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Capítulo VI: Conjuntos de antenas (arrays)

Em muitas aplicações, é necessário projetar sistemas de radiação de alta diretividade, o que


nem sempre pode ser obtido usando uma única antena. Nesses casos, pode-se usar um conjunto
(rede, matriz, agrupamento ou array) de antenas, que consiste num grupo de elementos radiantes
dispostos de maneira a produzir características particulares de radiação.
Geralmente os elementos que compõem um conjunto são idênticos, o que não é um requisito
obrigatório, mas é mais simples e prático. Os elementos individuais podem ser de diferentes
formas, incluindo antenas lineares, aberturas, etc.
De modo a obter diagramas bastante diretivos, é necessário que os campos produzidos pelos
elementos do conjunto interfiram construtivamente (somem-se) nas direções desejadas e
interfiram destrutivamente (cancelem-se) nas outras direções. Para conjuntos de elementos
idênticos, isso pode ser conseguido controlando-se os seguintes parâmetros:
1 - a configuração geométrica do conjunto (linear, circular, retangular, esférico, etc.);
2 - a separação entre os elementos;
3 - a amplitude e a fase da excitação de cada elemento.

Conjunto de dois elementos:

Seja um conjunto de dois dipolos infinitesimais dispostos conforme a figura abaixo. Assume-
se que o dipolo em z = d/2 é alimentado com uma corrente I1 = I0 /2 e o dipolo em z = -d/2 é
alimentado com uma corrente I2 = I0 -/2, onde  é a diferença de fase entre as duas correntes.

O campo total no ponto P é a soma vetorial dos campos individuais de cada elemento. Na
região de campos distantes, o campo elétrico total no plano xz ( = 0) é dado por:

  lI  je  jr1 e j 2  je  jr2 e  j 2  
E 0 0  cos 1 a 1  cos  2 a 2  . (6.1)
2  r1 r2 
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Note que o termo sen foi substituído por |cos| uma vez que os elementos estão dirigidos ao
  
longo do eixo x e não ao longo de z. Para pontos distantes, tem-se que 1    2, a 1  a   a 2
e r1//r//r2. Como antes, as seguintes aproximações são feitas:

Termos de amplitude: r1  r2  r
d d
Termos de fase: r1  r  cos  e r2  r  cos  .
2 2

Assim, pode-se reescrever (6.1) como:

 
  lI 
E  0 0 cos  je  jr e jd cos   / 2 e j 2  e  jd cos   / 2 e  j 2 a  , (6.2)
2r

ou seja,

  lI  1  
E  0 0 cos  je  jr 2 cos  d cos      a  . (6.3)
2r  2 

Verifica-se então que o campo total é obtido multiplicando o campo produzido por um único
dipolo infinitesimal posicionado em z = 0 pelo “fator de conjunto” dado por:

1 
FC  2 cos  d cos     . (6.4)
2 

Na equação (6.3), |cos| corresponde ao diagrama de um único elemento e, por essa razão, é
chamado de “fator de elemento”. Já o fator de conjunto é função somente da geometria do
conjunto e da diferença de fase entre as correntes de excitação, não dependendo dos elementos
individuais. Variando a separação entre os elementos (d) e a diferença de fase () podem-se
controlar as características do fator de conjunto e, consequentemente, do campo total radiado.
Assim, o campo radiado por um conjunto de elementos pode ser dado pelo produto do campo
devido a um único elemento pelo fator de conjunto:
 
 
Etotal  Eúnico elemento   Fator de conjunto. (6.5)

Apesar de ter sido deduzida para um conjunto de dois elementos com excitação de mesma
amplitude, a expressão anterior é válida para conjuntos com um número qualquer de elementos
idênticos os quais não têm necessariamente excitações de mesma amplitude, fase e/ou igual
espaçamento entre eles. A equação (6.5) descreve o princípio conhecido como multiplicação de
diagramas.

Exemplo 1: Para o conjunto de dois elementos mostrado na figura anterior, desenhe o diagrama
do campo total radiado para excitações em fase ( = 0) e d = /2.
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1 
Solução: O campo normalizado é dado por: E  cos   cos  d cos    
2 
Para  = 0 e d = /2  d = 2/  /2 = . Portanto, tem-se:

 
E  cos   cos  cos  = [fator de elemento]  [fator de conjunto]
2 

A figura abaixo mostra os diagramas de campo no plano xz.

O diagrama 3D de cada elemento é obtido pela revolução do diagrama 2D em torno do eixo x,


sendo omnidirecional no plano yz. O diagrama 3D do conjunto é obtido pela revolução do
diagrama 2D em torno do eixo z, sendo omnidirecional no plano xy. O diagrama 3D resultante,
mostrado na figura abaixo, não é omnidirecional em nenhum plano.

Exemplo 2: Refazer o exemplo anterior para  =  = 180 e d = /2.

Solução: Para  =  e d = /2  d = 2/  /2 = . Portanto, tem-se:


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1   
E  cos   cos  d cos      cos   cos  cos   1
2  2 

A figura abaixo mostra os diagramas de campo no plano xz.

O diagrama 3D resultante é mostrado abaixo.

Exemplo 3: Idem para excitações em quadratura de fase ( = /2 = 90) e d = /4.

Solução: Para  = /2 e d = /4  d = 2/  /4 = /2. Portanto, tem-se:

1   
E  cos   cos  d cos      cos   cos  cos   1
2  4 

A figura abaixo mostra os diagramas de campo no plano xz.


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Em todos os exemplos, observa-se que o diagrama resultante é mais direcional que o diagrama
de cada elemento individual.

Conjunto de N elementos alinhados com espaçamento e amplitude uniformes

Seja um conjunto de N elementos alinhados igualmente espaçados ao longo do eixo z, como


mostra a figura.

Supõe-se que os elementos são alimentados com correntes de mesma amplitude, mas com um
deslocamento de fase progressivo , isto é, I1 = I00, I2 = I0, I3 = I02, etc. O fator de
conjunto pode ser obtido considerando os elementos como fontes isotrópicas unitárias, resultando
em:

FC  1  e jd cos    e j2d cos    e j3d cos        e j N1d cos   , (6.6)
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que pode ser escrita como

FC  1  e j  e j2  e j3      e j N1 , onde   d cos    . (6.7)

A equação (6.7) tem a forma da série geométrica abaixo:

N 1 1 xN
1 x  x  x    x
2 3
 , com x  e j . (6.8)
1 x

Portanto:

 N 
jN jN / 2 jN / 2  jN / 2
sen 
1 e e e e  2 .
FC    e j N 1 / 2 (6.9)
1 e j
e j / 2
e j / 2
e  j / 2

sen 
2

O termo de fase e j N1 / 2 tem módulo unitário e não estaria presente se o conjunto estivesse
centrado em z = 0 (com referência de fase nesse ponto). Assim, desconsiderando esse termo
pouco importante, tem-se:

 N 
sen 
FC   2 , onde   d cos    . (6.10)

sen 
2

O diagrama resultante de (6.10) dependerá da distância entre os elementos (d), da diferença de


fase progressiva () e também do número de elementos (N). A direção de máxima radiação é
obtida fazendo  = 0 (neste caso, FC = N). Como esperado, verifica-se facilmente que, para
N = 2, obtém-se a equação (6.4).

Caso 1: conjunto com radiação transversal (broadside array)


Em muitas aplicações, é desejável ter máxima radiação numa direção perpendicular ao eixo do
conjunto, ou seja, em  = 90. A condição para isso é:

  d cos   900  0    0. (6.11)

Assim, a radiação transversal é obtida quando todos os elementos têm excitação em fase (além
de terem a mesma amplitude). Para garantir que não haja máximos em  = 0 e  = 180, é
necessário adicionalmente que d n, com n = 1, 2, 3, etc.
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A figura abaixo mostra o diagrama de campo (no plano vertical) de um conjunto de fontes
isotrópicas com radiação transversal com N = 4 e d = /2.

O diagrama 3D é obtido girando a figura anterior em torno do eixo do conjunto, o que resulta
numa figura com formato de disco, sendo omnidirecional no plano horizontal ( = 90).

Diretividade: A diretividade de um conjunto com radiação transversal composto de N fontes


isotrópicas é dada por:

d  L  d 
D  2 N   21    , (6.12)
  d   

onde L = (N-1)d é o comprimento total do conjunto.


A figura abaixo mostra a influência do comprimento L no diagrama de um conjunto broadside
com espaçamento d = /2. Nos casos mostrados, o número de elementos é de N = 5, 9, 13 e 17.

Observa-se que o aumento do comprimento total do conjunto tende a estreitar o diagrama,


aumentando sua diretividade. Isso é coerente com (6.12).
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Caso 2: conjunto com radiação longitudinal ordinário (ordinary end-fire array)


Para obter máxima radiação na direção do eixo do conjunto, ou seja, em  = 0, é necessário
que:

  d cos   00  0    d . (6.13)

Assim, a radiação transversal é obtida quando a fase da excitação dos elementos é retardada
progressivamente pela mesma quantidade que o espaçamento entre as fontes em radianos. Para
garantir que não haja máximos em  = 90 e  = 180, é necessário adicionalmente que d n,
com n = 1, 2, 3, etc. Caso se queira radiação na direção  = 180, a condição é  = +d.
A figura abaixo mostra o diagrama de campo (no plano vertical) de um conjunto de fontes
isotrópicas com radiação longitudinal com N = 4 e d = /2. Neste caso,  = -(2/)(/2) = - =
-180.

Observa-se na figura anterior que, além do máximo em  = 0, há um máximo adicional em


 = 180, tornando o diagrama bidirecional. Isso ocorre porque, para d = /2,  = -180, o que é o
mesmo que  = +180. Para ter um diagrama unidirecional, o espaçamento deve ser menor que
/2. O diagrama 3D é obtido girando a figura anterior em torno do eixo do conjunto, o que resulta
numa figura com formato de ampulheta.

Diretividade: A diretividade de um conjunto com radiação longitudinal ordinário composto de N


fontes isotrópicas é dada por:

d  L  d 
D  4 N   41    , (6.14)
  d   

o que é o dobro da diretividade de um conjunto com radiação transversal de mesma configuração


geométrica.
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A figura abaixo mostra a influência do comprimento L no diagrama de um conjunto end-fire


com espaçamento d = /4. Nos casos mostrados, o número de elementos é de N = 9, 17, 25 e 33.
Neste caso, como d < /2, os diagramas são unidirecionais.

Como antes, observa-se que o aumento do comprimento total do conjunto tende a estreitar o
diagrama, aumentando sua diretividade. Isso é coerente com (6.14).

Caso 3: conjunto com radiação longitudinal com diretividade aumentada (Hansen-


Woodyard end-fire array)
A condição dada em (6.13) permite obter radiação máxima na direção do eixo do conjunto,
mas não dá a máxima diretividade. Foi mostrado por Hansen e Woodyard que uma diretividade
maior é obtida pelo aumento da defasagem entre as fontes de modo que:

 
   d   . (máxima radiação em  = 0) (6.15)
 N

Pode-se mostrar que a condição anterior permite obter diretividade aumentada desde que o
espaçamento entre os elementos seja próximo de /4.
A figura abaixo mostra os diagramas de campo de um conjunto de radiação longitudinal com
10 fontes isotrópicas de amplitudes iguais e com espaçamento d = /4. O diagrama à direita
corresponde ao conjunto ordinário (com diferença de fase entre elementos  = -90) e o da
esquerda corresponde ao conjunto com diretividade aumentada (com  = -108).
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Observa-se claramente o aumento da diretividade quando a defasagem entre os elementos


passa de -90 a -108. Para o exemplo mostrado, a diretividade do conjunto ordinário é D  10,
com ângulo de abertura de meia potência HPBW = 68; para o conjunto com diretividade
aumentada, D  18 e HPBW = 37.

Diretividade: A diretividade de um conjunto com radiação longitudinal com diretividade


aumentada composto de N fontes isotrópicas é dada por:

  d    L  d 
D  1,789 4 N   1,789 41    , (6.16)
      d   

o que é cerca de 79% maior que a diretividade de um conjunto com radiação longitudinal
ordinário de mesma configuração geométrica.

Exercício: Seja um conjunto linear composto por 10 fontes isotrópicas (N = 10) com excitação
de mesma amplitude e com separação entre elementos d = /4. Calcule a diretividade
considerando as seguintes defasagens entre elementos:
a)  = 0 (conjunto com radiação transversal);
b)  = -90 (conjunto com radiação longitudinal ordinário);
c)  = -108 (conjunto com radiação longitudinal com diretividade aumentada).

Solução:

d 1
a) D  2 N   2  10   D  5 ou 6,99 dBi ;
 4
d 1
b) D  4 N   4  10   D  10 ou 10 dBi ;
 4
d 1
c) D  1,789  4 N   1,789  40   D  17,89 ou 12,53 dBi .
 4

Caso 4: conjunto com máximo numa direção arbitrária (scanning array)


Para obter máxima radiação numa direção arbitrária 0, é necessário que:

  d cos   0  0    d cos  0 . (6.17)

Assim, para um dado espaçamento d, a direção de máxima radiação pode ser especificada
controlando a diferença de fase entre os elementos. Esse é o princípio de funcionamento das
antenas com varredura eletrônica do feixe (scanning phased-arrays). Esse mesmo princípio pode
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ser utilizado para obter deslocamento eletrônico do feixe principal (“downtilt elétrico”) de
antenas utilizadas em ERBs (Estações Rádio-Base) em sistemas de telefonia celular.
Por exemplo, seja um conjunto com N = 4 elementos separados por uma distância d = /2 para
o qual se deseje radiação máxima na direção 0 = 60. Neste caso,  = -/2 = -90. O diagrama
de campo resultante é mostrado na figura abaixo.

Conjunto com distribuições de amplitude não uniformes

Além do que foi visto anteriormente, é possível obter conformar o diagrama de radiação de um
conjunto utilizando excitações com diferentes amplitudes para cada elemento.
A figura abaixo mostra um conjunto de N = 5 elementos com espaçamento d = /2 tendo
excitações em fase ( = 0), mas com diferentes amplitudes.

Observa-se, por exemplo, que a distribuição uniforme tem um feixe mais estreito do que o da
distribuição binomial, mas esta tem a vantagem de não possuir lobos laterais. Um compromisso
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entre ambas é a distribuição designada como ótima, que representa um bom compromisso entre a
largura de feixe e o nível de lobos laterais. A obtenção das amplitudes e/ou fase da excitação de
cada elemento para um dado diagrama consiste num problema de síntese que pode ser resolvido
utilizando diferentes métodos (p. ex., Dolph-Tchebychev e Taylor).

Conjunto planares (bidimensionais)

Do mesmo modo que se podem dispor os elementos ao longo de uma linha (formando um
conjunto linear), podem-se também distribuir os elementos sobre um retângulo de modo a formar
um conjunto planar. Estes provêem graus de liberdade adicionais que permitem controlar as
características de radiação do conjunto. Conjuntos planares são mais versáteis e permitem obter
diagramas mais simétricos com menores níveis de lobos laterais. Além disso, podem ser usados
para fazer a varredura do feixe principal em qualquer região do espaço.
Como exemplo, a figura abaixo mostra um conjunto planar composto de cinco pares de
elementos espaçados de /2. Para cada par, a separação entre os elementos é de /4, com
excitações defasadas de 90.

O diagrama do conjunto planar (supondo que cada elemento é uma fonte isotrópica unitária) é
obtido aplicando o princípio de multiplicação de diagramas:

diagrama de um
diagrama de conjunto linear de 5 diagrama do
cada par elementos conjunto planar
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Exemplos de conjuntos de antenas


painel de dipolos
com refletor
antena log-periódica

guia de onda
com fendas
antena Yagi-Uda

antena helicoidal

conjuntos de
antenas impressas

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