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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS - UNCISAL

BACHARELADO EM FONOAUDIOLOGIA

WILLIAN CASSIANO DA SILVA

RESENHA CRÍTICA SOBRE EUGENIA NO BRASIL

MACEIÓ
2023.2
WILLIAN CASSIANO DA SILVA

RESENHA CRÍTICA SOBRE EUGENIA NO BRASIL

Resenha crítica sobre Eugenia no Brasil como


nota parcial da disciplina Ética e Alteridade do
curso Bacharelado em Fonoaudiologia da
Universidade Estadual de Ciências da Saúde de
Alagoas, UNCISAL.

Professora: Esp. Salete Maria Bernardo dos


Santos

MACEIÓ
2023.2
RESENHA CRÍTICA SOBRE EUGENIA NO BRASIL

A eugenia é um tema controverso que tem raízes profundas na história do Brasil e no


movimento ideológico do discurso biológico. Esta resenha crítica abordará a maneira
como esses dois elementos se entrelaçaram ao longo do tempo e os impactos que
tiveram na sociedade brasileira.

A eugenia, que pode ser definida como a busca pelo aprimoramento da raça humana por
meio da seleção artificial, ganhou destaque no Brasil durante o final do século XIX e início
do século XX. Influenciados por teorias europeias, intelectuais brasileiros passaram a
adotar a eugenia como uma ideologia que poderia supostamente melhorar a população
do país. No entanto, essa ideologia foi distorcida e usada para justificar práticas
discriminatórias e racistas, como a esterilização forçada de pessoas consideradas
"indesejáveis" e a promoção de políticas de branqueamento da população.

O movimento ideológico do discurso biológico desempenhou um papel crucial na


disseminação da eugenia no Brasil. A ciência, muitas vezes usada de maneira
tendenciosa, foi empregada para fornecer uma suposta justificação "científica" para as
políticas eugênicas. No entanto, essas teorias eram profundamente falhas e permeadas
de preconceitos raciais, que serviram para promover a opressão e marginalização de
grupos étnicos e sociais.

Monteiro Lobato (1882-1948), escritor brasileiro e mais conhecido pela obra "O Sítio do
Picapau Amarelo" teve uma ligação controversa com o movimento eugênico no Brasil. Na
época, Monteiro Lobato expressou opiniões eugenistas em suas correspondências e
escritos. Ele acreditava que o Brasil deveria promover a seleção cuidadosa de indivíduos
para melhorar a qualidade da população brasileira.

As visões do escritor sobre eugenia eram compartilhadas por muitos intelectuais e


cientistas da época (do Brasil e do mundo) e não eram exclusivas dele. No entanto, o
movimento eugênico é amplamente condenado hoje em dia devido ao seu histórico de
racismo, discriminação e abusos contra grupos considerados "inferiores".

Mesmo tendo contribuído significativamente para a literatura brasileira, as opiniões de


Lobato sobre eugenia são consideradas inaceitáveis nos dias de hoje, à luz dos valores
de igualdade, respeito pelos direitos humanos e rejeição ao racismo que prevalecem na
sociedade contemporânea.

A eugenia também é retratada na tela “A Redenção de Cam” (1895) do pintor Modesto


Brocos. Podemos interpretá-la como a purificação de raças uma vez que, a senhora eleva
as mãos aos céus vendo que seu neto tenha nascido branco e esse embraquecimento
seria uma purificação de raça.

Cam é um personagem da Bíblia Sagrada, um dos filhos de Noé que, ao ver seu pai
embriagado e nu depois de beber vinho, corre para contar aos seus irmãos. Seus irmãos
o cobre com uma manta em sinal de respeito. Noé, ao acordar e saber do ocorrido
amaldiçoa a descendência de Cam.

Percebe-se uma ligação muito forte entre a história bíblica e a analogia entre a pintura
sobre Cam. Na bíblia temos um personagem amaldiçoado por gerações como na própria
história do racismo, do negro, da própria eugenia, enquanto que na Tela de Brocos temos
a redenção, ou seja, o branqueamento das gerações futuras tornaria as famílias livres do
status de maldição ou a fuga da descendência africana, corroborando ainda mais com o
movimento racista, separatista e de eugenia no mundo.

Uma das consequências mais trágicas desse movimento foi a esterilização forçada de
milhares de pessoas, em grande parte mulheres pobres e negras. Essas políticas
refletiam uma visão elitista da sociedade, que buscava perpetuar o poder das classes
dominantes e marginalizar aqueles que eram considerados "inferiores". A eugenia no
Brasil também esteve intimamente relacionada ao mito do "branqueamento da raça", que
buscava promover a miscigenação como uma forma de "melhorar" a população,
ignorando completamente a rica diversidade étnica e cultural do país.

Felizmente, ao longo do tempo, a eugenia perdeu sua influência e foi amplamente


desacreditada como uma pseudociência. A sociedade brasileira começou a reconhecer os
danos causados por essas políticas discriminatórias e a lutar por uma sociedade mais
inclusiva e justa. O reconhecimento dos direitos humanos e a promoção da igualdade
racial tornaram-se pautas importantes.

No entanto, é crucial lembrar que a eugenia e o discurso biológico ainda têm resquícios
na sociedade contemporânea. A discriminação racial persiste em muitas formas, e as
ideias eugênicas ainda podem ser encontradas em alguns segmentos da sociedade.
Portanto, é fundamental permanecer vigilante e combater qualquer ressurgimento dessas
ideologias prejudiciais.

Em resumo, a eugenia no Brasil e o movimento ideológico do discurso biológico


representam um capítulo sombrio na história do país. Essas ideias tiveram impactos
profundamente negativos na sociedade brasileira, promovendo a discriminação, o racismo
e a marginalização. No entanto, ao reconhecer esses erros do passado e trabalhar para
construir uma sociedade mais inclusiva e justa, o Brasil pode se distanciar dessas
ideologias prejudiciais e promover um futuro melhor para todos os seus cidadãos.

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