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RESUMO: Este trabalho tem como objetivo discutir a importância do gênero Tweet
para o desenvolvimento das atividades curriculares no ensino da Língua Portuguesa (LP)
como meio de compartilhamento de informações diversas relacionadas às práticas de
interação social. Propor-se-á reflexões a respeito das características linguísticas existentes no
Tweet, o qual é defendido pelo seu valor de gênero textual. Tratar-se-á, numa perspectiva
reflexiva, sobre a importância do compartilhamento do Tweet no ambiente virtual
denominado Twitter, o qual dispõe de diversos subsídios que circulam na íntegra como forma
de instrumentos aos estudantes no desenvolvimento das competências comunicativas e de
aprendizagem dos conteúdos de LP. A precisão dos textos concisos do Tweet auxilia na
produção textual mais objetiva, clara e sincrônica pelos alunos da educação básica. Temos
como base teórica os estudos de Marcuschi (2010), Antunes (2003), Soares (2006) e Libâneo
(2011) além de outros nomes de imensurável relevância. Vimos no Twitter uma imagem da
era pós-moderna dos gêneros e produções textuais, na qual vemos a escrita sendo reinventada
e reconstruindo-se para adaptar-se ao impetuoso avanço tecnológico, seguindo assim as
delimitações de uma linguagem poliédrica, em outras palavras, verificamos no Twitter a
(re)modelagem da informação, na qual toma para si novas vestiduras e combinações
linguístico-modal por está intrinsecamente voltada aos usos reais da língua escrita refletindo
a legitimidade de cada quadro social na qual o gênero é construído, conduzindo em novas
identidades culturais de seus autores e leitores, de forma a se consolidar a atual identidade do
discurso multimodal. O primeiro tópico irá alvitrar a análise desse contexto blogosférico: O
Micro-blogging Twitter. O segundo fará o estudo das competências comunicativas do Twitter,
nessa concepção Antunes (2003) defende que a leitura é um complemento da competência
escrita, na qual prevalece a interação pragmática de indivíduos. A terceira parte aborda o
Twitter como uma ferramenta escolar no ensino do português. Portanto, o trabalho propõe a
utilização do Tweet em sala de aula como um gênero escolar tal como uma adaptação dos
gêneros “jornal escolar” ou “comunicados” – que são os tradicionais trabalhos no ensino de
LP. Pois, este gênero apresenta capacidades de linguagem de documentação e memorização
das ações humanas, em competências descritivas, ou ainda, em competências argumentativas.
Tendo, no fim, a perspectiva que se trata de um aliado no desenvolvimento de práticas de
leitura e de escrita no contexto curricular de LP, por despertar a participação dos jovens,
rompendo as barreiras de uma educação tradicional linear.
ABSTRACT:
KEYWORDS:
MICRO-BLOGGING TWITTER
1
Mestranda em Linguística pela Universidade de Brasília (2015). E-mail: angelaaraujo.portugues@gmail.com
2
“O meio é a mensagem.”
(Marshall McLuhan)
2
https://twitter.com/
3
https://about.twitter.com/pt/company; dados oriundos em maio de 2014.
3
Para Johnson-Eilola (1994), existe uma distinção entre texto e hipertexto, sendo ela a
compreensão de elementos de escrita (texto) que para se caracterizar hipermidiático
interdepende de outros elementos como som e imagem (não textuais, modais), muito presente
em publicações da área da comunicação como TV, Revistas, Jornais, por exemplo. Numa
visão linguística, Marcuschi (2010), argumenta que o hipertexto é caracterizado como uma
probabilidade de dialogar a textualidade em contraste com as teorias textuais e cognitivas,
centrando primordialmente na ideia da produção de sentido.
A ideia era de uma enorme biblioteca, mas com uma grande diferença: todos
poderiam utilizar essa rede para escrever, interconectar-se, interagir, comentar os
textos, filmes e gravações sonoras disponíveis nesse espaço, anotar os comentários
etc (MARCUSCHI. 2010, p. 200).
Como se observa, ao clicar, o usuário terá acesso aos variados conteúdos postados
pelos administradores do perfil e às suas próprias postagens, acompanhando na lista de
Tweets (cf. figura-(2)). Nesse espaço, têm-se os Tweets publicados por quem segue.
Os Tweets são as mensagens que circulam na linha do tempo, com escrita limitada
por apenas 140 caracteres. Ademais, visualmente, não possuem caráter multimodal; neles
contêm textos, e permitem a inserção de imagens, arquivos ou vídeos apenas por meio da
inserção de um link: para isso, o usuário precisará copiar o link de determinada imagem ou
arquivo ou vídeo, e inserir o link do elemento no espaço reservado ao Tweet (cf. figura-(3) e
figura-(4)). Contudo, o tamanho do endereço eletrônico pode ser superior aos 140 caracteres,
pois, automaticamente, o suporte compacta os endereços maiores que 30 caracteres,
convertendo-os, em TinyURLs4:
4
TinyURLs - são links compactadores de endereços completos de qualquer site para a moderação de espaço.
Fonte: http://www.linhadecodigo.com.br/artigo/3174/integracao-com-redes-sociais-como-fazer-tinyurl-twitter-e-
facebook.aspx.
5
Figura 4 –Modelo de Tweet com uso de imagem em seu ambiente <https://twitter.com> Acesso em 09
de jun. 2014.
Língua Portuguesa (PCN-LP, 1998) o processo de leitura executado em sala de aula deve em
cada aluno ir
O termo texto é definido como atividade linguística de interação social, visto que se
constrói a partir de uma progressão contínua de significados que se combinam tanto
simultaneamente como em sucessão. Esse significado é decorrente de uma seleção
feita pelo locutor entre as várias opções que constituem o potencial de significado. O
texto é, portanto, a realização desse potencial de significado, é o resultado de um
processo de escolha semântica (p. 125).
Assim segunda essa autora, a diversidade produtiva textual oferece vários meios de
elaboração e apresenta muitas formas de recepções. Com o Twitter não é diferente, por
corresponder a um meio de compartilhamento de incalculável gama textual, tem na
“twittada” um novo gênero emergente dentre tantos outros virtuais, como o e-mail, os chats,
a título de exemplificação.
O Tweet similar aos seus colegas textuais de performance virtual, apresenta
características semelhantes aos textos escritos tanto quanto se revela inovador como gênero
discursivo. A estrutura é característica a um bilhete, uma vez que possui emissor e receptor -
trata-se dos nicknames dos usuários, que no envio da mensagem é preenchido de forma
automática-, e onde muitas vezes pode acarretar mais de um receptor de forma simultânea.
Apresenta, ainda, registro automatizado de hora e data; o remetente precisa ser inserido
manualmente precedente ao início da mensagem, ou na maioria das vezes colado8.
Os Tweets não possuem especificação de tema, já que a própria mensagem atua
como temática, e isso pode ser visto nos hiperlinks de textos jornalísticos. O corpo de
mensagem é o ambiente de atuação textual, apresentando: texto; assinatura - que na
linguagem do Twitter corresponde ao nome de usuário, enquanto o vocativo é opcional aos
membros.
Quanto à capacidade de anexação de documentos, no Tweet essa alusão é feita sobre
por meio de links, descritos a seguir.
8
Segundo Jonsson (1997), a colagem é uma ação comum aos textos eletrônicos, a qual serve também para
fragmentos ou a mensagem na íntegra.
9
9
Mensagem Direta – São manifestações comunicativas que ocorrem em caráter sincrônico, no modelo chats,
quando dois usuários relacionam-se privadamente no Twitter, seu apelido popular entre os usuários é DM (do
inglês Direct Message). Possui a mesma configuração operacional e comunicativa dos Tweets com o uso de
apenas 140 caracteres e as mesmas aplicabilidades semióticas, com diferencial apenas de ter uso privado entre
dois membros.
10
interação social dentro e fora do contexto escolar, estimulando, dessa forma, o aluno a
vivenciar o que é ensinado em sala de aula, e/ou em outras instituições sociais.
Dessa forma, os Tweets, por corresponderem a uma espécie de gênero discursivo,
podem auxiliar nas competências comunicativas dos alunos, por se relacionar com a
concepção de letramento, especificação de gênero, idade, camada social e cultural.
Consequentemente, tratar o Twitter como uma ferramenta auxiliadora no ensino de LP é tratar
de um novo modelo de atividade expansionista de ideias na nova cultura tecnológica,
revelando a importância de estudar os conteúdos interdisciplinares e interculturais oferecidos
por meio desse suporte.
Os critérios pedagógicos para a exploração do gênero em sala são inúmeros, mas em
conceituação geral, o professor pode objetivar, a princípio, trazer determinados contextos
gramaticais, propiciar a evolução de habilidades linguísticas e trabalhar as doutrinas
metalinguísticas que o gênero acarreta e que perfazem o cotidiano do educando.
Atuar com o gênero Tweet em sala de aula é desenvolver nos discentes as
competências pragmáticas - que estimulam a convivência e a interação. Contextualizando o
internalizado com o lecionado - é o ponto de partida, para dentro da sala, criar uma
comunidade discursiva que compartilhando os mesmos objetivos, juntos trabalhem
competências tecnológicas, cujos desenvolverão o “saber fazer, saber manipular os softwares
de produção e gerenciamento” segundo Marcuschi (2010, P. 93). Além de, viverem a
competência intercultural, conhecendo outras culturas e aprendendo a tolerar o que é diferente
e se familiarizando com o novo, com as diferenciações e similaridades entre as línguas, por
meio da aquisição de novos textos. Assim, de acordo com a concepção de Freire (1996), o
aluno, como o professor, também precisa trabalhar (e ter) sua autonomia no processo de
aprendizagem, cultivando em si a praxe da curiosidade de querer saber além do que o ensino
padronizado se dispõe a oferecê-lo.
Com isso, Soares (2006), afirma que o aluno adquire sozinho um número infinito de
habilidades ao longo dos anos, enquanto se submerge nas práticas de leitura e escrita, ao
mesmo tempo em que se desenvolve como ser social. O letramento pede a participação do
aluno no contexto de ensino desenhado pelo professor, onde ele não apenas leia e interprete,
mas também interaja entre gêneros comuns e gêneros emergentes, passando de leitor passivo
para interventor na acuidade textual.
Formatar um ensino que seja um momento de inclusão do aprendiz requer um
mergulho no contexto cultural que o cerca. Trazer para a realidade escolar das crianças o que
já vivenciam em seu cotidiano é estimular uma aprendizagem que as preparem não apenas
para provas de final de bimestre (ou ciclo), mas que as transfigurem para uma vida inteira.
Daí a importância de usar elementos mais próximos ao que veem diariamente.
Logo, deve-se concordar com Libâneo (2011), quando argumenta que a educação
básica para ter qualidade precisa enfatizar quatro objetivos: preparação para o trabalho,
formação cidadã, preparo para a vivência social e o desenvolvimento ético. Onde esse autor
defende que a educação não se limita a um único lugar, ela se desenvolve em vários lugares,
através de inúmeras instâncias. Onde além da família e da escola, ela acontece no ambiente de
trabalho, clubes, academias, sindicatos e entre outros espaços sociais. Mas entre esses campos
em que a educação se desenrola os meios de comunicação são os mais influenciadores na vida
do estudante. Dessa forma, a escola deve ser um espaço de síntese entre as práticas docentes e
da cibercultura,10 como espaço para análises e discussões críticas sobre a produção da
informação, tratando com a comunidade discente a razão do uso e dos objetivos a serem
alcançados utilizando esse gênero. Consequentemente, faz-se essencial à colaboração do
10
Cibercultura: Termo usado por Pierre para explanar a ideia de mutabilidade no ensino ocasionada no sistema
educacional pela cultura tecnológica e a sua capacidade de interação e as consequências de sua exploração pelas
tribos sociais na WEB. Para saber mais sobre leia LÉVY, Pierre. 2002.
12
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo apresentar a importância do Tweet, gênero virtual
surgido com a invenção da plataforma Twitter, contribuindo para o ensino de escrita e de
leitura nos contextos de ensino de LP de modo descritivo-bibliográfico.
Dessa forma, o Tweet quanto a gênero virtual é um dispositivo textual que, conforme
Mendes (2006) atribui às aulas de LP a dialética entre culturas trazidas pelos alunos em
contraste as concepções dentro de um contexto discursivo. O estudo apresenta considerações
importantes do uso do Twitter, na prática escolar como meio de partilha de uma diversidade
de gêneros, e consequentemente, como colaborador aos estudos linguísticos com uma
inovação textual.
É um gênero virtual, intercultural, textual e sociocultural, se expondo como novo
estímulo para professores desafiadores do sistema repetitivo, que buscam alternativas
didático-pedagógicas para explorar ao máximo a ideia de letramento do discente. Atualmente,
o suporte Twitter, um dos micro-bloggins mais utilizado no mundo, tem no Tweet um gênero
que leva a refletir sobre a aprendizagem tanto quanto uma notícia, um bilhete, uma carta, um
e-mail, assim, conforme perspectiva é um aliado importantíssimo para o desenvolvimento de
práticas de leitura e de escrita no contexto curricular de LP, despertando a efetiva participação
dos jovens, rompendo as barreiras de uma educação tradicional linear.
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