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Excertos
Da Arquitetura
Marco Polião Vitrúvio
Com base nisso, os antigos que instituíram a decoração mural imitaram primeiramente as variedades e as
disposições dos veios do mármore, e, em seguida, diversos arranjos de triângulos e faixas ocres. Mais tarde,
passaram a imitar até mesmo a forma dos edifícios, as projeturas salientes das colunas e das cumeeiras e,
doutra parte, em locais abertos como as êxedras, em razão da amplitude das paredes, representam frontões
com cenas trágicas, cômicas ou satíricas; passaram a ornamentar os passeios em virtude do comprimento de
seu espaço, com variedades de paisagens, exprimindo, por meio de caracteres bem definidos, as
particularidades dos locais. Assim, pintaram-se portos, promontórios, praias, rios, fontes, estreitos, templos,
bosques, montes, rebanhos, pastores, assim como, em alguns lugares, deixaram grandes pinturas contendo
imagens dos deuses ou ilustrações de fábulas, e também as batalhas da guerra de Tróia, ou as erranças de
Ulisses por diversas paragens, e outras que, tal como essas foram criadas pela natureza. Mas esses exemplos
tomados com base em coisas reais são agora empregados de forma injusta. Com efeito, pintam-se nos tetos
monstros, de preferência a imagens baseadas em coisas reais. Em lugar de colunas, colocam-se cálamos, em
lugar de frontões, enroscaduras estriadas com folhas crespas e volutas, assim como candelabros sustentando
representações de pequenos edifícios, caulículos brotando com volutas das raízes sobre suas cumeeiras,
muitos tendo, sem a menor razão, estatuetas sentadas por cima, e mais canículos repartidos ao meio portando
estatuetas, algumas com cabeças humanas, outras com cabeças de animais que, no entanto, não existem, que
não podem nem poderão vir a existir. Logo novos costumes impuseram-se de tal forma que maus juízes
poderiam tomar por ignorância a força das artes. Como, pois, um cálamo poderia sustentar um teto, ou um
candelabro sustentar os ornamentos de um frontão, ou calículo, tão delgado e tão mole, suportar uma
estatueta sentada, ou de raízes medrarem flores e estatuetas divididas ao meio? E, no entanto, os homens,
vendo essas coisas falsas, não se censuram, mas deleitam-se, nem atinam se alguma delas pode existir ou
não. Pelo contrário, mentes obscurecidas, não conseguem provar, por julgamentos incertos, com autoridade e
com o argumento do decoro, o que pode existir, nem devem auferir seu juízo a pinturas que não sejam
semelhantes ao verdadeiro nem se feitas elegantes segundo a arte, e, por esse motivo, julgá-las corretamente,
a não ser que tivessem as razões certas da argumentação explicadas sem hesitação.
Da Arquitetura (1452)
Leon Battista Alberti
O ornamento é, por assim dizer, um brilho que sustenta a beleza e por assim dizer o seu complemento. Disso
se segue, acredito eu, que a beleza é inata ao belo corpo, perpassando-o completamente, mas o ornamento é
mais uma ilusão inventada a partir da natureza e um componente exterior do que um elemento intrínseco.
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Sobre os recém-inventados adereços nas obras dos pintores e escultores (1747)
Johann Friedrich Reiffenstein
Ao meu ver, tudo gira em torno da seguinte questão: se não é possível inventar ornamentos que satisfaçam ao
mesmo tempo o olho e a razão sadia, e que em sua riqueza exterior contenham simultaneamente uma
verdadeira possibilidade, então porque se busca refúgio no inatural e insípido?
Considerações sobre o verdadeiro gosto dos antigos na arquitetura e sobre o seu declínio em tempos
recentes (1747)
Johann Georg Fünck
Diante de todas as coisas, a atenção [dos antigos] estava voltada para a intenção daquelas obras que queriam
inventar e criar: e assim cada coisa deveria ter, de acordo com a sua natureza, possibilidade e exigência, a sua
razão suficiente. De acordo com isso, não pensavam apenas na perenidade e firmeza, mas também na beleza
de seus edifícios: e como esses admiradores e investigadores atentos da natureza encontraram o universal de
todas as belezas em um padrão agradável e na relação recíproca correta das partes, então eles também não
tiveram quaisquer dúvidas de determinar as belezas de sua arte segundo esses conceitos.
A maioria dos ornamentos dos antigos eram os próprios elementos de suas ordens: cuja relação não resultava
tanto de uma imaginação arbitrária, mas muito mais de certa necessidade; na medida em que cada superfície
nelas não era senão uma ligação firme com as outras partes, e cada ressaltamente, ao lado do adereço, deveria
produzir ao mesmo tempo uma proteção contra vento e intempéries.
[…] não seria mais simples conservar o excelente, o verdadeiro e o esplendor dos antigos como um fio
condutor imutável tanto no que diz respeito às partes principais como dos elementos e dos adereços, do que
indicar por inovações desnecessárias mais a pobreza do que a riqueza do espírito?
As linhas da nossa visão, que não se curvam com a oscilação dos adereços de um lado para o outro, mas
prosseguem constantemente numa linha reta, enervam-se necessariamente quando percebem uma situação
desconfortável numa forma interrompida desta ou daquela maneira, já que uma parte extraída é coberta ou
desfigurada por outra, e em vez do todo se deixa ver apenas partes que se destacam […].
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Breve investigação sobre a origem dos ornamentos, de sua modificação e expansão até o seu atual
declínio, além de algumas propostas bem-intencionadas para o aperfeiçoamento e regramento de todos
os tipos de adereço (1759)
Friedrich August Krubsacius
O Sr. Messonier, um ourives de Paris, cujas obras temos gravadas em bronze, foi um dos primeiros deste
século que produziu algo de novo com a ornamentação de seus vasos. A sua imaginação, o bom desenho, a
fina elaboração e a preciosidade dos metais conferiram uma aparência magnífica às suas criações. Essa
novidade só podia ser desfrutada por algumas mulheres nobres, motivo suficiente para que toda Paris a
considerasse bela. Quem conhece essa cidade, reconhecerá tão bem quanto eu a escravidão da moda e
concordará comigo. Todos os joalheiros se sentiram obrigados a seguir essa nova maneira, de modo a não
perderem clientes. Mas a coisa não parou aí: o gosto desigual cresceu excessivamente em todas as artes,
inclusive nos artesãos que eram capazes de desenhar. Cada um copiou arbitrariamente o desenho, do feio
passou-se ao repulsivo e finalmente produziu-se coisas absurdas. A nobre e excepcional arquitetura era o seu
inimigo mais odiento. A partir da regularidade demonstrada há muito tempo por Vitrúvio e também por
arquitetos e eruditos mais recentes, fica comprovado que: tendo em vista a forma dos homens, sim, de todos
os animais, e levando em consideração a origem do ornamento ele mesmo, essas novas criaturas deveriam
ser consideradas monstruosidades. Apenas alguns arquitetos e construtores foram impelidos a aplicá-los às
suas construções, muitas vezes por ordem dos contratantes. Por esse motivo se vê várias novas construções
na França que, em virtude de grandes equívocos arquitetônicos e da aplicação destes ornamentos, constituem
um todo risível.
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Noções preliminares para uma teoria dos ornamentos (1793)
Karl Phillip Moritz
O adereço é contraposto ao que é desajeitado, à massa pesada, ao rude. O espírito humano é sempre ativo, ele
não pode tolerar massas regulares e mortas; ele procura insuflar vida nelas, ele cria e configura a partir de si
mesmo, desde o selvagem miserável, que esculpe o seu arco e conduz sua canoa com o remo, até o artista
mais sublime.
O que é isso senão o impulso interior pela perfeição, que se revela também aqui, que procura fornecer uma
espécie de acabamento ao que se encontra inconcluso e que não possui limites, por meio do que ele ganha a
forma de um todo. —
O mais belo capitel de uma coluna não sustenta e suporta melhor que a pilastra mais grosseira —
A cornija mais preciosas não cobre e aquece melhor que a parede plana —
O homem não quer apenas morar com prazer em uma construção — ele quer também contemplá-la com
prazer — e tantas mãos trabalham para o alimento do olho tanto quanto para o sustento do corpo. —
Por esse motivo, a arte pode se desdobrar incessantemente; pois o olho e o ouvido não se veem jamais
satisfeitos. —
Assim como já na visão do céu abobadado, da campina verde e da folha na árvore a alma, que se encontra
aberta a essa cena com sentidos serenos, se eleva e enobrece imperceptivelmente, assim também o menor
adereço bem pintado pode deleitar a alma por meio do olho e atuar imperceptivelmente sobre o refinamento
do gosto e a formação do espírito. —
Por esse motivo, a ânsia por enfeitar é um impulso nobre da alma, por meio do qual o homem se diferencia
do animal, que satisfaz apenas as suas necessidades — e quando esse impulso não é mal conduzido, então ele
é tão benéfico quando o impulso para a ciência e para a arte elevada. —
Quão grande é o impulso do homem pela beleza pode-se ver já quando ele, mesmo ali onde a beleza não tem
mais lugar, procura encontrar lugar pelo menos para o adereço.
A moldura
A moldura embeleza a pintura na medida em que ela a isola e a separa do convívio das demais coisas que a
rodeiam.
A beleza da moldura e a beleza da imagem fluem de um mesmo e único princípio. — A imagem apresenta
algo acabado em si mesmo; a moldura circunscreve novamente o que é em si mesmo acabado.
A moldura se expande para fora, de maneira que olhamos por assim dizer gradativamente para o santuário
interior, que resplandece através dessa delimitação.
Mediante o valor e a abrangência da pintura se desenha por si mesma a linha limítrofe onde a moldura
adquire uma aparência sobrecarregada e grosseira, e desse modo tudo apareceria como que oprimido.
Assim como a moldura na pintura, as bordas se tornaram em geral, por meio da ideia do isolar e do ressaltar
a partir da massa, ornamentos; a cerca e a cantoneira na parede; a faixa púrbura na toga dos antigos romanos;
o anel no dedo; e, em torno da cabeça, a coroa e o diadema.
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