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;-r.:.

A publicação de um Bolctln pülódtso do l[bldérlo dE p1Íçs: debatlr quertõer teórlaar € qucÍõcr prátlcar: tudo luo
Jurtlça rurgc da necerp$dlç ds dlluaülr lltomagôcr' ih. trocrr de lnqa totma slara o rlmples, para alue todor pomam partb
oxperiênclar, dc inielar rü dcbate mbre- os problcmar üa olpar e enpenhar.lc.
Justtça no nosso País, O iltrelto não eonrtltul pm rcctor do
aparelho ile Estado, mar sln a rupercdrutura qrc tt$nla ar Qucttmos aqul lenrbrar ar palavras que o Prcsldente$amora
Mashel proferlu por ocadão da lnvcstldura do Govorno de
rclaçõcr.em qualqucr arpecto da vlda roelal: a produçIo, o
consumo, a saúde, a Íamílla, o trabalho, oE conportanentog Tranrtgão em 20 de Setembro de 1974. Elar reprerentam uma
' ortertlçlo programática
antl.socials,etc. iá rtllectlda nn noEEa Organtzaç[o
Jniliclárla c rtprcrc4tam também uma valiosa orlentação para
Por lsso é importante conheccr e Íazcr conhccer a Íorua a feltura do norrg Boletlm.
como s[o aplicadoso dlrcito e a turtlça qo norro Pafu.
<O aparelho iudiclório deve sor rcorganiaado para quê
Salr do departamcntalismo e ilo lcolamcnto, adqulrlr uma
a luúlga reia acouívcl e comprcensíyel ao cldarllo
consciênclalurídlca unltárln, descnvolveruma sultura lurídlci
oomüE da nossa terra. 0 slrtema burguêr envolvc,u
moçambicana que ultrapame qualquer lorma .de rcglonallrmo,
a admlnlrtragão da lurtlça de uma complexldadeúár=
rlo arpectoc lmportantes no fortaleclmentoda nocra unldrile
nccessl[rla, dc um furirdlclomo lnpenetrúvel àr mar.
naclonal.
sar, de [m palavreado dellbcradamente coalugo c
Temos quc egtudar atentamcntq os problcmar.lue encoberto, de uma lentldlo e custog qne crlan uma
alectam a nossa sociedade para enóontrar roluções oorrestas barrelra entre o povo G a iuetlçal.
e unltárlas no plano iurldlco. Mar crte erÍorço não pode crtar
derllgailo de uma rellexão robre o notto pastailo hüctórlço, O Eelçtln pÍ@ka de una ampla partlcipação, porquc ró ee
derde os prlmeiror passos pâra a conrtruçlo ds umc nova podcrá'tornar um lnstrumento vlvo e útll, na medlda em quc
' rcÍlita a varta e complexa realldade do Paft.
lurtiça nag Zonas Llbertadas.Dc facto exlgtc uma contlnuHrde
na cxperlêngla revoluci,onárla do nosso Povo der.le o tcnpo
Tetrmos que dar acolhlmento a multas vozer para obter
da Luta Atmada de llbertaçlo naclonal até hote, quando a
guerra é declarada contra o intmlgo lnterno e é lançado ud um (Bom) rle coniunto sobre o que é a Justiça em Moçambi.
quc: temos{üe ouvlr ar vozesdo Trlbunal Superiorde Recurro
desaflo higtórico psra, numa década, vcncer o subde$nvolvl'
mento. e do Tribunal do Localldade, da Faculdadc de Dlrclto. dos
CentrogPrislonais,dos Postosile Reglsto, dos Tribunals Popu'
Como aflrma a Resoluçâogobre a Justlça da YIII Semlo lares Provinclalr, dpr outras estruturas rlo aparelhode Estado,
do Comlté Central rta FRELIMO: cSó a partir dc todo ertc do cldarlÍo somum.
trabalho de conheclmentoilar realldades s dar experlênclar do
notso povo re poderó criar um Direlto trovo e pôr a Íulclonar Em tuma, temoa que acolher as contribulçóerde todos os
um slstema de aplicação da iustiga que seia verdadelramente quc têm senslbiltdade e atençõo para com os problemas tla
popular e mogamblcano). Juetiça,'poh que clar oonstltuem o atlmento lnilirpcnrôvel à
vlda e bom êxlto da nossa rcvlsta.
Escolhemospara erte Boletlm o nome de cJUSTIçA
POPULART. <Populan não rtgnlftca mals Íócll, mals vulÍlar, Aprerentamog esta primelra publlcação perlódlca do Mlnts'
monor elaborado teoricamente; lustiça popular rignlÍlca uma tério ila Jurtlça. o próprlo Mlnistérlo attume a tarcla dc
iustiça capaz ds reflectir as característlsasda socledadenova scleca[oe controle do scu conteúdo.or artl$or e contrlbnlçõcr
e ar arpiragões do povo. são da regponjab{ltdadedos seus autoros. São estas as condl-
çõer bóslca8 para que 8e instaure uma dlal&tlca na cultnra
I

{
Asslm propomo'nos reflectir sobre a vlda dor nosso! Trlbu= lurídica que ertamos a crlar.
nals e og gectoregdo lÌÍinlstérlo, propomo=nosÍalar ile dlreito É o ponto de partida para a transÍormaçãodo nogsoBole'
e rle iurisprudência, queremos dlvulgar e comentar ar trosra8 ttm en verdadeira Revista de dlrelto, doutrlna e lurlspru.
leü, queremoEcomparaÍ o notso direlto com o de outros dêncla.

F I C H AT É C N I C A :
REDACçÃO: FrancescaDagnino, Gita Honwana, Cláudio Nhandamo, João Carlos Trindade
SEDE:Rua Mateus S. Muthemba, 65 - Maputo
ARRANJO GRÁFICO: DirecçãoNacional de Propagandae Publicidade
IMPRESSÃO:Tipografia Minerva Centrat
CAPA: Reunião numa Localidade- f6fs de Moira Foriaz
N.o DE REGISTODO INLD: 0200/INLD/80-\ul6puf6-República Popularde Moçambique
A EDIF|CAçÃODA JUSTrçAPOPULAR

Apresentamos a seguir a Directiva do III Congressosobre tal decisão conduzir-nos-ia a situações de anarquia
a Justiça, enquanto documento fundaqental para o nosso e cle crise de autoridade, que seriam utilizadas pelo
sector.
inimigo e se voltarizrm contra o próprio poder da
aliança operário-camponesa
A Constituição cla República Popular de Moçam-
O processo cle formação de novas leis pode e deve
bique estabeleceu uma ruptura com o passado
ser mais rapiclamente conduzido. Para que este
colonial e com o sistema capitalista. Ela define as
objectivo se realize, é essencial que em cada mo-
bases <le um Estado inteiramente novo, de Demo-
mento, zrtravés das estruturas do Particlo e das es-
cracia Popularr, e traça princípios fundamentais para
truturas <io Estado, o Povo proponha aos órgãos
Ír. eclificacão cla Sociedade Socialista.
legislativos as transformações legais necessárias.
.\ construção da novÍÌ ordem legal é um processo
No estudo clas novas leis é particularmente neces-
complexo, gue requer estudo. Isso explica o artigo
sário que o Particlo dinamize a participação activa
7r.n cla Constituição, que mantém em vigor a parte
e constante das largas rxassas na elaboração de
clzr legislação anterior que não contraria a Consti-
propostas e na discussão de projectos de lei.
tuição. Mas, ncsse rrÌesmo artigo, definimos a
Ao direito novo deve corresponder também uma
necessidade cle modificar e revogar todo o conjunto
lineuagem nova orientaclz'rprincipalmente no sentido
de norrnas lcgzris postas em vigor no período colo-
cla simplicidade. Devemos encontrar a linguagem
nial. l)erste moclo, a Constituição, no que tem de
simples e popular que facilite o entendimento e
programático, impôs a necessidade de formulação
clivulgaç:ão clas leis pelas massas, sem prejudicar a
inteirirmente novzr cle tocla a estrutura legal do País.
necessária eficácia técnica. Temos de encontrar no-
Esta tzrrefa começara a ser executada na fase da
vos métoclos de levar as leis ao conhecimento do
Trzrnsição. Pela natureza da fase, as leis clo período
povo, para que possam ser inteiramente assumidas.
rle Transição tiveram um carácter mais reformista Impõe-se a clestruição da estrutura judicial exis-
clue revolucionário. Mesmo assim, tomaram-se me- tente, colrìo parte cla destruição do aparelho de Es-
tlirlas legislativas cle extrema importância para asse-
tado colonial-capitalista em Moçarnbique. O novo
iïur:Ìr o excrcicio clo . poder pela FRELIMO, para
sistema judiciário deve exprimir o Poder da aliança
frustrar e combater manobras de sabotagern e operário-camponesa e reflectir a Ditadura do Pro-
outras, peÌra pôr em funcionamento mecanismos
letariado.
legais clue visavanr perrnitir o controle cla Economia
Os órgãos funclamentais da nova estrutura judicial
pelo Estado, ÍÌsseg'urando a passagem a uma nova
são os Tritrunais Populares, gue se escalonarão desde
ordem económica. A demolição do sistema legal do
o Tribunal Supremo, até ao Tribunal Popular de
colonialismo iniciou-se, portanto, no período de Localidade ou Aldeia Comunal. Os tribunais serão
transição para se acelerar no próprio momento da
compostos por elementos que exprimam o poder do
pi-oclanração cla Inclependência - vlyvyfs da Cons-
Povo.
tituição - e no período Que ss lhe seguiu. A criação da nova legislação e a regulamentação
Essa demolição tem tomado, em certos casos, a dos Tribunais Populares devem ter em conta as
lorma cle inor-ações legislativas introduzidas passo experiências clo nosso Povo na prevenção do crime,
^ passo. Nas questões fundarnentais, a demolição na resolução cle conflitos sociais e na ieeducação
clo sistema legal colonial-capitalista tem assumido de reaccionários e criminosos.
a forma cle saltos qualitativos que destruiram, até Neste contexto, as experiências das zonas liber.-
uÌos alicerces, importantes construções legais do tadas são fundamentais. As transformações revolu-
Direito burguês colonial. São estes os casos bas cionárias englobaram a organização das estruturas
r-racionalizações operaclas nos sectores do ensino, judiciais. Nas zonas libertadas, é o povo organizado
sirúcle, justiça e propriedade dos prédios de rendi- que faz os julgamentos. Em cada caso que se lhe
mento. apresenta, ele analisa-o, discute e aprofunda todas
As experiências que já colhemos revelam que po- as suas causas. Para os Tribunais Populares são
dcmos continuar a combinar os dois métodos utili- secunclárias zÌs circunstâncias meramente formais
zzrclos. I)er.emos combater ã tendência esquerdìsta cla infracção, cuja discussão tanto tempo ocupa nos
rle afirmar que as leis feitas no período colonial de- tribunais burgueses. Ao ltovo organizado, que julga
venÌ .ser toclas abolidas num único momento. Uma o crime e outros conflitos. interessa acima de tudo

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o conhecimento das causas que determinaram a mente devem ser tidas em consideração as experiên-
acção do réu. Conhecidas as causas e analisado o cias clo nosso Povo, desde a tomacla cle posse do
seu significado, o Tribunal Popular tem então como Governo cle Transição. Estas experiências assutnen-t
preocupação central encontrar os métodos. adequadog um grande valor para o estudo e formulação cla
para reeducar o infractor, tendo em vista a sua legislação que deve reger os novos Tribunais Popu-
reintegração na sociedade. A reeducação não signi- lares. Elas mostram quanto a legislação colonial e
fica isolamento mas, muito pelo contrá,rio,"a inten- capitalista é profunclamcnte incompativel com as
sificação dos contactos com a vida do Povo, com tradições, modo de vìda e características clzr noss:t
os hábitos do Povo, com o trabalho do Povo. Socieclade e do nosso Povo.
Libertar o infractor das influências que o levaram A tarefa centrerl dos Tribunzris Populares é ma.nter
a cometer o crime ou a desencadear o conflito, é o o respeito pela legalidade revolucionária e, para isso,
objectivo da reeducação. No processo da reeducação clevem controlar a legalidade clos actos cletspessoas,
desempenha um papel fundamental a combinaçã,o da instituições e órgãos clo Estaclo.
crítica e auto-crítica políticas com o estudo político 'f
ivemos já a necessidacle de, algut-t"t:tsvezes,
e com a prática da produção colectiva.
intervir energicermentecontra actuzLçõesque violavam
Os Tribunais Populares das zonas libertadas são
:r legaliclaclerevolucionária e princípios estabelecidos
o instrumento do Poder e também a escola onde o
na Constituição que consagram clireitos funclamen-
Povo completa a sua formação política, ideológica
tais dos cidadãos.
e cientifica. A sua preocupação essencial é o Homem
e a sua tarefa principal é o conhecimento, o estudo Com a consoliclzrção do Estaclo tlzr l)ernocracia
e a eliminação das causas que levam o Homem a Popular instituirnos na Repúbliczt Popular de Mo-
assumir comportamentos anti-sociais. çambique uma forma superior de legalidacle, a
Na organização dos Tribunais Populares, igual- legalidzrde revolucionária.
DE CoMc MIGUNGAcHANEBOISSAESCAPOUÂ PROVA
DO FOGO E DE COMO OS SEUSJULGADORESFORAM
JULGADOS.

Feit iç ar ia, c Í enç a s má g i c a s , Ía z e m p a rte d u ma <rEla matou o Popolo Gumende e o Mapambolasse

cu l tu r a obs c ur ant i s ta e a n ti -c i e n tífi c a a i n d a p ro- Massinga e rnais outros. Comeu-os. Não temos dú-.

Íundamente enraizada na nossa sociedade.Surgem v i c l a sr .

numerosos casos de crímes cuia origem assenta Na verdade, perante o pouco esclarecimento da-

ern práticas e cÌenças obscurantistas; os nossos quelas pessoas, a velha Migungachane tinha todas
:Íribunais devem perseguir os autores desses cri- as conclições, preenchia os requesitos para ser fei-

me s , não es quec e n d o q u e u m d o s s e u s p a péi s ticeira.

Íu n dam ent ais é d e d u c a ç ã o e o e s c l a re c i m ento A sentença foi dada; Zicota e Zipumane no

d o s c idadãos . A qui o T ri b u n a l s i tu a -s e n o c e ntro comando, agindo por todos, tracluzindo na prática


'quem
d a ques t ão c ult ur a l e d e s e mp e n h a u m Pâ P e ! i m- a vontade inequívoca cle neles depositava

portante nâ ruptura com a mentalidade e os tanta confiança...

va l o r es pr ópr ios d a s o c i e d a d e tra d i c i o n a l -Íe u dal . ..\ sentença foi de <morte pelo fogor. Os milícias

Esta é um a lut a q u e o T ri b u n a l d e v e tra v a r em juntaram lenha, trouxerarn cordas, amarraram a

ca d a c as o que lhe é s u b m e ti d o . brux:r, cumprindo ordens.

O artigo que se segue pretende seÌ um exem- A sentença começou a ser executada, € â velha

p l o dis s o. Mietungachane, já sem dar conta do que se passava


à sua volta, sugestionada pelo delírio colectivo, sen-
tindo nas narinas o cheiro cla própria carne cha-
(-'atuane,z6 rle Mzrio de Í979.
muscacla, pedia clemência, confessando perante

Zicota Mulambo e Zipumane Maquene são mora- todos ter praticado feitiçaria, ter morto vários e

rlores cletCélula Malachote-Madubalo,Círculo Mugo- comido outros tantos.

cle Catuzrne,Distrito de Matutuíne.


\:ege, I-oczrlidzrcle
,\lguém teve a lucidez de alertar as estruturas do

Eram e são respeitadospela população pela sua Círculo vizinho, e depois da Localiclade, e felizmente
(a sabecloriados mais velhos e mais
,,szrbe<loria,, a velha foi poupada à terrível morte que lhe fora

antig'os que se traduz tantas vezes em ignorância), resen'ada por aqueles com quem sempre convivera

pela slrzÌ digniclade, pela sua rectidão (a rectidão e que conhecia, por aqueles que haviam chegado ao

clos que inocentementepensam que a idade e os ponto cle precisar uma vitima para melhor alicerçar

cabelos br:rncos conferem um estatuto especial, as suas práticas e crenças obscurantistas.

colocam um cidaclãoacima de qualquer necessidade


Zrcota e Zipumane, como expoentes máximos e
cle zrprender,clão-lhe respostas para tudo).
ordenaclores de toda a acção (autores) foram detidos
Por isso, :r m:rl esclarecidapopulação de Mugo-
e apareceram perante o Tribunal Popular Provincial
vene transf-ormou-os cle umadoclasr>,errì secretário e
cle N4aputo páÌra serem julgados.
secret:'rrio a.cljunto clo Círculo, confiando-lhes instru-
r-nentos clo exercício clo Pocler político na zona. l4esmo após lxeses na Cadeia Central, fora do
.\ssim, Zicotu e Zipumane, obedecenclo à voz e ambiente da sua aldeia, privados da sua liberdade,
vontacle rlo seu Povo, prenderam e julgaram Migun- não cleìxaram cle mostrar ao Tribunal o seu ar mais
gzrchane Boissa, velha só, desamparada, viúva digno, a sua inocente e sincera convicção na crença
<loente e fraca, que talvez por estes motivos foi cle que há feiticeiros sim senhor, e a Migungachane
;rcuszrcla rle ser zÌ feiticeira cla zona e de matar era feiticeira, e por fazer mal ao Povo, devia ser
i m p i e c l o s a m e n t ea s s u a s v í t i m a s . C i t a r a m - s e n o m e s : purrida para o bem de todod.
No inícìo não nos foi fácil entender a situação, Um problema de mentalidade, um problema de
falta de esclarecimento, um problema de obscuran-
mas tentando. analisar a fundo a nossa realidade,
tismo e ignorância. [Jm problema de sequelas da
concorclamos em que Zicota e Zipumane, acusados
sociedade tradicional-feudal (encorajadas pelo colo-
tle homicídio frustrado, não eram apenas Zicota e nialismo português).
Zipumane, mas sim a grande maioria da população
Tornava-se-nos difícil tipificar o papel dos réus
daquela Localiclade que acreditava que o que suce-
à face da I-ei vigente. Eram autores, sim, mas não
dera fora para o seu benefício.
apenas autores. Representavam a própria autoria.
Uma autoria colectiva que nascia à dimensão da
aldeia. O Tribunal deslocou-se a Catuane. O julga-
-julgamento,
mento não seria certamente o clássico
com Íì clássica culpabilidade e o clássico ónus da
prova. Tocla a situação transcendia o Cócligo Penal
em vigor para crescer em seriedade à dimensão de
todo urn Povo que luta para se libertar das amarras
cle uma sociedacle velha, de valores decadentes. A
situacão não pocleria ser resolvicla apenas à base
do Código Penal. O Tribunal foi apoiado por estru-
turas clo Particlo ao nível da Provincia e clo Distrito.
l\o princípio da manhã do dia do julgamento aque-
las populações que tinham viajaclo toda a noite,
que tinham andaclo 40, 50, 7o quilómetros até ao
local clo julgamento, olhavam-nos com desconfiança
quando lhes apresentamos os seus uchefes,, na qua-
liclade de réus, quando lhes dissemos ao que vínha-
mos. Houve diálogo, participação viva, e embora
sentissemos ao fim do dia, que possivelmente as
suas con-n'icções obscurantistas estavam um pouco
abalaclas, os seus olhos diziam-nos ainda que muito
mais seria necessário fazer para os demover das
suas crenças.

Não obstante, após a leitura da sentença o am-


biente foi de uvivas, e canções.

Evidentemente, não resolvemos o problema de


obscurantismo na zona, nem tal pretendíamos, mas
ganhamos outra sensibilidade para este tipo de pro-
blema, que decerto nos ajuda a melhor desempenhar
a tarefa que nos foi confiada.

I{igungachane Boissa sofreu queimaduras do 3.o


grau, mas sobreviveu.

Zrcota e Zipumane foram condenados a um ano


e a dez meses de prisão respectivamente. '

Também esta mulher podia ser Migungachane Boissa

GITA H ON WANA
ALGUMAS REFLEXÕ SOBREA DECLA-
RAçAO DOS DIRETTOS
DA CRIANçA.

() r 9 7 9 l ' o i o . \ u o I r r t c r i r : r c i o n i r lc l i r L l r i i L n ç z r ,t : o l ' o r i s s o z r c h a r m o sq u e o s n o s s o s T r i b u n i r i s c l e v e n ' r


: Ì r ' Ì oü n l q u c , 1 l Í r I Ì c p h b l i c : r l ' o p u l z r r c l c \ Í o ç a r n b i q u e , rrpoclcr:rr-seclestarI-ei e concretiza-la náì suzÌ activi-
l'oi cnran:rrla iL l)eclarzrção dos I)ireitos rl:r Criança. c l : r c l eq u o t i d i a n a .
Muito já foi rlito e escrito:ÌcLìrcÍÌ clesta Lei e Há preceitos que porlt'nr ser actuarlos imecliata-
r l l r s L l á Ìi r n p o r t â n c i z r . tncttte. Por cxemplo, o :Lrt.u I refort::r o principio
\tis, encluzrnto jr-rrist:rs, est:rtt.rc'rs
intcressaclos elïì tle igu:rlcl:rclcentre toclos os ciclacleios,afirrn:Lncloque
s u b l i r - r h z r:rr l r l u n s r L s p e c t o sc l a L e i q u e p o c l e m r e l e v a r tocletszrs criernçetstênr os lÌlesnlos clircitos. ijsta nãcl
n ( ) l " ì o s s oâ m b i t o c l e a c t i v i c l a d e . é n u r ; r : r f i r t n u c ã o r e t l u n c l u n t ec s u p é r f l u l r , n z r n r c r l i c l i r
[Ìst:r t1 urlr:r Lei tliriq i(la às crizrnç:rs (.,tu, clll que :rin<la não for:rnr forrlalmcnte rer-o{aclersclir
cri:rncrr.. . ,,) , rìo1lì un-r:r linguÍÌgenl concreta e inteli- l l o s s a l e g i s l a c ã o n o r l l l Í r s c l i s c ; - i n r i n a t . i r i z Lcsn t r c á ì s
gír'el pzirzr totlos. Mas o facto cle f:rlar rlirectamente c r i a r - r c z r se n q u : r n t o f i l h o s l s . ; í t i r n o s e f i l h o s i l e g í t i -
È L sc r i a n c z r s n ã o s i g n i f i c z r q u c n ã o h a j a o u t r o s d e s - m o s ; p o r i s s o o z r r t . o2 r - ì 9 e t t r ï - . o2 r ; 8 , e n t r e o u t r o s
t i n z r t á r i o s : : r l i z i s , F i x a r - r c l or l i r e i t o s , e l e r p r e s s u p õ e contirlos no Código Clivil, estiro eni conflito corn o
r l r : s t i n : r 1 : i r i o sc o n - rc o r r e s p b n c l c n t c sc l e r , e r e s .S e a s s i m :Ìr't.o I cla I)eclarzrcâo.
rr:1o f<lssc, tornar-se-ier uffìzì \':rgáL enunciaçâo de O lrrt.'' 2 (ì o art." -1 rcspectir:rmente, est:rbelecenr
p r i n c í p i o s : r b s t r : r c t o so u s i m p l c s m e n t e p r o g r e r m á t i c o s , o clireito rle c:rclir crizrnczr à segurÍrnL'árafectir,-:r c
serìr 211'3-r-rnru
efic:icieL er possibiliclircle cle :rctuação. tn:rteri:rl no seio cl:r fzrmília.
I ) o r o u t r o l i r c l c l ,z r p e s Í Ì rc l e s c r t i t u l : r r c l e d i r e i t o s , Os nossos Tribunlris crlcÍrrarìl quoticÌilrnzrrlente
;r cri:rnç:zr!l1ìenos que toclos, tem nreios e cáÌpacidade crises familiares : espiÌncÍÌrlrentos, fzrlta cle assistên-
p r t i p r i o s p : r r : r e x i . 5 i r < l a Í ' a r n i l i : rt ' r l i r s o c i e t l : r r l ez r s u : r ci:t, rcg'r-rl:Lç'ã
r loo p o r l e r p r r t e r n a l , l t e c l i t l o s r l e d i v ó r -
rrlrliz:rciio. t-'io.
Face áÌ estas situações, temos que clesenvolver proôesso rel:rtivamente simples e rápido, e o direito
toclos os esforços para tentztr uma reconciliação dos zìo nome não seja uma conquista tão difícil de
cônjuges, ou pelo menos para que uma crise familiar lrlc:tn<,'ar.
irreversível seja resolvitla com o máximo de digni- ((... Quzrntlo não tiveres família, tens o direito a
rlzrcle c rle respeito rníttuo. São os filhos os que vil'er numa familia que te alÌ'ìe como um filho..'u'
sofrerl rnais dos conflitos entre os pais e da des-
Mas quais são actualmente as reais possibilidades
são os filhos a serem fre-
truição cle uma família;
quentemente usaclos como meio de chantagem entre
tle uma criança ser adoptada? A legislação em vigor i
I

torna o ptocesso cle adopção extremamente difícil,


f

os pais.
possível só zr um restricto número de pessoas. Para
O Tribunal tem que ser o <tutorr principalmente zrdoptar uma criança, quer dizer para integrâ'la com-
dos sujeitos mais fracos e deve resolver as situações pletamente na família, é necessário ter mais de 35
tomzrndo em conta, sobretudo, o interesse moral e anos cle idacle, estar casado há mais de dez anos,
nraterial dos filhos. Nunca um processo que diz e não ter filhos naturais; além disso, a integração
respeito à família pode ser udespachador. na família nãç é plena, na medida em que os filhos
acloptivos não são herdeiros da família adoptante,
Neste aspecto a experiência dos Tribunais de nem têm com ela obrigações recíprocas alimentares.
Localiclade, os mais próximos da vida das pessoas,
O problema das crianças abandonadas é um dos
os mais preocupaclos numa actividacle conciliatória,
problemas mais dramáticos ao nível mundial (são
tem que ser assumicla como exemplo a cada nível
-roo milhões cie crianças abandonadas no mundo !) ;
cla Organização Juciiciária.
a possrbilidatle ampla de adopção com certeza não
De facto, muitzrs \-ezes, as pessorÌs recorrern ao vai resolver it questão, mas no entanto seria iá'
Tribunal, não porque querem mesmo dir-orciar-se ou algurna coiszr.
tomar clecisõesclefinitivas, nÌas sìm porque procuram
Muitlrs vezes ar esterilidacle do casal é causa de
um meicl pzrra resolver problemets que, sozinhos não crise e tle separação. Uma ampla campanha para
consÍlgllerìl resolver, procuram um conselho, procu-
fur,orecrr ',.1zrcolhimento das crianças abandonadas
riÌr.ìì urn:r erctiviclacleimparcial de mediação, procu-
no seio tlc uma farnília, acompanhada com uma le-
rzìiìr umuÌ autoridacle que tenha o poder cle exigir
gislação :lclequacla, iria resolver muitos problemas
LL satisf:rcâo dos clireitos. querr sobretudo, das
qLlcr rlos crtsais sem filhos,
( ) urrt." i aponta dois problernas extremanrentc crianças :rltrtndonadas.
deliczrrlos: o direito zÌo nome e ÍÌ possibilidade de Nir :rusêr-rciade ulÌìÍl' Lei que regule eficazmente
aclopção. a zrtlopçãro,o Tribunal dc Menores poderia, desde
j i i , a u t o ; - i z i L ra p e r m a n ê n c i a c l e c r i a n ç a s a b a n d o n a d a s
. \ c t u : r l n t e n t e, p a r a - a r S c r i a n ç a s n a s c i c l a s f o r a d o
cÍrszÌnrento, zÌ investigação de paternidade é difícil, crrì fzrmíliats colrì conclições tais, que na futura

subnrctirlzi restrictiv:rmente à existência de pressu- vigêr-rci:rtluntit nova Lei, poderiam tornar-se adop-
tantes.
postos, c()r-ìro ónus da prova pesaclamente posto a
cargo clzr r1râe. '\ch:rmos urgente solucionar este:
problerna, através duma reformulação legislativa,
parÍÌ que zr investigação cle pzrternidaclese torne urn I.' R A N C E S C A D A GNI NO

<<Tu,criança moçambicana, és a tazão principal da nossa luta


- a luta pelo socialismo. O Povo moçambicano queÍ que tu
sejas o homem e a mulher que vão continuar a nossa luta, que I
vão viver uma vida noya, mais Íeliz do que aquela gue os'teus
pais vivem hoje. Uma vida de Pâ2, de bem-estar, de alegria,
de justiça.lr
(Extraído da DECLARAÇÃO
do preâmbulo DA CRIANçA)
DOSDIREITOS
LOCALIDADEDE ZANDAMELA
UMA EXPERIENCIA
DO TRIBUNALPOPULAR

Art.o 38 da Lei da Organizaçãofudiciária: fogos postos, originados por embriaguês, pois ali
a mãe natureza foi benevolente e durante todo o ano
<O Tribunal Popular de Localidadeprocurará a agua.rdente corre bem.
que em todas as questõesque sejam levadasao Exìstem em abundância cajueiros, mangueiras,
seu conhecimgntoas partesse reconciliem.desde papaeiras, laranjeiras, tangerineiras, cana de açúcar,
que isso não contrarie as disposiçõeslegais em melancia e mais frutos dos quais, desde há muito,
vigor. o Candense extrai o sumo que é deixado fermentar
...o Tribunal Popularde Localidadejulgaráde e o bagaço que se aproveita para fabricar a agvar-
acordo com o bom sensoe com a justiça e tendo dente. Cada família possui em sua casa uma reserva
em conta os princípiosque presidemà constru- de aguardente que serve para os períodos em que
ç ã o d a s o c i e d a d es o c i a l i s t a . . ....D não há frutos.
Para além do mais o habitante de Canda é facil-
llustra a aplicaçãodeste preceito à reportagem mente excitável, recorrendo habitualmente e com a
que se segue. rnaior facilidade ao cajado ou à azagaia para ferir.
Com aquela abundância de bebidas alcoólicas são
Em Dezembro do ano de 1978, foram criados no também frequentes suicídios. É, enfim, um Círculo
Distrito de Zavala, Província de Inhambane, 3 Tri- bem difícil.
bunais Populares de Localidade, o de Maculuva, o Depois de termos visitado todo o local, preparamo-
de Muane e o de Zandamela. -nos para assistir à sessão de julgamento. Toda a
Em meados do ano de ry7g deslocamo-nos ao gente é convidada a participar. O Tribunal é com-
Tribunal- Popular da Localidade de Zandamela a posto por S juízes dos quais um é mulher que per-
fim de podermos conversar com os juízes .e tomar- tence igualmente à O. M. M. da Localidade.
rrÌos conhecimento do trabalho jâ realizado. O Juiz Presidente apresenta a questão.
É quarta-feira, cerca das ro,3o horas quando ali Na véspera, em terras do Círculo Canda, em casa
chegámos no sítio onde se edifica a localidade de clo Mag'omane estavam o Fabião e o José a divertir-
Zandamela, mesmo à beira cla Estrada Nacional -se após a jornada de trabalho no campo. Para
n.o r, na povoação de Chissibuca. O local é coberto acompanhar o convívio, o anfitrião servira alguns
de árvores de fruto, cajueirqs e mangueiras, que garrafões de aguardente de tangerina fresquinha e
projectam a sua sombra, protegendo quem ali se forte. Após alguns copos, o Fabião
o' José e
encontra. puseram-se a discutir sobre banalidades, discussão
r\s edificações de pau-a-pique estão em constru- essa que foi-se tornando mais acesa à'medida que
Ção, participando nela os habitantes dos diversos o álcool embotava os cérebros. Em determinado
Círculos que compõem aquela Localidade. Somos '
momento, o Fabião, munindo-se do cajado que tra-
informacios que ainda se não iniciou a construção zia consigo, desferiu duas pancadas nas costas <lo
da Sede do Tribunal por terem siclo definidas prio- José, não tendo continuado devido à rápida inter-
ridades na ordem de construção, não senclo para venção dos presentes. Perante isso, o José apresen-
já prioritárias as obras do T. P. L. tara queixa no Tribunal. Todos estão atentos, e o
No local encontram-se diversas pessoas que, como acusado, cabeça baixa, apresentara-se bastante
de imecliato nos é esclarecido, aguardam o julga- enverg'onhado, sentimento aumentado pela nossa
mento do Jose Sitejane, camponês dos seus 45 anos, presença.
que foi trazido ao Tribunal por na véspera de .tarde Ê, convidado a pronunciar-se, o que faz em voz
haver agredido o Fabião Bassiquete. O ofendido sumida, dizendo reconhecer o seu feito, mas atri-
está também presente, bem como alguns familiares buindo ao álcool a re5ponsabilidade do seu descon-
e amigos de ambos trolo. Acaba por pedir perdão aos Julzes e ao José
José e Fabião habitam na Célula Canda onde de que é afinal amigo, prometendo emendar-se e
nasceram. Canda é, conforme declarações dos juízes, de futuro evitar atitudes semelhantes.
o Círculo que maior número de problemas apresenta O ofendido intervém dizenclo que levara o caso
ao Tribunal. Na sua maioria trata-se de agressões, a Tribunal por forma a qLle o trabião pudesse ser
a r l r n o e s t : r t l o ,p o i s s e n ã r l f r l r a l t i n t e n ' c n ç ã o c l c t e r - v i z i n l " r ac n l i u v a r a p o u c o t e m p o a p ó s c a s a r . A s s r m .

t - - e i r < l s1, ; o t l c r i : t l r t t ! t c r - l h t ' c z t r t s a t l t l a n l o r t e . N t r irptis r:onversacões,o r-elho cerlera-lhc umzÌs terras sob

cnt:rnto tleci:trit percloá-lo. : r c o n r l i ç : i i or l e e l : r l h e c l i r r L Ì m : Ì p e q u e n a p : r r t e c l o q u e

São ouvitlos os que clesejzìmpronuncierr-se, tendo-o conseguisse colher. A mulher clesbravou o rrato e

feito Lul rlos responsáveis clo Grupo Dinzrmizador transformou-o numzì pequenzÌ herclade, com cajuei-

rla (lé1r,rl:roncle habitanr os intervenientes, o qual ros, rlaru'ueiras e outras árvores cle frutos, man-

faz-lhes ulrì apelo no senticlo de beberem modera- clioqueirzrs, rr-rilho e verduras.

rlamente c rcfreanclo a suzÌ belicosidade. Fala.-lhes Entretanto o velho falecera em rg7r.Até o ano

sobre o significettlo e o valor da Independência Na- rle 1978 os filhos do velho nzrda clisseram. Porém,

cion:rl, oncle totlos são ch:rrnaclosa participar e toclos (ìr-ì-ìVI:Lrç:o cle r979, pretenderam apoderar-se da
()s br:rcos são poucos. rl:r viúr,er pretextanclo que aquelas terras lhe
h,-'rcla<le
tinlianr si<lo zrrrenrlaclaspor seu pai e não oferecidas.
. O F:rbião já lev:tntzt uI cabeç:r c enlbora com o
L c r - : L r l oo c z Ì s o a o T r i b u n a l , e s t e t l e c i c l i r a q u e a s
sernblante sério, esboça um sorriso que the é
terras rler,'izrmcontinu:tr ir ser exploradas pela viúva
retribuíclo pelo José..
'I'ribLràal 'o LllllÍÌ \:(,'zqr-reapós a Inclependência a terra pertencia
O <lelìbcra er.Ìl \-oz bztixzl., após qucì
:Lo Pol'o e só clevizrm beneficiar clos seus frutos
o s e u P r e s i r l e n t e ' t r a n s m i t e : r c l e c i s ã o .O T r i b u n a l c o n -
: r c l u e l e sq u e á Ì t r a b a l h a s s e m .
gr:rtulet-se coln o ntotlo colrìo zt questão foi resolvicla,
(ìontzrra.nl-nos clas clificuldacles inicietis havidas
cn.ì cspeci:rl :t posição assumida pelo Jose que per-
rlo:rrzr. No eutanto, conto forztm chamaclos a intervir pzÌrÍì se conseguìr que os casos surgiclos no seio

os r r i l í c i a s t l : t C é h - r l a , c l e c i c l eo Tribunal que o r l e p o p u l a q : õ e sf o s s e m l e v a t l o s a o T r i b u n a l -

Iìlrltiâo, conlo forma rle rnelhor :tssumir a impor- No enternto, mercê cle terem cleciclicloefectuar as

tânci:r rlc um porte correcto, ficava obrigaclo a scssrlcs nos clizrs eÍÌl que a estrutur:t política cla

clurante Llrìl nrês, nas reuniões semanais da Celula Loczrlitllt<lercuni:t, serviu-lhcs p2Ìr2Ìf:rzeretn tlos res-

:ruxiliar os rnilíci:rs a organizarem tal trabalho' ponsáveis clos cliversos Círculos e Células, seus
r r g e n t e s < l i n a m i z a c l o r e s .N a ocasião, não obstante
.\ssinr itcztbou o julgarnento. Não há maìs para
:rqueletlia. t as qLlestões continuarerì a ser colocaclas zto Grupo
:
[)inamizzr<lor tlo local, este encarrega-se de as enca-
(lonversantos então com os juízes perguntanclo-
rninhzrr no Tribunal Popular cle Loczrliclade.
-lhes qu:ris os czÌsos lnais frequentes e as decisões
Ficzrnros cleslumbrados com o moclo sério e cons-
jii tourzrcl:ts.Referetn-nos que cory frequêncirÌ surg'enl
ciente corrìo rIS cluestões erzÌnl <leciclitlas' colÌlo áÌs
casos conlo o :tcabailo cle julgilr, com incidência
pessoas acatavam as decisões e como se esforçavam
especial cle h:rbitztntes cla Célula cle Cancla' Já tive-
por conseguir ttnra reconciliação'
rlrnt três CiÌsos rlr' f1;gct-ltostopor zallg2Ì, tlttl czrso'tlt'
.\1g'r-rnsrlos presentcs tlizetlr-nos t-tito haver qual-
Irtlulttlrio r u t ' ì l : Ì r e i v i n < l i c : t ç ã oc l e p o s s c c l e t e r r i t s '
qLler p:trztlelo oll comparação com o moclo como
cleciclira que
Quanto íìo fogo-posto, o Tribunal
poucos anos :tntes os régulos, indunas e madodas.
()S seLls tÌutores tleveriam ser obrigaclos reconstruir
:r
resolvizrnt as questões. Regozijavam-se por poderem
iÌs casas e os objectos <lestruidos pelo fogo deveriam
tle facto participar nat solução clos câSosr fazendo-se
ser repostos. Como nlulta tinham sido obrigados
:rssim uÌ justiça quc :Ì população sempre clesejou'
p : r r a z t l é m t l z r q u e l ar e p o s i ç ã o a c o n s t r u i r m a i s u m a
I)esperlimo-nos tle reflresso à ciclade de Inham-
crÌsÍÌ (<le p:ru-:r-pique) como form:t cle futuramente
birne. Iìm nos a zrlegria cle nos ser claclo participar
v z r l o r i z : r r e t r to s L l o r : r l h e i o .
tle l'orrtra activzr no processo da eclificação de uma
S o b r e o z r c l u l t é r i oc l i z e m - n o s t e r e m c o n s e g u i d o a
justiça que tlo Povo sirva () Povo. Não deixamos
,"6s11çilinç:ão<lo czrs:tl, o qual tinha q filhos todos
cle sentir a responsabilidacle que sobre nós impende,
rnenores. Que e tlo seu conhecimento que eles afïora
cìue requer cllle :i toclo o momonto estejamos atentos
vivern i'clizes.
e aptos :r contribttir para que o processo avance e
() caso tl:ts terras era o seguinte :
zr Justiça vingue.
Ilxistira um velho, proprietário cie grandes exten-
sõcs rle terretto. Em nreaclosdos anos sessenta, ttma CLÁUDIO NHANDAMO

l0
Direito Comparado
AFEGANISTÃo:
A euEsrÃo Do LoBoLo
i
!
/ri
I

lf

Dois aspectos da mulher Afegã. O governo de Babrak Karmal adoptou uma política de pru-
dência quanto ao papel da mulher na sociedade Afegã. Apesar do decreto revolucionário de
',i . 1978, ainda se cobram dotes de noivado (lobolo) que oscilam eníre 1800 a 3 500 dólares.

È
Ì:
i
,l!
,i;,,
.\ prática rlo lobolo, os casamentos prematuros, consciência e cle participação das mulheres, desco-
'i.

f.
a suborrlinação cla mulher, no seio da familia e da nhecenclo qualquer valor legal a (usos e costumes>
l

s sociederdeem geral, são graves problemas que afec- tribais que contradigam os princípios de igualdade
È:
dl-

Ì.
t tam a nossáÌ realidade social. e não cliscriminação entre todos os cidadãos moçam-
bicanos.
liles constituem uma frente cle combate contra os
vestígios rlzr sociedade feurlal, contra uma faceta C)utros paises, com problemas similares, escolhe-
rlo subclesenr.olvimento, para afirmar novos valores ranl outros instrumentos cle combate contra as
rnoraris s culturais, fundados na igualdade e digni- práticas feudais. Por exemplo, a República Demo-
< l a d er l e t o d o s o s s e r e s h u m a n o s , h o m e n s e m u l h e r e s . crzitica do ,\feganistão chega a reprimir severamente,
Nós estamos a conduzir a luta contra as relações com sancões penais, o seu lobolo (TOIANA), os
familiares cle tipo patriarcal-feudal, no plano da casarnentos e noivados forçados e ds casamentos
educacâo clas massas, criando novas formas de prem:rturos, através da promulgação de um Decreto
organização económica e social, elevando o nível cle que \rzÌmos reproduzir integralmente.

l1
DECRETON.o 7 - SOBREA (TOIANADE AS DESPESASDE CASAMENTOE SOBRE
A ICUALDADEDE TIOMENSE MULHERES

, Este decreto é promulgado para implementar o art.o rz das Orientações Fundamentais das
Tarefas Revolucionárias da República Popular do Afeganistão, como fim de asseg'urariguais direi-
tos de homens e mulheres no campo da Lei Civil, de eliminar as injustas relações patriarcais e feu-
dais entre marido e mulher e de consolidar ainda mais sinceros laços familiares.

ARTIGO I

l. Ninguém poderá.prometerem casamentoou mesmo casar-se (NIKAH) com uma mulher a troco
de dinheiro ou bens.
2. Ninguém poáerá obrigar o noivo a pagar dinheiro ou bens em ocasião do casamento (TOIAI{A).

ARTIGO 2

Ninguém poderá obrigar o noivo ou o seu tutor a oferecer roupas ou presentes para a noiva ou sua
família em ocasião do IDI, NAuRozI, BARATI, ou outras ocasiões.

ARTIGO 3

A noiva ou o spu tutor não poderão receber dinheiro ou bens a título de MAHAR, em meclidabuperior
aos ro darham consentidos pelo SHARIAT.

ARTIGO 4

O noivado e o casamento serão fundados no pleno consentimento das partes, nomeadamente:

l. Ninguérn pode obrigar alguém a casar.


2, Ninguém pode impedir o livre consentimento de uma viúva ou poderá obrigá-la a casar por força
de laços de parentesco ou patriarcais.
3. Ninguém pode impedir o casamento legal de uma outra pessoa com o pretexto da existência de
noivado, de ter efectuado despesasde noivado, our de qualquer maneira, usando a força.

ARTIGO 5

São proibiclos o noivado e o casamento de mulheres menores de 16 anos e de homens de 18 anos.

ARTIGO 6

l. Quem violar as normas deste decreto será punido com a pena de prisão de 6 meses até
3 anos.
2. O dinheiro ou os bens que foram aceites em violação âs normas deste Decreto serão confiscados.

GLOSSÁRIO

TOIANA : pode traduzir-se pela palavra rrlobolo>. Esta prá- BARATI : é a cerimónia qus acompanha o ingresso da esposa
tica é típica da sociedade tribal do Afeganistão e é seve- na casa do marido.
ramente proibida pela religiáo islâmica.

NIKAH : cerimónia nupcial islâmica em que cada um dos nu- MAHAR: quantia de dinheiro que, por ocasião do casamento,
bentes tem que declarar 3 vezes a sua vontade de casar o marido oferece à esposa e que não pods ser gasto, cons-
com o outro. tituindo uma garantia para a mulher em caso de viuvez
ou de divórcio. O decreto .consente que seja mantida uma
ÍD[: festa religiosa islâmica; decorre depois da conclusâo do quantia simbólica a título de Mahar.
período do jejum (Ramadão) e depois de cada peregrina-
ção à Meca. Durante esta festa normalmente as pessoas
SHARIAT: é _o conjunto de normas jurídicas extraídas dos
trocam entre si presentes e dádivas.
livros sacros muçulmanos (Corão s Suna) por antigos
NAUROZI : festa religiosa islâmica em ocasiâo do primeiro sábios. Pode simplesmente ser definido como o <<direito
clia do novo ano. islâmicosr.

t2
..O MEUMARIDONÃO METRATABEM...
COM OUTRAMULHER''
CASOLJ-SE
l'
f.
ll
( Extractos de um Registo de Actas dum Trlbunal Tribunal mandou as milicias para apanhartodos os
Popular de Localidade)' instrumentosde fazer bebidas,exi$iu a pessoaque
as fez cumprir com um& tarsÍa duma semana.
Era um livro grande, com as primeiras páginas
preenchidas em letra grande de alguém não habi- CASON." Z _ 8lrlZg. Mulher queixa-seque o
tuado a escrever muito. homem não a trata, porque casou-secom outra
Muitas palavras estavam escritas foneticamente: mulher. O homem disse que estava cansado com
npetir clivórcio,,, ele é um (pole-cârÌtâr. Nem havia ela. Os juízes perguntaram: deixou a mulher e os
alguma referência à legislação, nem alguma lingua- filhqs, qqem vai tratar deles? E perguntou a se-
gem formal e complicada. gunda mulher: porque se casou com o homem já
Mas o Registo de Actas do Tribunal Popular da casado? Ela respondeu que estava solteira e queria
Aldeia Comunal de Muária (localidade sede - Me- ser casada.
cufi, aproximadamente 4o km a sul de Pemba)
Os juízes: porque não arranjou uma pessoa não
era bem claro. O leitor inteirava-se imediatamente
casada?
da natureza dos casos., dos testemunhos dados, das
soluções alcançatlas. Quase dois terços dos casos Respondeu: Eu não o vi.
tratavam de problemas familiares, e o que se segue
é uma selecção destes. Os luízes decidiram: houve uma fatta de cürl-
primento com a Qevolução. O homem tem do divor'
CASO N." 4 - Em zrlrlTg um marido pediu a ciar I seÍiunda mulher e voltar à primeirs. Ele
restituição de 3oo$oo pagos à sua mulher. No dia ac,eitou, e a so$unda mulher <foi ensolteira>.
seguinte, a mulher pediu o divórcio. O holnem
perguntou porquê. Ela respondeu porque está can- CASO N.o I - rylzlZg. Homem quer divorciar
sacla contigo, você é um polígamo e maltratou-me. sua mulher. Disse que estava cansado com ela, eles
sobre o dinheiro, eu não entendem bem. A mulher explica: o homem
Quanclo você perguntou-me
respondi, ir ao Tribunal. abandonou a casa, foi-se a casa da sua mãe. O
Por isso, ele foi ao Tribunal. Mas os julzes problema era a fome, a colheita do milho cessava
cleciclirarn que a mulher tinha razão de pedir divórcio e era pouco em 1978, porque antes de colher estes
porque ela se sentia emancipada como mulhef produtos, colheram upobrosn (abóboras). Combina-
moçambicanaque era não querla sor exploÍtdt. ram que o homem vendesse-osem Pemba. Ele foi
O dinheiro foi pago para gastar, e não tem de ser lá, obteve z 5oo$oo, mostrou a mulher e disse que
restituído por causa do divórcio. ia comprar um rádio. Ela respondia como vamos
O casal foi separado, o homem foi na (outra) comer, como vamos vestir? Depois de três dias, ele
rnulher. comprou um rádio. A mulher disse que ela tinha
gosto do seu marido sempre.
CASO N.o 6-glrlZg. Homem quer despachar O Tribunal decidiu: o homem não tinha razão de
a mulher dele, porque ela não ouve as suas ordens. divorclar, tinha de. continuar com ela com I Dobi-
Ela anda com outros homens e não disse quem são. lização dos responsáveis.
Mulher responde: homem não tem interesse. nela,
porque ela está com bebé no colo, também quer CASO N.o ll - rSlzlTg. A mulher queixa que
casar-se conl outra mulher, também, sempre bebe o homem não a trata. O homem responde: Sim, eu
e quando bêbedo acusa-a de andar com os homens, não a trata,, mas recusa dizèr mais. Os juízes per-
que não é verdade. guntaram a mulher porque. Ela responde. Quando
O Tribunal decide: o homem tem de ficar com eu me casei com o homem no ternpo colonial, eu
a mulher, eles foram casados há muito tempo, tem não sabia que ele já tinha outra mulher. Perguntei-o
filhos e o Governo não aceita divórcio de qualquer sobre isso, dizendo que eu não queria ser a segunda
maneira ! O segundo problema foi de bebida, I o mulher.

13

,*
Ele prometeu deixar a outra mulher. Naquele O homertr: Só foi casar.
tempo ele era cipaio. Mas em 1928, arranjou uma O Tribunal: Tem filhos, quem vari criá-los!)
terceira mulher. Eu perguntei-o, e ele disse que Chamou a seg'unda mulher e perguntou-a sobre o
podia casar-se com quem queria. Depois ele calou-se, casamento com um homem já casado. Ela disse que
mas foi casado comigo, e terminóu a chegar a minha o homem afirmava que não era casado.
casa. Eu estou cansado com estes problemas.
Uns responsáveis clo Bzrirro disseram que não erzr
O Tribunal: O homem tem de divorciar esta
a p r i m e i r z Lv e z \ e r a t e r c e i r a v e z q u e c l a f a z i a i s s o .
mulher, não pode ter 3 mulheres, porque o homem
é pole-cama (polígamo) e em Moçambique e na
Aldeia não admitiam a poligamia. Mas o homem O Tribunal clecidiu que a mulher tinha que ser

cleixou dois filhos, por isso tem de fazer casa para reeducada por vinte dias de trabalho no centro da

eles, e pagar z ooo$oo para ((balhas cabrizD a casa. A,ldeia, e o homem por 60 dias e não continuar
com ela.
Já, fez. Cada mês tem de trazer dinheiro ganho nos
serviços aos filhos; se ele não cumprir, o Tribunal
vai mandar a mulher ao serviço para receber o C A S O N . " l 5 - - Z l r l Z g . O h o r n e n r q u e i x z rg u c i r
dinheiro. rnulher clorme com outro lrontent chefe clc cclucação
físic:r no Distrito. O homem nesou completzrmentc,
r r r z Ì sz ì m u l h e r d i z q u e s i m . O T r i b u n a l t l i z q u e e s t z r
CASO N.o 12 - IJm camarada deixou a mulher
situerção nâo pocle continuzrr, a rnulher ter-r-r
que fic:rr
dele, e casou-se com uma outra mulher. O homem
colrì o seu mariclo. Mas o ln:rririo <lecicle qLle ele
explicou: a minha mulher não me trata mal, mas
não quer n-rais áÌ nrulher elzr porle ir caslrr-se coltì
eu queria por vontade casar-me com outra. O Tri-
outro iromem e o Tribunal r e s p o n c l e:
bunal perguntou: Não ouve que na R. P. M. do
B e r n , \ ' á Ì m o sc l i v o r c i l r r - \ ' o s ,p o r q u e e r r Ì u n - rc i r s ; : u n e n t o
Rovuma ao Maputo um homem não pode deixar a
polígamo, er:Ì a seguncla mulhcr. .\ceit:rrallr e sepuì-
mulher e casar-se com outra mulher? O homem
r2ìram.
responcleu: sim, eu ouvi, mas por vontade queria
casar-me com outra mulher.
CASO N." 17 - O h o r n e n - rc l i s s c q u c z r m u l h e r e s -
Depois de terceira pergunta clo Tribunal, disse titvzr a zrnclarcom outros hor-nens.Ele clescobriu isso
eu errei, porque sempre foi declarado em Moçam- por cÍÌusa rle uma doençzr quc' ele recebeu clelerdoi-o
bique não admitimos divórcio sem motivo (suste- quanclo ïaziir xi-xì. ,\ rnulher disse que sinr, fazia
jado,, (justificado, suficiente), não podemos admitir relações sexuais com um homern que ela encontravzr
poligamia. nzr estrarliÌ, sem sabcr o norrìe clele. Os juízes criti-
cam zÌ nrnlher corrìo LlmzÌ putzr, e os responsáveis
O Tribunal perguntou a seguncla mulher: porque por inclisciplina,porque esta não erzr a primeira vez
aceitou o homem quando sabia que ele estava que ela fazia isso, nem a seguncla nem rÌ terceira.
casado ? Ela respondeu : Eu tinha vontade de fazer Orclenarzrm uln clivórcio conforme a petição de ho-
isso. Casou-me, rrìas tarde depois lembrei-me de rnelrì! e clisse qLle a mulher não pocli:r encontrar
que ele estava casado e que fiz um erro as mãos nada, excepto procLlrzrr:rquele homem com que fazia
da minha amiga. relac'ões.

O Tribunal: Não assistiu as reuniões em que foi


CASO N.' 25 - z o l + 1 2 9 . U r n a c a r m a r z r c lpeer c l es e r
expliczrclo que o homem não pode ter a segunda
rlivorci:rrl:r <lo seu rnari<1o <lizenrlo que ele acabotr
mulher, será umer exploração?
tle zr olhar ou cle íÌ ármzrr, e elzr não tent gost<t
A rlecisão do Tribunal: A segunda nrulher não clele. O hornem responcle, não falanclo muito, qut:
será caserclamais com o homem, tem de ser reedu- depois cle jantzi.r, ulrìa noite, quanclo elc estava :Ì

cada por vinte clias no centro da Aldeia (a sentença clormir, elzr ercorclou-o,c qu:rnclo eie se acorclou, elzr
não disse nada sobre o homem). clisse: Olhzr, o meu mariclo, eu não tenho ÍÌlllor con-
t i g o ; : r m u l h e r c l i g z rq u e e l a s ó q u e r c l e i x a r o h o r l e m .

CASO N.o 13 -6lzl7g. O homem deixou a mu-


lher e c:ì.sou-secom a seguntla mulher. O Tribunal: -\ nrulher foi aos responsáveis do bairro, que
como deixou a sua mulher e foi casar-se com outra clisser:rm que eles combatian-r o clivórcio.
mulher quanclo sabia que nessa Revolução não quer
que um cidadão faça isso sem motivo -fribunal. ()s juízes perguntzr-
sofisticado Depois cla foi ÍÌo
l l u s t i l i c a c l o )? ráìlrì: Corno responsár,,eìsda Alcleia, estão a combater

-14
o clivórcio, no outro lado, estamos a apoiar o clivór- popular com basc na aplicação de princípios iguais
cio. Esta não é a primeira vez que ela pecliu, gem para toclos os cicladãos em todo o País. Estes ex-
a seg'unda vez, nem a terceira vez. tractos testemunham a capacidade que os juízes
Desde rg7i ela estava a pedir o divórcio. porque eleitos pela população têm de resolver os seus pro-
:
.'
J
nós não estamos sozinhos, \zamos levar o caso ao blemas sociais através de princípios unitários e
ll l)istrito. revolucionários.
(N" reunião com a nossa Brigada, a secretaria Noutros paises africanos, existe uma pluralidade
Í
levantou este casor € o,delegado respondeu. A orien- de sistemas legais dentro de cada País, aplicando-se
ì.{
i i!:'

tação era que o Tribunal devesse tentar reconciliar normalmente um sistema de origem europeia a uma
zÌs partes, dar-lhes uma semana parà pensarem. Se elite urbana; e um (ou vários) sistema tradicional
,i.i
os problemas eram graves - como no caso men- às massas ; portanto a solução dum problema .de-
'jì
,, cionaclo - clevizr dar um divtlrcio. Tratou dos pencle mais da religião (muçulmana, cristã) ou etnia
i,li

íi, casamentos não registaclos. Casamentos registados das partes do 'que doS factos provados.
'ti,
i,t; cleviam ser enviados ao Tribunal Distrital). Naqueles países as mulheres normalmente obtêm
i !l'
' .ï,
ì bl.
pouca protecção <izrlei, e os filhos pertencem a quem
'Wl
'*{
'li:' C O ] UE N T Á R I O : de <lireito, independentemente dos seus verdadeiros
Bì,.
ïí interesses.
r$1
| /1.
Este é um clocumento verdadeiramente histórico; l)um modo geral, os Regi516r de Acta clos Tri-
Iii!.
iü, const.itui um exemplo do funcionamento dum dos bunais Populares testemunham um período de luta
iry', primeiros Tribunais Populares de Localidade na profunda entre o novo e o velho na R. P. M. Mais
i$'
'|t': R. P. M., e dá uma ideia muito clara da maneira concretamente: eles fornecem informações muito
,n,
È:' como os novos juízes populares estão a resolver valiosas sobre as activiclades e opiniões dos julzes
ifi
itt,
cjs problemas familiares através dos novos valores populares e dão aos responsáveis do Ministério da
i3!
rH . revolucionários. Eles não aplicam nem a velha legis-
Justiça uma ideia clara sobre quais são as novas
tbi
rS
lação colonial-capitalista, nem a lei tradicional-feu- orientações necessárias.
& dal, mzrs cleciclem os casos .,cle acordo com o bom A elaboração e conservação destes Registos deve
idL
r{"
t#f sensoecomajustiça>. ser considerada uma tarefa vital no processo da cria-
t#.
iry A R. P. M. é um dos pioneiros no continente ção da Justiça Popular..
It africano na criacão dum sistema verdacleiramente
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is ALBIE SACHS
1#.
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SOBREA CONSTITUCIONALIDADE
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ï A questão pode iniciar-se com uma pergunta: de Mas quando se pode dizer que uma norma é com
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que forma é aplicado o afi.o 19 da Constituição? certeza contrária à Constituição? Há casos em que
tr
(
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Dizer que: isso não levanta dificuldades, como por exemplo o
$r
{ Art.o rTgo do Código Civil que estabelece a indisso-
ii',
tr uToda a legislação anterior no que for contrário
* lubilidade dos casamentos católicos face à lei civil,
à Constituição fica automaticamente revogada.
íf,: em aberta oposição com o art.o 19 da Constituição.
A legislação anterior no que não for contrário
j'' à Constituição mantém-se em vigor até que Mas há casos em que este juízo não é tão unívoco
t' seja modificada ou revogada.,, e simples e, sobretudo, não é de natureza jurídica,
li mas sim política e ética.
a
s'.' significa fixar um princípio geral segundo o qual
na República Popular de Moçambique continuam Por exemplo, o Código Penal contém algumas nor-
Ì
{ em vigor as leis herdadas do colonialismo quando mas cuja legitimidade constitucional poderia ser posta
$
tF.
18'
não estejam em oposição com os novos princípios em séria dúvida, ou pelo menos em discussão: pen-
#.
que reg'em a sociedade moçambicana; significa a semos nos artigos que têm como fundamento uma
f
t:'t..
opção de não cleixar perigosos vazios legislativos defesa implacável da propriedade pessoal (art." g77
á à espera de novas leis. e art.o 425), ou os que são baseados sobre uma aberta
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tliscrimin:rçiro rlas mulhdres (art.o i9z e art.o 322 , ilegais,,: uma sentença pode ser injusta ou ilegal
ou aincla os que clemonstrzìm Llma concepção tipica- por razões rle direito, quando é consequência da
rnente burgueszr d:r farnília (art.u +oo, art.o 4or e :rplicac;ão de ulnÍÌ norma injusta ou ilegal, nomea-
r Ì r 1 . . "3 5 6 , $ ú n i c o ) , e t c . rl:rmt:nte <le uma nortrìa zrnti-constitucional.
Em geral o Código Penal, promulgado há mais Se, por força clas suas'funções institucionais, atri-
rle ceffl anos em Portugal, reflecte os princípios buirrros ao Tribunal Popular Supremo esta compe-
morais e jurídicos da classe então no poder, uma tência, fica ern aberto o problen-ra de como se pro-
burguesia latifuncliária e clerical, uma das burguesias cess?Ì urn juizo de constitucionalidade.
lnzris zrtras:rclascla Europa. L . Ì r n as o l u ç ã o p o s s í v e l é a s e g u i n t e :
\,{uitos artigos foram revogados depois do z5 de Quanclo num processo (quer penal, quer civil) está
Abril em Portugal, mas não o foram formalmente enì jn.gn :Ì apliczrção cluma norma cuja legaliclade
er-n Moc:rmbique. constitucionzrl pareça duviclosa, pode o Tribunal
\ião é então um problema abstracto, um sofisma clzrquelzrinstâncier suspender o processo à espera
cle juristzrs, ter áÌ preocupação de como.se realiza o rluma pronúncizr clo Tribunal Supremo.
conteúrlo clo zìrt.o Tg cla Constituição. .\ questâo rlzr constitucionalidade pocle ser levan-
Interpretando qu:rnto é afirmaclo na própria Cons- t z r c l ap e l z r sp a r t e s , o u p e l o s p r ó p r i o s j u í z e s ; c l e q u a l -
tituiçâo e n:r Lei <1eOrgzr.nizaçãoJudiciária, é pos- quer m:rneira sempre o Tribunal no seu conjunto
sír'el fazer hipóteses e deduções. <leve pronunciar-se sobre o fundamento cla questão
Por força clos artigos Zo, Zr e ZS da Constituição, e avaliar se está correcta e razoavelmente posta.
'l-ribunal
carla Popular de Distrito ou de Província Isso perrerevitar que a questão de constitucionzr-
(não cle Localiclacle oncle os critérios não são os da lidacle e a subsequente suspensão de processo se
estrit:r leq'aliclacle,mas clo bom senso e da justiça) tornem meios dilatórios ou meros expeclientes pro-
porle julezrr, por sua . iniciativa ou a pedido do cessuiris.
Ministério Público, qLie uma norma seja anti-cons- Iìstit parece ser uma solução ra,zo'llel dentro clos
titucional e não aplicá-la no caso concreto. E então princípios orientzrcloresda Lei cle C)rganização Judi-
chegar à decisão do processo como se aquela norma ciári:r.
rrão existisse no orclenamento jurídico e, referindo-se Cclrn efeito o 1-ribunal Popular Supremo, enqu:rnto
aos princípios gerais, colmatar a lacuna. órgiro máximo <la função judicial, reune todas as
N'[as isso não significa revo5lar uma norma jurí- qualiclaclesrle competência técnico-juríclica s de capa-
tliczr: naquele caso em que era aplicável, o Tribunal ciclade política necessárias para julgar questões tão
porle cleciclir não aplicá-la sem dar algum juizo defi- irnportantes como revogar definitivamente uma nor-
nitivo sobre a suÍì existência ou sobrevivência no rrìA cle clireito positivo.
orden:rmento juríclico. É uma hipótese de solução. Outras podem existir
Ilm surnzr, zì horma não aplicada continua a exis- parzÌ resolver o problema apresentaclo, tenclo em
tir e em czÌso concreto os Tribunais têm que pronun- conta que o art.o Zg da Constituição corresponcle
cizrr-se sobre' zr constitucionaliclacle. a um:Ì escolha correcta e realista: percorrer uma via
Será o juizo clos Tribunais uniforme!) cle transição graclual no domínio clas leis, não ariabar
Ou mais possivelmente, haverá casos em que a tle unl clia parzÌ outro com a legislação er-Ìr vigor
lÌlesrìláÌ nornlzÌ será julgnda em harmonia e casos :rntes <la Inclepenclênci:r, não construir <ie forma
em que será julgacla em oposição corrì os princípios :rbstrircta urx novo conjunto <ie leis, mers sim eclificar
'?
constitucionais áì nova legaliclaclecom base nzr prática concreta clos
'isso
Tuclo com certeza não vai contribuir para uÌ Tribunais Populztres.
uniformiclzrclede jurisprudência que é rlesejacla pela Nzlas, neste processo cle transição, é preciso pro-
I-ei rle Orqzrnizaçâo Judiciárier. cLlrzÌr instrumentos idóneos para afastar clefinitiva-
mente :rquelas norrrìzrs que repugnam a consciência
.\ outrzr :rlternzrtiva é zr cle considerar como órgão
rlos cirlarlãos e estão completzrmente ultrapassadas
competente o Tribunal Popular Supremo.
pelzr no\'ÍÌ realiclade clas relações sociais na Repú-
IÌn-rbor:r esta competência não esteja explicita-
blica Popular cle Moçambique.
rrrente fixacla pela Lei rzf 78, pocle-se talvez deduzir
Neste sentido o nosso Ministério está a elaborar
r l a s z r l í n e : r sa ) e f ) c l o a r t . o 1 8 c l a m e s m a L e i .
zÌ preparação cle um Código Penal (expurgado)) de
(ìonrpete zÌo Tribunal Popular Supremo uunifor-
tocl:rs áÌs norlll?Ìs nranifestarnente contrárias à Cons-
miz:tr zr jurisprudêncizr,,: isso poile significar tarnbém
tituiç:âo ou tacitzrmente revogzrdarspelzr nova legis-
pronuncizrr-se sobre questões controvertidas cle
lacâo cla R. P. NI. Este trabzrlho constitue o primeiro
c o n s t it u c i o n a li t l a r l e .
'Tribunal passo ate à elaboração de ulrì Projecto cle novo
Compete :rincl:r ao Popular Supremo
código Penal'
:tnul:rr ÍÌs sentencas ,<manifestamente iniustas ou
r'naNcpscA DAGNIN'

l6
buída a tarefar de efectuar a cobrança das receitas

,IAHSPRADEilCIA
arrecaclzrclers
pelos centros e postos de saúcle depen-
clentes claquela unidade hospitalar; no desempenho
desszr actividade, cabia-lhe receber o dinheiro e pas-
sar os respectivos talões cle recibo em triplicado. -
.-\corcl:rnr, enr conferêncizt, os juizes clzt ;." Secção clestinando-se o original ao centro ou posto rle serúde
..
t{ (lrinrinlrl rlo Tribunal Populzrr Prorrincial rle Maputo: que fzrzizra entrega da receita, o cluplicaclo aos ser-
v i c o s t l e f i n z r n c z r s( j u n t z r r r e n t e c o m : ì r e l : r c ã o m o -
Ì - ()
tligno Nlzrgistraclo clo Ministério Público clelolts) e o triplicaclo, constante do livro cle registos,
'l'ribunal
junto <leste z Ì c u s z to r é u H E R C L T L A N O :ro :rrguiclo rlo próprio Hospit:rl. Porénr, o réu nem
l)ANllìI- NO\'El,A. c a s u r c l o .z r u x i l i a r d e A c l m i n i s - s e m p r e a s s i n - tp r o c e c l e u ,c o n f o r n r e s e v i r i a z ì 1 Ì p u r a r . . .
trirç:ão de :.u clirsse tlo Hospititl Gcrzrl cla Mztchavzr,
Efectivamente, tendo verificzrclopor tliversrrs vezes
rlc 22 :uros cle irl:rcle, filho cle l)aniel Tovela e de
:r cxistêr-rcia rlc irregulzrricl:rdes nir numerzrcâo clos
.\rnrinrl:r Sarúl, nzrturzrltle Zayztla- InhzÌnlbane e
r e c i b o s , o s u b s t i t u t o r l o c h e f e c l a S e c r e t a r i z r ,S i m i â o
r e s i r l e r - r t en o l ì z r i r r o l - u i s C l a b r z r l c é l u l a . , E , , como
Mnnhiça, collleçou .r clescr>nfizrr
que algo de :rnormzrl
:rutor rlc um crìme cie desvio cle fundos do Estado.
s e p a s s z Ì \ ' i;Ì t a l s u s p e i t a v i r i a a u n r e n t z r r q u z r n d o , j á
p r e r - i s t o c p u n i d o p e l z LI - e i n . o r l 7 9 , a r t . o r . o n . o r t
:r1ínc:ic), c o l Ì l i Ì e t g r z r r ' : t n t e2 + . o < l o a r t . o 3 r 1 . " c l o lrcrto ilo fim clo ano, o réu sc uusentou rle férias,
zr substituí-lo o seu colega Francisco Lisboa
l'ic:Lrrrlo
Córligo Penal,
- obserr,'ando-se, entâo, ul11 zrumento substzrncial
Porcluzrnto rlostrzrm os ztutos que :
l\ rlas rcceitzrs, relatil'amente aos meses :rnteriores ;
-- () zrrgui<lo, senrlo rcsponsável directo pel:r rr confinnaç.ão cl:r cxistência clc clesvios clc rlinheiro
i-

c o b r u r n c r rt l c r e c e i t r r s f e i t a s r - r o H o s p i t a l ( i e r a l c l : r r-rãosc fez esper:rr, pois o referirlo cheÍe cle se:cretarier


ì,[:rch:Lr':rno períoclo clue nreclei:r entre Jzrneiro clci cor-rst:rtor-r
fircilmente'estzr situ:rção ao colÌìpzÌrzÌr os
r c ) 7 c )c J a n e i r o < l e r 9 8 o , c o m : r intenção cloloszt lt' o ; - i g i r r z r i sc l e : r l g u n s r e c i b o s : r s s i u e t r l o sp e l o r é u c o m
1 ' r " r g iirr-o c o n t r o l c < l e s t z rp c l : r r c s p c c t i r ' : Le s c r i t u r z t c - r o . os rcspectivos tlr"rplic:itlos.
r it.'ilrrrtlo
l r r l i l ' i c i o s : r r t t t ' u 1t lro' c r u r t c n t o sc c ' x t r : t v i l t n t l o
.\lertlrtlits ir-neclizrtanrente
zrs cstruturas du tlirecção
o u t r o s , f r i r u c l u ì e n t z t t r r c t r tfeo i s u b t r z t i n c l o v a l o r e s : t ( , )
r i o . ' c : ; p i t r L lc r l o s e c t o r c i c S i r h r l e a n í v e l t l a c i c l a d e
l ì s 1 l r r ì o , < l i s s o r c s i i | 1 l r r r t l ot ' s t c l ' i c i r r l e r s : r t l o c n ì
c ti:L i'ror'ínci:r, tltcitliu-sc lìonlt:zrr ur'ÌliÌ cott-tissào,
r l + . + o . ) , . - ) oI { l ' (cento c trint:r e quzrtro rnil c quzr-
cor-istil-uiclapor c1u:rtro elcnrcr-rtosconl a tzrref:r rle
trocentos nretic:ris), inrportânci:r esta que o arguiclo
rctliz,ar Llnlír insptcçâo ir cscritur:tçâo tlir contabili-
g:rstor-r (ìrÌr seLl prclveito próprio.
tlade.
(lorn cstcs l'unrlirnrentosl'oi o reLl pronunciitclo. ( ) r r s u l t z r r l or l c s t c t r i r l ; l r ' h oc s t r i c l l r r l r n t c n t tc' x l t o s t o
l l : r n t c n c l o - s e r ' á l i t l o o p r o c e s s o e r e g r , r l : r r: r i n s t â n c i a , ncì rel:rtclriojunto zÌos (rutos :r fls. S, senclo confir-
foi subnrct'irlo zr julg:rnrcnto que se realizott conl n r : r c l cpl e l a s t l e c l r r r a c r i c sr l t ' t o < l : r sÍ Ì s p e s s o l r s o u v i < l : r s
i r r t t ' i r : r o b s c ' r r â l r t - ' i r; lri r s l ' o r r n : r l i t l z r t l cl es g : r i s ,
l l o l ) r ( ) c es s ( ) :
( ) r r ! u r l c f e n r l c u - s c p e l a c o n t e s t r r ç ã o e s c r i t a , á Ì l l r e-
- .\trzrvés ri:r vici:rc:ão rkrs rlupliczrtlos rlos recibos
s c n t : r t l a p e l o s e u t l e f c n s c l r o f i c i o s o , e p e l a r sc l e c l z t r a -
ou tlzL sLlzÌ otniss:ìo pul-:r c si;nitlcs, o r'r'tÌ tlesvior-t
r , ' õ e sq u c q u i s p r e s t z L r , n a s q u : t i s , e e ì n ì s u b s t â n c i a , rlo tlestino legal, tlurztnte totlo o áÌr-ìorle 1979, ÍÌ
confesson :t práticir clo crinre. irnportâr-rcia total rle r-ì+.-looioo NÍT (cer-rto c trint:t

'fu<lo quatl-o nril c qurrti'occntt-rs meticztis), quc tlcveriarn


visto, cLllÌlprt: aprcci:rr e rleciclir.
ter <lzrclo cntr:rcl:r 1ìos coÍ'res tlo Est:rtlo.
l.
I.i Ì ) l r r l i s c r - r s s ã or l : L c á Ì u s á Ì ,r e s n l t o u p r o r . i r d a i r s e -
li Ilste fzrcto foi, uliás, confirnr:trlo pelo pró;rrio reu,
i
g u i n t e ' r n i r t é r i z rt l e f a r c t o :
q u e a c l r n i t i u t e r u t i l i z : i r l o t : t l t n o n t z u l t e c m s e r - rp r ó p r i o
- linr .f..Lneirocle r97L) o réu foi colocado na prrlr.'eito, gastirntlo-o n:t colìlpr[ì tlc- rouplt, <lc Lllll

Secret:rri:r tlo Hospitzrl Ger:rl tl:r Mzrchar-:r como ,3'r:rr':rrlor c respectivzr colnnir, en.r viztgens que re:t-

r t r x i l i z r r t l z r - \ r l n - r i r r i s t r e r c ã( o1 t : 2 . " c l a r s s e ; F o i - l h e a t r i - lizou a terrir rl:t su:t nitturrtlitlzttle c ellt oLltros ftns.

t7
,,,1

ii


l,r

ta,
Igualmente se provou na audiência de julgamento - Consiclerancloque o réu se serviu abusivamente
ter o réu clesencaminhado o livro de registo dos <lersua qualiclacle cle trabalhaclor da F'unção Pública
recibos, referente ao' mesmo ano cle 1929, que se para praticztr os crimes (circunstância agravante,
encontra à suzr guzrrcla e conservação. previst:r no n.o z4 do art.o 3q.o rlo Cócligo Penal).

De facto, quando proceclizrà investigaçâo clos ori- .- Consi(lerarnclo ainda que o réu é clelinquente

ginais er rluplicaclos rlos recibos emitidos pelo réu, prirnário, confessou zr,prática dos crimes e mostra-se
o substituto rlo chefe cla secretaria, Simão Mzrnhiça, :rrrerpenclido,tenclo manifestado expontaneamente a
pecliu-lhe que erpresentasse o livro rle registo que sua intençãro cle repôr a importância desviada;
continheL os triplicados e o réu zÌpenas lhe fez a
- Os Juízes cla 5." Secçáo Criminal do Tribunal
entrcga <le uma folh:r, arrerncadzrdesse livro, afir-
Popular Provincierl c'le M:rputo, ,em nome da Repú-
manrlo que o livro propriamente dito clesaperrecera
blica Pupular cle Moçambique, condenam o réu
r u r i s t e r i o s a m e n t e. .
HERC'ULANO DANIEL NOVtrLA nas seguintes
()ru, () réu erÍì o írnico f'uncionário encarregaclo penas parcelares:
r l i r c o b r : r r r ç : r< l a s r e c e i t a s e , c o n s e q u e n t e m e n t e , s ó
,- Pelo crime de desvio cle fundos clo ,Estado. na
ele tr:rir:rlhzrv:rcorl'Ì lìquele lir ro, exceptuanclo, claro
pena de 4 (quatro) anos de prisão maior e 3 (três)
está, o curto períoclo ei-Ìl quc estcvc rle férias ar foi
nìeses de rnultzr, à taxa diárier de 6o,oo MT;
s u b s t i t u í r l o p l k r l i r ; r n t . i s c oL i s b o a . ( l r r b i : r f l h e ,: L s s i r n .
lutilizar o livro, a;rruivá-lo rlepois <le concluiclo e - Pelo crime cle clescaminho cle documentos. na
l r p r e s e n t á - l o c 1 n : r n r l os o l i c i t r r c l o . pcn:r rlc z (c1oìs) anos cle prisão maior;

-_ r)1'ls crinre <le falsificerção, na pena de 6 (seis)


Ni.o iro.; p:rrec,l, pois, :rceitávcl quc lfirme rlesco-
n'Ìcses clc prisão correccional e Llm mês de multa
n l r c c i ' r o s e u p : r r : r c l e i r o ,senl Íìpresent:rr motivos jus-
L razào tle 6o,oo NI1- por dia.
tificutivcls.

[)roceclcnclo :ro cún-rulo juridico das penas, nos


ì+


termos clo rrrt.o Lo2.o, n.o* r, 2 e {i r.o do Código
Penal, \'enr o réu conclenaclona pena unitária de ...
l ' l r ; s t r : r n r - : ; : , r r s s i n - r i, n t e i r a m e n t e p r o v e r c l o so s f u n -
; (cinco) anos de prisão maior e ....
tlzrnrcr-rtcl:.;
clzr :tcusi,tção.
- + (quatro) meses de multa à taxa diária de
Conr :r sLlÍr concluta, praticou o réu, em acumu-
lação reirl, Lln-rcril-r'recle desvio de fundos cle Estaclo, 6o,oo NIT. Vai ainda condenado na indemnização

p r e v i s t o e p u n i d o p e l o a r t . o r . " , i l . o r , e r l i n e ac. ) , c l a cle r34.4oo,oo MT (cento e trinta e quatro mil e

[-ei n.o t l7g, de r r de Janeiro; Llrn crime cle falsifi- quatrocentos meticais) a favor do Estado.

cetcão, previsto c puniclo nos termos das clisposições


conjueadas clos Art.o' 2rg} Fixam no mínimo o imposto de Justiça e em
e zr8.o n.o 5 do Código
qooloo NIT os eurolumenntos a favor clo defensor ofi-
Penal; e um crime cle descerminho de documentos,
previsto e punido pelo art,o 3rr.o clo mesmo Código. cioso.

.\o efectuar ester qualificação juridica dos factgs, Itassem-se manclados de conclução do réu à cadeia.
ter-e o Tribunal em consideração o clispostono art.o Enviem-se boletins ao Registo Criminal.
++7." rlo Cticligo clo Processo Penal. Notifique-se.
Maputo,' :ros 27 cle Agosto cie r98o.
\esles terlnos:

- Consi(ler:rnclo qLre o réu manifcstou,, coln a sua


conclutzr Lurì profunclo cìesprezo pelo património do Assinaclo: João Carlos Trindade, Cecília Vilancu-
Estzrclo l'opular, o qual todos os ciclaclãos têm o los, Arminclo Saela N'lassema, Adelaide
rlever rle respeitar; Matsombe.

18
Proc. 19.992V. S. Acórdãode 8/l0ll97g Termina referindo que a pena aplicada se mostra
excessivamente leve, devendo não ser inferior a três
Sumário: uTraduz veemente intimidação, como ele- anos de prisão maior.
mento constitutivo do delito de violação,
Requereu ainda se extraíssem fotocópias de fls. 9
o facto de alguém, invocando poderes
e 9v. e rrv., 12 e r2v. a serem enviadas ao Digno
de curar, conseguir relações sexuais,
Agente do Ministério Público do então Tribunal da
desig'nadamente fazendo cier que os
Comarca de Gaza, para instrução do proceclimento
tratamentos rninistrados, não sendo
criminalpor exercÍcio ilegal da medicina dado que
acompanhados daquelas relações, seriam
na sentença em apreço se debruça exclusivamente
inúteis ou até desastrosos, na medida
sob o outro crime.
em que não levariam a obtenção da
saúde, podendo até causar a morte. Na Para os efeitos inclicaclos foram extraldos e entre-
(evan-
circunstância, o Réu intitulara-se gues as referidas fotocópias. O Réu notificado nos
gelista zioner. termos e para os efeitos do estabelecido no art.o 667
n.o 2 do Código do Processo Penal, não apresentou

Acordam em conferência, no Tribunal da Relação resposta.

de Maputo: Tudo visto e ponderado:

Em noite não determinada do mês de Agosto de


FLORÊNCIO MACANDANE SIMBINE, identi-
r9ZZ, o Réu, em sua casa, manteve relações sexuais
ficado nos autos, foi pronunciado e julgado em
com - que era então menor cle
processo de querela, no Tribunal da ent:io Comarca
r5 anos. A ofendida não queria manter relações
de Gaza, como autor do crime de estupro previsto
sexuais e o Réu, valendo-se do ascendente que
e punido pelo art.o 3gz do Código Penal, na pessoa
ganhara sobre ela, quer por invocar a sua pretensa
de nascida
qualidade de nevangelista zioner, quer por se arro-
em 196z, com o concurso das circunstâncias ag:ra-
gar a qualidade de saber curar pessoas, conseguiu
vantes r.", 2.n, r6.t e e8.o do art.o 34 do mesmo
manter relações sexuais, fazendo-lhe crer 9üe, se
tliploma, tendo sido condenado na pena de dois anos
não aceitasse ser sua mulher, não sC; o tratamento,
de prisão maior, com S ooo$oo de indemnização à
que lhe andava a ministrar, não daria bons resul-
ofendida, zoo$oo a favor do defensor oficioso e no
tados, como até podia provocar-lhe a morte. Nos
mínimo de imposto de justiça.
dias imediatos ainda mantiveram relações por mais
quatro vezes, sempre contra a vontade da ofendida.
O Digno Agente do Ministério Público interpôs
recurso, no cumprimento de instruções superiores, Do auto de exame de fls. 5 consta que a ofendida

e nas alegações afirrna-se concordante com a douta estava desflorada, mas não se prova que tenha sido
sentença (porquanto nela se faz criteriosa apreciação o Réu o autor do clesfloramento.
da leir, terminando por pedir a sua confirmação.
Por outro lado, o vencer a vontade da ofendida
fazendo-lhe crer que os <tratamentos> que lhe minis-
O Réu não contra-alegou.
trava não só não dariam resultado, como podiam
Subido o recurso, o Exmo. Procurador da Repú- até causar-lhe a morte, caso não aceitassse ser sua
blica emitiu o seu criterioso parecer a fls. 68 e 69 nrulher, isso integra o conceito jurídico de veemente
dos autos, onde discorda da qualificação jurÍdica. intimidação que exclui a sedução. Logo o acto pra-
No seu entender estaríamos perante um crime de ticado pelo Réu não está tipificado no art.o 3gz do
violação por não ter sido verificada a <sedução> Código Penal como consta da sentença.
que é elemento indispensável para preencher a tipi-
Verifica-se agravante 19 (noite), pois que natu-
cidade do crime previsto no art.o
3gz do Código ralmente facilitou o alcance do objectivodo Réu.
Penal. Tratar-se-ia antes de urn crime de violação
Irnprocede ag'ravante z8 (superioridade em razão da
sob a forma continuada, não beneficiando o Réu
idade e do sexo) por serem elementos constitutivos
de quaisquer atenuantes, dado que desde há muito
do tipo legal.
tempo se dedica ao exereício ilegal da medicina e
não tem confessado prontamente o crime. Não está provada a premeditação. (agravante r.").
As ameaças proferidas porque integram o conceito
r\gravam as circunstâncias 5.. (ameaças), e 28.' de veemente intimidação, que por sua vez é elemento
(superioridade em razâo da idade) do art.o 34 do típico do crime, não podcrão ser consicleradas isola-
Código Penal. damente como agravante (S..).

19
Está provado que a ofendida recebia <tratamen- - '\NTóNIO FINIASSE, solteiro, de 19 anos
tosD em casa do Reu e este, ao cometer o crime de idade, motorista, natural de Inhambane,
em sua casa, atraiçoou a confiança que a ofendida residente à clata da prisão em Maputo, no
e os seus familiares nele clepositavam (agravante Quartel do Batalhão de Rádio Técnica.
r6.u). - Foi juleado e conclenado na z.' Secção Cri-
Provado está que o crime foi cometido sob forma minal <lo Tribunal Popular Provincial cle
continuada pois que violou por S vezes o mesmo Maputo na pena de 6 meses de prisão e 6
preceito incriminador, dentro de um espaço de tempo Ineses de multa a 5o$oo diários, na multa de
curto, sendo a vítima a mesma e o designio criminoso z ooo$oo e z5 ooo$oo de indernnização a
o mesmo. Não é de considerar a atenuante do bom cada uma das vítimaS, 3 ooo$oo de imposto
comportamento anterior em virtude de ter ficado rle justiça e zoo$oo ao defensor oficioso,
provado que desde há muito vinha o Réu exercendo como autor do crime de homicídio involun-
ilegalmente a medicina, verificou-se no entanto a tzirio previsto e punido nos termos do art.o
falta cle antececlentes judiciários. O Réu nas suas 59 b) do Código da Estrada e ainda das
cleclarações a fls. 9 referiu tão somente que ulevou, contravenções aos artigos 7 n.o r e n.o ro
a ofendida a manter relações sexuais consigo, ocul- clo mesmo diploma legal.
tando a veemente intimidação empregue que é ele- - Iioi-lhe clccretacla inibição da faculdade de
mento integrador do tipo legal do crime cometido; conduzir por 3 meses, nos termos do art.o 6r
no entanto sempre o Réu confessa uma actividade r.Ì.0 b) do Código da Estrada.
"
criminosa. - Intcrposto rccurso por imperativo hierár-
Por isso, só parcialmente beneficia da atenuante quico, nele o Digno Agente do Ministério

9.u do art.o 39 clo Código Penal. PÍrblico conclui solicitando a confirmação da


Nestes termos: sentença, por f.azer criteriosa apreciação dos
Acordam em julgar o Réu FLORÊNCIO MA- factos e correcta aplicação da lei.
CANDAÌ{E SIMBINE autor material do crime de - \s5fi1 instância o Exmo. Procurador da Re-
violação previsto e punido pelo art.o 393 do Código pública ofereceu o merecimento clos autos.
Penal e, em nome da República Popular de Moçam- - Suscitacla a questão prévia de não se ter
bique elevam a pena para três anos e seis meses de cumprido o disposto no art.o 45o n.o 3 do
prisão maior e a indemnização para quinze mil es- C. P. P., foram os autos enviados à confe-
cudos, confirmando no mais a douta sentença em rência.
recurso. _- Tudo yisto.
Imposto nesta instância - 4 ooo$oo. Constata-se que na realidade ir. douta sentença em
recurso nâro cliscrimina os factos que se julgaram
Assinado: Victor Manuel Serraventoso João
proverclosclistinguindo os que constituem a acusação
Manuel Martins Alberto Lopes de
dos que são circunstâncias atenuantes ou ag'ravan-
Freitas (vencido, entendo que o crime
tes, limitando-se o Meritíssimo Juiz oa quo, a af\r-
praticado foi o de atentado ao pudor
lnar que considera reproduzidos os factos constantes
do art.o 39r do Código Penal; não con-
cla acusação, sendo estes os que foram provados.
cordo com a elevação de indemnização
nem com a fixação de imposto de justiça Esta acusação constitui aberta violação da dispo-
nesta instância, por não haver lügar a sição legal que exprirne os requisitos ^ que deve
ele, em vista de o Réu não ter recor- obedecer a sentença e, etnbora seja compreensível.
rido ) . que a sobrecarga de serviço leve os Exmos. Juízes
rì preterir algumas formalidades acessórias, a ver-
Maputo, 8 cle Outubro de ry79.
clade é que os requisitos a que deve obedecer uma
Pros. 20.235L. R. Acórdãode 3l ll2l7g sentença não constituem formalidades acessórias,

Sumário: <<Énula a sentença que, ao apreciar a ma- dado o funclamcntal interesse que se clestinam pro-
téria de facto, se expressa numa remissão teger.
indirecta para os factos constantes da
- Nestes terrtos, etnulam a douta decisiio em re-
acusaçâo. Na verdade, a sentença deve
apreciar especificadamente os factos, jul- curso a qual deverá ser substituída por outra que
gando-os provados e distinguindo os que obedeça aos preceitos legais aplicáveis.
são circunstâncias agravativas ou ate-
- Sem custas.
n u a t i v a sr .
Acordam em conferência no Tribunal Superior de Assinados: Laura Rodrigues - Victor Manuel
Recurso. Serraventoso - João Manuel Martins.

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