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IESAM

CONTABILIDADE BÁSICA
Prof. Dr. Ivandi Teixeira
AULA 04

Princípios contábeis e a formação de resultados

Todas as essências dos registros contábeis deveriam estar respaldadas pelos princípios contábeis, cujos
princípios a própria comunidade acadêmica e profissional da contabilidade teimam em denominá-los pejorativamente
de “geralmente aceitos”. Esta se deve ao fato de que os interesses das entidades encontram-se subjugados pelos
interesses do fisco, mas isto é outra questão. O fato, é que, para efeito da otimização dos registros de tal forma que
os torne úteis ao processo decisório, deve-se priorizar a observância aos princípios contábeis (base científica) de
forma que as contas possam estar registrando em bases concretas, os atos e fatos administrativos em respeito à
realidade do contexto sócio-políticos e econômico no qual possam estar ocorrendo.

A definição de contas, natureza de saldos, composição de resultados, encontram-se respaldados no


conhecimento científico, conforme a estrutura conceitual da contabilidade que se constitui de postulados, princípios e
restrições. Esta estrutura, deve definir, sobremaneira, o plano de contas das entidades, auferindo a devida
sustentação ao processo decisório.

Portanto é muito importante se dispensar atenção para a seguinte estrutura, definida por princípios que
tratam especificamente da formação dos resultados.

A estrutura conceitual (em bases científicas) da contabilidade;

NORMAS
(CONVENÇÕES)

PRINCÍPIOS

POSTULADOS
AMBIENTAIS

1.3.1 - Postulados Ambientais:


Dizem respeito a dois pressupostos básicos: a entidade ; e, a Continuidade.

• O Postulado da Entidade:

Organização formal ou informalmente constituída, onde o(s) proprietário(s) ou sócios destas não se
confundem para efeito de identificação de suas contas. Ou seja: a estrutura patrimonial das entidades é distinta
daquela pessoal e/ou familiar do(s) proprietário(s) ou sócios.

Neste entendimento, a entidade deve ser considerada em sua amplitude operacional, possuidora das
seguintes dimensões:

a- Jurídica: aufere emancipação à entidade em relação às pessoas que a constituírem e gerem.


b- Econômica: caracteriza a necessidade da massa patrimonial da entidade evoluir de forma sistematizada nos
aspectos qualitativos e quantitativos.
c- Organizacional: define a necessidade de pessoa(s) exercendo gerenciamento responsável e competente
sobre receitas e despesas; investimentos e distribuições; meio ambiente e o ecossistema.
d- Social: ressalta a atuação da entidade em função de seus objetivos operacionais pela utilidade que a si
acresce, como também pelo que deve contribuir em termos de benefícios sociais para a comunidade que a
ela se avizinha.
e- Ético: ratifica os objetivos da entidade, comprometidos com o a sua evolução patrimonial em perfeita
harmonia com os preceitos da decência e da moral, buscando o construto da verdade com vistas ao bem
estar comum.

• O Postulado da Continuidade:

A entidade deve ser entendida na condição de organismo vivo (going concern), que deverá viver (operar)
por um período de tempo indeterminado e indefinido, até que surjam evidências irrefutáveis em contrário
(descontinuidade).

1.3.2 - Princípios Contábeis:


Os postulados ambientais conforme apresentados, dizem respeito à abrangência da atuação da entidade.
Os princípios contábeis por sua vez estabelecem a dimensão filosófica dos sistemas de informações gerenciais, que
devem operar em um cenário bastante complexo, conforme delimitado pelos Postulados supraapresentados.

Os Princípios contábeis se constituem no núcleo central da doutrina contábil que configura o sistema de
informação gerencial, na condição de imprescindível a qualquer processo decisório forma ou informalmente
constituído. Apresentam-se segmentados nos seguintes pressupostos:

• O Princípio do custo como base de valor:

O custo de aquisição de bens, serviços, ou insumos e os dispêndios necessários para fabricá-lo e colocá-lo
em condições de gerar benefícios para a entidade, representa a base de valor para a entidade, que deverá registrá-lo
em termos de valores monetários em moeda de poder aquisitivo constante.

• O Princípio do denominador comum monetário:

As informações gerenciais, sem prejuízo dos registros detalhados de natureza qualitativa e física, deverão
ser expressas em termos de moeda nacional de poder aquisitivo atualizado, a partir da data do balanço patrimonial
do exercício social findo.

• O Princípio da realização da receita:

A receita deve ser considerada realizada e, portanto passível de registro pela entidade, quando produtos ou
serviços produzidos ou prestados pela entidade são transferidos para outra entidade ou pessoa física com a
anuência destas e mediante pagamento ou compromisso de pagamento específico perante a entidade que transfere,
independente do ônus, o bem e/ou serviços.

É importante ressaltar que o princípio da realização da receita diz respeito à concessão de esforços no
sentido de alcançar os objetivos da entidade. De forma que nem sempre a realização da receita pode e deve ser
considerada pela transferência de bens e/ ou serviços, a terceiros. Até porque o esforço para obter a receita, justifica
deste já a sua realização, independente da transferência, senão vejamos alguns casos em que se deve reconhecer a
receita, independente, inclusive da conclusão de todas as etapas e/ou processos de fabricação:

a) Receitas a serem reconhecidas proporcionalmente a certo período contábil já decorrido

b) Produtos cuja produção é contratada para execução em longo prazo

c) Reconhecimento da receita antes da transferência por valoração de estoques

d) Reconhecimento da receita após o período de transferência de produto ou serviço

• O Princípio do confronto das despesas com as receitas e com os períodos contábeis


As despesas são entendidas como todo e qualquer esforço para se obter uma receita. Portanto, toda e
qualquer despesa reconhecida em um determinado período, deverá estar confrontada com as receitas relacionadas
àquele período, independente do seu efetivo desembolso.

Alguns casos merecem destaque. Podem existir circunstâncias perante as quais não se percebam de forma
nítida a receita condizente com uma despesa em particular, uma vez que esta na condição antecedente poderá estar
contida em uma mix de atividades que ainda sequer foram desenvolvidas, e portanto não geraram expectativa de
resultados, senão vejamos:
! As despesas ocorridas em período pré-operacional da entidade devem ser ativadas na condição de
diferido, devendo ser amortizadas à medida que se dê o processo de geração de receita;
! As despesas incorridas com Pesquisas e Desenvolvimento de produtos e/ou tecnologias, deverão
igualmente ser diferidas, e apropriadas às receitas a posteriori, no momento em que os projetos e/ou
pesquisas iniciarem o processo de geração de receitas.

Adendo: Por assim dizer, deve ficar claro o entendimento de que nestas condições, estas despesas nem sempre
deverão ser apropriadas em seu total, de forma a não comprometer o resultado de um único exercício.
Deve estar trabalhado o número de exercícios no qual estas despesas contribuirão para a obtenção dos
resultados, e daí então, se apropriar em função da proporcionalidade.

Exceção que deve ser observada sempre que os objetivos destas despesas não forem alcançados com
êxito, estas deverão em sua totalidade, ser apropriadas de uma só vez naquele exercício.

Desta forma, fica a evidência de que toda e qualquer atividade de uma entidade deve se justificar pela sua
operacionalidade. Assim sendo, é equivocada a leitura de que em uma entidade possam registrar despesas “não
operacionais”, bem como deve ficar o esclarecimento de que toda e qualquer atividade deve ser configurada como
produtiva. Até porque seria bastante complicado, se continuar com o equívoco de registrar atividades não
produtivas.

Assim, deve estar revista a conceituação em função do entendimento “do que é”, e “do que quer dizer”.

Onde se lê despesas não operacionais - deve-se ler: despesas de suporte operacional


Onde se lê atividades produtivas - deve-se ler: atividades da entidade.
É oportuno se salientar uma observação bastante oportuna, existe um sem número de estudiosos que ainda
entendem de forma confusa este princípio básico da contabilidade. Tentam confundir uma característica inerente ao
princípio, com a criação de um pseudoprincípio que denomina “princípio de competência”, o que na verdade não
existe.

O que efetivamente se observa sob a ótica da perspectiva científica da contabilidade é simplesmente o fato
decorrente da observância dos princípios contábeis, conforme explicitados. Está bastante claro o entendimento de
que as receitas podem e devem ser reconhecidas independentes da sua realização, ou seja da entrada de valores
pecuniários, como contrapartida do fato gerador da receita, qual seja a venda. Como também, as despesas por sua
vez podem e devem estar configuradas pelo esforço da produção das receitas, independentes do desembolso físicos
no momento em que se dê o fato gerador. Pois bem, a estas características que permeiam os atos e fatos
administrativos consubstanciando-os em fatos contábeis, se denomina de Regime de Competência do Exercício. À
sua antítese, se denomina Regime de Caixa do Exercício, entendendo-se a oportunidade na qual as receitas e
despesas são reconhecidas somente por ocasião das entradas e respectivas saídas do numerário.

1.3.3 - As Convenções (Restrições aos Princípios)


Internacionalmente tratadas por qualificações, representam o complemento dos Postulados e Princípios, no
sentido de fazer delimitar conceitos, atribuições e direções a serem seguidas e de condensar toda a experiência e
bom senso da gerência empresarial no trato das atividades inerentes ao processo de tomada de decisão. Deve ficar
clara a percepção da condição acessória de tais convenções, até porque a sua função precípua é a de orientar sobre
a luz de cada situação específica, traduzir em instruções, o melhor entendimento sobre a natureza, predicados e
características de cada conta em particular.

Estas convenções serão apresentadas neste estudo, na forma de enunciados indicativos, e portanto de
menor envergadura para o contexto gerencial, que os postulado e princípios, conforme já apresentados.
• A Convenção da Objetividade

Orienta para a percepção de que a aplicação dos princípios contábeis dar-se-á em função da documentação
comprobatória emitida pelos fornecedores de matéria prima, de insumos diversos, de ativos genéricos e de serviços.
Na ausência ou caducidade destes, deve-se relevar a importância de laudos periciais de avaliação e perspectiva da
potencialidade destes ativos, emitidos por profissionais competentes e credenciados para tal.

• A Convenção da Materialidade

A entidade deverá considerar a relevância e a materialidade sempre que estiver predisposta a avaliar a
importância da informação à luz da relação custo-benefício, levando em consideração os aspectos internos da
doutrina contábil. Esta consideração deve ser observada em função, inclusive, do caráter subjetivo da informação.
Neste aspecto cabe a preocupação de fazer íntima a relação entre os propósitos operacionais da entidade
no momento em que busca a evidência de uma informação, cujo teor carece de consistência material onde a
subjetividade possa ser a tônica.

Então, o gestor deverá priorizar para efeito de evidência das informações, os aspectos subjetivos que
contribuem para a geração dos resultados, sempre que possível nas notas explicativas em anexos aos relatórios
contábeis, e nem sempre expresso quantitativamente, mais implícito a potencialidade de alterar os resultados.
Nestas ocasiões, uma análise de tendência sempre será bem vinda.

Ou seja, o aspecto qualitativo da informação deverá ter prioridade sobre o quantitativo, e a essência da
informação ter predominância sobre a forma como estas informações são elaboradas.

• A Convenção do Conservadorismo

Também compreendida como “Prudência”, esta convenção delimitará, como medida de cautela e prevenção
quanto à geração de expectativas otimistas por parte dos diferentes usuários da informação contábil-gerencial, sobre
as perspectivas dos objetivos sociais da entidade.

Diz respeito à avaliação dos componentes patrimoniais, no momento em que entre alternativas de avaliação
do patrimônio de uma entidade, igualmente consistentes à luz dos preceitos contábeis, prevalecerá aquele que
expressar um menor valor para os componentes do ativo, e um maior valor para os componentes do passivo.

• A Convenção da Consistência

Os registros contábeis de uma entidade deverão ser elaborados em bases reais e assim mantidos de forma
tal que os diferentes usuários possam experimentar ao longo dos tempos, a oportunidade de comparar contas por
natureza e saldo, sem a preocupação de rever os critérios adotados.

É oportuno salientar que não existe nenhum impedimento de se alterar os planos de contas, classificação de
contas e critérios de avaliação de ativos e passivos. Entende-se inclusive, na condição de prática salutar para a
maximização da utilidade da informação, que esta prática deva ser incentivada. Contudo, deve-se trabalhar de forma
criteriosa estas evidências que deverão constar em notas explicativas sempre que tais alterações se fizerem
presentes.

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