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Frederico Celentano
Ciclo IV, quinta-feira, período noturno.
No presente texto, procuro dar sequência à quelas reflexõ es sob um outro ponto
de vista. O da releitura dos subtextos, do que está na sombra do escrito e das
possibilidades interpretativas.
Você é o que você come, mas se poderia inverter a proposta: você come o que
você é. E você é o seu desejo. O sujeito vivencia o mundo, absorve, significa,
introjeta o que lhe é externo segundo o desejo que lhe foi significado, ingerido.
Indivíduos nã o criados para a linguagem simbó lica estã o em uma verdadeira
prisã o em que a vida afetiva definha, os obesos inflam, da mesma maneira, pelo
alimento nã o significado e os anoréxicos definham por nã o se sentirem aptos,
por nã o merecerem nada. Ambos comem nada. Só deixam à mostra nos seus
corpos o que nã o é para ser visto, os ossos e a gordura.
Sem poder sonhar, sem poder exercer a vida simbó lica, aparecem as sensaçõ es
corporais. Fugas somá ticas que surgem no lugar das fantasias. O anoréxico cria
um espaço estéril entre ele e o outro, já que só pode se oferecer ao desejo do
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Cf. citaçõ es dos sites no meu texto “A ANOREXIA: ENTRE DESEJO, SATISFAÇÃ O E LIBERTAÇÃ O”,
http://metapsicologia.net/category/disturbios-alimentares.
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Conceito forjado por Breuer e retomado por Freud em “Além do princípio de prazer” sob uma
outra ó tica: a energia livre nã o integra o Eu e escapa ao processo secundá rio que fornece as
significaçõ es.
outro que aparece materializado no corpo real, na carne e num imaginá rio
distorcido. Um fenô meno que articula elementos psicó ticos e histéricos, onde a
boca se fecha para a comida na mesma proporçã o que a mente burla a
possibilidade de pensar e sentir o desejo, a satisfaçã o, a dor.
Uma obsessã o que flerta com a psicose e a histeria. Sintoma complexo que parece
fugir à s categorias quando além de se oferecer, como sacrifício, ao outro, a um
ideal de perfeiçã o, inscreve-se plenamente nos registros desse outro, alucinando
a perfeiçã o que se contrapõ e a um corpo que se vê tanto mais distorcido quanto
o ideal se reforça numa iconografia ascética. Pois a perfeiçã o é ascética, nã o dá
margem ao erro e, portanto, à possibilidade de aperfeiçoamento, à diversidade
que só se cria no erro. Nã o há tentativa possível se nã o se aceita o errar. Só há a
repetiçã o do mesmo, a pulsã o de morte em seu estado mais primitivo.
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McDougall, J., “Conferências brasileiras: corpo físico, corpo psíquico, corpo sexuado, Xenon,
1987.
seja, se a funçã o paterna nã o está presente no universo psíquico da mã e, nã o
poderá cumprir seu papel no da criança.
Interessante notar que, segundo alguns autores (Cf. nota 1 supra), o Supereu que
introjetado na criança é de origem materna. Sem interdiçã o, o Supereu materno
quer tudo, absolutamente tudo, tudo absolutamente. Mas, se nada existe em
termos absolutos, os termos absolutos se transformam em nada. Um nã o-
significado. De fato, na anorexia há uma sensaçã o de débito consigo mesma e
com os outros, renovando-se em busca de um ideal nunca alcançado. A
impossibilidade de nomear essa angú stia favorece a migraçã o do afeto para o
corpo, compondo o elemento propriamente histérico do sintoma. Esse afeto é
destrutivo, carregado de Tâ natos, desfusionado de Eros.
Tâ natos, aqui, nã o é uma força reguladora face à s tensõ es geradas por Eros. É
uma força puramente destrutiva que, em vista da ruptura objetal primitiva do
sujeito anoréxico, volta-se contra o pró prio Eu5.
Conclusão
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Fedida, P., “Nome, figura e memó ria: a linguagem na situaçã o psicanalítica”, Escuta, 1991.
apresentação em figuras do interior da memória das palavras ali onde
a fala do analisando oferece a certeza crédula de suas superfícies”
Bibliografia.