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PEÇA RECURSAL

AO DOUTO JUÍZO DA 2º VARA DO TRABALHO

Processo de origem:
Dilson Neto e Tyler Hirtz Neto, ora recorrentes, já qualificados nos autos do
processo em referência, patrocinado pelo seu advogado regularmente
constituído com procuração anexa e ao final signatário, estabelecido no
endereço ..., inconformado com a vossa respeitável sentença às flsXXX, vem
interpor o presente:

RECURSO ORDINÁRIO

Amparado no art. 895, inciso I da CLT, visando à revisão da decisão, a partir


dos fatos e dos direitos a seguir expostos.

E, nesse mister, inclui-se a viabilidade do recurso de revista com o objetivo de


revisão do valor arbitrado, por eventual ofensa ao artigo 944 do Código Civil,
que assim dispõe:
"Artigo 944 — O valor da indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa
e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização".
A doutrina e a jurisprudência reconhecem que para a correta adequação do
valor da indenização devida diante do ato ilícito praticado, é possível a
instância revisora aumentar ou reduzir o valor dessa indenização, moldando-a
à extensão do dano a que se refere a lei.
Termos em que pede deferimento.

XXXXXXX/XX, XX de XXXXX de XXXX

Advogado

OAB/XX NºXXXXX

2º Vara do Trabalho de XXXXXXXXX/XX.


Processo nº XXXXXXX-XX.XXXX.XXX.XXXX

Recorrente: XXXXXXXXX

Recorrido: XXXXXX

Egrégio Tribunal Regional do Trabalho

Colenda Turma

Senhores Desembargadores

I – DOS FATOS

A reclamação trabalhista ajuizada por XXXXXX foi julgada parcialmente


procedente, sendo

deferidos os feriados laborados (em dobro), uma hora extra decorrente do não
gozo regular do intervalo intrajornada e indenização por danos morais no
importe de R$ 10.000,00.

Todavia, foram julgados improcedentes os pedidos de pagamento das horas


extras além da 8ª diária pela adoção do regime 12x36 sem respaldo em normal
coletiva, dos domingos trabalhados (em dobro), a reversão da justa causa e a
multa do art. 477, § 8º, da CLT.

O reclamante ainda foi condenado ao pagamento de honorários advocatícios


nos termos do art. 791-A da CLT, cuja redação foi dada pela Lei n. 13.467/17.

II – DOS DIREITOS
No tocante ao mérito rechaçar os fundamentos constantes na sentença acerca
da improcedência do pedido de pagamento do adicional de horas extras.

O principal argumento a ser utilizado no tocante à invalidade do regime 12x36 é


a falta de amparo em norma convencional, o que é exigido pelo art. 7º, inciso
XIII, da Constituição Federal de 1988 e pela Súmula n. 444 do TST, a qual
vejamos abaixo:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e
quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; (vide Decreto-Lei
nº 5.452, de 1943).

SÚMULA N.º 444 - JORNADA DE TRABALHO: é valida, em caráter


excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso,
prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de
trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em
dobro dos feriados trabalhados.

Em relação aos domingos, deve-se invocar que a jornada 12x36 não é válida, o
que macula a alegada compensação do domingo com folga em outro dia da
semana.

O fundamento a ser utilizado para combater a justa causa aplicada e mantida


pela decisão de primeiro grau é de que houve desproporcionalidade entre a
medida e o ato do trabalhador, ainda mais que ele não tinha qualquer prévia
advertência ou suspensão.

Uma vez dado provimento ao Recurso Ordinário no que diz respeito à justa
causa, deve-se deferir a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, conforme
demonstrado abaixo:

Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder à


anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa
aos órgãos competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no
prazo e na forma estabelecidos neste artigo. (Redação dada pela Lei nº
13.467, de 2017)

§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o infrator à


multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor
do empregado, em valor equivalente ao seu salário, devidamente corrigido pelo
índice de variação do BTN, salvo quando, comprovadamente, o trabalhador der
causa à mora. (Incluído pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989)

Vejamos de forma detalhada, conforme demonstra-se abaixo:

1) Recurso Ordinário

O art. 895 da CLT dispõe que é cabível Recurso Ordinário das decisões
definitivas ou terminativas do feito prolatadas pelas Varas do Trabalho ou “das
decisões definitivas ou terminativas dos Tribunais Regionais, em processos de
sua competência originária”, sempre no prazo de 08 (oito) dias. Além disso, é
possível sua interposição nas hipóteses elencadas na Súmula n. 214 do TST.

O Recurso Ordinário é o meio adequado para recorrer da parte da decisão que


lhe foi desfavorável, devolvendo à instância superior toda a discussão sobre a
matéria tratada na peça recursal.

Ele é dirigido a quem prolatou a decisão, que fará o primeiro juízo de


admissibilidade, isto é, verificará se é tempestivo, se as custas e o depósito
recursal foram recolhidos corretamente, se o recorrente está regularmente
representado, assim como se o recorrente tem legitimidade e capacidade para
a interposição do Recurso Ordinário.

Admitido o recurso, será intimada a parte adversa para apresentar


contrarrazões no prazo de 08 (oito) dias (art. 900, da CLT).

2) Pressupostos ou requisitos recursais

Para que os recursos trabalhistas sejam interpostos é necessário que sejam


observados alguns pressupostos ou requisitos.
O primeiro deles é o cabimento do recurso, isto é, cada recurso tem sua
hipótese de cabimento definida em lei.

Deste requisito emana outro, que é denominado de “adequação”. Segundo ele


cada recurso é legalmente previsto para combater determinado tipo de decisão,
sendo, portanto, adequado a cada uma.

A tempestividade é talvez o requisito mais conhecido. Diz respeito ao prazo


que a parte tem para apresentar ao Poder Judiciário o seu inconformismo com
a decisão prolatada. Via de regra, os prazos recursais trabalhistas são de 08
dias.

O novo Código de Processo Civil prevê, em seu art. 219, que os prazos devem
ser contados em dias úteis. Entretanto, esta regra não se aplicava ao Direito
Processual do Trabalho, uma vez que contraria o princípio da celeridade
processual. Todavia, a Lei n. 13.467/17, alterou a redação do art. 795, da CLT,
passando a prever que os prazos no Direito Processual do Trabalho também
devem ser contados em dias úteis.

O preparo, quarto requisito, abrange o pagamento das custas e o depósito


recursal.

As custas devem ser pagas na ordem de 2% do valor arbitrado à condenação,


conforme disposição do art. 789, inciso I, da CLT. Devem ser comprovadas nos
autos, pelo vencido, no prazo recursal.

No Direito Processual do Trabalho, deve-se analisar o disposto no art. 789, da


CLT, a fim de verificar a necessidade de pagamento das custas processuais,
notadamente se houver sido concedida a assistência judiciária gratuita.

O depósito recursal nada mais é do que garantia antecipada do juízo. Todavia,


a reclamada não pode ser compelida a depositar à disposição da Justiça do
Trabalho vultosas quantias quando o valor arbitrado à condenação for elevado,
sob pena de impedir que seja interposto qualquer recurso.
Neste contexto, anualmente, o Tribunal Superior do Trabalho atualiza os
valores máximos que a reclamada tem que depositar quando for feita a
interposição de cada recurso1. Assim, se o valor da condenação for superior à
quantia descrita na tabela do TST para aquele recurso, o depósito recursal
deve ser feito no limite previsto pelo Tribunal.

Da mesma forma que as custas, o seu pagamento deve ser comprovado nos
autos no prazo recursal, não sendo possível a concessão de prazo para
posterior demonstração de sua correta quitação.

Tendo em vista sua natureza de garantia, o reclamante não irá efetuar o


depósito recursal, uma vez que é credor de eventuais valores a serem
deferidos na ação judicial. Pelo mesmo motivo, ele somente é exigível nas
obrigações em pecúnia, ou seja, quando há a condenação da reclamada para
pagamento de valores, sendo dispensado nas ações judiciais meramente
declaratórias.

Por fim, ainda em relação a este tema, deve-se frisar a natureza de garantia do
depósito recursal, de modo que a quantia depositada não pode ser sacada pelo
reclamante ou pela reclamada (caso a demanda seja improcedente) enquanto
o processo não transitar em julgado.

O quinto requisito recursal é a regular representação processual. Antes do


advento do novo Código de Processo Civil o Direito Processual do Trabalho
não admitia a regularização da representação processual na fase recursal.
Dessa forma, se o recurso fosse assinado por advogado não constituído nos
autos, por exemplo, ele não era conhecido, não tendo a parte prazo para sanar
o vício.

O CPC de 2015 prevê, em seu art. 76, a possibilidade de regularização da


representação processual também na fase recursal, o que foi admitido pelo
Processo do Trabalho. Diante da nova previsão legal o TST alterou a redação
da Súmula n. 383, que passou a ter a seguinte redação:

Súmula nº 383 do TST

RECURSO. MANDATO. IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO. CPC DE


2015, ARTS. 104 E 76, § 2º (nova redação em decorrência do CPC de 2015)-
Res. 210/2016, DEJT divulgado em 30.06.2016 e 01 e 04.07.2016
I – É inadmissível recurso firmado por advogado sem procuração juntada aos
autos até o momento da sua interposição, salvo mandato tácito. Em caráter
excepcional (art. 104 do CPC de 2015), admite-se que o advogado,
independentemente de intimação, exiba a procuração no prazo de 5 (cinco)
dias após a interposição do recurso, prorrogável por igual período mediante
despacho do juiz. Caso não a exiba, considera-se ineficaz o ato praticado e
não se conhece do recurso.

II – Verificada a irregularidade de representação da parte em fase recursal, em


procuração ou substabelecimento já constante dos autos, o relator ou o órgão
competente para julgamento do recurso designará prazo de 5 (cinco) dias para
que seja sanado o vício. Descumprida a determinação, o relator não conhecerá
do recurso, se a providência couber ao recorrente, ou determinará o
desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido
(art. 76, § 2º, do CPC de 2015).

Como se infere, a parte terá o prazo de 5 (cinco) dias para sanar o vício de
representação também na fase recursal.

Para que seja possível a interposição de recurso não pode haver fato
incompatível, extintivo ou impeditivo do direito de recorrer, como, por exemplo,
acordo superveniente, renúncia ao direito de recorrer, cumprimento espontâneo
da decisão, dentre outros.

O sétimo requisito é a legitimidade, ou seja, somente pode apresentar recurso


a quem a lei conferiu este direito: à parte vencida, ao terceiro prejudicado e ao
Ministério Público do Trabalho, como parte ou como fiscal da lei (aplicação
subsidiária do art. 996 do CPC de 2015).

Por fim, a parte tem que ter interesse em recorrer, isto é, tem que ser
minimamente sucumbente no objeto da demanda para que possa recorrer
daquilo que lhe foi desfavorável.

Todavia, além das questões procedimentais, deve-se, também, analisar o


Direito Material do Trabalho que pode amparar a pretensão recursal de Albano
Machado.

3) Horas extras
A sentença julgou improcedente o pedido de pagamento de horas extras ao
fundamento de que não deve ser aplicada ao caso em comento a Súmula n.
444, do Colendo TST, isto é, a exigência de negociação coletiva para a
validade do regime 12x36 pode ser afastada. Ainda mais quando se trata de
atividade de cunho social exercida pelo trabalhador, em prol de família que não
visa lucro com a prestação de serviços contratada.

A interpretação do art. 7º, inciso XIII, da Constituição Federal de 1988 é


fundamental, pois prevê que a jornada máxima permitida por dia é de oito
horas, salvo pactuação por Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho, o que
inexiste na espécie.

Além disso, a Súmula n. 444, do TST, dispõe que é necessária previsão em lei
ou negociação coletiva para que a adoção do regime 12x36 seja considerada
válida.

4) Trabalho aos domingos

A sentença também indeferiu ao trabalhador o pagamento em dobro dos


domingos trabalhados. O fundamento utilizado foi de que o domingo passa a
ser dia normal com a adoção do regime 12x36, sendo compensado com outro
dia de folga, o que não viola o disposto na Lei n. 605/49 e art. 7º, inciso XV, da
Constituição Federal de 1988.

Esta questão já está pacificada pela jurisprudência do TST consoante a tese


adotada na decisão de primeiro grau.

Todavia, os entendimentos judiciais são mutáveis, cabendo aos operadores do


direito demonstrarem o caminho para esta mudança.

Nesta linha de raciocínio, ressalta-se que no caso em comento a jornada 12x36


não é válida, eis que não amparada por lei ou norma coletiva. Assim, a
eventual compensação do domingo por folga noutro dia da semana não tem
validade jurídica.

5) Justa causa
A justa causa foi mantida ao fundamento de que o trabalhador chegou bêbado
ao trabalho, o que constitui falta grave o suficiente para ensejar esta medida
extrema.

Neste particular, os fundamentos a serem utilizados no recurso não devem ser


aqueles constantes da petição inicial, pois ao longo da instrução processual e
na sentença restou consignado que a dispensa por justa causa não se deu em
razão das discussões entre as partes, mas exclusivamente pelo fato de ter ido
laborar bêbado.

Um dos princípios que devem ser observados quando da aplicação da justa


causa é o da proporcionalidade entre o ato praticado e a medida extrema.

No caso em comento, a sentença informa a inexistência de outras penalidades


sofridas pelo trabalhador, tendo a única testemunha ouvida no feito afirmado
que ele era um bom trabalhador. Assim alega-se a desproporcionalidade da
pena.

6) Multa do art. 477, 8º, da CLT

No tocante à multa do art. 477, § 8º, da CLT, a decisão de primeiro grau


indeferiu o pleito em razão de ter sido mantida a justa causa.

Em grau recursal, deve-se requerer o seu deferimento justamente com fulcro


na reversão da justa causa, ou seja, como consectário lógico desta, conforme
jurisprudência majoritária.

7) Honorários advocatícios

O trabalhador foi condenado ao pagamento de honorários advocatícios no


importe de 5% do valor da condenação apurado em sede de liquidação de
sentença.

Para combater esta condenação deve-se lançar mão, primeiramente, do direito


intertemporal, ou seja, mesmo a reclamação trabalhista sendo distribuída antes
da vigência da reforma trabalhista (Lei n. 13.467/17) a nova regra dos
honorários advocatícios prevista no art., 791-A, da CLT, vai ser aplicada?

Além disso, questiona-se a constitucionalidade da disposição do art. 791-A, da


CLT. Os argumentos a serem lançados na peça recursal são os mesmos
utilizados na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 5766, em trâmite no
Supremo Tribunal Federal.

III – DO PEDIDO

a) Requer-se da condenação ao pagamento de honorários advocatícios. Um


dos

argumentos é de que a petição inicial foi distribuída antes da vigência da Lei n.


13.467/17, que o instituiu.

b) Requer-se um entendimento a respeito do valor determinado para


pagamento dos honorários advocatícios, visto que questiona-se a
constitucionalidade do art. 791-A, da CLT, vez que um beneficiário da justiça
gratuita é reconhecido pelo Poder Judiciário como incapaz de arcar com os
custos processuais.

c) Reque-se o provimento do Recurso Ordinário.

Termos em que pede deferimento.

Cidade, XX de abril de XXXX.

Assinatura do Advogado

OAB/XX XXXX

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