Em torno de 1840 foi lançado o romance “Gente Pobre”, de Dostoiévski, seu
primeiro romance. Seu impacto foi grande, visto que estava escrito de forma inusitada, poética e realista, dando nome à “escola cultural russa”. Sua obra se assemelhava à algumas composições de Gógol, “poemas” que eram declamados em voz alta; menos “O Capote”, que reproduzia a vida da população russa. Porém, em Gógol há o realismo fantástico, e em Dostoiévski há o realismo inserido em “caminhos tortuosos”. Grossman analisa o sistema narrativo de Dostoiévski, sua estilística e composição a partir da sua formação familiar e profissional.
Ao analisar “Gente Pobre”, é possível encontrar o fundo realista, que é
expressado por meio do ensaio fisiológico; o desvendamento de tensões; e a generalização concludente. Essas camadas dão o efeito de poema filosófico, com poesia, drama, epopeia e que traz a “multiplicidade de planos”.
Para Bakhtin, em seu livro “Problemas da Poética de Dostoiévsky”, o leitor
discute diretamente com as personagens. A polifonia é considerada a multiplicidade de fozes e consciências, tendo como consequência a não- objetividade da consciência dos protagonistas, indo contra o que acontece no romance tradicional. Correspondente à polifonia das vozes está a multiplicidade de estilos, ou de linguagens.
Já para Bóris Schnaiderman, a respeito da forma poética da língua literária de
Dostoiévski, um século antes tudo era transmitido oralmente. A Rússia só foi alfabetizada no século IX. Os primeiros poetas russos remetem à influência do classicismo francês, para depois seguir para o período da grande prosa, iniciado por Gógol e depois Dostoiévski. Há ideias consideradas universais, como “a queda do homem e sua beleza espiritual”; “a pecadora redimida”; “o idiota”, inclusive a “catástrofe final”, pois Dostoiévsky trazia a tragédia em seus romances. Neste caso, se trazia a confissão do crime, o desterro, a morte da mãe, o fracasso de sua atuação, etc. Além disso, também há o sonho, sonho- novela ou sonho-profecia. Tudo se resume a chaves, chaves imagético- estruturais, chaves bibliográficas, chaves estilísticas; e também comentários do autor. Outras das principais características de Dostoiévsky é a questão da consciência, além da interpretação pessimista.
O autor começa, a partir de 1873, a postar no jornal “O Cidadão” uma coluna
em que saiu “O Diário de um Escritor” e alguns capítulos de seu penúltimo romance “O Adolescente”. Já em 1876, Dostoiévsky dá continuidade ao “Diário de um Escritor”, mas por meio de publicação independente. Neste “Diário”, há inúmeras menções a Dom Quixote, que representa para Dostoiévsky a própria Rússia. Além disso, ele se via como um profeta do cristianismo russo com o objetivo de harmonia mundial. Em 1837 ele publica um texto que é um enxerto do livro de Cervantes, inexistente, que se nomeia “Uma Mentira é Salva por Outra Mentira”. Já em 1878 o autor encerra o “Diário”, mas volta para publicar um número único em 1880, em que está preparando “Irmãos Karamázov”.