A disfungao sexual na mulher
Ana Alexandra Carvalheira e Francisco Alien Gomes
1.INTRODUGAO
Deuma forma geral dish 1,80 sexual englo~
ba todas as formas de vivencias insatisfat
las no relacionamento seaual, desde 2 cif
culdade em sentir prazer ou satisagSo até
incapacidade em satsfazer ofa) parceirol).
[Nem todas as dificuldades e insaisfacoes s30
verdadeiresdisfuncbes.Héalturas davida em
que o ajustamento sexual entre duas pessoas
€ mais fill por factores circunstanciais ou
individuals. O stress profssional e 0 stvess da
vida quotidiana nos tempos actuais podem,
por exemplo, criar dificuldades a um relacio-
namento sexual satisfatério. Assim deve-se
reservar 0 termo disfuncio para quando hi
uma situagao concreta, fisica ou psiquica
que tora impossivel a funcso sexual
Problemas e dificuldades no relacionamen-
to Senuais so situagdes frequentes aolongo
da nossa vida. As disfungoes, pelo contrstio,
‘sdo mais raras,estando ligadas a um estado
de satide deficiente a nivel fsico ou mental,
2.CLASSIFICAGAO
A classificacio das disfungdes Sexuals fem
rninas (DSF) esteve até hé 10 anos atrds ba
seada no modelo da resposta sexual huma-
na de Masters e Johnson’, posteriormente
emendado ou reformulade por Kaplan com
2 introdugdo da fase do desejo sexvaF”,
Tratese dum modelo resuitante de uma
‘extensa observacéo clinica bem como de
Figorosa investigagée psicofsiolégica, mas
‘que reflecte rauito mais 8 resposta sexual
masculina do que 2 feminina, Assim, a clas-
sificacao das distungdes femininas fot feita
com base neste modelo linear e sequencial,
ue contemplava trés fases na resposta se-
xual 0 desejo, a excitagdo € 0 orgasmo, Ao
longo de ts décadas (70, 80 € 90), a sexu:
alidade feminina (i sendo analisada através
de inferéncias do conhecimemo da respasta
-masculina, por conseguinte, 0 eu estudo fol
negligencisdo.
Em 1998, realizou-se em Boston a primeira
reuniSo de consenso para discussio da de-
finigdo e classificagao das OSF, que contou
com um grupo multidisciplinar de 19 espe~
cialistas’
0 esquema classificative que aqui se apre-
senta 6 a classificagao norte-americona ~ 2
DSMAV (Diagnostic and Statistical Manuat
ff Mental Dicorccrs - Fourth Edition) na sua
edicdo de texto revisto* com as modifieagoes
Introduzidas pelo consenso de 1998. Depois
deste, foram realizadas mais duas reunides
internacionals de consenso de onde resuk
tou uma proposta de sheracdes no sistema
de classificagso das DSF" no sentido de me-
Ihor reflectir a realidade clinica da sexualida
dedas mulheres.
Disfuncio sexual é uma forma aproprisda e
hheursticamente dul de descrever um pro-
‘blema sexual que resulta, quer de um padrao
imal adaptativo ce resposta psicofisiligica,
‘ou das consequéncias de um processo pato-
légico, hormonal ou provacado por éragas
que interfere com 0 sistema de resposte
secunl’Hé crtéries indispensiveis para que
ma altera¢do da resposta sexual sela const:
derada uma disfungio:
19~ Ser persistente ou recorrente.
— Causa sftimentointerpessoel (DSMAUTRY.
= Causar sofrimento pessoal
(05 diagndsticos de disfuncdo sexual deve
ainda incluirindicagdesrelativamente ao ini-
cio (primaria/secundaria), contexto (gene-
ralizado/situacional) e factores etiolégicos
associados (orgSnicos, psicol6gicos, combi-
riados ou desconhecidos) (Quadro 1),
3. DEFINICOES,
3.1, DESEO SEXUAL HIPORCTIVO
Definido como uma deficiéncia (ov ausén:
cia) persistente ov recorrente de fantasias
sexusis e/ou do desejo para ter actividade
‘senuel ou para a sua receptividade, que cair-
s2 perturbacdo pessoal ou interpessoal. O
julgamento da diminuigso ov ausancia de
deseo e feito pelo clinico, que deve te: em
considerag'o uma diversidade de factores
que afectam 0 desejo sexual como, a dade
e2ocontento da vida pessoal,
‘Uma primeira critica do painel de peritos do
‘consenso acima referido & celatva is (arta
‘sias senuals como principals desencadeantes,
docomportamento sexual. Ainvestigagaoea
prética clinica mostram que os pensamentos
sexuals espontaneas eas fantasias s80 rouito
‘menos frequentes nas mulheres em relagdes
de longa duragao e sexualmente saudéveis.
‘Assini, fa2 pouco sentido que as fentasias
sefvats sejarn um criteno de diagnéstic,
'Na prética clinica, podemos observar que as
mulheres tém um amplo espectro de desen:
cadeantes da actividade sexual ewuito pare
‘além das fantasias sexuais, e que no so
‘contemplados pela DSW-IV-TR Allteraturaea
‘expetiéncia clinica mostram uma diversidade
de razdes« motivacées para o envolvimento
das mulheres na actividade sexual, tais
como fortalecer 0 vinculo emocional, senti-
romse desejadas ou atraentes, entre muilas
‘outtas. Por gutro lado, a clinica fombém nos
_mostra que muitas vezes as mulheres iniciam
actividade sexual sem desejo,e ruitas vezes
‘a excitagio sexual antecede 0 desejo. Assim.
mulher pode nao sentir desejo sexual para
(iar actividade sewual, masse (or abordads
pelo parceiro, poders estar receptiva e envol-
ver-se, € 0 desejo 56 surge posteriormente,
Trata-se da distingso propesta por Bascon"*
entre desejo espontaneo (pensamentos se-
uals fantasias, a consciéncia de querer
sensacdes sexuais.perse, antes de haver qual-
‘quer actividade sexual} e desejo reactivo (em
resposta a estimulos).
Segundo Basson", as mulheres estdo mais
‘conscientes do desejo Sexual espontineo no
Inicio das relacées, sobretudo no estado de
1patkdo, ea maioria das mulheres em relacbes
de longa duragse nga experienciam desejo.
sem haver estimulacio sexual, ndo delxando
por isso de serem sexualmente saudévels.
Quadro 1. Classiicagdo das dsfungées sexs femininas
Didovessio ese sent hiponetivo
‘sero sect
Bdaextasto Difunrin da excnagia
Bidsogssme Disfungéo doorgasmo
Dada dor Obspareunia
Veginismo
120 copieA observacéo clinica mostra que as mulheres
que estéo em relagées novas ou de curt
ra¢fo,elatam maior frequéncia de fantasias =
pensamentos exuals. doque as que estaaem
felagbes de longa duragao. As mulheres em
relagbes de comaromissos longos apresen
{am maior dversidade de razdes ou motiva-
Bes para seenvolverem naactividade serusl,
send que multas delas ndo s30 motivagdes
senuals, como por exemple, o carinho ou 0
vinevlo emacional ov mesmo a necessdade
de confrmar que &esejad pelo parceiro"*
1A qualidade dos estimulos ¢ igy slmente
importante, Assim, dove se: avalada a pos
sibildade da mulher néo extar a receber
estimulagdo sexual adequada e sufclente
par parte do parceiva. O problema do de-
Sojo ou a falta de entusiasino para 0 sexo
deve ser sempre analisade no contexte do
relacao com 0 parceio. Difculdades com a
intimidade emocional, coafitos relacionais,
contextos de hostiidade, ou mesmo a falta
de atraccdo pelo parcel, poderso ser ces-
Ponsiveis pela diminuicao do interesse se-
ral, Aiguns estudos mostram que 0 desejo
sexual ferinino diminul com o aumento da
duragso das relagBes"e & favorecido pela
cexistincia de um nave parceira,
Um cenério menos frequente mas que deve
se¢ considerado, 6 0 problema surgi como
consequencia de uma disfungSo sexual do
parcezo.O cinco deve ainde avalir 0s fac-
{ores psicoligicos e socioculturas na etialo-
418 do problema, A socializngso repressive
Indo favorece a vivéncia lite do pra20r 5
anal, Em consequéncis do duplo padséo de
moral sexual, muther pode facimente in
{emalizar um pers! nassivo e atitudes nog
tivasfacea sexualidade, ave posterionsente