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Governo do Estado do Rio Grande do Sul – Secretaria da saúde (SES/RS); Fundação Estadual de Produção e
Pesquisa em Saúde (FEPPS); Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS). 2016
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Saúde. Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde. Centro de
Informação Toxicológica.
Manual de Acidentes por Animais Peçonhentos e Venenosos para Agentes Comunitários de Saúde / Organizado
por Kátia Rosana Lima de Moura da Silva, Maria da Graça Boucinha Marques e Alberto Nicolella. – Porto Alegre: CIT/
RS, 2016. 72. p.
1. Animais Peçonhentos. 2. Prevenção de Acidentes. 3. Primeiros Socorros. I. Silva, Kátia Rosana Lima de Moura
da. II. Marques, Maria da Graça Boucinha.
Este Manual é parte integrante do Curso de Prevenção de Acidentes por Animais Peçonhentos, produzido pelo CIT/RS e pelo
TelessaúdeRS-UFRGS
Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Sumário
Apresentação 4
Aranhas 5
Principais aranhas 8
Situações de risco para acidentes com aranhas 11
Medidas de prevenção de acidentes com aranhas 12
Escorpiões 13
Principais escorpiões 15
Ação do veneno 18
Locais de Risco 19
Medidas de prevenção 20
Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Apresentação:
Este manual foi elaborado por técnicos do Centro de Informação Toxicológica do Rio grande do Sul (CIT/RS),
como material de apoio ao Curso de Prevenção de Acidentes por Animais Peçonhentos realizado em parceria com o
Núcleo de Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS).
O objetivo do curso é auxiliar os profissionais de saúde da Atenção Primária à Saúde a identificar os animais de
interesse toxicológico, locais e situações de risco, realizar coletas com segurança, reconhecer os acidentes causados
e tomar as primeiras providências frente a casos de picada ou contato com estes animais.
O CIT/RS mantém um plantão de emergência atuando 24 horas por dia, sete dias por semana, que pode ser
acionado através do telefone 0800.721.3000 frente a acidentes com animais peçonhentos.
Desenvolve, também, ações e programas relacionados à pesquisa, educação e prevenção de acidentes com
animais peçonhentos ou venenos e plantas tóxicas em nosso Estado. Mantém uma estrutura de diagnóstico a
distância por imagem em apoio ao plantão de emergência.
Esperamos que este manual seja uma ferramenta importante às diversas equipes de saúde na identificação e
manejo de acidentes com animais peçonhentos e venenosos.
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Aranhas
As aranhas são animais quelicerados, ou seja, possuem quelíceras, que é a estrutura especializada para
inocular o veneno.
Esta estrutura é formada por duas partes, uma basal maior e outra dura em formato de ferrão ou dente.
Neste ferrão há um canal por onde passa o veneno proveniente da glândula de veneno.
Apresentam o corpo dividido em duas partes: o cefalotórax, que seria a cabeça fundida com o tórax e
o abdômen, e estas duas partes são ligadas por uma estrutura chamada de pedicelo. No cefalotórax ficam
localizados os olhos, geralmente em número de seis ou oito, dispostos em duas ou três fileiras, um par de
pedipalpos, que apresenta função sensorial, um par de quelíceras, e os quatro pares de pernas.
As aranhas são ovíparas. Os ovos são esféricos e raramente ultrapassam um centímetro de diâmetro.
Podem ser brancos, amarelados, rosados ou até mesmo esverdeados. Para proteger os ovos da ação de
predadores e de parasitas e também da umidade e temperaturas extremas, as aranhas fazem uma postura em
massa, ou seja, os ovos são aglutinados em um envoltório chamado de ooteca.
Foto CIT/RS
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
HÁBITOS E HABITAT
As aranhas são predadoras, geralmente solitárias, e possuem hábitos diurnos e noturnos. Vivem em
teias geométricas ou irregulares, ocupam buracos naturais no solo, em fendas de barrancos, em árvores e
arbustos, sob troncos podres, em cupinzeiros, em bromélias. Algumas podem viver domiciliadas, dentro das
residências, em depósitos, garagens e outras construções. Habitam praticamente todas as regiões da terra
com exceção da Antártica. São encontradas em vários ecossistemas, inclusive na água. Têm como inimigos
naturais os pássaros, lagartixas, sapos, rãs e outras aranhas, entre outros.
Foto CIT/RS
ALIMENTAÇÃO
Foto CIT/RS
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
CLASSIFICAÇÃO
As aranhas são divididas em duas infraordens de acordo com a inserção, posição de suas quelíceras.
As Mygalomorphae, conhecidas como falsas aranhas, cujas quelíceras se posicionam de forma paralela ao
eixo do corpo e tem como principal representante a caranguejeira. As Araneomorphae, conhecidas como
aranhas verdadeiras, possuem as quelíceras posicionadas transversalmente ao eixo do corpo.
Mygalomorphae Araneomorphae
Todas as aranhas são peçonhentas, isto é, possuem glândula produtora de veneno e aparelho
inoculador. O veneno e suas características é que variam de acordo com a espécie de aranha envolvida e,
portanto, caracteriza o acidente e sua gravidade.
Existem mais de 40.000 espécies de aranhas, mas a Organização Mundial de Saúde considera apenas
quatro gêneros de aranhas importância médica, capazes de causarem acidentes graves: Phoneutria,
Loxosceles, Latrodectus que ocorrem no Brasil e o gênero Atrax, uma caranguejeira encontrada no
continente australiano.
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
PRINCIPAIS ARANHAS
Foto CIT/RS
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Latrodectus mirabilis
Foto CIT/RS
Foto CIT/RS
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Foto CIT/RS
Foneutrismo
Os acidentes graves são raros, sendo praticamente restritos aos acidentes com crianças.
O tratamento para dor local deve incluir um analgésico sistêmico e a realização de bloqueio
anestésico por infiltração local.
Como tratamento específico, a soroterapia (Soro Antiaracnídeo) é formalmente indicada nos casos
de manifestações sistêmicas em crianças e, obrigatoriamente, em todos os acidentes graves.
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Loxoscelismo
O veneno tem ação local proteolítica local e manifestações sistêmicas. A picada é indolor. Há
dois tipos de loxoscelismo: o cutâneo e o visceral. A forma cutânea do loxoscelismo é a mais comum, e é
caracterizada por uma “lesão em alvo”, com um ponto necrótico ou uma área de necrose central circundada
por halo isquêmico e eritema. O loxoscelismo cutâneo-visceral (cutâneo-hemolítico) é a forma mais
grave do acidente e caracteriza-se pela hemólise intravascular associada à presença de lesão cutânea.
Os pacientes podem evoluir para um quadro de insuficiência renal aguda (IRA); secundariamente, à
hemólise; e há probabilidade de evolução para rabdomiólise, decorrente do extenso dano tecidual no
local da picada e da coagulação intravascular disseminada (CIVD).
O tratamento será sintomático para os casos leves sem presença de necrose e de soro antiaracnídeo
ou soro antiloxoscélico para casos moderados e graves.
Latrodectismo
É o nome do acidente causado por aranhas do gênero Latrodectus. O veneno tem ação neurotóxica
central e periférica, caraterizado pela dor intensa no local da picada que pode persistir por até 48 horas.
Podem ocorrer manifestações sistêmicas, como contraturas musculares generalizadas e miagia intensa
que podem evoluir para convulsões. Pode ocorrer também dor abdominal intensa, um quadro bem
similar ao de abdome agudo. Outros sintomas que caracterizam a fácies latrodectísmica podem ocorrer.
Em casos mais graves, podem ocorrer taquicardia e hipertensão, seguidos de bradicardia, arritmias,
fibrilação atrial entre outros.
Devemos evitar as situações de risco, como locais e ambientes que proporcionam abrigo e
alimentação para as aranhas. Evitar acúmulo de lixo e vegetação pouco cuidada perto das residências.
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Escorpiões
CARACTERÍSTICAS
Os escorpiões, assim como as aranhas, são aracnídeos (possuem quatro pares de patas). Apresentam
o corpo alongado, dividido em carapaça e uma cauda longa que apresenta no final um aguilhão pelo qual é
inoculado o veneno.alimentação para as aranhas. Evitar acúmulo de lixo e vegetação pouco cuidada perto
das residências.
Pedipalpos
Olhos
Prossoma (carapaça)
Pré-abdômen
Mesossoma (tronco)
Abdôben
(Opistossoma)
Pós-abdômen
Metassoma (Cauda)
Télson
Foto CIT/RS
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HÁBITOS E HABITAT
Todos os escorpiões são terrestres e são encontrados nos mais diversos ambientes. A maioria
apresenta hábitos noturnos. Durante o dia, os escorpiões procuram abrigo embaixo de pedras, telhas,
madeiras e troncos em decomposição e à noite, saem à procura de alimentos. Nas residências, podem se
esconder dentro de calçados ou em roupas caídas no chão. São mais ativos durante os meses mais quente
do ano.
ALIMENTAÇÃO
São animais carnívoros, alimentando-se de outros animais, como aranhas, insetos, principalmente
baratas. Não possuem inimigos naturais específicos, como muitas espécies animais, mas as aves, em especial
as galinhas, podem ser aliadas no controle destes animais, apesar de as aves possuírem hábitos diurnos e os
escorpiões serem, como já vimos, em maioria, noturnos. Podem também ser predadores, camundongos,
sapos, lagartos, lacraias, entre outros.
Foto CIT/RS
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PRINCIPAIS ESCORPIÕES
Com mais de 1000 espécies de escorpiões conhecidas pelo mundo, cerca de 25 apresentam interesse
toxicológico. Todas as espécies de escorpiões consideradas de importância médica pertencem à família
Buthidae. No Brasil, apenas algumas espécies do gênero Tityus podem causar acidentes graves.
Serrilha
Foto CIT/RS
Elas se reproduzem por partenogênese, um processo em que os óvulos começam a se dividir sem ter
tido a fusão com espermatozoides. Este fato aliado a facilidade de adaptação a qualquer ambiente facilita
muito a sua dispersão.
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Apresenta tronco escuro e pernas e cauda marrom-avermelhadas, com manchas escuras. Não
possuem serrilha na cauda, e os adultos medem cerca de 7 cm. O macho é diferenciado da fêmea por possuir
pedipalpos mais volumosos. Sobrevivem bem em áreas urbanizadas porém são menos numerosos que T.
serrulatus nessas áreas.
Assim como em T. serrulatus, também possui uma serrilha, menos acentuada, nos 3º e 4º anéis da
cauda. Embora existam machos e fêmeas desta espécie, podem se reproduzir por partenogênese. É o
principal causador de acidentes na Região Nordeste, muito encontrado em áreas residenciais.
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Também são registrados acidentes por outras espécies do gênero Tityus, porém, sua incidência e
gravidade são menores. Além do gênero Tityus, outros gêneros podem causar acidentes como os dos gêneros:
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Bothriurus sp., escorpião bastante comum em todo o Brasil, encontrado em nos jardins e quintais de áreas
urbanas. Apresenta coloração preta ou marrom escura ou corpo escuro com patas marrom mais claras.
AÇÃO DO VENENO
Os acidentes são classificados em leves, quando ocorrem predominantemente sintomas locais,
sendo que a dor está presente em praticamente todos os casos. Ocasionalmente podem ocorrer vômitos,
taquicardia e agitação discretas, muitas vezes associadas a quadros de ansiedade.
Os acidentes moderados e graves são causados pelos quatro escorpiões de interesse médico: Tityus
serrulatus, T.bahiensis, T.stigmurus e T.obscurus.
Acidentes moderados são caracterizados pela dor local e manifestações sistêmicas de média
intensidade como sudorese, náuseas e vômitos, hipertensão arterial, taquicardia, taquipnéia e agitação.
Nestes casos existe a necessidade da utilização de soro antiescorpiônico ou aracnídico.
Nos acidentes graves, as manifestações sistêmicas são intensas como: vômitos profusos e
frequentes, sudorese generalizada e abundante, pilo ereção (pele arrepiada), palidez, agitação alternada
com sonolência, hipotermia, taquicardia ou bradicardia, extra-sístoles, hiperpnéia, tremores, espasmos
musculares, hipertensão. Pode evoluir para choque cardiorrespiratório e edema agudo de pulmão que são
as causas dos óbitos no escorpionismo.
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LOCAIS DE RISCO
Margens de rios
Córregos
Riachos
Galerias de águas
Esgotos
Barrancos
Cupinzeiros
Troncos de árvores
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MEDIDAS DE PREVENÇÃO
Fosso de elevador
Caixas de gordura
Pontos de energia
Lixeiras
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Referências bibliográficas:
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Saúde. Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde. Centro de
Informação Toxicológica. Animais peçonhentos [Internet]. Porto Alegre: CIT/RS, 2016. Disponível em: http://
www.cit.rs.gov.br/. Acesso em: 11 nov. 2016.
SILVA, K. R. L. M.; MARQUES, M. G. B. M; NICOLELLA, A. (Org.). Manual de acidentes por animais peçonhentos
e venenosos. Porto Alegre: CIT/RS, 2016.
O e-book “Manual de acidentes por animais peçonhentos e venenosos” será fornecido gratuitamente a
todos os alunos do curso.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
AZEVEDO-MARQUES, M. M.; HERING, S. E.; CUPO, P. Acidente crotálico. In: CARDOSO, J. L. C. et al. Animais
peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2003. p.91-98.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de controle de escorpiões. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 72 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento dos acidentes por animais peçonhentos.
Brasília: Ministério da Saúde, 1998. 131 p.
FENWICK, A. M. et al. Morphological and molecular evidence for phylogeny and classification of South
American pitvipers, genera Bothrops, Bothriopsis, and Bothrocophias (Serpentes: Viperidae). Zoological
Journal of the Linnean Society, Londres, v. 156, n. 3, p. 617-640, 2009.
FRANÇA, F. O. S.; MÁLAQUE, C. M. S. Acidente botrópico. In: CARDOSO, J. L. C. et al. Animais peçonhentos
no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2003. p. 72-86.
LEMA, T. Os répteis do Rio Grande do Sul: atuais e fósseis – biogeografia – Ofidismo. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2002. 264 p.
LUCAS, S. M. Aranhas de interesse médico no Brasil. In: CARDOSO, J. L. C. et al. Animais peçonhentos no
Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2003. p.141-149.
WEN, F. H.; DUARTE, A. C. Acidentes por Lonomia. In: CARDOSO, J. L. C. et al. Animais peçonhentos no Brasil:
biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2003. p.224-232.
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Módulo 3 - Aranhas e Escorpiões
Equipe Responsável:
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do Núcleo de
Telessaúde do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS) e do Centro de Informação Toxicológica (CIT/RS).
Projeto Gráfico
Luiz Felipe Telles
Ao Prof. Dr. Paulo Sérgio Bernarde, que gentilmente cedeu parte das fotos utilizadas no Guia e no módulo sobre
serpentes, nosso muito obrigado.
www. telessauders.ufrgs.br