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Teoria feminismo tem presumido que existe uma identidade, compreendida pela
categoria MULHERES (deflagra interesses, objetivos, sujeito em nome de quem se
fala, representação política)
INTERSECCIONALIDADE:
Se alguém “é” uma mulher, isto certamente não é tudo que esse alguém é; o termo
não logra ser exaustivo, não porque os traços predefinidos de gênero da “pessoa”
transcendam a parafernália especifica de seu gênero, mas porque o gênero nem
sempre se constitui de maneira coerente ou consistente nos diferentes contextos
históricos, e porque o gênero estabelece intersecções com modalidades raciais,
classistas, étnicas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas.
Resulta que se tornou impossível separar a noção de “gênero” das interseções
políticas e culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida.
A presunção politica de ter de haver uma base universal para o feminismo, a ser
encontrada numa identidade supostamente existente em diferentes culturas,
acompanha frequentemente a ideia de que a opressão das mulheres possui uma
forma singular, discernível na estrutura universal ou hegemônica da dominação
patriarcal ou masculina (p. 20).
Essa forma de teorização feminista foi criticada por seus esforços de colonizar e se
apropriar de culturas não ocidentais, instrumentalizando-as para confirmar noções
marcadamente ocidentais de opressão, e também por tender a construir um “Terceiro
Mundo” ou mesmo um “Oriente” em que a opressão de gênero é sutilmente explicada
como sintomática de uma barbarismo intrínseco e não ocidental (p. 20-21).
A identidade do sujeito feminista não deve ser o fundamento da politica feminista, pois
a formação do sujeito ocorre no interior de um campo de poder sistematicamente
encoberto pela afirmação desse fundamento (p. 23).
Supondo por um momento a estabilidade do sexo binário, não decorre daí que a
construção de “homens” aplique-se exclusivamente a corpos masculinos, ou que o
termo “mulheres” interprete somente corpos femininos. Além disso, mesmo que os
sexos pareçam não problematicamente binários em sua morfologia e constituição (ao
que será questonado), não há razão para supor que os gêneros também devam
permanecer em numero de dois. (p. 24)
Se o sexo é, ele próprio, uma categoria tomada em seu genero, não faz sentido definir
o genero como a interpretação cultural do sexo. O genero não deve ser meramente
concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado (uma
concepção jurídica); tem de designar também o aparato mesmo de produção mediante
o qual os próprios sexos são estabelecidos. Resulta daí que o genero não está para a
cultura como o sexo para a natureza; ele também é um meio discursivo/cultural pelo
qual a “natureza sexuada” ou “um sexo natural” é produzido e estabelecido como “pré-
discursivo”, anterior à cultura, uma superfície politicamente neutra sobre a qual age a
cultura (p. 25).
Seria errado supor que a discussão sobre “identidade” deva ser anterior à discussão
sobre identidade de gênero, pela simples razão de que as “pessoas” só se tornam
inteligíveis ao adquirir seu gênero em conformidade com os padrões reconhecíveis de
inteligibilidade do gênero (p. 37).
Gêneros “inteligíveis” são aqueles que, em certo sentido, instituem e mantêm relações
de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo. Em outras
palavras, os espectros de descontinuidade e incoerência, eles próprios só concebíveis
em relação a normas existentes de continuidade e coerência, são constantemente
proibidos e produzidos pelas próprias leis que buscam estabelecer linhas causais ou
expressivas de ligação entre sexo biológico, o gênero culturalmente construído e a
“expressão” ou “efeito” de ambos na manifestação do desejo sexual por meio da
prática sexual (p. 38).