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Comunicação Mesa Unicatólica

POR QUE EDUCAÇÃO PARA TODOS? QUE EDUCAÇÃO PARA TODOS?


EDUCAÇÃO PARA TODOS PARA QUEM?

1. A Declaração de Jomtien se ampara na Declaração Universal dos Direitos Humanos


no artigo 26 que diz: “toda pessoa tem direito a educação”, porém, passados, á época,
mais de 40 anos dessa declaração não se registrava avanços nesse sentido. Além disso, a
partir da crise de 1970 e da reformulação do Banco Mundial, este passou, na gestão de
Mcnamara, a incluir a educação como ponto alvo, consistiria no braço ideológico do
BM via seus organismos.
2. O Programa de EPT se concentra em linhas gerais, numa política de aliviamento da
pobreza, dos conflitos, em prol de uma sociedade equitativa, de paz e sustentável, com
ações para a Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem (NEBAS),
promoção da cultura de paz através da tolerância entre diferentes etnias e ideologias; da
sustentabilidade; dos bons hábitos de higiene e saúde, dentre outros.
3. Concentra-se no atendimento de grupos marginalizados, dito, socialmente
vulneráveis, tais como: pobres, minorias étnicas, mulheres, negros, migrantes, dentre
outros. Não por acaso, se dirige principalmente aos países mais pobres do globo,
chamados de periféricos, exatamente pelas condições socioeconômicas desses países
com desdobramento direto sobre os sistemas educacionais, evidenciado por mecanismos
de controle e acompanhamento dos dados educacionais monitorados pelo programa.
1 Contexto histórico do Programa de Educação para Todos.

• O cenário de crise por qual passa o capital, com o seu agravamento desde a década
de 1970, tem exigido redirecionamentos econômicos, cujos desdobramentos perpassam
essa esfera, invadindo todos os domínios sociais, inclusive a educação, que desde 1990
tem sido alvo de intensas reformas através da política de “Educação para Todos” do
Banco Mundial, via seus organismos multilaterais como a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), e outros, essa política tem norteado a educação mundial, forçando os países
signatários a adotarem suas recomendações, dito isto, essa exposição tem como objetivo
comunicar os desafios impostos à docência, atualmente, dadas as imposições da política
de EPT no nos marcos no pretencioso alcance de suas metas:
• Paralelamente ao ideário neoliberal situa-se a Teoria do Capital Humano, que
considera os seres humanos como fonte de capital necessário ao sistema produtivo. De
caráter economicista, esta teoria “incorpora em seus fundamentos a lógica do mercado e
a função da escola se reduz à ‘formação dos recursos humanos’ para a estrutura de
produção” (BIANCHETTI, 1996, p. 94). Desse modo, o sistema educacional deve se
articular com o sistema de produção, para equilibrar a demanda e a oferta, como se as
pessoas fossem uma mercadoria como outra qualquer, seguindo os desequilíbrios de
mercado.
• Assim, como coloca Mendes Segundo (2006), apoiando-se em Leher, “até a década
de 1960, a educação mundial constituía questão secundária para o Banco Mundial, que a
considerava uma atividade marginal e dispendiosa. Esta concepção, porém, ―começou
a mudar durante a gestão de Woods e, mais definidamente, na gestão de McNamara,
quando a ênfase no problema da pobreza fez a Educação sobressair entre as prioridades
do Banco” (LEHER, 1998, p. 202).
• Após o evento marco de “Educação para Todos”, que foi a Conferência Mundial
sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien, Tailândia em 1990, outras
conferências e encontros foram realizados em atendimento às seis metas estabelecidas
na Declaração de Jomtien, vistas a ratificar o compromisso com a EPT, avaliando os
avanços e seus limites, e traçando novas estratégias de “esforços” e/ou novos prazos
para o cumprimento dessas metas, como podemos depreender nos quadros abaixo:

Quadro 1 – Metas Definidas na Conferência Mundial de Educação para Todos


em Jomtien, Tailândia,1990.

METAS DETERMINAÇÕES
Meta 1 a expansão dos cuidados e atividades, visando ao desenvolvimento das crianças em idade pré-
escolar;
Met2 o acesso universal ao ensino fundamental (ou ao nível considerado básico), que deveria ser
completado com êxito por todos;
Meta 3a melhoria da aprendizagem, tal que uma determinada porcentagem de um grupo de faixa etária
"x" atingisse ou ultrapassasse o nível de aprendizagem desejado;
Meta 4 a redução do analfabetismo adulto à metade do nível de 1990, diminuindo a disparidade entre as
taxas de analfabetismo de homens e mulheres;
Meta 5 a expansão de oportunidades de aprendizagem para adultos e jovens, com impacto na saúde, no
emprego e na produtividade;
Meta 6 a construção, por indivíduos e famílias, de conhecimentos, habilidades e valores necessários
para uma vida melhor e um desenvolvimento sustentável.
FONTE: MENDES SEGUNDO, 2004.

Quadro 2 – Principais objetivos do Programa de Educação para Todos expressos nos


respectivos documentos das Conferências sobre Educação para Todos (1990-2004).

CONFERÊNCIAS/ LOCAL/ OBJETIVOS


DOCUMENTOS PERÍODO
Conferência Mundial Jomtien, Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem (NEBAS):
sobre Educação para Tailândia 1) expansão do cuidado com as crianças em fase pré-escolar e,
Todos/Declaração (1990). potencialmente, as crianças pobres e deficientes; 2)
Mundial sobre Educação universalização da educação primária; 3) melhoria da
para Todos. aprendizagem; 4) redução do analfabetismo e a disparidade de
gêneros; 5) expansão do ensino de jovens e adultos; 6)
construção de conhecimentos e valores que possibilitem uma
vida melhor e o desenvolvimento sustentável.
Cúpula Mundial de Nova Delhi, Ratificar o “compromisso” de satisfazer as necessidades básicas
Educação para Todos/ Índia (1993). de aprendizagem, na qual os governos reconhecem que
Declaração de Nova precisam cumprir as metas de EPT estabelecidas na Conferência
Delhi de Educação para de Jomtien e na Cúpula Mundial da Infância (1990). Postulam
Todos. que essas indicações tornarão o mundo mais democrático. Em
vista disso, estabelecem o ano de 2000 para que as metas sejam
cumpridas e pedem o apoio das agências internacionais para
isto.
Conferência Regional de Santo Consolidar os principais resultados positivos de Educação para
Educação para Todos nas Domingo, Todos obtidos na região. Avaliar a década passada e traçar o
Américas1/Marco República Marco de Ação Regional. Por fim, reafirmar o compromisso das

1
Em 12 de fevereiro de 2000, os países da América Latina, Caribe e América do Norte, reuniram-se em
Santo Domingo, República Dominicana, para participar dessa conferência, evento preparatório para o
Fórum de Dacar. Além dessa conferência, foram realizadas mais quatro consultas regionais, a saber:
Regional de Ação de Dominicana Américas com as metas de EPT.
Santo Domingo. (2000).

Fórum Mundial de Dakar, Avaliar a década anterior; reafirmar os acordos celebrados em


Educação/ Marco de Senegal Jomtien e planejar as políticas para os próximos quinze anos.
Ação de Dakar Educação (2000). Reiterar as seis metas de EPT e estipular novos prazos para o
para Todos. seu cumprimento.
Assembleia do Milênio/ Nova Iorque, Estabelecer as Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Declaração do Milênio Estados Recomendam que os países ricos diminuam as barreiras
das Nações Unidas. Unidos econômicas e ajudem aos países pobres. Declaram os seguintes
valores como essenciais para o novo milênio: liberdade,
(2000).
igualdade, solidariedade, tolerância, respeito pela natureza e
responsabilidade comum.
PROMEDLAC VII2/ Cochabama,B Ratificar o compromisso com as seis metas de EPT como
Declaração de olívia (2001) objetivo a ser atingido nas próximas décadas. Reiterar o
Cochabamba compromisso assumido no Marco de Ação de Dakar e no Marco
de Ação de Santo Domingo. Afirmam que, sem o envolvimento
dos atores educacionais as reformas na educação não seguirão
seu curso de transformação; admitem que a educação por si só
não elimina a pobreza, mas continua sendo a base para o
desenvolvimento pessoal.
XIII Conferência Ibero- Tarija, Bolívia Reiterar os acordos firmados em Cochabamba. Coloca a
americana de Educação/ (2003). educação no centro das políticas públicas regionais como meio
Declaração de Tarija de reduzir as desigualdades sociais e promover a “inclusão
social”, gerando o desenvolvimento econômico.
Quarta Reunião do Brasília, Brasil Avaliar a década passada. Anunciam os seguintes riscos, caso
Grupo de Alto Nível de (2004). novas medidas e mais esforços não sejam tomados: não atingir a
Educação para Todos/ meta de assegurar a igualdade de gênero no ensino fundamental
Declaração de Brasília antes de 2015; não alcançar a igualdade entre meninos e
meninas e não atingir a meta da Educação Primária Universal
(EPU) em 2015.

Quadro 3 – Principais recomendações para a docência nos documentos das


conferências do Programa de Educação para Todos (1990-2004).
DOCUMENTOS RECOMENDAÇÕES PARA A DOCÊNCIA

Declaração Mundial Reconhecem o importante papel exercido pelos educadores e pela família, desse modo,
sobre Educação apontam para a melhoria das condições do trabalho e da situação dos docentes como
para Todos. forma de alcançar a educação para todos. Essa situação deve ser melhorada em todas as
nações signatárias da Recomendação Relativa à Situação do Pessoal Docente da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da UNESCO, assinada em 1966,
(UNESCO; OIT, 1990).
Declaração de Nova Comprometem-se a melhorar a qualidade e relevância dos programas de educação
Delhi de Educação básica através da intensificação de esforços para aperfeiçoar o "status", o treinamento e
para Todos. as condições de trabalho do magistério.
Marco Regional de Reconhecem, dentre outras questões, os docentes como insubstituíveis para a
Ação de Santo transformação da educação e que sua valorização depende das melhorias de suas
Domingo. condições de trabalho. Comprometem-se a oferecer uma formação de alto nível
acadêmico; estabelecer políticas de reconhecimento da carreira e programar sistemas
de avaliação de desempenho dos docentes, dentre outros compromissos.
Marco de Educação “Melhorar o status, a autoestima e o profissionalismo dos professores (UNESCO,
de Dakar Educação 2000, p. 5)”. Além disso, infere que uma educação de qualidade requer, dentre outros
aspectos, professores capacitados e técnicas de ensino ativas e instituições e materiais

África subsaariana em Joanesburgo; Ásia e Pacífico em Bangkok; Países Árabes e África do Norte, no
Cairo; e, Europa e América do Norte em Varsóvia e uma conferência envolvendo os 9 países mais
populosos do mundo.
2
VII Sessão do Comitê Intergovernamental Regional do Projeto Principal para a Educação.
para Todos. didáticos adequados.
Declaração de Preparação do magistério como importante fator para a consolidação das reformas
Cochabamba educacionais. Integração entre formação inicial e continuada. Emergência de uma
formação docente baseada nas novas tecnologias da informação e da comunicação e de
resolução de alguns temas referente ao trabalho docente como: remuneração adequada,
desenvolvimento profissional, avaliação do desempenho e responsabilização pelo
rendimento dos estudantes.
Declaração de Atribui a escola e a docência uma importância “fundamental” na constituição de
Tarija políticas públicas educacionais para a região e utilização das novas tecnologias da
informação e da comunicação. Consta que os professores são essenciais à edificação de
estratégias educacionais para o mundo globalizado e, portanto, necessitam de formação
permanente, motivação e adequada remuneração. Convidam os próprios professores a
fortalecerem o compromisso com a educação e reforçarem sua motivação e formação.
Declaração de Reformas exitosas na qualidade da educação devem contar com um corpo docente
Brasília motivado e bem-apoiado, assim, a docência se constitui em um dos três focos de
atenção, juntamente com o gênero e a educação de meninas e os recursos financeiros,
para a consolidação de uma “educação para todos”.

2 Grandes desafios esperam os professores nos marcos das metas de EPT

• Na perspectiva de avaliar a formação docente e sua função na contemporaneidade do


capital em crise, apresentamos o Relatório Global de Monitoramento de EPT 2013/4,
Ensinar e aprender: alcançar a qualidade para todos, que confessa que há uma crise
da aprendizagem atualmente. Destaca-se que apesar dos avanços, nenhum objetivo de
EPT será globalmente atingido até 2015 e se propõe uma agenda educacional global
no pós-2015, certamente novas medidas serão “tomadas” e novos prazos
(re)estabelecidos.

Os objetivos da educação pós-2015 somente serão alcançados se forem


acompanhados por metas claras e mensuráveis, com indicadores trabalhando
para que ninguém seja deixado de fora, e se forem estabelecidas metas
específicas de financiamento da educação, para governos e doadores.
(UNESCO, 2014, p. 5).

• Denúncias do relatório: 57 (cinquenta e sete) milhões de crianças estão


deixando de aprender, simplesmente por não estarem na escola”; a baixa qualidade
compromete a aprendizagem, mesmo daquelas que frequentam a escola; 1/3 (Um
terço) das crianças em idade de cursar a educação primária não está aprendendo o
básico, estejam ou não na escola; Para alcançar os nossos objetivos, pede aos governos
para que redobrem os esforços na garantia de educação para todos os que enfrentam
desvantagens – seja por pobreza, gênero, local de residência ou outros fatores;
disparidades econômicas, de gênero e étnicas são um obstáculo a aprendizagem,
assim as crianças pobres, meninas e grupos indígenas, imigrantes ou com necessidades
especiais, compõem os maiores índices de déficit de aprendizagem e/ou abandono
escolar.
A educação é uma chave para ajudar indivíduos a sair da pobreza e evitar que
esta seja passada de geração a geração. Ela possibilita melhores salários
àqueles que têm empregos formais pagos e oferece melhor qualidade de vida
aos que trabalham na agricultura e nos setores informais do meio urbano.
(UNESCO, 2013, p. 22).
• Esse Relatório faz (10) dez recomendações de reformas educacionais em que
os governos dos países envolvidos na UNESCO deveriam adotar para alcançar a
aprendizagem para todos. Se centrando no papel do professor, propõe desse modo, a
diminuição do déficit desses profissionais; a sua formação ou treinamento, mediante a
alteração dos currículos inovadores para melhorar a aprendizagem, como impõe a oitava
meta;
• Se dedica na terceira parte a analisar a profissionalização docente como
importante fator de enfrentamento da atual crise da aprendizagem: Os dados apontam
que entre 2011 e 2015 serão necessários 3,7 milhões de professores para substituir o
atual efetivo de docentes, que irão se aposentar, falecer e/ou abandonar a profissão,
dentre outros motivos; que 148 países necessitam de mais professores do primeiro
nível do ensino secundário até 2015, porém, 29 desses países não suprirão a
demanda até o ano de 2030. Os países que necessitam suprir a demanda também
necessitam melhorar os rendimentos dos docentes; dados do Instituto de Estatística
da UNESCO revelam que muitos países ainda não melhoraram a proporção
professor/aluno, alguns deles chegam a alcançar o número absurdo de mais de 100
alunos para cada professor; algumas nações também não melhoraram os
rendimentos dos docentes e que em oito delas o salário médio dos professores não
chega a US$ 10 por dia; além disso, serão necessários

US$ 4 bilhões anuais, na África Subsaariana, para pagar os salários dos


professores primários adicionais de que a região necessita para alcançar a
EPU até 2020, levando-se em consideração o crescimento econômico
projetado. Isso equivale a 19% do, orçamento total da região para educação,
em 2011. A Nigéria, sozinha, é responsável por dois quintos desse déficit.
(UNESCO, 2014, p. 39).

• De acordo com o Relatório (2013/2014) dos 650 milhões de crianças em idade


escolar primária, ao menos 250 milhões registram déficit de aprendizagem nos
conhecimentos básicos em leitura e matemática. 120 milhões não tiveram nenhuma
experiência na escola primária, e o restante (280 milhões) estão na escola primária,
porém, sem alcançar os níveis mínimos de aprendizagem desejáveis (UNESCO,
2013).
• Para acabar com a crise mundial do aprendizado, seriam necessárias políticas
que envolvesse os grupos marginalizados no processo de ensino-aprendizagem, para
isso, o relatório elege os professores como catalisadores e redentores desses grupos, e
assinalam para os governos as quatro estratégias para adquirir e manter esses
profissionais: 1 - atrair os melhores professores; 2 - melhorar o nível educacional
dos professores para que todas as crianças consigam aprender; 3 - levar os
professores aonde eles são mais necessários; 4 - oferecer os benefícios certos para
reter os melhores professores. Resumindo, a lógica é atrair, treinar, alocar e reter os
melhores profissionais.
• Ao final do documento se estabelece as 10 reformas educacionais para se
alcançar a aprendizagem para todos: 1- Acabar com o déficit de professores; 2- Atrair
os melhores candidatos para lecionar; 3- Qualificar os professores para que eles
atendam às necessidade de todas as crianças; 4- Preparar tutores e formadores
para apoiar os professores; 5- Levar os professores para onde eles são mais
necessários; 6- Utilizar planos de carreira e salários competitivos para reter os
melhores professores; 7- Melhorar a governança dos professores para maximizar o
impacto; 8- Fornecer aos professores currículos inovadores para melhorar a
aprendizagem; 9- Desenvolver avaliações em sala de aula, para ajudar os
professores a identificar e apoiar os alunos que correm o risco de não aprender;10-
Disponibilizar informações mais precisas sobre professores treinados.
• No primeiro ponto da reforma, o relatório aponta a probabilidade de até 2030,
seguindo as atuais tendências, os países não conseguirem suprir as necessidades de
professores, daí a importância de atrair novos profissionais; No segundo, admite-se que
os docentes precisam no mínimo de uma boa qualificação secundária, ou seja, de certo
modo, dispensa-se a necessidade de uma formação universitária; A terceira reforma
advoga uma formação equilibrada entre os conteúdos da disciplina e os métodos de
ensino e pede para que a experiência seja levada em consideração, dessa forma, segue-
se a tendência atual de exaltação dos saberes da prática, da experiência, visto que os
saberes teóricos não são explicitados; e na sexta reforma, se fala não só de salários
competitivos, mas também em remunerações que ao menos possibilite ao professor e
sua família estarem acima da linha da pobreza, isso significa salários ínfimos.
• O Relatório de Monitoramento Global 2015 (UNESCO, 2015), intitulado:
Relatório Global de Monitoramento de Educação para Todos (2000-2015): progressos
e desafios, com grande repercussão midiática, faz um diagnóstico dos últimos 15 anos,
de 2000 a 2015, do alcance dos objetivos das declarações d EPT nos países membros da
UNESCO. Reitera o papel da educação como a chave para o alcance da agenda de
desenvolvimento pós-2015, priorizando o consumo sustentável até as sociedades
saudáveis e pacíficas, sugerindo que os programas e as abordagens educacionais
deveriam ser reelaborados para alcançar esses objetivos.
• Das 10 recomendações para que os países possam cumprir minimamente a
referida agenda, destacamos a meta n. 6 que trata de investir na qualidade da
educação, delegando aos governos o dever de realizar “investimentos consideráveis
para oferecer uma boa educação de qualidade”. Neste sentido, precisa-se, conforme
o Relatório, priorizar políticas para aumentar o profissionalismo e a motivação de
professores, para tanto alerta que “o risco envolvido na contratação de professores
temporários deve ser cuidadosamente considerado”. No que se refere à redução das
desigualdades de ensino nas regiões e nos países, a referida meta, aborda que os
“sistemas de governança devem ser combinados a fortes esquemas institucionais que
tenham compromisso com a equidade, bem como, os governos deveriam adotar
políticas apropriadas de alocação de professores em áreas onde a oferta é baixa”.
Ainda nesta meta 6, no que se refere ao ensino e aprendizagem, destaca que:

Os professores devem ser apoiados por conteúdos curriculares relevantes


e inclusivos que melhorem a aprendizagem, permitindo que os alunos
com dificuldades acompanhem os demais. Todos devem receber recursos
de aprendizagem suficientes e apropriados, principalmente livros didáticos.
É preciso que estilos e métodos de ensino respondam muito melhor a
diversos contextos culturais e de sala de aula. Em sociedades multilíngues, as
políticas de linguagem na educação são particularmente importantes para
uma aprendizagem eficaz. (UNESCO, 2015, p.54).

• Faz um balanço da educação nesses últimos 15 anos monitorando s seis


objetivos da EPT ratificados no Marco de Ação de Dakar:
Objetivo 1: Expandir e melhorar educação e cuidados na primeira infância,
principalmente para as crianças mais vulneráveis e em situação desfavorável.
- Em 2012, 184 milhões de crianças estavam matriculadas na educação pré-primária em
todo o mundo, um aumento de quase dois terços em relação a 1999;
Objetivo 2: Garantir que, até 2015, todas as crianças, principalmente meninas,
crianças em circunstâncias difíceis e as pertencentes a minorias étnicas, tenham acesso
a uma educação primária completa, gratuita, obrigatória e de boa qualidade.
- A taxa líquida de matrícula na educação primária era de 84% em 1999, e a previsão é
que alcance 93% em 2015;
- Até a data limite de 2015, uma em cada seis crianças de países de renda média e baixa
– ou quase 100 milhões – não terá concluído a educação primária.

Objetivo 3: Garantir que as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e


adultos sejam alcançadas por meio do acesso equitativo a uma aprendizagem adequada
e a programas de habilidades para a vida.

- Persistem desigualdades na transição da educação primária para a secundária. Por


exemplo, nas Filipinas, apenas 69% dos alunos das famílias mais pobres que
terminaram a educação primária continuaram a educação secundária contra 94% dos
alunos das famílias mais ricas;

Objetivo 4: Alcançar, até 2015, aumento de 50% no nível de alfabetização de adultos,


principalmente entre mulheres, e o acesso igualitário à educação básica e continuada
para todos os adultos.

- Existem cerca de 781 milhões de adultos analfabetos. A taxa de analfabetismo


diminuiu ligeiramente, de 18%, em 2000, para estimados 14%, em 2015, o que implica
que a meta proposta em Dakar de reduzir o analfabetismo pela metade não foi
alcançada. (apenas 17 países conseguirão atingir a meta de 50%);

Objetivo 5: Eliminar as disparidades de gênero na educação primária e secundária até


2005 e alcançar a igualdade de gênero na educação até 2015, com foco em garantir o
acesso completo e equitativo de meninas a uma educação básica de boa qualidade.

- No nível primário, estima-se que 69% dos países com dados disponíveis tenham
alcançado a paridade de gênero até 2015. O progresso é mais lento na educação
secundária, onde se projeta que apenas 48% dos países atinjam a paridade em 2015. (As
meninas possuem mais chances de não se matricularem, porém, os meninos possuem
mais possibilidades de abandono, enquanto as meninas, se matriculadas, possuem mais
chances de chegar as séries finais).

Objetivo 6: Melhorar todos os aspectos da qualidade da educação e garantir


excelência para que resultados de aprendizagem mensuráveis e reconhecidos sejam
alcançados por todos, principalmente em alfabetização, conhecimentos básicos em
matemática (numeracy) e habilidades essenciais para a vida
- Relação entre o número de alunos por professor caiu em 83% dos 146 países que
disponibilizam dados sobre a educação primária. Em um terço dos países, no entanto,
menos de 75% dos professores primários são qualificados de acordo com os padrões
nacionais;
- No primeiro nível do ensino secundário, 87 de 105 países com dados disponíveis têm
uma taxa de alunos/professor menor que 30:1.

• Indicações sobre o Brasil:


No Brasil, o programa de educação de jovens e adultos é dirigido a pessoas a
partir dos 15 anos de idade que não completaram a educação formal. Em
2012, mais de 3 milhões de alunos foram registrados, incluindo migrantes,
trabalhadores rurais e pessoas em situação de pobreza ou provenientes de
famílias da classe trabalhadora. No entanto, a qualidade da educação obtida é
deficiente e as taxas de abandono são altas. (UNESCO, 2015, p. 27-28).

Uma pesquisa de 2009 e 2010, realizada no Brasil, no Chile, na Croácia, na


Índia, no México e em Ruanda, mostrou que homens com menos educação
expressaram visões discriminatórias de gênero, tinham maior probabilidade
de ser violentos em casa e, caso fossem pais, tinham menor probabilidade de
se envolver com os cuidados da criança. (UNESCO, 2015, p. 37).

Em períodos anteriores, a ajuda era exclusiva dos doadores da OCDE3, mas,


desde 2000, as economias emergentes têm formalizado mecanismos mundiais
alternativos de cooperação para o desenvolvimento, tais como o Fundo IBAS
para Aliviar a Pobreza e a Fome, criado em 2004 por Brasil, Índia e África do
Sul, e o Novo Banco de Desenvolvimento, lançado por Brasil, China, a Índia,
Rússia e a África do Sul. (UNESCO, 2015, p. 49).

Os recentes eventos e documentos de EPT no âmbito da Ibero-América4,


organizados pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência
e a Cultura (OEI)5, apontam para uma permanente e contínua política de reforma via
formação do educador, condizentes com as necessidades da região. Nessa linha,
destacamos as recomendações de alguns desses eventos/documentos para a docência.

Quadro 3 – Recomendações dos eventos/documentos da Organização dos Estados


Ibero-americanos.
LOCAL /
DOCUMENTOS RECOMENDAÇÕES PARA A DOCÊNCIA
PERÍODO

Reconhece os professores como fator determinante para


XVIII Conferência Ibero- El Salvador, melhorar a educação de todos. Enfatiza a necessidade de
Americana de Educação6. 2008. melhores condições de trabalho, de formação e capacitação
com ênfase na titulação.
Metas educativas 20217: Fortalecer a profissão docente mediante melhoria na
2010
desafíos y oportunidades: formação inicial e continuada e capacitação dos

3
Fundada em 1960, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma
organização de cooperação internacional composta por 34 países. Sua sede fica na cidade de Paris
(França). A OCDE é sucessora da OECE, que foi criada no contexto do Plano Marshall.
4
Os Estados-Membros de pleno direito e observadores são todos os países ibero-americanos que
conformam a comunidade de nações integrada por Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica,
Cuba, Chile, República Dominicana, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Guiné Equatorial,
Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela.
5
É um organismo internacional de caráter governamental para a cooperação entre os países ibero-
americanos no campo da educação, da ciência, da tecnologia e da cultura no contexto do desenvolvimento
integral, da democracia e da integração regional.
6
Nesse evento os Ministros de Educação da Região aprovam as Metas Educativas 2021: “a educação que
queremos para a geração dos Bicentenários”, em virtude de muitos dos países membros estarem se
aproximando do bicentenário de suas respectivas independências, a exemplo do Brasil.
7
Os Ministros de Educação reunidos em El Salvador em 19 de maio de 2008 aprovaram na sua
declaração final um compromisso que pode ter enormes repercussões para a educação ibero-americana:
Acolher a proposta “Metas Educativas 2021: a educação que queremos para a geração dos
informe sobre tendencias professores dos níveis primário e secundário.
sociales y educativas en
América Latina.
Ratifica as metas estabelecidas para 2021 e afirma que a
XXIII Conferência Ibero- formação, a qualificação e desenvolvimento profissional
Panamá, 2013.
americana de Educação. docente é a principal garantia de melhoria da qualidade da
educação.

Considerações
• Considerando os documentos ora analisados, percebemos, através, dos dados
estatísticos, a fragilidade do Programa de Educação para Todos, visto que, há 25 anos
tem se colocado como uma política educacional de intervenção global, mas que obtém,
ao longo dos anos, resultados tímidos, diante dos acordos firmados e reafirmados em
diversos eventos e encontros desse programa. Isso leva-nos a perceber e sugerir que a
finalidade última dessa política ainda não foi concluída, ou seja, ela continuará sua
agenda de mudanças parciais e reformas setoriais.
• Temos razões suficientes, a partir desses documentos e dos documentos resultantes
da XXIII Conferência Ibero-americana de Educação (em prol da educação dos
bicentenários – no Brasil, há o Compromisso Todos pela Educação, organizado por
grandes empresas, vistas a alcançar os índices por ocasião do bicentenário da
Independência em 2022), que a formação docente, e principalmente a formação do
pedagogo, continuará a ser alvo da política de EPT, pois suas metas não se
concretizaram e porque esse profissional está mais próximo dessas metas.
• O RMG/2015 traduz em seu título os mecanismos de progresso e de desafios a serem
superados, ou seja, esses desafios serão enfrentados cotidianamente em nossas salas de
aulas, seja na educação básica seja no ensino superior, pois ocorre um deslocamento da
responsabilidade dos problemas da educação para o professor, que passa a ser um dos
principais agentes no cumprimento das metas de EPT.
• Entretanto, embora a política de educação para todos seja uma bandeira universal,
independente de concepções políticas e ideológicas, os alcances destas metas estão
atreladas a lógica do capital em crise, que está impedido de promover uma educação de
qualidade, igualitária e voltada para a formação e a emancipação humana.

Bicentenários”, nos comprometendo a avançar na elaboração de seus objetivos, metas e mecanismos de


avaliação regional, em harmonia com os planos nacionais e iniciar um processo de reflexão para a
criação de um Fundo estrutural e solidário. O projeto surge quando se celebra os 200 anos da vinda da
Corte portuguesa ao Brasil e quando vários países ibero-americanos se preparam para celebrar o
bicentenário de sua independência.

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