Você está na página 1de 8

PROJETO CURRICULAR ARTICULADOR - PCA

CONSTRUINDO O SEU PROJETO

Jane Santos Feu de Abreu


Laura Brandão de Melo
Maria Claudia Martins de
Souza Gonçalo
Priscila Pinto Rocha de Paula
Rosana dos Santos Townsed
Murras
Valéria Correia Tavares da
Silva
Vanessa Louzada Barbosa

A intervenção dos psicólogos diante da vulnerabilidade dos


adolescentes transexuais

RIO DE JANEIRO
2021
1. Dados do Projeto

1.1. Tema
O projeto desenvolvido nomeia-se “Doce infância”.

1.2. Contexto
De antemão, cabe ressaltar a especificação de sexo biológico e identidade de
gênero, tendo o primeiro como uma referência a fêmea, macho e hermafrodita, ligado a
questões como cromossomos, órgãos e hormônios. Já a identidade de gênero é social,
sendo assim, a mesma trás consigo uma ligação com a autopercepção e a forma como o
individuo expressa-se socialmente, e é nesta classificação que os transgêneros se
encontram. Ou seja, pessoas transgêneras são aquelas que possuem uma identidade de
gênero diferente do sexo que lhes foi designado no momento de seu nascimento.

No entanto, parte significativa da sociedade contemporânea apresenta a crença de


que apenas os órgãos genitais podem definir se o sujeito deve ser denominado como
homem ou mulher, o que gera uma onda de opressão, preconceito, discriminação e até
mesmo agressões físicas e psicológicas, podendo levar a morte. É importante ter em vista
que o mesmo encontra-se em uma fase aonde a busca pela identidade social, sexual e
ocupacional apresenta-se como principal foco.

. No relatório da Associação Nacional de Travesti e Transexuais (ANTRA), mostrou


que ocorreram nove suicídios, vinte de sete violações dos Direitos Humanos, trinta e três
tentativas de assassinatos e oitenta assassinatos, esses dados alarmantes são referentes
somente ao primeiro semestre de 2021. Diante de tamanha opressão, adolescentes que
não se identificam com seu sexo biológico tendem a negar sua própria identidade de
gênero, podendo acarretar danos psicossociais, por isso, é dever dos psicólogos se
posicionarem e intervirem.

Considerando a postura ética do Sistema Conselhos de Psicologia quanto aos


Direitos Humanos, ressalta-se a Resolução CFP nº 01 em 2018, que orienta a atuação
profissional de psicólogas (os) para que travestilidades e transexualidades não sejam
consideradas patologias. Tal Resolução do Conselho Federal de Psicologia tem como
objetivo impedir o uso de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou
Página 3 de 11
reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminação e veda a colaboração com
eventos ou serviços que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais
discriminatórias. A mesma foi de extrema necessidade devido aos vinte e oito anos em que
a transexualidade esteve na categoria de transtornos mentais do CID 10 e que pela nova
edição da CID 11, apresentada somente em 2019, a transexualidade sai dessa categoria e
passa a integrar as “condições relacionadas à saúde sexual” e é classificada como
“incongruência de gênero”. Desse modo, OMS deu até o dia 1º de janeiro de 2022 para os
países se adaptarem a nova CID.

A despatologização das identidades trans tem sido reivindicada por movimentos


de luta política de pessoas transgêneros. Alinhado a isso, o código de ética dos psicólogos
enfatiza o dever de comtemplar a diversidade e basear o seu trabalho no respeito e na
promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano,
apoiando nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Logo,
faz parte do dever dos psicólogos reivindicarem pela integridade das vidas de pessoa trans.

1.3. Objetivo Geral e específicos

O objetivo geral deste projeto é analisar os impactos na saúde mental dos


adolescentes transgêneros, decorrente do preconceito que pode atingir o âmbito das
violências. Tendo como objetivos específicos evidenciar que a violência contra transexuais
é caso de saúde pública e necessita de medidas de intervenções.

A partir disso, desenvolver ações que possam ser articuladas com os dispositivos
de saúde, como o acompanhamento psicológico realizado pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) através das Políticas Nacionais de Saúde Integral de LGBTI do Ministério da Saúde,
apresentando como direcionamento as Políticas Públicas e assistência social.

1.4. Metodologia

Problematizar, discutir teoricamente, as possíveis intervenções do psicólogo diante do


contexto psicossocial em que os adolescentes transexuais estão inseridos. O trabalho
exposto caracteriza-se como uma análise qualitativa e se fundamentou através de artigos e
livros, que apresentam como principal objetivo contribuir para as intervenções psicossociais
em benefício dos adolescentes transgênero, incluindo a família neste processo.

Página 4 de 11
Essa problematização teórica tem como intuito auxiliar o aperfeiçoamento da
competência dos psicólogos em agir visando a vigilância epidemiológica para que as
Políticas Públicas sejam acionadas, tendo em vista que a violência é um problema de
saúde pública. A partir dessa vigilância, é necessário o compromisso social em atuar nas
Políticas Públicas existentes de prevenção e promoção a saúde, e caso necessário, lutar
por uma Política Pública que atenda especificamente essa demanda.

A partir dessa perspectiva, é valorizado neste projeto o posicionamento do Conselho


Federal de Psicologia (CFP) e o Código de Ética dos Psicólogos. O CFP considera as
Políticas Públicas elementos centrais para a melhoria da qualidade de vida da população.
Desse modo, o CFP evidência o compromisso social da profissão em defesa da
democracia e das Políticas Públicas. Quanto ao Código de Ética dos Psicólogos, é
enfatizado no inciso I° dos Princípios Fundamentais o dever do psicólogo em basear seu
trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da
integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos
Direitos Humanos.

Por isso, para uma intervenção efetiva, propomos que os psicólogos que trabalham em
cada município, sejam eles da rede pública ou privada, contem rigorosamente com o
Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN), sistema este que é
responsável pelas notificações de doenças e agravos de saúde pública. Tem como
principal intrumento preenchimento correto da ficha de notificação de violência
interpessoal/autoprovocada, que é composto por 69 itens, é possível pontuar a identidade
de gênero de quem foi violentado, entender qual foi o tipo de violência, o meio de agressão,
se há ou não vínculo/grau de parentesco com o agressor, entre outras informações.

Feito isso, será possível compreender como a transfobia é evidencia em cada município
através de números, mostrando quais são os tipos de violências mais frequentes, se o
agressor costuma ser da família ou não, cor/raça da vítima, entre diversas outras
informações que irão permitir uma intervenção mais efetiva.

Por isso, cabe aos profissionais da saúde, da segurança e da educação tomarem


medidas interventivas e éticas. De forma exclusiva, cabe os psicólogos promover a
conscientização em defesa dos Direitos Humanos, para isso propomos que os psicólogos
que trabalham em cada municípi

o se reúnam para estudo das evidências e apresentação de possíveis intervenções. Desse


modo, ao decidirem a qual intervenção utilizar diante de tal contexto, é necessário que
Página 5 de 11
encontros mensais sejam realizados afim de acompanhar os desdobramentos de suas
intervenções.

Compreendendo que a falta de informação é um dos agravantes para a transfobia, a


proposta de intervenção é apresentada por intermédio da elaboração de ações como
cartilhas, dinâmicas e palestras, objetivando a conscientização da população, no tocante
aos adolescentes transexuais, e direcionando estes, a Políticas Nacionais de Integração
para que tenham atendimento em centros especializados, e assim tenham respaldo através
de Políticas Públicas.

Por fim, com compromisso social e posicionamento ético, psicólogo alcançará a


competência de agir alinhado a vigilância epidemiológica e a assistência social de forma
ativa e efetiva.

1.5. Políticas públicas no projeto

Política pública de saúde – No Brasil, o direito à saúde é realizado por meio do Sistema
Único de Saúde (SUS), que dispõe das políticas nacionais de saúde integrada LGBTIQA+ do
ministério da saúde, que garante a saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais, eliminando a discriminação e o preconceito institucional, bem como contribuindo
para a redução das desigualdades e a consolidação do SUS como sistema universal, integral e
equitativo. Tendo como objetivo, esboçar virtualidades que permitam uma melhor compreensão
tanto do sofrimento psíquico como dos agenciamentos produtivos na singularidade trans.

Na maioria dos casos, as pessoas transexuais que buscam os serviços de saúde já


apresentam uma trajetória de vida voltada para a identidade de gênero que se reconhecem de
maneira incorporada e evidente, o que demostra um auto diagnóstico de TIG – Transtorno de
Identidade de Gênero. Como a assistência a transexuais ainda é bastante recente no Brasil,
vários dilemas e desafios éticos, clínicos e institucionais têm aparecido justamente na
psicoterapia: a primeira constatação é a extrema vulnerabilidade de homens e mulheres que
vivenciam a transexualidade e a total falta de políticas públicas para esta população, diversas
são as formas de sofrimento psíquico provocadas por experiências de discriminação, não
reconhecimento e exclusão.

Sendo assim, a psicoterapia no contexto do processo transexualizador deve primar pela


singularização dos processos subjetivos e dos projetos terapêuticos. Já que é possível receber
homens e mulheres transexuais que desejam a transformação corporal pela exclusiva
necessidade de reconhecimento social mais amplo, geralmente estas pessoas já possuem uma
Página 6 de 11
vida afetiva e sexual satisfatória, como também já são reconhecidas pelo gênero que dizem
pertencer e em outras condições poderiam permanecer como estão. Nestes casos, a real
necessidade de cirurgia poderá ser relativizada.

Porém, é possível receber pessoas que consideram a realização de modificações corporais,


inclusive a cirurgia de transgenitalização, um evento vital para a construção de si, sendo a
possibilidade de modificação corporal fundamental para o delineamento de seus projetos de
vida. Segundo Mattos, 2004, é fundamental levar em conta a especificidade de cada encontro
para a elaboração do projeto terapêutico de cada paciente de acordo com os seus sofrimentos,
suas expectativas, seus temores e seus desejos. Logo, para a psicologia é essencial, como
teoria e prática, conceber uma nova cartografia psíquica de diversidade sexual, em que a
diferença possa ser entendida como singularidade e o gênero seja apenas um devir.

Página 7 de 11

Você também pode gostar