humanos.

4. Perfil psicossocial e económico das pessoas envolvidas no tráfico de seres e órgãos


humanos, com ênfase para pessoas portadoras de albinismo
A literatura permite compreender ainda que, as vítimas, na maior parte, são provenientes de
classes socioeconómicas desfavorecidas. A literatura refere ainda que há um grande número de
mulheres envolvidas no tráfico de pessoas, não apenas como vítimas, mas como traficantes e
facilitadoras para a consecução do crime.

Ainda de acordo com a literatura, em Moçambique algumas pessoas envolvidas no tráfico de


órgãos humanos são membros da família da pessoa traficadas, pessoas de sua rede de amizade ou
de convivência que são da mesma classe socioeconómica mas que ao traficar tais órgãos buscam
um meio de melhorar a sua condição económica muitas das vezes aliciados por valores que
fariam alguma diferença na sua renda e na sua situação económica.

Um estudo realizado por Mariamo et al (2016) revela que o tráfico de órgãos humanos na zona
sul de Moçambique serve como meio de obtenção de riqueza e os órgãos traficados são usados
para fins obscurantistas como por exemplo para a feitiçaria.

Entretanto a literatura ao focalizar-se apenas no envolvimento de pessoas desfavorecidas no


trafico de órgãos humanos perde de vista os pessoas com outros perfis psicossociais envolvidas
rede de tráfico de órgãos humanos, pessoas que estão em posições sociais favorecidas que
actuam como compradores e pessoas que se favorecem dos órgãos traficados

5. Redes de tráfico de seres e órgãos humanos, com ênfase para pessoas portadoras de
albinismo
A literatura analisada sobre redes de tráfico de seres e órgãos humanos, com ênfase para pessoas
portadoras de albinismo por um lado permite compreender que, o tráfico de órgãos humanos é
considerado a terceira actividade ilícita mais lucrativa da actualidade, perdendo somente para o
tráfico de armas e o de drogas, afectando mais de 20 milhões de pessoas, movimenta de 7 a 13
bilhões a cada ano no mundo. Ainda de acordo com esta literatura, partes de corpo são traficadas
frequentemente e que os chamados feiticeiros que encomendam através de uma terceira parte. A
literatura refere ainda que o mercado existe em muitos outros países e sua principal característica
é que os órgãos traficados sempre são retirados de pessoas pobres, e utilizados em pessoas ricas,
de países ricos (ÁVILA 2008; Berlinguer 1993).

De acordo com ÁVILA (2008), o tráfico de órgãos humanos foi detectado primeiramente na
Índia, após a China, a Rússia, a Turquia, o Brasil e a Moldávia. Inicialmente o tráfico de órgãos
era composto somente por órgãos provenientes de cadáveres. Os principais destinos dos órgãos
humanos traficados são a Europa (Espanha, Holanda, Itália e Portugal) e a América Latina
(Paraguai, Suriname, Venezuela e República Dominicana).

De acordo com Fellows (2009), a informação sobre o tráfico de partes de corpo tem sido baseada
quase somente em testemunhos indirectos e tem sido fácil para os Governos e para a Sociedade
Civil afirmar que não ocorre ou que é tão infrequente que não merece qualquer resposta ou
atenção.

Os programas em vigor para combater o tráfico de partes de corpo são praticamente inexistentes.
As políticas limitadas que poderiam ser usadas para combater esta actividade estão
desactualizadas e geralmente não são cumpridas. Este relatório chama a atenção para a falta de
uma definição de tráfico de partes de corpo reconhecida a nível internacional e sublinha que sem
tal definição, qualquer tentativa de combater esta actividade será mal sucedida e estas violações
dos Direitos Humanos continuarão a acontecer sem qualquer diminuição (Fellows 2009).

De acordo com um relatório da ONU (2016), Órgãos e membros de indivíduos com albinismo
chegam a ser vendidos num mercado ilegal extremamente lucrativo, braços e pernas podem
custar 2 mil dólares, enquanto um corpo inteiro chega a 75 mil dólares.

Ainda no que respeita a rede de tráfico de órgãos de seres humanos, a literatura refere que
ciência biológica e a medicina profissional assumem, portanto, uma responsabilidade particular
porque permitem utilizar gâmetas e sangue de pessoas vivas ou órgãos de pessoas mortas a fim
de vencer a esterilidade e as doenças, podem também transformar o corpo humano e cada uma de
suas partes em objecto, posto à venda e comercializável, como qualquer outra mercadoria
(ÁVILA 2008; Berlinguer 1993).
A literatura refere ainda que há um grande número de mulheres envolvidas no tráfico de pessoas,
não apenas como vítimas, mas como traficantes e facilitadoras para a consecução do crime.

No caso de África austral, a literatura refere que o tráfico de partes de órgãos humanos traficados
ganham maior mobilidade porque há uma certa conivência entre alguns indivíduos que deveriam
zelar pelo controle das fronteiras, mas as mesmas aliciadas pelos valores pagos para consecução
da actividade de tráfico.

As redes de tráfico a nível da África austral compreendem pessoas que sequestram e assassinam
que tem sido normalmente pessoas próximas do indivíduo sequestrado e assassinado,
compreendem também os facilitadores das fronteiras que são indivíduos da guarda fronteiriça e
alfandegários e compreende também os receptores e usuários dos órgãos que são mágicos e os
que fabricam poções e dão outras finalidades obscurantistas aos órgãos traficados.

Quanto a Moçambique, a rede de tráfico é também constituída por indivíduos próximos da


pessoa traficada que levam as partes dos órgãos traficados para zonas próximas das fronteiras da
África do Sul, Malawi e Tanzânia para entregar tais órgãos as pessoas que requisitam e os
mesmos receptores referem que por detrás deles existem outras penosas as quais eles prestam
serviços, entretanto, essas terceiras pessoas não são encontradas.

De acordo com Aly Lalá (2012) A Lei Contra o Tráfico de Pessoas estabelece o regime jurídico
aplicável à prevenção e combate ao tráfico de pessoas, particularmente a mulher e a criança. A
lei tem como objectivo tipificar e punir o tráfico de humanos e todas as actividades associadas,
sejam praticadas dentro ou fora do território nacional, com objectivo de proteger vítimas,
denunciantes e testemunhas.
Moçambique é, desde 2002, signatário do Protocolo Adicional da Nações Unidas sobre a
Prevenção, Supressão e Punição de Tráfico de Pessoas, particularmente a mulher e a criança
(Resolução nº 87/2002, de 11 Dezembro).

Quanto a cooperação internacional entre Moçambique e outros governos e instituições


internacionais, Aly Lalá, (2012) refere que existe A Convenção das Nações Unidas contra o
Crimes Organizado Transnacional (2000) que obriga os Estados signatários a adoptarem uma
série de medidas, incluindo a criação de um sistema de justiça interna para combater o problema,
como também a adopção de um novo quadro de medidas que vise a assistência jurídica mútua, a
extradição, cooperação na aplicação de Lei, a assistência técnica e a capacitação. A convenção
inclui também protocolos específicos sobre tráfico de seres humanos, imigrantes e armas de
fogo. Moçambique assinou a convenção em 2000 e a mesma foi ratificada em 2006. A
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) aprovou vários protocolos
relacionados com o crime.

A literatura ao focalizar sua atenção em grandes redes do tráfico de partes de órgãos humanos,
perde de vista as pequenas redes de tráfico que é por vezes de onde a solução do problema
poderia ser iniciada. A literatura dá mais ênfase na finalidade e destino dos órgãos traficados e
perde de vista a origem dos órgãos traficados tais como comunidades locais.

6. Quadro legal sobre o tráfico de seres e órgãos humanos, com ênfase para pessoas
portadoras de albinismo
De acordo com a literatura, por ser considerada uma pessoa portadora de necessidades especiais,
o albino precisa de apoio para que seja assegurado o exercício dos seus direitos básicos.

A literatura refere que, o facto das pessoas com albinismo serem tidas como invisíveis prejudica
no reconhecimento de seus direitos, por isso, é necessário considerar o albinismo não apenas
como doença mas também como condição humana de modo a poder ser respeitar os seus direitos
com igualdade. A literatura refere ainda a necessidade de tipificar e punir o tráfico de humanos e
todas as actividades associadas, sejam praticadas dentro ou fora do território nacional, com
objectivo de proteger vítimas, denunciantes e testemunhas (RIBEIRO 2004; Borcat e Severino
s/d; Melo 2016).

De acordo com a ONU (2016),as pessoas com albinismo enquadram-se perfeitamente no


conceito contemporâneo advindo da Convenção da ONU sobre quem são as pessoas com
deficiência, aquelas que possuem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, as quais, em interacção com diversas barreiras, podem impossibilitar sua
participação plena e efectiva na sociedade em equidade de condições com o restante da
população.

A literatura refere que a nível mundial existe uma convenção das Nações Unidas que atende o
Crime Organizado Transnacional, que obriga os Estados signatários a adoptarem uma série de
medidas, incluindo a criação de um sistema de justiça interna para combater o problema, como
também a adopção de um novo quadro de medidas que vise a assistência jurídica mútua, a
extradição, cooperação na aplicação de Lei, a assistência técnica e a capacitação.

A nível da África austral alguns estados tais como Moçambique, África do sul Malawi e
Tanzânia organizaram-se e criaram leis regionais que visam conjunto estancar a situação do
tráfico de órgãos humanos através das fronteiras.

Existe uma Convenção da ONU que assegura ser responsabilidade do Estado promover a
igualdade e eliminar a discriminação e assim adoptar todas as medidas necessárias para que as
pessoas com deficiência possuam a adaptação razoável para uma vida digna em sociedade
(Borcat e Severino s/d; Melo 2016).

Entretanto a literatura refere que mesmo criadas tais leis conjuntas para atender a situação do
tráfico de órgãos humanos, as mesmas permanecem apenas no papel não se fazendo sentir a sua
acção. Ainda de acordo com a literatura, há cooperação entre o Brasil e instituições
internacionais para o controle conjunto das migrações e do tráfico de órgãos humanos, dentre
estas instituições encontramos a OIT e a PNUD.
A literatura refere ainda que importante passo foi dado em 2014 com a criação pelas Nações
Unidas do Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo. De acordo com a resolução da
ONU, "Não há espaço neste século para crenças erradas e prejudiciais, ou qualquer tipo de
discriminação. As pessoas com albinismo são merecedoras de dignidade como qualquer outro ser
humano. Têm o direito de viver livres de discriminação, privação e medo

Ainda de acordo com a literatura, em Moçambique, a Comissão dos Direitos Humanos e a Liga
dos Direitos Humanos fez campanhas para consciencializar a sociedade acerca do tráfico de
órgãos humanos com destaque para a pessoa albina. Existem também em Moçambique leis que
regulam o tráfico de órgãos humanos, entretanto, a literatura refere elas ainda são pouco claras e
não se fazem sentir (Aly Lalá 2012; Fellows 2009; Melo 2016).

Ainda de acordo com literatura a construção de políticas públicas voltadas para a prevenção, a
repressão e o atendimento às vítimas carece de interdisciplinaridade e transversalidade das
instituições para que possa estar garantida uma perspectiva que privilegie as diversas percepções
que o fenómeno exige e a amplitude das acções implementadas.

A referida literatura permite também compreender que as políticas que poderiam ser usadas para
combater o tráfico de órgãos humanos estão desactualizadas e geralmente não são cumpridas. A
falta de uma definição de tráfico de partes de corpo reconhecida a nível internacional condiciona
que qualquer tentativa de combater esta actividade será mal sucedida (Aly Lalá2012; Fellows
2009; Melo 2016).

A literatura analisada ao criar leis e convicções campanhas específicas para o tráfico de distintas
categorias de humanos como albinos por exemplo, perde de vista a criação de leis que atendam o
tráfico de órgãos humanos no geral, que incluísse todas categorias de seres humanos sem
exclusão.

A criação de leis que atendessem o tráfico de órgãos humanos no geral seria mais inclusiva e
respeitaria a diversidade e, pouparia esforços na criação de politicas que continuamente carecem
de alterações quando os que as criam percebem que essas leis excluem certas categorias de
pessoas.

Referências
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http://www.rm.co.mz/index.php/programacao/88-arquivo/597-mocambique-albinoscercados-
entre-mitos-e-incompreensao

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