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Cuadernos del Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano - Series Especiales

Vol. 8 N° 2, Año 2020 pp. 15-29


ISSN 2362-1958

REFLEXÕES SOBRE A OCUPAÇÃO HUMANA PRÉ-HISTÓRICA EM UM


SAMBAQUI SOB ROCHA NA BAÍA DA BABITONGA: A COMPLEXIDADE DO
SÍTIO ARQUEOLÓGICO CASA DE PEDRA

Dione da Rocha Bandeiraa,b, Jessica Ferreiraa,b, Lucas Matos Silveiraa,b,


Júlio César de Sáa & Graciele Tules de Almeidab,c

RESUMO
A Baía Babitonga, localizada no litoral sul brasileiro, é considerada a última grande formação
estuarina do continente americano, possuindo relevante interesse na conservação ambiental e, também,
patrimonial: com mais de 180 sítios arqueológicos cadastrados, a baía é ocupada há cerca de 8.000
anos e marcada por uma grande diversidade cultural. Dentre as suas ocupações, destaca-se os povos
sambaquianos que chegaram a região entre 7.000 e 1.000 anos AP. Estes grupos pretéritos conhecidos
por pescadores-coletores-caçadores possuíam o hábito de construir e ocupar montes com conchas e
sedimentos (sambaquis) onde desenvolveram suas atividades de subsistência no qual se destacam
a habilidade com artefatos em rochas, conchas, ossos e vegetais. Os sambaquis a céu aberto não se
restringem à ocupação na Baía Babitonga: estes sítios estão distribuídos ao longo do litoral brasileiro
possuindo de mais de 2.000 sambaquis registrados, caracterizando a presença marcante destes povos nas
regiões costeiras. Entretanto, novas descobertas aprese ntaram que estes povos não construíam apenas
sambaquis a céu aberto como também ocupavam abrigos rochosos. Até o momento, há 3 sambaquis sob
rocha registrado no Brasil e, dentre eles, destaca-se o sambaqui sob rocha Casa de Pedra, localizado
no litoral leste de cidade-ilha de São Francisco do Sul/Santa Catarina. Com 40 cm de comprimento,
o pequeno sambaqui foi escavado sob a coordenação da arqueóloga, Dra. Dione da Rocha Bandeira,
durante os anos de 2015 e 2017, sendo rebaixado 15 cm da sua superfície com dois perfis realizados até
a profundidade. Na superfície imediata do sambaqui foram encontrados fragmentos dispersos de ossos
queimados de mão humana, no qual a datação registrou 5.470 ± 30 anos A.P. Esta data colocou o sítio
entre os mais antigos da região. Além dos vestígios queimados de ossada humana, houve abundantes
remanescentes malacológicos e ictiológicos ao longo das camadas escavadas. Entretanto, mesmo ainda
não sendo encontrado artefatos, a presença de pinturas rupestres nas paredes internas da gruta e a
datação dos sedimentos abaixo do sítio, por volta de 4.330 ± 700 e 5.670 ± 850 anos AP, que registrou
ser mais recente que a matriz arqueológica, levantaram questões sobre a procedência do sambaqui sob
rocha Casa de Pedra e as possíveis ligações entre os sambaquianos com as pinturas. Análises realizadas
até o momento não comprovaram se as pinturas fazem parte da cultura sambaquiana registrada na Baía
da Babitonga, entretanto, com base nas datações, composição do sambaqui e análise fauna da matriz
arqueológica, assegurou-se que este sítio arqueológico é, de fato, um sambaqui.

PALAVRAS-CHAVE: Sambaqui sob rocha. Pintura rupestre. Baía Babitonga. Pescadores-coletores-


caçadores.

ABSTRACT
The Babitonga’s Bay, located on the Brazil´s southern coast, is considered the last great estuarine
formation of the american continent, possessing relevant interest in environmental conservation and,

a
Universidade da Região de Joinville – UNIVLLE. jessferreira.f@gmail.com
b
Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville – MASJ.
c
Universidade Federal de Pelotas – UFPel.

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also, patrimonial: with more than 180 registered archaeological sites, the bay is occupied for about 8,000
years and marked by a great cultural diversity. Among its occupations, pre-historic peoples that arrived
in the region between 7,000 and 1,000 years B.P. These past groups known as fisherman-hunterman-
gatherers had the habit of building and occupying mounds with shells and sediments (sambaquis) where
they developed their subsistence activities in which they emphasize the ability with artifacts in rocks,
shells, bones and vegetables. The sambaquis are not restricted to the occupation of the Babitonga´s
Bay: these sites are distributed along the brazilian coast having more than 2,000 registered sambaquis,
characterizing the marked presence of these people in the coastal regions. However, new findings have
shown that these people didn’t only build sambaquis but also occupied rocky shelters. So far, there are
three sambaquis in the rockshelter recorded in Brazil, among them the sambaqui in rockshelter Casa
de Pedra, located on the east coast of the island-city of São Francisco do Sul / Santa Catarina. With a
length of 40 cm, the small sambaqui was excavated under the coordination of the archaeologist, Dr.
Dione da Rocha Bandeira, during the years of 2015 and 2017, being lowered 15 cm of its surface with
two profiles realized to the depth. On the immediate surface of the sambaqui were scattered fragments
of burned bones of human hand, in which the dating registered 5.470 ± 30 years B.P. This date placed
the site among of the oldest of the region. In addition to the burned remains of human bones, there
were abundant malacological and icthyological remnants along the excavated layers. However, even if
artifacts were not found, the presence of cave paintings on the inner walls of the cave and the dating of
the sediments below the site, around 4,330 ± 700 and 5,670 ± 850 years old B.P., which registered to be
more recent than the archaeological matrix, raised questions about the origin of the sambaqui inside a
rockshelter and the possible links between the sambaquianos and the paintings. Analyzes carried out to
date have not proved that the paintings are part of the sambaquian culture recorded in the Babitonga´s
Bay, however, based on the dates, sambaqui composition and fauna analysis of the archaeological
matrix, it was assured that this archaeological site is, in fact, a sambaqui.

KEY-WORDS: Shell midden in rockshelter. Rock painting. Babitonga’s Bay. Fisherman-hunterman-


gatherers.

RESUMEN
La bahía de Babitonga, ubicada en el litoral sur brasileño, es considerada la última gran formación
estuarina del continente americano, que posee relevante interés en la conservación ambiental y, también,
patrimonial: con más de 180 sitios arqueológicos registrados, la bahía es ocupada hace cerca de 8.000
años y marcada por una gran diversidad cultural. Entre sus ocupaciones, se destacan los pueblos
sambaquianos que llegaron a la región entre 7.000 y 1.000 años AP. Estos grupos pretéritos conocidos
por pescadores-recolectores-cazadores poseían el hábito de construir y ocupar montes con conchas
y sedimentos (sambaquis) donde desarrollaron sus actividades de subsistencia en la que se destacan
la habilidad con artefactos en rocas, conchas, huesos y vegetales. Los sambaquis a cielo abierto no
se restringen a la ocupación en la Bahía de Babitonga: estos sitios están distribuidos a lo largo del
litoral brasileño con más de 2.000 sambaquis registrados, caracterizando la presencia marcante de
estos pueblos en las regiones costeras. Sin embargo, nuevos descubrimientos presentaron que estos
pueblos no construían sólo sambaquis a cielo abierto como también ocupaban abrigos rocosos. Hasta
el momento, hay 3 sambaquis bajo roca registrado en Brasil y, entre ellos, destacase el sambaqui bajo
roca Casa de Piedra, ubicado en el litoral este de la isla de São Francisco del Sur / Santa Catarina. Con
40 cm de largo, el pequeño sambaqui fue excavado bajo la coordinación de la arqueóloga, Dra. Dione
da Rocha Bandeira, durante los años 2015 y 2017, siendo rebajado entre 10 y15 cm de su superficie
con dos perfiles realizados hasta la profundidad. En la superficie inmediata del sambaqui se encontraron

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fragmentos dispersos de huesos quemados de mano humana, en el cual la datación registró 5.470 ±
30 años A.P. Esta fecha colocó el sitio entre los más antiguos de la región. Además de los vestigios
quemados de osada humana, hubo abundantes remanentes malacológicos e ictiológicos a lo largo de
las capas excavadas. Sin embargo, aún no se encontraron artefactos, la presencia de pinturas rupestres
en las paredes internas de la cueva y la datación de los sedimentos debajo del sitio, alrededor de 4.330
± 700 y 5.670 ± 850 años AP, que registró ser más reciente que la matriz arqueológica , plantearon
cuestiones sobre la procedencia del sambaqui bajo roca Casa de Piedra y las posibles conexiones entre
los sambaquianos con las pinturas. Los análisis realizados hasta el momento no comprobaron si las
pinturas forman parte de la cultura sambaquiana registrada en la Bahía de Babitonga, sin embargo, con
base en las fechas, composición del sambaqui y análisis fauna de la matriz arqueológica, se aseguró que
este sitio arqueológico es, un sambaqui.

PALABRAS CLAVE: Sambaqui bajo roca. Pintura rupestre. Bahía de Babitonga. Pescadores cazadores-
recolectores.

Manuscrito final recibido el día 31 de enero de 2019. Aceptado para su publicación el día 29 de mayo de 2019.

INTRODUÇÃO mais informações que determinam etnia destes


A Baía Babitonga é considerada um dos povos, são conhecidos por construírem montes
complexos estuarinos com a maior biodiversidade de conchas denominados por sambaquis (do Tupi,
regional, tanto no ecossistema marinho quanto samba = concha e ki = amontoado). Estes vestígios
no ecossistema terrestre, uma vez que a região marcantes na paisagem da baia da Babitonga
apresenta diversas fitoformações de um hot spot são os sitios mais representativos na região,
mundial: a Mata Atlântica e é considerado um totalizando entorno de 170 sambaqui de 2.000
dos grandes berçários da vida marinha (Cremer, sambaquis registrados no litoral brasileiro. Estes
2006). Diante disto, é visada economicamente grupos tinham o hábito de construir sambaquis em
pelas comunidades tradicionais e, também, pela áreas com grande produtividade pesqueira, como
produção/pesca industrial devido à sua alta enseadas, foz de rios e estuários (Figuti, 2008;
produtividade pesqueira (Fossile et al., 2018). Bandeira, 2015; Fossile et al., 2018).
Entretanto, o interesse antrópico sobre a região, Estes grupos dominaram a Baía da Babitonga entre
surgiu muito antes da ocupação das cidades 7.000 e 1.000 anos A.P e chegaram ao estuário via
litorâneas: segundo registros arqueológicos, a navegação, uma vez que possuem alta habilidade na
Baía Babitonga foi palco de diversos grupos confecção de artefatos em conchas, ossos, rochas
culturais desde o final do Pleistoceno (Bandeira et e vegetais com vestígios abundantes de utilitários
al., 2018). de pesca, machados entre outras ferramentas
Com mais de 180 sítios arqueológicos registrados, além de ecofatos dispersos pela matriz dos sítios
até o momento a região estuarina foi ocupada por com predominância da fauna marinha (Villagran,
quatro grupos étnicos: os povos da tradição umbu, 2013). Ainda, a presença de adornamentos e peças
por volta de 8.000 anos A.P., ao qual pouco sabe-se ósseas e líticas confeccionadas na forma de animais
sobre esta tradição na Baía da Babitonga, uma vez conhecidos por zoomorfos (zoólitos e zooósteos)
que apenas tem-se pouquíssimos sítios de pontas assim como as técnicas de caça, pesca, coleta e,
registrados por esta cultura que tinha o hábito de inclusive as formas de sepultamento demarcam
construir pontas de flechas (Rosa & Costa, 2014). uma sociedade de cultura desenvolvida (Castilhos,
Em seguida, pelos pescadores-coletores-caçadores 2005; Ferreira et al., 2018).
ou sambaquianos, assim chamados por não haver Por fim, as últimas ocupações da região antes da

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ocupação europeia foram pelos povos ceramistas MATERIAL E MÉTODOS


taquara-itararé, do tronco linguístico Jê que Área de estudo: caracterização regional e local.
ocuparam a região por volta de 1.400 anos AP. O sambaqui sob rocha Casa de Pedra (CP),
Provavelmente houve contato destes povos com cadastrado por Alves (2003), possui 40 cm de
os sambaquianos, mas, não se sabe ao certo o que comprimento com área de 37 m² e está localizado
levou o desaparecimento do grupo anterior que por à porção leste da Cidade-Ilha São Francisco do
muito tempo dominou a região (Bandeira, 2004). Sul, inserida na Baía da Babitonga. Esta porção
O taquaras-itararés, vindos do planalto ao qual da ilha é delimitada a sul pelo Canal do Linguado,
possuíam o hábito de ocupar casas subterrâneas a norte pela foz principal da Baía da Babitonga,
e abrigos em grutas, usaram os sambaquis a céu a leste pelo Oceano Atlântico e a oeste pelos rios
aberto para sua ocupação, como mostram os Acaraí e Perequê (Bandeira et al., 2018; Sá, 2017;
vestígios arqueológicos: fragmentos de cerâmicas Ferreira, 2018).
Jê no topo de diversos sambaquis da Babitonga, A região na qual o sítio arqueológico (Datum
assim como análises de isótopos e genéticas em Sirgas 2000, 22J UTM: 742954(e) -7084559(n))
esqueletos comprovam a ocupação desses grupos está situado é caracterizada por depósitos
do planalto nos sambaquis (Corteletti, 2012; Copé, marinhos holocênicos demarcado, atualmente
2015; Neves, 1988; Bastos, 2009). Por fim, vindos por dunas frontais e parabólicas. Estando dentro
da Amazônia, chegam a região estuarina por volta das mediações do Parque Estadual do Acaraí,
de 350 anos A.P, uma tradição ceramista do grupo atualmente está a, aproximadamente, 600 metros
linguístico Tupi: Os guaranis (Brochado, 1989). da linha de praia, a leste, e a 2.000 m do rio Acaraí,
Estes grupos não predominaram na região como as a oeste. Sobre uma base arenosa de depósito,
duas tradições anteriores, uma vez que há poucos resultado de um processo de acomodação da
registros de sítios cerâmicos guaranis (Almeida, elevação de um embasamento cristalino, as
2017; Bandeira, 2004). Provavelmente, a presença paredes da gruta são caracterizadas por rochas do
dos europeus impediu o domínio destes grupos na tipo gnaisse (Figura 1).
região. As condições climáticas da região em que o sítio
Contudo, diante riqueza arqueológica presente na está inserido, de acordo com base na Classificação
Baía Babitonga, há mais de 30 anos, pesquisas de Köppen, Santa Catarina se enquadra no clima
vem sendo realizadas a fim de compreender do grupo C, chamado de mesotérmico, uma vez
a complexidade sociocultural que ocorreu na que as temperaturas do mês mais frio estão abaixo
região desde o Pleistoceno e dentre esses achados de 18°C e acima de 3°C, com estações do ano
arqueológicos, um sítio tornou-se objeto de estudo bem demarcadas (Pandolfo et al., 2002). Quanto
nos últimos três anos por ser o único sambaqui a vegetação, segundo Melo Jr & Boeger (2015),
registrado dentro de gruta na Babitonga, havendo caracteriza-se por Floresta de Transição entre
apenas três sambaquis sob rocha registrados no ecossistema de Restinga e Floresta Ombrófila
Brasil sendo este, o único com registro de pinturas Densa de Terras Baixas, ambos componentes
rupestres em suas paredes internas: o sambaqui do Bioma Mata Atlântica. Regionalmente, as
sob rocha Casa de Pedra. três formações de restinga (herbácea, arbustiva e
Devido a sua peculiaridade, vem sendo realizado arbórea) se estende ao longo da costa leste da ilha
uma série de estudos neste sambaqui afim de e, em seu interior, às margens da lagoa do Acaraí,
compreender a tradição cultural (ou tradições há predominância da vegetação de manguezal,
culturais) que ocupou este sítio, assim como ressaltando a grande biodiversidade florística e
entender sua inserção cultural na paisagem. faunística na região que, por base nos levantamentos
Portanto, busca-se aqui, apresentar uma geológicos recentes caracterizados por Possamai et
compilação de resultados e reflexões levantados al. (2010), Vieira (2015) e Sá (2017) confirmam um
sobre este sítio. ambiente similar desde o Pleistoceno, não apenas
para a ilha como para toda a Baía da Babitonga.

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Figura 1. Localização do sambaqui sob rocha Casa de Pedra. Fonte:


Bandeira et al., 2018:212.

Da escavação arqueológica à datação Também foram coletados materiais para datação


As metodologias de escavação, adaptadas de em radiocarbono convencional, amostras
Scheel-Ybert et al. (2006, 2009), Bicho (2011) e conquiológicas da espécie de molusco bivalve
Gaspar & Souza (2013), ocorreram nas temporadas Anomalocardia flexuosa à 25 cm de profundidade
de verão e inverno dos anos de 2015 e 2017 com e em AMS do fragmento ósseo humano queimado
rebaixamento em níveis artificiais de 5 cm de e encaminhados para o Laboratório Beta Analytic,
profundidade em 30 setores de 100x100 cm que sediado em Miami, Flórida (EUA).
configuraram toda a superfície do sítio e resultaram
em até 15 cm de rebaixamento em alguns setores Das amostragens arqueológicas às análises
do sambaqui, equivalente a 2.413 litros escavados. Para análises zooarqueológicas e arqueobotânicas,
Deste, dois setores, um localizado aos fundos do as amostragens provenientes da escavação
sitio e outro na entrada da gruta, foram selecionados passaram por: 1) peneiramento a seco (em peneira
para sondagens de perfil de 50x50 cm até a base da com malha 0,2 cm) seguido de peneiramento
matriz arqueológica afim de verificar a tendência molhado (em peneira com malha 0,05 cm), com
de direção do material malacológico em relação ao triagem do material encharcado ao qual foram
leque aluvial existente no abrigo, realizar um croqui selecionados os macrovestígios zooarqueológicos
do perfil estratigráfico das camadas arqueológicas (fragmentos ósseos; quelas de crustáceos e
da face norte e analisar a granulometria e idade conchas de moluscos com ocorrência rara no
do sedimento abaixo da matriz “pelo método sítio); carvões; fragmentos rochosos e vestígios
da Luminescência Oticamente Estimulada não-identificáveis; e 2) flotação proveniente de
(LOE), utilizando o protocolo Single-Aliquot 36 amostras de volume controlado de 10 litros
Regenerative-Dose (SAR) (Murray; Wintle, 2000; coletados na porção nordeste de cada setor. A
Wintle; Murray, 2006), com dez alíquotas que, flotação, adaptada do modelo de Scheel-Ybert
segundo Guedes et al. (2011), mostram-se como o et al. (2005-2006), consistia num equipamento
mais adequado para análise, no Brasil, de areias do composto de duas peneiras sobrepostas de 4 e
Quaternário” (Bandeira et al., 2018: 213) (Figura 2). 2 mm acopladas no interior de um tonel e nas

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Figura 2. Imagem ilustrativa da superfície do sambaqui sob rocha


Casa de Pedra, com demarcação dos setores. Os quadros em azul =
sondagens de perfil. Fonte: Bandeira et al., 2018:214.

saídas d’água foram acopladas peneiras de 0,05 dados para futuras pesquisas (Pereira et al., 2013 e
cm. Após a flotação, os vestígios (conchas de López-Montalvo, 2007).
moluscos, fragmentos ósseos e rochosos, quelas
de crustáceos e carvões) provenientes do processo RESULTADOS E DISCUSSÕES
foram acomodados em uma estante secadora Das análises realizadas no sambaqui sob rocha
para secagem à temperatura ambiente. Nos dois Casa de Pedra, tem-se resultados conclusivos das
métodos supracitados foram realizadas análises datações, dos estudos arqueomalacológicos e da
quali-quantitativas e estatísticas com auxílio do descrição das pinturas rupestres por imagem digital.
software Past 3.0, ArchaeoBones e MS Excel 2013. Dados parciais, no aspecto qualitativo, foram
Em parceria com o Laboratório de Sedimentologia obtidos dos demais vestígios zooarqueológicos.
do Lagemar /UFF e Laboratório de Abelhas Ademais estão em análise e os resultados não
da Univille, também foram separados material estão disponíveis.
arqueológico para análises fitológicas e Dos aspectos zooarqueológicos, foram analisados
palinológicas, respectivamente, a partir de coletas 360 litros de matriz arqueológica procedentes das
ao longo do perfil (D4-NE, figura 2) escavado na 36 amostras de volume controlado, resultou, em
entrada do sítio que estão sendo analisados. 32.344 espécimes arqueomalacológicos sendo o
Quanto as pinturas rupestres, foram registras em MNI (Minimum Number of Individuals) de 17.695
fichas de campo adaptadas de Costa (2012) e indivíduos proveniente de 27 espécies de moluscos,
sofreram metodologias não destrutivas, uma vez dos quais, 15 espécies são do grupo dos bivalves
que estes registros são exclusivos não somente que comportam 99,51% do total de indivíduos e
para a Baía da Babitonga como para todo o Brasil. 12 gastrópodes que representaram apenas 0,49%
As técnicas utilizadas foram a fotografia digital no do total de indivíduos (Ferreira, 2018) (Tabela
qual trabalhou-se com o plugin DStretch-ImageJ 1). Segundo Ferreira (2017; 2018) e Cavassola
que ressaltaram os detalhes das imagens digitais (2018), das espécies registradas, os moluscos
que dificilmente poderiam ser vistas a olho nú bivalves Anomalocardia flexuosa (berbigão),
devido pouca iluminação dentro da gruta; decalque Phacoides pectinatus (ameijoa) e Crassostrea sp.
digital, baseado em discriminação de pixel que (ostra) foram as mais representativas na matriz
tem por eixo norteador a fotografia, a seleção de arqueológica, o que é comum para sambaquis sul
gamas de cores dos pixels e a correção dos dados e sudeste do Brasil, que também possuem maior
obtidos a fim de descreve-las, registrá-las e gerar representatividade destas espécies (Souza et al.,

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2010; Gernet & Birckolz, 2011). Vale ressaltar que destas espécies no ambiente desde o Holoceno
estudos paleontológicos, comprovam a abundancia Tardio (Cancelli et al., 2017).

NISP ABUNDÂNCIA
TAXONOMIA FA
FRAG. INT. TOTAL NMI pi%
Mollusca            
Bivalvia            
Arcidae            
Anadara brasiliana (Lamarck, 1819) 0 1 1 1 0,01 2,78
Lunarca ovalis (Bruguière, 1789)* 2 0 2 2 0,01 5,56
Corbulidae            
Juliacorbula sp. 0 1 1 1 0,01 2,78
Donacidae            
Donax hanleyanus (Philippi, 1847) 4 3 7 6 0,03 13,89
Lucinidae            
Clathrolucina sp. 0 1 1 1 0,01 2,78
Phacoides pectinatus (Gmelin, 1791)* 492 321 813 459 2,59 91,67
Mytilidae            
Brachidontes exustus (Linnaeus, 1758)* 0 14 14 9 0,05 16,67
Mytella sp. 93 7 100 72 0,41 50,00
Ostreidae            
Crassostrea spp. 2716 5639 8355 4916 27,78 97,22
Ostrea cf. equestris (Say, 1834)* 0 3 3 3 0,02 2,78
Tellinidae            
Eurytellina cf. angulosa (Gmelin, 1791)* 18 0 18 7 0,04 13,89
Tellina sp. 7 3 10 15 0,08 22,22
Veneridae            
Anomalocardia flexuosa (Linnaeus, 1767)* 7544 15386 22930 12114 68,46 100,00
Leukoma pectorina (Lamarck, 1818) 2 0 2 2 0,01 5,56
Tivela zonaria (Lamarck, 1818) 1 0 1 1 0,01 2,78
Gastropoda            
Bullidae            
Bulla cf. striata (Bruguière, 1792)* 3 0 3 3 0,02 8,33
Cerithiidae            
Cerithium atratum (Born, 1778)* 0 2 2 2 0,01 2,78
Littorinidae            
Littoraria flava (King, 1832)* 1 0 1 1 0,01 2,78
Muricidae            
Espécie não ident. 40 0 40 40 0,23 41,67
Siratus senegalensis (Gmelin, 1791) 3 2 5 5 0,03 11,11
Siratus sp. 1 0 1 1 0,01 2,78
Stramonita brasiliensis (Claremont & D. G.
5 1 6 6 0,03 11,11
Reid, 2011)*
Nassariidae            
Phrontis vibex (Say, 1822)* 1 13 14 14 0,08 27,78
Neritidae            

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Neritina virginea (Linnaeus, 1758)* 0 11 11 11 0,06 19,44


Odontostomidae            
Macrodontes sp. 1 0 1 1 0,01 2,78
Olividae            
Olivella sp. 1 0 1 1 0,01 2,78
Ranellidae            
Espécie não ident. 0 1 1 1 0,01 2,78
TOTAL 10935 21409 32344 17695 100  

Tabela 1. Relação de espécies de moluscos identificados nas camadas superficiais do sambaqui sob rocha Casa de
Pedra. Desenvolvido no MS Excel 2013. Fonte: Ferreira, 2018:10-11.

Ferreira (2018), ao caracterizar a distribuição Em relação aos aspectos tafonômicos, na


destes indivíduos pelas camadas superficiais do distribuição do grau de fragmentação dos moluscos
sambaqui, concluiu que os setores localizados na analisados nas camadas superficiais do sambaqui,
região centro-noroeste, próximos a parede rochosa houve baixa fragmentação de conchas na porção
apresentaram composição arqueomalacológica centro-noroeste quando comparada a outras
similar, possuindo maior proporção de material porções do sambaqui. “Esta pode estar relacionada
malacológico, diversidade, abundância e riqueza, à pouca movimentação [antrópica] sobre a área,
quando comparado as demais porções das camadas levantando duas possibilidades: 1) dificuldade
superficiais do sambaqui. Cavassola (2018) de locomoção devido a inclinação da parede
também registra maior abundancia e riqueza de rochosa que compõe o abrigo e/ou 2) sugere-se
gastrópodes na porção centro-oeste do sambaqui que este local acomodou um (ou mais) possível
que contemplam setores entre D5-E5 e D7-E7 (is) sepultamento (s) devido aos vestígios ósseos
(Figura 3 e 4). Vale ressaltar que foi nesta porção humanos encontrados, limitando locomoção/
que ossos humanos dispersos foram encontrados à pisoteio nesta área” (Ferreira, 2018:17).
5 cm da superfície. Para Klokler (2016) e Oliveira Ainda, conforme Ferreira (2018) e Cavassola
et al. (2013) sambaquis são como centros de rituais, (2018), a malacofauna presente na superfície
no qual a disposição dos artefatos e ecofatos fazem do sambaqui não apresentou indícios de uso
parte deste mundo simbólico. para adornamentos ou ferramentas. Mas devido

Figura 3. Croqui do plano de camada do primeiro nível (0 a 5 cm)


escavado. Desenvolvido no Corel Draw. Fonte: Bandeira et al., 2018.

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Figura 4. Croqui do plano de camada do segundo nível (5 a 10 cm)


escavado. Desenvolvido no Corel Draw. Fonte: Bandeira et al., 2018.

à presença abundante de conchas com valvas arqueológico enquanto sambaqui: as datações e


fechadas, assim como material queimado e as pinturas rupestres. Durante a pesquisa, foram
fragmentação, pode sugerir uso exclusivo de realizadas quatro datações: a datação em AMS da
algumas espécies como Anomalocardia flexuosa, falange de uma mão humana esquerda encontrada
Ostreídeos e Phacoides pectinatus para construção a 5 cm de profundidade na porção centro-noroeste
do montículo; enquanto que o alto índice de do sambaqui (setor D5, figura 3a.) que resultou
columelas encontradas das espécies Stramonita em 4.460 ± 30 anos C14 A.P (Beta 418.378; osso
Brasiliensis e Siratus senegalensis sugerem seu de Homo sapiens, δ13C= -12.9‰, cal. BC 3.100
uso para alimentação ou iscas. a 2.920, cal. AP 5.050 a 4.870) e datação por
Em relação ao material arqueomalacológico análise Radiometric PLUS-Standard delivery da
queimado, acredita-se ser resultado da espécie de Anomalocardia flexuosa à 25 cm de
proximidade às fogueiras ou queima de algum profundidade no setor com 5.470 ± 30 anos C14
material. Vale ressaltar que a superfície do AP (Beta 418.377; conchas de Anomalocardia
sambaqui apresentou fogueiras de uso recentes, flexuosa, δ13C= -0.7‰, cal. BC 3.960 a 3.745, cal.
possivelmente feitas por caçadores ou moradores AP 5.910 a 5.695).
da região e essa contaminação pós-deposicional As datações realizadas subsolo do sambaqui, à
pode confundir-se com fogueiras construídas pela 20cm e a 40 cm, pela técnica LOE resultaram,
cultura pretérita. respectivamente, em 4.330 ± 700 anos AP
Outras espécies faunísticas identificadas por (Datação 4.551, sedimento à 20 cm da superfície,
Bandeira et al. (2018) a partir da amostragem da 1.200 ± 135 µGy/ano, 5,2 P (Gy), σ 0,30) e 5.670
prospecção do perfil (D4-NE) localizado na entrada ± 850 anos AP (Datação 4.552, sedimento à 40 cm
da gruta foram espécies da ictiofauna, tais como o da superfície, 1.130 ± 135 µGy/ano, 6,4 P (Gy), σ
baiacu (Sphoeroides spp. - Tetraodontidae), bagre 0,15). Segundo Bandeira et al. (2018:216):
(Genidens spp. - Ariidae), pescada (Cynoscion
spp. - Sciaenidae) e miraguaia (Pogonias spp. - [...]entende-se que o substrato geológico onde
Scianidae); quelas de crustáceos decápodes da o sítio se encontra inserido é caracterizado
ordem Branchyura e dentes de mamíferos da por depósitos marinhos formados durante
ordem Rodentia. o Holoceno, com início durante a máxima
Por fim, dois resultados peculiares levantaram transgressão deste período, com nível
incógnitas sobre a procedência do sítio relativo do mar em torno de 3,5 m acima do

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Bandeira et al., CUADERNOS - SERIES ESPECIALES 8 (2): 15-29, 2020.

atual a 5.400 anos AP (Angulo et al., 2006). E, não bastando as dúvidas existentes quanto
Após isso, ocorreu o período de declínio ao processo de construção do sambaqui, têm-se
do nível relativo do mar e a instalação a ocorrência de pinturas rupestres nas paredes
de processos eólicos, que ocasionaram o internas da gruta, localizada a uma distância
retrabalhamento dos sedimentos marinhos aproximada de 2 metros de altura da base. As
superficiais previamente depositados. Nesse pinturas rupestres formam 2 painéis com desenhos
sentido, a idade de 5.670 ± 850 anos AP da geométricos nos quais, a olho nu, predominam
amostra 4552 é compatível com as idades tons de vermelho sem sobreposição de outras
marinhas identificadas por Zular (2011), na representações. Entretanto, nota-se evidências de
porção norte da Praia Grande. A amostra tons de amarelo em algumas das pinturas.
4551 representa o retrabalhamento por Com auxílio do plugin Dstrech foi possível
agentes eólicos quando da inexistência de confirmar que as pinturas possivelmente foram
vegetação na região do sítio arqueológico. maiores, uma vez que há resquícios e manchas.
Provavelmente, a ação do intemperismo sobre
Os resultados levantaram questões, ainda não as pinturas no painel levou à redução ou o
respondidas, sobre a procedência da matriz deslocamento dos pigmentos ao longo do tempo
arqueológica presente na gruta. Uma vez que o nas paredes do abrigo.
sambaqui apresentou data mais antiga que a base Com base nas análises, o painel 01, apresenta três
ao qual ocorreu o assentamento. Não havendo desenhos, o primeiro, pode ser descrito como duas
dados conclusivos, Bandeira et al. (2018) e linhas paralelas verticalmente uma ao lado da
Ferreira (2018), defendem a hipótese de que o outra no tom de vermelho, aparentemente feitos
sambaqui sob rocha Casa de Pedra seja resultado com algum utensílio de espessura média de ± 2 cm
de um aproveitamento da base arqueológica de (Figura 6a). O tratamento, cujo realce de cores foi
dois sambaquis próximos a sua localização: o utilizado pelo plugin Dstrech, evidenciou que esta
sambaqui Praia Grande VI e/ou Praia Grande pintura pode ter sido maior. Atualmente a pintura
IX (Figura 5), uma vez que ambos apresentaram que é visível a olho nu no possui uma média de 40
a mesma datação e composição malacológica cm de comprimento por 2 cm de espessura. Já o
que o Casa de Pedra. Sá (2017) e Bandeira et al. segundo desenho (figura 6b), é representado por
(2018), também levantam uma segunda hipótese: duas linhas sobrepostas no tom de vermelho, que
a construção do sambaqui foi imediata a formação lembram um sinal de “X”, após o uso do plugin
do solo na gruta. Dstrech pode-se observar a presença de dois

Figura 5. Imagem ilustrativa da localização dos sítios datados entre


6.000 anos A.P. e 5.000 anos A.P. no setor central da Costa Leste.
Legenda: Linha Preta - Rota hidrica; Linha Amarela - Limites da área
da Costa Leste. Fo nte: Sá, J. C. 2017:170.

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Figura 6. Figuras com e sem tratamento no plugin Dstrech realizado no painel 1 do


sambaqui sob rocha Casa de Pedra. a) Pintura com duas linhas paralelas; b) Pintura com
duas linhas cruzadas, sobrepostas. Fonte: Primária.

desenhos no mesmo padrão, aproximadamente


8x8 cm, e sua espessura varia, não ultrapassando
a marca de 2 cm. Detectou-se a presença de uma
outra possível tonalidade em um tom amarelado,
levantando a hipótese do uso de uma matéria-
prima diferente.
O painel 02 apresenta linhas horizontais preenchidas
por uma tonalidade amarelada e logo abaixo uma
sequência de linhas em forma de “V”, que pode ser
entendido por um zig e zag sendo que no centro de
um há um círculo (Figura 7a). Utilizando o recurso
de aprimoramento de imagens, as representações
são maiores do que aparentam ser a representação
possui 92 cm de comprimento, cada “V” possui em
torno de 30 cm e sua espessura variam entre 2 e 3
cm. Outra representação encontrada logo acima do
desenho maior, consiste em sete linhas verticais,
todas em tons de vermelho e sugerindo que o autor
da pintura utilizou os próprios dedos para produzir
o desenho. As pinturas ficam em torno de 4 cm
cada, e sua espessura em torno dos 2 cm (figura
7b). Neste mesmo painel, há uma pintura com um
formato de um semicírculo sob uma depressão
na parede. Apresenta uma colocação vermelha
e possui 20 cm de altura por 20 cm de largura
(Figura 7c).
Provavelmente, os padrões seguidos nos desenhos
provêm de métodos com matéria-prima de mesma
origem. Entretanto, questiona-se a origem desta
técnica cultural: Seriam os sambaquianos? Os
Jês? Ou outros grupos? Uma vez que nenhum dos Figura 7. Figuras com e sem tratamento no plugin
grupos éticos mencionados apresentam registros Dstrech realizado no painel 2 do sambaqui sob rocha
de práticas similares na Baía da Babitonga. Uma Casa de Pedra. a) Pinturas com linhas horizontais com
sequência de linhas em ‘V’ abaixo; b) Pintura com sete
vez que não há registro, no Brasil, de pinturas linhas verticais paralelas; c) pintura em semicírculo.
rupestres associadas a sambaquis. Portanto, são Fonte: Primária.

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Bandeira et al., CUADERNOS - SERIES ESPECIALES 8 (2): 15-29, 2020.

necessárias mais informações sobre estes registros e voluntários do Laboratório de Arqueologia e


a fim de investigar se o grupo étnico que construiu Patrimônio Arqueológico LAPArq/Univille, e aos
o sambaqui foi responsável pelas pinturas. voluntários e colaboradores que participaram das
escavações. E, por fim, agradecimentos à comissão
CONSIDERAÇÕES FINAIS organizadora do III Congresso de Arqueologia da
Estudos iniciais realizado ao longo de três anos Bacia do Prata (III CAP) pela aprovação deste
no sambaqui sob Rocha Casa de Pedra apresentou material em evento e divulgação.
dados inéditos sobre a composição malacológica
do sambaqui assim como maiores descrições sobre BIBLIOGRAFIA
a pintura rupestre registrada nas paredes internas Almeida, G. T. de. (2017). O Patrimônio
da gruta. Arqueológico Guarani no Litoral Norte de
Os vestígios humanos encontrados assim como as Santa Catarina - Um Estudo a partir de Acervos
datações apontaram informações relevantes sobre Cerâmicos e Questões de Etnicidade. Dissertação
o sambaqui posicionando o sítio arqueológico entre (Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade)
os mais antigos da Baía Babitonga. Entretanto, - Universidade da Região de Joinville, Joinville,
os dados apresentados não são suficientes para Santa Catarina, Brasil.
responder os questionamentos levantados.
De fato, o sambaqui Casa de Pedra é uma Alves, M. C. (2003). Farinheiros e pescadores
peculiaridade e os dados apresentados podem do interior da ilha de São Francisco do Sul,
contribuir como base para pesquisas futuras a SC. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) –
fim de compreender a complexidade cultural que Universidade do Estado de São Paulo, São Paulo,
ocorreu na Baía da Babitonga desde o Pleistoceno 2003.
à ocupação europeia.
Angulo, R. J., Lessa, G. C. & Souza, M. C. (2006).
AGRADECIMENTOS A critical review of mid-to late-Holocene sea-level
Agradecimentos ao Fundo de Amparo à Pesquisa e fluctuations on the eastern Brazilian coastline.
Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC); ao Quaternary Science Reviews, v. 25, n. 5, p. 486-
Conselho Nacional de Ciência e Desenvolvimento 506, Amsterdam.
Tecnológico - CNPq; ao Fundo de Apoio à
Pesquisa FAP/UNIVILLE; e à Coordenação de Bandeira, D. R., Alves, M. C., Almeida, G. T.,
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Ferreira, J., Sá, J. C.; Vieira, C. V.; Amaral, V.
CAPES pelo financiamento do projeto e concessão M. C. C., Bartz, M. C. & Melo JR, J. C. F. (2018).
bolsas de pesquisas concedidas à pesquisadores Resultados Preliminares Da Pesquisa No Sambaqui
e estudantes de graduação e pós-graduação que Sob Rocha Casa De Pedra, São Francisco Do Sul,
desenvolveram e estão desenvolvendo estudos Santa Catarina, Brasil. Bol. Mus. Para. Emílio
com os dados sambaqui sob rocha Casa de Pedra. Goeldi. Cienc. Hum., v. 13 n. 1, p. 207-225.
Agradecimentos a Universidade da Região de
Joinville/Univille que sediou os estudos desde a Bandeira, D. R. (2004). Ceramistas pré-coloniais
escavação em campo as análises em laboratório. da baía da Babitonga – arqueologia e etnicidade.
Agradecimentos as universidades e pesquisadores Tese (Doutorado em História) – Universidade
externos que estão contribuindo com as pesquisas Estadual de Campinas, Campinas.
deste sítio. Agradecimentos aos membros do grupo
de pesquisa Grupo de Estudos Interdisciplinares Bandeira, D. R. (2015). The Use of Wildlife by
do Patrimônio Cultural – GEIPaC/Univille, do Sambaquianos in Prehistoric Babitonga Bay,
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