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Curso de Especialização em Atenção Domiciliar

Módulo 4
Abordagem familiar na
Atenção Domiciliar
Leda Chaves Dias
José Mauro Ceratti Lopes
Material instrucional resultado da transposição didática de conteúdo já publicado
pelo Programa Multicêntrico de Qualificação Profissional em Atenção Domiciliar a
Distância através da parceria entre o Ministério da Saúde (CGAD) e as Universidades
integrantes da Rede Universidade Aberta do SUS (UFMA, UFC, UFSC, UFMG, UFCSPA,
UFPE, UFPel, UERJ).

CRÉDITOS DO MATERIAL INSTRUCIONAL ORIGINAL

GOVERNO FEDERAL
Presidente da República
Ministro da Saúde
Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)
Secretária de Atenção à Saúde (SAS)
Coordenadora Geral de Atenção Domiciliar (CGAD)
Responsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS

MÓDULO ORIGINAL PRODUZIDO POR:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE/UFCSPA

AUTORES DO MÓDULO
Leda Chaves Dias
José Mauro Ceratti Lopes
Módulo 4

Abordagem familiar na
Atenção Domiciliar

Porto Alegre | RS
UFCSPA
2015
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
ATENÇÃO DOMICILIAR/UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA Coordenadora de Tutoria | Deise Warmling


CATARINA Supervisora de Tutoria | Sabrina Faust
Reitora | Roselane Neckel Coordenação de Atividades de
Vice-Reitora | Lúcia Helena Pacheco Aprendizagem | Melisse Eich
Pró-Reitora de Pós-graduação | Joana Assessoria Pedagógica | Marcia Regina Luz
Maria Pedro Assessoria de Mídias | Marcelo Capillé
Pró-Reitor de Pesquisa | Jamil Assereuy Apoio de Atividades de Aprendizagem |
Filho Maria Esther Baibich
Pró-Reitor de Extensão | Edison da Rosa Apoio Encontros Presenciais | Elisângela
Miranda
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Apoio AVEA | Cecília Giuffra Palomino
Diretor | Sérgio Fernando Torres de Freitas Apoio de secretaria | Eliane Ricardo
Vice-Diretora | Isabela de Carlos Back Charneski
Giuliano Secretaria Acadêmica | Olivia Zomer dos
Santos, Dalvan de Campos
DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA Validação Externa de Transposição
Chefe do Departamento | Antônio Didática | Fernando Mendes
Fernando Boing Massignam
Subchefe do Departamento | Fabrício
Menegon
Coordenadora do Curso de EQUIPE DE PRODUÇÃO DE
Especialização | Marta Verdi TRANSPOSIÇÃO DE MÍDIAS
Moodle Design | Maicon Hackenhaar de
REPRESENTANTES UNA-SUS/UFSC Araújo
Antônio Fernando Boing, Aplicação de mídias ao Moodle | João
Elza Berger Salema Coelho Jair da Silva Romão, Kornelius
Hermann Eidam
EQUIPE DO CURSO DE Desenvolvimento de Tecnologia da
ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO Informação | Diogo Francisco
DOMICILIAR Réus Carlos
Coordenação Geral | Marta Verdi Design Instrucional e Revisão Textual |
Coordenadora Executiva | Rosângela Adriano Sachweh
Leonor Goulart Projeto Gráfico, Design de Capa e
Coordenadora de Avaliação | Kenya Diagramação | Laura Martins
Schmidt Reibnitz Rodrigues
Coordenadora de AVEA | Alexandra Criação da Marca do Curso | Pedro Paulo
Crispim Boing Delpino
Sumário

Apresentação do módulo_____________________________________________________9

Unidade 1
Abordagem familiar no cuidado familiar_____________________________________13

1.1 Introdução da unidade___________________________________________________14


1.2 Definição de cuidado_____________________________________________________16
1.3 Autonomia_______________________________________________________________17

Unidade 2
Como acolher a solicitação e organizar uma visita domiciliar com a família___ 21

2.1 Introdução da unidade__________________________________________________ 22


2.2 Visita domiciliar_________________________________________________________24
2.3 Abordagem integral_____________________________________________________ 26
2.4 Combinando o encontro com a família__________________________________ 28

Unidade 3
Abordagem familiar: aspectos teóricos e conceituais_______________________ 33

3.1 Introdução da unidade__________________________________________________ 34


3.2 Conceitos_______________________________________________________________ 35
3.3 Padrões e tipologia familiar_____________________________________________ 36
Unidade 4
Entrevista de família no cuidado domiciliar_________________________________ 39

4.1 Introdução da unidade__________________________________________________ 40


4.2 A entrevista com a família ______________________________________________ 40
4.3 Estratégia_______________________________________________________________41
4.4 Fases da entrevista_____________________________________________________ 42

Unidade 5
Genograma familiar________________________________________________________ 47

5.1 Introdução da unidade__________________________________________________ 48


5.2 Genograma familiar_____________________________________________________ 48
5.3 A construção de um genograma________________________________________ 51
5.4 Símbolos do genograma________________________________________________ 51
5.5 Interação entre as pessoas_____________________________________________ 53
5.6 O que o genograma nos permite ver?___________________________________ 54

Unidade 6
Ecomapa___________________________________________________________________ 57

6.1 Introdução da unidade__________________________________________________ 58


6.2 Ecomapa_______________________________________________________________ 58
6.3 Áreas incluídas _________________________________________________________ 60
Unidade 7
Identificação de riscos no cuidado domiciliar_______________________________ 65

7.1 Introdução da unidade__________________________________________________ 66


7.2 O que é uma família disfuncional?_______________________________________ 67
7.3 O que caracteriza uma família disfuncional?_____________________________ 68
7.4 O que torna uma família disfuncional?___________________________________ 70
7.5 Caracterização da família_______________________________________________ 71
7.6 Situações que devem ser consideradas como risco familiar
para violência ou piora do problema_____________________________________ 73

Referências_________________________________________________________________ 79
Autores_____________________________________________________________________ 80
Apresentação do módulo

Seja bem-vindo ao módulo Abordagem Familiar na Atenção Domiciliar!

A primeira unidade apresenta elementos importantes para a compreensão do


cuidado e da assistência domiciliar, bem como alguns dos aspectos essenciais
à organização e realização de uma abordagem familiar, a partir da história da
abordagem familiar no caso Ariovaldo. Nessa perspectiva, são apresentados
os conceitos e as definições de cuidado e de autonomia.

A unidade 2 enfatiza a importância de uma boa relação com um cenário espe-


cífico, destacando o acolher a solicitação e organizar uma visita domiciliar com
a família, para cada equipe de saúde desenvolver o seu fluxo organizado do cui-
dado domiciliar. O conteúdo aborda a visita domiciliar como um instrumento de
ações sistematizadas, abordando de modo integral e individualizado a pessoa
em seu contexto socioeconômico e cultural.

A terceira unidade trata da abordagem familiar em seus aspectos teóricos e


conceituais, bem como dos padrões e tipologia familiares importantes ao lidar
com a diversidade de constituições das famílias contemporâneas.

A unidade 4 aborda a entrevista de família no cuidado domiciliar, expondo as-


pectos da abordagem inicial para a formação de vínculo e confiança, funda-
mentais para a comunicação entre os familiares e entre a família e a equipe.
Nas unidades 5 e 6 são apresentadas ferramentas para o manejo do cuidado
domiciliar, tais como o genograma familiar e o ecomapa que apresenta as rela-
ções do indivíduo com o seu meio social.

Para finalizar, a unidade 7 discute o cuidado no ambiente familiar tomando por


base observações da vida relacional, favorecendo a identificação de estraté-
gias terapêuticas, bem como as situações que devem ser consideradas como
risco familiar.
Desejamos a você bons estudos!

Objetivo geral do módulo

Capacitar médicos e enfermeiros a utilizarem a abordagem familiar para quali-


ficar a assistência domiciliar.

Objetivos específicos do módulo

• Conhecer como organizar e manter contato com a família durante o


curso da assistência domiciliar.
• Coordenar a gestão da doença em colaboração com a pessoa assistida
e com a família.
• Identificar o impacto da doença na família.
• Identificar as necessidades da pessoa e da família.
• Reconhecer situações disfuncionais ou de risco na família em função
da doença.
• Manejar a disfunção familiar que interfira na prestação da assistência
domiciliar.
• Conhecer as ferramentas de abordagem familiar (genograma, ecoma-
pa, ciclo de vida, entrevista familiar).
Carga horária do módulo: 30h

Unidades de conteúdo

Unidade 1 – Abordagem familiar no cuidado familiar


Unidade 2 – Como acolher a solicitação e organizar uma visita
domiciliar com a família
Unidade 3 – Abordagem familiar: aspectos teóricos e conceituais
Unidade 4 – Entrevista de família no cuidado domiciliar
Unidade 5 – Genograma familiar
Unidade 6 – Ecomapa
Unidade 7 – Identificação de riscos no cuidado domiciliar
Unidade 1

Abordagem familiar
no cuidado familiar
1.1 Introdução da unidade

Para iniciar os estudos nesta unidade, convidamos você a relembrar a situação


vivenciada por Ariovaldo e a notícia de jornal que divulgou o seu acidente. Para
isso, acesse o Caso Ariovaldo e Gazeta Santa Fé:

• Caso Ariovaldo:
<https://unasus2.moodle.ufsc.br/mod/resource/view.php?id=6399>

• Gazeta Santa Fé
<https://unasus2.moodle.ufsc.br/mod/resource/view.php?id=6345>

Neste módulo, vamos demonstrar como se deu a intervenção familiar que le-
vou à troca de cuidador e à maior participação dos filhos no cuidado de Ario-
valdo. Para demonstrar como é organizada e realizada a abordagem familiar,
utilizaremos a história de Ariovaldo como exemplo.

Unidade 1

14
Temos uma sequência de acontecimentos na vida de Ariovaldo a partir do tiro
que levou trabalhando como segurança. Sua internação, sua volta para casa,
a dificuldade da esposa em cuidar do marido e das tarefas do lar, a escolha da
primeira cuidadora, os maus-tratos que esta causou, o envolvimento da equipe
a a solução do problema. Vejamos como se desenrolou essa intervenção fami-
liar, acessando Abordagem Familiar, no endereço: <https://unasus2.moodle.
ufsc.br/mod/resource/view.php?id=6400>.

Saiba mais

Antes de dar continuidade às atividades deste módulo, recomendamos


que você leia o texto sobre Atenção Domiciliar e a família, disponível
por meio do link: <https://unasus2.moodle.ufsc.br/mod/resource/view.
php?id=6043>.

Nesta unidade, vamos relembrar alguns aspectos do conceito de cuidado e


autonomia, que são essenciais para o entendimento e a aplicação de uma abor-
dagem familiar efetiva.

Abordagem familiar no cuidado familiar

15
1.2 Definição de cuidado

Cuidado, segundo Leonardo Boff, tem a


seguinte definição: “O que se opõe ao des-
cuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é
mais que um ato, é uma atitude.”

Outro aspecto importante ao cuidar


de pessoas é representado pela figura
adiante, na qual temos duas árvores, A
e B. A árvore A está obviamente em me-
lhor estado de saúde que a árvore B. Isto
comumente se deve a sua habilidade de
manter-se em equilíbrio com o meio am-
biente. Se um galho da árvore A quebra,
podemos nos sentir confortáveis em reparar o galho, pois ele provavelmente
vai curar-se muito bem, ou até mesmo curar-se sozinho. Porém, se um galho
da árvore B quebrar e procurarmos remendá-lo, nossa intuição nos diz que,
mesmo que sejamos talentosos “cirurgiões de árvores”, aquele galho não vai
se curar. O ponto aqui é que nosso foco em medicina tem sido consertar o ga-
lho, ao passo que deixamos de lado (muitas vezes por negligência) a saúde da
árvore, ou seja, a saúde da pessoa dentro do seu contexto de vida. Se dermos
mais atenção para ajudar a árvore B a encontrar saúde, também removendo
barreiras que estão bloqueando sua própria habilidade para curar, ou melhoran-
do áreas de deficiência, o galho vai curar-se sozinho. Não precisamos gastar,
na mesma medida, tempo e energia consertando as partes. Esta metáfora traz
o conceito de cuidado em sua essência, ou seja, para fazer as pessoas melho-
rarem, temos de vê-las dentro do seu contexto em vez de se preocupar apenas
com os diagnósticos e com a doença essencialmente.

Unidade 1

16
A B

1.3 Autonomia

A incorporação da autonomia revelou-se indispensável no modelo de aborda-


gem utilizado pelos profissionais de saúde na prestação do cuidado domiciliar.

A seguir, adaptamos uma citação da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire


para ilustrar a sua importância:

A Autonomia, a identidade das pessoas têm que ser respeitada, senão,


o Cuidado tornar-se-á “inautêntico”, palavreado vazio e inoperante.

Abordagem familiar no cuidado familiar

17
A autonomia é outro conceito importante
que está intimamente relacionado com o
conceito de cuidar. O grau de autonomia
da pessoa caracteriza o modelo de aborda-
gem utilizado pelos profissionais de saúde.
A pessoa necessita ter o conhecimento,
a capacidade de decidir, de processar e
selecionar informações, a criatividade e a
iniciativa na busca de seu cuidado.

Na saúde, o grau de autonomia da pessoa caracteriza o modelo de abor-


dagem utilizado pelos profissionais de saúde.

Unidade 1

18
Encerramento da unidade

Ao concluir a primeira unidade, você teve a oportunidade de conhecer


elementos importantes para a compreensão do cuidado e da assistên-
cia domiciliar, bem como alguns dos aspectos essenciais à organização
e realização de uma abordagem familiar, a partir da história de vida de
Ariovaldo.

Abordagem familiar no cuidado familiar

19
Unidade 2

Como acolher a solicitação


e organizar uma visita
domiciliar com a família
2.1 Introdução da unidade

Nesta unidade, vamos trazer alguns aspectos sobre como acolher a solicitação
e organizar uma visita domiciliar com a família.

Cada equipe de saúde deve desenvolver o seu fluxo para a realização do cuida-
do domiciliar. Aqui, apresentamos uma maneira pela qual pode ser organizado
o cuidado domiciliar. Temos a solicitação do cuidado domiciliar, uma avaliação
da referida solicitação por alguns dos técnicos da equipe, é prestada orienta-
ção à família informando se está ou não indicado o cuidado domiciliar, com o
respectivo encaminhamento para o cuidado mais adequado.

Se estiver indicado o cuidado domiciliar, é realizada uma visita domiciliar para


atendimento e entendimento do caso por meio de coleta de informações e exa-
mes do paciente. A partir daí pode-se definir se aquela pessoa necessita ser
incluída no programa de cuidado domiciliar ou não necessita ser incluída no
programa de cuidado domiciliar.

Novamente, no caso de não precisar da inclusão, serão dadas as orientações


à família e o encaminhamento mais adequado. Caso necessite da inclusão do
cuidado domiciliar, deve ser realizada a discussão do caso e elaboração do
plano de cuidado pela equipe, juntamente com a família, e então a pessoa será
inserida no Programa de Cuidado Domiciliar, assinando o termo de compromis-
so, de concordância para o cuidado domiciliar.

Unidade 2

22
Solicitado Cuidado
Domiciliar

Avaliação Solicitação

Indicado Cuidado
Orientação à família
Domiciliar

Não indicado
VD para
Cuidado Domiciliar
Assinar TCL Atendimento

Programa de Cuidado
Domiciliar

Não necessita
inclusão PCD

Encerrar Discussão Caso


Atendimento e Elaboração do Necessita
Plano de Cuidado inclusão PCD

Como acolher a solicitação e organizar uma visita domiciliar com a família

23
2.2 Visita domiciliar

A visita domiciliar (VD) é um instrumento de realização do cuidado domiciliar.


Constitui-se pelo conjunto de ações sistematizadas para viabilizar o cuidado
das pessoas na sua casa, no seu domicílio.

É constituída pelo conjunto de ações sistematizadas para viabilizar o


cuidado para pessoas com algum nível de alteração no estado de saúde
(dependência física ou emocional) ou para realizar atividades vincula-
das aos programas de saúde.

A prestação do cuidado no domi-


cílio é dinâmica e deve acontecer
de maneira integral. Os profissio-
nais têm de estar muito atentos
para conflitos, interações e disfun-
ções que fazem parte do universo
da família, intervindo diretamente
nessas alterações, desagregações
e disfunções, que atingem direta-
mente a saúde de seus membros.

A doença, por seu lado, tem efeito


direto sobre os diversos estágios
do ciclo de vida familiar. Então, ca-
racterizar esses estágios e saber as tarefas esperadas para cada um deles é
muito importante para os profissionais da saúde.

Unidade 2

24
Os conflitos, as interações e as desagregações fazem parte do univer-
so da família, intervindo diretamente na saúde de seus membros, bem
como a doença tem efeito direto sobre os diversos estágios do ciclo de
vida familiar.

Assistir no domicílio

A prestação do cuidado no domicílio deve perceber a


família em seu espaço social, abordando de modo in-
tegral e individualizado a pessoa em seu contexto so-
cioeconômico e cultural.

O profissional de saúde deve ter uma avaliação da di-


nâmica da vida familiar, com atitude de respeito e valo-
rização das características peculiares a cada família e
do convívio humano, devendo ser utilizados para este
fim o genograma e a análise do ciclo vital, que veremos
mais adiante.

Assistir no domicílio é cuidar da saúde


da família com integralidade e dinami-
cidade.

Como acolher a solicitação e organizar uma visita domiciliar com a família

25
2.3 Abordagem integral

Um aspecto importante que devemos ter em conta ao cuidar de famílias e rea-


lizar abordagem familiar dentro do cuidado domiciliar é que, no primeiro mo-
mento, ao ter um familiar adoecido, a família costuma voltar-se para dentro de
si e se organizar para cuidar desse
familiar doente. À medida que a
doença se prolonga num dos com-
ponentes da família, ela pode fazer
com que os demais busquem re-
cursos fora para suportar a situa-
ção e se afastem de um cuidado
direto. Em geral, isso sobrecarrega
um ou mais cuidadores.

A abordagem integral faz parte do cuidado domiciliar por envolver diversos fa-
tores no processo de saúde-doença da família. O profissional de saúde deve
ter em conta, utilizando o conceito de cuidado que vimos anteriormente e de
autonomia, que ele não serve apenas para curar doenças, mas para cuidar da
saúde, considerando a pessoa doente em seu contexto vital.

A abordagem integral faz parte do cuidado domiciliar por envolver diver-


sos fatores no processo de saúde-doença da família.

Também devemos levar em conta que os cuidados à saúde nunca foram ex-
clusividades dos médicos e enfermeiros. Hoje, estima-se que cerca de 80%
dos cuidados prestados no domicílio são realizados por cuidadores, pessoal
técnico e auxiliar ou familiares.

Unidade 2

26
Cuidados à saúde nunca foram exclusividades dos médicos e enfer-
meiros.

Com isso, passa-se de uma prática profissional centrada na doença, de uma


prática profissional centrada na pessoa, e a díade pessoa-médico avança para
a tríade pessoa-família-equipe de saúde.

Como acolher a solicitação e organizar uma visita domiciliar com a família

27
A prestação do cuidado em domicílio e a construção de ambientes mais sau-
dáveis para a pessoa em tratamento envolvem, além da tecnologia em saúde,
o reconhecimento das potencialidades terapêuticas presentes nas relações fa-
miliares. A família tanto pode ajudar a melhorar as condições de saúde como
pode agravá-las.

2.4 Combinando o encontro com a família

Ao iniciar o processo de abordagem familiar, combinar o encontro com a famí-


lia é um aspecto essencial.

A primeira condição para que ocorra o cuidado domiciliar é o consentimento da


família e a definição dos cuidadores. O cuidado prestado do domicílio não pode
ser imposto, sob risco de não atingir seus objetivos terapêuticos.

A pessoa acamada, mesmo estando, muitas vezes, debilitada e doente, tem


de exercer sua autonomia e participar desse processo, na medida do possível.
Para tanto, necessitamos do consentimento informado para que se realize o
cuidado domiciliar.

Unidade 2

28
A condição primeira para que ocorra o cuidado domiciliar (CD) é o con-
sentimento da família, seguido da definição do(s) cuidador(es).

O cuidado prestado do domicílio não pode ser imposto, sob risco de não
atingir seus objetivos terapêuticos.

Recomenda-se que toda a família esteja ciente do processo de cuidar


da pessoa assistida.

É necessário consentimento informado para que se realize o cuidado


domiciliar.

O Cuidado Domiciliar pressupõe a participação ati-


va dos familiares no processo de cuidar da pessoa
assistida. Para tanto, as responsabilidades devem
ser estabelecidas entre todos os envolvidos, a fim
de que os objetivos propostos sejam alcançados.
Do mesmo modo, é importante estabelecer, com a
pessoa que será a interlocutora da família com a
equipe, em que nível de entendimento da situação
da doença ela se encontra.

O cuidado domiciliar pressupõe a participação ativa dos familiares no


processo de cuidar da pessoa assistida.

Na sequência da introdução da abordagem familiar no cuidado domiciliar, é re-


comendável que ocorra uma reunião prévia da equipe que vai atender a pessoa
enferma com os membros da família envolvidos nesse processo. A reunião

Como acolher a solicitação e organizar uma visita domiciliar com a família

29
servirá para estabelecer um planejamento conjunto de ações a serem desen-
volvidas no domicílio e para a definição, por parte da família, de quem será o
interlocutor com a equipe e (ou) o cuidador. Essas reuniões devem se repetir
periodicamente para avaliações e replanejamento.

Recomenda-se uma reunião prévia da equipe que vai atender a pessoa


enferma com os membros da família envolvidos nesse processo.

Deve haver a preocupação de informar a pessoa e aos seus familiares como


melhor utilizar o Programa de Cuidado Domiciliar. Essa orientação compreen-
de os seguintes aspectos:

Horário de atendimento

Informar os dias e horários em que as visitas domiciliares poderão ser


solicitadas e realizadas. A solicitação deve ser feita pessoalmente, pois
a experiência mostra que muitas situações são resolvidas com o próprio
familiar, sem que haja necessidade de deslocamento de um profissional
até o domicílio, ou mesmo por telefone. Sabe-se que 20% dos problemas
trazidos por telefone podem ser resolvidos por esse mesmo meio de
comunicação.

Unidade 2

30
Participação da família

É importante reforçar que a participação


ativa da família nos cuidados com a pes-
soa é fundamental. A equipe vai atuar
habilitando a família a prestar cuidados
e servindo de apoio com os seus conhe-
cimentos técnicos.

Tipo de cuidado a ser prestado

Esclarecer aos familiares que o cuidado prestado dependerá das neces-


sidades da pessoa e da família, bem como dos recursos de que a equipe
dispuser ou conseguir mobilizar, dentro de um plano de cuidado.

Como acolher a solicitação e organizar uma visita domiciliar com a família

31
Equipe

Buscando manter a continuidade do


atendimento e as vantagens dele de-
correntes, os familiares devem sempre
se dirigir aos técnicos que costumeira-
mente atendem à pessoa. Deve-se fazer
exceção nos casos de urgência.

Um aspecto importante é orientar como proce-


der nos casos de urgência e (ou) emergência.
A família deve estar informada e ter o telefone
de contato, bem como nos casos de óbito.

A equipe deve orientar a família sobre como proceder nos casos de


urgência e emergência.

Encerramento da unidade

Excelente! Você concluiu a unidade Como acolher a solicitação e orga-


nizar uma visita domiciliar com a família. O conteúdo tratou da visita
domiciliar como um instrumento de ações sistematizadas para o cuidado
em domicílio, abordando de modo integral e individualizado a pessoa em
seu contexto socioeconômico e cultural.

Unidade 2

32
Unidade 3

Abordagem familiar:
aspectos teóricos
e conceituais
3.1 Introdução da unidade

Esta unidade trata da abordagem familiar em seus aspectos teóricos e con-


ceituais.

Saiba mais

Para melhor compreender e aproveitar esta unidade, realize a leitura do


texto “Ferramentas de Abordagem da Família” antes de seguir adiante.
Para isso, clique no link: <https://unasus2.moodle.ufsc.br/mod/resource/
view.php?id=6044>.

Unidade 3

34
3.2 Conceitos

Antes de tratar de família e abordagem familiar no domicílio, precisamos con-


ceituar família. Então, pergunte-se: O que é uma família? Qual é o conceito de
família?

Existem vários conceitos de família, mas optamos por utilizar este, de Natan
W. Ackerman:

A família é um modelo universal para


o viver. Ela é unidade de crescimento;
de experiência; de sucesso e fracas-
so; ela é também a unidade da saúde
e da doença.

Podemos considerar a família como a unidade base


para o treinamento social. Trata-se do ambiente em
que se experimenta o primeiro senso de pertenci-
mento, identidade e conexão.

A família pode ser compreendida como a


unidade base para o treinamento social, o
ambiente em que se experimenta o primei-
ro senso de pertencimento, identidade e
conexão.

Abordagem familiar: aspectos teóricos e conceituais

35
3.3 Padrões e tipologia familiar

Ao lidar com famílias, temos de ter entendimento sobre os padrões e tipos


familiares. Na sequência, estão descritos os tipos familiares.

Família nuclear
A família nuclear é formada pelos familiares
consanguíneos da pessoa referência, ou seja,
um núcleo. Um exemplo é o casal e seus filhos.

Família extensiva
A família extensiva é constituída por mais de
uma geração, podendo ter também vínculos
colaterais, como tios, primos e padrinhos.

Família unitária
A família unitária é composta por uma só pes-
soa, como é o caso de uma viúva sem filhos.

Família monoparental
A família monoparental é constituída por um
dos pais biológicos e o filho, ou filhos, indepen-
dentemente de vínculos externos ao núcleo.

Unidade 3

36
Família reconstituída
A família reconstituída é composta por mem-
bros de uma família que em um dado momento
teve outra configuração, sofreu uma ruptura e
passou a ter um novo formato. Por exemplo,
um casal que é constituído por dois pais sepa-
rados.

Família institucional
A família institucional tem a função de criar e
desenvolver afetivamente a criança, o adoles-
cente ou grupos afins. Podemos citar como
exemplo um convento ou um abrigo.

Família homossexual
A família homossexual é
constituída pela união de
pessoas do mesmo sexo,
que constituem um casal,
podendo adotar filhos.

Família funcional
A família com constituição funcional é forma-
da por pessoas que moram juntas e desempe-
nham papéis parentais em relação a uma crian-
ça ou um adolescente.

Abordagem familiar: aspectos teóricos e conceituais

37
Encerramento da unidade

Aqui você concluiu a terceira unidade, em que conheceu a abordagem fa-


miliar em seus aspectos teóricos e conceituais, com a apresentação dos
padrões e tipologia familiares importantes para lidar com a diversidade
de constituições das famílias contemporâneas.

Unidade 3

38
Unidade 4

Entrevista de família
no cuidado domiciliar
4.1 Introdução da unidade

Nesta unidade vamos tratar do tema entrevista de família no cuidado domici-


liar, aprofundando aspectos que foram vistos inicialmente na organização da
visita domiciliar.

4.2 A entrevista com a família

Vamos ressaltar aqui alguns aspectos do preparo da entrevista familiar.

Ao receber o pedido para realização de visita domiciliar a uma pessoa que está
impossibilitada de se deslocar até a unidade de saúde, é importante a equipe
de saúde:

• definir quem vai realizar a abordagem familiar;


• ter claro quem estará presente por parte da equipe e da família;
• definir quem será o interlocutor;
• ao chegar ao domicílio identificar cada um dos presentes (São paren-
tes? São vizinhos? São amigos?).

É importante, num primeiro contato com a pessoa que está sendo objeto do
cuidado domiciliar, que não se promova a visita com toda a equipe que irá pres-
tar o cuidado. Num momento inicial é preciso estabelecer um vínculo e criar
confiança, e para isso é suficiente que a visita seja realizada por um ou dois
integrantes da equipe.

Unidade 4

40
Preparando • Definir quem vai realizar a abordagem
a visita familiar.
• Ter claro quem estará presente por
parte da equipe e da família.
• Definir quem será o interlocutor.
• Identificar cada um dos presentes no
domicílio.

1º Momento
Para iniciar o processo de abordagem familiar os profissionais devem primeira-
mente correlacionar o estágio do ciclo de vida familiar ao problema da pessoa
e da família. Desta forma, é essencial considerar o impacto do diagnóstico em
todos os âmbitos da vida da pessoa.

2º Momento
Depois, é necessário reconhecer o entendimento sobre a doença e as pers-
pectivas da situação, além de diagnosticar o tipo de família que se apresenta
mediante o problema, assim como a dinâmica de funcionamento.

4.3 Estratégia

O encontro com a família e a realização da entrevista familiar, segundo McDa-


niel, Hepworth e Doherty (1992), deve conter estratégias que:

1. respeitem as defesas, removam culpas e aceitem os movimentos ina-


ceitáveis;

Entrevista de família no cuidado domiciliar

41
2. mantenham uma boa comunicação entre os familiares e entre a família
e a equipe;
3. reforcem a identidade familiar;
4. explicitem a história da doença e do significado dela na família;
5. provenham suporte psicoeducacional;
6. aumentem o sentimento de união familiar;
7. mantenham uma presença empática com a família.

4.4 Fases da entrevista

A entrevista familiar tem cinco fases. A seguir, elas serão vistas uma a uma.

Fase 2
Fase 1 Entendimento
Cumprimentos da situação

As cinco
fases da
Fase 5 entrevista Fase 3
Estabelecer
Discussão
planos
Fase 4
Identificar
recursos

Unidade 4

42
Cumprimentos

A primeira fase da entrevista domiciliar é a dos cumpri-


mentos. Ela tem uma duração aproximada de cinco mi-
Fase 1
nutos. Devemos cumprimentar a família, identificar-nos,
observar as pessoas no espaço da entrevista e falar com
cada membro da família.

Entendimento da situação

A segunda fase da entrevista familiar é a do entendi-


mento da situação. Ela também dura aproximadamente
5 minutos. Devemos solicitar a cada pessoa que deseja
Fase 2 falar que explicite suas preocupações. Cada preocupa-
ção deve se tornar clara, realística e concisa. Devemos
acrescentar as preocupações que pensamos ser neces-
sárias em relação aos cuidados, além de priorizar os ob-
jetivos e observar se existem conflitos.

Discussão

A terceira fase é a de discussão, e dura aproximadamen-


te 15 minutos. Devemos solicitar que cada pessoa mos-
Fase 3
tre seu ponto de vista, encorajando a família a perguntar,
questionando como já lidaram com os problemas em
situações anteriores.

Entrevista de família no cuidado domiciliar

43
Identificar recursos

A quarta fase é a de identificar recursos, e dura aproxi-


Fase 4 madamente 10 minutos. Nela, identificamos os pontos
fortes da família, os recursos de saúde de que as pes-
soas dispõem e os recursos comunitários.

Estabelecer planos

A quinta fase é a do estabelecimento de plano, e dura


aproximadamente 10 minutos. Solicitamos um plano da
família; contribuímos quando necessário com informa-
Fase 5 ções profissionais ou aconselhamento; enfatizamos as
questões em comum; realizamos combinações lembran-
do os objetivos de cuidado; questionamos se há dúvidas;
remarcamos novo encontro se necessário e agradece-
mos a participação de todos.

Um aspecto a ser observado no cuidado domiciliar é de o profissional que reali-


za a abordagem familiar ter claro de que, mesmo sendo o domicílio da pessoa,
ele deve ter domínio do cenário, sendo importante dispor de algum momento a
sós com a pessoa que necessite do cuidado para que ela mesma possa expres-
sar sentimentos ou necessidades individuais. Assim como pode, em determi-
nados momentos, solicitar que as pessoas presentes saiam do ambiente onde
está sendo realizado o atendimento, caso estejam interferindo na entrevista.

O profissional da atenção domiciliar precisa ser um especialista no cuidado!

Unidade 4

44
Encerramento da unidade

Ao concluir a unidade Entrevista de família no cuidado domiciliar, você


conseguiu perceber aspectos importantes a serem considerados para
a realização de uma abordagem qualificada à pessoa que está sendo o
foco do cuidado, bem como à sua família, como o primeiro contato, o
vínculo e a comunicação.

Entrevista de família no cuidado domiciliar

45
Unidade 5

Genograma familiar
5.1 Introdução da unidade

Nesta unidade, vamos tratar do genograma familiar. Para ter um melhor


aproveitamento, é imprescindível que você tenha lido o texto disponibilizado
anteriormente sobre abordagem familiar.

5.2 Genograma familiar

O genograma familiar é uma ferramenta essencial não só para lembrar infor-


mações sobre o nome dos membros da família, mas para estabelecer como se
dão os relacionamentos e toda a estrutura familiar. Também é importante para
servir de ferramenta para buscar uma aproximação entre os profissionais da
equipe e a família.

Genograma: essencial para lembrar informações sobre o nome dos


membros da família, relacionamentos e toda a estrutura familiar.

O genograma é um mapa visual das conexões entre os membros da família. Ao


realizá-lo, devemos fazer com que a família visualize o que está sendo dese-
nhado. Portanto, o ideal é fazê-lo num cartaz, ou num flip chart, ou num quadro
branco em que possamos desenhar.

Unidade 5

48
O genograma inicial pode ser completado quando a história familiar é obtida e
pode ser atualizado nas visitas subsequentes. Ao longo do tempo, podemos rea-
lizar vários genogramas familiares, de acordo com o contexto e as circunstân-
cias atuais de cada momento da família e da pessoa que está sendo atendida.

Existem algumas regras básicas na construção do genograma, como a inclu-


são dos itens que vemos a seguir.

Genograma familiar

49
Itens do genograma

• Nome das pessoas


• Idades
• Estado conjugal ou marital
• Casamentos prévios
• Filhos
• Doenças significantes
• Datas de eventos traumáticos
• Ocupações
• Emoções de proximidade, distância ou conflito entre os membros da
família
• Relações significantes com outros profissionais ou outros recursos
da comunidade
• Outras informações relevantes que venham a aparecer

Compreendendo o genograma
Para compreender o genograma, é necessá-
rio entender a família como um sistema onde
tudo e todos estão conectados e inter-relacio-
nados.

Unidade 5

50
5.3 A construção de um genograma

A criação de um genograma consiste nos três seguintes níveis:

• o layout da estrutura da família;


• o registro da informação sobre a família;
• o delineamento das relações familiares.

5.4 Símbolos do genograma

O homem é representado por um quadrado, a mulher por um círculo, a morte


é assinalada com um X ou uma cruz sobre o círculo ou quadrado dos compo-
nentes da família que já faleceram, e a idade deve ser colocada dentro dos
símbolos.

Homem Morte

Idades são inseridas


Mulher 40 50
dentro dos símbolos

Genograma familiar

51
Temos as linhas que representam o casamento, a linha de união (que é ponti-
lhada), a linha da separação (que é um traço) e a linha de divórcio (que são dois
traços). As linhas de separação e divórcio aplicam-se às relações estáveis. O
casal gay masculino é um quadrado com um triângulo, e o casal gay feminino é
um círculo com um triângulo.

Linha de casamento Linha de separação

Linha de união Divórcio

Casal gay masculino Casal gay feminino

Multimídia

Continue acompanhando os símbolos utilizados em


um genograma a partir do vídeo disponível no link:
<https://www.youtube.com/watch?v=Q9ChSpVbRT0>.

Unidade 5

52
5.5 Interação entre as pessoas

Esses símbolos representam interação entre as pessoas: duas linhas paralelas


representam proximidade; três linhas paralelas, muita proximidade, uma fusão
de um relacionamento simbiótico; linhas pontilhadas significam distancia-
mento; uma linha tortuosa representa relação conflituosa; uma linha tortuosa
dentro de duas paralelas representa relação conflituosa e de proximidade; três
linhas paralelas com uma linha tortuosa representam uma relação fusionada
e conflituosa.

Proximidade Muita proximidade/fusão

Distanciamento Relação conflituosa

Relação conflituosa Ligação fusionada


de proximidade e conflituada

Outros símbolos que representam a interação entre as pessoas: uma seta de


uma pessoa sobre a outra representa o foco de atenção nessa pessoa; linhas
interrompidas representam rupturas.

Genograma familiar

53
Foco de atenção nesta pessoa Abuso sexual

Ruptura Abuso físico

5.6 O que o genograma nos permite ver?

O genograma nos permite observar a estrutura familiar e suas relações, confor-


me as informações do diagrama a seguir.

Genograma

Interpretação em forma horizontal é o ciclo vital, e na vertical é por meio das


gerações.

Pode ajudar na reflexão dos membros da família individualmente e do siste-


ma como um todo.

As pessoas estão organizadas dentro do sistema familiar segundo sexo, ida-


de e geração.

O lugar que ocupa dentro da estrutura familiar pode influenciar no funcio-


namento, na relação e no tipo de família que formará na geração seguinte.

Unidade 5

54
Utilizando o texto sobre abordagem familiar e as informações da história de
Ariovaldo, construímos o genograma da família. Porém, para isso, realizamos
uma síntese das informações necessárias à elaboração do genograma, o que
você pode conferir acessando o link: <https://unasus2.moodle.ufsc.br/mod/
resource/view.php?id=6344>.

Multimídia

Observe agora o genograma da família de Ariovaldo:


<https://www.youtube.com/watch?v=7vhogANPC70>.

Encerramento da unidade

Na unidade Genograma familiar, você estudou sobre uma importante


ferramenta para o manejo do cuidado domiciliar. O genograma familiar
é uma forma de registro de informações sobre os membros da família
e funciona como um mapa visual das conexões na estrutura familiar e
suas relações.

Genograma familiar

55
Unidade 6

Ecomapa
6.1 Introdução da unidade

O ecomapa é uma ferramenta que inicialmente era utilizada pela área do serviço
social para estabelecer o sistema social de apoio adequado para as famílias.
No entanto, o ecomapa passou a ser também uma ferramenta complementar
ao genograma, ao ciclo de vida e à entrevista familiar, no sentido de estabelecer
de uma maneira mais clara e visualizável as relações do indivíduo com o seu
meio, com a sua comunidade e com os seus recursos de rede, a fim de ajudar
a estabelecer soluções para as dificuldades no manejo do cuidado domiciliar.

6.2 Ecomapa

No processo de avaliação e intervenção familiar, o ecomapa é mais um instru-


mento de avaliação familiar que podemos utilizar. Trata-se de uma representa-
ção gráfica que identifica todos os sistemas envolvidos e relacionados com a
pessoa e com a família que está sendo abordada, relacionando essa pessoa e
sua família com o meio em que vivem.

“ECOMAPA é mais um instrumento de avaliação familiar, uma represen-


tação gráfica, que identifica todos os sistemas envolvidos e relaciona-
dos com a pessoa, com a família em questão e o meio onde vivem.

[...] O ECOMAPA é um excelente instrumento, que resume uma grande


quantidade de informações e facilita a visualização de áreas que podem
ser exploradas para melhorar o sistema social de apoio por toda a equi-
pe de saúde, buscando realizar uma intervenção familiar qualificada.”
DIAS, Leda C. Abordagem familiar. In: GUSSO; LOPES. Tratado de medi-
cina de família e comunidade. Porto Alegre: Artmed, 2012.

Unidade 6

58
Existem várias formas de configurar esse modelo. Na sequência, vamos apre-
sentar uma delas.

Família
Igreja
extensa

Outros
Trabalho aspectos

Família ou
Animal de indivíduo
Escola
estimação

Posto de
Amigos
saúde
Grupos
recreativos

Nesta figura, mostramos quais áreas devem ser incluídas no ecomapa.

Ao elaborar o ecomapa, colocamos ao centro o genograma da família ou al-


guns dados sobre o indivíduo. Ao redor, em pequenos círculos, colocamos al-

Ecomapa

59
guns outros aspectos. Por exemplo, podemos colocar o restante da família
extensiva. A igreja pode ficar em relação à religião, religiosidade.

Outros aspectos que julgamos importantes: o relacionamento com a escola, no


caso de existir (escola, universidade); a relação com o posto de saúde.

Grupos recreativos dos quais pessoas da família façam parte. Quem são os ami-
gos? Quem são as pessoas próximas? Vizinhos? Existe animal de estimação?

Também devem ser considerados o trabalho da pessoa, as relações de traba-


lho, o contexto do trabalho.

Todas essas informações são muito importantes porque demonstram o con-


texto em que a pessoa está inserida, o qual suporta e estrutura o meio re-
lacional do indivíduo e sua família. O ecomapa vai servir então para ilustrar,
compreender, observar, elaborar hipóteses e integrar e envolver recursos dis-
poníveis na rede de apoio possível para essa família ou essa pessoa.

6.3 Áreas incluídas

Ao realizar o desenho do ecomapa, também devemos expressar as diferentes


dimensões das relações e a intensidade das relações com que a família e a
pessoa se relacionam, com os recursos disponíveis no seu contexto. Na ilus-
tração a seguir, podemos verificar os diferentes tipos de linhas e o que elas
representam.

Exemplo das 3 diferentes dimensões (linhas que expressam a relação) para


cada ligação:

Unidade 6

60
Relação fraca, que requer
X esforço/energia.
Não compensadora.
Não estressante.

Relação tênue/incerta.
Equilibrada (entre
apoio e esforço).

Família ou
Z K
indivíduo

Relação forte.
Fornece apoio/energia.
Compensadora.
Não estressante
Relação fraca.
Sem impacto na
energia/recursos. Y
Estressante.

Assim, com a utilização das informações do texto “A Família”, será elaborado


o ecomapa de Ariovaldo. Acesse o link para realizar a leitura do texto: <https://
unasus2.moodle.ufsc.br/mod/resource/view.php?id=6344>.

Com base nas informações sobre o caso Ariovaldo e sua família, podemos
produzir o seguinte ecomapa:

Ecomapa

61
Ariovaldo ao centro. A relação com a esposa Marilda está conflituosa, em
função das exigências de cuidados. A relação com os filhos está frágil e
distante. A relação com a família de origem, com irmãos, também está
frágil e distante. A relação com a igreja é forte, pois ele tem recebido
apoio. A relação com o posto de saúde também é muito forte. A relação
com a empresa é frágil e conflituosa. Não existe um relacionamento com
amigos e grupos recreativos. Então, observando o ecomapa do Arioval-
do, podemos estabelecer algumas áreas para realizar intervenções, bem
como podemos buscar o apoio de áreas que não estão sendo utilizadas.

Relação com Relação com


Empresa Marilda conflitos
conflitos

Relação forte,
recebe apoio
Relação frágil,
distante
Posto de
saúde
Ariovaldo Filhos

Amigos
?

Relação frágil,
Grupos Família distante
recreativos Relação forte, de origem/
? Igreja
recebe apoio irmãos

Unidade 6

62
Encerramento da unidade

Ao concluir a unidade Ecomapa, você teve a oportunidade de perceber


que, no processo de avaliação e intervenção familiar, o ecomapa é mais
um instrumento de avaliação familiar que pode ser utilizado. Trata-se de
uma representação gráfica que identifica todos os sistemas envolvidos
e relacionados com a pessoa e com a família que está sendo abordada,
inserindo-os no contexto em que vivem.

Ecomapa

63
Unidade 7

Identificação de riscos
no cuidado domiciliar
7.1 Introdução da unidade

Nesta unidade vamos tratar do tema


entrevista de família no cuidado do-
miciliar, aprofundando aspectos que
foram vistos inicialmente na organiza-
ção da visita domiciliar.

A abordagem e o cuidado de uma pes-


soa dentro do ambiente familiar – em
uma visita domiciliar – é um forte ins-
trumento de trabalho profissional no
contexto da Atenção Primária à Saúde.

Ela possibilita que se estabeleçam necessidades e se identifiquem situações


que merecem uma intervenção, no intuito de resolver ou prevenir problemas.

Conhecer e compartilhar com a pessoa em seu meio ambiente usual, na sua


casa, no seu ambiente de relação familiar, possibilita-nos uma série de infor-
mações que em geral não temos como adquirir atendendo a pessoa na unidade
de saúde.

Então, se utilizarmos esse momento da


visita domiciliar, da abordagem domici-
liar, e empregarmos a teoria sistêmica
de uma forma adequada, esse ambiente
servirá como um meio que nos possibi-
lite fazer uma melhor análise do contex-

Unidade 7

66
to psicossocial da pessoa, da família e das repercussões
que a doença traz sobre tudo isso.

Assim, a visita ao domicílio facilitará a visualização des-


sas relações familiares, como se fosse uma radiografia
da situação. Trata-se de um momento rico e único que
caracteriza a prática da Atenção Primária à Saúde.

O ambiente favorece a identificação de estressores no contexto familiar, no es-


tabelecimento da relação entre estes e o processo saúde-doença. Além disso,
possibilita a ampliação de estratégias terapêuticas mais adequadas.

7.2 O que é uma família disfuncional?

Compartilhar do ambiente familiar com as pessoas e com as famílias durante


o processo de cuidado domiciliar é muito importante. Isso favorecerá a identi-
ficação de determinados fatores que geram estresse no contexto familiar, nas
relações familiares, em relação a regras, hábitos e estruturas que necessita-
riam ser modificadas em função do processo de doença que se estabeleceu.

Isso também é importante para perceber e estabelecer como se dão as rela-


ções entre essas pessoas e como o processo de saúde-doença também está
afetando esse relacionamento intrafamiliar. Com base na identificação desses

Identificação de riscos no cuidado domiciliar

67
fatores e desse contexto, podemos ampliar as estratégias terapêuticas, utili-
zando aquelas que são mais adequadas a cada família individualmente.

“A família disfuncional não é uma família assolada por uma série de pro-
blemas, mas uma família que se recusa a enfrentar os seus problemas.”
Marlon Ramirez and Ianessa Ang-Ramirez.

7.3 O que caracteriza uma família disfuncional?

Todas as famílias têm problemas. O que muda é a maneira como as famílias


lidam com os seus problemas. Um mesmo problema pode ter um impacto,
uma repercussão completamente diferente em outra família. Cada uma vai li-
dar com aquela situação de uma forma diferente.

Então, dizemos que uma família disfuncional não é a que tem problemas, mas
aquela que se recusa a enfrentar os seus problemas ou que está enfrentando
os seus problemas de um modo inadequado, que não promove tranquilidade e
paz entre os membros da família. Pelo contrário, a maneira como a família está
lidando com a situação gera sofrimento.

Portanto, uma família disfuncional é


aquela em que as inter-relações ser-
vem para prejudicar, em vez de pro-
mover a saúde física e emocional e o
bem-estar dos seus integrantes.

Unidade 7

68
Então, o que caracteriza uma família disfuncional é a maneira como ela está
funcionando, é a forma como estão se dando as relações interfamiliares. Elas
não se ajudam. Ao contrário, em vez de promover um bem-estar, uma saúde
familiar, ela está prejudicando e pode trazer crises e conflitos que acarretem
em uma disfunção e até mesmo em uma desagregação da família.

Alguns aspectos podem ser utilizados para caracterizar uma família disfun-
cional. Um deles é a incapacidade dos integrantes da família de assumirem as
responsabilidades por suas ações, seus afetos, e pelos sentimentos que são
expressos em relação aos outros membros da família.

Outro fator importante que caracteriza a disfunção familiar é quando a família


não tem limites bem estabelecidos. Podemos dizer, assim, que ou eles são muito
soltos ou são muito rígidos, e isso é um fator estressor e de disfunção familiar.

Quanto aos limites da família com o mundo exterior, com as outras famílias,
com pessoas externas à família, eles também não podem ser muito soltos ou
muito rígidos. É preciso haver um equilíbrio para permitir que aconteçam tro-
cas e a família não fique isolada.

Identificação de riscos no cuidado domiciliar

69
Se for uma família que se isola muito frente às
situações de necessidades, (de uma rede de
apoio, por exemplo), ela não vai conseguir cons-
tituir essa rede de apoio.

A tendência para os membros da família para


decretar conjunto de funções (cuidador, herói,
bode expiatório, santo, mau, o pequeno príncipe
ou princesa) que servem para restringir senti-
mentos, experiências e auto-expressão.

A tendência a ter um “paciente identificado”, um membro da família que é reco-


nhecido como mentalmente saudável, que pode ou não estar em tratamento,
mas cujos sintomas são um sinal de conflito familiar interior.

7.4 O que torna uma família disfuncional?

Outro aspecto representativo das famílias disfuncionais é a tendência de en-


contrar funções para alguns de seus integrantes no sentido de espiar a sua
dificuldade de lidar com as questões disfuncionais. Então, podemos estabele-
cer funções de cuidador, de herói, algum membro da família pode ser o bode
expiatório, o outro é o santinho, o outro é o mau, um é o pequeno príncipe, o
outro é a princesa.

Entretanto, esses papéis e essas decretações de funções servem para res-


tringir a manifestação de sentimento e a intenção de lidar com as questões
complexas que afetam o processo de funcionamento familiar.

Unidade 7

70
Também existe uma tendência, muitas vezes, a ter um paciente identificado,
ou seja, um membro que passa a ser reconhecido como o grande causador de
todos os conflitos dentro da família, quando na verdade ele pode estar apenas
servindo como depositório da necessidade da família de pedir ajuda. Ele passa
a ser o sintoma de disfunção familiar, e não necessariamente a causa da doen-
ça e da disfunção familiar.

Então, cabe ressaltar que todas as famílias têm proble-


mas e que, quando uma família não consegue utilizar
mecanismos para lidar com esses problemas, eles se
cronificam e a família se torna disfuncional.

Para tornar isso claro, a seguir mostraremos as carac-


terísticas de uma família saudável e as de uma família
disfuncional.

7.5 Caracterização da família

Na tabela a seguir, buscamos deixar mais claras as características de uma


família saudável e de uma família disfuncional. E esses aspectos são impor-
tantes na hora em que prestamos cuidado domiciliar. Como vamos necessa-
riamente nos inserir e estabelecer um processo de relacionamento com a fa-
mília, devemos caracterizar se a família é funcional ou disfuncional, pois isso
repercutirá significativamente no cuidado à pessoa que recebe o cuidado e a
Atenção Domiciliar.

Identificação de riscos no cuidado domiciliar

71
Caracterização da família

Família saudável Família disfuncional

Emoções são expressas. Mem- Emoções são suprimidas.


bros podem livremente pedir e
dar atenção.

Comunicação aberta. Pequena ou nenhuma comunicação.


Membros falham para tomar responsabili-
dade para ações e sentimentos pessoais.

Regras são flexíveis para adap- Regras são rígidas, inconsistentes, implí-
tar as necessidades individuais. citas e exigentes.

Erros são tolerados. Perfeição é preferida.

Diferenças são permitidas, e Pessoas não são respeitadas. Os mem-


cada membro é encorajado bros tendem a assumir papéis que ser-
para perseguir/continuar seus vem para restringir sentimentos, expe-
interesses. riências e autoexpressão.

Crianças e seus direitos são Fronteiras entre os membros são ou mui-


consistentemente respeitados. to soltas ou muito rígidas. Os pais depen-
dem muito de seus filhos, ou tomam to-
das as decisões por eles.

As crianças não têm medo e Pais são abusivos.


não são sujeitas a abuso emo-
cional, verbal, físico ou sexual.

Unidade 7

72
7.6 Situações que devem ser consideradas como risco
familiar para violência ou piora do problema

Um dos maiores riscos para uma família disfuncional é o de se instalar a violên-


cia, seja física ou verbal. Enfim, qualquer forma de violência. Assim, podemos
buscar, nesses contatos que estabelecemos com a família, identificar essas
situações ou esses fatores de risco.

Então, é possível caracterizar como um fator de risco a existência de um dife-


rencial de poder muito grande, ou seja, um ou dois integrantes de uma família
que detêm o poder e tudo passa por eles, o poder decisório de tudo que acon-
tece dentro de casa.

Também pode haver uma história de violência ou abuso através das gerações,
por isso é fundamental fazer o genograma com três gerações, especialmente
se houver história familiar de abuso de substâncias, drogadição ou qualquer
forma de dependência química.

Pode haver uma inexistência de fronteiras entre as gerações, ou uma existên-


cia de fronteiras confusas. Todo mundo se mete na vida de todo mundo. Os
avós às vezes estão dentro da casa e da família como se fossem pais. Enfim,
não existe uma fronteira muito nítida.

Há também aquelas famílias que mantêm isolamento social, que não têm uma
vida social, que não se relacionam com a comunidade.

Todos esses fatores são considerados de risco para violência ou agravamento


do problema físico ou emocional que está acarretando o cuidado domiciliar.

Identificação de riscos no cuidado domiciliar

73
Também podemos elencar como situação de risco a existência de uma fraca
rede de apoio, o que pode ser demonstrado por meio do ecomapa:

• famílias desestruturadas, em que não há uma estrutura familiar, em


que os papéis não são nítidos e na qual houve abandono paterno ou
materno;

• famílias que não solicitam ajuda para lidar com as dificuldades, que não
identificam os seus problemas e as suas dificuldades como algo que
precisa ser trabalhado;

• famílias sem senso de pertencimento, sem uma identidade, sem uma


conexão; aquelas que, quando elaboramos o genograma, não sabem da
história familiar, não sabem da história dos outros membros, nas quais
não são contadas coisas entre as diversas gerações;

• famílias com história ou com presença de doença mental.

Entendendo os riscos

Para entender os riscos é importante identificar que existem grandes diferen-


ças entre as pessoas em momentos de vulnerabilidade. Então, sempre quem
está mais frágil tem um risco de ser abusado ou ser vítima de uma violência.

Também é muito comum que se banalize a violência. Deste modo, o abuso


acaba sendo aceito a partir de uma banalização e de uma internalização de
que esse tipo de violência é comum, é frequente, faz parte do enfrentamento
das dificuldades.

Unidade 7

74
Na verdade, não é assim. Nenhum tipo de violência pode ou deve ser permiti-
do, assim como nenhuma forma de maus-tratos. Nossa primeira providência,
sempre que identificamos alguma forma de abuso, maus-tratos, violência, é
cessar com a violência, tomando todas as medidas necessárias para que isso
aconteça.

As grandes diferenças entre as pessoas em momentos de vulnerabilidade po-


dem possibilitar a violência. Por exemplo, existem casos em que apenas um
membro tem o dinheiro, e o outro se submete para ter sustento.

Uma das formas mais intensas de aprendizado ocorre por meio de modelos.
Se o abuso e a violência são comuns, ocorre uma banalização e uma internali-
zação do que é comum.

Seguindo sobre o entendimento dos riscos, se os pais usam drogas, por que os
filhos não poderiam usar? É cada vez mais frequente o aprendizado por meio
do modelo.

Por isso é importante estabelecer qual é o padrão de funcionamento familiar,


quais são as regras e o entendimento que as pessoas têm sobre as coisas.
Se todos dentro da família são como se fossem irmãos, ou se os pais não
conseguem assumir papel de pais, de modo que não existam limites entre as
gerações, tendendo a ocorrer mais desrespeito entre as gerações.

Famílias com isolamento social são mais sujeitas a transtornos mentais, e o


isolamento facilita a ocorrência de violência sem socorro. Uma vez que a famí-
lia está isolada, ela não tem trocas, não tem convivência com outras pessoas.
Muitas vezes não há um padrão de comparação para que as pessoas possam
contestar o modelo de funcionamento familiar no qual estão inseridas.

Identificação de riscos no cuidado domiciliar

75
Um dos aspectos muito relevantes relacionados aos riscos é a existência de
uma forte rede de apoio. Isso pode impermeabilizar a família contra a violência
e contra o risco de agressão, de abuso.

Uma família desestruturada pode sofrer tudo ao mesmo tempo, desde ausên-
cia de fronteira entre as gerações até o frequente uso de substâncias, drogas,
além da violência intrafamiliar. Ao solicitar ajuda, uma família requer a organi-
zação da rede de apoio, para que trabalhemos contra a violência que se institui.

Ao todo, esse é um processo muito difícil e complexo, que não pode ser realiza-
do sozinho. Muitas vezes, nem a equipe em conjunto consegue dar conta. Ela
precisa se apoiar em outros recursos da rede social, do processo de saúde, da
defensoria pública, do conselho tutelar. Enfim, acaba tendo de envolver outras
instituições.

Famílias estruturadas e organizadas costumam ser menos acometidas pela


violência doméstica. Casos de doenças crônicas, como uma doença mental
(ou doenças crônicas incapacitantes, como um diabetes com amputação, en-
fim, como um DPOC severo), exigem muito da família, de modo que ela tem
de se reestruturar: as pessoas precisam mudar seu jeito de funcionar, têm de
mudar horários de lazer, precisam deixar de fazer coisas de que gostariam.

Isso exige uma rede de apoio, condições financeiras, um cuidador ou mais de


um cuidador. Então, todos esses fatores são demandas que estressam os cui-
dadores e formam uma base para os maus-tratos, quando as pessoas não con-
seguem se estruturar e lidar com essas necessidades de uma forma saudável.

Unidade 7

76
Tomando como exemplo o Caso Ariovaldo, vale a pena observar alguns aspec-
tos para serem constatados ou não na visita domiciliar:

• Qual é a situação e o que ocorreu para o atual desfecho?

• Quem é a principal figura cuidadora? Como a família se organiza com o


cuidado? Como todos os integrantes participam?

• Como é a interação entre o cuidador e a pessoa doente? Vale dizer que


obtemos essa interação apenas observando o cuidador realizar alguns
procedimentos e conversando em separado com a pessoa que recebe
os cuidados.

• Existe uma sobrecarga de trabalho para o cuidador? Isso é importante


identificar. Muitas vezes o cuidador acaba desenvolvendo uma rotina na
qual ele se insere e não passa a ter crítica sobre isso. Assim, ele não perce-
be o quanto está se desgastando e sofrendo com a sobrecarga do trabalho.

• Quais são as atuais demandas? É importante estabelecer isso, tentar


sistematizar e objetivar de maneira estruturada quais são as demandas
do momento. Essas demandas podem mudar a cada visita ou a cada
momento da evolução do quadro daquela pessoa.

• Existe risco de violência? Sempre é necessário fazermos esse ques-


tionamento. Se não pensarmos sobre a violência familiar, a violência
intrafamiliar, sobre maus-tratos, não fazeremos o diagnóstico, não iden-
tificaremos essas situações. Então, pensarmos sobre isso e sobre a
possibilidade de estar ocorrendo é muito importante.

Identificação de riscos no cuidado domiciliar

77
No Caso Ariovaldo, antes de realizar a visita domiciliar, seria importante gerar
algumas dúvidas/hipóteses para serem observadas no domicílio e serem cons-
tatadas ou não:

• Qual é a situação e o que ocorreu para o atual desfecho?


• Quem é a principal figura cuidadora? Como a família se organiza com
o cuidado?
• Como é a interação entre o cuidador e a pessoa doente?
• Existe uma sobrecarga de trabalho para o cuidador? A família reconhe-
ce e apoia o cuidador?
• Quais são as atuais demandas?
• Existe risco de violência?

Encerramento da unidade

Excelente! Você concluiu a unidade Identificação de riscos no cuidado


domiciliar, que aborda o cuidado no ambiente familiar tomando por base
observações da vida relacional, como uma “radiografia” da situação, fa-
vorecendo a identificação de estratégias terapêuticas mais adequadas,
bem como as situações que devem ser consideradas como risco familiar.

Unidade 7

78
Referências

Referências

BOFF, L. Saber cuidar, ética do humano: compaixão pela terra. 9. ed.


Petrópolis: Vozes, 2003.

CHIN, J. J. Doctor-pacient relationship: from medical paternalism to enhanced


autonomy. Singapore Medical Journal, Singapore, v. 43, n. 3, p. 152-155, 2002.

CLARKE, G. R. et al. Physician-pacient relations: no more models. The


American Journal of Bioethics, Cambrige, v. 4, n. 2, p. W16-W19, Spring 2004.

GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO. Manual de assistência domiciliar na


Atenção Primária à Saúde: experiência do SSC/GHC. Porto Alegre: Grupo
Hospitalar Conceição, 2003.

LOPES, J. M. C. Consulta e abordagem centrada na pessoa. In: GUSSO, G.;


LOPES, J. M. C. (orgs.). Tratado de medicina de família e comunidade:
princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed, 2012. v. I, p. 113.

RAKEL, D. Integrative medicine. editor: Philadelphia, 2003. Saunders.


Autores

Leda Chaves Dias


• Endereço do currículo na plataforma Lattes:
<http://lattes.cnpq.br/7962503194209902>

José Mauro Ceratti Lopes


• Endereço do currículo na plataforma Lattes:
<http://lattes.cnpq.br/9678745871061269>

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