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Criatividade e educação

Article · February 2021

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Eric Zompero

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Criatividade e Educação. Em Arquitetura, Artes e Design.


Eric Zompero

EIDEA Educação e Inovação em Design, Engenharia e Arquitetura


ericzompero@gmail.com

Alguns colegas, em várias ocasiões, solicitam informalmente que eu comente sobre a


educação atual e como incentivar o desenvolvimento da criatividade em nossas áreas de
atuação, ou seja, as Artes, a Arquitetura e o Design.

Iniciando pelo óbvio, e que está disposto em múltiplas teses, em vários depositórios
acadêmicos, gosto sempre de citar o fantástico antropólogo, sociólogo e principalmente
filósofo francês Edgar Morin, que pensa e analisa a educação, pensando em seu futuro,
citando seus sete saberes, importantes para quebrar alguns paradigmas em relação às nossas
atividades educacionais. Seu primeiro saber refere-se, sempre considerando que as análises
são opinião desse autor, à “cegueira do conhecimento: o erro e a ilusão”, de onde podemos
considerar desde a vulnerabilidade da ciência diante de questões pessoais e amplitude dela,
até à prepotência dos que se apropriam desse conhecimento como uma autoafirmação
egocêntrica, o que percebemos em muitos dos cursos citados, já vi professores aéticos com
essa atitude, inclusive humilhando alunos. Não preciso nem falar que essa atitude deve ser
extinguida. O segundo, “os princípios do conhecimento pertinente”, e aqui temos uma das
principais questões do desenvolvimento criativo, devemos, como professores, compreender o
indivíduo, nunca de forma global como algumas instituições fazem, nivelando por baixo a
educação do aluno, devemos compreender e instigar cada um em direção ao desenvolvimento
de suas capacidades intrínsecas, afinal cada um tem uma vida diferente, que o construiu com
informações diversas, essenciais para a troca em uma comunidade estudantil, todos
contribuem com todos. Isso colabora com o terceiro saber, “ensinar a condição humana”,
fazendo com que todos compreendam sua humanidade, sua cultura, suas condições físicas,
psicológicas, entre outros; aqui observamos a necessidade da presença do professor como
incentivador desse desenvolvimento, ou seja, aulas à distância em épocas anômalas são
necessárias, mas nunca a educação de um artista, designer ou arquiteto será completa sem a
interação com um profissional dessas áreas, presente fisicamente. Gosto muito de falar sobre
o aperto de mãos, e como a eliminação dela nos dias de hoje determina conexões cada vez
mais insipientes. Saímos do indivíduo e vamos para o macrocosmos, “ensinar a identidade
terrena”, significa que, embora importante o desenvolvimento de comunidades locais, o
conhecimento é amplo e comum à todo o planeta, e toda problemática é assim, planetária, daí
a necessidade de conhecer o total, e não apenas uma parte, pois isso seria cercear o
desenvolvimento total do aluno. “Enfrentar as incertezas”, também é global, vivemos em um
sistema caótico, cada pequeno bater de asas de uma borboleta na Índia pode mudar nosso
pequeno geoide, e nossos discentes devem estar preparados para as incertezas, a fim de
minimizar todas as dificuldades causadas por ela. O sexto saber é uma das mais difíceis nesses
tempos de individualização exacerbada, “ensinar a compreensão”, compreender o outro como
cooperante, independente de qualquer variação humana, evitando etnocentrismos,
dogmatismos, xenofobia, racismo e egoísmos; parece óbvio, mas observando ocorrências nas
universidades, sabemos que essas ações negativas são constantes. Estamos desenvolvendo um
trabalho sobre como eliminar essas questões negativas em cursos universitários, em breve
publicaremos. Por último, uma complementação da anterior, temos “ a ética do gênero
humano”, o indivíduo está conectado à antropo-ética, à diversidade, ao antagonismo, o ser
humano é plural, e deve ser assim compreendido, cada cultura, cada local, cada grupo social
possuem suas habilidades e repertórios específicos, e devem ser assim considerados, como
pertencentes à humanidade de modo unitário; todos são indivíduos, mas dentro de uma
comunidade global, e aprender isso é aprender com cada um desses seres humanos.

Vemos, então, que os princípios citados visam o desenvolvimento de todos os aspectos


do indivíduo, desse modo, CRIAR se torna preponderante.
Inicia-se esse tópico, com a definição do que é criatividade, e esse trabalho não é fácil,
pois há inúmeras obras, com as mais copiosas definições, particularmente gosto das
delimitações da psicologia.

A criatividade, portanto, é onipresente. Uma instigante tese diz que pessoas


inteligentes fazem o que devem: elas solucionam problemas em um dado
contesto. Já as pessoas criativas fazem o que querem: elas mudam A
QUESTÃO PROPOSTA QUANDO ESTA LHES PARECE IMPRÓPRIA, Ou seja,
pessoas criativas tem um potencial de interferência. Nesse sentido, oquemos
vem à mente em primeiro lugar são a arte e o design. (BERZBACH, 2013, p.9)

A criatividade interfere, altera, é o que causa mudança. A Arte verdadeira, por


exemplo, causa um efeito em quem a vê, muda seu comportamento, sua emoção. Causa uma
ação, um efeito “uau”, ou algo que altere sua percepção, sua atitude diante sua existência, ou
as vezes, apenas um pequeno mudar de pensamento, que já é infinitamente importante. Tudo
isso é válido, é resultado de uma ação criativa. Ainda na psicologia:

Psicólogos definem criatividade como a “produção de ideias novas e


apropriadas, em todos os âmbitos da atividade humana”. Trata-se, portanto,
não apenas de personalidade. Por exemplo, os métodos com os quais você
trabalha podem ser criativos. Criativas podem ser também as condições
estruturais, o clima de trabalho. (BERZBACH, 2013, p.9)

Criatividade está presente o tempo todos em nossas vidas, é apenas necessário vê-la, e
então apropriar-se dela e colocar em prática.

Como isso funciona na Arquitetura, Artes e Design? Primeiro, aquisição de repertório,


sem isso é impossível criar algo (criar sempre se refere a algo NOVO). Repertório tem relação
com o viver do indivíduo, e é construído a cada momento em que interage com o universo. Ou
seja, qualquer ação sensorial adquirida é repertório, assim como todas as assimilações
informacionais. É física e intelectual. Todas essas informações, e esse termo é o cerne do
desenvolvimento criativo, são fundidas, interconectadas, fazem os neurônios se agitarem
aumentando a sinapse entre elas, trocando informações previamente adquiridas. Aqui fica
claro que, sem “informações pré adquiridas”, não há um pleno desenvolvimento criativo. Vale
citar, esse conhecimento não pode ser restrito à área de atuação, deve ser amplo, se trabalho
com Arquitetura também devo adquirir conhecimentos de moda, por exemplo.

Projetar, a ação pertinente às ciências aqui citadas, Arte, Arquitetura e Design, exige
processos criativos complexos, aliás processos técnicos e tecnológicos estão aqui inclusos, pois
fazem parte do ato projetual intrinsicamente. É algo pessoal que pode ser destruído em
instantes em ações docentes, por exemplo, é comum em algumas “aulas” de projeto a
avaliação de partes de um processo projetual proposto pelo aluno, por exemplo, um estudo
inicial, ou um croqui. Nessa ocasião o “censor”, pois não vou chamá-lo de Professor, faz uma
avaliação negativa do trabalho inicial, ocasionando uma juízo conflitante no processo projetual
do aluno, quebrando o incentivo que deveria ocorrer. Ora, o produto é o final, ele é decisivo;
fases iniciais devem ser construídas em cada etapa, não demolidas.

Construir, esse é o verbo muitas vezes esquecidas nesses e em outros cursos. É uma
ação contínua, não determinística. É Evoluir, conjuntamente. Em a cada ano tem-se alunos
diferentes de nós mesmos quando éramos alunos, não adianta impor os mesmos protocolos
de antes. Temos que absorver, compreender e mostrar ações a cada inferência percebida. O
que não ocorre na prática atual. Falta preparo do profissional discente, falta prática, falta,
muitas vezes, humanidade e desejo de compreender o aluno, o qual, muitas vezes, se encontra
em turmas com mais de 80 alunos, sendo impossível seu desenvolvimento, ele pode apenas
acompanhar a manada para se formar, já que atualmente nem avaliação são mais necessárias,
pois os alunos são aprovados sem cursar muitas disciplinas.

É triste pensar, mas em muitas instituições a formação de Artistas, Arquitetos e


Designers não existe mais, são apenas indivíduos que acompanharam o sistema, como
clientes, e conseguiram um diploma, mas que não possuem a prática do debate abrangente
em suas áreas, o qual as faculdades deveriam fornecer.

Mas enfim, temos que observar e construir novas realidades pensando no futuro,
quebrar as imposições dos que não priorizam a educação. E isso deve ser rápido, pois senão
teremos várias gerações enfraquecidas até que consigamos considerar profissionais íntegros e
completos novamente. Deve-se procurar modelos de práticas e teorias alternativas, que
envolvam todos os saberes desejados, projetos que demonstrem a capacidade dos alunos, não
apenas fetiches em exercícios já descartados e desatualizados nas disciplinas desses cursos.

É necessário, hoje e em diante, compreender o nosso mundo amplamente, sem


generalizações obsoletas, sem egocentrismos exacerbados, sem desconsiderações ao pequeno
e sem exagero aos autoproclamados “donos da verdade”. Conhecimento se constrói,
coletivamente. Nossa cultura é híbrida, deve incentivar o contemporâneo, mas também
abranger e compreender o passado, todo ele, não apenas o que é útil para um ou outro. Essas
são exigências nas Artes, na Arquitetura e no Design. Desconsiderar isso é enterrar tudo o que
construiu nossa sociedade.
REFERÊNCIAS

ALLEN, S. The future that is now. <https://placesjournal.org/article/the-future-that-is-now>


Acesso em 12 de agosto de 2020.

BERZBACH, F. Psicologia para criativos: dicas e sugestões de como manter a originalidade e


sobreviver no trabalho. – 1. Ed. – São Paulo: Editora G|. GIlli, 2013.

MANTOVANI, Lídia. Compreendendo os sete saberes enunciados por Edgar Morin.


<https://entretantoeducacao.com.br/educacao/compreendendo-os-sete-saberes-enunciados-
por-edgar-morin/> Acesso em 12 de agosto de 2020.

Neurologia e Aprendizagem: abordagem multidisciplinar. Org.: Newra Tellechea Rotta, et all.


– Porto Alegre: Artmed, 2016.

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