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Jeremias Mário
João Chambisso
Esta literatura permite também compreender que existem dois tipos de albinismo, um
considerado parcial em que o indivíduo apresenta apenas algumas áreas do corpo
despigmentadas e é causada pela ausência ou redução de melanina nessas áreas específicas e
outro tipo considerado albinismo universal em que o indivíduo apresenta despigmentação em
todo o corpo e ocorre como consequência de algum defeito na síntese de melanina, em razão de
alguma anomalia bioquímica ou de estrutura. As PCAS quando se expõem ao sol correm risco de
ficar com câncer de pele e ulcerações devido as queimaduras (Bíscaro 2012; Teixeira s/d;
Ribeiro 2004; Melo 2016; Souza 2016).
De acordo com Borcat e Severino (s/d) as pessoas com albinismo são desconhecidas da maioria
da população, sequer existem dados estatísticos acerca dessas pessoas. A invisibilidade dos
albinos faz com que estes tenham seus direitos suprimidos, além de não possuírem os
instrumentos necessários para viver em sociedade em igualdade com as demais pessoas.
Quanto as tipologias de albinismo, esta literatura o albinismo permite compreender que existem
três tipologias. A primeira tipologia é chamada albinismo ocular que afecta apenas a área dos
olhos, a segunda tipologia é o albinismo cutâneo que afecta apenas a pele e o cabelo e, a terceira
tipologia é o albinismo óculo – cutâneo que afecta a parte dos olhos, pele e cabelos. Nesta ultima
tipologia, o indivíduo albino possui uma visão muito baixa por isso, recomenda-se que
indivíduos desta tipologia de albinismo e os albinos de tipologia ocular ao prestarem algum tipo
de concurso público apresentem-se como deficientes visuais e solicitar provas com letras
ampliadas (Bíscaro 2012; Teixeira s/d; Ribeiro 2004; Melo 2016; Souza 2016).
A literatura sobre contextualização, prevalência e tipologias de albinismo centra-se em questões
dermatológicas e ao centrar-se apenas em questões dermatológicas perde de vista aspectos como
a distribuição demográfica e estatística das PCAs. Na literatura é possível compreender que
existe uma carência de trabalhos sobre a contextualização do albinismo. A literatura carece ainda
de dados estatísticos sobre o número de PCAs e sua distribuição.
Os dados estatísticos sobre a distribuição dos albinos facilitaria instituições como por exemplo
MISAU a proverem de modo mais eficaz insumos de saúde as PCAs existentes no país. A
referida informação poderia também facilitar a outras instituições na elaboração de programas de
protecção e escolarização de PCAs.
Ainda de acordo com a literatura, na escola as PCAs são vítimas de chacotas por parte de
colegas, são chamados de retardados mentais e, na sala de aulas são colocados em posições que
dificultam a sua visibilidade do quadro, visto que eles têm problemas de visão.
De acordo com um relatório da ONU (2016) mitos perigosos alimentam esses ataques a pessoas
inocentes. Muitos erroneamente acreditam que as pessoas com albinismo não são seres humanos,
mas são fantasmas ou sub-humanos e não podem morrer, mas apenas desaparecer, explicou.
Ainda de acordo com a literatura, em algumas comunidades africanas pensam que os albinos são
retardados mentais por isso, algumas famílias africanas que acreditam que os PCAs são
retardados mentais acabam por impedir que seus filhos com albinismo vão a escola. Devido a
falta de escolarização muitos dos albinos analfabetos acabam sendo obrigados a aceitar trabalhos
mal pagos ou se convertem em vendedores ambulantes, mendigos, actividades que os expõem ao
sol ao câncer de pele e as ulcerações das queimaduras aos quais são propensos (Burgos 2014).
A literatura refere que as PCAs sofrem várias formas de preconceito e são expostas a crenças e
superstições. Em Moçambique há pessoas que acreditam que pessoas albinas não morrem, eles
simplesmente desaparecem, partilham também a opinião de que nunca presenciaram funeral de
algum albino. Essas crenças são transmitidas em forma de história e ficção. Há também em
Moçambique uma crença generalizada de que existem mais albinos em Moçambique em relação
as outras partes do mundo (Bíscaro 2012; Teixeira s/d; Ribeiro 2004; Borcat e Severino s/d).
Na literatura ainda fica por compreender como as PCAs se auto-identificam diante dos
preconceitos a eles rotulados visto que, existe uma tendência autobiográfica na literatura sobre o
quotidiano e questões identitárias das PCAs. Entretanto, há uma necessidade de serem realizados
estudos que explorem narrativas das próprias PCAs para compreender como elas se auto-
identificam e quais as experiencias quotidianas que eles vivenciam devido a sua condição
natural.
Esta literatura permite também compreender que em outras partes do mundo, pessoas albinas são
caçadas e mutiladas por praticantes de bruxaria, que usam as partes do corpo de suas vítimas em
rituais e na fabricação de amuletos e poções (RCMPHARMA 2012).
No geral esta literatura permite compreender que no mundo há pratica de uso de órgãos de PCAs
para diversas finalidades, mas o foco destas explicações tende a buscar explicações de
finalidades rituais, fabricação de amuletos e poções, entretanto essas explicações ao fixarem-se
apenas nos propósitos rituais e obscurantistas perdem de vista as outras finalidades do tráfico de
órgãos como por exemplo o transplante de órgãos.
Estudos mais abrangentes que incluíssem outras categorias humanas procuradas para o trafico de
órgãos humanos e suas finalidades, permitiria melhor compreensão do fenómeno e contribuiriam
no desenho de estratégias por parte das instituições provedoras de protecção de acção com vista a
manter melhor controle sobre o fenómeno do trafico de órgãos humanos.
Um estudo realizado por Mariamo et al (2016) revela que o tráfico de órgãos humanos na zona
sul de Moçambique serve como meio de obtenção de riqueza e os órgãos traficados são usados
para fins obscurantistas como por exemplo para a feitiçaria.
5. Redes de tráfico de seres e órgãos humanos, com ênfase para pessoas portadoras de
albinismo
A literatura analisada sobre redes de tráfico de seres e órgãos humanos, com ênfase para pessoas
portadoras de albinismo por um lado permite compreender que, o tráfico de órgãos humanos é
considerado a terceira actividade ilícita mais lucrativa da actualidade, perdendo somente para o
tráfico de armas e o de drogas, afectando mais de 20 milhões de pessoas, movimenta de 7 a 13
bilhões a cada ano no mundo. Ainda de acordo com esta literatura, partes de corpo são traficadas
frequentemente e que os chamados feiticeiros que encomendam através de uma terceira parte. A
literatura refere ainda que o mercado existe em muitos outros países e sua principal característica
é que os órgãos traficados sempre são retirados de pessoas pobres, e utilizados em pessoas ricas,
de países ricos (ÁVILA 2008; Berlinguer 1993).
De acordo com ÁVILA (2008), o tráfico de órgãos humanos foi detectado primeiramente na
Índia, após a China, a Rússia, a Turquia, o Brasil e a Moldávia. Inicialmente o tráfico de órgãos
era composto somente por órgãos provenientes de cadáveres. Os principais destinos dos órgãos
humanos traficados são a Europa (Espanha, Holanda, Itália e Portugal) e a América Latina
(Paraguai, Suriname, Venezuela e República Dominicana).
De acordo com Fellows (2009), a informação sobre o tráfico de partes de corpo tem sido baseada
quase somente em testemunhos indirectos e tem sido fácil para os Governos e para a Sociedade
Civil afirmar que não ocorre ou que é tão infrequente que não merece qualquer resposta ou
atenção.
Os programas em vigor para combater o tráfico de partes de corpo são praticamente inexistentes.
As políticas limitadas que poderiam ser usadas para combater esta actividade estão
desactualizadas e geralmente não são cumpridas. Este relatório chama a atenção para a falta de
uma definição de tráfico de partes de corpo reconhecida a nível internacional e sublinha que sem
tal definição, qualquer tentativa de combater esta actividade será mal sucedida e estas violações
dos Direitos Humanos continuarão a acontecer sem qualquer diminuição (Fellows 2009).
De acordo com um relatório da ONU (2016), Órgãos e membros de indivíduos com albinismo
chegam a ser vendidos num mercado ilegal extremamente lucrativo, braços e pernas podem
custar 2 mil dólares, enquanto um corpo inteiro chega a 75 mil dólares.
Ainda no que respeita a rede de tráfico de órgãos de seres humanos, a literatura refere que
ciência biológica e a medicina profissional assumem, portanto, uma responsabilidade particular
porque permitem utilizar gâmetas e sangue de pessoas vivas ou órgãos de pessoas mortas a fim
de vencer a esterilidade e as doenças, podem também transformar o corpo humano e cada uma de
suas partes em objecto, posto à venda e comercializável, como qualquer outra mercadoria
(ÁVILA 2008; Berlinguer 1993).
A literatura refere ainda que há um grande número de mulheres envolvidas no tráfico de pessoas,
não apenas como vítimas, mas como traficantes e facilitadoras para a consecução do crime.
No caso de África austral, a literatura refere que o tráfico de partes de órgãos humanos traficados
ganham maior mobilidade porque há uma certa conivência entre alguns indivíduos que deveriam
zelar pelo controle das fronteiras, mas as mesmas aliciadas pelos valores pagos para consecução
da actividade de tráfico.
As redes de tráfico a nível da África austral compreendem pessoas que sequestram e assassinam
que tem sido normalmente pessoas próximas do indivíduo sequestrado e assassinado,
compreendem também os facilitadores das fronteiras que são indivíduos da guarda fronteiriça e
alfandegários e compreende também os receptores e usuários dos órgãos que são mágicos e os
que fabricam poções e dão outras finalidades obscurantistas aos órgãos traficados.
De acordo com Aly Lalá (2012) A Lei Contra o Tráfico de Pessoas estabelece o regime jurídico
aplicável à prevenção e combate ao tráfico de pessoas, particularmente a mulher e a criança. A
lei tem como objectivo tipificar e punir o tráfico de humanos e todas as actividades associadas,
sejam praticadas dentro ou fora do território nacional, com objectivo de proteger vítimas,
denunciantes e testemunhas.
Moçambique é, desde 2002, signatário do Protocolo Adicional da Nações Unidas sobre a
Prevenção, Supressão e Punição de Tráfico de Pessoas, particularmente a mulher e a criança
(Resolução nº 87/2002, de 11 Dezembro).
A literatura ao focalizar sua atenção em grandes redes do tráfico de partes de órgãos humanos,
perde de vista as pequenas redes de tráfico que é por vezes de onde a solução do problema
poderia ser iniciada. A literatura dá mais ênfase na finalidade e destino dos órgãos traficados e
perde de vista a origem dos órgãos traficados tais como comunidades locais.
6. Quadro legal sobre o tráfico de seres e órgãos humanos, com ênfase para pessoas
portadoras de albinismo
De acordo com a literatura, por ser considerada uma pessoa portadora de necessidades especiais,
o albino precisa de apoio para que seja assegurado o exercício dos seus direitos básicos.
A literatura refere que, o facto das pessoas com albinismo serem tidas como invisíveis prejudica
no reconhecimento de seus direitos, por isso, é necessário considerar o albinismo não apenas
como doença mas também como condição humana de modo a poder ser respeitar os seus direitos
com igualdade. A literatura refere ainda a necessidade de tipificar e punir o tráfico de humanos e
todas as actividades associadas, sejam praticadas dentro ou fora do território nacional, com
objectivo de proteger vítimas, denunciantes e testemunhas (RIBEIRO 2004; Borcat e Severino
s/d; Melo 2016).
A literatura refere que a nível mundial existe uma convenção das Nações Unidas que atende o
Crime Organizado Transnacional, que obriga os Estados signatários a adoptarem uma série de
medidas, incluindo a criação de um sistema de justiça interna para combater o problema, como
também a adopção de um novo quadro de medidas que vise a assistência jurídica mútua, a
extradição, cooperação na aplicação de Lei, a assistência técnica e a capacitação.
A nível da África austral alguns estados tais como Moçambique, África do sul Malawi e
Tanzânia organizaram-se e criaram leis regionais que visam conjunto estancar a situação do
tráfico de órgãos humanos através das fronteiras.
Existe uma Convenção da ONU que assegura ser responsabilidade do Estado promover a
igualdade e eliminar a discriminação e assim adoptar todas as medidas necessárias para que as
pessoas com deficiência possuam a adaptação razoável para uma vida digna em sociedade
(Borcat e Severino s/d; Melo 2016).
Entretanto a literatura refere que mesmo criadas tais leis conjuntas para atender a situação do
tráfico de órgãos humanos, as mesmas permanecem apenas no papel não se fazendo sentir a sua
acção. Ainda de acordo com a literatura, há cooperação entre o Brasil e instituições
internacionais para o controle conjunto das migrações e do tráfico de órgãos humanos, dentre
estas instituições encontramos a OIT e a PNUD.
A literatura refere ainda que importante passo foi dado em 2014 com a criação pelas Nações
Unidas do Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo. De acordo com a resolução da
ONU, "Não há espaço neste século para crenças erradas e prejudiciais, ou qualquer tipo de
discriminação. As pessoas com albinismo são merecedoras de dignidade como qualquer outro ser
humano. Têm o direito de viver livres de discriminação, privação e medo
Ainda de acordo com a literatura, em Moçambique, a Comissão dos Direitos Humanos e a Liga
dos Direitos Humanos fez campanhas para consciencializar a sociedade acerca do tráfico de
órgãos humanos com destaque para a pessoa albina. Existem também em Moçambique leis que
regulam o tráfico de órgãos humanos, entretanto, a literatura refere elas ainda são pouco claras e
não se fazem sentir (Aly Lalá 2012; Fellows 2009; Melo 2016).
Ainda de acordo com literatura a construção de políticas públicas voltadas para a prevenção, a
repressão e o atendimento às vítimas carece de interdisciplinaridade e transversalidade das
instituições para que possa estar garantida uma perspectiva que privilegie as diversas percepções
que o fenómeno exige e a amplitude das acções implementadas.
A referida literatura permite também compreender que as políticas que poderiam ser usadas para
combater o tráfico de órgãos humanos estão desactualizadas e geralmente não são cumpridas. A
falta de uma definição de tráfico de partes de corpo reconhecida a nível internacional condiciona
que qualquer tentativa de combater esta actividade será mal sucedida (Aly Lalá2012; Fellows
2009; Melo 2016).
A literatura analisada ao criar leis e convicções campanhas específicas para o tráfico de distintas
categorias de humanos como albinos por exemplo, perde de vista a criação de leis que atendam o
tráfico de órgãos humanos no geral, que incluísse todas categorias de seres humanos sem
exclusão.
A criação de leis que atendessem o tráfico de órgãos humanos no geral seria mais inclusiva e
respeitaria a diversidade e, pouparia esforços na criação de politicas que continuamente carecem
de alterações quando os que as criam percebem que essas leis excluem certas categorias de
pessoas.
Referências
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http://www.rm.co.mz/index.php/programacao/88-arquivo/597-mocambique-albinoscercados-
entre-mitos-e-incompreensao