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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

ECA

Atualizado em 12/12/2020: novos julgados + questões de concurso

Pontos atualizados: nº 01 (Info 946)

1. ASPECTOS CÍVEIS DA PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE


1.1. RECOLHIMENTO COMPULSÓRIO DE CRIANÇAS: São constitucionais os
dispositivos do ECA que proíbem o recolhimento compulsório de crianças e adolescentes,
mesmo que estejam perambulando nas ruas – (Info 946)

São constitucionais o art. 16, I, o art. 105, o art. 122, II e III, o art. 136, I, o art. 138 e o art. 230
do ECA.
Tais dispositivos estão de acordo com o art. 5º, caput e incisos XXXV, LIV, LXI e com o art.
227 da CF/88.
Além disso, são compatíveis com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH),
a Convenção sobre os Direitos da Criança, as Regras de Pequim para a Administração da
Justiça de Menores e a Convenção Americana de Direitos Humanos.
STF. Plenário. ADI 3446/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 7 e 8/8/19 (Info 946).
OBS:
Veja os dispositivos do ECA que foram objeto da ADI:
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais;

Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas


previstas no art. 101.

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: (...)


II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta.

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:


I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105,
aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência constante do art.


147.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita
da autoridade judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.

1.2. PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS PÚBLICOS: Compete à Justiça Estadual (e não


à Justiça do Trabalho) autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes – (Info 917) –
IMPORTANTE!!!

Compete à Justiça Comum Estadual (juízo da infância e juventude) apreciar os pedidos de


alvará visando a participação de crianças e adolescentes em representações artísticas.
Não se trata de competência da Justiça do Trabalho.
O art. 114, I e IX, da CF/88 não abrange os casos de pedido de autorização para participação
de crianças e adolescentes em eventos artísticos, considerando que não há, no caso, conflito
atinente a relação de trabalho. Trata-se de pedido de conteúdo nitidamente civil.
STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 27/9/2018 (Info 917).
OBS:
Crianças e adolescentes podem trabalhar? O art. 7º, XXXIIII, da CF/88 prevê que:
• criança não pode trabalhar;
• adolescente pode trabalhar a partir de 14 anos, na condição de aprendiz;
• a partir de 16 anos, o adolescente pode trabalhar normalmente (mesmo sem ser aprendiz),
salvo se for um trabalho noturno, perigoso ou insalubre;
• trabalho noturno, perigoso ou insalubre só pode ser realizado por maiores de 18 anos.
 
Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas eu já vi criança “trabalhando” em filmes e
novelas... Como isso é possível? É permitido que uma criança ou adolescente “trabalhe” em
um filme, novela, peça de teatro etc.? É possível a participação de crianças e adolescentes em
espetáculos artísticos? SIM. A doutrina e a jurisprudência entendem que é possível o
trabalho de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos, mesmo antes da idade mínima
prevista no art. 7º, XXXIII, da CF/88. Um dos fundamentos para isso está no artigo 8º, 1, da
Convenção 138 da OIT, que autoriza a participação de crianças e adolescentes em
“representações artísticas”.

Exige-se alguma autorização especial para isso? SIM. O ECA exige um pronunciamento
judicial para esses casos. Confira:
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou
autorizar, mediante alvará: (...)
II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios; (...)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em
conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
d) o tipo de frequência habitual ao local;
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e
adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
 
Sempre se entendeu que a competência para esse ato era da Vara da Infância e Juventude
(Justiça Estadual). Até mesmo porque é essa a redação expressa do art. 146 do ECA:
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da
Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de organização
judiciária local.
 
Ocorre que, em 2004, com a EC 45, surgiu uma nova tese a respeito do tema. Isso porque esta
Emenda ampliou o rol de competências do art. 114 da CF/88 e parcela da doutrina e
jurisprudência passou a defender que a competência para autorizar a participação de
crianças e adolescentes em “representações artísticas” seria agora da Justiça do Trabalho, com
base no art. 114, I e IX, da CF/88:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito
público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (...)
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.
 
O STF concordou com esta tese? NÃO. É a medida cautelar na ADI 5326/DF, veiculado no
Info 917 do STF.

Proteção das crianças e adolescentes: A CF/88 dedicou um capítulo para tratar sobre a
família, a criança, o adolescente, o jovem e o idoso. No art. 227 prevê que:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
 
O legislador ordinário, ao concretizar o comando do art. 227 da CF/88, editou o Estatuto da
Criança e do Adolescente e previu a chamada “Justiça da Infância e da Juventude”. O ECA
determinou, então, que o Juiz da Infância e da Juventude é a autoridade judiciária
responsável pelos processos de tutela integral das crianças e adolescentes. Trata-se de
competência fixada em razão da matéria, de caráter absoluto, e em proveito da especial
tutela requerida pelo grupo de destinatários: crianças e adolescentes.
 
Competência para autorizar a participação em eventos artísticos: Uma das atribuições
impostas ao Juiz da Infância e da Juventude foi justamente a de autorizar a participação de
menores em eventos artísticos (art. 149, II, ECA), autorização a ser implementada mediante a
expedição de alvará específico.
 
Natureza cível da cognição (ausência de discussão quanto à relação de trabalho): No § 1º do
art. 149 estão listados os fatores que o juiz deverá levar em consideração para conferir a
referida autorização. Ao se analisar tais fatores, percebe-se que o magistrado faz uma
cognição de “natureza cível”, não havendo exame de “relação de trabalho”. A análise se faz
acerca das condições da representação artística. O juiz deve investigar se essas condições
atendem à exigência de proteção do melhor interesse do menor, contida no art. 227 da
CF/88. Assim, o referido pedido de autorização possui natureza eminentemente cível,
relacionado ao Direito da Criança e do Adolescente. A sua causa de pedir envolve a
verificação da preservação integral dos direitos do menor, como, por exemplo, educação,
saúde, alimentação, convivência familiar, cultura e dignidade, que não podem ser
prejudicados pelo desempenho da atividade artística. Dessa forma, o art. 114, I e IX, CF/88,
que estabelece a competência da Justiça do Trabalho, não alcança os casos de pedido de
autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos,
considerando que não há, no caso, conflito atinente a relação de trabalho. Vale ressaltar que
esse é também o entendimento do STJ:
O pedido de alvará para autorização de trabalho a menor de idade é de
conteúdo nitidamente civil e se enquadra no procedimento de jurisdição
voluntária, inexistindo debate sobre qualquer controvérsia decorrente de
relação de trabalho, até porque a relação de trabalho somente será instaurada
após a autorização judicial pretendida. STJ. 1ª S. CC 98.033/MG, Rel. Min.
Castro Meira, j. 12/11/08.
 
Caso concreto julgado pelo STF: Alguns Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais do
Trabalho, em conjunto com Ministérios Públicos Estadual e do Trabalho editaram
recomendações dizendo que a competência para autorizar a participação de crianças e
adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. Foi o caso, por
exemplo:
• da Recomendação Conjunta 1/14 das Corregedorias dos Tribunais de Justiça e do
Trabalho, e dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, todos do Estado de São Paulo; e
• da Recomendação Conjunta 1/14, dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, e das
Corregedorias do Tribunal de Justiça e do Trabalho, todos do Estado de Mato Grosso.

Além disso, o TRT da 2ª Região também baixou um Provimento (GP/CR 7/14) no mesmo
sentido.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra esses
atos normativos.

Em 2015, Min. Relator Marco Aurélio, monocraticamente, deferiu liminar para suspender os
atos e para determinar que os pedidos de autorização de trabalho artístico para crianças e
adolescentes fossem apreciados pela Justiça Comum. Em 2018, o STF referendou a medida
liminar concedida e suspendeu a eficácia das normas impugnadas. Para a maioria dos
Ministros, a matéria é de competência da Justiça comum. Os Ministros entenderam que os
atos normativos impugnados possuem vícios de inconstitucionalidade formal e material:

 Inconstitucionalidade formal: os dispositivos tratam da distribuição de competência


jurisdicional e da criação de juízo auxiliar da Infância e da Juventude no âmbito da
Justiça do Trabalho, porém não foram produzidos mediante lei.
 Inconstitucionalidade material: os referidos atos normativos determinam uma
competência da Justiça do Trabalho que não encontra respaldo na Constituição Federal,
violando, portanto, os arts. 114 e 227 da CF/88.

1.3. CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: Classificação indicativa e liberdade de expressão -


(Info 837) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do


ECA.
"Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do
autorizado ou sem aviso de sua classificação:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a
autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até
dois dias."
O Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em
determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional
por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados.
A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória).
STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 31/8/16 (Info 837).
OBS:
Classificação indicativa: O art. 254 do ECA prevê que os programas de rádio e TV, com base
em seu conteúdo, deverão ser classificados como apropriados ou não, de acordo com a faixa
etária.

Ex: um programa de TV que não exiba cenas de violência, sexo ou uso de drogas é
classificado como "livre para todos os públicos". Se ele tiver cenas de nudez velada,
insinuação sexual, linguagem de conteúdo sexual, simulações de sexo etc., poderá ser
classificado como "recomendado para maiores de 12 anos".

O governo estipulou horários em que cada um desses programas deverá passar de acordo
com a faixa etária que ele foi enquadrado. Ex: o programa livre para todos os públicos poderá
ser exibido em qualquer horário; por outro lado, o programa recomendado para maiores de
12 anos somente podia ser transmitido a partir de 20h.

Quem faz essa classificação? O Ministério da Justiça, por meio de um setor específico que
cuida do assunto. Há uma portaria que regulamenta o tema (Portaria 368/2014-MJ).

Quais os critérios utilizados? Existe uma espécie de "manual" utilizado pelo MJ para fazer
esta classificação. Há, em resumo, três critérios de análise: a) violência; b) sexo e nudez; c)
drogas. A partir daí, o programa pode ser classificado em seis diferentes faixas: livre, 10, 12,
14, 16 ou 18 anos. No rádio e na TV aberta existem horários apropriados para que estes
programas sejam exibidos, de acordo com a faixa etária classificada.

A Constituição Federal trata sobre o assunto? Sim. O tema é tratado em alguns dispositivos
da CF/88. Confira:
Art. 21. Compete à União:
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;

Art. 220 (...)


§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público
informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem,
locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade
de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que
contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos,
práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão


atenderão aos seguintes princípios: (...)
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Infração administrativa: Caso a emissora de rádio ou TV exibisse o programa fora do


horário recomendado, ela praticaria infração administrativa e poderia ser punida com multa
e até suspensão da programação na hipótese de reincidência. Confira a redação do ECA:
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário
diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de
reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da
programação da emissora por até dois dias.

Duplo dever: Repare que, de acordo com a redação do art. 254 do ECA, as emissoras de rádio
e TV possuíam dois deveres impostos por lei:
1) Avisar, antes de o programa começar, qual é a classificação etária do espetáculo (aquele
famoso aviso: "programa recomendado para todos os públicos" ou "programa recomendado
para maiores de 12 anos");
2) Somente transmitir os programas nos horários compatíveis com a sua classificação etária.
Ex: se o programa foi recomendado para maiores de 12 anos, ele não podia ser exibido antes
das 20h.

ADI: Em 2001, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ingressou com uma ADI contra o art.
254 do ECA alegando que ele violou o art. 5º, IX (liberdade de expressão), o art. 21, XVI e o
art. 220, caput e parágrafos, da CF/88. Isso porque o art. 254 do ECA extrapolou o que
determina a Constituição Federal, já que impôs que as emissoras de rádio e TV somente
exibissem os programas em determinados horários sob pena de serem punidas
administrativamente.

O STF finalmente enfrentou o tema. O que foi decidido? A ADI foi julgada procedente? SIM.
O STF julgou a ADI procedente e decidiu que: É inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837).

Liberdade de programação é uma forma de liberdade de expressão: A CF/88 garante a


liberdade de expressão (art. 5º, IX) e a liberdade de comunicação social, prevista no art. 220
da CF/88:
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.

Como consectário dessa garantia, as emissoras de rádio e TV gozam de "liberdade de


programação", sendo esta uma das dimensões da liberdade de expressão em sentido amplo.
Assim, a programação das emissoras deve permanecer como sendo uma tarefa autônoma e
livre de interferências do Poder Público.

Proteção das crianças e adolescentes: Por outro lado, a criança e o adolescente, pela posição
de fragilidade em que se colocam, devem ser destinatários, tanto quanto possível, de normas
e ações protetivas voltadas ao seu desenvolvimento pleno e à preservação contra situações
potencialmente danosas a sua formação física, moral e mental.
Necessidade de compatibilizar tais valores: O caso em tela envolve dois valores
constitucionais que devem ser sopesados para uma correta decisão: de um prisma, a
liberdade de expressão nos meios de comunicação; de outro, a necessidade de garantir a
proteção da criança e do adolescente.

O que fez a Constituição Federal para compatibilizar esses dois valores? Ela determinou, em
seu art. 21, XVI e art. 220, § 3º, que fosse criado um sistema de classificação indicativa dos
espetáculos. Assim, os programas devem ser classificados de acordo com faixas etárias e essa
classificação deve ser divulgada aos telespectadores a fim de que eles tenham as informações
necessárias para decidir se permitem ou não que as crianças e adolescentes assistam tais
programas. No entanto, em nenhum momento o texto constitucional determinou que as
empresas sejam obrigadas a veicular os programas em determinados horários, sob pena de
punição. O sistema de classificação indicativa foi o ponto de equilíbrio tênue adotado pela
Constituição para compatibilizar os dois postulados, a fim de velar pela integridade das
crianças e dos adolescentes sem deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de
expressão. A classificação dos produtos audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos
pais a existência de conteúdo inadequado para as crianças e os adolescentes. Essa
classificação desenvolvida pela União possibilita que os pais, calcados na autoridade do
poder familiar, decidam se a criança ou o adolescente pode ou não assistir a determinada
programação.

Classificação indicativa não se confunde com autorização para exibir os programas: A


CF/88 conferiu à União e ao legislador federal margem limitada de atuação no campo da
classificação dos espetáculos e diversões públicas. A autorização constitucional é para que a
União classifique, informe, indique as faixas etárias e/ou horários não recomendados. Ela
não pode, contudo, proibir, vedar ou censurar os programas. A classificação indicativa deve
ser entendida como um aviso aos usuários sobre o conteúdo da programação, jamais como
obrigação às emissoras de exibição em horários específicos, especialmente sob pena de
sanção administrativa. Por essa razão, percebe-se que o art. 254 do ECA violou a CF/88 ao
instituir punição para as emissoras que transmitam espetáculo "em horário diverso do
autorizado". O uso do verbo “autorizar” revela a ilegitimidade do dispositivo legal. O art.
255, ao estabelecer punição às empresas do ramo por exibirem programa em horário diverso
do autorizado, incorre, portanto, em abuso constitucional.

Submissão de programa ao Ministério da Justiça: É legítimo que se exija que as emissoras


submetam os programas para serem analisados e classificados pelo Ministério da Justiça. No
entanto, a submissão de programa ao Ministério não consiste em condição para que ele possa
ser exibido, pois não se trata de uma licença ou de autorização estatal. A CF/88 veda que se
exija licença ou autorização do governo para a exibição de programas de rádio ou TV. Dessa
forma, esta submissão ocorre, exclusivamente, com o objetivo de que a União exerça sua
competência administrativa para classificar, a título indicativo, as diversões públicas e os
programas de rádio e televisão, conforme determina o art. 21, XVI, da CF/88.

Imposição de horários para os programas é inconstitucional: O Estado não pode determinar


que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma
imposição, o que é vedado pelo texto constitucional. O Poder Público pode apenas
recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não
obrigatória).

Censura prévia: A expressão “em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 do
ECA, embora não impedisse a veiculação de ideias, não impusesse cortes nas obras
audiovisuais, mas tão-somente exigisse que as emissoras veiculassem seus programas em
horário adequado ao público-alvo, implicava verdadeira censura prévia, acompanhada de
elemento repressor, de punição. Esse caráter não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, XVI; e
220, § 3º, I, todos da CF/88.

Efeito pedagógico: A exibição do aviso de classificação indicativa deve ter apenas efeito
pedagógico, a exigir reflexão por parte do espectador e dos responsáveis. É dever estatal,
nesse ponto, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver
programas educativos acerca desse sistema. Além disso, o controle pelos pais e responsáveis
sobre os programas assistidos pelas crianças e adolescentes pode ser feito com o auxílio de
meios eletrônicos de restrição de acesso a determinados programas, como já feito em outros
países. Essa tecnologia, inclusive, é de uso obrigatório no Brasil, apesar de ainda não adotada
na prática, conforme previsto no art. 1º da Lei nº 10.359/2001:
Art. 1º Os aparelhos de televisão produzidos no território nacional deverão
dispor, obrigatoriamente, de dispositivo eletrônico que permita ao usuário
bloquear a recepção de programas transmitidos pelas emissoras, concessionárias
e permissionárias de serviços de televisão, inclusive por assinatura e a cabo,
mediante:
I - a utilização de código alfanumérico, de forma previamente programada; ou
II - o reconhecimento de código ou sinal, transmitido juntamente com os
programas que contenham cenas de sexo ou violência.

Permanece o dever de informar a classificação indicativa: É importante salientar que


permanece o dever das emissoras de rádio e de televisão de exibir ao público o aviso de
classificação etária, de forma antecedente e concomitante com a veiculação do conteúdo,
regra essa prevista no parágrafo único do art. 76 do ECA, sendo seu descumprimento
tipificado como infração administrativa pelo art. 254. O que foi declarado inconstitucional foi
apenas a punição caso a emissora exiba o programa fora do horário recomendado.

Responsabilização judicial em caso de abusos: As emissoras não estão livres de


responsabilidade. Será possível que elas sejam processadas e responsabilizadas judicialmente
caso pratiquem abusos ou danos à integridade de crianças e adolescentes, tendo em conta,
inclusive, a recomendação do Ministério de Estado da Justiça em relação aos horários em que
determinada programação seria adequada. É o caso, por exemplo, de uma emissora que
exiba, reiteradamente, programas violentos ou com fortes cenas de sexo em plena manhã ou
tarde. Nesse exemplo extremo, o Ministério Público poderia ajuizar ação civil pública contra
a emissora pedindo a sua responsabilização pelos danos causados a crianças e adolescentes.
Isso porque a liberdade de expressão não é uma garantia absoluta e exige responsabilidade
no seu exercício. Assim, as emissoras devem observar na sua programação as cautelas
necessárias às peculiaridades do público infanto-juvenil.

Outros dispositivos do ECA: O ECA possui outro dispositivo parecido que trata sobre o
tema, mas que não foi impugnado nem declarado inconstitucional. Trata-se do art. 76, que
possui a seguinte redação:
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário
recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades
educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso
de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.

Este dispositivo não estabelece nenhuma punição para as emissoras de rádio e TV que
exibirem programas fora de horários estipulados pelo Poder Público. Por essa razão, não é
considerado inconstitucional, já que não viola a liberdade de expressão. Cuidado nas provas
porque o enunciado da questão pode tentar confundir você.

2. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
2.1. Impossibilidade de privação da liberdade em caso da prática de ato infracional
equiparado ao art. 28 da LD – (Infos 772 e 742) – IMPORTANTE!!!

Não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a liberdade do


adolescente (internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ato infracional
análogo ao delito do art. 28 da Lei de Drogas. Isso porque o art. 28 da Lei 11.343/06 não
prevê a possibilidade de penas privativas de liberdade caso um adulto cometa esse crime.
Ora, se nem mesmo a pessoa maior de idade poderá ser presa por conta da prática do art. 28
da LD, com maior razão não se pode impor a restrição da liberdade para o adolescente que
incidir nessa conduta.
STF. 1ª Turma. HC 119160/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 9/4/14 (Info 742).
STF. 2ª Turma. HC 124682/SP, Rel. Min. Celso de Mello, j. 16/12/14 (Info 772).

2.2. Princípio da insignificância e os atos infracionais

É possível a aplicação do princípio da insignificância para os atos infracionais. Trata-se de


posição pacífica no STF e no STJ.
STF. Segunda Turma. HC 112400/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 22/5/2012.

3. INTERNAÇÃO
3.1. Internação só é cabível nos casos do art. 122 do ECA – (Info 818)

O ato de internação do menor é medida excepcional, apenas cabível quando atendidos os


requisitos do art. 122 do ECA:
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I — tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;
II — por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III — por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
STF. 1ª Turma. HC 125016/SP, red. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 15/3/16 (Info 818).
OBS:
Internação (arts. 121 e 122 do ECA): Por esse regime, o adolescente fica recolhido na unidade
de internação. A internação constitui medida privativa da liberdade e se sujeita aos princípios
de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento. Pode ser permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe
técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. A medida não
comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
fundamentada, no máximo a cada seis meses. Em nenhuma hipótese o período máximo de
internação excederá a três anos. Se o interno completar 21 anos, deverá ser obrigatoriamente
liberado, encerrando o regime de internação.

O juiz somente pode aplicar a medida de internação ao adolescente infrator nas hipóteses
taxativamente previstas no art. 122 do ECA, pois a segregação do adolescente é medida de
exceção, devendo ser aplicada e mantida somente quando evidenciada sua necessidade, em
observância ao espírito do Estatuto, que visa à reintegração do menor à sociedade.

A imposição de medida socioeducativa de internação deve ser aplicada apenas quando não
houver outra medida adequada: Assim, quando for aplicada a internação, o magistrado
deverá adotar uma fundamentação idônea que apresente justificativas concretas para a
escolha dessa medida socioeducativa. No caso concreto, um adolescente recebeu a medida de
internação por ter praticado tráfico de droga (maconha). Vale ressaltar que não houve uso de
violência e que ele não possuía outros antecedentes de atos infracionais. Diante disso, o STF
concedeu habeas corpus de ofício para determinar que o adolescente cumpra outra medida
diversa da internação.

Sobre o tema, vale a pena lembrar um enunciado do STJ:


Súmula 492-STJ: O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não
conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação
do adolescente.

4. CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA


4.1. Caráter não-vinculante do parecer psicossocial na progressão da medida
socioeducativa – (Info 779)

Imagine que determinado adolescente cumpre medida socioeducativa de internação. Após


seis meses de cumprimento, o parecer psicossocial apresentado pela equipe técnica
manifesta-se favoravelmente à progressão para o regime de semiliberdade. O juiz pode
decidir de forma contrária ao parecer e manter a internação?
SIM. O parecer psicossocial não possui caráter vinculante e representa apenas um
elemento informativo para auxiliar o magistrado na avaliação da medida socioeducativa
mais adequada a ser aplicada. A partir dos fatos contidos nos autos, o juiz pode decidir
contrariamente ao laudo com base no princípio do livre convencimento motivado.
STF. 1ª Turma. RHC 126205/PE, rel. Min. Rosa Weber, j. 24/3/2015 (Info 779).

4.2. INTERNAÇÃO SOCIOEDUCATIVA COMO MEDIDA EXCEPCIONAL E


BASEADA NAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO – (Info 733)

A imposição de medida socioeducativa de internação somente deve ser aplicada quando


não houver outra medida adequada e desde que haja fundamentação idônea.
STF. Plenário. HC 119667/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 18/12/13 (Info 733).

5. AUDIÊNCIA DE APRESENTAÇÃO
5.1. Realização de estudo técnico de que trata o art. 186 do ECA

O art. 186 do ECA determina que, na audiência de apresentação, o juiz irá ouvir o
adolescente, seus pais ou responsável, “podendo solicitar opinião de profissional
qualificado”.
A realização desse estudo (“opinião de profissional qualificado”) de que trata o art. 186 do
ECA é obrigatória?
NÃO. Segundo decidiu a 1ª Turma do STF, o referido estudo serve para auxiliar o juiz,
especialmente para avaliar a medida socioeducativa mais adequada, não sendo, contudo,
obrigatório. Assim, não há nulidade do processo por falta desse laudo técnico, uma vez
que se trata de faculdade do magistrado, podendo a decisão ser tomada com base em
outros elementos constantes dos autos
STF. Primeira Turma. HC 107473/MG, rel. Min. Rosa Weber, 11/12/2012.

6. CONSELHO ESTADUAL DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


6.1. Participação do Ministério Público em Conselho Estadual da Criança e do
Adolescente – (Info 646) – (TJMG-2012)

O art. 51 do ADCT da Constituição do Estado do Rio de Janeiro não confere competência


ao Ministério Público estadual, mas apenas cria o Conselho Estadual de Defesa da Criança
e do Adolescente, garantindo a possibilidade de participação do Ministério Público.
Tal possibilidade que se reputa constitucional porque, entre os direitos constitucionais sob
a vigilância tutelar do Ministério Público, sobreleva a defesa da criança e do adolescente.
Entretanto, tal participação que se dá apenas na condição de membro convidado e sem
direito a voto.
Por outro lado, quanto à previsão do dispositivo legal no sentido de permitir a participação
de membro do Poder Judiciário no órgão foi julgada inconstitucional. porquanto a
participação de membro do Poder Judicante em Conselho administrativo tem a
potencialidade de quebrantar a necessária garantia de imparcialidade do julgador.
Em resumo, ação foi julgada parcialmente procedente para:
a) conferir interpretação conforme à Constituição ao parágrafo único do art. 51 do ADCT
da Constituição do Estado do Rio de Janeiro a fim de assentar que a participação do
Ministério Público no Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente deve se
dar na condição de membro convidado sem direito a voto;
b) declarar a inconstitucionalidade da expressão “Poder Judiciário”.
STF. Pleno. ADI 3463/RJ, Rel. Min. Ayres Britto, j. 27/10/11 (Info 646).

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