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Idade Adulta, Velhice e Morte

Leonardo Silva.
Universidade Federal de Minas Gerais.
6° período.

O início da idade adulta varia de um indivíduo para o outro e uma passagem


adequada para essa fase depende da resolução satisfatória das crises da infância e da
adolescência. É um período de grandes mudanças, no qual a pessoa adquire total
maturidade e apresenta o máximo em seu potencial para a satisfação pessoal. A pessoa
deve ser capaz de mudar sempre para atender às exigências das situações.
Pode ser dividida em três períodos principais:
1) Idade Adulta Jovem
2) Idade Adulta Média
3) Idade Adulta Tardia ou Velhice

• Adulto Jovem
Vai do final da adolescência até os 40 anos. Esse período caracteriza-se pelo
pico do desenvolvimento biológico, pela adoção de papéis sociais importantes e pela
evolução de um self e uma estrutura de vida adulta. O adulto jovem pode fazer vários
começos, antes de assumir um compromisso mais duradouro.
- Estágio de Intimidade versus Auto-Absorção ou Isolamento, de Erikson
Nesse estágio pode surgir um importante conflito psicossocial e o sucesso ou
fracasso vai depender das experiências vividas anteriormente e de como o indivíduo
interage com o ambiente. O indivíduo que resolveu sua crise de identidade não é
amedrontado pela intimidade dos relacionamentos que estabelece; já o indivíduo que
chega aí em estado de contínua confusão de papéis é incapaz de estabelecer
relacionamentos duradouros e intensos. Isso pode fazer com que um senso de isolamento
cresça e atinja proporções perigosas. Através da crise de intimidade versus
isolamento, o indivíduo vai além da exclusividade das dependências anteriores e
estabelece uma mutualidade com um grupo social mais extenso e diversificado.
- Tarefas Evolutivas
Durante a vida adulta, são testadas opções para profissão e casamento. Também é
importante a tarefa de individuação, na qual o adulto aprende a aceitar a si mesmo
como uma pessoa única, distinta da sociedade e além disso, parte dessa. O fracasso
nessa tarefa leva ao conformismo excessivo. O objetivo primário do adulto jovem é
tornar-se mais independente das pessoas e instituições. Aproximadamente por volta dos
trinta anos, os adultos sentem a necessidade de levar a vida mais seriamente, fazendo
uma reavaliação da vida que estão levando. As pessoas podem, então, reafirmar seus
compromissos e experiências, ou passar por uma crise maior manifestada por problemas
conjugais, mudanças de emprego, ansiedade e depressão.
Profissão: O desenvolvimento de uma escolha profissional é influenciado pela
classe social, pelo gênero e pela raça. Os trabalhadores menos qualificados ingressam
no mercado de trabalho logo após o ensino secundário, já os mais qualificados passam
antes por uma universidade ou escola profissionalizante. As mulheres exibem um dentre
dois padrões: (1) o trabalho é o componente central de suas vidas, ficando a família
secundária, quando existe; (2)o casamento e a família são primários e a carreira
secundária. As donas-de-casa que resolvem trabalhar enfrentam muitos problemas, pois
precisam revezar entre os papéis de esposa, mãe e trabalhadora. Os membros das
minorias raciais são sobrecarregados, freqüentemente, com condições mais baixas, o
que limita suas oportunidades de ter um emprego gratificante e satisfatório; sofrendo
grandes decepções. A satisfação com o emprego dá vazão à criatividade,
relacionamentos satisfatórios com os colegas e maior auto-estima; a desadaptação pode
causar insatisfação consigo mesmo e com o trabalho, insegurança auto-estima
diminuída, raiva e ressentimento por ter que trabalhar. Isso pode levar a mudanças de
emprego, faltas, erros, propensão a acidentes e sabotagem. A identidade nuclear da
pessoa é seriamente danificada quando a pessoa perde o emprego. Isso leva a tensões
psicológicas e físicas que podem causar: alcoolismo, homicídios, violência, suicídio
e doenças mentais.
Casamento: Sua taxa está decrescendo ao passo que a taxa de divórcios está
aumentando. A maioria das pessoas divorciadas casa-se de novo. A unidade conjugal
continua proporcionando um meio de intimidade prolongada, perpetuando a cultura e a
gratificando as necessidades interpessoais. Os problemas conjugais podem levar ao
divórcio, mas ocorrem também em casamentos que não terminam em divórcio ou separação.
Assim como o auxílio da religião, o de parentes que moram junto com o casal não é
mais tão procurado quanto antigamente, para a resolução de crises conjugais. O papel
de manutenção da estabilidade familiar e de evitar a dissolução do casamento não é
exercido por essas instâncias. Devido à diminuição das pressões, os procedimentos
para a separação e o divórcio expandiram-se. Surge, assim, a necessidade de serviços
especializados em aconselhamento conjugal. A terapia conjugal é uma forma de
psicoterapia para pessoas casadas em conflito uma com a outra, apresentando uma
dinâmica mais aprofundada que o aconselhamento conjuga. Tanto um quanto o outro
procura ajudar os parceiros a lidarem de modo mais eficaz com seus problemas.
Paternidade e Maternidade: Vários problemas devem ser enfrentados para a
criação de um filho. Estão envolvidos peso econômico e também custos emocionais. Os
filhos podem reacender nos pais conflitos infantis ou apresentarem doenças que
desafiem os recursos emocionais da família. Os homens, geralmente, estão mais
preocupados com o trabalho, enquanto as mulheres estão mais preocupadas com seu papel
de mãe. Entretanto esse quadro vem mudando nos últimos anos, com o aumento do número
de mulheres que ingressam no mercado de trabalho. Devido ao aumento no número de
divórcios, cresce a taxa de filhos de famílias monoparentais. Essas crianças
apresentam maior incidência de baixo rendimento escolar e problemas emocionais;
alguns são precoces, devido ao fato de terem assumido maiores responsabilidades muito
cedo.

• Idade Adulta Intermediária


Período conhecido como ‘meia-idade’, vai dos 40 aos 65 anos. Os indivíduos
fazem uma análise do passado e redefinem como gostariam de viver a vida daí para
frente. Redefinem-se também os papéis de maridos e esposas. Ocorrem também algumas
mudanças de gênero, as mulheres assumem posturas tidas como masculinas e os homens
posturas tidas como femininas. Esse novo equilíbrio de gênero no self possibilita um
relacionamento mais eficiente com o sexo oposto.
- Estágio de Generatividade versus Estagnação, de Erikson
Os indivíduos escolhem entre generatividade ou estagnação. A generatividade não
se relaciona apenas com o fato da pessoa ter de criar os filhos, mas também inclui um
interesse fora do lar para estabelecer e orientar a geração vindoura ou melhorar a
sociedade. O adulto que não apresenta esse interesse tende a procurar obsessivamente
por uma intimidade que não é real; vivendo dentro de um casulo de egoísmo e
isolamento.
- Tarefas Evolutivas
Estudos mostraram que existe uma forte correlação entre a saúde física e a
saúde mental. Além disso, pessoas com adaptação psicológica mais fraca durante fases
anteriores, apresentam maior incidência de doenças físicas, na meia-idade. Aspectos
psicológicos do adulto também estão relacionados à infância.
Sexualidade: É uma importante questão nessa fase. Pode haver declínio do
funcionamento sexual. Nos homens, o problema mais comum é o temor e a realidade da
impotência, cujas causas mais comuns são: ingestão excessiva de álcool, drogas
(tranqüilizantes e anti-depressivos) e estresse com fadiga e ansiedade. As mulheres
apresentam maior capacidade para o orgasmo, mas são mais vulneráveis a baixas de
auto-estima por perderem a aparência jovem, valorizada pela sociedade atual. Sentem-
se menos desejáveis e menos capacitadas a uma vida sexual adequada. A incapacidade de
lidar com essas mudanças corporais leva homens e mulheres a submeterem-se a cirurgias
estéticas para manterem uma aparência jovem.
O Climatério Masculino e Feminino: Caracteriza-se por uma diminuição no
funcionamento biológico e fisiológico. Nas mulheres é a menopausa, cuja experiência
pode ser desagradável ou positiva. Muitas mulheres consideram-se mais livres por não
mais estarem sujeitas a riscos de gravidez. É uma experiência psicofisiológica súbita
ou radical. Algumas mulheres apresentam ansiedade e depressão, conseqüentes da
estrutura da personalidade pré-menopausa. Nos homens não existe uma demarcação muito
nítida; contudo eles devem adaptar-se ao declínio no funcionamento biológico e no
vigor físico em geral. Pode passar por uma crise que pode levar ao alcoolismo ou uso
de drogas, depressão, mudanças no trabalho e no relacionamento ou até mesmo mudança
para um estilo de vida alternativo. Devido a eventos graves ou inesperados da vida,
as pessoas podem passar pela ‘crise da meia-idade’.
Síndrome do Ninho Vazio: Ocorre tanto nos homens quanto nas mulheres, quando o
filho caçula sai de casa. Se não forem desenvolvidas atividades compensatórias, pode-
se desenvolver quadros depressivos.

• Divórcio
É uma crise importante na vida do adulto. As mudanças sofridas pelos cônjuges
podem ocorrer em direções diferentes, levando a problemas conjugais. Algumas pessoas
tentam buscar uma última paixão ou chance de experimentar algo que julgam ter
perdido.
- Tipos de Separação que acompanham o Divórcio
 Divórcio Psíquico: nesse tipo renuncia-se ao objeto de amor e ocorre uma
reação de luto pela morte do relacionamento. É difícil na medida em que força
a pessoa a tornar-se independente. São relatados sentimentos como depressão,
ambivalência e mudanças de humor à época do divórcio. A recuperação leva cerca
de dois anos e a pessoa passa a ver o ex-cônjuge de modo neutro e a se aceitar
como solteira.
 Divórcio Legal: envolve a passagem por mecanismos legais, de modo que as
pessoas possam casar-se novamente. No divórcio amigável, nenhuma das partes é
considerada culpada, tornando-se o mecanismo mais usado.
 Divórcio Econômico:as maiores preocupação são a partilha dos bens do casal e o
apoio econômico para a esposa.
 Divórcio Comunitário: os relacionamentos sociais do casal divorciado
modificam-se acentuadamente, com a manutenção de alguns e o acréscimo de
outros.
 Divórcio Coparental: refere-se à separação de um dos cônjuges de outro cônjuge
com quem tem um filho.
- Custódia
A doutrina do direito parental é um conceito legal que concede a custódia ao
membro mais apropriado do casal e tenta assegurar que tudo seja feito no melhor
interesse da criança. Na maioria das vezes é concedida à mãe. Podem surgir problemas
no relacionamento entre os pais e a criança, no divórcio. A presença do cônjuge
encarregado da custódia representa a realidade do divórcio e pode tornar-se alvo de
raiva, com a qual o pai pode não conseguir lidar.
- Razões para o Divórcio
O divórcio tenda a ocorrer com maior freqüência em casais que se casaram na
adolescência e entre membros de diferentes classes sócio-econômicas. Também em casais
nos quais um ou os dois cônjuges possuem pais separados. Outras razões podem ser:
desilusões quanto às expectativas com relação ao parceiro; tensões causadas pela
experiência da paternidade; problemas relacionados a sexo e a dinheiro; menor pressão
da sociedade e da igreja quanto à manutenção do casamento.
- Relações Extraconjugais
O adultério é definido como o intercurso sexual voluntário entre uma pessoa
casada e outra que não o cônjuge legítimo. Para os homens, a primeira experiência
refere-se à gravidez da esposa, quando o coito é desaconselhado. Geralmente é mantido
em segredo e quanto a esposa toma conhecimento não se torna motivo de divórcio, mas
traz à tona insatisfação em relação ao relacionamento e essas podem levar ao fim do
casamento. Tende a declinar devido à problemática da AIDS e outras doenças
sexualmente transmissíveis potencialmente fatais.
• Maturidade e Velhice
Refere-se à fase que se inicia aos 65 anos de idade. O número de idosos está
aumentado em face ao desenvolvimento da medicina, sendo suas necessidades de saúde
imensas e o papel do médico geriatra e do psiquiatra muito importante.
O processo de envelhecimento, a senescência, caracteriza-se por um declínio
gradual no funcionamento de todos os sistemas do corpo; entretanto a maioria das
pessoas idosas mantém suas capacidades cognitivas e físicas em um grau notável. Esse
decrescimento não ocorre ao mesmo tempo em todos os sistemas nem na mesma proporção.
A deterioração dos sistemas leva à doença ou à morte. Em geral, o envelhecimento de
uma pessoa corresponde ao envelhecimento de suas células, que parecem ter um tempo de
vida geneticamente determinado. Com o aumento da idade ocorrem mudanças estruturais
nas células. Também ocorrem mudanças no DNA e no RNA, devido a várias causa. Não
existe uma única causa para o envelhecimento, sendo todas as áreas do corpo afetadas.
Muitos transtornos da velhice apresentam determinação genética.
- Longevidade
Apresenta fatores hereditários e também os seguintes: exames médicos regulares,
consumo mínimo ou nenhum de cafeína e álcool, satisfação com o trabalho e um senso de
si mesmo como sendo útil à sociedade. A dieta e os exercícios físicos também estão
relacionados.
- Expectativa de Vida
É importante para atuários e companhias de seguros, entre outras. Vem
aumentando nos últimos anos. Os acidentes estão entre as sete principais causas de
morte em pessoas com mais de 65 anos, causados principalmente por quedas,
atropelamentos e queimaduras. Os defeitos neurológicos e sensoriais são a principal
causa de acidentes. A morte de pessoas muito idosas (acima de 85 anos) é causada por
danos aos tecidos, os quais não seriam fatais em pessoas mais jovens; nesses casos, a
causa da morte é considerada como o envelhecimento.
- Dieta, Exercícios e Saúde
A dieta e os exercícios exercem um importante papel em várias doenças crônicas
dos idosos, como a arteriosclerose e a hipertensão. Em muitos casos, um processo
patológico pode ser revertido ou até mesmo curado mediante dieta e prática de
exercícios, não havendo necessidade de intervenção cirúrgica.
- Tarefas Evolutivas
Estágio de Integridade versus Desespero e Isolamento, de Erikson: acima dos 65
anos. Nessa fase existe o conflito entre a integridade, o senso de satisfação que se
tem ao refletir sobre uma vida produtiva, e o desespero, sentimento de que a vida
teve pouca finalidade ou significado. A integridade permite uma aceitação do próprio
lugar no ciclo vital e o reconhecimento de que somos responsáveis por nossas vidas. A
paz e a satisfação na velhice só existem se a pessoa tiver adquirido intimidade e
generatividade; do contrário, existe o medo da morte e um senso de desespero e
angústia.
Manutenção da Auto-Estima: As pessoas idosas devem lidar com feridas
narcisistas, à medida que tentam adaptar-se às perdas biológicas, psicológicas e
sociais. A auto-estima e a auto-suficiência estão sob risco constante. Para manter a
auto-estime são importantes: (1) segurança econômica; (2) pessoas apoiadoras; (3)
saúde psicológica; e (4) saúde física. Do fracasso na tentativa de manutenção da
auto-estima podem surgir tensão, ansiedade, frustração, raiva e depressão.
- Aspectos Psicossociais do Envelhecimento
Atividade Social: a manutenção de atividades sociais tem valor para o bem-estar
físico e emocional. A relação com pessoas mais jovens permite ao idoso passar seus
conhecimentos adiante, fazendo-o sentir-se mais útil, contribuindo, assim, para a
manutenção da auto-estima.
Preconceito Etário: refere-se à discriminação de pessoas idosas e ao
estereótipo negativo acerca da velhice, mantido por adultos mais jovens. Também pode
ocorrer discriminação por parte dos próprios idosos. A velhice é associada com
solidão, más condições de saúde, senilidade e fraqueza geral ou enfermidades.
Contratransferência: fonte da qual deriva sentimentos e atitudes do médico para
com as pessoas idosas. Os sentimentos de contratransferência relativos à idade são
determinados pelas carências e experiência passadas pelo médico e funcionam em nível
consciente ou inconsciente. Os médicos podem ter temores acerca da própria velhice ou
conflitos sobre o envelhecimento e morte dos pais e avós. As expectativas pessimistas
do médico com relação ao paciente idoso podem ser postas em prática por esses
pacientes, revelando perda da confiança.
Psicodinâmica: a adaptação à velhice depende dos mecanismos de defesa usados ao
longo da vida adula. Os mais saudáveis incluem supressão, antecipação da realidade,
altruísmo e humor. Essas defesas possibilitam que a pessoa idosa lide com as
vicissitudes da vida de modo mais eficaz. Existe um grupo não adaptado de defesas que
incluem: (1) negação; (2)regressão; (3) contrafobia; (4) rigidez; (5)exclusão dos
estímulos; (6) memória seletiva; (7) projeção; (8) formação reativa.
Questões Sócio-econômicas: é de crucial importância para os idosos e para a
sociedade em geral. As fracas condições econômicas têm impacto direto na saúde física
e também psicológica. A preocupação acerca da condição financeira pode tornar-se
obsessiva, podendo interferir no prazer pela vida.
Aposentadoria: permite que a pessoa idosa tenha mais tempo para o lazer, e
muitos se beneficiam com a liberdade adquirida. Entretanto é uma experiência negativa
para muitos idosos, especialmente quando resulta em problemas financeiros ou na perda
da auto-estima. Muitos aposentados reingressam no mercado de trabalho, por várias
razões.
Atividade Sexual: é limitada pela ausência de um parceiro disponível.
Entretanto, o impulso sexual não diminui nem no homem nem na mulher.
Institucionalização: muitos pacientes idosos enfermos precisam ser internados
em instituições. Fora da instituição, o atendimento para os idosos é oferecido por
seus filhos, principalmente filhas e noras.
- Problemas Emocionais dos Idosos
A perda é o tema predominante, característico das experiências emocionais dos
idosos. Um idoso deve lidar com muitas perdas, mudança do status e prestígio
profissional, e declínio das habilidades físicas e da saúde. Isso faz com que eles
gastem grande quantidade de energia emocional e física no luto, na resolução desse e
na adaptação às mudanças. Uma resposta mal adaptada à perda é a depressão.

• Tanatologia: Morte e Luto


Tanatologia é o estudo do fenômeno da morte e dos processos emocionais e
psicológicos envolvidos na reação à morte, incluindo luto, perda e lamentação. O
médico deve compreender a natureza das pessoas em relação à morte, seus próprios
sentimentos e atitudes, de forma a trabalhar eficazmente com os pacientes.
- O Significado da Morte
A reação à morte depende do contexto. No caso da morte oportuna, a pessoa morre
quando tal deveria previsivelmente ocorrer, e os que devem suportar o luto não se
surpreendem com a morte. No caso da morte inoportuna, refere-se a: (1) morte
prematura de pessoa muito jovem; (2) morte súbita, inesperada; ou (3) morte
catastrófica, associada a acidentes ou atos de violência, vista como absurda. A morte
também pode ser intencional (a pessoa exerce papel em seu suicídio) e subintencional
(apressada por maus hábitos). A morte pode ter muitos significados psicológicos,
podendo ter papel de uma metáfora ou ser vista como castigo.
- Morte Súbita de Origem Psicogênica
Desencadeada por fatores emocionais, por exemplo, ataques cardíacos que ocorrem
após estresse psíquico súbito. A morte por vudu, feitiços ou bruxarias pode ser
causada por pessoa que supostamente tem esse poder e o utiliza contra alguém que
acredita nesse poder. Causa-se uma disfuncionalidade no eixo hipotalaâmico-adrenal-
hipofisário e no sistema nervoso autônomo por estresse emocional, ocasionando
paralisação das funções vitais.
- Aspectos Legais da Morte
De acordo com a lei, o médico deve assinar um atestado de óbito, no qual indica
a causa da morte, bem como esclarece se a morte foi natural, acidental, por suicídio,
homicídio ou causas desconhecidas. Em alguns casos realiza-se uma autópsia
psicológica, através da qual pretende-se descobrir se doenças mentais (como
depressão) estavam presentes quando da morte.
- Reações à Morte Iminente
Esses estágios foram propostos por Elisabeth Kübler-Ross
1. Choque e Negação
O choque é a reação inicial de uma pessoa que toma conhecimento de que vai
morrer. Depois o paciente pode recusar-se a acreditar no diagnóstico e procurar
vários médicos. O médico deve garantir ao paciente que não o abandonará, bem como
esclarecer sobre a doença e as opções de tratamento.
2. Raiva
Os pacientes podem desenvolver frustração, irritação ou raiva por estarem
doentes. Enfurecem-se contra Deus, amigos, parentes e o próprio médico. Nessa fase
são difíceis de tratar. O médico deve responder à raiva com empatia e de forma não-
agressiva, de modo a aliviar a raiva do paciente.

3. Barganha
O paciente tenta negociar com Deus, amigos, médicos em troca da cura. Eles
acreditam que, sendo bons, o médico fará com que melhorem. Deve-se deixar claro que
cuidará dele da melhor forma possível e que fará tudo o possível para ajuda-lo.
4. Depressão
O paciente apresenta sinais clínicos de depressão, que pode ser uma reação aos
efeitos da doença sobre a vida do paciente ou pode ocorrer em antecipação à perda
real da vida.
5. Aceitação
O paciente percebe que a morte é inevitável e aceita a universalidade da
experiência.
- Os Cuidados com o Paciente Moribundo
Para que o médico cuide, com eficácia, do paciente moribundo, é importante a
sua conscientização acerca de suas próprias atitudes relativas à morte e ao morrer.
Do contrário, o encontro com o paciente pode ser experimentado como fonte de
irritação, impaciência e temor. Alguns médicos sentem-se onipotentes com relação à
prevenção da morte; para eles, o paciente moribundo é um lembrete doloroso de sua
própria condição de ser humano falível. A principal tarefa de um médico em face a um
paciente terminal consiste em proporcionar apoio solidário e conforto contínuo, o que
inclui: visitas regulares ao paciente, manutenção do contato visual, contatos físicos
apropriados, atenção ao que o paciente tem a dizer e disposição de responder a todas
as perguntas de modo respeitoso. O médico deve incentivar a família e o paciente a
conversar abertamente sobre o assunto. Outro fator a ser considerado é o controle da
dor, que deve ser vigoroso. O médico deve usar narcóticos, de forma a permitir que o
paciente realize suas atividades com um mínimo de desconforto. O médico deve
desenvolver uma aliança com a família, permitindo que seus membros falem sobre suas
vidas e tensões e oferecendo compreensão; deve também tentar evitar o surgimento de
conflitos internos, e voltar a atenção da família para o moribundo que precisa de
apoio.
- Critérios para a Determinação da Morte e Testamentos de Vida
De acordo com a Lei Norte-Americana de Determinação Uniforme da Morte, um
indivíduo está morte quando sofreu qualquer dos seguintes: (1) cessação irreversível
das funções circulatória e respiratória; (2) cessão completa das funções de todo o
cérebro, incluindo o tronco encefálico.
Testamentos de vida são documentos legais nos quais os pacientes dão instrução
a seus médicos quanto ao não-uso de medidas de suporte à vida. Entretanto os médicos
devem exercer seu bom-senso. A decisão é tomada em conjunto com a família do paciente
ou seu guardião legal.
- Eutanásia
É o ato de matar uma pessoa doente ou ferida sem esperanças de recuperação, por
razões de piedade. Apresenta duas formas: ativa e passiva, sendo que qualquer uma das
duas pode ser voluntária ou não-voluntária.
- Atitudes com relação à morte ao longo do ciclo vital
Os estágios do desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças exercem um
papel significativo em sua percepção, interpretação e entendimento da morte, pois sua
capacidade para compreender a morte reflete sua capacidade para compreender qualquer
conceito abstrato.O fato de se esconder das crianças o conhecimento sobre a morte faz
surgir temores irracionais nas mesmas. O tratamento de adolescentes moribundos pode
ser difícil devido à sua intensa necessidade, em determinados momentos, de
independência e controle. Os adultos jovens temem sua morte inoportuna pensando que
seus filhos não serão criados com carinho e também que nunca experimentarão o prazer
de serem avós. Os adultos de meia-idade podem sentir-se frustrados em suas esperanças
de se envolverem com a próxima geração e em seus planos de desfrutarem dos prazeres
conquistados. Já as pessoas idosas devem confrontar a crescente realidade de sua
própria realidade, através da morte de familiares e amigos.
- Tristeza, Lute e Perda
Aplicam-se às reações psicológicas daqueles que sobrevivem a uma perda
significativa. Tristeza refere-se ao sentimento subjetivo, precipitado pela morte de
alguém querido. O luto é o processo através do qual a tristeza é resolvida. Perda
significa ser privado de alguém, pela morte. O luto é caracterizado como sendo uma
síndrome, com sinais, sintomas, curso demonstrável e resolução previsível. O luto
pode ocorrer como resultado da perda de uma pessoa amada, mas também com relação à
perda de status, de uma figura nacional ou de um animal de estimação. O trabalho de
luto é um processo psicológico complexo, de retirada do apego e elaboração da dor do
luto.
• Características do Luto Normal
O luto descomplicado é uma resposta normal e manifesta-se, inicialmente, por um
estado de choque, caracterizado por torpor e completo atordoamento. Seguem-se
expressões de desespero ou outras expressões de dor, como: sentimento de fraqueza,
diminuição do apetite, perda de peso, dificuldade para concentrar-se, respirar e
falar, perturbações do sono. Auto-recriminações podem ocorrer mas são mais comuns e
intensas no luto patológico. Ocorrem formas de negação durante todo o período de
luto, a pessoa age como se a perda não tivesse ocorrido. A pessoa pode sentir a
presença do falecido tão fortemente, a ponto de ter ilusões ou alucinações.
Entretanto, no luto normal consegue-se perceber a inverdade dessa situação. Através
dos fenômenos de identificação, a pessoa adquire características e maneirismos do
falecido, de modo a perpetuar a presença desse. Isso pode alcançar uma expressão
patológica, levando ao desenvolvimento de sintomas semelhantes aos da pessoa falecida
ou outros que lembrem a doença que levou à morte. De acordo com John Bowlby, há
quatro estágios no luto: (1) fase inicial de desespero agudo, torpor e protesto,
negação e acessos de raiva e aflição; (2) fase de desejo intenso pela presença do
falecido e busca por esse; (3)fase de desorganização e desespero, quando a realidade
começa a ser assimilada, a pessoa parece retraída, apática e inquieta, sente que a
vida perdeu o sentido; (4) fase de reorganização, os aspectos agudos dolorosos da
perda começam a desaparecer e a pessoa começa a se sentir voltando à vida. C.M.
Parkes descreve cinco estágios para o luto: (1) alarme, estado de estresse; (2)
torpor, a pessoa parece não ter sido afetada pela perda; (3) procura, busca-se a
pessoa falecida; (4) depressão, sente-se falta de perspectivas para o futuro,
retraimento; (5) recuperação e reorganização.
• Duração do Luto
As diversas manifestações de tristeza tendem a se tornar menos intensas, com o
passar do tempo. A tristeza do luto estende-se, tradicionalmente, por 1 ou 2 anos, à
medida que a pessoa tem a oportunidade de experimentar todo um calendário anual sem a
presença da pessoa falecida.
• Luto Inibido, Adiado ou Negado
Refere-se à ausência da expressão de tristeza à época da perda. Essa tristeza
inibida é potencialmente patogênica, já que a pessoa evita enfrentar a realidade da
perda, sendo característica do luto patológico. Essas reações negadas ou inibidas de
tristeza contém as sementes de conseqüências indesejadas como sintomas físicos
persistentes, similares àqueles da pessoa falecida ou reações inexplicáveis no
aniversário da perda do falecido ou em datas importantes para esse. Essa tristeza
pode, também, ser deslocada para outras perdas.
• Luto Antecipatório
Aplica-se à tristeza expressada ante uma perda percebida como inevitável, e
termina com a ocorrência da perda. Essa tristeza tende a aumentar em intensidade à
medida que a perda torna-se mais iminente.
• Luto versus Depressão
Os dois podem ser manifestados por choro, tristeza e tensão, expressados tanto
por lentificação como por agitação psicomotora. Outras expressões comuns são:
diminuição do apetite e do desejo sexual, perda de peso e retraimento. À medida que a
perda torna-se mais remota, a pessoa sai da tristeza. A aparência de uma pessoa
enlutada pode gerar simpatia, apoio e consolo por parte dos outros, sentimentos aos
quais o enlutado responde. Já as queixas e lamentos da pessoa deprimida podem irritar
e aborrecer o ouvinte. Na tristeza normal, a resposta é aceita como apropriada e
normal; já na depressão, a resposta transmite a noção de algo não está bem. As
pessoas em depressão ameaçam mais suicídio do que as pessoas enlutadas. Sintomas
fracamente psicóticos, sentimentos acentuados de desvalia, prejuízo funcional extenso
e retardos psicomotores relacionam-se mais com a depressão que com o luto. O médico
deve ser capaz de determinar quando o luto tornou-se patológico e evoluiu para uma
depressão maior, a qual é uma emergência médica, que exige intervenção imediata para
evitar complicações tais como o suicídio.
• O Luto nas Crianças
Similar ao dos adultos, especialmente quando a criança é capaz de compreender a
irreversibilidade da morte. O processo assemelha-se ao da separação e apresenta três
fases: protesto, desespero e distanciamento. O médico deve reconhecer a necessidade
da criança de encontrar uma pessoa que substitua o genitor perdido. Caso não haja
pessoa consistente disponível, podem ocorrer vários danos psicológicos à criança, de
modo que ela não mais procure ou espere intimidade em qualquer relacionamento.
• Luto nos Pais
Os pais reagem à morte de um filho ou ao nascimento de um bebê com malformação
grave em estágios similares aos descritos para a doença terminal. A morte de uma
criança é uma experiência emocional mais intensa do que a morte de um adulto. Os pais
podem sentir-se culpados.
• Psicodinâmica
Freud afirmou que o luto normal resultava de um retraimento da libido de sua
vinculação ao objeto perdido. No luto, a perda é claramente percebida mas no luto
anormal (melancolia) o objeto perdido não é totalmente esquecido e se torna alvo de
sentimentos ambivalentes. No melancolia ocorre uma sensação exagerada de perda da
auto-estima. Quanto maior for o papel dos fatores inconscientes mais provável é uma
reação anormal de tristeza.
• Luto e Doença Clínica
Durante o luto a pessoa encontra-se em um estado de vulnerabilidade física e
desequilíbrio biológico, podendo se desenvolver uma vasta gama de transtornos físicos
e emocionais.
• Papel do Médico no Processo de Luto
O médico exerce papel importante junto a cônjuges parentes e amigos enlutados.
Ele pode ter que preparar a família para a possível morte; na ocasião da perda, deve
recomendar a expressão dos sentimentos de tristeza; deve recomendar a procura de um
psiquiatra caso a reação à perda seja acentuadamente divergente.
• Manejo e Terapia do Luto
Já que as reações de luto podem evoluir para reações depressivas ou luto
patológico, sessões de aconselhamento específico para os enlutados possuem muito
valor. Nessas sessões a pessoa é encorajada a falar sobre os sentimentos de perda e
sobre o falecido. Ocorre um apego ao terapeuta, que se torna um apoio temporário até
que um novo senso de confiança com relação ao futuro se desenvolva. O terapeuta deve
estar preparado para lidar com os temas de morte e ser capaz de enfrentar as reações
emocionais do paciente, deve também ser ativo. Pode-se fazer um aconselhamento em
grupo, que fornece companhia, contatos sociais e apoio emocional. Essa terapia tem
sido muito efetiva com viúvos e viúvas.

 Hospedagens
Hospedagem é um domicílio no qual se oferecem cuidados aos pacientes terminais,
com ênfase no seu conforto físico e psicológico, cuidados esses que podem ser
oferecidos em uma instituição ou em casa. A hospedagem ajuda os pacientes moribundos
e suas famílias a tomarem decisões finais com dignidade e controle. Nela usa-se uma
abordagem multidisciplinar e seu objetivo primário é o controle da dor.
- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e a Hospedagem
Os pacientes com AIDS oferecem um exemplo de caso especial da necessidade para
um número imensamente maior de centros do tipo hospedagem para pacientes
terminalmente enfermos. Suas necessidades muitas vezes sobrepujam a capacidade de sua
própria rede social, bem como excedem a capacidade das instalações tradicionais de
atendimento à saúde.

Bibliografia
1) KAPLAN, HI, SADOCK, BJ & GREBB, JA – Compêndio de Psiquiatria: Ciências
Comportamentais e Psiquiatria Clínica. 7ªª. ª ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.

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