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Ordem econômica internacional

Roberto Carlos Batista *

Resumo

A construção de uma ordem econômica interna- ma vigente. Sua perspectiva transita da idéia de
cional passa por etapas que se associam forço- liberdade de comércio para desenvolvimento
samente ao comércio, às políticas e às relações sustentável.
internacionais. Nesse contexto se situa a noção Palavras-chave: Direito internacional econômico.
de desenvolvimento que se define pelo paradig- Ordem econômica internacional.

*
Mestre em Direito e Estado e especialista em Direito Ambiental e desenvolvimento sustentável pela Unb. Doutorando em Direito pela Paris I
– Pathéon Sorbonne e integrante de seu Centre de Recherche en Droit des Sciences et Techniques; titular da 1ª Promotoria do Meio Ambiente
e Patrimônio Cultural do DF; roberto.rc98@gmail.com

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1 INTRODUÇÃO Para o professor Prosper Weil, v.g., não passaria do
Direito Internacional aplicado à economia. Outros,
Sempre se fez presente a necessidade das na- porém ponderavam que as particularidades do Direito
ções estabelecerem mecanismos de convivência no Internacional Econômico são tantas que lhe garante
âmbito da economia internacional, a fim de possi- uma certa autonomia em relação ao direito das gentes.
bilitar o crescimento de cada uma delas, a partir de Foi com o colóquio de Orleans da Sociedade
bases pacíficas. Já dizia Montesquieu (1995, p. 248): Francesa para o Direito Internacional, ocorrido em 1971,
“O efeito natural do comércio é trazer a paz. Duas que se passou a reconhecer o Direito Internacional
nações que comerciam juntas tornam-se reciproca- Econômico como um ramo do Direito Internacional.
mente dependentes; se uma tem interesse em com- O Direito Internacional Econômico, no entan-
prar, a outra tem em vender; e todas as uniões estão to, é bastante antigo, sendo importante assinalar que
baseadas nas mútuas necessidades.” desde a alta Idade Média, já se depara com um nú-
Essa preocupação exige a existência de prin- mero bastante volumoso de regras internacionais que
cípios, normas e práticas dispondo sobre bens, ser- regiam o comércio entre países.
viços e capitais, envolvidos em relações econômicas Segundo o entendimento de Carreau, Juillard e
mantidas entre atores internacionais. Todo esse con- Flory (1978, p. 11), Direito Internacional Econômico
junto integra o que se denomina de ordem econômi- seria “o ramo do direito internacional que regula-
ca internacional. menta, de um lado a instalação sobre o território dos
Nesse pequeno estudo, examinar-se-á o senti- estados de diversos fatores de produção (pessoas e
do da mencionada ordem, com uma abordagem his- capitais) de proveniência estrangeira e, por outro
tórica, ostentando o seu nascedouro, a sua evolução, lado, as transações internacionais relativas a bens,
passando pela chamada velha ordem econômica in- serviços e capitais.”
ternacional e alcançando a nova ordem econômica Já Bélanger (1987, p. 13, grifo nosso), ao defi-
internacional, além de trazer noções gerais de insti- nir tal especialidade do Direito Internacional, distin-
tutos ligados ao tema, para que este possa restar me- gue os diferentes planos:
lhor situado e entendido.
A primeira parte será dedicada à noção de [...]-sobre o plano da finalidade: o
Direito internacional econômico é o
Direito Econômico Internacional e de ordem eco- conjunto de regras jurídicas com fina-
nômica; relevantes para a compreensão do assunto lidade econômica geral, a qual consiste
apreciado. Na segunda parte será enfocado o tema na organização do câmbio econômico
propriamente dito, em um aporte histórico. internacional;[...] -sobre o plano for-
mal: o Direito internacional econômi-
co concerne a todos os atores da comu-
2 DESENVOLVIMENTO nidade econômica internacional, sejam
os próprios Estados, as Organizações
2.1 NOÇÕES GERAIS internacionais (qualquer que seja seu
estatuto jurídico) e as sociedades trans-
nacionais;[...]- sobre o plano material:
Antes de se adentrar ao tema objeto de estudo, o Direito internacional econômico tem
mister se faz que sejam explicitados alguns conceitos um conteúdo econômico; a divisão en-
e noções vitais ao entendimento da matéria, por esta- tre Direito internacional público geral
e Direito internacional econômico é,
rem intimamente com ela relacionados, como o Direito
entretanto, aqui, difícil (por exemplo,
Internacional Econômico e a ordem econômica. a exploração econômica do fundo dos
mares não é ainda admitido como sen-
2.1.1 Direito Internacional Econômico do do domínio do Direito internacional
econômico). [...] O Direito internacio-
nal econômico é assim, tecnicamente,
Durante muito tempo questionou-se a pró- o direito que estuda as relações econô-
pria existência do Direito Internacional Econômico. micas e financeiras internacionais.

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O Direito Internacional Econômico desem- determinam e regem as atividades dos
penha um papel vital na manutenção da paz, da homens. Bem por isso, por sua origem
pelo âmbito social, a que se refere, pela
segurança e do desenvolvimento dos países que
natureza das relações que regula, pelo
integram o cenário internacional. A interdependên- território, em que é compreendida,
cia dos Estados soberanos, numa economia globali- e pelo momento histórico, em que se
zante como a contemporânea, como bem ponderou estabelece e passa a vigorar, a ordem
Carreau, Juillerd e Flory (1978, p. 15), é o funda- toma diferentes denominações: ordem
familiar, ordem feudal, ordem capi-
mento central do Direito Internacional Econômico,
talista, ordem estatal, ordem natural,
possuindo mais relevo que a própria soberania repu- ordem política, ordem pública, ordem
tada como mais importante no Direito Internacional social, ordem jurídica, ordem econô-
Público. No mesmo sentido Varella (2004, p. 4) mica, etc.
pontua: “O direito internacional econômico visa so-
bretudo ao desenvolvimento das nações. É em torno A expressão ordem econômica incorpora-se ao
desse conceito de desenvolvimento que ele se cons- mundo jurídico a partir da primeira metade do século
trói, mais especificamente com a utilização de um vinte. No Brasil, veio consagrada em todas as Cartas
conceito operacional mais detalhado: o desenvolvi- Políticas a partir de l934, sendo que, com exceção
mento sustentável.” da Constituição de l937 e a atual, todas as demais, a
Impende, por fim, anotar que o perfil do contar de l934, utilizavam a expressão ordem econô-
Direito Internacional Econômico antes e depois da mica e social, juntas em um mesmo capítulo.
Segunda Guerra Mundial é completamente distinto. Consoante esclarece Vital Moreira (apud GRAU,
No período que antecedeu aquele evento histórico, 1991, p. 69), ordem econômica assume feições dife-
o Direito Internacional Econômico se caracteriza rentes, a saber:
como codificador, na expressão de Fonseca (1995,
p. 112), porquanto estava voltado para a sedimenta- [...] em um primeiro sentido, ‘ordem
econômica’ é o modo de ser empírico
ção das regras existentes. Já o Direito Internacional
de uma determinada economia con-
Econômico pós-guerra passou a preocupar-se com a creta; a expressão aqui é termo de um
correção ou amenização das desigualdades entre os conceito de fato e não de um conceito
países, sobretudo dos Estados em via de desenvol- normativo ou de valor (é conceito do
vimento em relação aos desenvolvidos, marcando a mundo do ser, portanto); o que o carac-
teriza é a circunstância de referir-se não
nova ordem econômica internacional.
a um conjunto de regras ou normas re-
guladoras de relações sociais, mas sim
2.1.2 Ordem Econômica a uma relação entre fatores econômicos
e materiais, ou seja, relação entre fato-
O vocábulo ordem é de origem latina, emanan- res econômicos e materias, ou seja, re-
lação entre fatores econômicos concre-
do de ordo, ordnis, que quer dizer classe, disposição. tos; conceito do mundo do ser, exprime
Na linguagem jurídica, tal palavra assume mais de a realidade de uma inerente articulação
um significado. Dentre as diferentes acepções, inte- do econômico como fato;[...] em um
ressa a esse pequeno estudo, a seguinte, tão bem deli- segundo sentido, ‘ordem econômica’
neada por De Plácido e Silva (1987, p. 289), verbis: é expressão que designa o conjunto de
todas as normas (ou regras de conduta)
qualquer que seja a sua natureza (ju-
Ordem é a prescrição, é o sistema de rídica, religiosa, moral, etc.), que res-
regras ou a soma de princípios criados peitam à regulação do comportamento
para estabelecer o modo ou a maneira dos sujeitos econômicos; é o sistema
por que se deve proceder ou agir, den- normativo (no sentido sociológico) da
tro da sociedade, em que se vive, ou das ação econômica; [...] em um terceiro
instituições, de que se possa participar. sentido, ‘ordem econômica’ significa
[...] É, afinal, o conjunto de regras que ordem jurídica da economia.

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Pode-se falar em uma ordem econômica capi- 2.3 VELHA ORDEM ECONÔMICA
talista, em uma ordem econômica socialista, em uma INTERNACIONAL
ordem econômica neoliberal, etc., a depender dos
princípios e ideologia que regulam certa economia. A velha ordem econômica internacional tem o
seu berço, segundo Bélanger (1987, p. 24), na Idade
2.2 CONCEITO Média, com as grandes feiras internacionais, ou,
ainda, com a Liga Hanseática, fortaleceu-se após o
O aparecimento cada vez mais freqüente de século XVI, sobretudo com o estabelecimento da re-
organismos internacionais e a intensificação do in- presentação diplomática.
tercâmbio internacional envolvendo Estados, entida- Nos séculos XVI e XVII e, ainda, no século
des e órgãos internacionais personificados, têm sedi- XVIII, predominou a doutrina mercantilista, que se
mentado, a cada dia, a ordem internacional, que se fundava no acúmulo de metais preciosos (ouro e pra-
traduz no conjunto das relações entre os menciona- ta), os quais representavam a força das nações e eram
dos entes. É justamente nessa interdependência dos usados como moeda internacional.
Estados, responsável por uma ordem internacional, Conforme lembra Aron (1986, p. 328), havia
que se alicerça a denominada ordem econômica in- duas formas para se conseguir um número maior de
ternacional. metais preciosos: a guerra e o comércio. O comércio
Segundo a definição de Bermejo (apud SOUZA, exterior, então, expande-se não por causa da neces-
1994, p. 69), a ordem econômica internacional seria o sidade do intercâmbio de produtos, mas, particular-
“conjunto de princípios, regras e de práticas privadas mente, por constituir uma forma de se adquirir ri-
e públicas, aplicadas a organizar as relações econô- quezas. Por conseguinte, buscava-se exportar mais e
micas entre os agentes que atualmente determinam importar menos, pois a exportação representava eva-
a sociedade internacional: Estados, Organizações são dos referidos metais e, na concepção mercanti-
Internacionais e Grupos Internacionais.” lista, diminuição de riqueza. Por isso, explica o autor
Souza (1994, p. 151-152), a seu turno, diferen- (1986, p. 327-328):
cia ordem econômica internacional de ordem inter-
nacional econômica. Para o autor, a primeira emer- [...] ‘como um balanço comercial posi-
tivo é necessário para acumular metais
gira da própria praxis internacional, dos costumes,
preciosos, e como não é possível para
dos tratados, das negociações, etc., ao passo que a todos os Estados ter ao mesmo tem-
segunda teria nascido, com o criação da ONU e o po um balanço positivo, o comércio
estabelecimento de regras que incorporaram a “ideo- não pode ser favorável a todos. O que
compra mais do que vende perde ouro
logia do desenvolvimento”, escoimadas na noção de e prata, arruinando-se com essa perda
justiça nas relações internacionais, ou seja, estabele- comercial. A procura de metais precio-
cidas para garantir o equilíbrio nas relações interna- sos cria uma diferença essencial entre o
comércio externo e o comércio interno
cionais, levando-se em conta os entes envolvidos.
das nações; este último não modifica o
Carreau, Juillard e Flory (1978, p. 24) apre- estoque nacional de ouro e prata, que é
sentam um conceito amplo e depois o restringem, ao determinado pelo primeiro.’ Em resu-
explicitarem o conceito de direito internacional eco- mo, na expressão de Silberner (p. 329),
‘O país que pode suprir suas próprias
nômico, embora este se amolde à definição de direito necessidades é sempre mais rico, mais
econômico internacional, segundo a diferenciação forte e temido.’
feita por Souza (1994, p. 151-152) verbis: “conjunto
coerente de regras jurídicas orientadas em função de O mercantilismo se fundou em três pontos
finalidades políticas, econômicas e sociais”; “soma principais: a balança de comércio favorável (maior
dos princípios diretores e das regras jurídicas que or- exportação e menor importação), protecionismo da
ganizam as trocas entre espaços econômicos subme- economia nacional e monopólio.(ARON, 1986, p.
tidos a soberanias estatais diferentes.” 328-329).

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Foi nesse período que se estabeleceram os dores, ao poder contratual das partes;
conceitos de “balança comercial”, “balança de paga- nos conflitos entre as diferentes empre-
sas (no âmbito nacional assim como no
mentos”, “pacto colonial”, “nação mais favorecida” supranacional), ao poder de superação
e o contrato tácito ou expresso como instrumento ju- da concorrência que sempre recom-
rídico, como lembra Souza (1994, p. 152). pensa o melhor.
No século XVIII, surge o liberalismo, que pre-
domina até a Primeira Guerra Mundial. A partir de Ao que se verifica, a mola propulsora era a
então, a doutrina1 destaca três fases importantes para liberdade contratual, que já estava consagrada em
a velha ordem econômica internacional: a que vai de diversos sistemas jurídicos nacionais, refletindo-se
1815 a 1914; a que vai de 1914 a 1944 e a que vai de tanto no pagamento e transferências decorrentes das
1945 a 1955. transações quanto na forma em que estes eram efe-
tuados, admitindo-se moeda nacional ou metais pre-
2.3.1 Primeira Fase (1815-1914): A Era Liberal ciosos de valor monetário.
Segundo Carreau, Juillard e Flory (1978, p.
O primeiro período não coincide com o início 66), as chamadas “regras do jogo” constitutivas da
do liberalismo, mas sim com o Congresso de Viena, ordem econômica internacional eram as seguin-
realizado após a derrocada de Napoleão Bonaparte, tes: “liberdade contratual internacional, liberdade
reunindo as potências européias para reorganizar o de câmbios comerciais, liberdade de pagamentos e
mapa político da Europa (ARRUDA, 1983, p. 179). transferências e liberdade dos movimentos de capi-
É considerado pelos teóricos como o tempo da ordem tais internacionais.” A interferência do Estado nas
internacional econômica privada ou a era liberal, em questões econômicas era pequena. Prevalece o deno-
virtude da liberdade que se outorgava e a módica in- minado État gendarme.
terferência do Estado nas questões econômicas. Em 6 de fevereiro de 1776, a França e os
A política empregada era a do livre-cambismo, Estados Unidos, ao celebrarem o Tratado de Aliança
que, ao contrário do mercantilismo, não considerava e Comércio, inauguram uma prática que se tornará
o lucro alcançado por uma pessoa ou ente (com a corriqueira durante o século XIX e o início do século
aquisição de metais preciosos) como o prejuízo de XX: a inclusão da cláusula da nação mais favorecida
outrem. Como bem lembram Bobbio, Matteucci e de natureza condicional, de vital importância para o
Pasquino (1986, p. 716): “Com o Livre-cambismo, comércio internacional.
pelo contrário, rejeitou-se a idéia da economia como Releva dizer, contudo, que durante todo o pe-
‘jogo de soma zero’ e se preferiu considerá-la como ríodo em apreciação, embora o livre-cambismo fosse
possível fonte de um maior bem-estar para todos; um objetivo comum entre as nações, experimentou
nela, a liberdade não degenera necessariamente em momentos de alternância com o protecionismo.
abuso, mas abre espaços à colaboração contratual.” Os Estados buscavam evitar que grandes em-
Predominava a máxima laisser faire, laisser passer, presas pudessem obstar a livre concorrência e im-
bem traduzida pelos autores citados (1986, p. 693), pedir o livre funcionamento do mercado. Com esse
quando revelam: propósito, os Estados Unidos, no fim do século XIX
e início do século XX, editam as primeiras leis anti-
[...] o Estado não deveria se introme- trust (as Leis Sherman e Clayton).
ter no livre jogo do mercado que, sob
No âmbito da política monetária, verifica-se
determinados aspectos, era visto como
um Estado natural, ou melhor, como um total absenteísmo dos Estados, que não exercem
uma sociedade civil, fundamentada em qualquer controle, nem mesmo internamente. Pelo
contratos entre particulares. Aceitava- menos os mais importantes chegam a converter a to-
se o Estado somente na figura de guar- talidade de suas moedas nacionais em ouro, sem que
dião, deixando total liberdade (laisser
faire, laisser passer) na composição dos isso acarretasse repercussões negativas. Ao revés, o
conflitos entre empregados e emprega- padrão-ouro implicava em ajustamentos automáti-

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cos, impedindo intervencionismos estatais. A “era do No plano monetário, os Estados deveriam re-
ouro”, segundo afirmam os estudiosos, é considerada cuperar a soberania monetária, determinando, cada
a de maior estabilidade monetária no mundo. um, a sua moeda. Os bancos centrais ou casas de
Por outro lado, não havia instrumentos jurídi- moeda no âmbito interno perdem sua independência
cos específicos e obrigatórios a serem observados pe- para o poder político. Então, ocorreram desvaloriza-
los atores da economia internacional. Estes possuíam ções competitivas, taxas de câmbio múltiplas, taxas
liberdade para escolherem a norma que regularia as de câmbio flutuantes no contexto internacional.
operações. No entanto, no que pertine aos emprésti- No que concerne aos investimentos, vislumbra-
mos internacionais, a mecânica era distinta, devendo se, igualmente, um acirrado controle de câmbio dos
o devedor se submeter às condições de autorização países exportadores, pelo qual passam os pagamen-
do país credor. tos e transferências, controle este que só beneficia
alguns países ou colônias. Todas essas medidas vão
2.3.2 Segunda Fase (1914-1944): O Período repercutir no volume das transações internacionais,
de Entre-Guerras: Desordem Econômica que passam de 55,9 milhões de dólares em 1929 para
Internacional 24,3 milhões de dólares em 1939.
A realidade em apreciação conduziu o merca-
Esse período, embora no início parecesse pro- do internacional a um bilateralismo generalizado.
missor, com a adoção dentre os quatorze pontos do Os acordos bilaterais, firmados principalmente entre os
presidente americano Wilson, de medidas como Estados comerciantes da época como os Estados Unidos,
a redução máxima das barreiras econômicas e a a Alemanha, a Grã-Bretanha, a França, etc., previam di-
criação de condições comerciais equânimes para reitos aduaneiros, operavam como limitadores de res-
todas as nações, além de propagação, a partir de trições, sendo que o seu sucesso dependia do poder de
1923, da cláusula da nação mais favorecida de negociação dos co-contratantes. Quanto ao pagamento,
natureza incondicional, foi considerada pelos es- adotou-se, nesse período, dois tipos de acordo: acordos
pecialistas como a fase da desordem econômica de compensação e acordos de pagamento.
internacional. Pelo primeiro desses mecanismos, os bancos
Os eventos históricos que se sucederam con- centrais de cada um dos países envolvidos, visando
tribuíram para a taxada desordem: a revolução rus- estabelecer um controle e evitar o pagamento direto
sa de 1917, o crescimento do nacionalismo que se ao Estado com o qual se fazia comércio, abria uma
transmudou em fascismo e, sobretudo, a grande crise conta em nome do respectivo comerciante. O impor-
econômica de 1929. tador, por meio da conta de seu país de origem, paga-
A partir de 1930, os Estados passaram a adotar va em moeda local e o exportador recebia, mediante
práticas desleais no cenário internacional. No âmbito débito da mesma conta em moeda nacional já con-
comercial, são utilizadas tarifas aduaneiras proibiti- vertida. Tal sistema apresentou problemas de atraso.
vas no propósito de desencorajar a entrada de merca- Com efeito, alguns países passaram a restringir a im-
dorias estrangeiras não-essenciais ou não produzidas portação de divisas fortes e incentivar a exportação
internamente. Nesse período, a mais marcante das para Estados de moeda fraca, que, por tornar-se defi-
tarifas americanas foi a chamada “Soot- Hawley”, citário, estava mais sujeito ao domínio do credor.
datada de 1930. Passou-se, então, a utilizar-se do segundo me-
Para se livrarem das barreiras aduaneiras, os canismo: acordos de compensação. Neste, os padrões
Estados e empresas adotam ajudas à exportação, me- de operação eram assemelhados aos do primeiro me-
diante subvenções diversas, bem como práticas de canismo. A diferença consistia no fato de cada banco
“dumping”, apesar da legislação em seu combate. central prever uma margem de crédito recíproco de
Como as restrições jurídicas eram insuficientes, esta- certa importância, financiando eventual desequilíbrio
beleceu-se restrições quantitativas ou contingenciais advindo de câmbio, que haveria de ser pago pelo de-
que limitam o volume das importações. vedor, em determinado prazo, em moeda conversível

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ou em taxa de câmbio estabelecida reciprocamente. [...] a cláusula incondicional da nação
Tal sistema foi mais eficiente que o anterior, mas não mais favorecida, o respeito integral
do princípio de não discriminação,
impediu abusos. O multilateralismo, nessa fase, não a concessão de um ‘tratamento leal
foi de todo afastado. Apesar de limitado, houve es- e equitativo’ ao comércio america-
forços no sentido de garanti-lo. no para os monopólios públicos da
A Sociedade das Nações, entre 1920 e 1933, compra estrangeira e inserção de uma
cláusula escapatória permitindo a cada
realizou cinco conferências econômicas, que não ob- parte se desincumbe das obrigações
tiveram êxito. A primeira delas se realizou em 1920 quando um aumento substancial de
em Bruxelas. Os trinta e nove países participantes suas importações ensejar um prejuízo
condenaram a instabilidade monetária e a restrição grave a sua produção, a seus produto-
res. São lançadas, então, as bases das
de câmbio, propondo o retorno ao padrão-ouro. A
teorias de multilateralismo comercial,
última aconteceu em Londres, em 1933, oportunida- que receberão também da Carta de
de em que os sessenta e quatro Estados participantes Havana, o G.A.T.T., etc. (CARREAU;
reafirmaram a preocupação com a estabilidade mo- JUILLARD; FLORY, 1978, p. 76).
netária, o papel do ouro e a liberdade nas transações
econômicas internacionais. 2.3.3 Terceira Fase (1945-1955): Ordem
Não se pode olvidar, também, que à época Econômica Neoliberal
apareceram blocos econômicos ou áreas de prefe-
rência, instituídos pelos países fortes, como a Grã- Uma ordem econômica internacional do pós-
bretanha e a França, em favor das colônias, em que guerra surge de bases americana e inglesa, por ra-
eram adotados regimes monetário e aduaneiro favo- zões justificáveis: os Estados Unidos haveriam de
ráveis. Foram as chamadas “preferências imperiais”. se transformar em uma grande potência econômica
Em troca, as potências garantiam um mercado de e militar e a Grã-Bretanha era o único país liberal da
dominação nessas localidades. Nesse aspecto, releva Europa cujo território não foi invadido.
registrar a Conferência de Otawa, em 1932. Entre 1941 e 1945, tais Estados lançam as ba-
Um marco significativo foi a criação do Banco ses de uma ordem econômica internacional pós-
de Regras Internacionais (BRI), em 1930, que era guerra. Inicialmente, houve dificuldades, pois os
uma espécie de banco central dos bancos centrais objetivos das referidas potências eram divergen-
e representou a primeira instituição de cooperação tes: a Grã-bretanha visava objetivos econômicos
entre as casas de emissão de moedas entre os países internos, ao passo que os Estados Unidos busca-
mais representativos. vam o alargamento dos câmbios econômicos in-
Em 1936, os Estados Unidos, a França e a Grã- ternacionais, partindo da preocupação com a livre
bretanha, firmaram um acordo que ficou conhecido empresa.
como tripartite, no sentido de se mudar o regime de Em agosto de 1941, Churchill e Roosevelt as-
controle de câmbio e obrigar os signatários a não sinam a Carta do Atlântico, que continha inúmeras
recorrer à desvalorização competitiva. Tal acordo disposições econômicas relevantes. Consoante dis-
perdurou por pouco tempo, em face do advento da punha o parágrafo quarto daquele documento (apud
Guerra Mundial, que eclodiu três anos após a sua CARREAU; JUILLARD; FLORY, 1978, p. 77), as
efetivação. duas partes se comprometiam “dentro do quadro de
Em 1934, o Reciprocal Trade Agreement Act, suas obrigações existentes, de promover a todos os
votado pelo Congresso Americano por suscitação Estados, grandes ou pequenos, vencedores e ven-
do presidente Roosevelt e pelo secretário do Estado cidos, um igual acesso (‘acess in equal terms’) ao
Cordell Hull, conferiu ao chefe do executivo atri- comércio e às matérias-primas mundiais que são ne-
buição para firmar acordo de comércio com outros cessárias à prosperidade econômica.” O parágrafo
países prevendo baixas aduaneiras recíprocas se as quinto, de inspiração britânica previa “para todos,
seguintes condições fossem reunidas: condições de trabalho melhores, um desenvolvimen-

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to econômico e a seguridade social.” (CARREAU; mercial internacional, com o General Agreement of
JUILLARD; FLORY, 1978, p. 77). Tarif und Trade (GATT)2, que advém ante ao fato de
Em 23 de fevereiro de 1942, os Estados Unidos os Estados Unidos haverem se recusado a ratificar a
e a Grã-bretanha celebram um acordo de ajuda mú- Carta de Havana, a qual versava sobre a Organização
tua, esteado no princípio da reciprocidade, em que do Comércio Internacional; e, ainda, c) uma econo-
se obrigavam na eliminação de “todas as formas de mia predominantemente de mercado (capitalista),
tratamento discricionário em matéria de comércio surgindo, outrossim, Estados socialistas.
internacional, a redução de tarifas aduaneiras e ou- A ordem econômica internacional neoliberal
tras barreiras comerciais.” (art.VII). (CARREAU; pós-guerra garantiu uma taxa de crescimento no co-
JUILLARD; FLORY, 1978, p. 78). mércio mundial entre 8 e 10% (oito e dez por cento)
Em 6 de dezembro de 1945, as duas potências ao ano. Aumentou consideravelmente o montante
assinam um acordo financeiro estabelecendo vanta- das exportações monetárias. O volume de cresci-
gens para a Grã-bretanha no pagamento, aos Estados mento perdura até o início dos anos setenta, quando
Unidos, da dívida de guerra. Em contrapartida, os aparecem as crises, como a petrolífera, em 1973 e
britânicos deveriam romper as restrições comerciais 1979.
em relação aos produtos americanos.
Em 26 de junho de 1945, é assinada, em São 2.4 NOVA ORDEM ECONÔMICA
Francisco, a Carta das Nações Unidas, com atenção INTERNACIONAL (NOEI)
voltada para os problemas do Pacto da Sociedade das
Nações. Reconheceu-se a independência econômica A nova ordem econômica, segundo Bélanger
das nações e o fato de a paz possuir fundamentos (1987, p. 25) teria surgido como reação dos excluí-
econômicos. A Organização dessas Nações Unidas dos da velha ordem econômica internacional, ou seja,
destacou, como um de seus fundamentos, a coope- os países em desenvolvimento que se agregaram aos
ração econômica, que chega a ganhar um capítulo, países comunistas e, em especial, os países do sul.
no pacto (X). Outro capítulo estabeleceu o Conselho Ela desempenhou papel importante na construção
Econômico e Social (XI). A preocupação no docu- jurídica do conceito de desenvolvimento, que tem o
mento se mostra indelével, marcando presença em foco voltado para o aspecto econômico sem qualquer
diversas passagens. preocupação com o meio ambiente, a saúde e os di-
A ordem econômica internacional após a se- reitos humanos. (VARELLA, 2004, p. 11).
gunda guerra apresenta vários traços identificado- Sob o ponto de vista histórico, considera-se a
res, a saber: perda de uma parcela da soberania dos Conferência de Bandung, ocorrida entre 13 e 24 de
Estados em favor da interdependência dos inúmeros abril de 1955, em que 26 países asiáticos e africanos
espaços econômicos nacionais; a cooperação eco- (que, em sua maioria, haviam alcançado à época sua
nômica internacional; a institucionalização da coo- independência há menos de dez anos) se mobiliza-
peração, mais no âmbito universal que regional; o ram para resolver unidos os seus problemas, como o
multilateralismo em oposição ao bilateralismo; liber- marco da NOEI.
dade e não discriminação nas transações econômicas Nesse processo de mudança um fator funda-
internacionais, incluindo aí a liberação do câmbio e mental marcou a transformação: o conceito de sobe-
reciprocidade; concretização da cláusula da nação rania permanente dos Estados, que se acentuou com
mais favorecida incondicional; supressão das restri- os processos de nacionalização, nos anos cinqüenta.
ções comerciais, livre conversão de moedas e taxas Tal noção de soberania, que não se prende ao conte-
de juros estáveis. údo meramente público, passa a envolver a escolha
A reconstrução toma dois ângulos: a) uma or- de cada país, do sistema econômico, político e so-
dem monetária internacional, marcada pelo sistema cial. Como bem revela Bélanger (1987, p. 87): “Esta
de Bretton Woods, que instituiu, em 1944, o Fundo soberania é ‘permanente’, ‘integral’ e recai ‘sobre os
Monetário Internacional (FMI); b) uma ordem co- recursos naturais todas as atividades econômicas.’”

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Em 1952, a Organização das Nações Unidas zando-se um Sistema Geral de Preferências – SGP
(ONU) adotava Resolução sobre o direito de explo- – pelos quais os países desenvolvidos devem asse-
rar livremente os recursos naturais. Na década de gurar um tratamento preferencial para os produtos
sessenta, a abordagem das resoluções já era diferen- manufaturados importados do Terceiro Mundo, a fim
ciada, porquanto mencionava a “soberania sobre os de reduzir a proteção efetiva e elevada que esses pro-
recursos naturais.” Em 1962, é editada a Resolução dutos padecem.”
nº 1.803 (XVII), tratando da “Soberania Permanente Tais preferências decorriam da inevitável ne-
sobre os Recursos Naturais.” Em 1966, outra cessidade de ajustamento da ordem econômica in-
Resolução abordando o assunto “capital estrangeiro” ternacional, que se encontrava profundamente aba-
para assegurar o seu uso “no interesse do desenvol- lada com o quadro que atingia, sobretudo, os países
vimento nacional.” subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento:
Entre 23 de março e 16 de junho de 1964, reu- instabilidades cambiais das moedas, sobretudo no
niu-se em Genebra a primeira Conferência das Nações período de 1971-1973, provocadas pelo crescimento
Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (United descontrolado dos eurodólares, com o impacto das
Nations Conference on Trade and Development duas crises do petróleo em 1973 e 1979 e o drama
– UNTAD), criada em 11.11.63 e que difundia idéias do endividamento dos países subdesenvolvidos e em
dos países do sul, em contraposição ao GATT, ou vias de desenvolvimento e com os sérios desequilí-
seja, visava-se muito mais o desenvolvimento e não brios macroeconômicos, como bem asseverou Sousa
o comércio internacional como outrora. Ela realiza- (1995, p. 24).
va conferência relevantes em torno do comércio e Importante registrar nesse caminhar, a criação,
do desenvolvimento internacional. A II UNTAD, em em 1966, do Programa das Nações Unidas para o
1968, em Nova Délhi, criou um Comitê Especial so- Desenvolvimento (PNUD) em um ambiente de co-
bre Preferências. Na III UNTAD, em 1972, no Chile, operação internacional. Para o direito internacional,
como assinala o professor Trindade (1984, p. 215) no final dos anos 60, rendeu um conjunto de textos
reafirmava-se: voltados para um comércio mais eqüitável entre o
norte e o sul, além de cooperação, transferência de
[...] o direito soberano de todos os tecnologia, fortificação das relações entre os países
recursos naturais em prol de seu de-
do sul, não discriminação e não-intervenção entre
senvolvimento nacional; mais adiante
a UNTAD deliberava que quaisquer outras medidas (VARELLA, 2004, p. 12-13).
disputa acerca da nacionalização de Em 12 de dezembro de 1974, as Nações Unidas
propriedade estrangeira recairam sob estabelecem uma nova ordem econômica internacio-
a competência exclusiva dos tribunais nal ao aprovar a Resolução nº 3.281 (XXIX), que
internos, e a cada país caberia fixar o
proclamou a Carta de Direitos e Deveres Econômicos
montante da compensação e processo
legal para obtê-la. Ainda na III UNAD, dos Estados, que consagrava, no Capítulo I, quinze
de Santiago (1972), prenunciaram-se princípios, nos seguintes termos:
novos desenvolvimentos, como a acen-
tuação de diferenças dentro do ‘Grupo As relações econômicas, políticas e de
dos 77’ (de países em desenvolvimen- outra índole entre os Estados se rege-
to), e a iniciativa mexicana propondo a rão, entre outros, pelos seguintes prin-
elaboração de uma Carta de Direitos e cípios:
Deveres dos Estados. a) Soberania, integridade territorial e
independência política dos Estados;
Outras reuniões da UNTAD foram realizadas b) igualdade soberana de todos os
Estados;
como a de Nairobi, em 1976 e a de Manila em 1979.
c) Não-agressão;
Todas elas, segundo Fonseca (1995, p. 110-111) com d) Não-intervenção;
o objetivo básico de “promover o comércio inter- e) Benefício mútuo e eqüitativo;
nacional para acelerar o desenvolvimento, preconi- f) Coexistência pacífica;

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g) Igualdade de direitos e livre determi- vor dos países mais desfavorecidos em busca de sua
nação dos povos; independência econômica real.
h) Solução pacífica das controvérsia;
i) Reparação das injustiças existentes
Poder-se-ia dizer que os fundamentos da NOEI
pelo império da força que privem a seriam: a soberania dos Estados, compreendida não
uma nação dos meios naturais ne- só no aspecto político, como já se esclareceu retro; a
cessários para seu desenvolvimento igualdade soberana dos Estados; a cooperação inter-
normal;
j) Cumprimento de boa-fé das obriga-
nacional e a interdependência econômica dos mem-
ções internacionais; bros da sociedade internacional.
k) Respeito dos direitos humanos e das Fala-se até em direito ao desenvolvimento,
liberdades fundamentais; que Michel Bélanger classifica como individual e
l) Abstenção de todo intento de buscar
coletivo, de segunda e de terceira geração3 e define
hegemonia e esferas de influência;
m) Fomento da justiça internacional; como: “o direito à vida, o direito a um nível mínimo
n) Cooperação internacional para o de- de alimentação, de vestuário, de habitação e de cui-
senvolvimento; dados médicos, o direito a um mínimo de seguran-
o) Livre acesso ao mar e desde o mar
ça e inviolabilidade pessoal, o direito à liberdade de
para os países sem litoral dentro do
marco dos princípios acima enun- pensar e de consciência.”
ciados.” A definição colacionada evoluiu atualmen-
te para o conceito de desenvolvimento sustentado,
Maurice Byé (apud FONSECA, 1995, p. 115), abrangendo o direito ao meio ambiente equilibrado,
destaca, ainda, outros aspectos de relevância: “A à preservação dos recursos naturais, etc.
Nova Ordem Econômica Internacional está orienta-
da para o desenvolvimento real dos povos dos paí- 3 CONCLUSÃO
ses em desenvolvimento através de uma política de
industrialização em profundidade internacional sob Ao cabo desse pequeno panorama a respeito
forma de uma ajuda acrescida e concedida sem qual- da constituição e repercussão da Ordem Econômica
quer condição política ou econômica.” Internacional, percebe-se que se evoluiu conside-
Outros documentos importantes consagraram ravelmente, partindo-se de um regime de completa
princípios da natureza dos supra-alinhados, como dominação4, sem qualquer consideração a respeito
o do Clube de Roma, criado em 1968 (anterior à das dificuldades econômicas e do desenvolvimento
Resolução nº 3.281) e a Conferência de Estocolmo, dos Estados do sul, para o estabelecimento de uma
que previam recomendações de não desperdício dos Ordem em que se leva em conta, para a fixação das
recursos naturais e artigos alimentícios e facilitavam regras econômicas que nortearão as relações interna-
a transferência de tecnologia. cionais, do perfil de desenvolvimento do ator envol-
O Direito Internacional Econômico, com a vido nas operações.
nova Ordem Internacional Econômica, aos poucos, Sobretudo após a realização da Conferência de
passa a predominar como transformador e não me- Bandung, notou-se uma mobilização internacional,
ramente como código de condutas; eis que essa fei- cada vez mais acentuada no sentido de levar em con-
ção assumida na época neoliberal do pós-guerra não ta o estágio econômico dos países, valores de impor-
satisfaz os propósitos da nova sociedade econômica tância a todas as nações, como os recursos naturais,
internacional, sensível ao descompasso de desenvol- etc. no estabelecimento de princípios diretores das
vimento entre países ricos e pobres. relações econômicas internacionais e hoje, fala-se
O novo Direito Internacional Econômico vem em globalização da economia, fenômeno que se tem
a consagrar princípios como o de intervenção em fa- alastrado no cenário mundial.

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International economic order

Abstract
The construction of an international and econo- digm. Its perspective transits from the idea of the
mic order passes by stages necessarily associated freedom of commerce to the notion of sustainable
with the commerce, policies and international re- development.
lations. In this context is situated the develop- Keywords: International economic law. International
ment notion that is defined by the practised para- economic order.

Notas explicativas
1 A divisão dos períodos bem como as informações que se seguem foram baseadas na multireferida obra de Dominique Carreau, Patrick
Juillard e Thiébaut Flory.
2 Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio.
3 Segundo Vasak e outros autores, o direito ao desenvolvimento pertenceria aos direitos de terceira geração, como cita Paulo Bonavides: “A

teoria, com Vasak e outros, já identificou cinco direitos de fraternidade, ou seja, de terceira geração: o direito ao desenvolvimento, o direito
à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação.”(apud
BONAVIDES, 1994, p. 523).
4 Isso não quer significar que a dominação de determinado grupo de países economicamente mais fortes não perdure, mas que se abriu espaço

para que os economicamente desfavorecidos de alguma forma se manifestem e participem do processo de regramento das políticas econômi-
cas no cenário internacional.

REFERÊNCIAS

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