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Eca STF
Eca STF
ECA
São constitucionais o art. 16, I, o art. 105, o art. 122, II e III, o art. 136, I, o art. 138 e o art. 230
do ECA.
Tais dispositivos estão de acordo com o art. 5º, caput e incisos XXXV, LIV, LXI e com o art.
227 da CF/88.
Além disso, são compatíveis com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH),
a Convenção sobre os Direitos da Criança, as Regras de Pequim para a Administração da
Justiça de Menores e a Convenção Americana de Direitos Humanos.
STF. Plenário. ADI 3446/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 7 e 8/8/19 (Info 946).
OBS:
Veja os dispositivos do ECA que foram objeto da ADI:
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais;
Exige-se alguma autorização especial para isso? SIM. O ECA exige um pronunciamento
judicial para esses casos. Confira:
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou
autorizar, mediante alvará: (...)
II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios; (...)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em
conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
d) o tipo de frequência habitual ao local;
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e
adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
Sempre se entendeu que a competência para esse ato era da Vara da Infância e Juventude
(Justiça Estadual). Até mesmo porque é essa a redação expressa do art. 146 do ECA:
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da
Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de organização
judiciária local.
Ocorre que, em 2004, com a EC 45, surgiu uma nova tese a respeito do tema. Isso porque esta
Emenda ampliou o rol de competências do art. 114 da CF/88 e parcela da doutrina e
jurisprudência passou a defender que a competência para autorizar a participação de
crianças e adolescentes em “representações artísticas” seria agora da Justiça do Trabalho, com
base no art. 114, I e IX, da CF/88:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito
público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (...)
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.
O STF concordou com esta tese? NÃO. É a medida cautelar na ADI 5326/DF, veiculado no
Info 917 do STF.
Proteção das crianças e adolescentes: A CF/88 dedicou um capítulo para tratar sobre a
família, a criança, o adolescente, o jovem e o idoso. No art. 227 prevê que:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
O legislador ordinário, ao concretizar o comando do art. 227 da CF/88, editou o Estatuto da
Criança e do Adolescente e previu a chamada “Justiça da Infância e da Juventude”. O ECA
determinou, então, que o Juiz da Infância e da Juventude é a autoridade judiciária
responsável pelos processos de tutela integral das crianças e adolescentes. Trata-se de
competência fixada em razão da matéria, de caráter absoluto, e em proveito da especial
tutela requerida pelo grupo de destinatários: crianças e adolescentes.
Competência para autorizar a participação em eventos artísticos: Uma das atribuições
impostas ao Juiz da Infância e da Juventude foi justamente a de autorizar a participação de
menores em eventos artísticos (art. 149, II, ECA), autorização a ser implementada mediante a
expedição de alvará específico.
Natureza cível da cognição (ausência de discussão quanto à relação de trabalho): No § 1º do
art. 149 estão listados os fatores que o juiz deverá levar em consideração para conferir a
referida autorização. Ao se analisar tais fatores, percebe-se que o magistrado faz uma
cognição de “natureza cível”, não havendo exame de “relação de trabalho”. A análise se faz
acerca das condições da representação artística. O juiz deve investigar se essas condições
atendem à exigência de proteção do melhor interesse do menor, contida no art. 227 da
CF/88. Assim, o referido pedido de autorização possui natureza eminentemente cível,
relacionado ao Direito da Criança e do Adolescente. A sua causa de pedir envolve a
verificação da preservação integral dos direitos do menor, como, por exemplo, educação,
saúde, alimentação, convivência familiar, cultura e dignidade, que não podem ser
prejudicados pelo desempenho da atividade artística. Dessa forma, o art. 114, I e IX, CF/88,
que estabelece a competência da Justiça do Trabalho, não alcança os casos de pedido de
autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos,
considerando que não há, no caso, conflito atinente a relação de trabalho. Vale ressaltar que
esse é também o entendimento do STJ:
O pedido de alvará para autorização de trabalho a menor de idade é de
conteúdo nitidamente civil e se enquadra no procedimento de jurisdição
voluntária, inexistindo debate sobre qualquer controvérsia decorrente de
relação de trabalho, até porque a relação de trabalho somente será instaurada
após a autorização judicial pretendida. STJ. 1ª S. CC 98.033/MG, Rel. Min.
Castro Meira, j. 12/11/08.
Caso concreto julgado pelo STF: Alguns Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais do
Trabalho, em conjunto com Ministérios Públicos Estadual e do Trabalho editaram
recomendações dizendo que a competência para autorizar a participação de crianças e
adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. Foi o caso, por
exemplo:
• da Recomendação Conjunta 1/14 das Corregedorias dos Tribunais de Justiça e do
Trabalho, e dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, todos do Estado de São Paulo; e
• da Recomendação Conjunta 1/14, dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, e das
Corregedorias do Tribunal de Justiça e do Trabalho, todos do Estado de Mato Grosso.
Além disso, o TRT da 2ª Região também baixou um Provimento (GP/CR 7/14) no mesmo
sentido.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra esses
atos normativos.
Em 2015, Min. Relator Marco Aurélio, monocraticamente, deferiu liminar para suspender os
atos e para determinar que os pedidos de autorização de trabalho artístico para crianças e
adolescentes fossem apreciados pela Justiça Comum. Em 2018, o STF referendou a medida
liminar concedida e suspendeu a eficácia das normas impugnadas. Para a maioria dos
Ministros, a matéria é de competência da Justiça comum. Os Ministros entenderam que os
atos normativos impugnados possuem vícios de inconstitucionalidade formal e material:
Ex: um programa de TV que não exiba cenas de violência, sexo ou uso de drogas é
classificado como "livre para todos os públicos". Se ele tiver cenas de nudez velada,
insinuação sexual, linguagem de conteúdo sexual, simulações de sexo etc., poderá ser
classificado como "recomendado para maiores de 12 anos".
O governo estipulou horários em que cada um desses programas deverá passar de acordo
com a faixa etária que ele foi enquadrado. Ex: o programa livre para todos os públicos poderá
ser exibido em qualquer horário; por outro lado, o programa recomendado para maiores de
12 anos somente podia ser transmitido a partir de 20h.
Quem faz essa classificação? O Ministério da Justiça, por meio de um setor específico que
cuida do assunto. Há uma portaria que regulamenta o tema (Portaria 368/2014-MJ).
Quais os critérios utilizados? Existe uma espécie de "manual" utilizado pelo MJ para fazer
esta classificação. Há, em resumo, três critérios de análise: a) violência; b) sexo e nudez; c)
drogas. A partir daí, o programa pode ser classificado em seis diferentes faixas: livre, 10, 12,
14, 16 ou 18 anos. No rádio e na TV aberta existem horários apropriados para que estes
programas sejam exibidos, de acordo com a faixa etária classificada.
A Constituição Federal trata sobre o assunto? Sim. O tema é tratado em alguns dispositivos
da CF/88. Confira:
Art. 21. Compete à União:
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;
Duplo dever: Repare que, de acordo com a redação do art. 254 do ECA, as emissoras de rádio
e TV possuíam dois deveres impostos por lei:
1) Avisar, antes de o programa começar, qual é a classificação etária do espetáculo (aquele
famoso aviso: "programa recomendado para todos os públicos" ou "programa recomendado
para maiores de 12 anos");
2) Somente transmitir os programas nos horários compatíveis com a sua classificação etária.
Ex: se o programa foi recomendado para maiores de 12 anos, ele não podia ser exibido antes
das 20h.
ADI: Em 2001, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ingressou com uma ADI contra o art.
254 do ECA alegando que ele violou o art. 5º, IX (liberdade de expressão), o art. 21, XVI e o
art. 220, caput e parágrafos, da CF/88. Isso porque o art. 254 do ECA extrapolou o que
determina a Constituição Federal, já que impôs que as emissoras de rádio e TV somente
exibissem os programas em determinados horários sob pena de serem punidas
administrativamente.
O STF finalmente enfrentou o tema. O que foi decidido? A ADI foi julgada procedente? SIM.
O STF julgou a ADI procedente e decidiu que: É inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837).
Proteção das crianças e adolescentes: Por outro lado, a criança e o adolescente, pela posição
de fragilidade em que se colocam, devem ser destinatários, tanto quanto possível, de normas
e ações protetivas voltadas ao seu desenvolvimento pleno e à preservação contra situações
potencialmente danosas a sua formação física, moral e mental.
Necessidade de compatibilizar tais valores: O caso em tela envolve dois valores
constitucionais que devem ser sopesados para uma correta decisão: de um prisma, a
liberdade de expressão nos meios de comunicação; de outro, a necessidade de garantir a
proteção da criança e do adolescente.
O que fez a Constituição Federal para compatibilizar esses dois valores? Ela determinou, em
seu art. 21, XVI e art. 220, § 3º, que fosse criado um sistema de classificação indicativa dos
espetáculos. Assim, os programas devem ser classificados de acordo com faixas etárias e essa
classificação deve ser divulgada aos telespectadores a fim de que eles tenham as informações
necessárias para decidir se permitem ou não que as crianças e adolescentes assistam tais
programas. No entanto, em nenhum momento o texto constitucional determinou que as
empresas sejam obrigadas a veicular os programas em determinados horários, sob pena de
punição. O sistema de classificação indicativa foi o ponto de equilíbrio tênue adotado pela
Constituição para compatibilizar os dois postulados, a fim de velar pela integridade das
crianças e dos adolescentes sem deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de
expressão. A classificação dos produtos audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos
pais a existência de conteúdo inadequado para as crianças e os adolescentes. Essa
classificação desenvolvida pela União possibilita que os pais, calcados na autoridade do
poder familiar, decidam se a criança ou o adolescente pode ou não assistir a determinada
programação.
Censura prévia: A expressão “em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 do
ECA, embora não impedisse a veiculação de ideias, não impusesse cortes nas obras
audiovisuais, mas tão-somente exigisse que as emissoras veiculassem seus programas em
horário adequado ao público-alvo, implicava verdadeira censura prévia, acompanhada de
elemento repressor, de punição. Esse caráter não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, XVI; e
220, § 3º, I, todos da CF/88.
Efeito pedagógico: A exibição do aviso de classificação indicativa deve ter apenas efeito
pedagógico, a exigir reflexão por parte do espectador e dos responsáveis. É dever estatal,
nesse ponto, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver
programas educativos acerca desse sistema. Além disso, o controle pelos pais e responsáveis
sobre os programas assistidos pelas crianças e adolescentes pode ser feito com o auxílio de
meios eletrônicos de restrição de acesso a determinados programas, como já feito em outros
países. Essa tecnologia, inclusive, é de uso obrigatório no Brasil, apesar de ainda não adotada
na prática, conforme previsto no art. 1º da Lei nº 10.359/2001:
Art. 1º Os aparelhos de televisão produzidos no território nacional deverão
dispor, obrigatoriamente, de dispositivo eletrônico que permita ao usuário
bloquear a recepção de programas transmitidos pelas emissoras, concessionárias
e permissionárias de serviços de televisão, inclusive por assinatura e a cabo,
mediante:
I - a utilização de código alfanumérico, de forma previamente programada; ou
II - o reconhecimento de código ou sinal, transmitido juntamente com os
programas que contenham cenas de sexo ou violência.
Outros dispositivos do ECA: O ECA possui outro dispositivo parecido que trata sobre o
tema, mas que não foi impugnado nem declarado inconstitucional. Trata-se do art. 76, que
possui a seguinte redação:
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário
recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades
educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso
de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
Este dispositivo não estabelece nenhuma punição para as emissoras de rádio e TV que
exibirem programas fora de horários estipulados pelo Poder Público. Por essa razão, não é
considerado inconstitucional, já que não viola a liberdade de expressão. Cuidado nas provas
porque o enunciado da questão pode tentar confundir você.
2. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
2.1. Impossibilidade de privação da liberdade em caso da prática de ato infracional
equiparado ao art. 28 da LD – (Infos 772 e 742) – IMPORTANTE!!!
3. INTERNAÇÃO
3.1. Internação só é cabível nos casos do art. 122 do ECA – (Info 818)
O juiz somente pode aplicar a medida de internação ao adolescente infrator nas hipóteses
taxativamente previstas no art. 122 do ECA, pois a segregação do adolescente é medida de
exceção, devendo ser aplicada e mantida somente quando evidenciada sua necessidade, em
observância ao espírito do Estatuto, que visa à reintegração do menor à sociedade.
A imposição de medida socioeducativa de internação deve ser aplicada apenas quando não
houver outra medida adequada: Assim, quando for aplicada a internação, o magistrado
deverá adotar uma fundamentação idônea que apresente justificativas concretas para a
escolha dessa medida socioeducativa. No caso concreto, um adolescente recebeu a medida de
internação por ter praticado tráfico de droga (maconha). Vale ressaltar que não houve uso de
violência e que ele não possuía outros antecedentes de atos infracionais. Diante disso, o STF
concedeu habeas corpus de ofício para determinar que o adolescente cumpra outra medida
diversa da internação.
5. AUDIÊNCIA DE APRESENTAÇÃO
5.1. Realização de estudo técnico de que trata o art. 186 do ECA
O art. 186 do ECA determina que, na audiência de apresentação, o juiz irá ouvir o
adolescente, seus pais ou responsável, “podendo solicitar opinião de profissional
qualificado”.
A realização desse estudo (“opinião de profissional qualificado”) de que trata o art. 186 do
ECA é obrigatória?
NÃO. Segundo decidiu a 1ª Turma do STF, o referido estudo serve para auxiliar o juiz,
especialmente para avaliar a medida socioeducativa mais adequada, não sendo, contudo,
obrigatório. Assim, não há nulidade do processo por falta desse laudo técnico, uma vez
que se trata de faculdade do magistrado, podendo a decisão ser tomada com base em
outros elementos constantes dos autos
STF. Primeira Turma. HC 107473/MG, rel. Min. Rosa Weber, 11/12/2012.