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AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

Dr. Kleyton Carneiro Caetano


Evolução Histórica
 Prisão em Flagrante se eternizava.
 Art. 310, CPP. Alterado pela Lei 12.403/2011.
- De 1940 até 2011: Juiz recebia o flagrante e só concedia
liberdade provisória se, de imediato, verificasse que o agente
praticou o fato em: I- caso de necessidade; II- em legítima
defesa ou III- em estrito cumprimento do dever legal ou no
exercício regular de um direito (art. 19, CP original).
- O juiz também deveria conceder a liberdade provisória caso
não estivessem presentes os requisitos do art. 311 e 312
(prisão provisória), mas na prática isso nunca ocorria.
Previsão Normativa
 Duas convenções internacionais das quais o Brasil é signatário.

 Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de São


José da Costa Rica - CELEBRADO EM 1969 – tendo o Brasil como
signatário, internalizado por meio do Decreto nº 678/92.

 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos – CELEBRADO


EM 1966 - Brasil como signatário, internalizado por meio do
Decreto nº 592/92.
Convenção Americana sobre Direitos Humanos
 “ARTIGO 7. Direito à liberdade pessoal
5. toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem
demora à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada
por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada
em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo
de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condiciona a
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo”.
POLÊMICA 01 - sem demora
POLÊMICA 02 - outra autoridade autorizada por lei a exercer
funções judiciais
Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos
 “ARTIGO 9
3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de
infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à
presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a
exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em
prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão
preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá
constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar
condicionada a garantias que assegurem o comparecimento
da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do
processo e, se necessário for, para a execução da sentença”.
23 anos depois da Carta de Ratificação...
 Omissão Legislativa.
PL 156/2009 – Novo CPP – Traz a figura do Juiz de
Garantias.
PL 554/2011 – Altera o Art. 306 do CPP, instituindo o §5º:
“No prazo máximo de 24 horas após a lavratura do auto
de prisão em flagrante, o preso será conduzido à
presença do juiz para ser ouvido...”.
 Vácuo de Poder?
 Estado de Coisas Inconstitucional – (ADPF 347) – Sistema
Penitenciário.
 O Estado Brasileiro violava sistematicamente o artigo 7, parágrafo 5, do
Pacto de São José da Costa Rica e o artigo 9, parágrafo 3, do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos.
 Encaminhava-se cópia do Auto de Prisão em Flagrante para o juiz que
analisava a legalidade e necessidade da manutenção dessa prisão cautelar
(art. 306, CPP).
 Essa previsão legislativa mostrou-se insuficiente. Tanto para um efetivo
controle judicial da legalidade e necessidade da prisão provisória quanto
para verificar eventual prática de violência ou desrespeito aos direitos da
pessoa presa. O contato entre o preso e o juiz ocorria meses após a
prisão, apenas na audiência de instrução e julgamento.
 Coube ao CNJ, por meio da Resolução 213/15, e ao STF (ADPF 347, ADI
5240-SP) a implementação e normatização do tema.
DEFINIÇÃO
 CNJ - Trata-se da apresentação do autuado preso em flagrante*
delito perante um juiz, permitindo-lhes o contato pessoal, de
modo a assegurar o respeito aos direitos fundamentais da pessoa
submetida à prisão. Decorre da aplicação dos Tratados de
Direitos Humanos ratificados pelo Brasil.

 ROGÉRIO SANCHES – Instrumento processual que determina que


todo preso em flagrante* deva ser levado à presença de
autoridade judicial no menor prazo possível para que esta
autoridade judicial avalie a legalidade da prisão e a necessidade
de sua manutenção.

POLÊMICA 03 - *Somente prisão em Flagrante?


 CAIO PAIVA - A audiência de custódia consiste, portanto, na condução do
preso, sem demora, à presença de uma autoridade judicial, que deverá,
a partir de prévio contraditório estabelecido entre o Ministério Público e
a Defesa, exercer um controle imediato da legalidade e da necessidade
da prisão, assim como apreciar questões relativas à pessoa do cidadão
conduzido, notadamente a presença de maus tratos ou tortura.

 AURY LOPES JR. - A audiência de custódia, ou audiência de


apresentação*, é o instituto que visa apresentar o preso em flagrante de
imediato à autoridade judiciária, permitindo um contraditório prévio a
ser exercido pelo Ministério Publico, pela defesa e pelo próprio
custodiado, de modo que, o magistrado, em sede de cognição sumária,
irá analisar a legalidade da prisão em flagrante, a necessidade da
conversão em preventiva ou a aplicação das medidas cautelares
alternativas da prisão, além de aferir e resguardar a integridade física e
psíquica do preso.
FUNÇÕES
 A Audiência de Custódia imprime-se como instrumento
zelador das GARANTIAS Constitucionais e Internacionais
assumidas pela República Federativa do Brasil.

 A audiência de custódia é entendida como obrigatória pela


CIDH.

 Prevenção de Tortura e violência física e psicológica


praticada em desfavor do preso.

 Combate ao encarceramento em massa.


Posição Hierárquica TIDH
 Hierarquia definida pelo STF - HC 95967/MS, RE 349.403/RS, entre
outros.
 DIREITO PROCESSUAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL.
PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA. ALTERAÇÃO DE ORIENTAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DO STF. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. A matéria em julgamento
neste habeas corpus envolve a temática da (in)admissibilidade da prisão civil
do depositário infiel no ordenamento jurídico brasileiro no período posterior ao
ingresso do Pacto de São José da Costa Rica no direito nacional. 2. Há o caráter
especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis Políticos (art. 11) e da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica
(art. 7°, 7), ratificados, sem reserva, pelo Brasil, no ano de 1992. A esses
diplomas internacionais sobre direitos humanos é reservado o lugar específico
no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da
legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de
direitos humanos subscritos pelo Brasil, torna inaplicável a legislação
infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de
ratificação. (HC95967/MS, Rel:Min.ELLEN GRACIE, 2ªT, j:11/11/2008, DJe-227).
AS PREVISÕES DESTES TRATADOS
INTERNACIONAIS SÃO DE APLICAÇÃO
OBRIGATÓRIA?

 SIM. Neste sentido, prescinde de previsão legal específica


em lei ordinária sobre audiência de custódia, para que o
preso seja obrigatoriamente levado, sem demora, à
autoridade judicial.
Ainda que existisse previsão legal em contrário, tal previsão
não estaria acima da Convenção Internacional. Porém,
dispositivos destes Tratados não seriam aplicados se
contrariassem a Constituição Federal.
A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA ESTÁ EM
CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO?
 SIM - CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ART. 5º:

 III – ninguém será submetido a tortura nem a


tratamento desumano ou degradante.
(perfeita consonância, eis que uma das finalidades da
audiência de custódia é a prevenção da tortura)
 XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito.
(direito de liberdade foi cerceado pelo flagrante, portanto o
dever de apresentar o preso ao Juiz, sem demora, está de acordo
com a Constituição Federal, levando à apreciação do Poder
Judiciário a efetiva lesão ao direito de ir e vir do preso imposta
pela prisão)

 XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física


e moral.
(se a audiência de custódia tem a função de prevenir tortura,
coação psicológica, agressão física, ela está adequada ao
dispositivo citado)
 LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à
família do preso ou à pessoa por ele indicada.
(a comunicação é feita pelo Auto de Prisão em Flagrante e também pela
apresentação do preso ao juiz, e o contato direto do preso com o juiz dá
efetividade plena à garantia de comunicação com a autoridade judicial)

 LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais


o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência
da família e do advogado*.
(assim é obrigatória a presença do advogado ou defensor público no momento
da audiência de custódia)

POLÊMICA 04 - interrogatório em delegacia sem a presença do


advogado – Art. 7º XXI Lei 8.906/94.
 LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária.
(nada mais correto do que apresentar o preso diante do juiz, pois
proporciona os melhores meios para aferir sobre a legalidade da prisão e
se considerada ilegal, cumpre o preceito constitucional possibilitando à
autoridade judiciária relaxar imediatamente a prisão)

 LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido,


quando a lei admitir a liberdade provisória com ou sem
fiança.
(conforme o próprio CNJ, dentre os resultados possíveis da audiência de
custódia está justamente a concessão de liberdade provisória com ou sem
fiança, demonstrando mais uma vez que o instituto tem plena
conformidade com o texto constitucional)
Resolução 213/2015 - CNJ
 Art. 1º Determinar que toda pessoa presa em flagrante delito*,
independentemente da motivação ou natureza do ato, seja
obrigatoriamente apresentada, em até 24 horas da
comunicação do flagrante*, à autoridade judicial competente,
e ouvida sobre as circunstâncias em que se realizou sua prisão
ou apreensão.

POLÊMICA 01 - sem demora = 24 HORAS (48 horas na


verdade).
O Delegado tem 24 horas para comunicar a prisão em
Flagrante - Art. 306, § 1º, CPP. Depois, mais 24 horas para a
realização da audiência de Custódia. X PL 554/2011 –
lavratura. X ADPF 347 – Prisão.
STF - ADI 5240 – SP
 Julgou improcedente o pedido, mantendo o provimento 3/2015 TJSP,
que determina a apresentação de pessoa detida, até 24 horas após a
sua prisão, ao juiz competente, para participar de audiência de
custódia no âmbito daquele tribunal.

 Apresentação ao juiz no referido prazo estaria intimamente ligada à


ideia da garantia fundamental da liberdade, qual seja, o “habeas
corpus”. A essência deste remédio constitucional, portanto, estaria
justamente no contado direito do juiz com o preso, para que o
julgador pudesse, assim, saber do próprio detido a razão pela qual
fora preso e em que condições e encontra encarcerado. Instrumento
com previsão legal art. 656 CPP. Esta em consonância com a
convenção internacional e Interpretação teleológica do CPP.
STF – ADPF 347
 No dia 10 de setembro de 2015, os Ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) determinaram a implantação do “Projeto Audiências
de Custódia” no prazo máximo de noventa dias em todo o território
nacional, como uma das medidas necessárias para acabar com o
Estado de Coisas Inconstitucional em que se encontra o sistema
penitenciário brasileiro.
 Estado de Coisas Inconstitucional relativamente ao sistema
penitenciário brasileiro, indicando a audiência de custódia como uma
das medidas a serem tomadas para sanar as violações a preceitos
fundamentais sofridas pelos presos em decorrência de ações e
omissões dos poderes da União, Estados e DF. E determinou o
comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo
máximo de 24 horas contados do momento da prisão.
 Nesta decisão, o STF constatou a crise do sistema carcerário
nacional e adotou uma nova tese importada do direito comparado,
o Estado de Coisas Inconstitucional. O sistema prisional caótico
brasileiro foi considerado inconstitucional pelas constantes
violações aos direitos e garantias dos presos, devendo ser adotadas
várias medidas para remediar esses transtornos, entre elas, a
instituição das audiências de custódia/apresentação nas unidades
da federação e a motivação das decisões encarceradoras,
justificando-se a não aplicação das medidas alternativas do
cárcere, não se limitando a fundamentações genéricas.
 Entra em cena a audiência de custódia, não como política pública
ou como solução para todos os problemas do encarceramento, mas
como instituto jurídico garantidor dos direitos fundamentais e
capaz de frear as prisões em massa.
STF - ADPF 347 MC / DF - DISTRITO FEDERAL
MEDIDA CAUTELAR NA ADPF
CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL – SISTEMA
PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE
PRECEITO FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Cabível é a
arguição de descumprimento de preceito fundamental
considerada a situação degradante das penitenciárias no
Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO
CARCERÁRIA – CONDIÇÕES DESUMANAS DE CUSTÓDIA –
VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – FALHAS
ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL –
CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e
persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas
estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação
depende de medidas abrangentes de natureza normativa,
administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário
nacional ser caraterizado como “estado de coisas inconstitucional”.
FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS – CONTINGENCIAMENTO.
Ante a situação precária das penitenciárias, o interesse público
direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional.
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. Estão
obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto
dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana
de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias,
audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso
perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas,
contado do momento da prisão. (ADPF 347 MC, Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/09/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-031 DIVULG 18-02-2016 PUBLIC 19-02-2016).
POLÊMICA 02 - outra autoridade autorizada por lei a exercer
funções judiciais.
 O DELEGADO DE POLÍCIA não é autoridade habilitada por lei a
exercer funções judiciais.

 O preso (em geral pela Polícia Militar - polícia ostensiva) deve


ser imediatamente apresentado ao Delegado de Polícia (polícia
judiciária).

 O delegado:
- classifica o caso (tipificação);
- analisa se cabe ou não o flagrante (art. 302, CPP);
- caso não entenda pelo flagrante: relaxamento (art. 304, CPP).
- caso entenda pelo flagrante: pode arbitrar fiança. Se paga,
liberta-se o preso(art. 322, CPP).
 No Brasil, a atividade de polícia judiciária é função policial,
não função jurisdicional. Delegado de Polícia é Autoridade
Policial, NÃO É AUTORIDADE JURISDICIONAL e não pode
realizar audiência de custódia.

 Na prática, muitas violações ao livre exercício da advocacia são


praticadas nas Delegacias de Polícia. Exemplos:
- Acesso aos autos (7º XIII);
- Entrevista com o cliente (7º III);
- Acompanhamento de produção de provas (7º, VI, ‘c’);
- Ingressar livremente (7º, VI, ‘b’).
 Somente o Juiz de Direito pode atuar em Audiência de
Custódia, posição extraída da interpretação do Pacto de
São José da Costa Rica, Artigo 8, e da CF, art. 5º, LXII, bem
como do próprio CPP.

 Destaca-se que algumas associações representativas de


Delegados de Polícia buscaram, sem sucesso, o
cancelamento da implementação das Audiências de
Custódia.
POLÊMICA: 03 – Somente prisão em Flagrante?
 NÃO. O próprio art. 13 da Resolução 213/15 prevê
expressamente sua realização nos demais casos de prisão.
Art. 13. A apresentação à autoridade judicial no prazo de 24 horas
também será assegurada às pessoas presas em decorrência de
cumprimento de mandados de prisão cautelar ou definitiva, aplicando-
se, no que couber, os procedimentos previstos nesta Resolução.
Parágrafo único. Todos os mandados de prisão deverão conter,
expressamente, a determinação para que, no momento de seu
cumprimento, a pessoa presa seja imediatamente apresentada à
autoridade judicial que determinou a expedição da ordem de custódia
ou, nos casos em que forem cumpridos fora da jurisdição do juiz
processante, à autoridade judicial competente, conforme lei de
organização judiciária local.
Estatísticas
Brasil – 2016

 Total de audiências de custódia realizadas: 81.439 (83.634 autuados)


 Casos que resultaram em liberdade: 39.709 (47,48%)
 Casos que resultaram em prisão preventiva: 43.925 (52,52%)
 Casos em que houve alegação de violência no ato da prisão: 4.646 (5,56%)
 Casos em que houve encaminhamento social/assistencial: 9.272 (11,09%)
 Fonte: CNJ - 2017
Ano 1990
90 mil presos – 140 milhões de habitantes

2013 – 581 mil presos / 2014 – 622 mil presos

Ano 2017
726 mil presos para 386 mil vagas / 40% provisórios e 64% negros

Ano 2018
* 800 mil presos
* 215 milhões de habitantes
 De 1990 até 2018 a população carcerária aumentou 900%
enquanto a população total sequer dobrou.

 Com mais gente presa, a sensação de segurança aumentou?

 Com penas cada vez maiores, o cometimento de crime


diminuiu?

DE 1940 ATÉ 2015 MAIS DE 150 NOVAS LEIS PENAIS

 “E quanto mais o povo acredita na magia da lei penal mais


severa, mais ele é vitimizado pelos políticos e governantes
demagogos, aproveitadores e aduladores da vontade popular”
(Luiz Flavio Gomes).
Estado de Goiás
 1ª Audiência de Custódia foi realizada em 10/08/2015
Audiência de Custódia em Goiás
 Implantação: RESOLUÇÃO Nº 35, DE 22 DE JULHO DE 2015 – Corte
Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
Modifica parcialmente a competência da Sétima Vara Criminal da
Comarca de Goiânia e institui o Projeto Audiência de Custódia no
âmbito da mesma Comarca.
TÍTULO I
DO PROJETO AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Art. 1°. Fica instituído na comarca de Goiânia, o Projeto Audiência
de Custódia, em virtude do qual toda pessoa presa em flagrante
deverá ser apresentada, sem demora*, ao juiz competente.
* Em 09/09/2015 foi julgada a Medida Cautelar na ADPF 347 – 24
horas.
Art. 2°. O segundo juiz de direito da Sétima Vara Criminal da comarca
de Goiânia passa a ter competência exclusiva para:
I – realizar as audiências de custódia e nelas deliberar acerca das
medidas previstas nos artigos 310, 318 e 319 do CPP (...) exercer o
controle da sua legalidade e salvaguardar os direitos individuais (...).
II – exercer o controle de legalidade dos demais APF, nos quais a pessoa
não seja mantida presa pela autoridade policial;
III – apreciar e decidir todos os procedimentos penais constitucionais,
cautelares e contracautelares protocolizados antes da distribuição do
inquérito policial, procedimento de investigação criminal ou peças de
informação (...) criminais da comarca de Goiânia.
§1º (...) não prejudica a apreciação de pedidos cautelares e
contracautelares pelos juízes que estiverem em plantão judiciário.
 Depois de realizada a Audiência de Custódia, os autos eram
distribuídos eletronicamente.
Art. 2º, §2º - NÃO serão realizadas audiências de custódia
durante os plantões judiciais ordinários e de fins de semana.

 Até Julho de 2017 não eram realizadas audiências de custódia


aos finais de semana, até que a Dra. Maria Socorro, diretora do
foro da Comarca de Goiânia, baixou portaria determinando a
realização de audiência de custódia durante os finais de
semana. PORTARIA N° 404, 05 de junho de 2017.

 Até Dezembro de 2017 não eram realizadas audiências de


custódia durante o Plantão do Recesso Forense, até que a Dra.
Maria Socorro, diretora do foro da Comarca de Goiânia, baixou
portaria determinando a realização de audiência de custódia
durante o Recesso Forense. PORTARIA N°844/2017.
Consequências de um Projeto Estruturado
Reincidência no Brasil
 70% são presos novamente (criminógena).
 24,4% são condenados novamente em menos de 5 anos (legal).
Fonte CNJ/IPEA 2015.
Reincidência Lei Maria da Penha período Dr. Oscar
 360 presos passaram pelos cursos na CAP (Grupo Reflexivo para
Autores de Violência Doméstica) e desses somente 01 foi preso
novamente.
 0,27% de reincidência!
Até que....
 Muitos Juízes do TJGO são declaradamente contra as
Audiências de Custódia. Aparentemente, a visibilidade e
competência direcionada para o 2º Juiz da 7ª Vara Criminal
de Goiânia causou desconforto.

 Será que é interessante aos Agentes do Sistema a


resolução dos problemas de Segurança Pública?

 Comissão de DH da OAB-GO 2010.


Resolução nº 86, de 25 de abril de 2018
PROAD 201611000021617
 Corte Especial do TJGO - Altera a Resolução nº 35/2015 e dá
outras providências.
 Fere diversos princípios e direitos do Magistrado, em especial a
inamovibilidade.
Art.4º As comunicações de flagrantes serão distribuídas entre
os juízes com competência criminal da Comarca de Goiânia e
os processos terão curso na respectiva unidade, inclusive
para realização da Audiência de Custódia em até 24 horas,
contadas do momento da prisão.
Art.5º O segundo juiz de direito da 7ª Vara Criminal da
Comarca de Goiânia passa a ter competência exclusiva para:
I – a execução das penas dos presos recolhidos nas unidades
estaduais de Formosa e Planaltina, na forma da Lei Estadual
nº 19.962/2018, em cumprimento de pena no regime
fechado;
II – a execução das penas no regime semiaberto e aberto,
concorrente e equitativamente com a competência
jurisdicional da 2ª Vara de Execução Penal de Goiânia.
Parágrafo único. A metade do acervo de processos referentes
aos presos em regime aberto e semiaberto, bem como os
seus incidentes, em curso na 2ª Vara de Execução Penal, será
redistribuída para o segundo juiz da 7ª Vara Criminal da
Comarca de Goiânia, por sorteio.
Violência Policial
 A Audiência de Custódia possibilita a diminuição dos casos
de Tortura e violência policial.
 Sabendo que toda pessoa presa será apresentada a um juiz
rapidamente, a Audiência de Custódia funciona como
impeditivo de eventuais condutas de violência ou tortura
de policiais.
 Casos Concretos:
Função do Advogado na Audiência de Custódia

1º Função do Advogado:
Conhecer o Juiz que realizará a Audiência de
Custódia
2º Função do Advogado:
Relaxar o Flagrante. Art. 310, I, CPP
 Provar que não estava em situação flagrancial – Art. 302 CPP.
Não estava cometendo a infração; ou acabado de cometê-la;
ou perseguido logo após; ou com instrumentos, armas ou
objetos que presumam ser o autor da infração.

 Fato é atípico.

 Negativa de autoria
3º Função do Advogado:
Prisões Especiais
 Filhos: Mulher: Provar gravidez / filho menor de 12 anos / filho
deficiente. Para homem, provar que é o único responsável pelo filho.
Art. 304, §4º, CPP – Art. 318, IV, V, VI, CPP – Lei 13.257/16
(Estatuto da Primeira Infância)
PODERÁ X DEVERÁ – vide STF - Habeas Corpus (coletivo) nº
143.641/SP. A 2ª Turma do STF concedeu a ordem para determinar
a substituição da prisão preventiva por domiciliar de mulheres
presas, em todo o território nacional, que sejam gestantes ou
mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas com deficiência.
 Doença mental.
 Prerrogativas do custodiado – Cela Especial e Estado Maior –
Constar*.
4º Função do Advogado:
Liberdade Provisória e Cautelares
 Comprovante de Residência Fixa.
 Comprovante de Emprego Lícito.
 Comprovante de vida social, filhos que dependem do custodiado.
 Não estão presentes os requisitos da Prisão Preventiva – Art. 312 CPP.
 Concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança - Art. 310, III,
CPP.
 Aplicação das Medidas Cautelares do Art. 319 do CPP.
 Demonstrar a desproporcionalidade da prisão preventiva:
regime equivalente ao fechado, comparar com a provável
pena em caso de condenação, pois a prisão cautelar não pode
ser a punição mais gravosa, haveria ilegal antecipação de
pena.

 Crime cometido com violência, em especial os patrimoniais:


decreto de prisão não fundamentado: revogação em HC
5º Função do Advogado:
Prerrogativas e Regras de Mandela
 Exigir Entrevista pessoal e reservada (art. 7º, III).
 Constar no termo o uso de algemas (Súmula Vinculante nº 11 STF).
 Nulidade do ato: interrogatório no APF sem advogado. Art. 7, XXI Lei
8.906/94, com fulcro na teoria da prova ilícita por derivação –
constar em ata.
 Juiz não pode adentrar no mérito do crime – Usar da expressão “Pela
Ordem” e fazer constar em Ata – gravar ARt. 367, §5º, CPC.
- Audiência de Custódia não faz prova para o mérito.
- Não pode haver interrogatório judicial nessa audiência.
- Não pode haver a juntada deste depoimento aos autos principais:
seria prova ilícita.
RECURSOS POSSÍVEIS – HABEAS CORPUS*
 Audiência de Custódia não realizada em 24 horas
- Habeas Corpus para determinar a realização, em sede liminar
- Prisão Ilegal: requer relaxamento de imediato.
- Cabe Reclamação junto ao STF, em desfavor do juízo* que não
promoveu a Audiência de Custódia.
 Prisão Preventiva decretada sem Audiência de Custódia
- Jurisprudência pacífica: Não cabe Habeas Corpus alegando a
nulidade da prisão preventiva decretada
- O Título é outro, que está superado, que a realização da
Audiência de Custódia não está no art. 312 do CPP como
requisito da cautelar.
FUNDAMENTO PARA HABEAS CORPUS
 Obrigação do Poder Judiciário na implementação total do
instituto:
Não estando a realização dentro da discricionariedade do
Magistrado. ADPF 347 - AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA –
OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA do comparecimento do
preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo
de 24 horas.
 Ausência de oportunidade de produção de provas que
infirmem a necessidade da preventiva, gerando prejuízo ao
custodiado.
 Os requisitos de validade para a homologação do Auto de
Prisão em Flagrante incluem a prévia realização da
Audiência de Custódia, por força da resolução 213/15 do
CNJ, sendo absolutamente nulo o APF homologado sem que
seja realizada tal audiência, contaminando todos os atos
posteriormente produzidos, em especial, o decreto de
prisão preventiva, com fulcro na teoria da prova ilícita por
derivação (frutos da árvore envenenada), de plena
aplicação no ordenamento jurídico brasileiro.
Dr. Kleyton Carneiro Caetano
OAB-GO 26.073
Advogado Criminalista
Especialista em Direito Penal
Especialista em Direito Processual Penal
Especialista em Criminologia
Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-GO
Secretário da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB-GO

Fone: (62) 9 9227-9751


Instagram: kleytoncaetano
Email: kleyton.advogado@gmail.com

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