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Conceitos Básicos de Análise


Rodrigo Carlos Silva de Lima

rodrigo.uff.math@gmail.com

1
Sumário

1 Conceitos básicos de análise 4


1.1 Axiomas algébricos de um corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.1 Subcorpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.1.2 Lei do corte na adição e multiplicação . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Inteiros e conjuntos indutivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3 Racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 Números irracionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.5 Potência de base real e expoente inteiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.6 Homomorfismo e Isomorfismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.7 Axiomas de ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.7.1 Intervalos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.8 Supremo e ı́nfimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.8.1 Propriedade Arquimediana dos números reais. . . . . . . . . . . . 39
1.8.2 Conjuntos limitados de inteiros possuem máximo e mı́nimo . . 42
1.8.3 Q é denso em R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.8.4 Intervalos encaixados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.8.5 Propriedades básicas de supremo e ı́nfimo . . . . . . . . . . . . . 45
1.8.6 sup(A + B) = sup(A) + sup(B). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.8.7 inf (A + B) = inf A + inf B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.8.8 c > 0, sup(c.A) = c. sup A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1.8.9 c > 0, inf cA = c inf A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1.8.10 c < 0, inf (cA) = c sup A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
1.8.11 c < 0, sup(cA) = c inf A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
1.8.12 inf (f + g) ≥ inf (f) + inf (g) e sup(f + g) ≤ sup f + sup g. . . . . . 51

2
SUMÁRIO 3

1.8.13 sup(f.g) ≤ sup(f) sup(g). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54


1.8.14 inf (f.g) ≥ inf (f) inf (g). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2 2
1.8.15 sup(f ) = (sup f) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
1.8.16 inf (f2 ) = (inf f)2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
1.8.17 sup(A ∪ B) = max{sup A, sup B} . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
1.8.18 inf (A ∪ B) = min{inf A, inf B} . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
1.8.19 sup{|f(x) − f(y)| | x, y ∈ A} = sup f − inf f. . . . . . . . . . . . . . . 58
1.8.20 Corte de Dedekind . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
1.8.21 Classificação de intervalos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
1.9 A reta estendida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
1.10 Raı́zes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
1.11 Diâmetro de conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
1.12 Cálculo de supremo e ı́nfimo de alguns conjuntos . . . . . . . . . . . . . 71
Capı́tulo 1

Conceitos básicos de análise

1.1 Axiomas algébricos de um corpo

m Definição 1 (Corpo). Um corpo é um conjunto K munido de duas operações,


uma adição + e uma multiplicação × que satisfazem os axiomas que descrevere-
mos a seguir (Chamados axiomas de corpoa ). Sejam x, y, z elementos quaisquer
de K, que serão chamados de números.
a
Em inglês é usada a palavra field para o que chamamos de corpo.

Axiomas da adição

‡ Axioma 1. Para cada par de números x e y corresponde um terceiro número z


chamado de soma de x e y e denotado por x + y.

‡ Axioma 2 (Existência de elemento neutro para adição). Existe 0 ∈ K tal que


x + 0 = x.

‡ Axioma 3 (Comutatividade da adição). x + y = y + x

‡ Axioma 4 (Associatividade da adição). (x + y) + z = x + (y + z)

‡ Axioma 5 (Existência de inverso aditivo). Existe −x ∈ K tal que

x + (−x) = 0.

4
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 5

O elemento −x é chamado simétrico de x.

m Definição 2 (Subtração). Definimos a operação de subtração como x − y :=


x + (−y).

Axiomas da multiplicação

‡ Axioma 6. Para cada par de números x e y corresponde um terceiro número z


chamado de produto de x e y e denotado por x.y.

‡ Axioma 7 (Comutatividade da multiplicação). x.y = y.x.

‡ Axioma 8 (Existência do elemento neutro multiplicativo). Existe 1 ∈ K tal que

1.x = x.

‡ Axioma 9 (Associatividade da multiplicação).

(x.y).z = x.(y.z).

‡ Axioma 10 (Existência do inverso multiplicativo). Para todo x 6= 0 ∈ K existe


x−1 ∈ K tal que
x.x−1 = 1.

Enfatizamos que 0−1 não está definido. Sempre que consideramos x−1 , estaremos
supondo x 6= 0. O elemento x−1 é chamado inverso de x.

z Observação 1. Como uma operação é definida como função, então podemos


adicionar e multiplicar de ambos lados de uma igualdade, sem alterar a igualdade.
por exemplo, dado c fixo no corpo, temos a função soma que faz Sc (x) = x + c, se
x = y então Sc (x) = Sc (y), logo x + c = y + c, o mesmo vale para o produto, temos
Pc (x) = x.c função, daı́ se x = y tem-se Pc (x) = Pc (y), isto é, x.c = y.c.

x=y⇒x+c=y+c
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 6

x = y ⇒ x.c = y.c ∀ c ∈ K.

m Definição 3 (Fração). Sendo x 6= 0 definimos a fração

y
= y.x−1
x
y
chamamos y de numerador e x de denominador da fração .
x

‡ Axioma 11 (Distributividade da multiplicação).

x(y + z) = xy + xz.

Esses são os axiomas da adição e multiplicação num corpo.

Z Exemplo 1. Considerando Q, Z e N munidos de multiplicação e adição


usuais.

• O conjunto dos números racionais Q é um corpo.

• O conjunto dos inteiros Z não é um corpo, pois não possui inverso multi-
plicativo para todo elementos, por exemplo não temos o inverso de 2.

• O conjunto dos números naturais não é um corpo, pois não possui simétrico
para cada elemento contido nele.

Z Exemplo 2. O conjunto dos polinômios de coeficiente racionais Q[t] não


é um corpo, pois por exemplo o elemento x não possui inverso multiplicativo, se
Xn X
n X
n
houvesse haveria ak x tal que x
k
ak x = 1 =
k
ak xk+1 o que não é possı́vel
k=0 k=0 k=0
X
n
0
pois o coeficiente do termo independente x é zero em ak xk+1 e deveria ser 1.
k=0
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 7

b Propriedade 1. Sejam X um conjunto qualquer e K um corpo, então o


conjunto F(X, K) munido de adição e multiplicação de funções é um anel comuta-
tivo com unidade, não existindo inverso para todo elemento. Lembrando que em
um anel comutativo com unidade temos as propriedades, associativa, comutativa,
elemento neutro e existência de inverso aditivo, para adição. valendo também a
comutatividade, associatividade, existência de unidade 1 para o produto e distri-
butividade que relaciona as duas operações.

ê Demonstração.

• Vale a associatividade da adição

((f + g) + h)(x) = (f(x) + g(x)) + h(x) = f(x) + (g(x) + h(x)) = (f + (g + h))(x)

• Existe elemento neutro da adição 0 ∈ K e a função constante 0(x) = 0 ∀ x ∈ K,


daı́
(g + 0)(x) = g(x) + 0(x) = g(x).

• Comutatividade da adição

(f + g)(x) = f(x) + g(x) = g(x) + f(x) = (g + f)(x)

• Existe a função simétrica, dado g(x), temos f com f(x) = −g(x) e daı́

(g + f)(x) = g(x) − g(x) = 0.

• Vale a associatividade da multiplicação

(f(x).g(x)).h(x) = f(x).(g(x).h(x))

• Existe elemento neutro da multiplicação 1 ∈ K e a função constante I(x) =


1 ∀ x ∈ K, daı́
(g.I)(x) = g(x).1 = g(x).

• Comutatividade da multiplicação

(f.g)(x) = f(x)g(x) = g(x)f(x) = (g.f)(x)


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 8

Por último vale a distributividade (f(g + h))(x) = f(x)(g(x) + h(x)) = f(x)g(x) +


f(x)h(x) = (f.g + f.h)(x).
Não temos inverso multiplicativo para toda função, pois dada uma função, tal
que f(1) = 0 e f(x) = 1 para todo x 6= 1 em K, não existe função g tal que g(1)f(1) = 1,
pois f(1) = 0, assim o produto de f por nenhuma outra função gera a identidade.

1.1.1 Subcorpo

m Definição 4 (Subcorpo). Um conjunto A ⊂ K munido das operações +, × do


corpo k que satisfaz as propriedades

• O elemento neutro da adição 0 pertence ao conjunto.

• O elemento neutro da multiplicação 1 pertence ao conjunto.

• A adição é fechada.

• O produto é fechado.

• Dado x ∈ A implica −x ∈ A.

• Dado x 6= 0 ∈ A tem-se x−1 ∈ A.

Z Exemplo 3. O conjunto da forma {x + y√p} onde x e y são racionais é


subcorpo dos números reais.


• O elemento neutro da adição 0 pertence ao conjunto. Pois 0 = 0 + 0 p


• O elemento neutro da multiplicação 1 pertence ao conjunto. Pois 1 = 1 + 0 p

√ √ √
• A adição é fechada. Pois x + y p + z + w p = x + z + (y + w) p.

√ √ √ √
• O produto é fechado. Pois (x + y p)(z + w p) = xz + xw p + yz p + y.wp.

√ √
• Dado x ∈ A implica −x ∈ A. Pois dado x+y p temos o simétrico −x−y p.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 9


• Dado x 6= 0 ∈ A tem-se x−1 ∈ A. Pois dado x + y p temos inverso

x−y p
x2 − y2 p

como inverso multiplicativo.


Z Exemplo 4. O conjunto dos elementos da forma a + bα onde α = 3
2 não
é um corpo pois o produto não é fechado, vamos mostrar que α2 não pertence ao
conjunto.
Suponha que α2 = a + bα então α3 = aα + bα2 = 2 substituindo a primeira na
segunda temos que

aα + b(a + bα) = aα + ab + b2 α = α(b2 + a) + ab = 2 ⇒ α(b2 + a) = 2 − ab

2 − ab
se b2 + a 6= 0 então α = o que é absurdo pois α é irracional, então
b2 + a
devemos ter a = −b2 , multiplicamos a expressão aα + bα2 = 2 por α, de onde
segue aα2 + 2b = 2α, substituindo α2 = a + bα nessa última temos

a(a + bα) + 2b = a2 + abα + 2b = 2α ⇒ α(2 − ab) = 2b + a2

2b + a2
se 2 6= ab chegamos num absurdo de α = , temos que ter então 2 = ab
2 − ab
e a = −b2 de onde segue 2 = −b3 , porém não existe racional que satisfaz essa
identidade, daı́ não podemos escrever α2 da forma a + bα com a e b racionais,
portanto o produto de elementos não é fechado e assim não temos um corpo.

1.1.2 Lei do corte na adição e multiplicação

b Propriedade 2 (Lei do cancelamento da adição). Se x + y = x + z então


y = z.

ê Demonstração.

y = 0 + y = (−x + x) + y = −x + (x + y) = −x + (x + z) = (−x + x) + z = z
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 10

logo y = z.
Tal propriedade garante que podemos somar um número de ambos lados de uma
igualdade e ela continua sendo verdadeira, pois suponha que queremos adicionar a
a igualdade x = y que é equivalente à x + a − a = y + a − a, por lei do corte segue que
x + a = y + a. Então podemos somar um número a ambos lados de uma igualdade.

b Propriedade 3 (Lei do cancelamento do produto). Se x 6= 0 e x.y = x.z então


y = z.

ê Demonstração. Se x 6= 0 então existe x−1 tal que x.x−1 = 1, logo

y = 1.y = (x.x−1 ).y = x−1 .(x.y) = x−1 (x.z) = (x−1 x)z = z

logo y = z.

b Propriedade 4 (Unicidade do elemento neutro da adição).

ê Demonstração. Supondo que existam o e 0 elementos neutros temos o + 0 = o


e o + 0 = 0 logo 0 = o , o elemento neutro é único.

b Propriedade 5 (Unicidade do elemento neutro da multiplicação).

ê Demonstração. Suponha que existam dois elementos neutros para o produto


l e 1 , logo l.1 = l e l.1 = 1 assim l = 1.

b Propriedade 6 (Unicidade do inverso aditivo).

ê Demonstração. Suponha dois inversos z e y para um elemento x, então


temos x + y = 0 e x + z = 0 logo x + y = z + x, pela lei do corte segue y = z logo eles
são iguais.

b Propriedade 7 (Unicidade do inverso multiplicativo).

ê Demonstração. Suponha dois inversos y e z para x segue xy = 1 e xz = 1 logo


xy = xz pela lei do corte segue y = z.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 11

b Propriedade 8.
(bd)−1 = b−1 .d−1 .

ê Demonstração.
(bd)−1 .bd = 1

b−1 .d−1 .b.d = 1

logo (bd)−1 = b−1 .d−1 . por unicidade de inverso .

b Propriedade 9. (x−1 )−1 = x.

ê Demonstração. Pois x.x−1 = 1, logo x é o inverso de x−1 , isto é x = (x−1 )−1 .

$ Corolário 1.  −1
a b
=
b a
pois
 −1
a b
= (ab−1 )−1 = a−1 b = .
b a

b Propriedade 10.
a c ac
. = .
b d bd

ê Demonstração.
a c ac
. = a.b−1 .c.d−1 = ac.b−1 .d−1 = ac.(bd)−1 = .
b d bd

b Propriedade 11.
a c a+c
+ = .
d d d

ê Demonstração.
a c a+c
+ = d−1 a + d−1 c = d−1 (a + c) =
d d d
por distributividade do produto em relação a soma.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 12

b Propriedade 12.
a c ad + bc
+ = .
b d bd

ê Demonstração.
a c ad cb ad cb ad + bc
+ = + = + = .
b d bd db bd db bd

b Propriedade 13.
a.0 = 0.

ê Demonstração.
a.(0) = a(0 + 0) = a.0 + a.0

subtraindo a.0 de ambos lados segue

0 = a.0.

b Propriedade 14 (Generalização para soma de frações). Vale que

P Q1
n k− Q
n

X
n ( bt )ak ( bt )
ak k=1 t=1 t=k+1
= Q
n
bk
k=1 bs
s=1

ê Demonstração.
P Q1
n k− Q
n Q1
k− Q
n
( bt )ak ( bt ) n (
X bt )ak ( bt ) X
n
k=1 t=1 t=k+1 t=1 t=k+1 ak
Q = = .
n
Q1
k− Qn bk
bs k=1 ( bt )bk ( bt ) k=1
s=1 t=1 t=k+1

Z Exemplo 5 (Corpo degenerado). Seja um corpo K onde vale 1 = 0 . Tomamos


um elemento qualquer a do corpo então, a.1 = a = a.0 = 0, logo a = 0, o corpo
se resume ao elemento 0, K = {0}, nesse caso dizemos que o corpo é degenerado.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 13

b Propriedade 15. a(−1) = −a.

ê Demonstração.

a(−1) + a = a(−1 + 1) = a(0) = 0

logo a(−1) é inverso de a , assim −a = (−1)a.

b Propriedade 16.
(−1)(−1) = 1.

ê Demonstração.

(−1)(−1) + (−1) = (−1)(−1 + 1) = 0

como temos −1 é inverso de (−1)(−1) e de 1 pela unicidade de inverso segue 1 =


(−1)(−1).

$ Corolário 2.
(−a)(−b) = (−1)(−1)a.b = a.b.

1.2 Inteiros e conjuntos indutivos

m Definição 5 (Conjunto indutivo). Um conjunto A de números reais é dito


um conjunto indutivo se ele possui as seguintes propriedades

• 1 ∈ A.

• Se x ∈ A então x + 1 ∈ A.

m Definição 6 (Naturais). Podemos definir o conjunto dos números naturais


como o conjunto indutivo que pertence a todos conjuntos indutivos. Denotamos
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 14

tal conjunto por N

m Definição 7 (Inteiros). Podemos definir o conjunto dos inteiros como o


conjunto dos naturais, dos inversos aditivos dos números naturais e o zero. De-
notamos o conjunto dos números inteiros por Z

1.3 Racionais

m Definição 8 (Racionais). Definimos o conjunto dos números racionais como


Q = {a.b−1 |a ∈ Z, b 6= 0 ∈ Z}.

1.4 Números irracionais

m Definição 9 (Número irracionais). Definimos o conjunto dos números irra-


cionais pelo conjunto que possui os números que não são racionais.

1.5 Potência de base real e expoente inteiro

m Definição 10 (Potência de expoente natural). Definimos an recursivamente


como
an+1 = an a

a0 = 1

com n natural e a real arbitrário . Definimos também a−n = (an )−1 para n natural
e a 6= 0.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 15

$ Corolário 3.
a1 = a0 .a = a.

$ Corolário 4. 00 = 1.

b Propriedade 17. Se a 6= 0 então an 6= 0 para todo n natural.

ê Demonstração. Por indução sobre n, para n = 0 a0 = 1 que não é zero.


Supondo an 6= 0 vamos provar que an+1 não é zero.

an+1 = an .a

a é invertı́vel e an também, então an+1 não é zero.


Sabendo que se a 6= 0 então an não é zero podemos definir a−n com n natural.

m Definição 11 (Potencia de expoente inteiro). Definimos

a−n = (an )−1

com n ∈ N e a 6=∈ R.

$ Corolário 5.
ap a−p = ap−p = a0 = 1

pois se p natural
ap a−p = ap (ap )−1 = 1.

b Propriedade 18. Para todo m inteiro vale

am .a = am+1 .

ê Demonstração. Para m natural vale pela definição de potência, agora para


m = −n, n > 0 ∈ N um inteiro vamos provar a−n .a = a−n+1 . Para n = 1 temos

a −1 a = a −1 +1 = a 0 = 1 .
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 16

Vamos provar agora para n > 1, n − 1 > 0

a−n = (an )−1 = (an−1 a)−1 = a−n+1 a−1

multiplicando por a de ambos lados a−n .a = a−n+1 como querı́amos demonstrar.

b Propriedade 19.
am .an = am+n .

ê Demonstração. Primeiro seja m um inteiro qualquer e n natural, vamos provar


a identidade por indução sobre n, para n = 0 vale

am .a0 = am = am+0

para n = 1 vale
am a1 = am a = am+1 .

Supondo válido para n


am .an = am+n

vamos provar para n + 1


am .an+1 = am+n+1

temos
am .an+1 = am an a = am+n .a = am+n+1 .

Agora para −n com n natural , se m é natural temos que a propriedade já foi
demonstrada
am a−n = am−n

se m é inteiro negativo temos


am a−n = am−n

pois o inverso de am a−n é a−m an = a−m+n propriedade que já está provada por −m
e n serem naturais e am−n an−m = 1 por unicidade do inverso de = a−m an = a−m+n
é am a−n logo fica provado para n e m inteiros. Para potência negativa −n podemos
fazer como se segue

am a−n = (a−m )−1 (an )−1 = (a−m an )−1 = (a−m+n )−1 = am−n .
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 17

b Propriedade 20.
(am )n = amn

para m e n inteiros.

ê Demonstração. Primeiro por indução para m inteiro e n natural

(am )0 = 1 = am.0

(am )1 = am = am.1 .

Supondo válido para n


(am )n = amn

vamos provar para n + 1


(am )n+1 = am(n+1)

temos pela definição de potência e pela hipótese da indução que

(am )n+1 = (am )n am = amn am = amn+m = am(n+1)

onde usamos a propriedade do produto de potência de mesma base. Para n inteiro


negativo
(am )−n = ((am )n )−1 = (amn )(−1) = a−mn .

b Propriedade 21. Vale que

(a.b)n = an bn

para todo n natural e a, b ∈ R, ou a, b não nulos e n ∈ Z.

ê Demonstração. Primeiro para n natural . Por indução sobre n, para n = 0


temos
(a.b)0 = 1 = a0 .b0 .

Supondo validade para n, vamos provar para n + 1

(a.b)n+1 = (a.b)n .a.b = an .bn .a.b = an+1 bn+1 .


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 18

Para expoente inteiro negativo −n, n ∈ N , a e b não nulos usamos que

an .bn = (a.b)n

multiplicando por a−n b−n temos que a−n b−n (a.b)n = 1 por unicidade do inverso segue
que (a.b)−n = a−n b−n assim as propriedades ficam demonstradas.

Z Exemplo 6. Se yx k

k
=
xs
ys
para todos k, s ∈ In , num corpo K, prove que dados,
X
n
ak ∈ K, k ∈ In tais que ak yk 6= 0 tem-se
k=1

P
n
ak x k
k=1 x1
Pn = .
y1
ak yk
k=1

x1 xk
Chamando = p temos = p logo xk = pyk e a soma
y1 yk
X
n X
n
ak x k = p ak yk
k=1 k=1

logo
P
n
ak x k
k=1 x1
Pn =p= .
y1
ak yk
k=1

b Propriedade 22.
(a + b)2 = a2 + 2ab + b2

ê Demonstração.

(a + b)2 = (a + b)(a + b) = a(a + b) + b(a + b) = a2 + ab + ba + b2 = a2 + 2ab + b2

Usamos a definição de potênciação, propriedade distributiva e comutatividade do


produto.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 19

b Propriedade 23.
(a − b)(a + b) = a2 − b2 .

ê Demonstração.

(a + b)(a − b) = a(a − b) + b(a − b) = a2 − ab + ba − b2 = a2 − b2 .

b Propriedade 24.
a+x=b⇒x=b−a

ê Demonstração. Somando −a a ambos lados segue

x = b − a.

b Propriedade 25.
a+b=a+c⇒b=c

ê Demonstração. somando −a a ambos lados segue b = c.

$ Corolário 6.
a+x=0

então x = −a por unicidade de inverso aditivo.

$ Corolário 7.
a+x=a

então x = 0 por unicidade do elemento neutro da adição.

$ Corolário 8.
ax = ay
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 20

com a 6= 0 então x = y, multiplicamos por a−1 em ambos lados.

b Propriedade 26.
a.b = 0

então a = 0 ou b = 0.

ê Demonstração. Suponha a 6= 0 então podemos multiplicar por a−1 concluindo


que b = 0. Supondo b 6= 0 multiplicando por b−1 segue a = 0 e se ambos forem 0
temos obviamente 0.0 = 0.

b Propriedade 27.
x2 = x

então x = 1 ou x = 0.

ê Demonstração.

x2 = x, x2 − x = 0, x(x − 1) = 0

assim x = 0 ou x − 1 = 0, x = 1.

b Propriedade 28.
x 2 = a2

então x = a ou x = −a.

ê Demonstração.

x2 = a, x2 − a = 0, (x − a)(x + a) = 0

logo x − a = 0, x = a ou x + a = 0, x = −a.

$ Corolário 9.
x2 = 1
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 21

então x = 1 ou x = −1.

$ Corolário 10.
a.x = 1

com a 6= 0 então x = a−1 por unicidade do inverso multiplicativo.

1.6 Homomorfismo e Isomorfismo

m Definição 12 (Homomorfismo de corpos). Sejam A, B corpos. Uma função


f : A → B chama-se um homomorfismo quando se tem

f(x + y) = f(x) + f(y)

f(x.y) = f(x).f(y)

f(1A ) = 1B

para quaisquer x, y ∈ A. Denotaremos nesse caso as unidades 1A e 1B pelos mesmos


sı́mbolos e escrevemos f(1) = 1.

b Propriedade 29. Se f é homomorfismo então f(0) = 0.

ê Demonstração. Temos

f(0 + 0) = f(0) + f(0) = f(0)

somando −f(0) a ambos lados segue

f(0) = 0.

b Propriedade 30. Vale f(−a) = −f(a).


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 22

ê Demonstração. Pois

f(a − a) = f(0) = 0 = f(a) + f(−a)

daı́ f(−a) = −f(a).

$ Corolário 11.

f(a − b) = f(a) + f(−b) = f(a) − f(b).

b Propriedade 31. Se a é invertı́vel então f(a) é invertı́vel e vale f(a−1 ) =


f(a)−1 .

ê Demonstração.

f(a.a−1 ) = f(1) = 1 = f(a).f(a−1 )

então pela unicidade de inverso em corpos segue que f(a)−1 = f(a−1 ).

b Propriedade 32. f é injetora.

ê Demonstração. Sejam x, y tais que f(x) = f(y), logo f(x)−f(y) = 0, f(x−y) =


0, se x 6= y então x − y seria invertı́vel logo f(x − y) não seria nulo, então segue que
x = y.

b Propriedade 33. f(A) é subcorpo de B.

ê Demonstração.

• A adição é fechada, dados a = f(x) e b = f(y) então a + b ∈ f(A) pois

f(x + y) = f(x) + f(y) = a + b.

• O produto é fechado, pois f(x.y) = f(x).f(y) = a.b.

• −a ∈ f(A) pois f(−x) = −f(x) = −a.

• Se a 6= 0 então a−1 ∈ f(A) pois f(x−1 ) = f(x)−1 , x 6= 0 pois se fosse x = 0 então


a = 0, logo x é invertı́vel.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 23

b Propriedade 34. Se f é bijetora então a função inversa f−1 de f é um


homomorfismo.

ê Demonstração. Sejam a = f−1 (x) e b = f−1 (y).

• f−1 (1) = 1 pois f(1) = 1.


f−1 (x + y) = f−1 (f(a) + f(b)) = f−1 (f(a + b)) = a + b = f−1 (x) + f−1 (y).


f−1 (x.y) = f−1 (f(a).f(b)) = f−1 (f(a.b)) = a.b = f−1 (x).f−1 (y).

b Propriedade 35. Se f : A → B com f(x + y) = f(x) + f(y) e f(x.y) = f(x)f(y)


para x, y arbitrários, então f(x) = 0 ∀ x ou f(1) = 1.

ê Demonstração. f(1) = f(1.1) = f(1)f(1), logo f(1) = f(1)2 por isso f(1) = 1 ou
f(1) = 0. Se f(1) = 0 então f(x.1) = f(x)f(1) = 0, f(x) = 0 ∀ x.

b Propriedade 36. Se f : Q → Q é um homomorfismo então f(x) = x ∀ x ∈ Q.

ê Demonstração. Vale que f(x + y) = f(x) + f(y), tomando x = kh e y = h


fixo, tem-se
f((k + 1)h) − f(kh) = f(h)
X
n−1
aplicamos a soma de ambos lados, a soma é telescópica e resulta em
k=0

f(nh) = nf(h)
p
tomando h = 1 segue que f(n) = n, tomando h = segue
n
p p p p
f(n ) = f(p) = p = nf( ) ⇒ f( ) = .
n n n n
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 24

b Propriedade 37. Seja K um conjunto onde valem todos os axiomas de corpo,


exceto a existência de inverso multiplicativo. Seja a 6= 0. f : K → K com f(x) = ax
é bijeção ⇔ ∃ a−1 ∈ K.

ê Demonstração. ⇒). A função é sobrejetora logo existe x tal que f(x) = 1 = ax


portanto a é invertı́vel com a−1 = x ∈ K.
⇐). Dado qualquer y ∈ K tomamos x = ya−1 daı́ f(x) = aa−1 y = y e a função é
sobrejetiva. f também é injetiva, pois se f(x1 ) = f(x2 ), ax1 = ax2 implica por lei do
corte que x1 = x2 .. Em geral f é injetiva ⇔ vale a lei do corte por essa observação.

b Propriedade 38. Seja K finito. Vale a lei do corte em A ⇔ existe inverso


para cada elemento não nulo de K,

ê Demonstração. ⇒). Se vale a lei do corte, pela propriedade anterior tem-se


que para qualquer a 6= 0 em K, f : K → K com f(x) = ax é injetiva, como f é injetiva
de K em K que é um conjunto finito, então f é bijetiva, o que implica a ser invertı́vel.
⇐). A volta é trivial pois existência de inverso implica lei do corte.

m Definição 13 (Isomorfismo). Um Isomorfismo é um homomorfismo bijetor.


Dois corpos são ditos isomorfos se existir um isomorfismo entre eles. Para todos
os efeitos dois corpo isomorfos são considerados idênticos.

1.7 Axiomas de ordem


Um corpo ordenado é um corpo onde valem os dois axiomas

‡ Axioma 12. Existe um subconjunto não vazio R+ de K tal que se x e y ∈ R+ vale

x + y ∈ R+

x.y ∈ R+

Os elementos de R+ serão chamados positivos , R+ podendo ser simbolizado também


por P.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 25

‡ Axioma 13. 0 ∈
/ R+ e se x 6= 0 ∈ K vale: Se x ∈ R+ então −x ∈
/ R+ e se x ∈
/ R+
então −x ∈ R+ .

Z Exemplo 7. Q é um corpo ordenado.

$ Corolário 12. Uma das três possibilidades ocorre, x = 0 ou x ∈ R+ ou −x ∈


R+ . Tomamos x ∈ R se x = 0 nada precisamos demonstrar, agora temos duas
possibilidades: x ∈ R+ novamente nada temos a mostrar, agora se x ∈
/ R+ segue
−x ∈ R+

b Propriedade 39. Se a 6= 0 então a2 ∈ R+ .

ê Demonstração. Se a ∈ R+ então a.a = a2 ∈ R+ , se a ∈


/ R+ então −a ∈ R+ e
(−a)(−a) = a2 ∈ R+ .

$ Corolário 13. 1 ∈ R+ pois 12 = 1 ∈ R+ .

$ Corolário 14. C o corpo dos números complexos, não pode ser tomado como
um corpo ordenado respeitando a ordem de R pois i é não nulo e vale i2 = −1
que é negativo.

m Definição 14 (Relação de ordem). Seja F um conjunto, uma relação ≤ sobre


F é dita de ordem se

1. x ≤ x ∀ x ∈ F. Reflexividade.

2. Se x ≤ y e y ≤ z então x ≤ z . Transitividade.

3. Se x ≤ y e y ≤ x então x = y.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 26

m Definição 15 (Ordem lexicográfica em C). Podemos definir uma relação de


ordem em C conjunto dos números da forma a + bi, da seguinte maneira, dados
z = a + bi, w = c + di definimos que

z<w

quando a < c, ou se vale a = c então b < d. Dizemos que z ≤ w se z < w ou


z = w.

b Propriedade 40. Ordem lexicográfica em C é uma ordem em C.

ê Demonstração.

• Vale a reflexividade z ≤ z.

• Transitividade. Se x ≤ y e y ≤ z então x ≤ z. x = a + bi, y = c + di, z = e + fi,


temos que se e > c ≥ a então e > a o que implica z > x. Se c = e = a então
f > d > b o que também implica z > x. Caso c = e > a então c > a o que
também implica z > x então em todos os casos temos z > x.

• Se y ≤ x e z ≤ x então x = y pois vale a ≤ c e c ≤ a, então a = c e não


podemos ter duas desigualdades estritas pois se não b > d e d > b o que é
absurdo. Então deve valer a igualdade.

m Definição 16. Definimos como R− o conjunto dos elementos x 6= 0 tal que


/ R+ . Os elementos de R− serão chamado negativos.
x∈

$ Corolário 15.
R = R+ ∪ {0 } ∪ R−

e a união é disjunta.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 27

m Definição 17. Escrevemos x > y ou de maneira equivalente y < x para


denotar que x − y ∈ R+ e diz-se x é maior que y para x > y e y é menor que x
para y < x.

$ Corolário 16. x > 0 então x − 0 = x ∈ R+ e x ∈ R+ , x − 0 ∈ R+ , x > 0.

$ Corolário 17. 1 > 0 (Se 1 6= 0) pois 1 ∈ R+ .

$ Corolário 18. 0 > x ⇔ −x ∈ P ⇔ x ∈/ P e x 6= 0.

m Definição 18. Escrevemos x ≥ y ou y ≤ x para denotar que x − y ∈ R+ ou


x − y = 0, x = y.

b Propriedade 41 (Transitividade). Se x < y e y < z então x < z.

ê Demonstração. Se x < y e y < z temos y − x ∈ R+ e z − y ∈ R+ logo


y − x + z − y = z − x ∈ R+ logo x < z.

b Propriedade 42. Se x > y e z > t então x + z > y + t.

ê Demonstração. De x > y e z > t segue que x + z > y + z e y + z > y + t logo


por transitividade segue que x + z > y + t.

b Propriedade 43 (Tricotomia). Dados dois números reais x, y uma das pos-


sibilidades ocorre x = y, x < y ou y < x.

ê Demonstração. Uma das possibilidades ocorre x−y = 0 logo x = y, x−y ∈ R+


de onde segue y < x ou x − y ∈
/ R+ donde y − x ∈ R+ que significa x < y.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 28

b Propriedade 44 (Ordem total). A relação ≥ é uma relação de ordem total ,


isto é, valem as propriedades

1. Reflexividade x ≤ x.

2. Anti-simetria x ≤ y e y ≤ x então x = y.

3. Transitividade x ≤ y e y ≤ z então x ≤ z.

4. Total . Vale x ≤ y ou y ≤ x. As 3 primeiras propriedades definem uma


relação de ordem e uma relação de ordem onde vale a quarta propriedade é
dita uma relação de ordem total .

ê Demonstração.

1. Não vale x > x pois 0 ∈


/ R+ , porém vale x = x, logo vale x ≤ x.

2. Não pode valer simultaneamente x < y e y < x, pois daı́ terı́amos y − x ∈ R+ e


x − y ∈ R+ . Da mesma forma não pode valer x − y ∈ R+ e y = x, logo só pode
valer x = y em ambas desigualdades .

3. Segue da transitividade.

4. Segue por tricotomia.

b Propriedade 45 (Monotonicidade da adição). Se x < y e para qualquer z ∈ R


vale x + z < y + z.

ê Demonstração. Se y − x ∈ R+ temos y − x = y + z − (z + x) ∈ R+ logo


x + z < y + z.

b Propriedade 46 (Monotonicidade da multiplicação I). Se x < y e z ∈ R+ (z >


0) segue zx < xy.

ê Demonstração. Se x < y temos y − x ∈ R+ e sendo z ∈ R+ temos z(y − x) =


zy − zx ∈ R+ logo zx < zy. Isto é, multiplicar por um número positivo não altera a
desigualdade.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 29

$ Corolário 19. Se z ∈ R− temos −z ∈ R+ logo podemos escrever 0 < −z ou


z < 0.

b Propriedade 47 (Monotonicidade da multiplicação II). Se x < y e z ∈ R−


temos yz < zx.

ê Demonstração. Se x < y temos y − x ∈ R+ e z ∈ R− , −z ∈ R+ assim


−z(y − x) ∈ R+ zx − zy ∈ R+ logo zy < zx. Multiplicar por um número negativo altera
a ordem da desigualdade.

$ Corolário 20. Se x < 0 e y > 0 segue xy < 0 pois multiplicamos a desigual-


dade y > 0 por um número negativo x, xy < x.0 = 0. Isto é o produto de um
número positivo com um negativo é negativo.

$ Corolário 21. Se x > 0 e x.y > 0 então y > 0. y não pode ser zero (pois se
fosse o produto seria nulo) nem y < 0 (pois se fosse o produto seria negativo),
logo por eliminação y > 0 .

$ Corolário 22. Se x < 0 e x.y > 0 então y < 0. y não pode ser zero nem y > 0
(pois se fosse o produto seria negativo), logo por eliminação y < 0 .

$ Corolário 23. Se x > 0 então x−1 > 0, pois 1 > 0, x.x−1 = 1 > 0 como x
é positivo x−1 tem que ser positivo pois se não o produto seria negativo. Outra
maneira de mostrar essa propriedade é que x.(x−1 )2 = x−1 os dois primeiros fatores
são positivos então x−1 é positivo .
Da mesma maneira se x < 0 então x−1 < 0 pois x.x−1 = 1 > 0.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 30

x y
$ Corolário 24. Se x > 0 e y > 0 então > 0 e > 0, pois x−1 e y−1 são
y x
positivos.

$ Corolário 25. Se x < 0 e y < 0 então xy > 0, pois −x ∈ R+ e −y ∈ R+ logo


(−x)(−y) = xy ∈ R+ assim 0 < xy.

$ Corolário 26. Se x > y então −x < −y pois multiplicamos por −1 em ambos


lados da desigualdade.

b Propriedade 48. Sejam a, b ∈ R tais que b > a > 0 temos então b2 > a2 .

ê Demonstração. Da desigualdade b > a multiplicando por b temos b2 > ba e


da mesma desigualdade multiplicando por a tem-se ab > a2 logo b2 > ba > a2 assim
b2 > a2 .


m Definição 19. Dado um número real a ≥ 0 ∈ R o número a indica o único

número real não -negativo y tal que y2 = a, a é chamado raiz quadrada de a


a = y ⇔ y2 = a, y, a ≥ 0.

√ √
b Propriedade 49. Sejam a, b ∈ R tais que b > a > 0 então b> a.
√ √ √ √
ê Demonstração. Sabemos que b > a daı́ b − a > 0, ( b + a)( b − a) > 0
√ √ √ √
como ( b + a) temos que ter ( b − a) caso contrário o produto seria negativo,
√ √
assim b > a.

b Propriedade 50. Sejam x, y > 0 . x < y ⇔ x−1 > y−1 .

ê Demonstração. ⇒). Como y > x e x−1 e y−1 são positivos, multiplicamos


a desigualdade por x−1 y−1 em ambos lados x−1 y−1 y > x−1 y−1 x implicando x−1 > y−1 ,
1 1
então se y > x temos > .
x y
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 31

⇐). Se x−1 > y−1 . x, y são positivos, multiplicamos a desigualdade por xy em


ambos lados, de onde segue que y > x.

1 1
$ Corolário 27. Se x < y < 0 então 0 > > multiplicamos a desigualdade
y x
por x−1 y−1 de ambos lados
y−1 < x−1 < 0.

1 1 1 1
$ Corolário 28. Se x < 0 < y então < 0 < , pois < 0 e > 0.
x y x y

b Propriedade 51. Para todo x ∈ R vale x + 1 > x.

ê Demonstração. Temos que 1 > 0 somando x a ambos lados x + 1 > x ou


então 1 = x + 1 − x ∈ R+ logo x + 1 > x.

x+y
b Propriedade 52. Se y > x vale y >
2
> x.

ê Demonstração. y > x somando y a ambos lados 2y > x + y como 2é positivo


1 1 x+y
temos positivo, multiplicando por segue y > .
2 2 2
1 y+x
De y > x somando x temos y + x > 2x multiplicando por >x .
2 2

b Propriedade 53. Dados x, y ∈ R, x2 + y2 = 0 ⇔ x = y = 0.

ê Demonstração. ⇒).Suponha que x 6= 0, então x2 > 0 e y2 ≥ 0 de onde segue


que x2 + y2 > 0 , absurdo então deve valer x2 = 0 ⇒ x = 0 logo temos também
y2 = 0 ⇒ y = 0, portanto x = y = 0.
⇐). Basta substituir x = y = 0 resultando em 0.

Z Exemplo 8. A função f : K+ → K+ com f(x) = xn , n ∈ N é crescente.


Y
n Yn
Sejam x > y > 0 então x > y pois x =
n n n
x> y = yn , por propriedade de
k=1 k=1
multiplicação de positivos. Se f : Q+ → Q+ , Q+ o conjunto dos racionais positivos,
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 32

então f não é sobrejetiva para n = 2, pois não existe x ∈ Q tal que x2 = 2 ∈ Q+ .


f(K+ ) não é um conjunto limitado superiormente de K, isto é, dado qualquer
x ∈ K existe y ∈ K+ tal que yn > x. O limitante superior do conjunto, se existisse,
não poderia ser um número negativou ou zero, pois para todo y positivo tem-se
yn positivo, que é maior que 0 ou qualquer número negativo. Suponha que x
positivo seja, tomando y = x + 1 temos yn = (x + 1)n ≥ 1 + nx > x, logo f(K+ ) não
é limitado superiormente.

b Propriedade 54. Sejam a > 0 em K e f : Z → K com f(n) = an . Nessas


condições f é crescente se a > 1, decrescente se a < 1 e constante se a = 1.

ê Demonstração. Para qualquer n ∈ Z vale f(n+1)−f(n) = an+1 −an = an (a−1),


an é sempre positivo, então o sinal da diferença depende do sinal de a − 1. Se a = 1
vale f(n + 1) = f(n) ∀ n ∈ Z logo f é constante, se a − 1 < 0, a < 1 então
f(n + 1) − f(n) < 0, f(n + 1) < f(n), f é decrescente e finalmente se a − 1 > 0, a > 1
então f(n + 1) > f(n) e a função é crescente.
Perceba que as propriedades citadas valem para todo n ∈ Z, por exemplo no caso
de a > 1 temos

· · · < f(−4) < f(−3) < f(−2) < f(−1) < f(0) < f(1) < f(2) < f(3) < · · · < f(n) < f(n+1) < · · ·

analogamente para os outros casos.

a c
b Propriedade 55. Se
b
< então
d
a a+c c
< < ,
b b+d d

onde b, d são positivos no corpo K .

ê Demonstração. De
a c
< , (1.1)
b d
temos multiplicando (1.1) por d que

ad
<c (1.2)
b
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 33

e multiplicando (1.1) por b tem-se


cb
a< , (1.3)
d
somando a em ambos lados de (1.2) e c em ambos lados de (1.3) segue por tran-
sitividade que

ad cb ad + ab cb + cd
a+ <a+c< +c⇔ <a+c< ⇔
b d b d
a(b + d) c(b + d) a a+c c
<a+c< ⇒ < < ,
b d b b+d d
como querı́amos demonstrar.

b Propriedade 56. Todo conjunto não vazio, finito de um corpo ordenado


possui máximo e mı́nimo.

ê Demonstração. Vamos provar por indução pelo número de elementos do


conjunto. Se A possui apenas um elemento, então ele é máximo e mı́nimo. Suponha
que a propriedade seja verdadeira para um conjunto com n elementos, vamos provar
para um conjunto qualquer com n + 1 elementos.
Seja B = {x1 , · · · , xn+1 } o conjunto com n + 1 elementos. B \ {xn+1 } possui n
elementos, logo possui máximo x e mı́nimo y.
Por tricotomia vale xn+1 > x ou xn+1 < x se vale a primeira opção xn+1 é o
máximo do conjunto B, se não continua sendo x. Vale xn+1 < y ou xn+1 > y, se
vale a primeira então xn+1 é o mı́nimo de B, se vale a segunda y continua sendo o
mı́nimo. Em qualquer dos casos B possui máximo e mı́nimo, logo por indução todo
conjunto finito em um corpo ordenado possui máximo e mı́nimo.

1.7.1 Intervalos

m Definição 20 (Intervalos). Dados a, b ∈ K com b > a definimos os seguintes


conjuntos que serão chamados de intervalos
intervalos limitados
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 34

1.
[a, b] := {x ∈ K|a ≤ x ≤ b}

Chamado de intervalo fechado.

2.
(a, b) = {x ∈ K|a < x < b}

Chamado de intervalo aberto.

3.
(a, b] = {x ∈ K|a < x ≤ b}

Aberto em a e fechado em b.

4.
[a, b) = {x ∈ K|a ≤ x < b}

Fechado em a e aberto em b.

Se um intervalo é limitado, de um desses tipos acima, definimos o comprimento


ou diâmetro do intervalo como b − a. Em cada um desses intervalos a é chamado
de extremo superior e b de extremo inferior.
Intervalos ilimitados

1.
(−∞, b] = {x ∈ K|x ≤ b}

Aberto em menos infinito e fechado em b.

2.
(−∞, b) = {x ∈ K|x < b}

Aberto em menos infinito e aberto em b. Nos dois intervalos acima b é


chamado de extremo superior menos infinito de extremo inferior.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 35

3.
[a, ∞) = {x ∈ K|a ≤ x}

Fechado em a e aberto em infinito.

4.
(a, ∞) = {x ∈ K|a < x}

Aberto em a e aberto em infinito. Em ambos intervalos acima a é chamado


de extremo inferior e infinito de extremo superior.

5.
(−∞, ∞) = K.

No intervalo acima menos infinito é o extremo inferior e infinito é o extremo


superior.

Aberto em menos infinito e aberto em infinito é o próprio corpo K.

Um intervalo qualquer definidos acima pode ser denotado por I. O que caracteriza
um intervalo I é a propriedade: Se a, b ∈ I e a < x < b então x ∈ I.

m Definição 21 (Intervalo degenerado.). [a, a] = {a} é chamado intervalo


degenerado

m Definição 22 (Máximo). A admite um máximo se existe um elemento a ∈ A


tal que a ≥ x ∀x ∈ A e denotamos tal elemento por a := maxA.

b Propriedade 57 (Unicidade do máximo). O máximo de um conjunto , quando


existe é único.

ê Demonstração. Suponha existência de dois máximos a e b, temos a ≥ b e b ≥ a,


logo a = b.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 36

m Definição 23 (Mı́nimo). A admite um mı́nimo se existe um elemento b ∈ A


tal que b ≤ x ∀x ∈ A e denotamos tal elemento por b := minA.

b Propriedade 58 (Unicidade do mı́nimo). O mı́nimo de um conjunto , quando


existe é único.

ê Demonstração. Suponha que existam dois mı́nimos para o conjunto A, c e


d, por d ser mı́nimo temos c ≤ d e por c ser mı́nimo temos c ≤ d de onde segue
c = d.

m Definição 24 (Cota superior). Dizemos que c, um número real, é cota


superior de A, se ele é máximo ou se é maior que todo número de A, isto é,
∀x ∈ A vale c ≥ x sendo que c não necessariamente pertence a A.

m Definição 25 (Cota inferior). Dizemos que d, um número real , é cota


inferior de A, se ele é mı́nimo ou se é menor que todo elemento de A, isto é,
∀x ∈ A temos d ≤ x e mais uma vez d não necessariamente pertence a A.

m Definição 26 (Conjunto limitado superiormente). Se existe c ∈ A tal que


x ≤ c ∀ x ∈ B, então B é dito limitado superiormente.

m Definição 27 (Conjunto limitado inferiormente). Se existe v ∈ A tal que


v ≤ x ∀ x ∈ B, então B é dito limitado inferiormente.

m Definição 28 (Conjunto limitado). Um conjunto A é dito limitado, quando


ele é limitado superiormente e inferiormente.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 37

1.8 Supremo e ı́nfimo

m Definição 29 (Supremo). Sejam K um corpo ordenado e A ⊂ K um sub-


conjunto limitado superiormente , um elemento b ∈ K chama-se supremo do
subconjunto A quando satisfaz as duas condições
1)∀x ∈ A vale x ≤ b. Esta propriedade implica que o supremo é cota superior.
2) Se c ∈ k| ∀x ∈ A vale x ≤ c então b ≤ c. Essa segunda condição diz
que o supremo é a menor das cotas superiores, sendo mı́nimo do conjunto
{c ∈ K| x ≤ c ∀x ∈ A}.

$ Corolário 29 (Unicidade do supremo). O supremo é o mı́nimo do conjunto


das cotas superiores, pela unicidade do mı́nimo temos que o supremo quando
existe é único.

m Definição 30 (Ínfimo). Sejam K um corpo ordenado e A ⊂ K um subconjunto


limitado inferiormente , um elemento b ∈ K chama-se ı́nfimo de A quando é o
máximo do conjunto formado pelas cotas inferiores.

$ Corolário 30. O ı́nfimo quando existe é único, pois é máximo de um conjunto.

m Definição 31 (Corpo ordenado completo). Um corpo ordenado K é dito ser


completo quando todo subconjunto de K não-vazio limitado superiormente possui
supremo.

‡ Axioma 14 (Propriedade de completamento- Postulado de Dedekind). Existe um


corpo ordenado completo chamado corpo dos números reais e denotado por R.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 38

b Propriedade 59. Todo conjunto A ⊂ R limitado inferiormente possui ı́nfimo.

ê Demonstração. Considere o conjunto B = {−x | x ∈ A }, A é limitado


inferiormente, então existe c ∈ R tal que c < x ∀ x ∈ A logo −c > −x e B é limitado
superiormente. Seja −a o supremo B, vale −a ≥ −x ∀ x ∈ A, daı́ a ≤ x o que implica
que a é cota inferior para A. Suponha que exista uma outra cota inferior t > a,
então a < t ≤ x que implica −a > −t ≥ −x significando que −t é uma cota superior
para B menor que o supremo, o que é absurdo, então a é a maior cota inferior de A,
então seu ı́nfimo .

b Propriedade 60. Se assumimos como axioma em um corpo ordenado que


todo conjunto limitado inferiormente possui ı́nfimo então todo conjunto limitado
superiormente possui supremo.

ê Demonstração. Seja B o conjunto limitado superiormente, definimos A =


{−x | x ∈ B}, como B é limitado superiormente então existe c ∈ R tal que c ≥ x e daı́
−x ≥ −c ∀ x ∈ B, A é portanto limitado inferiormente e portanto possui um ı́nfimo
−t, valendo −x ≥ −t ∀ x ∈ B daı́ t ≥ x, supondo que t não seja o supremo de B,
então existe uma outra cota inferior y com t > y ≥ x ∀ x e daı́ −t < −y ≤ −x e −y
é uma cota inferior de A maior que −t o que é absurdo pois −t é ı́nfimo de A.

$ Corolário 31. Concluı́mos então que podemos tomar o axioma que define um
corpo ordenado completo como

• Todo conjunto limitado superiormente possui supremo ou todo conjunto li-


mitado inferiormente possui ı́nfimo, pois as duas proposições são equivalen-
tes.

b Propriedade 61. Seja S ⊂ R não vazio . u ∈ R é cota superior de S ⇔ t ∈ R


e t > u então t ∈
/ S.

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 39

⇒). Suponha que u é cota superior de S, então u satisfaz u ≥ x para todo x ∈ S


, então se t > u , t não pode pertencer à S , pois caso fosse elemento de S teria que
satisfazer u ≥ t o que não podemos ter junto com t > u.
⇐). Suponha que para qualquer t ∈ R com t > u temos que t ∈
/ S , nessas
condições u é cota superior de S . Suponha que u não seja cota superior de S, então
existe v ∈ S tal que v > u, mas por hipótese para um número v maior que u temos
que v ∈
/ S o que contradiz v ∈ S, por isso u é cota superior.

1.8.1 Propriedade Arquimediana dos números reais.

m Definição 32 (Corpo arquimediano). Um corpo K é dito arquimediano


quando vale que N ⊂ K é um conjunto ilimitado superiormente.

b Propriedade 62. Dado um corpo ordenado K , são equivalentes

1. K é arquimediano.

2. Dados a > 0 e b em K existe n tal que na > b .

1
3. Dado qualquer a > 0 ∈ K existe n ∈ N tal que 0 < < a.
n

ê Demonstração.
b
• 1 ⇒ 2. Como K é arquimediano, então existe n natural tal que n > , logo
a
n.a > b pois a > 0.
1
• 2 ⇒ 3 . Tomamos b = 1, a > > 0.
n
1 1 1
• 3 ⇒ 1 . Tomamos a = , para algum b > 0, logo > implicando n > b,
b b n
como b é arbitrário positivo, segue a propriedade.

b Propriedade 63. Dado um corpo ordenado K , são equivalentes

1. K é arquimediano.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 40

2. Z é ilimitado superiormente e inferiormente.

3. Q é ilimitado superiormente e inferiormente.


ê Demonstração.

• 1 ⇒ 2. N ⊂ Z então Z é ilimitado superiormente. Suponha por absurdo que


Z seja limitado inferiormente, então existe a ∈ K tal que a < x ∀ x ∈ Z, logo
−a > −x, porém existe n natural tal que n > −a ⇒ |{z}
−n < a o que contraria a
∈Z
hipótese.

• 2 ⇒ 3 . Z ⊂ Q portanto Q é ilimitado superiormente e inferiormente.


a a
• 3 ⇒ 1 . Para todo y ∈ K existe ∈ Q com a, b > 0 naturais tal que > y,
b b
x
daı́ a > yb, podemos tomar y = , logo a > x, a ∈ N, portanto N é ilimitado
b
superiormente e o corpo é arquimediano.

b Propriedade 64. Seja K um corpo ordenado. K é arquimediado ⇔ ∀ ε > 0


1
em K existe n ∈ N tal que n < ε.
2

ê Demonstração.
1
⇒). Como K é arquimediano, então ∀ ε > 0 existe n ∈ N tal que n > ⇒ n + 1 >
ε
1 1 1
n > por desigualdade de Bernoulli temos 2 > n + 1 > ⇒ n < ε.
n
ε ε 2
1 1
⇐). Se ∀ ε > 0 em K existe n ∈ N tal que n < ε, tomamos ε = , x > 0
2 x
arbitrário então x < 2n , com 2n = m ∈ N então K é arquimediano, N não é limitado
superiormente.

b Propriedade 65. Seja a > 1, K corpo arquimediano, f : Z → K com f(n) = an ,


então

• f(Z) não é limitado superiormente.

• inf (F(Z)) = 0.

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 41

• Vale que a > 1 então a = p + 1 onde p > 0, por desigualdade de Bernoulli


x
temos (p + 1)n ≥ 1 + pn. ∀ x > 0 ∈ K existe n tal que n > ⇒ pn > x ⇒
p
(p + 1) ≥ 1 + pn > x, logo f(Z) não é limitado superiormente.
n

• 0 é cota inferior de f(Z) pois vale 0 < an ∀ n ∈ Z. Suponha que exista x tal
1
que 0 < x < am ∀ m ∈ Z, sabemos que existe n ∈ N tal que an > daı́
x
1
x > n = a−n , absurdo, então 0 deve ser o ı́nfimo.
a

F Teorema 1 (Propriedade Arquimediana dos números reais). Sejam x > 0 e y


dois números reais quaisquer então existe um número natural n tal que

nx > y.

ê Demonstração. Suponha que para todo n e x > 0 tenhamos nx ≤ y, logo o


conjunto A = {nx| n ∈} é limitado superiormente e por isso possui supremo, seja s
o supremo do conjunto A, tem-se s − x < s e s − x não é cota superior de A pois
é menor que o supremo , por não ser cota superior temos um elemento mx tal que
s − x < mx para algum natural m assim s < mx + x = (m + 1)x o que é um absurdo,
pois desse modo temos um elemento do conjunto A maior que uma das suas cotas
superiores.

$ Corolário 32. N não é limitado superiormente, pois para qualquer y ∈ R existe


n ∈ N tal que n > y.

1
$ Corolário 33. Para todo ε > 0 existe pelo menos um natural n tal que < ε.
n
Esse corolário sai do teorema anterior tomando y = 1, x = ε pois temos nε > 1
1
implica ε > .
n

Z Exemplo 9. Seja A = { n1 | n ∈ N} . Mostre que inf A = 0. Sabemos que 0


é uma cota inferior, agora vamos mostrar que 0 é a menor delas. Dado 0 < x, x
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 42

1
não pode ser cota inferior, pois existe n natural tal que < x, logo 0 é o ı́nfimo.
n

1.8.2 Conjuntos limitados de inteiros possuem máximo e mı́nimo

b Propriedade 66. Todo conjunto limitado superiormente de número inteiros


possui um máximo e todo conjunto limitado inferiormente de inteiros possui um
mı́nimo.

ê Demonstração. Seja A = {m ∈ Z | m < x}, A é um conjunto limitado


superiormente, logo possui supremo s, então de s − 1 < s, existe m inteiro em A com
s − 1 < m ≤ s e daı́ s < m + 1, m + 1 não pertence ao conjunto, seja t um elemento
qualquer de A, vamos mostrar que t ≤ m, se existisse t > m no conjunto, então
t ≥ m + 1 > s o que é absurdo, então vale para todo t ≤ m ∀ t ∈ A, m é o máximo e
por isso o supremo.
Um conjunto limitado inferiormente de inteiros é do tipo B = {m ∈ Z | m > x} o
conjunto A = {−m ∈ Z | − m < −x}, A possui máximo −m que é o mı́nimo de B,
−m ≥ −y ∀ y ∈ B logo m ≤ y, m é mı́nimo de B. ( Observe que estamos usando que
não existe inteiro x, com m < x < m + 1, para m inteiro ).

b Propriedade 67. Dado um número real x, existem únicos inteiros m e m − 1


tais que
m − 1 ≤ x < m.

ê Demonstração. Existe um natural n1 tal que n1 > x . Tome

A = {y ∈ Z | x < y ≤ n1 }

e B = {y ∈ Z | y ≤ x}, A possui um mı́nimo m que satisfaz m > x e m − 1 ∈


/ A logo
m − 1 ∈ B, implicando que
m − 1 ≤ x < m.

1.8.3 Q é denso em R
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 43

F Teorema 2. Dados quaisquer números reais x e y, existe um número racional


m m
tal que x < < y.
n n

ê Demonstração. Tem-se que x < y, daı́ y − x > 0, logo existe n natural


tal que n(y − x) > 1 que implica 1 + nx < ny . Existe também um inteiro m com
m − 1 ≤ nx < m daı́ m ≤ nx + 1 < m + 1

nx < m ≤ 1 + nx < ny ⇒ nx < m < ny


m
como n > 0 segue que x < < y.
n

b Propriedade 68. Sejam I um intervalo não degenerado e k > 1 natural. O


m
conjunto A = { ∈ I | m, n ∈ Z} é denso em I.
kn
1
ê Demonstração. Dado ε > 0 existe n ∈ N tal que kn > , daı́ os intervalos
ε
m m+1 m+1 m 1
[ n, ] tem comprimento − n = n < ε.
k kn kn k k
m+1 m
Existe um menor inteiro m + 1 tal que x + ε ≤ n
daı́ n ∈ (x − ε, x + ε) pois
k k
m m
se fosse x + ε < n iria contrariar a minimalidade de m + 1 e se fosse n < x − ε
k k
m m+1
então [ n , ] teria comprimento maior do que de (x − ε, x + ε), que é ε, uma
k kn
contradição com a suposição feita anteriormente.

b Propriedade 69. Entre dois números reais, sempre existe um número irra-
cional.

ê Demonstração. Suponha que existem x < y, tais que não existem irracionais
em (x, y) então nesse intervalo só existem racionais, portanto é enumerável, o que é
absurdo pois (x, y) é não enumerável.

1.8.4 Intervalos encaixados

b Propriedade 70. Dada uma sequência Ak ⊃ Ak+1 onde Ak = [ak , bk ] então


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 44


\ ∞
\
existe c ∈ Ak ∀ k ∈ N, isto é, c ∈ [ak , bk ] = Ak .
k=1 k=1

ê Demonstração. Como vale Ak ⊃ Ak+1 , então vale [ak+1 , bk+1 ] ⊂ [ak , bk ], logo
ak ≤ ak+1 ≤ bk+1 ≤ bk ∀ k, definindo A = {ak k ∈ N} tem-se que A é limitado
superiormente, logo existe c = sup A, vale ak ≤ c ∀ k pois c é cota superior de A.
Agora vale as ≤ bp , para quaisquer s e p naturais, pois se s ≤ p, vale as ≤ ap ≤ bp ,
se s > p vale as ≤ bs ≤ bp , isso mostra que qualquer bp é cota superior para A, então
vale c ≤ bp , para todo p, vale então c ∈ Ak ∀ k ∈ N.

b Propriedade 71. Sejam (Ik ) uma sequência de intervalos limitados dois a



\
dois disjuntos tais que Ik ⊃ Ik+1 ∀ k ∈ N e a intersecção I = Ik não é vazia.
k=1
Nessas condições I é um intervalo que não é um intervalo aberto.

ê Demonstração. Sejam ak e bk extremidades de Ik então vale ak ≤ bp , ∀ k, p ∈


N. As sequências (ak ) e (bk ) são limitadas, (ak ) é não-decrescente e (bk ) não-
crescente, logo elas são convergentes sendo lim an = a, lim bn = b.

• Dado x ∈ I não pode valer x < a, pois existe xn tal que x < xn < a e (xn ) é
não-decrescente, da mesma maneira não pode valer b < x, pois daı́ existe yn
tal que b < yn < x e yn é não-crescente. Com isso concluı́mos que I ⊂ [a, b].

• Se a = b, então I ⊂ [a, a] = {a} de onde segue I = {a}.

• Se a < b então ∀ x com a < x < b ⇒ an < a < x < b < bn , logo (a, b) ⊂ I ⊂
[a, b]. Daı́ concluı́mos que I é um intervalo com extremos a e b.

• Como os In são dois-a-dois distintos então (an ) ou (bn ) tem uma infinidade
de termos distintos. Digamos que seja (an ), então ∀ n ∈ N existe p ∈ N tal
que an < an+p ≤ a logo a ∈ (an , bn ) ⊂ I, como a ∈ I então I não pode ser um
intervalo aberto, sendo do tipo [a, b) ou [a, b].

Z Exemplo 10. Sendo Ak = [k, ∞) (fechados não limitados) temos uma


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 45

sequência de intervalos que são conjuntos fechados porém a interseção



\
Ak = A
k=1

/ [k, ∞) = Ak logo
é vazia, pois suponha que exista t ∈ A, daı́ existe k > t e t ∈
não pode pertencer a interseção de todos esses conjuntos.
Da mesma maneira existe uma sequência decrescente de intervalos abertos
1
limitados com interseção vazia, sendo Bk = (0, ) (limitados, não fechados)
k

\
Bk = B
k=1

B é vazio, pois se houvesse um elemento nele x > 0, conseguimos k tal que


1 1
< x daı́ x não pertence ao intervalo (0, ) = Bk portanto não pode pertencer a
k k
interseção.

1.8.5 Propriedades básicas de supremo e ı́nfimo

b Propriedade 72 (Propriedade de aproximação). Sejam A um conjunto li-


mitado superiormente e c = sup A. Então para todo ε > 0 existe x ∈ A tal que
c − ε < x ≤ c.
Essa propriedade nos diz que existem elementos de A, arbitrariamente próximos
do seu supremo.

ê Demonstração. Se não houvesse x ∈ A tal que x > c − ε então c − ε seria


uma cota superior menor que o supremo, o que é absurdo.

b Propriedade 73 (Propriedade de aproximação para o ı́nfimo). Sejam A um


conjunto limitado inferiormente e c = inf A. Então para todo ε > 0 existe x ∈ A
tal que c ≤ x ≤ c + ε.
Essa propriedade nos diz que existem elementos de A, arbitrariamente próximos
do seu ı́nfimo.

ê Demonstração. Se não houvesse x entre c e c + ε então c + ε seria uma cota


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 46

inferior , maior que o ı́nfimo, o que contradiz a sua definição.

b Propriedade 74. Sejam A ⊂ R não vazio limitado e c ∈ R, então

1. c ≤ sup(A) ⇔ ∀ ε > 0 ∃ x ∈ A tal que c − ε < x.

2. c ≥ inf(A) ⇔ ∀ ε > 0 ∃ x ∈ A tal que c + ε > x.

ê Demonstração.

1. ⇒). Para todo ε > 0 vale que c − ε < sup(A). Dado ε > 0 fixo, se não existisse
x ∈ A tal que c − ε < x então c − ε seria cota superior menor que o supremo, o
que é absurdo, contraria o fato do supremo ser a menor das cotas superiores.

⇐). Suponha por absurdo que fosse c > sup(A), poderı́amos tomar c−sup(A) =
ε daı́ c − c + sup(A) = sup(A) < x o que é absurdo.

2. ⇒). Para todo ε > 0 vale que c + ε < inf(A). Dado ε > 0 fixo, se não existisse
x ∈ A tal que c + ε > x então c + ε seria cota superior menor que o ı́nfimo, o
que é absurdo, contraria o fato do ı́nfimo ser a menor das cotas inferiores.

⇐). Suponha por absurdo que fosse c < inf(A), poderı́amos tomar inf(A)−c = ε
daı́ x < c + inf(A) − c = inf(A) o que é absurdo.

b Propriedade 75. Sejam A e B conjuntos não vazio de número reais. Se A


é limitado inferiormente e B ⊂ A então toda cota inferior de A é cota inferior de
B.

ê Demonstração. Se c é cota inferior de A vale c ≤ x para todo x ∈ A, em


especial vale c ≤ y para todo y ∈ B, pois y ∈ B implica y ∈ A.

b Propriedade 76. Se A é limitado inferiormente e B ⊂ A então inf(A) ≤


inf(B).

ê Demonstração. infA é cota inferior de A, logo também é cota inferior de B,


sendo cota inferior de B vale infA ≤ infB, pois inf B é a maior cota inferior de B.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 47

b Propriedade 77. Se A é limitado superiormente e B ⊂ A então sup(A) ≥


sup(B).

ê Demonstração. Toda cota superior de A é cota superior de B, logo o sup(A)


é cota superior de B, como sup(B) é a menor das cotas superiores de B segue que
sup(A) ≥ sup(B).

$ Corolário 34. Se A e B são conjuntos limitados com B ⊂ A então vale


sup(A) ≥ sup(B) ≥ inf(B) ≥ inf(A) pois temos sup(A) ≥ sup(B) e inf(A) ≤
inf(B), tendo ainda que sup(B) ≥ inf(B).

b Propriedade 78. Sejam A, B ⊂ R tais que para todo x ∈ A e todo y ∈ B se


tenha x ≤ y. Então sup A ≤ inf B.

ê Demonstração. Todo y ∈ B é cota superior de A, logo sup A ≤ y para cada


y pois sup A é a menor das cotas superiores, essa relação implica que sup A é cota
inferior de B logo sup A ≤ inf B, pois inf B é a maior cota inferior.

b Propriedade 79. sup A = inf B ⇔ para todo ε > 0 dado , existam x ∈ A e


y ∈ B com y − x < ε.

ê Demonstração. ⇐ .) Usamos a contrapositiva. Não podemos ter inf B < sup A


pela propriedade anterior, então temos forçosamente que inf B > sup A, tomamos
então ε = inf B − sup A > 0 e temos y − x ≥ ε para todo x ∈ A e y ∈ B pois y ≥ inf B
e sup A ≥ x de onde segue −x ≥ − sup A, somando esta desigualdade com a de y
tem-se y − x ≥ inf B − sup A = ε.
ε
⇒ , Se sup A = inf B. Então para qualquer ε > 0, sup A − não é cota superior
2
de A, pois é menor que o sup A (que é a menor cota superior), da mesma maneira
ε
inf A + não é cota inferior de B, então existem x ∈ A e y ∈ B tais que
2
ε ε
sup A − < x ≤ sup A = inf B ≤ y < inf B +
2 2
ε ε
inf B − < x ≤ y < inf B +
2 2
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 48

ε ε ε
de onde segue inf B − < x, −x < − inf B e y < inf B + somando ambas tem-se
2 2 2
y − x < ε.
Sejam A, B ⊂ R, conjuntos limitados .

b Propriedade 80. O conjunto A + B = {x + y | x ∈ A, y ∈ B} também é


limitado.

ê Demonstração. Se A é limitado , existe t tal que |x| < t para todo x ∈ A e se


B é limitado existe u tal que |y| < u ∀ y ∈ B. Somando as desigualdades e usando
desigualdade triangular segue |x| + |y| < u + t e |x + y| ≤ |x| + |y| < u + t logo o
conjunto A + B é limitado.

1.8.6 sup(A + B) = sup(A) + sup(B).

b Propriedade 81 (Propriedade aditiva). Vale sup(A + B) = sup(A) + sup(B).

ê Demonstração. Como A, B são limitados superiormente, temos sup A := a e


sup B := b, como vale a ≥ x e b ≥ y para todos x, y ∈ A, B respectivamente segue que
a + b ≥ x + y logo o conjunto A + B é limitado superiormente. Para todo e qualquer
ε > 0 existem x, y tais que
ε ε
a<x+ , b<y+
2 2
somando ambas desigualdades-segue-se que

a+b<x+y+ε

que mostra que a + b é a menor cota superior, logo o supremo, fica valendo então

sup(A + B) = sup(A) + sup(B).

1.8.7 inf (A + B) = inf A + inf B.

b Propriedade 82. inf (A + B) = inf A + inf B.

ê Demonstração. Sejam a = infA e b = infB então ∀x, y ∈ A, B tem-se a ≤ x,


b ≤ y de onde segue por adição a + b ≤ x + y, assim a + b é cota inferior de A + B.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 49

ε ε
∃x, y ∈ A, B tal que ∀ε > 0 vale x < a + e y < b + pois a e b são as maiores
2 2
cotas inferiores, somando os termos das desigualdades segue x + y < a + b + ε, que
implica que a + b é a maior cota inferior logo o ı́nfimo.
Para a próxima propriedade considere cA = {cx | x ∈ A}.

1.8.8 c > 0, sup(c.A) = c. sup A.

b Propriedade 83. Se c > 0 então sup(c.A) = c. sup A.

ê Demonstração. Seja a = sup A. Para todo x ∈ A tem-se x ≤ a, de onde segue


d d
cx ≤ ca, assim ca é cota superior de cA. Seja d tal que d < ca então < a logo
c c
d
não é cota superior de A, implicando a existência de pelo menos um x tal que < x,
c
d < cx de onde segue que d não é cota superior de cA, assim ca é a menor cota
superior de cA logo o supremo.

1.8.9 c > 0, inf cA = c inf A.

b Propriedade 84. Se c > 0, inf cA = c inf A.

ê Demonstração.
Seja a = inf A, então vale a ≤ x para todo x, multiplicando por c segue ca ≤ cx
de onde concluı́mos que ca é cota inferior de cA. Seja d tal que ca < d, então
d d
a < , implicando que não é cota inferior de A assim existe x ∈ A tal que
c c
d
x< ⇒ cx < d, logo d não é cota inferior de cA, implicando que c.a é a maior
c
cota inferior, logo o ı́nfimo do conjunto.

b Propriedade 85. Se c > 0, inf cA = c inf A.

ê Demonstração.
Seja a = inf A, então vale a ≤ x para todo x, multiplicando por c segue ca ≤ cx
de onde concluı́mos que ca é cota inferior de cA. Seja d tal que ca < d, então
d d
a < , implicando que não é cota inferior de A assim existe x ∈ A tal que
c c
d
x< ⇒ cx < d, logo d não é cota inferior de cA, implicando que c.a é a maior
c
cota inferior, logo o ı́nfimo do conjunto.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 50

1.8.10 c < 0, inf (cA) = c sup A.

b Propriedade 86. Se c < 0 então inf (cA) = c sup A.

ê Demonstração. Seja a = sup A . Tem-se x ≤ a para todo x ∈ A, multiplicando


por c segue cx ≥ ca para todo x ∈ A. Então ca é uma cota inferior de cA. Se d > ca
d d
tem-se < a como a é supremo, isso significa que existe x ∈ A tal que < x logo
c c
d > cx, assim esse d não é cota inferior, implicando que ca é a menor cota inferior,
então ı́nfimo do conjunto.

1.8.11 c < 0, sup(cA) = c inf A.

b Propriedade 87. Se c < 0 então sup(cA) = c inf A.

ê Demonstração. Seja b = inf A então vale b ≤ x para todo x ∈ A, multipli-


cando por c segue cb ≥ cx assim cb é cota superior de cA. Agora tome d tal que
d d
cb > d segue b < , como b é ı́nfimo existe x ∈ A tal que x < , cx > d assim esse
c c
d não pode ser cota superior de cA, então cb é a menor cota superior, logo o ı́nfimo.

b Propriedade 88. Sejam A ⊂ B tal que B é limitado superiormente. Se para


cada b ∈ B existe a ∈ A tal que b ≤ a então sup A = sup B.

m Definição 33 (Função limitada). Seja A ⊂ R, f : A → R é dita limitada


quando o conjunto f(A) = {f(x) | x ∈ A}, se f(A) é limitado superiormente então
dizemos que f é limitada superiormente e caso f(A) seja limitado inferiormente
dizemos que A é limitado inferiormente.

Seja uma função limitada f : V → R.

m Definição 34.

sup f := sup f(V) = sup{f(x) | x ∈ V}


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 51

m Definição 35.

inf f := inf f(V) = inf {f(x) | x ∈ V}

b Propriedade 89. A função soma de duas funções limitadas é limitada.

ê Demonstração. Vale |f(x)| ≤ M1 e |g(x)| ≤ M2 ∀ x ∈ A então

|f(x) + g(x)| ≤ |f(x)| + |g(x)| ≤ M1 + M2 = M

portando a função soma f + g de duas funções limitadas é também uma função


limitada.

1.8.12 inf (f + g) ≥ inf (f) + inf (g) e sup(f + g) ≤ sup f + sup g.


Sejam f, g : V → R funções limitadas e c ∈ R.

b Propriedade 90.
sup(f + g) ≤ sup f + sup g.

ê Demonstração.
Sejam

A = {f(x) | x ∈ V}, B = {g(y) | y ∈ V}, C = {g(x) + f(x) | x ∈ V}

temos que C ⊂ A + B, pois basta tomar x = y nos conjuntos, logo

sup(A + B) ≥ sup(f + g)

sup(A) + sup(B) = sup f + sup g ≥ sup(f + g)

Z Exemplo 11. Sejam f, g : [0, 1] → R dadas por f(x) = x e g(x) = −x


• Vale sup f = 1, sup g = 0, f + g = 0 logo sup(f + g) = 0 vale então

sup f + sup g = 1 > sup(f + g) = 0.


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 52

• Temos ainda inf f = 0, inf g = −1, f + g = 0, inf(f + g) = 0 logo

inf f + inf g = −1 < inf (f + g) = 0.

As desigualdades estritas também valem se consideramos as funções definidas em


[−1, 1], nesse caso sup f+ sup g = 2 e inf f+ inf g = −2 e sup(f+g) = 0 = inf (f+g).

b Propriedade 91.
inf (f + g) ≥ inf (f) + inf (g).

ê Demonstração. De C ⊂ A + B segue tomando o ı́nfimo

inf (A + B) = inf (A) + inf (B) = inf (f) + inf (g) ≤ inf (C) = inf (f + g).

b Propriedade 92. Se c > 0

sup(cf) = c sup(f)

inf (cf) = c inf (f).

Se c < 0

sup(cf) = c inf (f)

inf (cf) = c sup(f).

Basta aplicar o resultado que já provamos para conjuntos.

b Propriedade 93. Vale a desigualdade

sup(f + g) ≥ inf (f) + sup(g) ≥ inf (f + g).

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 53

1. Vale que sup(f) + sup(g) ≥ sup(f + g), daı́

sup(f + g) + sup(−f) ≥ sup(f + g − f) ⇒

sup(f + g) − inf (f) ≥ sup(g) ⇒ sup(f + g) ≥ sup(g) + inf (f)

2. Da mesma maneira, temos inf (f + g) ≥ inf (f) + inf (g) e daı́

inf (f + g − g) ≥ inf (f + g) + inf (−g) ⇒

inf (f) ≥ inf (f + g) − sup(g) ⇒ inf (f) + sup(g) ≥ inf (f + g)

logo fica provado o resultado.

ê Demonstração. sup B é uma cota superior de A (ver depois)

m Definição 36. Sejam A e B conjuntos não vazios, definimos A.B = {x.y | x ∈


A, y ∈ B}.

b Propriedade 94. Sejam A e B conjuntos limitados de números positivos,


então vale sup(A.B) = sup(A). sup(B).

ê Demonstração. Sejam a = sup(A) e b = sup(B) então valem x ≤ a e


y ≤ b, ∀ x ∈ A, y ∈ B daı́ x.y ≤ a.b, logo a.b é cota superior de A.B. Tomando
t t t
t < a.b segue que < b logo existe y ∈ B tal que < y daı́ < a logo existe x ∈ A
a a y
t
tal que < x logo t < x.y então t não pode ser uma cota superior, implicando que
y
a.b é o supremo do conjunto.

b Propriedade 95. Sejam A e B conjuntos limitados de números positivos,


então vale inf (A.B) = inf (A). inf (B).

ê Demonstração. Sejam a = inf (A) e b = inf (B) então valem x ≥ a e y ≥


b, ∀ x ∈ A, y ∈ B daı́ x.y ≥ a.b, logo a.b é cota inferior de A.B. Tomando t > a.b
t t t
segue que > b logo existe y ∈ B tal que > y daı́ > a logo existe x ∈ A tal que
a a y
t
> x logo t < x.y então t não pode ser uma cota inferior, implicando que a.b é o
y
ı́nfimo do conjunto.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 54

b Propriedade 96. Sejam f, g : A → R funções limitadas então f.g : A → R é


limitada.

ê Demonstração. Vale que |f(x)| < M1 e |g(x)| < M2 então |f(x)g(x)| < M1 M2 =
M ∀ x ∈ A , portanto f.g : A → R é limitada.

1.8.13 sup(f.g) ≤ sup(f) sup(g).

b Propriedade 97. Sejam f, g : A → R+ limitadas superiormente, então

sup(f.g) ≤ sup(f) sup(g).

ê Demonstração. Sejam C = {g(x).f(x) | x ∈ A} , B = {g(y). | y ∈ A} e


A = {f(x) | x ∈ A} . Vale que C ⊂ A.B para ver isso basta tomar x = y nas definições
acima, daı́
sup(A.B) ≥ sup(C)

sup(A) sup(B) ≥ sup(C)

sup(f) sup(g) ≥ sup(f.g).

1.8.14 inf (f.g) ≥ inf (f) inf (g).

b Propriedade 98. Sejam f, g : A → R+ limitadas inferiormente, então

inf (f.g) ≥ inf (f) inf (g).

ê Demonstração. Sejam C = {g(x).f(x) | x ∈ A} , B = {g(y). | y ∈ A} e


A = {f(x) | x ∈ A} . Vale que C ⊂ A.B, daı́

inf (A.B) ≤ inf (C)

inf (A) inf (B) ≤ inf (C)

inf (f) inf (g) ≤ inf (f.g).


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 55

1
Z Exemplo 12. Sejam f, g : [1, 2] → R dadas por f(x) = x e g(x) = x
, vale
sup f = 2, sup g = 1 sup f. sup g = 2 e sup(f.g) = 1, pois f.g = 1 logo

sup f sup g > sup(f.g).

1 1
Da mesma maneira inf f = 1, inf g = vale inf f. inf g = e inf (f.g) = 1
2 2
portanto
inf f. inf g < inf (f.g).

1.8.15 sup(f2 ) = (sup f)2 .

b Propriedade 99. Seja f : A → R+ limitada superiormente então sup(f2 ) =


(sup f)2 .

ê Demonstração. Seja a = sup f tem-se f(x) ≤ a ∀ x daı́ f(x)2 ≤ a2 então a2 é



cota superior de f2 , e é a menor cota superior pois se 0 < c < a2 então c < a logo

existe x tal que c < f(x) < a e daı́ c < f(x)2 < a2 logo a2 é a menor cota superior
sup(f2 ) = sup(f)2 .

1.8.16 inf (f2 ) = (inf f)2 .

b Propriedade 100. Seja f : A → R+ então inf (f2 ) = (inf f)2 .

ê Demonstração. Seja a = inf f tem-se f(x) ≥ a ∀ x daı́ f(x)2 ≥ a2 então a2



é cota inferior de f2 , e é a maior cota inferior pois se a2 < c então a < c logo

existe x tal que a < f(x) < c e daı́ a2 < f(x)2 < c logo a2 é a maior cota inferior
inf (f2 ) = inf (f)2 .
Sejam A, B ⊂ R não vazios e limitados superiormente.

1.8.17 sup(A ∪ B) = max{sup A, sup B}

b Propriedade 101. Vale sup(A ∪ B) = max{sup A, sup B}.


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 56

ê Demonstração. Suponha que max{sup A, sup B} = sup A, sem perda de genera-


lidade. Sabemos que para todo a ∈ A vale a ≤ sup A e b ∈ B vale b ≤ sup B ≤ sup A,
então dado x ∈ A ∪ B segue x ≤ sup A. O que implica sup A ser cota superior.
Agora vamos mostrar que sup A é a menor das cotas superiores. Suponha que exista
d < sup A então d não pode ser cota superior dos elementos do conjunto A, pois
sup A é a menor delas, daı́ existe x ∈ A tal que d < x, mas como x ∈ A ∪ B implica
que d também não é cota superior de A ∪ B, de onde segue que sup A é a menor cota
superior, logo o supremo.

b Propriedade 102. Sejam Ak , k ∈ N, conjuntos não vazios, limitados superi-


ormente de números reais. Vale a propriedade
n
[
sup( Ak ) = max{sup Ak , k ∈ In }.
k=1

ê Demonstração. A propriedade vale para n = 1. Suponha que vale para n


[1
n+ [n
e vamos provar para n + 1. Temos que Ak = Ak ∪ An+1 = B ∪ A, vale pela
| {z }
k=1 k=1
| {z } =A
=B
propriedade anterior
sup(A ∪ B) = max{sup A, sup B}
[1
n+
sup( Ak ) = max{sup An+1 , sup B}
k=1

temos que sup B = sup As para algum s ∈ In , como vale As ≥ Ak para todo k ∈ In
podemos colocar tais elementos Ak , k ∈ In dentro do conjunto do qual tomamos o
máximo, pois não irá alterar a escolha do máximo, logo tem-se

[1
n+
sup( Ak ) = max{sup Ak , k ∈ In+1 .}
k=1

Z Exemplo 13. Se A ∩ B 6= ∅ é verdade que sup A ∩ B = min{sup A, sup B}?


A propriedade em geral é falsa, pois podemos tomar A = {3, 4} e B = {3, 5},
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 57

temos A ∩ B = {3} e sup A ∩ B = 3 além disso min{sup A, sup B} = min{4, 5} = 4,


logo não vale em geral a identidade.

1.8.18 inf (A ∪ B) = min{inf A, inf B}

b Propriedade 103. Vale que inf (A ∪ B) = min{inf A, inf B} .

ê Demonstração. Suponha que inf (A) ≤ inf (B), inf (A) é cota inferior de A ∪ B,
dado x ∈ A, pois dado x ∈ A tem-se x ≥ inf (A), dado x ∈ B, x ≥ inf (B) ≥ inf (A).
Agora suponha c < inf (A), existe x ∈ A tal que

c < x < inf (A)

o que gera absurdo, pois c deveria ser cota inferior de A ∪ B.

b Propriedade 104. Sejam A e B dois conjuntos de números reais, limitados


superiormente. Se sup A < sup B então existe b ∈ B tal que b é uma cota superior
de A.

ê Demonstração. Seja c = sup B. ∀ ε > 0 c − ε não é cota superior de B, logo


existe b ∈ B tal que c−ε < b; tomando ε = sup B−sup A, tem-se sup B−sup B+sup A <
b, daı́ b é cota superior de A.

b Propriedade 105. Seja A ⊂ R.

• O supremo pertence a um conjunto ⇔ o conjunto possui máximo , e nessas


condições o supremo é o máximo do conjunto.

• O ı́nfimo pertence a um conjunto ⇔ o conjunto possui mı́nimo , e nessas


condições o ı́nfimo é o mı́nimo do conjunto.

ê Demonstração.

• ⇒). Se c o supremo pertence ao conjunto, então ele é o máximo, pois satisfaz


c ≥ x ∀ x ∈ A. ⇐). Se o conjunto possui máximo c então vale x ≤ c ∀ x ∈ A,
c é uma cota superior, vamos mostrar que é a menor delas, c − ε não pode ser
cota superior pois c − ε < c, então c é o supremo.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 58

• ⇒). Se c o ı́nfimo pertence ao conjunto, então ele é o mı́nimo, pois satisfaz


c ≤ x ∀ x ∈ A. ⇐). Se o conjunto possui mı́nimo c então vale x ≥ c ∀ x ∈ A,
c é uma cota inferior, vamos mostrar que é a maior delas, c + ε não pode ser
cota superior pois c + ε > c, então c é o ı́nfimo.

1.8.19 sup{|f(x) − f(y)| | x, y ∈ A} = sup f − inf f.

b Propriedade 106. Sejam f : A → R limitada, m = inf f, M = sup f e


w = M − m, então

w = M − m = sup{|f(x) − f(y)| | x, y ∈ A}.

ê Demonstração. Sejam x, y ∈ A arbitrários , sem perda de generalidade


podemos considerar f(x) ≥ f(y) então

m ≤ f(y) ≤ f(x) ≤ M

e daı́
|f(x) − f(y)| ≤ M − m = w,

logo w é cota superior, vamos mostrar que é a menor. Para qualquer ε > 0 existem
ε ε
x, y ∈ A tais que f(x) > M − e f(y) < m + e daı́
2 2
|f(x) − f(y)| ≥ f(x) − f(y) > M − m − ε = w − ε

logo w é a menor das cotas superiores.

b Propriedade 107. Dada uma sequência (at ) e um número c maior que todos
elementos dessa sequência, então vale

P
n P0
n+n
ak + c
k=1 k=n+1
at ≤ <c
n0 + n

para n0 suficientemente grande.


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 59

ê Demonstração.
P
n P0
n+n
ak + c
k=1 k=n0 +1
X
n
at ≤ < c ⇔ at n0 + at n < ak + n0 c < nc + n0 c
n0 + n k=1

X
n
a desigualdade ak + n0 c < nc + n0 c vale para qualquer n0 , devemos analisar
k=1
X
n
agora a primeira desigualdade. Vejamos dois casos, se ak > at n nada precisamos
k=1
X
n
mostrar pois at n0 < cn0 , agora analisamos o caso de ak < at n, isto é, 0 <
k=1
X
n
nat − ak
k=1

P
n

X
n X
n at n − ak
k=1
at n0 + at n < ak + n0 c ⇔ at n − ak < n0 (c − at ) ⇔ < n0
| {z } c − at
k=1 k=1 positivo

P
n
at n − ak
k=1
então tomando n0 maior que tem-se
c − at
P
n P0
n+n
ak + c
k=1 k=n+1
at ≤ < c.
n0 + n

b Propriedade 108. Todo conjunto finito de números reais possui máximo e


mı́nimo.

ê Demonstração. Todo conjunto finito é limitado. Seja o conjunto {x1 , · · · , xn },


X
n
para qualquer s vale |xs | ≤ |xk |, logo o conjunto é limitado. Como o conjunto é
k=1
limitado ele possui supremo e ı́nfimo. Se o supremo c não pertence ao conjunto, vale
Pn P0
n+n
ak + c
k=1 k=n+1
ak < c, ∀ k, daı́ para tomando y = para n0 suficientemente grande,
n0 + n
tem-se at < y < c para todo t, daı́ y é uma cota superior menor que o supremo, o
que é absurdo. Logo o supremo deve pertencer ao conjunto e portanto é o máximo.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 60

Vale que −A é finito, então possui supremo −t no conjunto, portanto sendo


máximo, vale que sup(−A) = −inf(A) ⇒ inf(A) = −sup(−A) = −(−t) = t, logo o
ı́nfimo pertence à A logo é mı́nimo.

b Propriedade 109. Sejam B ⊂ A não vazios, A limitado superiormente, se


∀ x ∈ A existe y ∈ B tal que y ≥ x então sup(B) = sup(A).

ê Demonstração. B é limitado superiormente pois está contido em um conjunto


limitado e vale que sup(A) ≥ sup(B), pois B ⊂ A, suponha que fosse c = sup(A) >
sup(B), então tomando ε = sup(A) − sup(B) > 0, existe x ∈ A tal que x > c − ε =
sup(A) − sup(A) + sup(B) = sup(B), por hipótese existe y ≥ x > sup(B) com y ∈ B,
o que é absurdo, pois não pode existir um elemento maior que o supremo.

b Propriedade 110. Sejam B ⊂ A não vazios, A limitado inferiormente, se


∀ x ∈ A existe y ∈ B tal que y ≤ x então inf(B) = inf(A).

ê Demonstração. B é limitado inferiormente pois está contido em um conjunto


limitado e vale que inf(A) ≤ inf(B), pois B ⊂ A, suponha que fosse c = inf(A) <
inf(B), então tomando ε = inf(B) − inf(A) > 0, existe x ∈ A tal que x < c + ε =
inf(A) − sup(A) + inf(B) = inf(B), por hipótese existe y ≤ x < inf(B) com y ∈ B, o
que é absurdo, pois não pode existir um elemento menor que o ı́nfimo.

1.8.20 Corte de Dedekind

m Definição 37 (Corte de Dedekind). Um corte de Dedekind é um par ordenado


(A, B) onde A, B ∈ Q não vazios, tais que A não possui máximo, A ∪ B = Q e
∀ x ∈ A, y ∈ B vale x < y.
Seja C o conjunto dos cortes de Dedekind.

b Propriedade 111. Em (A, B) vale sup(A) = inf(B).

ê Demonstração. Já sabemos que vale sup(A) ≤ inf(B), pois ∀ x ∈ A, y ∈ B


vale x < y implica sup(A) < y e sup(A) ser cota inferior implica sup(A) ≤ inf(B),
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 61

suponha por absurdo que fosse sup(A) < inf(B), então o intervalo (sup(A), inf(B))
não possui valores x ∈ A, pois se não x > sup(A), nem y ∈ B pois daı́ y < inf(B),
mas como existem racionais em tal intervalo, pois Q é denso e A ∪ B = Q, chegamos
em um absurdo.

b Propriedade 112. Existe bijeção entre R e C o conjunto dos cortes.

ê Demonstração. Definimos f : C → R como f(A, B) = sup(A) = inf(B).

• f é injetora, suponha f(A, B) = f(A 0 , B 0 ) então sup(A) = inf(B) = sup(A 0 ) =


inf(B 0 ).

Dado x ∈ A vamos mostrar que x ∈ A 0 .

x < sup(A 0 ) = inf(B 0 ) ≤ y 0 , ∀ y 0 ∈ B 0 , daı́ x ∈ A 0

a inclusão A 0 ⊂ A é análoga. Então vale A = A 0 .

• Dado y ∈ B, vamos mostrar que y ∈ B 0 .

x 0 < sup(A) < inf(B 0 ) ≤ y

com isso y ∈ B 0 . De maneira similar, B 0 ⊂ B portanto B = B 0 . Como vale


B = B 0 e A = A 0 então a função é injetiva.

• A função é sobrejetiva. Para qualquer y ∈ R, tomamos os conjuntos (−∞, y) ∩


Q = A e B = [y, ∞) ∩ Q, A não possui máximo, para todo x ∈ A e y ∈ B tem-se
y > x e Q = [(−∞, y) ∩ Q] ∪ [ [y, ∞) ∩ Q], além disso vale sup(A) = y = inf(B),
portanto f(A, B) = y e a função é sobrejetora, logo sendo também injetora f é
bijeção.

1.8.21 Classificação de intervalos

b Propriedade 113. Um conjunto I ⊂ R é um intervalo ⇔ a 0 < x < b 0 com


a 0 , b 0 ∈ I implica x ∈ I.

ê Demonstração.
⇒). Se I é um intervalo então ele satisfaz a propriedade descrita.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 62

⇐). Se a definição tomada de intervalo for: dados a 0 , b 0 elementos de I se para


todo x tal que a 0 < x < b 0 então x ∈ I, logo o conjunto I deve ser um dos nove tipos
de intervalos.
Caso I seja limitado, inf I = a e sup I = b, se a < x < b, existem a 0 , b 0 tais que
a 0 < x < b 0 logo x ∈ I, isto é, os elementos entre o supremo e o ı́nfimo do conjunto
pertencem ao intervalo. Vejamos os casos

• inf I = a, sup I = b são elementos de I, logo o intervalo é da forma [a, b].

• a∈
/ I, b ∈ I, o intervalo é do tipo (a, b].

• a∈I e b∈
/ I, o intervalo é do tipo [a, b).

• a∈
/Ieb∈
/ I tem-se o intervalo (a, b). Com isso terminamos os tipos finitos de
intervalos.

Se I é limitado inferiormente porém não superiormente.

• a ∈ I , gera o intervalo [a, ∞).

/ I, tem-se o intervalo (a, ∞).


• a∈

Se I é limitado superiormente porém não inferiormente.

• b ∈ I , gera o intervalo (−∞, b].

• b∈
/ I, tem-se o intervalo (−∞, b).
O último caso, I não é limitado

I = (−∞, ∞)

1.9 A reta estendida

m Definição 38 (Reta estendida). Definimos a reta estendida R, como o con-


junto
R := R ∪ {−∞} ∪ {∞}

, isto é, fazemos a adjunção de dois pontos ∞ e −∞, chamados pontos ideais, tal
que para elementos de R vale a ordem já definida. Os pontos de R chamamos de
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 63

finitos e ∞ e −∞ de pontos infinitos. Dado x ∈ R arbitrário definimos que vale

−∞ < x < ∞.

Dado x ∈ R definimos as operações

x+∞=∞+x=∞

x − ∞ = −∞ + x = −∞.

Se x > 0 definimos

x.∞ = ∞.x = ∞, x(−∞) = (−∞).x = −∞.

Se x < 0 definimos

x.∞ = ∞.x = −∞, x(−∞) = (−∞).x = ∞.

Podemos denotar também R = [−∞.∞] e ∞ = +∞.


∀ x ∈ R, definimos
x x
= = 0.
∞ −∞
∞ −∞
a 6= 0, := ∞.a−1 e := −∞.a−1 .
a a
Definiremos também 0 .∞ = ∞ .0 = 0 e 0 .(−∞) = (−∞). 0 = 0, porém essa
definição não é usual, sendo deixada por muitos autores como indefinida, porém
é usada na teoria de integração.

m Definição 39. Se um conjunto A não é limitado inferiormente, definimos


inf A = −∞.

m Definição 40. Se um conjunto A não é limitado superiormente, definimos


sup A = ∞.

com essas definições, todo conjunto não vazio em R possui supremo e ı́nfimo em
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 64

R.

1.10 Raı́zes
b Propriedade 114. Sejam x > 0, a > 0. Se xn < an então x < a.

ê Demonstração. Se a = x então an = xn absurdo, se x > a então xn > an


absurdo, por tricotomia segue então que x < a.

b Propriedade 115. Dado qualquer n > 0 ∈ N e a ≥ 0 ∈ R , então existe um


único b ∈ R tal que b ≥ 0 e bn = a.

ê Demonstração. Unicidade. Suponha que existam b1 e b2 com b2 > b1 > 0


então bn2 > bn1 o que é absurdo.
Se a = 0, tomamos b = 0 e daı́ 0n = 0. O caso de 0 < a ≤ 1 recai sobre o caso de
1 1
a ≥ 1, pois se existe a = bn com a ≥ 1 então ( )n = ≤ 1.
b a
Definimos o conjunto

Ca = {x > 0, x ∈ R | xn ≤ a}

Ca é não vazio pois 1 ∈ Ca , pois 1n = 1 ≤ a, além disso é limitado superiormente


por (1 + a)n , pois xn ≤ a < (1 + a)n daı́ xn < (1 + a)n que implica x < 1 + a. Como
o conjunto é limitado superiormente e não vazio então ele possui um supremo b.
Vamos mostrar que b não satisfaz bn > a nem bn < a, então por tricotomia vale
bn = a.

• Suponha bn < a então definimos

ε := a − bn > 0
 
n n−k
M = max{ b , k ∈ In }
k
e
ε
δ = min{1,
|{z} }
nM
>0
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 65

 
n n−n ε
, daı́ M ≥ 1 pois b =1 e δ≤ implicando δnM ≤ ε e δ ≤ 1 que
n nM
implica δk < δ Tem-se
X n  
n n−k k X n
n n
(b + δ) = b + b δ ≤ bn + Mδ = bn + nMδ ≤ bn + ε = a.
k=1
k k=1

Então b + δ pertence ao conjunto Ca o que é absurdo pois b é o supremo.

• Suponha bn > a então definimos

ε := bn − a > 0

, usamos as mesmas definições para δ e M. Tem-se


Xn  
n n−k Xn
n n
(b − δ) = b + b (−1) δ ≥ b −
k k n
Mδ = bn − nMδ ≥ bn − ε = a.
k
k=1 k=1

Como b − δ não é o supremo, então existe x ∈ Ca tal que b − δ < x < b e daı́
(b − δ)n < xn ≤ a o que contradiz b − δ ≥ a, absurdo. Como não vale bn < a
nem bn > a então vale bn = a.

m Definição 41 (Raiz n-ésima). Para cada n ∈ N e a ∈ R com a ≥ 0 definimos


a n-ésima raiz de a como o único número real b tal que b ≥ 0 e bn = a e
denotamos por

n
1
b= a = an .
√ √
No caso de n = 2 escrevemos a ao invés de 2
a.

m Definição 42 (Potência racional). Dado qualquer número racional r, pode-


m
mos escrever r = com n > 0 e definimos
n
m 1
a n := (am ) n

para cada a > 0 ∈ R.


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 66

m Definição 43 (Raiz negativa de ı́ndice ı́mpar). Se n é ı́mpar e a ≥ 0 ∈ R


então definimos
1 1
(−a) n = −(a n ).

√ √
b Propriedade 116. Se a > b > 0 então a> b.

ê Demonstração. Por tricotomia existem três possibilidades


√ √
• a = b nesse caso a2 = b2 e daı́ (a − b)(a + b) = 0, implicando a = b, que
não pode acontecer pois a > b ou implicando a = −b, que não pode acontecer
pois um deles seria negativo, contrariando a hipótese.
√ √
• b> a daı́ b2 > a2 então (b − a)(a + b) > 0, porém b − a < 0 e a + b que é
absurdo.
√ √
Segue então por tricotomia que a> b.

Z Exemplo 14. • Sejam X = {x ∈ Q+ | x2 < 2} e Y = {y ∈ Q+ | y2 > 2}. Se


√ √
x > 2 então x2 > 2. Se y < 2 então y2 < 2, disso concluı́mos que que vale
√ √ √
X ⊂ (0, 2) e Y ⊂ ( 2, ∞), pois 2 é irracional logo não pode ser elemento
de X ou Y . Iremos mostrar que não existe sup X nem inf Y em Q apesar dos
conjuntos serem limitados. Da observação anterior segue também que X e Y
são disjuntos e ∀ x ∈ Xe∀ y ∈ Y vale x < y.

• X não possui elemento máximo. Seja x ∈ X então x2 < 2, 0 < 2 − x2 , vale


2 − x2
também que 2x + 1 > 0, daı́ 0 < , podemos então tomar um racional
2x + 1
2 − x2
r < 1 tal que 0 < r < , e vale ainda x + r ∈ X, pois de r < 1 tem-se
2x + 1
r2 < r e da relação r(2x + 1) < 2 − x2 implica

(x + r)2 = x2 + 2rx + r2 < x2 + 2rx + r = x2 + r(2x + 1) < x2 + 2 − x2 = 2

então (x + r)2 < 2.


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 67

• O conjunto Y não possui elemento mı́nimo. Como vale y > 0 e y2 > 2,


y2 − 2
tem-se y2 − 2 > 0 e 2y > 0, logo existe um racional r tal que 0 < r < ,
2y
logo r2y < y2 − 2, y2 − 2ry > 2. Vale ainda que y − r ∈ Y pois

(y − r)2 = y2 − 2ry + r2 > y2 − 2ry > 2

logo vale (y − r)2 > 2. Vale também y − r > 0 pois de 2ry < y2 − 2 segue
y 1
r < − < y, logo y − r > 0, logo y − r ∈ Y , perceba ainda que y − r < y
2 y
então o conjunto Y realmente não possui mı́nimo.

• Suponha que exista sup X = a, vale a > 0, não pode ser a2 < 2 pois daı́
a ∈ X, mas X não possui máximo. Se a2 > 2 então a ∈ Y , porém Y não
possui mı́nimo o que implica existir c ∈ Y tal que x < c < a∀ X o que
contradiz o fato de a ser a menor cota superior (supremo). Sobre então a

possibilidade de ser a2 = 2, que implica a = 2, número irracional o que é
absurdo, logo não existe supremo para X.

• Seja a = inf Y , não pode valer a2 > 2 pois se não a ∈ Y , mas y não
possui mı́nimo. Se a2 < 2 então a ∈ X, porém X não possui máximo, daı́
conseguimos c ∈ X tal que a > c > y ∀ y ∈ Y o que implica que a não pode
ser cota inferior, deve valer então que a2 = 2 o que é absurdo, logo Y não
possui ı́nfimo em Q. Concluı́mos então que X não possui supremo e Y não
possui ı́nfimo.

b Propriedade 117. Se a, b ∈ R+ e q ∈ N então

1 1 1
(a.b) q = a q .b q
1 1 1 1 1 1
ê Demonstração. Se fosse (a.b) q > a q .b q ou (a.b) q < a q .b q ao elevar à q
1 1 1
terı́amos ab > ab o que é absurdo logo vale (a.b) q = a q .b q .
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 68

1
b Propriedade
m
118. Definimos que a n = (am ) n agora vamos provar que
também vale
1 m
(a n )m = a n .

ê Demonstração. Primeiro provamos para m natural. Para m = 1 a propriedade


vale. Supondo a validade para m vamos provar para m + 1
1 1 1 1 1 1 1 m+1
(a n )m+1 = (a n )m a n = (am ) n a n = (am .a) n = (am+1 ) n = a n .

b Propriedade 119. Se a, b ∈ R+ e r, s racionais então

• ar+s = ar as

• (ar )s = ars

• (a.b)r = ar .br .

ê Demonstração.


p r ps+qr 1 ps qr p r
aq+s = a qs = (a qs )ps+qr = (a qs ).(a qs ) = (a q ).(a s ).
1 1 1 1 1 1
• Primeiro mostramos que (a q ) p = (a pq ) pois y = ((a q ) p )p = (a q ) elevando à q
1
temos ypq = a logo y = a pq . Agora demonstramos o caso geral
s t 1 1 1 1 st
(a q ) p = (((a q )s ) p )t = (((a q ) p )s )t = (a qp .

1 1 1 p p p
• Vale que (a.b) q = a q .b q elevando à p ∈ Z tem-se (a.b) q = a q .b q como
querı́amos demonstrar.

1.11 Diâmetro de conjuntos

m Definição 44 (Diâmetro de um conjunto limitado). Seja A ⊂ R um conjunto


CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 69

limitado, definimos seu diâmetro por

diam(A) = sup{|x − y| |x, y ∈ A}.

Como A é limitado, o conjunto de números reais {|x − y| |x, y ∈ A} é limitado


superiormente por isso possui supremo, então a definição faz sentido.

m Definição 45 (Diâmetro de um conjunto ilimitado). Quando A não é limitado


escrevemos diam A = ∞.

b Propriedade 120. Se A ⊂ B então diam(A) ≤ diam(B).

ê Demonstração. A propriedade vale pois temos

{|x − y| | x, y ∈ A} ⊂ {|x − y| | x, y ∈ B}

pois A ⊂ B, logo por propriedade de supremo temos

sup{|x − y| | x, y ∈ A} ⊂ sup{|x − y| | x, y ∈ B},

isto é, diam(A) ≤ diam(B).

b Propriedade 121. Vale que diam(A) = diam(A) ∀ A ⊂ R.

ê Demonstração.[1] Seja c = diam(A). Existem x, y ∈ A tais que


ε
||x − y| − c| <
2
da mesma forma existem v e w em A tais que
ε
||v − w| − |x − y|| <
2
daı́ por desigualdade triangular temos
ε ε
||v − w| − c| ≤ ||v − w| − |x − y|| + ||x − y| − c| < + =ε
2 2
logo vale diam(A) = diam(A) .
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 70

ê Demonstração.[2]
Como vale E ⊂ E, segue que diamE ≤ diamE. Por outro lado, sejam x, y ∈ E
então existem x 0 , y 0 em E, tais que
ε ε
|x − x 0 | ≤ , |y − y 0 | ≤
2 2
daı́
ε ε
|x − y| ≤ |x − x 0 | + |x 0 − y 0 | + |y 0 − y| ≤ |x 0 − y 0 | + +
2 2
|x − y| ≤ |x 0 − y 0 | + ε ≤ ε + diam(E)

logo por propriedade de supremo diam(E) ≤ diam(E) + ε como vale para todo ε
temos diam(E) ≤ diam(E) e daı́ com a outra desigualdade segue que são iguais.

b Propriedade 122. Se K ⊂ R é compacto então existem x0 , y0 ∈ K tais que


diam(K) = |x0 − y0 |.

ê Demonstração.
Seja f : K → K → R com f(x, y) = |x − y|, a função é contı́nua, como K × K
é subconjunto compacto de R × R = R2 existe um ponto (x0 , y0 ) ∈ K × K tal que
f(x0 , y0 ) = sup{|x − y| ∈ K × K} = diam(K).

b Propriedade 123. Sejam A limitado, m = inf (A), M = sup(A) e w = M−m,


então

w = M − m = sup{|x − y| | x, y ∈ A}.

Isto é, vale que


diam(A) = sup(A) − inf (A).

ê Demonstração. Sejam x, y ∈ A arbitrários , sem perda de generalidade


podemos considerar x ≥ y então

m≤y≤x≤M

e daı́
|x − y| ≤ M − m = w,
CAPÍTULO 1. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE 71

logo w é cota superior, vamos mostrar que é a menor. Para qualquer ε > 0 existem
ε ε
x, y ∈ A tais que x > M − e y < m + e daı́
2 2
|x − y| ≥ x − y > M − m − ε = w − ε

logo w é a menor das cotas superiores.

1.12 Cálculo de supremo e ı́nfimo de alguns conjun-

tos
b Propriedade 124. Temos que sup(a, b) = b e inf (a, b) = a.

ê Demonstração. Consideramos o intervalo não degenerado , b é cota superior


de (a, b) = I e a é cota inferior, pois I é o conjunto dos pontos x ∈ R tais que
a<x<b .

• b é a menor cota superior de (a, b) . Suponha que não seja, então existe uma
cota superior menor b 0 tal que vale a < x ≤ b 0 < b ∀ x ∈ (a, b) , o que é
b0 + b b0 + b
absurdo, pois a < b 0 < < b e ∈ (a, b) contraria b 0 ser cota
2 2
superior de (a, b).

• a é a maior cota inferior de (a, b) . Suponha que não seja, então existe uma
cota inferior maior a 0 tal que vale a < a 0 ≤ x < b ∀ x ∈ (a, b) , o que é absurdo,
a0 + a a0 + a
pois a < < a0 < b e ∈ (a, b) contraria a 0 ser cota inferior de
2 2
(a, b).

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