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23/05/2016 Por 

que a língua portuguesa não é machista – PET Direito UnB

PET Direito UnB

Programa de Educação Tutorial

REFLEXÕES

Por que a língua portuguesa não é machista

27/06/201215/07/2012
MARCONI LENZA
11 COMENTÁRIOS

(hᜂps://petdirunb.files.wordpress.com/2012/06/pet1.jpg)Quando  criança,  eu  nunca  gostei  de


quando minha mãe se referia a mim e ao meu irmão como “vocês”, a não ser quando era para
elogiar,  porque  aí  tudo  bem.  O  problema  era  quando  um  de  nós  fazia  algo  de  errado  e  ela
acabava brigando com os dois, no plural. Se sua mãe não tinha essas manias, você certamente
teve professores que o fizeram, como naqueles momentos mais que enfadonhos quando a sala
inteira era obrigada a ouvir galhofas sobre o que alguns poucos, ou apenas um aluno fizera de
errado.

São  duas  as  coisas  que  me  incomodam  tanto  quanto  ouvir  os  sermões  da  minha  mãe  ou  dos
meus antigos professores. A primeira delas é dar à linguagem um caráter metanarrativo, que é
diferente do meu discurso; a segunda, é negar minha individualidade, ou, em outras palavras,
fazer  com  que  toda  minha  forma  de  pensar,  que  é  diferente,  ou  apenas  minha,  seja  restrita  à
estrutura da língua e não ao modo como penso, embora concorde com um pensamento aqui e
outro ali, porque, convenhamos, é um pouco difícil ser totalmente original.

Como  diz  o  título,  estou  me  referindo  à  linguagem  inclusiva.  O  nome  remete  à  inclusão  das
mulheres  num  discurso  (ou  metadiscurso?)[1]  no  qual  elas  eram  desde  sempre  excluídas,  de
acordo  com  essas  próprias  mulheres.  Nossa  língua,  com  quase  nenhum  resquício  do  gênero
neutro  (como  os  pronomes  “aquilo”  e  “isto”),  sempre  deu  mais  ênfase  ao  gênero  masculino.
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acordo  com  essas  próprias  mulheres. 
23/05/2016 Nossa  língua,  com  quase  nenhum  resquício  do  gênero
Por que a língua portuguesa não é machista – PET Direito UnB

neutro  (como  os  pronomes  “aquilo”  e  “isto”),  sempre  deu  mais  ênfase  ao  gênero  masculino.
Quando,  por  exemplo,  nos  referimos  a  um  homem  e  a  uma  mulher,  nós  usamos  o  pronome
pessoal “eles”, mesmo se forem duas mulheres e apenas um homem.

(hᜂps://petdirunb.files.wordpress.com/2012/06/pet4.jpg)Uma
breve  retomada  ao  aspecto  histórico  da  língua  pode  nos
responder  por  que  o  português  tem  preferência  sobre  as
desinências masculinas às femininas. A língua portuguesa foi‑se
transformando  a  partir  do  latim  (ou,  especificamente,  do  latim
vulgar,  conhecido  como  sermo  vulgaris),  que  possui  o  gênero
neutro além dos outros dois. Quando declinamos os pronomes
pessoais is, ea, id (ele, ela, isso), temos no caso ablativo: eo, ea, eo
(para ele, para ela, para ele); no genitivo plural: eorum, earum, eorum (deles, delas, deles), sem
citar os casos genitivo singular e dativo, nos quais as três declinações de gênero são iguais (ejus,
ei, respectivamente).

Outros exemplos como o adjetivo “bom” (bonus, ‑a, ‑um)  tornam  mais explícita  a semelhança.


No  genitivo:  boni,  bonae,  boni  (de  bom,  de  boa,  de  bom),  como  em  “de  boa  vontade”,  bonae
spontis;  no  ablativo:  bono,  bona,  bono  (para  o  bom,  para  a  boa,  para  o  bom),  em  “para  o  bom
menino”,  bono  puero.  E  os  exemplos  são  quase  inesgotáveis.  Os  idiomas  vindos  do  latim
suprimiram o gênero neutro pois o gênero masculino já cumpria sua função. Assim, ao invés
de se usar o neutro para se referir a duas pessoas de gêneros diferentes, utiliza‑se, portanto, o
masculino.

No idioma holandês não existe essa diferença entre os pronomes pessoais relativos à maiorias
ou  artigos  masculinos  e  femininos  (quando  há  um  homem  e  duas  mulheres,  diz‑se  “zij”  –
pronuncia‑se  zéi,  sendo  o  contrário  também  verdadeiro).  O  verbete  “de”  é  utilizado  para  se
referir  tanto  à  “de  man”  (o  homem)  quanto  à  “de  vrouw”  (a  mulher);  do  mesmo  modo,  “het”
relaciona‑se  aos  substantivos  neutros,  como  em  “het  strand”  (a  praia).  O  plural  de  todas  as
palavras, masculinas, femininas e neutras é representado por “de”, como em “de kinderen”  (as
crianças) ou “de huizen” (as casas).

O bom de tudo isso é que, desde a criação do idioma holandês, o uso do mesmo artigo para o
singular e o plural, ou masculino e feminino, nunca foi sonoramente estranho a seus falantes
pelo  simples  fato  de  as  pessoas  não  terem  tido  tempo  de  se  acostumar  com  o  contrário.
Poderíamos  até  pensar  em  usar  outras  vogais  para  nos  referirmos  a  homens  e  mulheres  no
português, mas soaria tão estranho que o bom senso me leva a acreditar que as pessoas nunca
se acostumariam com isso – em outras palavras, não daria certo.

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(hᜂps://petdirunb.files.wordpress.com/2012/06/pet5.png)Idiomas  como  o  português,  o  francês


e  o  italiano[3]  dão  relevância  às  desinências  masculinas  sobre  as  femininas  pois  vieram  do
latim, como já explicado. A justificação do “machismo” por trás da língua portuguesa viera daí,
uma  vez  que  a  sociedade  romana  era  rigidamente  patriarcal  (centrada  na  figura  do
paterfamilias), embora também o fossem os países de língua inglesa, onde a figura do homem
também  representava  o  núcleo  familiar  e  social,  enquanto  a  mulher  se  ocupava  dos  afazeres
domésticos e dos filhos. Apesar disso, a língua inglesa não faz qualquer distinção de gênero a
partir de maiorias – quando há duas mulheres e um homem, usa‑se o pronome “they”, como no
caso do idioma holandês.

A Holanda foi, curiosamente, um dos primeiros países do mundo a conferir o direito de voto às
mulheres, em 1917. Apesar disso, a Rússia, cujo idioma se utiliza de pronomes diferentes para
o masculino (Он), feminino (Онa) e o plural (Oни), dando prioridade ao masculino, também o
fez  logo  no  mesmo  ano  durante  a  Revolução  Bolchevique.  Nos  Estados  Unidos,  a  luta  pelo
direito  de  voto  das  mulheres  começou  em  1848,  tendo  sido  “concretizada”  apenas  em  1920,
quando foi aprovada a Emenda Constitucional nº 19 e 36 dos 48 estados americanos tiveram de
ratificá‑la. Estados conservadores como o Mississipi só a ratificaram décadas depois, em 1984.

E por que falar do voto? Ora, se o voto não é uma das expressões sociais mais significativas?
Foi  o  voto  que  deu  às  mulheres  maior  possibilidade  de  serem  ouvidas  no  âmbito  político  e
social, além de fazer valer suas vontades como as dos homens, ainda que de modo restrito, pois
as leis não abrangem de todo o pensamento das pessoas. O fato é que usei desse exemplo para
dizer que não, a estrutura da língua não pode limitar o modo de pensar de uma sociedade ou
de um indivíduo.

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(hᜂps://petdirunb.files.wordpress.com/2012/06/pet3.jpg)O
voto não diz que não  haja  machismos  na  sociedade  pelo  fato
de ter sido concedido o direito de voto às mulheres e sim que
há  uma  parte  daquela  sociedade  que  não  é  machista. Apesar
de lados diferentes contemplarem a mesma língua, há pessoas
que  são  machistas  e  pessoas  que  não  o  são.  O  caso  se  torna
mais explícito quando analisamos o aspecto da língua sobre as
colônias  que  receberam  o  idioma  do  país  colonizador  como
seu.  Dentre  elas  está  a  Nova  Zelândia,  colônia  inglesa  e  o
primeiro  país  do  mundo  a  dar  o  direito  de  voto  para  as
mulheres, em 1893!

Tal  como  minha  mãe  e  meus  professores  ao  desconsiderarem  o  comportamento  dos  demais
alunos, dizer que a estrutura das palavras oprime pelo simples fato de dar relevância para as
desinências masculinas em prol das femininas (lembrando mais uma vez que o português não
possui  desinências  neutras  e,  mesmo  se  houvesse,  elas  se  pareceriam  bem  mais  com  as
masculinas,  pois  “aquilo”  ou  “isto”  terminam  com  “o”)  é  dizer  que  há  um  metadiscurso
específico por trás da fala de cada pessoa, um metadiscurso que exclui, mesmo sem querer, a
intenção do locutor.

Em  outras  palavras,  é  dizer  que  tudo  o  que  eu  penso  ou  acredito  é  condicionado  pela  forma
como  a  estrutura  de  uma  frase  se  constrói  e  não  pelo  modo  ou  o  contexto  em  que  a  uso.  Se
assim o fosse, não poderíamos jamais dizer que alguém usou de algum contexto ironicamente,
embora  eu  não  entenda  muito  de  ironias,  pois  estaríamos  analisando  apenas  a  estrutura
semântica/sintática da frase, deixando de lado toda a intenção por trás do discurso.

Um  dos  meios  criados  para  contornar  essa  “opressão”  é  citar  as  desinências  femininas
separadas  por  algum  sinal  junto  às  masculinas,  embora  as  femininas,  na  maioria  das  vezes,
estejam  sempre  a  frente,  como  exemplo,  dizer  “as/os  alunas/os”  ou  até  usar  “x”  e  “@”,  como
“alunxs”  e  “alun@s”.  O  grande  problema  disso  é  que  a  maioria  das  pessoas  não  consegue
terminar  de  ler  uma  frase  inteira  assim  sem  se  cansar,  conquanto  a  maioria  dos  textos  do
Direito consiga fazê‑lo sem ter que se utilizar de repetições desnecessárias, apesar de também
fazer uso dessas mesmas repetições.

Admito que a ideia por trás da linguagem inclusiva é das melhores, mas que é praticamente,
para não dizer de todo, intangível em nosso idioma. Nos acordos ortográficos que promovem
mudanças  na  língua  portuguesa  é  sempre  tomado  bastante  cuidado  ao  se  suprimir  acentos
gráficos,  deixando  a  fonética  quase  sempre  inalterada,  uma  vez  que  é  de  conhecimento  geral
que a palavra começaria a soar de forma estranha e o termo logo cairia em desuso, podendo o
acordo ser, inclusive, desconsiderado por seus falantes.

Há  algum  tempo,  li  um  manual  (hᜂp://www.campanaderechoeducacion.org/sam2011/wp‑


content/uploads/2011/05/manualusonaosexistalinguagem.pdf) muito interessante sobre o “uso
não  sexista”  da  língua  portuguesa,  o  que  concilia  bem  os  dois  lados,  tanto  das  feministas,
quanto dos demais leitores que não precisam se cansar para terminar de ler um texto. O único
detalhe é que, embora seja uma ótima proposta, talvez as pessoas não estejam acostumadas a
substituir  um  “os  habitantes  nunca  estão  contentes  com  o  transporte”  por  “nunca  se  está

contente  com  o  transporte”,  por  uma  simples  questão  de  praticidade,  como  exemplo  do
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contente  com  o  transporte”,  por  uma  simples  questão  de  praticidade,  como  exemplo  do
próprio manual – a mesma praticidade que transformou, sucessivamente, o “vossa mercê” em
“você”.

(hᜂps://petdirunb.files.wordpress.com/2012/06/pet2.jpg)

Por  fim,  podemos  substituir  palavras  como  “os  juízes”  por  “poder  judiciário”  ou  “os
assessores”  por  “a  assessoria”  sem  quase  nenhuma  dificuldade.  Talvez  o  fato  demandasse
algum tempo para que as pessoas se acostumassem, mas, antes de tudo, devemos entender que
o discurso nunca é realmente neutro e que a linguagem nunca fala por si só, principalmente em
uma sociedade tão multicultural como o Brasil do século XXI. No caso americano, a sociedade
possuía costumes diametralmente opostos entre o norte e o sul, como no caso do Mississipi, e
ainda assim compartilhavam do mesmo idioma, que não faz distinção de desinências. Podemos
dizer, então, que o inglês retratava o machismo do sul nas regiões do norte? A resposta fica por
sua conta.

Não podemos negar que existem prerrogativas em uma fala, embora elas não se refiram a um
contexto  estranho  ao  conhecimento  do  locutor,  mas,  sim,  a  cada  pessoa  separadamente  (com
todas  as  suas  implicações  históricas  e  sociais).  Tomar  tal  premissa  como  certa  é  fazer
justamente o contrário do que a linguagem inclusiva propõe, que é descaracterizar a expressão
por  trás  da  fala  de  cada  pessoa,  como  as  próprias  leis  o  faziam  ao  tentar  calar  os  anseios  de
tantas  mulheres,  que  foram  pouco  a  pouco  garantindo  seus  direitos  através  do  voto,
principalmente o direito de poderem se expressar sem que suas falas estivessem ligadas a um
discurso característico daquela mesma sociedade machista que ainda deixa seus resquícios por
entre os tempos.

Marconi de Paiva Lenza

[1] Uso o termo “metadiscurso” no sentido de um discurso além do discurso. Um discurso que
é estranho ao meu, como dizer que minha fala é machista (metadiscurso) por usar “Bom dia,
alunos”, querendo me referir a todas as pessoas presentes na sala (meu discurso). Reparem que
minha intenção não foi negar o fato de que nossas ideias são condicionadas pela convivência no
mundo e com outras pessoas, mas tão somente criticar a premissa de que a estrutura de uma
língua pode falar por si própria conquanto a intenção do falante é desconsiderada.

[2]  Declinar  uma  palavra  significa  flexioná‑la  de  acordo  com  a  função  que  ela  exerce  numa
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[2]  Declinar  uma  palavra  significa  flexioná‑la  de  acordo  com  a  função  que  ela  exerce  numa
frase (caso). Por exemplo: regina (rainha) é escrito assim quando exerce a função de sujeito ou
predicativo do sujeito. Se fosse um objeto direto, seria escrito como reginam (regin – radical; am
–  desinência  do  caso  acusativo  singular,  que  representa  os  objetos  diretos).  Nautae  reginam
vocabant (Os marinheiros chamavam a rainha).

[3] Na linguagem do dia‑a‑dia, usa‑se comumente o pronome “loro” para se referir ao plural.
No  entanto,  a  literatura  italiana,  principalmente  tradicional,  do  mesmo  modo  que  faz  uso  do
passato remoto no lugar do passato prossimo, apesar de possuírem o mesmo significado, também
se utiliza de pronomes como “egli” (ele) ao invés do “lui“, “ella”  (ela)  no lugar  de “lei” e, por
fim,  “essi”  (eles)  e  “esse”  (elas)  ao  invés  do  pronome  “loro”  (eles),  que  não  faz  distinção  de
gênero na referência.

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FEMINISMO, GÊNERO, MACHISMO

11 thoughts on “Por que a língua portuguesa não
é machista”

Nayara Macedo diz:
27/06/2012 ÀS 09:49
Excelente texto, Marconi! De fato, muito bem escrito. Porém acredito que haja alguns
equívocos quanto ao objetivo geral da linguagem inclusiva e do feminismo de forma geral.
Em primeiro lugar, acredito que, na realidade, o objetivo maior da linguagem inclusiva não
é mudar a língua portuguesa, nem acusar as pessoas que usam a desinência masculina de
intencionalmente estarem oprimindo ou desclassificando o gênero feminino. Na verdade, a
proposta relaciona‑se com a concepção grega de “Espanto”, ou seja, espantar‑se com o
comum. E com que finalidade? Oras, é através do “espanto” que começamos a nos
questionar e é esse questionamento a intenção primordial de qualquer discurso que seja
essencialmente progressista. Assim, quando se diz “Boa noite a todas e todos”, a intenção
não é acusar aos outros de suprimirem as mulheres no todos, mas sim causar uma reflexão
geral acerca das relações de gênero. Incomoda? Sim, quase tudo que traz um
questionamento metafísico incomoda. É efetivo? Não sei, não me sinto na propriedade de
julgar. A origem da língua, como você mesmo mostrou, é machista, uma vez que data de
uma sociedade patriarcal e a reflexão, mesmo que sem resultados, já é algo positivo. Em 6/15
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uma sociedade patriarcal e a reflexão, mesmo que sem resultados, já é algo positivo. Em
segundo lugar, não considero o direito à voto suficiente. Embora tenha sido um avanço, o
pior tipo de preconceito ainda é aquele que está implícito no cotidiano… Aquele do tipo
“Eu não sou contra gays, mas se meu filho fosse…”. Quando uma mãe manda as filhas
lavarem a louça porque são mulheres, quando as amigas julgam que uma delas porque ela
ficou com mais de um na balada… esse tipo de comportamento é o que mata a igualdade de
gênero a cada dia, a cada hora, a cada minuto que se passa, lentamente e sem misericórdia.
As pessoas costumam exaltar a sociedade atual como se estivéssemos próximos de alguma
utopia, mas estamos bem longe disso e isso deve ser lembrado para que possamos
melhorar. 
Por fim, acho que as últimas dicas no seu texto são bem plausíveis. Eu mesma sempre tento
substituir a designação das pessoas por “pessoal”, palavra que considero bastante inclusiva.
Acho a linguagem inclusiva um tanto cansativa sim, mas acho importante colocá‑la em
alguns casos e não me incomoda utilizá‑la, a não ser que venha com “x” e “@”, porque
assassinar o português também já é demais.

RESPONDER
Marconi Lenza diz:
27/06/2012 ÀS 12:59
Nay, muito obrigado pelo comentário! Essa questão do “espanto” é realmente
interessante e acho que ela mostra a que se propõe quando é falada, ao contrário da
forma escrita. Eu já vi muitos casos em que, não só eu, mas várias outras pessoas mal
conseguiam terminar um texto cheio de barras e x’s. É realmente muito cansativo…

No mais, devo ressaltar uma coisa: eu não coloquei mesmo o direito de voto como
condição suficiente. Na verdade, só quis mostrar que, pelo direito de voto, havia
disparidades dentro das sociedades. Então, como que uma língua (ou sua estrutura)
pode condicionar o modo de pensar de uma sociedade inteira se todas as línguas vieram
de sociedades machistas, mas, ao contrário do português, o inglês não dá preferência ao
gênero masculino em prol do feminino, usando o “they”, que mais se assemelha ao
neutro?

O centro da minha defesa foi que as línguas possuem uma construção/passado
linguístico diferente, o que não tem nada a ver com falta/excesso de machismo na
sociedade – uma vez que AMBAS vieram de sociedades machistas.

Ou seja, dizer que o português é machista porque dá preferência à “eles” quando há
duas mulheres e um homem é uma premissa das mais falsas. Eu mostrei,
historicamente, como o português se assemelha ao latim, língua de que se deu sua
origem. Em Roma, eles realmente não tinham essa preocupação de incluir as mulheres
nos discursos, tanto porque elas não participavam da política, mas no Brasil, a questão é
completamente estilística.

Não há um gênero neutro no português porque ele foi suprimido (mostrei que ainda há
resquícios dele). Então, ao invés de usar o neutro para plurais coletivos, como seria o
sensato, usa‑se o masculino porque, como mostrei nos vários exemplos do latim, ele é o
mais próximo do gênero neutro e acabou tomando seu lugar.

É isso! Grande abraço!

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Marconi Lenza diz:
28/06/2012 ÀS 22:14
Vou fazer um comentário resguardando a ideia geral do texto, que é: a intencionalidade do
locutor é o que importa num discurso e não uma meta‑intencionalidade supostamente
presente na língua que reflete o machismo da História.

Eu vi em um site dizendo que a língua era machista porque:

“Cachorro: o melhor amigo do homem 
Cachorra: puta

Bonequinho: brinquedo 
Bonequinha: puta”

Dentre muitos outros.

Ora, quando falamos em tom pejorativo, é claro que “cachorra” soará como “puta”, esse foi
um dos significados dados a palavras dentre os tempos.

Se alguém quer dizer para ofender: “Sua cachorra!”, certamente soará pejorativo.

Se alguém disser: “Minha cachorra mordeu todos os móveis de casa”. Ninguém, em sã
consciência, pensaria que uma garota de programa mordeu os móveis da casa da pessoa.

Do mesmo modo, se alguém disser: “Minha filha está brincando com sua bonequinha”. Por
favor, não pensem que ela está brincando com uma prostituta.

Enfim, a intencionalidade vem antes da palavra. A palavra é um meio para expressar essa
intencionalidade. A imaginação nunca é limitada pela linguagem, nem a forma como vemos
o mundo. Se assim o fosse, todo e qualquer pintor/escritor/poeta estaria fadado, pois não
poderia mais criar.

A questão psicanalítica sobre a linguagem do consciente e do inconsciente (Carl G. Jung)
afirma não apenas que essas linguagens são diferentes, mas também tem tempos e espaços
diferentes. Como exemplo, como descrever perfeitamente um sonho?

Esse é o único exemplo que consigo pensar sobre como a linguagem pode limitar nossa
expressão, jamais nosso mundo.

O plano do simbólico deve ser considerado a partir da intenção do locutor, nunca fora dela.

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Caique diz:
29/06/2012 ÀS 19:37
Só mais um comentário, agora em relação à seu adendo aqui embaixo: Além disso,
“cachorro” também pode ter uma conotação negativa. Do mesmo jeito que se um
indivíduo vocifera “Sua cachorra!” para uma mulher a ideia transmitida pelo vocábulo é
negativa, se esse mesmo indivíduo berrar “Seu cachorro!” para um homem a ideia seria

bem distante da de “Você é o melhor amigo do homem!”. Nesse caso, a conotação
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bem distante da de “Você é o melhor amigo do homem!”. Nesse caso, a conotação
também seria negativa e se aproximaria bastante do sentido de palavras como
“cafajeste” e mesmo da conotação negativa de “cachorra”.

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Caique diz:
29/06/2012 ÀS 19:38
a seu adendo*, sem a ocorrência da crase, haha. (:

Caique diz:
29/06/2012 ÀS 19:32
Muito bom texto, Marconi! Esse é um assunto do qual eu tenho pouco conhecimento, então
seu artigo me ajudou a ver a situação com mais clareza e menos parcialidade, já que somos
constantemente bombardeados por informações que apenas glorificam a linguagem
inclusiva, não levando em conta a falta de praticidade dela. Poucos são os que se aventuram
a ir contra aquilo que é supostamente “inclusivo” e, muitas vezes, esses poucos acabam
edificando argumentos mais sólidos do que aqueles cuja opinião baseia‑se tão‑somente
numa ideia de que há um preconceito (que pode existir de fato ou não) a ser combatido.
Talvez nunca saibamos qual dos lados tem mais razão neste caso específico, mas
argumentos bem‑estruturados como o seu fomentam o diálogo produtivo e contribuem
para a descoberta de soluções. Como disse, não conheço muito o tema, mas seu texto me
ajudou a refletir mais sobre ele e a questionar ambos as linhas de argumentação. Parabéns!

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Marconi Lenza diz:
30/06/2012 ÀS 05:29
Realmente, Caique. Você levantou dois pontos interessantes. Não há como a linguagem
inclusiva possuir efetividade, já que um homem com um discurso machista pode muito
bem se usar dela (uma linguagem pretensamente neutra) e continuar com um discurso
agressivo e excludente – depois dizem que não se separa discurso/linguagem de
estrutura/palavra. Até você fazer quem pensa o contrário entender isso… (nem tente!).
Além de incluir só quem está disposto a ler aquelas frases maix qux chatxs (e iss@ nã@ é
uma @pinião @penxs minhx), ela exclui, por consequência, quem não está. Não lembram
que a língua é uma questão prática! Se o preconceito com a mulher se manifesta, com
certeza não é na palavra, mas na forma que a palavra é veiculada. As feministas têm é
que mudar a mentalidade das pessoas, não a nossa língua! mas não sei como pretendem
isso já que nem elas são abertas ao diálogo (apesar de dizerem o contrário). A outra é a
questão do “cachorro”, muito bem colocada, que só reafirma a primeira ideia. Há pouco
vêm discordando da minha explicação dizendo que eu ignoro o plano do simbólico, o
que não é verdade. Um símbolo tem vários significados – afinal, a palavra também é um
símbolo e sabemos que ela não guarda apenas um significado. Agora como saber o seu
significado de fato? Ora, analisando o contexto, o conteúdo, a intenção do locutor e por
aí vai. Para entender isso é necessário apenas uma coisa: estar aberto ao diálogo (que
pressupõe convencimento). Eu mesmo ouvi pessoas que só leram o título e me disseram,
de pronto, “vou discordar”. Não se entra numa discussão assim… A não ser para
reafirmar o ego. No mais, obrigado pelo comentário!

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Diego Nardi diz:

02/07/2012 ÀS 01:48
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02/07/2012 ÀS 01:48
Marconi,

Em nenhum momento o movimento feminista nega que é necessário mudar a
mentalidade das pessoas. Ninguém discorda que linguagem inclusiva pode ser
utilizada para veicular concepções nada inclusivas.

A questão da luta está mais ligada ao desvelamento de situações que se encontram
normalizadas ou ocultadas também pela língua, e, além disso, ao anseio das
mulheres de se referenciarem de forma autônoma e livre dentro da linguagem
através da qual constroem suas narrativas, comunicam‑se e discutem no espaço
público.

A linguagem é elemento constituinte do discurso e, como você disse, o discurso está
sempre dentro de um contexto, havendo uma relação entre ele e a estrutura social.
Citando um autor, pois acho muito pertinente, ele diz: “O discurso contribui para a
constituição de todas as dimensões da estrutura social que a moldam e a restringem
direta ou indiretamente: suas normas e convenções, assim como as relações,
identidades e instituições que se encontram por trás destas. O discurso é uma prática
não apenas de representar o mundo, mas de fazê‑lo significar, constituindo e
construindo o mundo com base em significados” (Fairclough).

É através dela que interagimos no mundo e, para além de uma estrutura funcional
entre vocábulos, a linguagem é uma construção social, e as palavras sempre possuem
um conteúdo que encontra referência nesse contexto e há, evidentemente, um
conteúdo que é compartilhado entre os membros da sociedade, mesmo quando há
diferenças entre indivíduo sobe esses significados.Ou seja, a palavra pode ter
inúmeros significados, mas há um que prevalece para cada contexto na qual ela é
utilizada. Assim, sabemos que cachorro e cachorra podem tão somente se referir ao
animal, como podem ter conotação negativa quando se referem às pessoas. Mas,
vejamos outro exemplo: pegador/pegadora. Quando falamos que um homem é
pegador, para a maior parte das pessoas, isso é positivo; porém, ao falarmos que
uma mulher é pegadora, ela com certeza será chamada ou de cachorra ou de galinha
pela maior parte das pessoas. Essa interpretação é inata à língua? Certamente que
não. Mas as palavras, a linguagem, não existem fora do contexto social e seus
significados fazem parte de sua estrutura. Aí está não apenas a função representativa
da linguagem, bem como sua função constitutiva, a atribuição de significado ao
mundo.

Nessa dupla função de elemento que representa/constitui é legítimo que as mulheres
queiram dentro de seus anseios se fazer representadas, possibilitando que nessa
atuação de construção de significados ao mundo ela possam estar também
representadas. Para além disso, não vejo sentido em fazer uma análise linguística da
questão e tentar separá‑la da questão social que subjaz: é natural que não basta
mudar a linguagem, é preciso mudar várias outras coisas. Porém, as próprias regras
linguísticas são fruto de decisões políticas, e você questiona a questão do inglês,
afirmando reiteradamente que ele não é machista. As feministas já encamparam
várias lutas e conquistaram algumas: o pronome de tratamento Ms., que substituiu
Miss/Mrs., a mudança nos substantivos referentes às profissões (policeman passou a
ser police officer), pregam a utilização do termo herstory ao invés de history, enfim,
há várias pautas do movimento feminista por lá que, sinceramente, acho que
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há várias pautas do movimento feminista por lá que, sinceramente, acho que
merecem ser consideradas, afinal, ninguém melhor que as sujeitas da opressão para
determinar se uma língua é ou não um reflexo/barreira da luta por igualdade.

Por não ser possível desvincular linguagem e sociedade, não há como pensá‑la
estática. Já na década de 90 a pauta da linguagem inclusiva era levantada, e, mesmo
após todo esse tempo, os pontos não foram considerados por aqui quando da
reforma ortográfica. Mero preciosismo linguístico? Acredito que não.

A linguagem como meio do discurso, pode tanto reproduzir a sociedade ou
promover mudanças. Mudar uma simples palavra pode ter um efeito revolucionário:
a luta para que o problema de violência doméstica fosse debatido na esfera pública
enquanto um problema social, público, foi alcançado a partir da mudança do termo
que identificava tal conduta – o que era antes “bater na esposa” passou a ser “lesão
corporal contra a mulher”. Ou seja, associando um termo ligado às condutas
criminais iniciou‑se o movimento que retirou a questão da arena de assuntos
privados para a arena de discussão de assuntos públicos.

Não se esqueça que a linguagem não está apenas na fala entre interlocutores: ela está
nas narrativas históricas, em documentos oficiais e em diversos outros textos e
discursos onde não é possível essa análise casual que você propõe, sobretudo em
relação aos textos oficiais, sejam eles decretos, normas, diretrizes, ou qualquer outro
diploma administrativo/legal.

Por fim, acho que é necessário lembrar que a linguagem não é autônoma, ela
depende de nós para que exista. Ela por si só não faz diferença alguma, mas ela pode
abrir caminho para que transformações ocorram.

A própria preocupação de linguistas homens (nunca vi um texto de uma linguista
mulher se opondo à linguagem inclusiva) em defender que a língua não é machista
com base em argumento “técnicos” oriundo do campo da linguagem talvez seja um
reflexo das relações simbólicas que não aceitam/suportam/compreendem a luta das
mulheres para alcançarem a igualdade também na linguagem e elas nem pedem
muito. Pedem que a discriminação de gênero seja eliminada das línguas, e não
obrigam, e nem mesmo pedem, para que as pessoas utilizem x, @, is: é uma sugestão,
o que elas pedem é que, no mínimo, as pessoas tenham consciência da questão e
considerem o movimento, nem que seja por uma nota de rodapé, dizendo que
reconhecem que há discriminação de gênero mas que, por questões estéticas
(menores) irão utilizar esse ou aquele gênero ao longo do texto, da fala, ou vão
alternar aleatoriamente.

Não é uma questão meramente estilística. Está se reproduzindo uma situação de
opressão secular, e, mesmo quando há um debate público sobre a questão, há
insistência de afirmá‑la apenas como uma preferência linguística, já que o gênero
masculino foi utilizado para marcar o gênero neutro, se aproximando dele. Mero
acaso? Claro que não.

Acho que o ponto fraco da sua argumentação é querer justificar que o inglês, oriundo
de uma sociedade machista, não possui traços de machismo e, partindo daí, afirmar
que o português não o seria, sendo mero acaso linguístico a utilização do masculino
como neutro. (“O centro da minha defesa foi que as línguas possuem uma
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como neutro. (“O centro da minha defesa foi que as línguas possuem uma
construção/passado linguístico diferente, o que não tem nada a ver com falta/excesso
de machismo na sociedade – uma vez que AMBAS vieram de sociedades
machistas.”)

Desde as primeiras discussões sobre o texto venho olhando websites de movimentos
feministas em países de língua inglesa. As mulheres possuem várias reivindicações e
lutas no contexto da linguagem inclusiva nesses países, alcançando várias vitórias. E,
como disse, nada melhor que as sujeitas da opressão para apontar se há ou não
opressão.

Sobre a questão da psicanálise e intencionalidade, acho que falei tudo que tinha para
falar no grupo de e‑mails. Fica até a sugestão do texto que o Argolo lembrou, do
Walter Benjamin, que fala sobre a situação dos soldados que retornavam da primeira
guerra.

Enfim, não sou especialista em linguagem, mas tá ae minha opinião.

Abraços

Marconi Lenza diz:
02/07/2012 ÀS 02:46
Muito pertinentes seus comentários, Diego. Isso que você falou me confunde: o que o
movimento quer não é impor o uso de x, @ etc. O problema é que o movimento é por
demais descentralizado. Quando eu critico uma parte, vem outra me dizendo que o
movimento não diz isso, mas alguns integrantes. Por fim, isso me deixa confuso.

Mas deixa eu responder aqui, gostei muito do seu comentário.

Eu concordo com quase tudo que você disse! mas isso só reforça minha ideia de que temos
que mudar a mentalidade das pessoas e não a língua. Temos que fazer as pessoas tirarem
esses significados pejorativos que !elas colocaram! nas palavras por preconceito. Quando o
preconceito não mais existir, nem precisaremos nos remeter a esses significados, deixando
as palavras intocáveis.

Dois destaques: “Não é uma questão meramente estilística. Está se reproduzindo uma
situação de opressão secular, e, mesmo quando há um debate público sobre a questão, há
insistência de afirmá‑la apenas como uma preferência linguística, já que o gênero masculino
foi utilizado para marcar o gênero neutro, se aproximando dele. Mero acaso? Claro que
não.”

Não é mesmo mero acaso. “(…) a razão pela qual usamos o gênero masculino para nos
referir a homens e mulheres não é ideológica, mas fonética. Em latim, havia três gêneros –
masculino, feminino e neutro –, cujas terminações mais frequentes eram ‑us, ‑a e ‑um. O
chamado gênero complexo, que agrupa substantivos de gêneros diferentes, era indicado em
latim pelo neutro.

Quando, por força da evolução fonética, as consoantes finais do latim se perderam, as
terminações do masculino e do neutro se fundiram, resultando nas desinências portuguesas
‑o e ‑a, características da maioria das palavras masculinas e femininas, respectivamente. Ou

seja, o nosso gênero masculino é também gênero neutro e complexo. Portanto, não há nada
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seja, o nosso gênero masculino é também gênero neutro e complexo. Portanto, não há nada
de ideológico, muito menos de machista, na concordância nominal do português.” (Aldo
Bizzocchi)

Além do mais eu mostrei no meu texto porque elas se fundiram – devido a sua enorme
semelhança. Apesar de não conhecer de todo, mas comparando o que já conheço, nos textos
latinos não se referia a duas mulheres e um homem, eles nem tinham essa preocupação. A
ideia de indivíduo nem existia nessa época.

E, Diego, sobre seus argumentos de inglês. Não sei onde você procurou, mas não sei se elas
são muito confiáveis. Veja:

Origin: 
1795–1805; police + ‑man

Related forms 
po∙lice∙man∙like, adjective

Origin: 
1850–55; police + ‑woman (nessa época o movimento feminista nem sequer existia e o
número de mulheres na polícia devia ser tão pequeno ou inexistente que era totalmente fora
de prática dar um nome a elas).

police officer  
noun
1.
any policeman or policewoman; patrolman or patrolwoman. 
2.
a person having officer rank on a police force.

Origin: 
1790–1800

O termo police officer é inclusive anterior ao termo “policeman”! Cheque suas fontes
(provavelmente deve ser alguma feminista que escreveu isso, tenho certeza – e depois você
diz que não é sensato procurar a raiz das palavras =P)

Fonte: Dictionary.com

Agora observe isso:

her∙sto∙ry   [hur‑stuh‑ree, hurs‑tree] 
noun, plural her∙sto∙ries. 
history (used especially in feminist literature and in women’s studies as an alternative form
to distinguish or emphasize the particular experience of women).
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23/05/2016 Por que a língua portuguesa não é machista – PET Direito UnB

to distinguish or emphasize the particular experience of women).

Origin: 
1975–80

O uso da palavra é recente e foi um neologismo criado pelas próprias feministas para
enfatizar uma forma de experiência própria das mulheres (não estou vendo homens aí
também).

Agora o termo History:

his∙to∙ry   [his‑tuh‑ree, his‑tree] 
noun, plural his∙to∙ries. 
1.
the branch of knowledge dealing with past events. 
2.
a continuous, systematic narrative of past events as relating to a particular people, country,
period, person, etc., usually wriᜂen as a chronological account; chronicle: a history of
France; a medical history of the patient. 
3.
the aggregate of past events. 
4.
the record of past events and times, especially in connection with the human race. 
5.
a past notable for its important, unusual, or interesting events: a ship with a history.

(não vejo nenhuma referência a mulher ou homens aí… o termo “herstory” quer
individualidade, o “history” nem com isso se preocupa)

Origin: 
1350–1400; Middle English historie < Latin historia < Greek historía learning or knowing by
inquiry, history; derivative of hístōr one who knows or sees (akin to wit, video, veda)

O termo ʺhistoryʺ data de 1350! E ainda vem do grego. Essas feministas que disseram isso
realmente pensavam que não era necessário estudar línguas (nem precisava dizer). História
significa ʺpesquisaʺ em grego e, nem em latim, o prefixo ʺhisʺ tem qualquer menção ao sexo
masculino. Isso foi a coisa mais absurda que eu já ouvi na vida (com todo respeito). Só falta
elas virem dizer que ʺhistologyʺ não estuda os tecidos, mas os homens.

No caso de “Ms.” você está certo.

“Ms. came into use in the 1950s as a title before a woman’s surname when her marital status
was unknown or irrelevant. In the early 1970s, the use of Ms. was adopted and encouraged
by the women’s movement, the reasoning being that since a man’s marital status is not
revealed by the title Mr., there is no reason that a woman’s status should be revealed by her
title. Since then Ms. has gained increasing currency, especially in business and professional
use.”

Essa questão me incomoda muito, mas vou deixar de comentar porque não tenho
conhecimento suficiente. Enfim…

A língua vai mudando e não é por causa do machismo! Olhe, tenho datas a provar!
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23/05/2016 Por que a língua portuguesa não é machista – PET Direito UnB

A língua vai mudando e não é por causa do machismo! Olhe, tenho datas a provar!

man∙kind   [man‑kahynd for 1; man‑kahynd for 2] 
noun
1.
the human race; human beings collectively without reference to sex; humankind. 
2.
men, as distinguished from women. 
Origin: 
1250–1300; Middle English;

hu∙man∙kind   [hyoo‑muhn‑kahynd, ‑kahynd or, often, yoo‑] 
noun
human beings collectively; the human race. 
Origin: 
1635–45; (a sociedade ainda era machista! lembra‑te! nem preciso dizer que não havia
feminismo nessa época)

No mais, eu sempre aprecio seus comentários! Me fizeram pesquisar e aprender bastante
(além do seu próprio comentário). Vê se aparece terça‑feira quando formos discutir meu
artigo sobre democracia lá na sala do PET, por favor!!! Agora vou ler o ʺDeath in Veniceʺ do
Thomas Mann que você tinha recomendado. Abraços!

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plurais diferenciados – a farpa diz:
25/01/2016 ÀS 23:38
[…] colectivo como sendo masculino, não por falta de respeito a uma suposta minoria
feminina – ou porque a língua portuguesa é Machista ‑, mas porque a sua génese vem do
latim e do sujeito […]

RESPONDER
Diᜂo Cunha diz:
30/01/2016 ÀS 22:33
E os coletivos “turma”, “equipe”, “galera” não contam? Por que ninguém luta pelo
feminino de “monstro”? Um homem pode ser uma vítima e uma pessoa porque essas duas
palavras são femininas. 
A linguagem inclusiva me soa como mais uma demagogia esquerdista.

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