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REVISTA (TRIMESTRAL)

DO

FUNDADO N O K IO D E J A N E IR O E M 1838

VOLUME 203

ABRIL - JUNHO

19 49

Hoc fácil ut longos duren! bene gesta per annos


El possint sera posterilate fruí.

C O M IS S Ã O D IR E T O R A

GENERAL E S T E V Ã O L E IT A O DE C A R V A L H O
C L A U D IO G A N N S
F E M Ó B IT T E N C O U R T

Departam ento de Im prensa Nacional


R io de J a n e iro - B r a s il - 1951
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO

D IR E TO R IA EM 1948-1949

Presidente Perpétuo

ÍCMBAIXAIXJR Dü. JOSÉ CARLOS DE M a CEDO SOAUS

1.* Vice-Presidente

M inistr o D r. A ugusto T avares de L yra

2 * . Vice-Presidente

Dk. A lhlkíx) N ascim ento e S ilva

3? Vice-Presidcnle

D>. Josfc W anderley im A r a ú jo P in h c

1.* Secretário

D r . V irgílio CorrP.a Fn.no

2* Secretário

D r. L eopoldo A n tô n io F e ijó B ittencourt

Orador

D r . P edro C alm o n M u n iz de B ittencourt

Tesoureiro

C apitão de mar e guerra C arlos S ilveira C arnetr^


REVISTA (TRIMESTRAL)

DO

F U N D A D O NO R IO D E J A N E IR O EM 1 8 3 8

V O LU M E 205

ABRIL- JUNHO

1 9 4 9

Hoc fecit ut longos durcnt bcnc gesta per annos


El posslnl sera posteritate fruí.

C O M IS S Ã O O IR E T O R A

G EN ER A L E S T E V Ã O L E IT À O DE C A R V A LH O
C L A U D IO G A N N S
F E M O B IT T E N C O U R T

Departamento de Imprensa Nacional


R ío do J a n o lr o - B r * » ll - 1951
TRABALHOS ORIGIN \ IS

IC O N O G R A FIA CARIOCA
(Os dois mais antigos panoramas do Rio de Janeiro)
AFONSO DE E. TUNNAV
CA PITU LO I
AS M A IS AN TIG A S VISTAS RO XIO 1>K J A N E IR O . JOÃO T E IX E IR A
AI.HERNAZ KROGER. ESTA M PAS E (Jt'A U BO S t>E A N Ô N IM O S ARTISTAS
FE I.IX E M ÍL IO T A V N A V — O PR IM EIR O PANORAM A IIO RIO DF. JA N E IR O
( 1 8 2 1 ) — OS PR IM EIRO S PANORAM AS M U N D IA IS BARKER.
RONMV E IRKVOST

Qual o mais velho documento iconográfico da urb- fhimincnse.


queremos dizer a mais antiga representação de edificios da cidade
carioca ?
Supomos que a -iugela perspectiva ocurrente no mapa avulso,
datado de 1645 e da lavra do famoso João Teixeira Albcmaz; autor
dos primeiros atlas de nossa terra e da inestimável preeosidade.
pertencente ao Instituto Histórico Brasileiro, mercê de dádiva do
imperador Dem Pedro 11: a rcatio rfo Estado do Rrasil datada de
1612.
Ueste mapa avulso, cujo original se acha em Portugal, fez o sau­
doso e ilustre amigo ministro Jeronymo de Avelar Figueira de Melo
tirar excelente cópia que ofertou à mapoteca do Instituto Histórico
Brasileiro, de cujo quadro social era destacado membro como prova
a sua contribuição à Revista de nossa instituição.
Era então. cremos, conselheiro de nossa embaixada cm Lisboa,
e teve a altamente patriótica idéia de fazer reproduzir numerosas c
valiosas cartas coloniais, oferecendo cópias ao Museu Paulista e ao
Instituto Histórico Brasileiro. É-nos grato recordar que. entre as
da primeira série, figuram excelentes mapas parciais da autoria dos
dois famosos cartógrafos do século X V III, cs jesuítas padres Do­
mingos Capacci e Diogo Soares, mapas ãssá-s pormenorizados, e refe­
rentes às costas do Brasil meridional.
Na mesma ocasião conseguiu o ministro Figueira de Mello es­
plêndida coleção de figurinos de velhos uniformes de nossas tropas
coloniais, série vultosa de centenas de estampas inéditas que tripli­
caram talvez <> número das fardas conhecidas dos corpos de linlia e
milicianos do Brasil de antanho, constantes do belo album de Gus­
tavo Barroso c J . W asth Rodrigues. Oferecendo esta coleção de
figurinos ao Museu Histórico Nacional, fez-lhe pois o ministro
Figueira de Mello esplêndida doação.
A carta avulsa de 1645 e de autoria de João Teixeira, a quem
aludimos, c interessantíssima pela ancianidade; a prioridade e a valia
dos informes, êstes aliás de relativa importância, embora interes­
santes.
A margem meridional da Guanabara, colocou o cartógrafo por­
tuguês uma série dc convenções, representando edifícios situados a
lieira-mar. assinalados pelos singelos letreiros que os caraterizam.
Não são muitos, aliás. A nossa bahía estupenda, prima inter pares,
deu João Teixeira a mais falsa das configurações. E ’ tudo quanto
há de mais errado a forma dc seu perímetro como, também, por
exemplo, é erradíssimo o contorno da Ilha do Governador, ele.
Conservou-se inédito o mapa de João Teixeira até 1949 milé­
simo cm que Gastan Couto o aproveitou em sua excelente Afarenría
do Kio dc Janeiro. A carta da qual se serviu é aliás uma reprodução
mais recente do que a de 1545. pois data de 1566. Froger. engenheiro
naval francés que, servindo na frota do S r. de Gennes. visitou o
nosso país em fins do século X V III. escreve sobre a Bahia do Rio
dc Janeiro, algumas páginas assás interessantes.
Tivemos n ensejo, em nosso Rio dc Janeiro dc antanho c ;Vu
Bahia Colonial; dc resumir o que o navegante francês disse das duas
cidades brasileiras, reproduzindo nós as ilustrações que a ambas con­
sagrou .
I.eva a estampa dc Froger. sob o ponto de vista artístico, notável
vantagem sobre a do cartógrafo português. E tem muito maiores
visos dc verosimilhança, A perspectiva da autoria de João Teixeira
falta o emolduramento indispensável das montanhas típicas da pai­
sagem guanaharina. Nem se compreende como haja deixado de colo­
car estes acidentes indispensáveis por traz do seu renque de edifícios
praianos.
Assim não precedeu Froger. A sua orografía se nos apresenta
falsa, mas não se acha ausente do cenário fluminense, circunstância
absolutamente inadmissível. Quem ignore o que seja a paisagem gua-
nabarina. e dela queira ter idéia, pela velha carta do bom cosmógrafo
do Reino pensará que a tojmgrafia carioca é idêntica, por exemplo,
à de Buenos Aires.
Perspectivas do Rio de Janeiro setecentista são certament • raras,
mas liem mais numerosas do que as do século anterior. De algumas
1
lemos noticia por intermedio <le referências catalogais de antiquários,
mas jamais as vimos reproduzidas.
Há. no Museu Histórico Nacional, sobremaneira preciosa série
dc quadros, aquisição felicíssima de Gustavo Barroso, reproduzindo
aspectos das praias e locais urbanos fluminenses. São |xtrétn, |>eque-
nas pinturas de limitado âmbito, abrangendo. portanto, limitadas
áreas c não conjunto vulto» que proporcione ao observador uma
visão de largo ângulo.
Um dos mais curiosos destes quadros é o que nos mostra as
águas da labia, entre o Rio c Niterói, povoado de baleias, confir­
mando |>ois o que nos conta Sir John Barrow a descrever os pavi­
lhões tio Passeio Público em 1793. Quadro éste que se retrata uma
pescaria dos grandes cetáceos, em águas gtianabarinas.
<> catálogo da grande exposição de história do Brasil, feito, em
1831, pelos ilustres eruditos que se chamaram Valle Cabral, Capis­
trano dc Abreu. Ramiz Galvão, Menezes Brum, entre outros, nos
aponta poucos documentos iconográficos cariocas setecentistas.
Pala-nos, apenas em breve referência, de um Safinl Sébiulivn,
estampa francesa dos primeiros anos do século X V II.
Dc|x>is tie I8SI. muito mais coita seteeentista se desvendou, mas
pode-se dizer que a abundância fie iconografia carioca veio tornar-se
uma realidade depois da chegada da Familia Real.
Vejamos. porém, o que nos inculca a perspectiva singela tio bom
João Teixeira Alberttaz, cosmógrafo tie sua majestade.
Aponta, entre o aliás não arruado casario da cidade sebaslia-
nense. algumas igrejas: " O d e stin o Nossa Senhora dajuda, a Sê.
São Sebastião. Santo Antônio, Colégio; Cuseisão, São Bento. São
Pedro. São Cristóvão” . Duas outras existem sem a menção das in­
vocações respectivas.
Entre os fortes Santa Cruz, São João. São Tiago, um reduto à
base do outeiro dc São Bento. O forte tie São Thiago ocupa as
vizinhanças da ponta do Calabouço.
Não há menção relativa a existência de fortificações na i-age
“cuja grandeza pouco mais ou menos hé conto o páteo <la alfandega
tie L.ixltoa”. diz o nosso cosmógrafo e cm Villegaignon a que chama
Viragalhão.
A menor distância das duas margens da barra tia Guanabara
computa-a João Teixeira em 750 braças (1650 m s). Avalia a que
sqtara Santa Cruz tia Ponta do Calabouço em 1.000 braças
(2.200 m s). Entre o Calabouço e a ]xmta dc São Bento calcula
haver 700 bracas (1.540 ms) e da praia a Villegaignon 200
(440 ms) • A Ilha das Cobras segundo informa dista da ponta de São
Bento “ Ira tiro de mosquete". Como vemos são falsos êstes dados.
Alguns até muito afastados da realidade.
— 6 —

As ¡¡has de fora da Barra, Pae. Mãe. Cotunduba, declara que


se intitulavam então: “ ilhas do senhor meu pae” (sic ). Três apenas
das ilhas internas trazem designação as- do Governador. Cobras e
Villegaignon, mctieionando-se mais dezesete anônimas. Aos rios cuja
foz é na Guanabara chama-os Guaxindiha. Macuco. Maré, Sorcy,
Gnaguaçu. Sirapohi. Miritiva, não sendo difícil descobrir que se trata
do Suluhi. Iguaçu, Sarapui, Meriti.
Tais ás sumárias indicações da Demostrasão do Rio de Janeiro,
feito por João Teixeira, cosmógrafo de sua majestade, cm 1645.
Documento iconográfico guatiabarino de largas dimensões já
mais que secular, oferecendo grande cópia de pormenores c propor­
cionando ao seu observador « ensejo de fazer idéia muito aproximada
da realidade dos fatos c o Panorama do Rio de Janeiro executado em
1821 por Félix Emilio Taunay. joven professor de pintura na Aca­
demia Real dc Belas Artes da Capital brasileira numa série de gran­
des desenhos. IJéstes cartões foram feitas redução e ampliação.
A primeira executou-se em litografia, muna peça sõbre o contprid"
e de pouca largura, da qual st- conhecem quatro "estados", como se
diz em tecnologia de gravador.
Da segunda provieram as grandes telas executadas pelo pintor
francês Ronmy c armadas circularmente para uma exibição pública,
efetuada em Paris na rua Vivienne. então uma das principais vias
elegantes da capital francesa.
Digamos |x>rcnt alguma coisa sõbre o transportador, para a pin­
tura a óleo, dos grandes desenhos de Felix Emilio Taunay. futuro
l,arãn de Taunay e diretor da Academia de Belas Artes do Rio de
Janeiro.
Ronmy (Guilherme Frederico i é hoje artista de nome apagado.
Por volta dc 1820 tinha porém a sua reputação e não pequena. De-
pois de t.-r sido discípulo do famoso José Maria Vien. o ilustre per-
cussor da escola da volta ao classicismo e de quem se disse que entre-
abriu a porta mais tarde escancarada por David, passou Ronmy. nas­
cido em Rouenno ano de 1786, a seguir os ensinamentos de Ñicolau
Antônio Taunay.
Ao encetar o estudo da pintura no atelier de Vien. encontrara a
este mestre já mais que otogenário. Foi o próprio autor do São
Germano e São ¡'¡rente e da Continência de S e i pião que o encami­
nhou ao atelier de Taunay. Expôs Ronmy em todos os salons parisi­
enses de 1810 a 1830. tendo obtido prêmios nos dc 1812. 1817 e 1827.
Nesta última exposição alcançou uma medalha de primeira classe
conta-nos E . Bcticzit. em seu tão conhecido Dicionário de Pintores.
Escultores. Desenhistas e Gravadores de Iodos os tempos c de todos
os países.
Felix Emilio Tan na v — Panorama da Rio de Janato ( IK2!)
Associando-se a Pedro Prévost (1765-1823), discípulo de Mo­
relli e de Valenciennes. artista de larga reputação pela iniciativa de
pintar vastos panoramas de cenas militares c aspectos de cidades
exóticas, trabalhou Ronmy na execução de diversas grandes pinturas
«leste género.
Depois de executar panoramas relativos á historia napoleónica,
pintou Prêvust outros de Paris, Amsterdam, Roma, Nápoles e Vi­
enna. Passou depois à confecção de novos relativos a cidades céle­
bres, longínquas, como Atenas, Jerusalém e Constantinopla. Teve
como auxiliares o irmão Juão Prevost, o sobrinho Cocliereen. Ronmy
e alguém cujo nume se imortalizaria como precursor da fotografia:
Daguerre.
Diz Bénézit que Ronmy trabalhou sobretudo nos panoramas de
Constantinopla e do Rio de Janeiro, primeira cidade do Novo Mundo,
algo de tentativa pictorea deste gênero.
Discípulo e amigo de Nicolao Antônio Taunay era mais que na­
tural que se interessasse vivamente fíela reprodução da obra do filho
do seu velho mestre. Faleceu Ronmy. na flor da idade, aos 48 anos,
em 1834 c em Paris, onde residia. Passa por ser o melhor de seus
quadros certa tela pertencente ao museu de Rouen: IlcnrüjHe I I ' m>
erren de Paris.
Conta-nos o Dicionário Cnivcrsal de I-arousse que a invenção
das pintura.- panorâmicas se deve a Roberto Harker, pintor eseossês.
que em 1799 expôs em Londres grande jmnorama da capital inglesa,
obtendo grande êxito fiecuniãrio do seu tentante.
No mesnto ano. e valendo-se de patente de privilégio, fez o fa­
moso inventor do barco a vapor, Roberto Fulton executar um pano­
rama de Pari? pintado por Fontaine. Constant, Bourgeois e Prevost,
numa rotunda de 14 metros de diâmetro, situada no Boulevard .Mmit-
martre.
Tal o êxito da exibição «lesta vista dr Paris que dentro cm
breve mais duas rotundas se construiram, das mesmas dimensões.
Numa delas os parisienses admiraram a Pista de T oiiIoh de Prevost
c Bourgeois. Dentro em breve expunha o primeiro novos panoramas
os dã Conferência dè Tilsitt. do Ãcainpoincnto de Boulogne, da Ba­
talha de Wagram, is de .Amsterdam, Nápoles. Roma.
J á á técnica «los jianoramas haviam os artistas franceses aper­
feiçoado e não pouco, mas, observa P . Larousse, ainda assim a con­
fecção de suas enormes telas deixava ainda muito a desejar. Apesar
de tudo era a indústria rendosa, pois o público concorria sempre,
avallando, às rotundas onde se exibiam.
Em 1810 tanto apreciara Nàpoleãu ■> panorama <la conferência
de Tilsitt que mandou executar jtelo arquiteto Ccllcrier um projeto
— li­

de construção de nada menos de sete rotundas a serení cretas nos


Campos Elyseos.
Destinavam-se a abrigar panoramas representativos dos grandes
fastos imperiais, desejando o Corso, déste modo, vulgarizar e popu­
larizar as suas vitórias.
Declarou que pagaría 4 5 .(XX) francos por panorama que lite
fizessem desejando faze-los exibir nas principais cidades do Império.
Mas a derrocada da campanha da Rússia deu com estes planos por
terra.
Em maio deste mesmo ano, e cada vez mais confiante nas resul­
tados de sua indústria, inaugurou Prevost, no Boulevard des Capa­
cities, nova e maior rotunta. com 16 metros de altura e 31 metros de
diâmetro.
Foi ali que apresentou os panoramas de Antuerpia e Jerusalém
(1821) do Rio de Janeiro (1822) e o de Atenas ( 1824 i. tendo éste
último conseguido notável resultado financeiro.
Só em 1831 c que se destruiu a rotunda de Prevost, onde ainda
se exibiam os panoramas de Roma c de Nápoles.
Mais ou menos nesta época Daguerre inventou n diorama que
tanto deu que falar de si e constituiu o primeiro passo para a dentro
cm breve umversalmente espalhada invenção notável do d a g u e rro ­
tipia. precursora da fotografia, como ninguém ignora.
Não sabemos de todo qual baja sido o êxito do panorama o mais
antigo de quantos hajam feitos da bahía e da cidade do Rio de J a ­
neiro E' |K,ssivel senão provável que resultarlo pecuniário desta
mostra haja ficado liastante aquetn da espcclaliva dos dois artistas,
que leríam talvez sonhado com a líela recompensa de seus trabalhos
e esforços.
Acreditariam quiçá que o público francês se deixaria arrastar
pela curiosidade da contemplação de ambiente tão diverso do de sua
pátria, cenário, tão longínquo, exótico, situado em zona ignota e mis­
teriosa, acerca do qual se faziam numerosas referencias fabulosas,
capazes de lhe supcrexcitar a imaginação.
De todo não sabemos, repet imó-lo, qual haja sid , tal êxito e
quais as referências da imprensa c dos críticos da arte parisienses a
propósito da tentativa realizada por Felix Emilio Tammy e seu cola­
borador. Nunca tivemos o ensejo de realizar a minima pesquisa a tal
propósito. nus jornais e opúsculos do tempo.
Nem tão pouco sabemos que destino terão lido os desenhos de
Taunay e as telas do Sr. Ronmy, quiçá destruidas, quiçá dispersas
em mãos de colecionadores, quiçá algum dia votadas ao reapareci­
mento súbito como tanto é possível. Suceder-lhes-á, talvez, o que
— 9 —

aconteceu aos numerosos e interessantíssimos desenhos inéditos de


Debret. em tão boa hora trazidos à nossa terra graças a um gesto do
mais elevado patriotismo do S r. D r. Raymtmdo Ottoni de Castro
Maya. O amor às coleções é muito maior do que gcralntcnte se
pensa.
Prova material do tentante de Felix F . Taunay em procurar
dar a conhecer aos franceses o que era a importância da capital bra­
sileira. em 1821, e as belezas naturais que a circundam ficaram nas
excelentes litografias a que nos referimos e um opúsculo que cons­
titui um dos itens preciosos de nossa xeno-bibliografia.
E ‘ êlc a Notice histwique lit explicative Da Rio Janeiro/ Par
M. Ilippolyte Taunay/ Correspondan! du Museum d'Histoire Nata-
rclle de Parisi lit M r. Eerdimiiid Denis/ Menbrc de L ’A th 'n ée des
Sciences, Lcttres el .-Iris de Paris/ Paris/ Ches Nepveu Libraire/
Pas sage des Panoramas/ 1824, pp. V III. 123 in 16.
E ' éste livrinbo muito raro surgindo nos catálogos dos antiquá-
rios europeus e americanos |>or elevados preços. Sabemos de quetit
o baja adquirido últimamente pôr algumas centenas de mil réis.
Do Panorama do Rio de Janeiro de F. E. Taunay e G. F .
Ronmy existe a reprodução em gravura cm quatro "estados” como
dissemos.
O primeiro é tido como da mat's absoluta raridade, gravura a
aquatinta. da autoria muito provável, de Frederico Salathc, pintor
suíço eximiu neste gênero: estampa aberta em duas chajias diferentes
c impressa cm duas cores, e duas folhas.
Acham-se estas unidas de modo que a parte do panorama mais
próxima do ex|>ectador onde se veem Dom Pedro, então príncipe
regente, a então princeza real Dona latopoldina de Habsburgo e sua
comitiva, a cavalo, descendo do morro do Castelo para o I sirgo <la
Mãe do Hispo fica no meio da estampa. (Ap. o Catálogo da Expo
sifão da História do Brasil. 1881).
No primeiro plano nota-se o parapeito de uma varanda, omádn
de ananazes. cactos e outras plantas do Brasil, sõbre ela assentam
colunas, a cujos lustres estão atados arcos e flexas, sustentando os
lambrequins tio teto, nos quais estão representados macacos, tucanos,
papagaios c plantas brasileiras.
No segundo plano o panorama propriamente dito, com vista da
cidade e de parte da Bahia de Guanabara e no fundo (da esquerda
|Kira a direita) vêem-sc a Serra dos órgãos, a Bahia, o Pão de Açú­
car. o Corcovado c a Tijuca.
Não traz a estampa letra nem data. (Altura 283 milímetros,
largura 1.010 milímetros. São as ditas folhas do mesmo tamanho >.
— 10 —

O expositor, em 1881. «leste documento foi o liarão Homem de


Mello. Felizmente pertence desde alguns anos à Biblioteca Nacional.
No segundo estado sofreram as chapas notáveis alterações.
Foram cortadas as fôlhas na parte superior, desaparecendo por
éste motivo os lambrequins. Diminuiu muito a altura da estampa
que passou de 283 ms. a 164 apenas. Também s: reduziu seu cum­
primento de um centímetro.
As colunas e o parapeito da varanda furam apagados, retocado
n desenho e alterado, sobretudo quanto às nuvens, tratadas agora de
modo muito diferente. A impressão é monocromática. As duas fo­
lhas acham-se reunidas pela parte mais longinqtta do panorama,
ficando à esquerda a fôlha que está à direita no primeiro estado.
P.ste segundo estado constitui, aliás, peça hoje rara.
No terceiro estado há diferenças com relação ao segundo.
As nuvens, por exemplo, são diversas das dos dois estados pre­
cedentes. A margem superior de cada chapa inscreve-se “ Panorama
de Rio de Janeiro".
A impressão é a duas cores. Os exemplares de coleção da Bi­
blioteca Nacional foram-lhe oferecidos pelo eminente brasilólogo
Ferdinand Denis.
No quarto estallo não se encontra o endereço de Nepvett. Por
liaixo da legenda, na margem inferior ocorrem na fóllia da esquerda,
os dizeres: Steinniann, Éditeur; à esquerda Rittner et Goupil, Bou-
Ictnrt (siei M bnt nutriré, 15: à direita. E na fôlha da direita: D íposi
<i la Direction: à direita. N . 1845 de Muller cat. Amer. I I I . E ' a
peça igualmente a duas cores-
Tanto os exemplares do terceiro estado quanto os do quarto
são muito raros embora liem menos que os dois primeiros. Valiam
sempre, algumas centelleas de francos, antes de 1914.
Quer nos parecer que o quarto estado seja reprodução (Misterior
aos três primeiros, como que tinta segunda edição feita por Stcin-
maun o litógrafo bem conhecido.

C A PITU LO II
O PANORAMA n o RIO P E JANEIRO EM 182 1 E A S C A “ NOTÍCIA
EX PLIC A TIVA ", a ICONOGRAFIA A ÊI.E REFERENTE

Começa a Notice Historiqur et E rfiieativc du Penorunia de Rio


ite Janeiro, por Prefácio não assinado.
"O Panorama do Rio de Janeiro, executado pelo S r. Ronmv.
segundo os desenhos feitos e a êle remetidos |x’lo S r. Felix Tattnay.
— 11 —

correspondente do Museu de História Natural de Paris, é espetáculo


absolutamente inédito e do mais alto interesse.
A amplidão e lieleza das linhas, a elegancia, o pitoresco da arqui­
tetura, a pompa da vegetação tropical, a fidelidade do conspccto, for­
mam extraordinario e encantador conjunto.
O Brasil, no que de mais belo possui cstende-.se sob os olhos dos
espectadores, mas como uin cicerone é indispensável à compreensão
espetamos que a presente explicação oferecerá todos os informes que
eles poderão desejar. Nesta espectativa a recomendamos a atenção
do público.
Daremos de inicio algumas noções rápidas e indispensáveis sobre
a geografía <l<> Brasil e a história de sua descoberta, recordaremos
sucintamente as aventurosas expedições dos franceses contra a bahia
e a cidade do Rio de Janeiro. Descreveremos a eguir os pantos in­
teressantes do l ’aimnana sent nos ater á sepirncia dos números a filti
de que nossa narrativa não se interrumpa. E após haver, sobre w
costumes e Usos dos habitantes desta Capital, comunicado todas as
luzes que uní longo conhecimento do local nos permitiu adquirir,
terminaremos por alguns pormenores principais sobre a Historia
Natural de tan país que. pela vantajosa pe-ição no Universo, espan­
tosa fertilidade do territorio, e o esplendor a que já atingiu, merece,
cortamente, excitar a mais viva curiosidade.
Números marginais referentes aos que se acham à base da es­
tampa do Panorama indicarão os pontos de que vamos dar sumaria
explicação.
Receii si - de que a parte propriamente dita, descritiva do Pano­
rama seja tida como demais sucinta e sobretudo traçada com demasia
de irregularidade, achamos conveniente dever imprimir textualmente,
como anexo ao nosso resumo, a noticia da lavra d( > S r. Prevost. ■
irmão do autor ilustre tios Panoramas precedentes.
Nós a consideramos conto complemento imediato do nosso tralxi-
Iho e nada deixando a desejar quanto a jxirfe’ta inteligência do quadro
magnifico oferecido ã admiração do público".
Da estampa que ilustra a .Vt.fírc hislorúpie et explicative <Z« Pa­
norama dr Rio de Janeiro existem quatro '’estados" que figuram na
grande exposição de História do Brasil realizada cm 1881. na Biblio­
teca Nacional, do Rio de Janeiro por iniciativa tio barão Homem de
Mello, então ministro tio Império e organizada por eruditos tie maior
renome cortil» fóssem ri liarão de Ramiz Galvão. então diretor da
Biblioteca. Alfredo do Valle Cabral. Capistrano de Abreu. J . Zefc-
rino de Menezes Bruni entre outros.
Destes quatro estados a Biblioteca Nacional não possuia então o
primeiro, aliás o mais interessante e raríssimo considerando-se os de-
— 12 —

mais três legitimas raridades já naqueles milésimos. Possuia-o o lia­


rão Homem de Mello como tinta das preciosidades de sita rica bra­
siliana.
Era tinta gravura a aquatinta muito provavelmente da autoria de
Frederico Salatlié, conforme se lê no famoso Léxico de Nagler
(Tomo XIV. págs. 206-207). Foi executado segundo o panorama
de G . R . Ronmy. realizado pela ampliação dos desenhos enviados do
Rio de Janeiro por Felix Emilio Taunay (Barão de Taunay) c pano­
rama exposto cm Paris no Boulevard M ontmartre.
A éste trabalho de Ronmy refeic-se Nagler ao biografar o pintor
(Vol. X III, págs. MS e 349).
Rèste primeiro estado diz o Catálogo da Exposição:
No !.“ plano: o parapeito de uma varanda, ornada com altana­
res, cactos e mitras plantas, do Brasil, sobre a qual assentam colunas,
a cujos fustes estão atados arcos e flexas, sustentando os “ lambre­
quins" d:> telo, nos quais estão representados macacos, tucanos, pa­
pagaios e plantas brasileiras.
No 2.° plano: o panorama propriamente dito, Com vista da ci­
dade e de parte da Bahia, e no fundo (da esquerda para a direita) a
Serra dos Órgãos, a Bahia. <> Pão de Açúcar, o Corcovado e a Tijnca.
Sem letra, nem data.
Gravura a aquatinta, mui provavelmente feita por Frederico Sa­
latin. segundo o panorama pintado por G. P . Ronmy pelos dese­
nhos de Felix Emilio Taunay (Barão de Taunay), enviados do Rio
de Janeiro, exposto no Boulevard Montmartre, em Paris.
A estampa é aberta em duas chapas diferentes e impressa com
duas cores, em duas folhas.
Nu exemplar exposto, as duas folhas estão unidas de modo que
a |>arte do panorama mais próxima do espectador. onde se vêem o
imperador, a imperatriz e sua comitiva a cavalo descendo do morro
do Castelo para o largo da Mãe do Bispo, fica no meio da estanqxt.
Altura. 2S3 mil.; largura, da estampa (duas folhas retinidas).
lin.O l; largura de cada fólha. 505 mil.
Muito rara, e extremamente curiosa.
Passando a descrever o segundo estado pormenoriza o catálogo;
"A s cbapis sofreram notáveis mudanças: 1." foram cortadas na
parte superior, desaparecendo jmr isso os "lambrequins", e ficando
sua altura diminuida ;
2.°. as colunas e o parajieito da varanda foram apagados: o de­
senho retocado c alterado principalmente nas nuvens, que estão tra­
tadas de modo muito diferente;
— 13 —

3.°, altura 164 milim.; largura da estampa (as duas folhas uni­
das), I metro.
Sem letra, nem data Impressão monocromática.
As duas folhas desta estampa acham-se reunidas pela parte do
panorama mais longínquo do espectador, ficando á esquerda a fõlha
que uo 1.” estado está à direita e vice-versa".
Do terceiro estado reíere o catálogo:
"Similhante ao 2." estado, com as seguintes diferenças:
1.°, as nuvens foram de novo alteradas, de modo a não se |>are-
cerem com as dos dois estados precedentes;
2. °. nn margem superior de cada chapa ocorre o dizer — Pano
rama de Rio Janeiro:
3. °, e na margem inferior: há uma legenda explicativa. — Con­
vem (¡'Ajílela. Eglise N . I). de Irapa. Êglise Notre Dame de la
G tp ire ... Rue des Carmes. Hihliothéque. Esc. N . D. de la Candel-
laria — na fõlha da esquerda; e — Chapelle Royale Église des Car­
mes. Arsenal de la Marine Convent de St Benoist. lie du Gouver-
nettr Habitation particuliére. Eglise de St. Sébastien. Pain de Su­
cre. — na fõlha da direita;
b. em ambas as fólhas. à esquerda c logo abaixo do traço inferior
da estampa, o endereço — Nepvett, lábrame, Passage des Panora­
mas. N . 26.
Déste estado são exposto? dois exemplares:
1.°, impresso com duas cores, tendo as duas ffilhas unidas como
a estampa antecedente. Bella estampa, oferecida por M . Ferdinand
Denis à B. N .
2. “. impresso com duas cores e retocado a guache. As duas fo­
lhas foram unidas pelos quatro lados, de modo a formarem um cilin­
dro representando um panorama circular.
Falando deste quarto estado delata o catálogo curioso porme­
nor: foi a estanqia de Taunay, Ronmy c Salathé impressa pelo famoso
Steimann, de nome tão conhecido nos fastos de nossa iconografia da
era Imperial, associado a Goupil não menos conhecido no mundo <!• >
amantes da gravura francesa.
Assim se expressa o catálogo:
Similhante ao 3.“ estado, com as seguintes modificações:
l.°, o endereço de — Nepveu-.. N. 26 — foi apagado em am-
I as as chapas:
2.“, por baixo da legenda, na margem inferior, ocorrem: na féilha
da esquerda — Steinmann Editetir — ã esquerda, e Paris. Rittner
et Goupil, Boulevard Montmartre 15 — à direita; e na fôllia da di­
reita, — Depose à la Direction — à direita. X . 1845 de Muller.
“ Cat. Amer 66, H I.
Impressa com duas cores e retocada a guache, tendo as tinas
folhas reunidas como as duas estampas do 2.° e 3.° estados".
Em 1910 vimos um exemplar do terceiro estado á venda em Pa­
ris por quinhentos francos ou fossem então trezentos mil réis, aliás
magnifica de grande frescor e belas margens. Xão sabemos quanto
valerá em nossos dias em que tõda a iconografia brasileira antiga,
subiu imenso mil por cento ou mais nestes últimos vinte c cinco anos.

C A PÍT U L O III
O PR IM EIR O PAN O RA M A DO RIO DE JA N E IR O . OBRA DE FE L IX
E M IL IO T A U N A V . EXPOSTA EM PA R IS EM 1 8 2 1 . A ** NOTICE
E X PL IC A T IV E " nílS T K PIN T O R . AS IND ICA ÇÕ ES DO SR. PRE­
VOST SÕBRE A CIDADE CARIOCA. INFO RM A ÇÕ ES ERRADAS E
FA N TASIOSAS

A descrição do panorama de Felix Emilio Taunay propriamente


dita anexa ao volume. r«ligiu-a o S r. Prévost. irmão do empresário
tio panorama. E ' estranho que não a hajam feito aos dots autores da
Xoiicia Explicativa. pois ambos haviam residido longamente no Rio
tie Janeiro. Teriam assim evitado tinta série de disparates como os
que o Sr. Prévost escreveu, alguns déles os mais consideráveis e va­
ries grotescos até. como quanto á igreja tão conhecida da rua da Al­
fândega chamarla Xossa Écnhura tiox Hamentt. e leniza a rua tia Ca­
rioca com o nome de rua de Solis! (assim ajadidada em honra de Juan
Diaz de Solis, descobridor da (! ita iia b u r a .
Até a nomes franceses estmpia o tal S r. Prévost como, quando
a Grandjean tie M mtigny. chama Grand Jean.
Vejamos porém e na integra o que c o texto do S r. Prévost:
prestigioso discípulo, por antecipação do nosso ilustre Mendes Fra-
diqtte. o austero chele da escola tie um genero que couta tão nume­
rosos cultuadores.
O Rio tic Janeiro, capital do Brasil, acha-se situada nas imedia­
ções tío trópico ¡lo Capricornio, e é a iríais rica e a mais considerável
das cidades tía América Meridional.
A labia tie que tonmu o nome foi em 1515 (sic!) descolaría
peló infeliz Juan Diaz tic Solis ( sic) grão piloto tie Casida; que al-
gum tempo mais tarde foi devorado, á embocadura do Prata, |x>r
antropófagos.
Os Tupinantbás que então dominavam grande parte da costa
chamam-lhe tobia da Guanabara (sic ). Deu-lhe o navegante espa­
nhol o nome de Santa Lucia (sic), mais Afonso de Sousa (sic) capi­
tão português no Brasil, enviado por João T1I. ali havendo aportado,
a primeiro de janeiro de 1532. batizou-a Rio de Janeiro, pois engaño­
samente lhe -ornara a torra como a foz de um grande rio.
Só em 1566 é que Mem de Sá, terceiro governador do Brasil,
lançou os alicerces da cidade que dentro em breve teve crescimento
assás rápido.
Pode-se computar em 130 mil almas a p ipulação do Rio. deven­
do-se entre êlcs contar oitenta mil individuos de cor, quase todos
escravos.
Ali se observam todos os matizes que a mestiçagem dos europeus
com os negros e os indios pode oferecer. Embora. cm geral, oponha se
o calor à conservação da tez, algumas senhoras da classe nltn desta­
cam-se pela frescura da pele.
Os desenhos do panorama do Rio foram tomados da parte desig­
nada sob o nome de morro do Castelo: situado ao cume do morro da
Misericórdia. Dali a vista domina tôtla a cidade, assim como grande
liarte da bahia.
() estrangeiro que aporta ao Rio de Janeiro não se cansa cm
contemplar a entrada imponente e pitoresca da bahia. Retiobra-se-
llte a admiração á medida que prossegue. Dentro em breve passa
perto da ilha do Paio (sic) (ou ilha Redonda) que sc percebe longin­
quamente.
Vê. à direito, o furte de Santa Cruz I sic'), o forte de 1’Age (sic)
ao meio da larra c á esquerda o de São João. Afinal, um pouco
aquem. o forte de Villegagnon cuja extremidade sc percebe. Foi este
último fundado em 1554 por Durand de Villegagnon.
Duguay Trouin. vindo expressamente ao Rio para vingar a morte
do capitao Duelair (sic) que os brasileiros haviam assassinado, em­
bora houvesse êle assinado honrost capitulação. Duguay Trouin. ape­
sar dos navfus que haviam sido propositadamente feito encalhar,
atravessados à barra para fechar sua entrada: c apesar ainda do fogo
terrível dos fortes que o fulminava, forçou a entrada da bahia em se­
tembro de 1671 (sic 11).
A direita <la entrada da torra, ergue-se o famoso Pão de Açúcar,
rocha granítica notável pela nudez e estrutura quase cônica. Conhe­
cida de todos os navegantes que se encaminham ao Rio. torna-m- II k-
a tolisn que lhes marca o rumo para sem perigo entrar na bahia.
Aquém <1o Pão de Açúcar acha-se a igreja de São Sebastião que
é tido como padroeiro da cidade,
Esta igreja, a mais antiga do Rio de Janeiro, recorda uma tra­
dição que se relaciona com a seita dos sebastianistas. Um número
assas considerável de indivíduos duvidosos sempre da ocorrência da
morte de Dom Sebastião rei de Portugal, que em África pereceu, na
famosa batalha de Alcaçar Kelir (sic!) travada com o rei de M ar­
rocos cm 1576 (sic!) Segundo esta gente a primeira aparição do rei
ocorreu nesta igreja (sic!) E ’ ali que se dará a conhecer.
Um pouco aquent do templo vê-se uma casa singela perto da
qual existem Irananeiras, algumas palmeiras c vários outros vegetais
dos trópicos.
Esta construção jxtde ser considerada como um modelo das
casas primitivas da colônia.
As montanhas, parte da bahia e jardins enchem o intervalo com­
preendido entre São Sebastião e a igreja de Nossa .Senhora da Gló­
ria. Aclta-sc esta sobre o declive de um outeiro e cinta-a um muro
■Ia altura do descanso.
Por traz de Nossa Senhora da Glória, acha-se Botafogo (mcZs
/■ «) pequena enseada circular que comunica com a grande bahia
I „*r assas estreito canal.
Botafogo, cercado de montanhas extremamente pitorescas, era
de tal modo agradável á rainha de Portugal que durante sua estada
no Rio vinha ela ali passear, nas suas praias quase diariamente, com
as princezas suas filhas.
Deste lado a duas léguas por traz das montanhas fundaram-se
dois estabelecimentos importantes: o Jardim Botánico e a Fábrica de
Pólvora.
No sopé de Nossa Senhora da Glória estende-se o bairro cha­
mado do Catete a que se anexa n cais de Lapa, pelo qual se vai à
igreja de Nossa Senhora da Laj>a, vista um pouco à direita.
Na mesma direção aquem do mar, existe um jardim público ar­
borizado e ornado de dois obeliscos. E ’ perto deste jardim que se
encontra o convento da Ajuda (A rofre Dante de l'-lid e ). Dá para a
rua da Ajuda.
À direita de Nossa Senhora da Lapa e em prolongamento do
Aqueduto avistam-se o convento e a igreja das religiosas de Santa
Teresa.
Acima um [wuco à direita, destaca-se a ponta eriçada do Cor­
covado, pico assás elevado, à rais da cadeia de montanhas que se pro­
longa até a da Tijttca e a que emoldura o horizonte deste lado.
Aquem, e perto da igreja de que tratamos, admira-sc o aqueduto
construido sob o reinado de Dom Joño V . Esta construção, de notó-
Pn.Muy.-m ilc S S . J l..)/. K .R . fiar drbai.ro doirro w rm i IJirrilii rm Irruir da rua d.< Ouvidor
— 17 —

vel grandiosidade e digna de Romanos, receia- das. alturas do Corco­


vado a água que conduz ás fontes da cidade. Constituem-no dois
renques de arcos .-uper|sistos. <> stqierior conta quarenta e dois.
Aquem do Aquedtito está a igrejinba dos ingleses e exatamente
acima da colina a continuação da rua da Ajuda. E ’ acima que se en­
contra o Quartel General.
A direita c no primeiro plano pode-se ver o convento de Santo
Antônio e sua respectiva igreja. Há á esquerda o vasto terreno que
lhe pertence c no «pial se avista uma construção inacabada.
Abaixo do convento nota-se o Largo da Carioca onde se |K-rcebe
a fonte que tem éste mesmo nome.
Esta fonte, assim como tódas as do Rio. em certas horas acha-se
cercada de negras que á es|x-ra de turno |Ktra encherem os seus res­
pectivos barris, tocam os instrumentos musicais de suas terras.
A direita do Largo da Carioca vê-se o hospital de Santo Antô­
nio; ao lado do qual desce a ma do Solis, assim chamada do nome de
Juan Diaz de Solis de quem já falamos (sic! sic! sic!).
Atrás de Santo Antônio, a certa distância, c para a direita (>er-
cebe-se mu Iago tie água salgada chamado Saco de São Diogo. Há
no meio uma calçada a que dão o nona de Terasso (sic). I" ela que
<lá |>assagcm á casa de campo do principe.
Xo horizonte remoto continuam as montanhas da Tijuca.
A direita desta lagoa surge no sopé dos morros e entre duas
colinas, o castelo real de São Cristóvão que o principe escolheu para
a sua residência e de. onde várias vezes por dia sai para vir à cidade.
Milito aquem c cm frente, detem-se os olhos numa praça conhe­
cida sob O nome de Praça da Aclamação e OUlrora chamada Campo
de Santana.
X’o meio desta praça vê-se o ¡lavillião intitulado Paíncetto (sic)
e onde o príncipe, foi proclamado imperador.
Além da praça e à margem destaca-se a casa do conde dos A r­
cos, ex-ministro da Marinha que em lxlfi ísiei repiimiti o movi­
mento revolucionário de Pernambuco.
Aquem é fácil notar-se o Teatro da Opera com os seus óculos
pequenos.
Perto do Teatro, mu piuco á esquerda, o Ministério do Interior
ostenta sua fachada sõlire grande praça chamada da Constituição,
perto tie Santo Antônio.
Dois campanários assás em destaque e afastados muito pouco
do teatro, anunciam a presença da igreja de São Francisco de Paula.
Além há tuna fonte. E um piuco á esquerda erguc-se a pequena
igreja de Santo André (sic?)
18 —

Mais longe ao pé dos morros percebe-se a de Santana entre as


duas torres de Sào Francisco e um ]xitico à direita de Santana estão
os quartéis.
Aquém desta, à direita de São Francisco, destaca-se a casa onde
se realizam as sessões do Senado. Tem sete janelas à fachada.
Um pottco à direita percebe-se mal e mal a pequenina igreja da
Rosário com a sua tôrre quadrada.
Acima desta igreja um pouco à direita avista-se a do seminário
de São Joackim (sic ). Mais longe nota-se um caminho que vai ter
ao mar.
Afinal, uni pouco á direita do caminho no sopé da montanha,
está a igreja de Santa Efigênia.
A direita, sobré um montículo assás elevado, avista-se o palácio
episcopal em posição encantadora. Foi em 1669 que o Rio de Janeiro
foi ereto em bispado. 109 anos (sic) apôs a sua fundação.
O bispo tem o titulo de capelão mor e seu cabido compõe-se de
28 cônegos dos quais oito monsenhores.
Atrás do palácio episcopal estão um arsenal e a fortaleza da
Conceição.
Abaixo do bispado, no interior da cidade, há um hospicio cujo
frontespício se destaca acima das casas assim com as duas cúpulas
da sua igreja.
Este hospicio dá para a rua dos Ourives. No Rio há ruas des­
tinadas a éste e àquele oficio: assim existe a rua dos Latueiros, a dos
Sapateiros, etc.
Um pouco á direita, ao so|>ê da colina do paço episcopal nota-se
a igreja de Santa Rita. Muito perto desta e um pouco para cá as
tres pequenas cúpulas da de São Pedro, igreja de forma circular e
servida por uma colegiada de dez capelães.
Mais para dentro c mais à direita vê-se a igreja de Nossa Se­
nhora dos Homens (sic!) e liem perto dela a rua do (sic) Quitanda
que vai ter á praia chamada da Prainha.
Do outro lado da bahía divisa-se o Lazareto, encostado a um
morro, ou mais ott menos na direção da rua da Quitanda.
A direita da rua da Quitanda c não longe <10 mar. acha-se a
igreja de Nossa Senhora da Candelária, cuja fachada é muito grande
e muito rica de ornamentos ainda a serem rematados.
Em baixo, à direita, desce, a rua de Traz do Carmo (sic) que
dá passagem para a igreja do Carmo.
Para esta rua dá a em|wna da Biblioteca, cujos janelões apare­
cendo acima dos telhados, permitem identificar. Êstc estabeleci­
mento dispõe de sessenta mil volumes. E ' frcquentávcl de dez da
manhã às quatro da tarde.
— 19 —

Um pouco à direita da Candelária, no cume de um outeiro, cr-


gue-se o mosteiro de São Bento. No sopé do morro distingue-se >>
Arsenal da Marinha e perto deste edificio, o cais da gente do interior
(praia dos mineiros) (sic ). Esta zona do Rio foi outrora muito for­
tificada.
Aquém de São Bento surge a rua chamada impropriamente rua
Direita. Nela se acha a igreja metropolitana chamada dos Carmelita
Calçados e a Ca|K-la Real, cujo orago é São Sebastião e em seguida
os vastos edificios das dependências do Paço.
Acima da rua. e à direita, destacara-se dois campanários, um c
o lanternim contiguo a Alfândega, o outro mais afastado pertence a
igreja de Santa Cruz onde os militares fazem a desobriga pascoa!
Além percebe-se a Bõlsa. a beira-mar. edificada em IS19 pelo
Sr. Grand Jean (sic) arquiteto francês.
Deste lado existe um arquipélago formado por grande número
de ilhas. Para a frente das montanhas que diste lado dominam o ho­
rizonte está a ilha do Governador, a principal da bahia e com terras
de grande fertilidade.
Nó horizonte começa graude cadeia de montanhas; os picos pró­
ximos uns dos outros que lhe eriçant as cumiadas deram-lhe o nome
de órgãos (sic) devido a parccença que apresenta com tuna fiada
de canudos de órgão.
Muito mais alto as montanhas da Tijuca estão cobertas de mata-
virgens e encerram lugares admiráveis. A temperatura em seu cume,
desce às vézes a zero. Tem entre 1.500 c 2-000 toezas de altura
acima do nivel do mar (de 1.970 a 3.960 metros!)
Um jesuita francês (? ) que formou um sitio nessas montanhas
ali cultiva tõda a sorte de árvores frutíferas européias.
Na rua Direita, e descendo, está o palácio de sua majestade
a praça chamada 1-argo do Paço. Dá para o m ar perto da praia do
Peixe. E ' fácil perceber-se, na contignidade do Paço a casa das Cor­
tes (sic) edificio a que coroam trés pequenos lanternins envidra-
çados.
Peno desta Casa das l ories está a igreja do seminário de São
José onde os moços recebem lições de francês e matemática.
Este estabelecimento dá pára a rua da Misericórdia que se vê
ali perto. Atrás do palácio da» Cortes estende-se o largo chamado --
Terreiro que serve de local de passeio público. A direita existe uma
fonte Sobrecarregada de ornamentos góticos e rematada cm obelisco.
Do mesmo lado a pouca distância da praia, destaca-se a illia das
Cobras primitivamente chamada das Cabras ( sic ). Nela foram cons­
truidos um forte, galpões e algumas casas.
— 20 —

Em sua ponta ocidental ainda se vê o anel de ferro que serviu


de amarra do navio do capitão Cook qtmndo éste escalou no Rio de
Janeiro.
Foi desta ilha que Duguay Trouin bombardeou a cidade, durante
a expedição de que falamos.
Cm pático à direita <Ja ilha das Cobras vê-se pequeno rochedo
absolutamente esculcado chamado ilha dos Ratos.
O mar deste lado está salpicado de ilhas e ilhotas de grande
fertilidade e cuja maioria não tem nome ( ? ! ) . Nos dias de festa os
fluminenses ali vão ter em excursões de recreio.
Perto da preia de Dom Manuel situada a pequena distância estão
várias embarcações ali encostadas para o serviço diário de particula­
res. Vê-se um liareo a vapor vindo do Norte em navegação de cabo­
tagem. Ali permaneceu algum tempo recebendo carga e está em vias
de suspender ferro.
Na praia grande e mais ou menos naqltela direção vê-se o edi­
ficio imenso do arsenal encostado a uma montanha atiás da qual se
ergue perpendieulannente uma nuvem de forma esquesita. Sòbre
estas montanhas as nuvens tocadas para o mar e que n observador
acreditará terem sido detidas pelo vento marinho (designada ao Rio
por viracSo fsic) e Soprado pelas dez da manhã) permanecem per-
pendiculares e imóveis nos tempos de calmaria.
Perto do desemleircadouro que vai ter ao navio a vapor está um
picadeiro. Em baixo corre a rua chamada da Misericórdia |xir causa
do hospital a que ela leva. Uma ponta desta vai ter ao mar.
Em frente, longinquamente, bastante perto da praia Grande,
vê-se um navio a salvar para o forte de Gravata (sic). .Atrás dêste,
â direita e á esquerda, vçem-se três montanhas ao sopé da- quais es-
|>alha-se grande aldeia composta, em grande parte, de casas de . ampo
muito agradáveis. Chama-se êste lugar São Domingos.
Perto do espectador vêem-se o hospital militar e sua igreja.
No jardim desta instituição há bananeiras assás numerosas e alguns
mamoeiros.
Dêste lado, no fundo da Ixthia. ergue-se pequeno rochedo sõbre
o qual se ergue a igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Tal ilhota
estava fortificada ao tempo de Duguay Trouin. As construções ali
feitas dia a dia se arruinam.
A esquerda de Nossa Senhora da Boa Viagem, pereehe-se o Saco
começo de uma labia assás vasta e que se afunda entre montanhas.
A direita d:> hospital acha-se São Josê igreja começada pelos jesuí­
tas e de construção interrompida |>ela supressão da ordem. Entre­
tanto na extremidade oriental as construções em andamento foram
utilizadas para a instalação do local onde funciona um curso de ci­
rurgia” .
— 21 —

CAPÍTULO IV
DESCRIÇÃO r>A CIDADE F L U M IN E N SE . RUAS F. PRAÇAS. A EDIFICAÇÃO
DOS BAIRROS. O AVUEOLTO. AS FONTES 1'ÚBLICAS. O PASSEIO
PÚBLICO. NOTAS SOBRE A INSTRUÇÃO PÚ BLIC A . A BIBLIOTECA REAL.
A GUANABARA K SUA BELEZA. AS FORTALEZAS IJUE DEFENDIAM
0 RIO DE JANEIRO EM 1S21

Drsde qtu- os navios são assinalados |X’la fortaleza de Sania Cruz


c hajam recebido franquia de passagem surge a bordo um pilotp. geral­
mente embarcado num grande escaler do Arsenal e cujos remadores
são indígenas da marinha reíd.
Como a baia, sobretudo do lado da cidade, encerra muitos baixios,
a presença do pratico mostra-se indispensável.
Do lado do morro de São Bento sc encontram o Arsenal e o
ítmdeadouro mais frequentado, pois, o canal entre esta parte <la cidade
e a ilha das Cabras (sic!) c muito seguro para a ancoragem.
Muitas formalidades há a satisfazer antes que se permita aos
mareantes recém-chegados a licença de desembarqué; a visita dos
íuncionârios da saúde publica, a dos da Alfândega e da Policie para
o recebimento dos |iassaportes. Chegam a bordo uns a;xis outros
Xão demora que aos navios rodeem canoas de pretos a tender
laranjas. Italianas. melancias c outras frutas que os passageiros dese­
jam vivamente, após a larga travessia realizada.
A primeira coisa que cli-mia a atenção aos desembarrados. desde
que põe o pé na cidade, é um cheiro especial misto de almiscar. amhar
e formiga, exalada pela numerosa população preta a circular pelas
ruas; cabem-lhe os trabalhos pesados, a venda das frutas, a prática dos
serviços grosseiros, e dos oficios mecânicos.
A via pública, onde vão ter os rccém-desembarcados e paralela
às praias, chama-se Rua Direita, embora seja a única não reta de
tildas as do Rio de Janeiro.
"Vai dar numa praça situada igualmente a beira-mar. Nela se en­
contram contiguas á igreja metropolitana, cuja arquitetura é singela,
a chamada Capela Real, anexa ao Palácio dos Governadores e afinal o
palácio onde residiam os governadores, do qual teve a familia real de
se contentar, pois, outro para ela não havia-
Esta praça é assãs regular, num dos ângulos açha-se uma fonte
em forma de torre quadrangular, sobrecarregada de ornamentos gó­
ticos e da qual a água corre nàs qtiatro faces .
A rua Direita é a das mais atravancadas porque para ela dá a
principal entrada da Alfândega. Continuamente nela ecõa u barulho
dos trabalhadores negros a carregar e descarregar, das nove às quatro
hora?, os fardos que suportam ou puxam soltando gritos ou cantando
melodías cuja regularidade embora pouco harmoniosa, obriga-os a ca­
minhar de modo ritmado lhes ajuda os movimentos. Vestem-se do
modo mais sujo e o suor lhes escorre dos corpos musculosos.
As casas da rua Direita são habitadas por grande número de
mercadores ricos que ao rez do chão têm os seus armazéns e lojas.
Ali se acha concentrada a maior parte da riqueza da opulenta
cidade.
As ruas qn • da Direita partem para o centro da cidade cortam-se
ent ângulo reto c estão alinhadas a cordel. A principal, que não está
longe da Catedral chama-se rua do Ouvidor e é nma das mais belas
e de maior comércio.
As casas do Rio de Janeiro têm de um a quatro pisos: são las-
tantos regulares c construidas d .• pedra granítica que por meio de
minas de pólvora sai dos morros vizinhos.
Ostenta a maioria sacadas de ierro a que adornam duas bolas on
pinhas de chumbo dourado.
Subsistem ainda, cm algumas janelas, aquelas armações pesadas c
gradeadas à moda oriental, através das quais tudo se pode divisar s.-m
ser visto.
Um dos governadores moveu contra estas rótulas pequena guerra
graças à qual foram quase tõdas destruídas.
Um quadrilátero com cérea Je duzentas e oitenta braças (616 me­
tros) de comprido sobre cento e cinquenta dc largura (330 metros), c
chamado Campo de Santana (sob a inovação da qual ltâ na parte sep­
tentrional uma igreja), divide a cidade em dois bairros, o ocidental
e a Cidade Nova com ruas geralmente mais largas e casas de melhor
aparência.
I)as ruas paralelas que desembocam nesta praça a do Sabão t Ge­
neral Câmara) e a de São Pedro começam no sope do morro de
São Bento c prolongam-se então para a Cidade Nova, terminando na
ponçe dc São Diogo que dá passagem ]>ara o bairro de Mata-Porcos
<Estácio de S á ) .
Esta parte da cidade vai acabar num brejo quase sêco atingido
apenas pelas águas das marés altas.
.Ali se constróem aterrados e os arrabaldes néles crescem. Ali
também, se vê uma planicie dc légua e meia que a cidade acabará por
invadir- Mas neste momento serve ap-nas de refúgio a miríades de
carangueijos e de garças brancas fornecedoras de penugem muito
procurada a que se dã o nome de esprit.
E’ nesta direção que se acha a casa dc campo do príncipe regente,
chamada São Cristóvão, de aparência assás bela mas com a maior parte
de seus jardins maninha.
— 23 —

Cresce o Rio de Jane.ro ainda do lado do Catete, bairro cujo nome


procede de um regato a que atravessa uma ponte distante do convento
de Sao Bento mais de tres quartos dc léguas (4.950 metros) Este
bairro corre paralelo ao htorai quando se caminha em direção ao Pão
de Açúcar. *
Compreende a cidade sete paróquias, tendo tôdas elas algumas
capelas anexas. Possui alem de uma casa de caridade, dois hospitais
nm asilo para or fas brancas, filhas ilegítimas, que déle saem casadas e
dotadas (onze capelacs dizem missa na igreja do seu recolhimento)
um convento de religiosas de Santa Teresa, situado numa eminência
no principio do Aqucduto (da Carioca):, outro de irmãs da Ordem de
São Francisco que se estivesse concluido seria muito imponente, um
convento dc carmelitas calçados, agora incluido no paço real. Tanto
um como outro dispõe das mesmas igrejas: a Capela Real e a Catedral.
Tem o bispo o título de capelão-mor. o cabido compõe-se de vinte
e oito cônegos, os quais ostentam as vestes e os títulos dos monse­
nhores do Patriarcado de Lisboa. Aos out¡ros cabe apenas o trata­
mento de senhoria e o uso da capa e do roquete. Usam todos meias
vermelhas.
Existem no Rio dois seminários. No que tem por patrono São
José, há aulas de latim, francês, inglês, geografia, matemática, filoso­
fia. história eclesiástica, escritura sacra e teologia-
No segundo cuja invocação é São Joaquim só se ensina lafjm e
cantochão.
São as fontes públicas raras. Destacam-se entre elas as cio Largo
do Paço, do Largo do Moura e a do 1.argo da Carioca. Deita esta água
por doze torneiras. A tôdas as três abastece um único aqueduto com­
posto d? dois renques cie arcadas superpostas. Quarenta c duas são as
de plano superior. Estjs monumento visto do mar oferece bela pers­
pectiva. A partir do convento de Santa Teresa une-se a uma cons­
trução assás baixa, munida de respiradouros, de distância em distancia,
destinados ao arejamento. Prolonga-se por légua e meia partindo da
montanha chamada Corcovado até atingir a pequena cascata que supre
dc água a cidade- Es»(e ponto é um motivo atraente de passeio muito
agradável e tem o nome de Mne (fáguas (sic). O nome de mrioia.
dado a princ ipal fonte da cidad? é a alcunha atribuida a todos os filhos
da capital brasileira. ...
A Cidade Nova dispõe de menos agua ainda do que a c ia-
Constrói-se, porém, um aqucduto que deve ali levar o liquido em
abundância. E já o chafariz de Lagarto no Campo de Santana serve
para minorar a falta recebendo a água que verte de um bic mu |><
visorio, de madeira, construido ao longo dos morros que vao ler a um
divert ¡culo do vale da Tijuca.
— 24 —

O pequero número de chafarizes faz com que em torno déles se


veía miase sempre varias centenas de pretos esperando, a tocar ins­
trumentos musicais de suas terras, que lites chegue o turno de encher
os barris.
I 'm policial, patrulha o local, armado de uma correia, vibrada lar­
gamente. à direita e à esquerda, a firn de impedir que não baja pos
tergação de direitos nas lilas.
E ’ ali que os maus escravos corrompem os bons. Tlá naqueles
locais quase sempre insuportável algazarra. Nos tempos de sêca tor­
na-se a água muito cara.
\ organização judiciária fluminense dispõe dos mesmos tribunais
que Lisboa, llavcndo-se decretado a supressão da Câmara dos Inspe­
tores. fundou-se em 1803 a Junta Régia da qual dependem o comercio,
as fábricas e a navegação. I.’m presidente, uni secretário, um oficial
maior e dez vogais a constituem.
Quanto ao que diz respeito à instrução há diferentes arlas régias:
três de latim. ■ uma de grego, outra de química. ainda outra de de­
senho. algumas dc línguas vivas c afinal uma academia de marinha-
Sua majestade fidelíssima tornou pública a sua biblioteca própria
com mais de sessenta mil volumes. O horário das consultas é das dez
às quatro da tarde, sendo digno de todo o encomio o zélo e o int“rêsse
dos religiosos que a dirigem. Ocupa o edifício que outrora serviu de
enfermaria do convento dos Carmelitas.
l ’m jardim, um passeio público, onde foram plantados grandes
mangueiras ? caneleiras. termina na orla marítima por um terraço de
cantaría dc belas proporções. Admirável panorama desfiuta-se dêste
terraço: aprecia-se em cheio o aspecto da barra, o Pão de Açúcar,
todas as f >; ralezas e a Praia Grande.
I-.-lc jardim não é írcqú.'litado, senão quase que por estrangeiros.
Conta-se que outrora os fluminenses concorriam, à tarde, àquele ¡ocal
onde os escravos lhes .serviam o jantar, entregando-se a uma alegria
que o acréscimo da p; pulação fez com que diminuísse liastanl
Q ik- país <lis]>oc de tamanhos recursos naturais quanto o Brasil?
indagam os nossos dois autores.
Jue país oferece vantagens iguais’ Nunca o assolam as epide­
mias, nile nao ha vulcões <■a fertilidade do solo laz com qu ■a terra
de «-'uto e cinqiienta <•. por vezes, duzentos por um-
*’;i " P"iio ‘¡o R'o de Janeiro tjão favoravelmente situado no
-om que os navios vindo.s da Europa ao Mar do Sul, ou ao das
Judias, u encontram no trajeto, pela n d ade do curso da travessia, po-
' endo ah renovar as provisões esgotadas ou avariadas.
Assim, ]X>is, muitos viajantes o visitaram Cook. Bougainville.
J.apevrotise, figuram entre os mais célebres.
Concõrdam todos em louvar pomposamente aquela vasta baia ro
d-ada de montanhas pitorescas graças à variedade dos perfis c ‘o ver
dor brilhante que as cobre a se destacar do pardo da rocha granítica
que as forma. I ma delas, a que balisa a entrada da baía, ¿’’notáved
pela nudez e a estrutura irregularmente cônica de que lhe proveio a
denominação de Pão de Açúcar, fi como que o padrão que ao piloto
revela aquele porto magnifico.
Desde que se transpõe a barra pela qual se penetra, avista-sc a
cidade mais ou menos a duas léguas à esquerda. Está sitjiada ao longo
das praias, parte em planície outrora coberta pelo mar e parte sôbre um
grupo de outeiros mais e menos altos a que coroam igrejas e conventos
de arquitetura assás elegante.
Tudo o que da baía se avista pertence à Ciclad? Velha. A Cidade
Xova estende-se em direção perpendicular à costa.
Xão são. porém, as mais belas casas que se oferecem à vista.
A )s grupos destas habitações, mais ou menos regulares, dominam
numerosos campanários. Geralmente cada igreja dispõe de dois.
Em frente à cidade a baia não tem mais do que duas léguas (sic)
de largura. Xa costa fronteira a que se dá o neme de Praia Grande,
as montanhas apresentam-se em geral meros elevadas do que nos de­
mais pontos. Xo fundo da baia a menos de vinte léguas (sic) perce-
ini-se as montanhas dos Órgãos, cujos cumes csl.ão a mais de 1.500
to?sas acima do nivel do mar (cerca de 2.800 metros).
Os reparos a se oferecerem a êstes dados referem-se aos enganos
i itmétic i.s dos dois colaboradores. Excessiva largura atribuiram à
1 ma nabar a em suas águas aliás nada estreitas. Sabem todos que entr.-
1 cais Far<<ux e Niterói não chega a haver uma légua-

A aititudv d nossa famosa cadeia do Dedo de Deus e da Pedra


\çu foi, tpmbém, majorada, pois, bem se sabe a sua mais elevada
umiada não ultrapassa 2.400 metros.
Para dar idéia do modo pelo qual esta capital se acha defendida
pela Natureza e pela Arte, recordemos o que em suas Aíeinóiias es-
r>ve Duguay Trouin. Continuam os nossos dois autores: \ baia
slá fechada por um gargalo, um quart >mais estreito do que o de l> cs
Xo i.ieio deste estreito há grande rochedo que obriga os navios a pa'
sir a tiro de fuzil dos fortes que dos dois lados defendem a barra.
À direita está o de Santa Cruz, a que guarnecem 48 canhões, de
dezoito a quarenta e oito libras e outra batería de oito peças um
pouco para fora do forte.
— 26 —

Para dentro, à entrada r à direita, acha-se o forte da Boa Vingem,


situado «mina península r munido de dezesseis peças de d voiu» a vinte
r cinco". Este forte não mais existe explicam os dois autores cm
nota: -õbre o rochedo atualmente só existi pequena capela soh a invo-
caçãn de Nossa Senhora da Boa Viagem e no sopé do mesmo rochedo
<<< arcos arruinarlos de tuna ponte.
•’Em frente (da Boa Viagem ), rst/i o forte de Vilegaignon onde
. xi-tem vinte peças do mesmo calibre. Para a fronte desta última
fortaleza há a de São Teotónio hoje chamada de 1’Age (siç!) munida
de dezesseis peças que varrem a praia. O s portugueses ali construiram
uma meia lua. Depois de todos estes fortes vê-se a ilha das Cabras
(sic) ao alcance de fuzil da cidade sobre a qual se ergue um forte de
quatr" baluartes, a que guarnecem dez canhões sôbre um planalto, c na
parte baixa <la ilha outra batería de quatro peças.
Em frente a esta ilha, nunía das extremidades da cidade, acha-se
o forte da Misericórdia. guarnecido por d?zoito canhões. Ilá ainda
baterias de outro lado da Iwiia cujo .nome não conservei”.
Explicam os comentadores que os désenhos que seviram para a
construção elo Panorama foram tomarlos deste F orte da Misericórdia.
” A Cidade do Rio de Jan-iro está edificada â beira-mar no meio
Ir tr«" - montanhas que a dominam c coroadas por três baterias. A mais
próxima quando se entra acha-se ocupada pelos jesuitas, a oposta pelos
beneditinos e a terceira pelo bispo local.
A dus jesuitas defende o forte de São Sebastião guarnecido por
várias peças c vários pedrez.es, por outro forte, cliamado de São
Tiago com doze bocas de fogo c um terceiro chamado de Santa
Aioisin (sic) com oito, e aiinal por uma batería de doze canhões.
A montanha ocupada pelos padres beneditinos idispõe também de
bon- cntrincheimmentos c várias baterias que olham para todos os
latios. A do Bispo chamada da C onceição, está mascarada por uma
sebe viva e munida, dt distância m i distância, de canhões colocados
ao alto Além disto a cidade aclia-s* fortificada por meio de relíenles
c batenn* cujos fogos se cruzam” .
f ™e ’O s ,,v defesa do Rio, comenta F Denis. Tais dispo-
»ç<k ao joje i ui parte as m esm as; como Ridos o> governos são muito
d ixa,i‘/ f â á h ‘.’•‘“t V”\ í ‘” í,,.”‘í f í c e m e à . fortificações c nfin as
mais ri" ' ' x , , " ’” , a r - l , r*‘° l/'ssivel apresentar-se quadro
<abo dê í ur !*r ' < Ie l ll »‘‘ éste, visto como o traçou um
'™ ‘ .............. . 'I'»' ■■ todo. fortes teve em
— 27 —

C A PÍTU LO V
O J ARDIM BOTÂNICO E SKUS C H IN S . BOTAFOGO. OS CO STU M ES CARIOCAS
AS ALTAS RODAS. O JÓ G O . OS PRETOS DE G A N H O . OS RECURSOS
(.ASTRONÓM ICOS DO R IO . V IN H O S E IG U A R IA S. AS FESTAS PIRO­
T É C N IC A S. O CA RN A V A L. 11AT IS ADOS. CASAM ENTOS E ENTERROS.
OS A N J IN H O S . CARESTIA DA V ID A . O CO M ÉRC IO . O C A F É . O CLIM A .
A C IN T A DE MATAS DA CIDADE. A ARQ U ITETU RA . CASAS DA CIDADE
E CASAS DE CAM PO. IL U M IN A Ç Ã O URBANA. OS RECURSOS DO BRASIL.
A HELEZA-DA GUANABARA. AS FORTALEZAS DEFENSORAS DO RIO DF.
JA N E IR O

“ Além do Passeio Público. |xissui n cidade do Rio de Janeiro a


tres leguas. v do lado do Catete, um jardim botânico onde são culti­
vadas muitas, «não a maioria, das plantas das indias, entre outras o
chá para a propagação do qual fez o Governo vir d - Campo urna
colônia de chinas”, escrevem Hipólito Tannay e Ferdinand Dems.
A maioria destes celestes não encontrou emprego, porém, circula
pelas vias do Rio, vestida com os trajes nacionais, carregando merca­
dorias - vivendo do que isto lhes dá.
'I'al t *m sido até agora, a sorte das colônias que o govêrnq enten­
deu atrair. Mudanças minisferiais impediram sempre que se tirassem
vantagens de tal imigração. Foram (piase tódas estas colônias inúteis
no país e prejudiciais aos individuos, seus componentes-
Seja como fôr os felizes ensaios da cultura, feitos no Jardim
Botânico, provam que o solo do Brasil c propicio a tôdas as plantas
dos climas quentes. As das zonas temperadas |x>dcriam. também,
aclimar-se nas cumiadas das tnontanhas.
Foi com este fit" que se chamaram cultivadores suíços ju ra co­
lonizarem terras do distrito de Uantagalo. Medidas mal tomadas para
a administração de tal empresa fizeram fracassar, até agora, os frutos
que riela se podiam esperar. Mas não sendo o mal irremediável, é de
esperar que se atingirá o colimado alvo.
Na estrada que vai ter ao Jardim Botânico, além d- uma obra
magnifica chamada Bota Ligo. com cerca dr meia légua de circuito e
cm tôrno da qual se agrupam as mais pitorescas montanha^ dos arre­
dores do Rio. existe a fábrica dr pólvora, manufatura de mais alta
importância.
Esta bahia. a rlc Botafogo, entre outras causava tanto prazer à
rainha que lhe constituía o rumo habitual dos passeios com as prin-
crzas, suas filhas. Apesar das areias profundas da praia, ela nli ia
ter não só pela manhã como à tarde.
Se da pintura dos ambientes passarmos à dos costumes espe­
táculo não menos variado e interessante fixaria a nossa atenção.
— 28 —

Não que a alta sociedade ofereça sensível contraste com u que se


observa na Europa. |x.»is nin chá tanto no Rio de Janeiro como em
Lisboa ou cm Paris apresenta as mesmas particularidades aos olhos
do observador; as paixões r sobretudo o amor próprio ali estão cm
jôgo e «Io mesmo modo-
\ forma dos doces e bolos e a das frutas ali servidas é que cons­
tituem a mais notável diferença. Por toda a parte se houve a ária
italiana cantada do melhor ou do pior modo; por tôda parle as
eternas sonatas ressoam nos salões. () jogo c a dansa completam o
quadro e a cada qual ocupam segundo as preferências de cada qual
também.
Entre agentes diplomáticos, sobretudo, tal identidade é com­
pleta. Seus modos resumem os usos e costumes de todas as nações
civilizadas.
O amor ar» jògo c no Brasil corrente, sendo sobretudo de dia que
êlc se satisfaz. <)s grandes lazeres e a instigação das sensações
intimas o entretêm.
A medida que a paixão do bom público e o gósto pelas ciências e
ns art •> se apoderarem dos corações diminuirá o pendor pelo jogo.
E* em casa dos liarbeiros. verdadeiros ligaros do Brasil, que exis­
tem as lavoiagens, onde os estrangeiros não são admitidos- Todos os
povos deviam praticar este gênero de filantropia, praticar o contrário
constitui exercício negativo dos deveres da hospitalidade.
Nos dias úteis interrompidos por numerosos feriados religiosos,
funcionam as indúsi.rias c o comércio. Há ruas reservadas totalmente
a tais c tais ofícios como a dos latociros, dos sapateiros, etc.
\ maioria dos ofícios mecânicos pralica-s* no Rio de Janeiro com
maior e menor ¡xTÍeição.
O jmtrâo. na maior pane das vezes, não passa de mero inspetor ou
feitor, vs operarios são pretos ou mulatos escravos mi do próprio palra»
da oficina ou de algum outro sujeito que »»s aluga a tanto por semana
ou enfim libertos.
llá Operários que fazem dez francos e mais j>or dia; assim in ­
dústria nmitu rendosa vem a ser comprar pretos v vnsiuar-lhvs oficios.
E como isto se faz jx>r meio de vergastadas dentro em breve estão
estes escravos' senhores de toda a manipulação de seus oficios. E como
sejam em geral habilidosos os donos os põem a trabalhar por jornal c
vivem d:> ganho que éles lhes proporcionam. Se são ineptos mas ro­
busto- fazem-nos trabalhar na Xlfândcga ou como remadores.
L'm dos seus encargos é. ao ocaso, atirar ao mar as imuntlicies de
cada casa. Infelizmente estes carregadores não são inodoros e os per-
jumes da tarde não se tomam convidativos à peramhulaçâo.
— 29 —

Assim só à noite, e nas noites de luar, que as senhoras brasileiras


se entregam ao exercício salutar do passeio. E ’ então que se divertem
com os maridos e parentes at<é verem desaparecer o astro noturno.
Aliás durante o dia apenas saem para ir á missa: frequentemente
em catleiritiha. e as vezes a pé.
Quase sempre as familias observam a ordem processional. E ' o
mais vellm qumt rompe a marclta, seguem-se-lhc os demais por ordem
de idade, vindo depois os escravos um atrás do outro.
A maioria das pessoas abastadas nem se outorga a distração deste
passeio piedoso, [mis. c de Ixim tom que cada qual tenha cajicla jsarti-
cular. onde aos domingos, e dias santos, vem um padre celebrar, de
bota e esporas.
E ’ da praxe que o primogênito da casa ou em sua falta o parente
mais próximo do chefe da família sirva de acólito.
E' então que o estrangeiro, quando admitido a assistir a cerimô­
nia. pode ver toda a familia junta, salvo quanto aos inválidos.
Logo que acalla a cerimônia, cada qual cumprimenta o dono da
casa c vai-se com o seu ¡arrancho.
O comércio de escravos c um dos mais rendosos. Ao saírem dos
navios negreóos são os africanos amontoados, todos juntos, nos arma­
zéns onde ficam expostos à venda. Um simples pedaço d - pano co­
bre-lhes as partes pudendas.
Espetáculo triste c repelente este ajuntamento de corpos negros
em que só se destaca a alvura dos gloltos oculares e dos dentes.
A maior parte 'lestes escravos estão reduzidos ao estado de ver­
dadeiros esqueletos, miseravelmente alimentados. Hora do alivio para
eles é a da venda, embora a bordo do navio negreiro lhes façam crer
que serão comprados para serem devorados.
Passado o primeiro susto, só têm a regosijar-se com a mudança
da situação, pois, é impossível que fiquem ent pior situação do qtte
quando nos trapiches.
Pela soma de mil ou mil e duzentos francos, compra se um ptctu
Item constituido ou uma preta e sua posteridade, seja qual fôr a
côr desta.
Além tios negros que formam a maior fração da população d ■
Rio tie Janeiro, encontram-se nas ruas mineiros, trazendo filas de
mulas carregadas de algodão ou de queijos, duas das indústrias de
sua capitania.
Têm os traços caract •risticOS das raças brasileiras. Andam de
pernas e pés nus. embora tragam esporas destinadas a espicaçar as
nvalgadttras.
Uma calça sõbre a qual desce uma camisa, usada como túnica, um
colete e um grande chapéu, eis tóda a indumentária dêstes almocreves.
— 30 —

I la no Riu de Janeiro muitos estrangeiros no comércio ou ocupa­


dos em outros misteres. Os ingleses, franceses, e italianos são os
mais numerosos. As outras nações européias acham-se infinitamente
menos representadas.
Aii se faz considerável distribuição da aguardente de cana liquida
de cheiro infecto, de que os negros gostam apaixonadamcntc. Dá-se-
Ihe o nome de rar hasta: certos brancos, e até mesmo europeus, compar­
tilham deste pendor desarrazoado, cujo hábito dentro em breve se
toma funesto àqueles que a êle se entregam.
f >s vinhos da Madeira. 1’õrto, Tenerife r Lisboa, são os de maior
consumo, habitual no Rio de Janeiro. Encontram-se também de Bor­
dens mas éstes se tornarão cada vez mais escassos |ror causa dos im­
postos que os gravam sob o pretexto de que sua concorrência causa
grandes prejuízos às companhias arrendatárias do vinho do Pórtp.
Muito embora se póssa conter muito bent no Rio de Jaiviro, um
gastrônomo ali se verá insatisfeito. Assim um artigo de primeira ne­
cessidade. como a manteiga fresca lá não se encontra, prejudicando
muito a perícia dos cozinheiros.
A pastelaria, por exemplo, só pode ser feita com a manteiga sal­
gada. importada da Irlanda abundantemente.
Xota-se a ausência de quase todos os legumes europeus, em com­
pensação alguns dos indígenas são muito Irons.
I > xúxt'1. que lembra jK-quetlo pepino oval e cresce pendente de
nma espécie de liana, tem gôsto que lembra o da alcochofra e é sa­
boroso.
<> palmito mostra-s.--lhe. porém, preferível- !'• o miolo de uma
palmeira, que cortarla em lâminas finas e liem acompanhada de molho,
tem suas analogias com os nossos cardos hortenses, emlrora bem mais
delicado.
A cam - do aç-uguc. aliás, não muito cara, não c de muito boa
qualidade. Quase não se encontra carneiro, cuja carne inspira aos flu­
minenses tal ou qual dissabor. O [Xirco éste sim. é ótimo e até mesmo
de qualidade superior ao da Europa.
A caça mostra-se muito abundante e muito boa. c o pescado
excel m te.
Quanto às frutas; a tal respeito a América acha-se menos favo­
recida do que a Europa. Mas quando o trato dos jardineiros houver
por meio de enxertias sucessivas melhorado as espécies, elas adqui­
rirão, talvez, qualidades equivalentes às nossas.
Os ananazes, laranjas, mangas, quando escolhidos, são dos mais
deliciosos; os melões que de certo tempo para cá se multiplicaram
(instante quase sempre lions, emlrora de pequeno porte. As melancias
— 31 —

quando alguém se adia encalmado mostram-se m anjar dos mais agra­


dáveis. H á brancas c róseas e são bem conhecidas no sul da França,
na Itália, Espanha e Portugal.
Eis aqui alguns dentre os mais esquisitos costumes do Rio de
Janeiro.
Nos dias de São João Batista e de São Pedro, accndem-sc alegres
fogueiras e o povoléu solta em lômo delas lachas e bombas de todos
os calibres. Dai provém acontecer serem os transeuntes, por vézes,
atingidos c feridos. Empregam-sc os populares em atirar foguetes
horizontalmente em vez <lc os lançarem aos ares. A policia pública
deveria exigir a cessação de tais abusos. A maior parte destes fogos
de artificio queimados no Rio são importados da China.
O utro costume tão incõitn xlo quanto éste é nos dias de Carnaval:
acham-se á venda bolas de cera, de tôdas as cores, e cheias de um
líquido que deveria ser água perfumada. Consiste a habilidade de
quem os projeta em lançá-la aos transeuntes, amigos e inimigos, pes­
soas livres ou escravos. Estas boias, atingindo o rosto ou as partes
cobertas das pessoas causam-lhes dor assás penosas c, arrebentando,
derramam o seu contmdo.
As pessoas que saem à rua nesses dias voltam a casa ensopadas
dos pés a cabeça porque de cerças casas, sobretudo das de esquina
das ruas, derramam sõbre elas baldes de água doce ott salgada.
Durante estas saturnais, ninguém se meta a querer encolerizar-se
qtu terá contra si. pretos, mulatos e brancos arriscando-se talvez at ■
a s r exterminado. O melhor é deixar-se em casa.
Embora estas cenas escandalosas não sejam mais consentãneas da
reputação de uma capital como o Rio de Janeiro, é provável qtte ]n>r
longo prazo se rqiroduzant durante tanto tempo quanto aquele em que
as nossas mrnina- de escola na Europa lançam bolas <le nevç ás costas
de seus bedeis.
Os batismos e casamentos ocorrem, no Rio mais ou menos do
mesmo modo que nos demais países onde o cristianismo florece-
São os mortos enterrados de rosto descoberto e as pessoas ricas
inhumadas nas igrejas. L'ma das maiores provas da salubridade do
clima quente do Rio é que de tão pernicioso hábito não decorrem
epidemias.
O enterro das crianças jrarece mais coisa festiva do que lutuosa.
são os jiequeninos cadáveres passeiados pelas ruas vestidos como os
pequenos São João das nossas procissões de Corpus Christ em França
íi até sob a designação de anjinhos que as mães as apontam aos
filhos quando êl.-s passam sob as janelas de suas casas:
"Venham, venham vocês, gritam-lhes, ver <> anjinho, vejam como
ficariam se morressem".
— 32 —

Estas crianças parecem um ¡«meo àquelas mumiazinhas pela côr


da tez a que não realça o carmim que brilha às faces dos pequenos
europeus. Perdem fates aliás igualmente tal brilho desde que sejam
transportadas a éste lugar onde as moças são tôdas de extraordinária
palidez.
Apesar disto, a ntaioria destas não deixa de ser muito bonita e o
matiz marmóreo tie uma estátua só altera a pureza das formas, muito
íraeamente.
Não que sejam marmóreas, pois, geralmenle se mostram afáveis
e bondosas, exceto fiara com os escravos que os costumes lhes apresen­
tam como brutos dèstinados a receber pancadas até de suas mãos
delicadas.
O que deixou de existir no Rio d • Janeiro foi certo costume apre­
goado pelo- viajantes felizes nossos predecesores. Estas amáveis
americanas perderam o gósto de lançar flores à cabeça daqueles a quem
queriam significar simpatia.
Não há mais a esperar aventuras amáveis de tal jaez. Outros
talismans, além dos de as|>ccto agradável são necessários á obtenção
d.- tais favores.
i filtros tempos, outros costum es...
Os gêneros de primeira necessidade pagam-se por preços arra-
zadores: casas, rottpas, viveres, tudo tem preços exorbitantes. Uma
familia que em Paris vive aliastada com mil escudos (3.000 francos),
deve aqui gastar dez mil para levar a mesma vida.
Eis o óbice maior á melhoria da fortuna daqueles que cotneçam
sem muitos recursos” .
Uá no Rio, além de muitos franceses donos de lojas bem sortidas
mais ou menos com os mesm >s artigos de França, quase tantas mo­
distas quantas existem na rua Vivienne e ainda alfaiates, marceneiros,
pedreiros, e operários de vários outros oficios.
A indústria que oferece maior vantagem c no entanto a menos
cuidada é a agricultura. 0 lucro a realizar assume proporções tais
que ao cabo de dez anos está-se em condições de tirar como remia
aquilo que no primeiro ano se terã aplicado como capital.
Não tentos aqui espaço nem ensejo de desenvolver a evidência
deste postulado que neto por isto deixa de ser exato.
O café, sobretudo, não demanda g ran d-s despesas e seus lucros
são dos mais consideráveis.
Alént do.- ingleses, há italianos que também se entregam a<> co­
mércio. São em geral os donos dos cafés. Os alemães começaram a
avallar desde a chegada da arquiduquesa Carolina da Áustria, hoje
princesa herdeira dos três reinos.
— 33 -

A recepção desta princesa motivou testa verdadeiramente sun­


tuosa.
Não assistimos em parte alguma, até mesmo cm Paris, iluminação
mais brilhante e mais duradoura.
Concertos. distribuição de viveres, touradas e torneios, tais foram
os divertimentos que prolongaram durante semanas a fio. Os fogos
de artifício e as salvas da artilharia completaram a expressão do júbilo
público.
No Rio apreciam-se mui^o as salvas de canhão que frequente­
mente se fazem ouvir. A- festas dos grandes santos. os aniversários
natalicios das pessoas da familia real são celebradas pelo troar das
laicas de fogo das fortalezas c das naus de guerra.
Atribuem-se a estas comoções frequentes a sensível mudança
operada nas condições atmosféricas da cidade- Antes da chegada do
rei ocorria no Rio, quase diáriamente, e pela tarde, um temporal que
só durava cerca de uma hora.
Era o que se chamava a Trcvnniida (ste) coisa traduzivel por três
palavras: trovões, cltuvas e vento.
Havia entre os fluminenses o hábito de se marcarem encontros
“ para depois da Irovonadu". Mas isto acabou e os temporais agora
não são no Rio mais frequentes do que em França.
Nos equinóxios ocorrem semanas inteiras senão até meses de
chuva.
Dezembro, janeiro, fevereiro e março são os meses mais quentes,
os outros oito assãs temperados. Mas mesmo quando o sol chega ao
Trópico do Capricórnio e acha-se perpendicular sõbre o Rio ao calor
de tal modo atenua a viração marinha, diária, que a não ser quanto
a três ou quatro dias por ano o calor não se mostra insuportável.
O termômetro Reaumur não vai quase além de 28 graus (35 centígra­
dos) c mantem-se habituahmnte entre 14 e 16 (17.5 e 20 graus ).
Durante a sêca as plantas, a não ser quanto às das planícies, quas.-
não sofrem e nem por isto se mostram menos verdes. A água higro-
métrica cntretem-Ihes a -eiva e o brilho da vegetação até os cumes
dos mais altos rochedos.
Oh! como são majestosas estás florestas primitivas através das
quais só é possível abrir passagem cortando aqui e acolá às macha­
dadas as lianas de todas as especies que as enlaçam e vão levar as
suas estranhas flores às mais altas franças das árvores!
Aqui á árvore de ouro passa a tomar um tom amarelo de açafrão
ao tempo da floração mais longe as melastonáceas revestem-se de
libré roxa.
Muito poucas palmáceas se destacam nestas solidões, a cultura as
multiplica nos arredores das cidades menos entretanto no Rio de Ja­
neiro do <|Ue no norte do Brasil.
Mas se borliolelas cerúleas e nacaradas evoluem cm tôrno destes
maciços floridos, impuros reptéis deslisam por sob as hervas altas
onde ninguém ousará estender-se e dormir como faria cm nossa
França.
Fora das veredas batidas ninguém anda sent certo terror; a vizi­
nhança da água c sobretudo de se recetar a tal respeitp. <>s acidentes
são contudo menos frequentes do que gendmcntc se pensa. Mas lrnsta
a consideração de que o perigo |X>r toda a parte surde c ameaça para
envenenar n prazer da contemplação das Itelezas naturais que a éste
pais tanto se prodigalizam.
I" preciso, conto regra geral, desconfiar das narrativas maravilho­
sas que a gente do campo se compraz cm fazer sobre os repteis assim
como dos perigos de todo o género que a presença destes traz.
Estas latas |X:ssr>as são muito pusilánimes. A vida lhes corre en­
venenada |x los terrores qu.- diariamente a noite lhes oferece, os lobis-
homens, as almas do outro mundo, os demônios, não lhes deixam sos­
sego. A fábula dos vampiros sobretudo corre com grande crédito
entre essa gente. Conta-nos hispirías capazes dc fazer com que Lord
Byron ficasse lívido à vista de um fogo sobre as alturas inacessíveis
da mata virgem faz com que acredite mima assembléia dc bruxas a
meditar em sua perdição.
Por entre os rumores absurdos dc suas conversas noturnas sur­
preende ao ouvinte perceber o vinco vigoroso de certos contos das
Mil e uma Noites.
\ longa ixrmanência tios Mouros cm Portugal é a orig in de tais
tradições. Encontram-se aliás relações imediatas entre alguns pontos
dos Costumes mouriscos e os do Brasil, o modo por exemplo das
renhoras se sentarem por sóbre as pernas cruzadas, e o hábito muito
comitm no interior do Brasil de se tomarem as refeições sem mesa,
servidas como são sóbre esteiras.
<) f ritió da-- selas e estribos, ainda em uso evidentemente procede
du Arábia, em linha reta assim como, a moda dos caixilhos da janela
..if instil" aos dos haréns.
Os arquitetos fluminenses, aliás muito hábeis, brigaram positiva­
mente. e dc vez. com o ângulo reto. Todos os |x>rtais e montantes for­
mam, insensivelmente, um ângulo obtuso c sempre o mesmo. Não há
cómodo da casa que seja exatamente quadrado; sõ se vêem losangos
cujos ângulos têm o mesmo valor que o do corte de pedras- Não
existem certamente duas cidades, do Mundo inteiro, deste padrão.
— 35 —

As casas ele campo ostentam miase todas unía galería susten*,a<la


jxir colímala de aspecto muito pitoresco. \ esta galeria dá-se o nomc
de rw cm fa ( sic) .
O uso das vidraças cada v-z mats se pro|xiga e sna comodidade
mostra-se sensível no. dia. de chuvas por que então o . moradores
que delas não dispõem são obrigados a manter os postigos fechados
e acender velas e lampeõrs.
As mas do Rio são iluminadas de modo deficiente, os moradores
fazem-se acompanhar, à noite. por escravos portadores de tochas resi­
nosas qii • dão muita luz.
Patrulhas noturnas passeiam pelas ruas policiando-as. Além da
tropa de guarnição goza o Rio da inapreciávcl vantagem de dispor
de milícias ou guarda nacional.
A utilidade dela decorrente piara a manutenção da tranquilidade
pública é hem conhecida. Esta instituição opera m Cuias as regiões
brasileiras.

C A PÍT U L O VI
A PA N H A D O SÓBRE A DESCOBERTA IX> BRASIL E A GEOGRAFIA BR ASILEIRA.
INFO RM A ÇÕ ES COPIO SAM EN TE ERRÔNEAS

Começa a Xolice Historique el Ex/ilicativc du Panorama di> Kio


dr Janeiro, |xir uma Xáticc liisforique que abrange mais de nove dé­
cimos do volume.
Consagra-s.- a primeira parte a um ensaio corográfico.
A primeira vista ressalta que o. dois autores muito se abeherarain
em Aires do Casal, tendo tido, porém, a imprudência de recorrer a
outros autores de menores recursos r autoridad '.
I-, interessante este ensaio como índice de que vinham a ser na
época <1821 i os conhecimentos correntes da g.-ografia desta nossa

Terra de Santa Cru: pouco conhecida

como ainda o era no primeiro quartel do século XIX. Em lodo o


caso incomparavelmente menos <l<> que na época em que o cantor dm.
[.lisiadas escrev ra para o sen amigo tiandavo verso une acabamos
de citar.
"(> Brasil ini- se estende desde o rio Amazonas do segimd • pa­
ralelo de latitude norte ao trigésimo de latitude sul ¡Hide i t nuvccciitas
léguas vulgares de comprimento- Calcula-.se que a sna máxima lar­
gura deve ser di- sete.-entas léguas e que as sinuosidades do Oceai.io
llic dém mil e duzei».as de costas, afirmam os dois autores.
— 36 —

Entretanto. de atórelo com os últimos tratados deve começar


atualmente á fóz do rio Márony (sic), a seis graus setentrionais e
c-stender-se ate o paralelo trigésimo terceiro de latitude austral. Sua
largura ueste caso é mais considerável também, pois, que a indicam
ainda do Cabe. Branco ao rio Hyabary ( s ic ).
Os geógrafos, contudo têm por costume considerar esta vasta
região como limitada ao norte pelo Oceano Atlântico e o Rio Am a­
zonas que o separa da provincia de Terra Firme e ao sul pelo golfo
onde desemboca o Rio da Prata.
A leste é banhado ainda pelo Oceano c seus limites na’,tirais sã '
do lado do oeste o rio Paraguai e o Madeira que dirigindo-se em
sentido oposto formam uma peninsula cujo istmo está situado entre os
rios Aguapei e Alegre.
Embora esta enorm- região da America Meridional ofereça gran­
de número de desigualdades, deve-se considerá-la como um pais antes
chato do que montanhoso.
O centro é quase todo ocupado por vasto planalto desigual sob o
nome de Campos Parcxis (sic) c rodeado de -todos os lados pelas altas
montanhas do mesmo nome de onde se prolongam paralelamente para
as costas do norte as cadeias das Esmeraldas e da Serra do Erin.
Ao norte vem se erguer os Cariris ou Borborema, em Minas
Gerais as Mantiqueira* (sic) e para a provincia da Bahia os Aimorés
que assumem a forma de um renque de tubos de órgão (sic) e pro­
longam-se a uma distância mais ou menos considerável das costas até
Santa Catarina. Mas tódas estas cadeias de montanhas mudam de
nome nos seus rumos e tomam outros ao seguirem novas direções.
Cm número quase incalculável de rios, ribeiros e torrentes fertili­
zam o Brasil e facultam as comunicações do interior com a beira-mar.
O Amazonas cujas fontes se acham no meio dos Andes e atravessa a
seguir, em tôda a largura, a América Portuguesa pode ser considerado
a justo titulo o maior rio do Mundo. No decurso de mil e trezentas
léguas recebe uma multidão de tributários e perde-se afinal no Oceano
depois de haver banhado territórios ainda desertos e que devido â sua
fertilidade mereceríam ser habitados por população de agricultores la­
boriosos .
Menos considerável que o Amazonas o Rio da Prata forma, entre­
tanto, ao seu lado na primeira categoria dos rios da América Por­
tuguesa.
A segunda compõe-se do Rio Madeira, do Tocantjn (sic). do San
Francisco, e do Paranna, que. descontadas as sinuosidades, jiodem ter
até trezentas ou quatrocentas léguas de curso.
O Tapajós, o Xingu c o Uruguai constituem uma terceira cate­
goria e não tem menos de duzentas léguas de extensão. Figuram na
— 37 —

quarta o Itapicuru. do Maranhão, o Parannilia, o Paraília do Su! e n


São Pedro ou Jaguarihc (sic).
O que cm seguida vem, embora infinitamente numerosos, não
são todos de navegação fácil, por causa das cachoeiras c corredeiras
que é necessário vencer continuamente com iníindo trabalho.
Este país que pela posição geográfica está fadado a representar
tão importante papel no comércio apresenta, cm tôda a extensão da
costa, uma nudtidâo dc portos c baías onde o navegad- ir pode encon­
trar seguro abrigo contra as tempestades.
í* contudo à provincia da Bahia que n Natureza parece ter favo­
recido especialmente. Sob este ponto de vista jkiSsuí dois portos
verdadeiramente magníficos, a baia de São Salvador e a de Camamu,
realmente, muito próximas uma dá outra, mas o í•.•recent inapreciávcis
vantagens de que ccimiKirticipam as do Rio dc Janeiro e de Angra
dós Reis.
A baia da Traição na provincia da Paraiba. o pôrto dc Tamandaré,
cm Pernambuco, o de Santos na provincia de São Paulo devem ser
considerados. a seguir assim como a enseada de Maldonado, como os
ítmdeadouros mais importantes.
Rios consideráveis nu estradas terrestres comunicando com o in­
terior, gcralmcntc atingem estes diversos jwirtns. permitindo a expor­
tação dos produtos do pais que já há alguns anos a ¿des vão ter abun-
daityementc e atestam de modo positivo os progressos fia agricultura.
Entre os promontórios que os navegantes notam ao longe da costa
distingue-se o cabo de São Roque formando o ângulo nordeste do pais.
\ r-s? perto d-? Pernambuco e de Santo Agostinho e o Cabo Frio que
em regra geral se torna visivd antes da entrada no Rio de Janeiro,
(> promontório dc Santa Maria está na vizinhança imediata do Riu
da Prata.
As ilhas dependentes do Brasil são infinitamente pouco numero­
sas e exceto entanto a Fernando de Noronha e Trindade que devem
ser consideradas como de muito pequena importância as demais se
aproximam muito do continente, cohlo San-a Catarina e Maranhão,
pertencentes às províncias de que lhes proveio o nome.
Desde o Pará até Olinda a costa setentrional está coberta dé
ilhéus c recifes que formam uma espécie de dique sôbre o qual vemos
quebrarem-se ondas oceânicas, e que às vezes apresentam o aspecto de
um molhe natural correndo paralelamente ã terra.
Nas vizinhanças de 23 graus de latitude sttl a pouca distância de
Pôrto Seguro c em fronte da liarra du riu das Caravelas, acham-se mais
ou muios a doze léguas no mar alto as ilhas dé Santa Bárbara, co­
nhecida sob a designação de Abrolhos e celebres graças a mais dc um
naufrágio- São cm número dc quatro, situadas a pequena distância
— 38 —

tuna da nutra, Piale a maior ter meia légua de comprimento mas os


escolhos estendem-sc a cérea de scisccntas leguas na direção de leste
oeste.
Tal a feliz situação do Brasil onde se pode encontrar lodos os
climas. O calor íaz-se -emir, <• verdade, e fortemente. desde o Partí
até a extrema da capitanía de Rio de Janeiro. Mas um pouco mais.
I»ra o Sul. seguindo-se a costa e |>ara o lado de Minas Gerais, no inte­
rior das terras a temperatura é tão moderada que e possível ali cultivar
diversas árvores euro|>éias de que se obtem frutos abundantes até.
E ás vezes, entretanto. torna-se o frio sensível no Serró Frió e na
extremidade meridional da costa para o lado «la capitania de São
Vicente.
A estação chuvosa, considerada de inverno entre os trópicos reina
no litoral de maio a agosto. Nesta é|>oca parece a natureza tomar
novo alento e a vegetação brilha com fulgor que jamais perde por
completo. até mesmo no meio das maiores secas. Durante a estação
cm que o sol desfere os raios mais ardentes, ventos marinhos a que
os portugueses chamam viração. vem refrescar a atmosfera e reanimar
graças ao sopro periódico os homens e os animais acabrunhados pelo
calor.
Acha-se a America Portuguésa dividida em nove governos de pri­
meira classe c dez de segunda, lisias designadas sob <> nome de capita­
nia e subdivididas em comarcas ou distritos, em que há um ouvidor
que pode ser considerado como juiz de segunda instância, e de cujos
julgados se |xxE* afielar para os tribunais soberanos.
() título de cidade só se concede geralmente .ás capitais e os
burgo, têm a designação de vilas- As povoações são as aldeias, as
freguesias, espécies de vilarejos consideradas como paróquias c os
arraiais áreas de terra onde existem várias fazenda, ou algumas cons­
truções .
Estas noções preliminares e gerais sobre a geografia do Brasil
pareceram-nos adequadas a proporcionar alta idéia de sua capital cujo
panorama é oferecido no público.
Vamos agora rápidamente bosquejar a história da descoberta
deste bdo pais.
Dois novos vizinhos c rivais, os |K>rtuguéses e os espanhóis, foram
os únicos, por assim dizer, autores das descobertas marítimas, tornan­
do o século XV uma das é|xicas mais memoráveis que os anais do
1’niverso podem oferecer.
Os print.áros teriam até conquistado tôda a glória de revelar a
América ás Nações se por uma inadvertencia. |wr assim dizer incon­
cebível. a córte de Lisboa não houvesse forçado Cristóvão Colombo
a oferecer os serviços ao rei de Espanha. Bem castigados se viran)
— 39 —

ao verem a aparição daquele ousadu navegador no Tejo, ao voltar


de viagem que. de modo incontestável, documentava a valia de seus
oferecimentos.
Sabem todos quanto este h unem célebre teve de suportar delongas
por parte de Fernando e Isalicl e que ><'• passados oito anos de infru­
tíferas solicitações, e quando estava a ponto dc emlmrcar para a Ingla­
terra. é que aqueles reis lhe aquicsceram às propostas e fizeram equi­
par uma flotillia com a qual provou a existência dc inundo novu, cuja
existência pressentira ele aportando lá pelos anos de 1492 (sic!) apôs
travessia fecunda c desgostos de todos os gêneros.
Ninguém ignora tão pouco quanto os soberanos cujos domínios
tanto aumentara foram ingratos c que c<xn o desrespeito, formal de
«autêntico contrato, foi dcsjxjjado, cm detrimento d? qualquer justiça,
das vantagens que tiéle se estipulavam parti si e seus descendentes;
como os povos de quem fora o primeiro a visitar trocou o ouro pelo
ferro dos grilhões.
O gênio dc um mortal levou-o a a|x>rtar a ¡jarte setentrional da
América.
Este nume atesta uma das mais revoltantes injustiças assinaladora
da descoberta do Nova Mundo e da qual Colombo fui ainda a vítima,
pelo fato de haver Américo Vespucio, fidalgo florentino tido a im­
prudência de se a atribuir e os povos a credulidade de subscrever tal
afirmativa.
Numa obra que publicou sobre esta terra nova e que então alcan­
çou grande divulgação, afirmou que, com efeito, Colomljo descobrira
as ilhas dela dependentes, mas que êle, Américo Vespucio, visitara o
Continente antes de quem quer que fôsse.
Fato c que compan ñ ipara da primeira viagem de Colombo (pie
só em 1499 voltou àquelas paragens á testa dc uma expedição. Ora.
desde o anu precedente havia Cristóvão Colombo reconhecido a embo­
cadura do Oncroqu? (sic).
O preconceito de tal modo consagrou a denominação dc América
que apesar da geral indignação (sic) o nome de Colombia a que os
Estados Unidos querem que a suhstiçua não conseguirá, talvez, popu­
larizar-se.
Outro erro fez impropriamente dar o nome de índias Ocidentais
a esta vasta região- Provém do fato de que, em seu plano dc des­
coberta, pensava Colombo encontrar um prolongamento das Grandes
índias, para as quais se voltava então a ambição de todos os povos.
Só quando se contornou o Cabo Horn e se descortinou tôda a extensão
da co$V» do Mar do Sul. desapareceu tal alusão.
— 40 —

O nome «le indios dado aos indígenas foi, pois. falsamente atri­
buido, nías o uso o sancionou por tal forma que > t :í màis duradouro
do que as raças a que designa.
Feliz acaso proporcionou aos portugueses o encontro das costas
da América Meridional boje conhecidas sob a designação de Brasil.
Toda a Europa tinha os olhos fitos nesta nação que confinadas,
em uma de sua> extremidades em tão pequeno territorio, estendia ra­
mificações a tantos ¡juntos e recuava os marcos do Mundo.
Veneza de perder o monopólio do comércio das índias, fonte de toda
a sua prosperidad?.
Foi em busca do reino de Cateen^ descoberto por Vasco da Gama,
que Pedro Alvares Cabral, almirante português, a quem Dom Manuel
confiara tal comissão, tendo navegado muito ao largo para evitar as
calmarias, ocurrentes nas proximidades das costas africanas, encon­
trou-se a 21 de abril à vista das costas brasileiras.
Três naus e dez caravelas compunham a sua esquadra. Começou
por ccn.ificar-sc de que esta terra, que se achava a dezessete graus de
latitude do sul, era um continente e não uma ilha do Atlântico, como
a princípio supusera. \ costa assumia o feitio de uma montanha a r­
redondada n<» cume e rodeada de colinas que mais tarde se identi­
ficaram como um contra forte da grande serra dos Aimorés. Bati­
zou-a Monte Pascoal porque então decorria o oitavário da Pascoa.
Ao Continente chamou Vera Cruz. A esta denominação dentro cm
breve substituiu-se a de Brasil ¡>or causa da madeira tintorial dêste
nome c alí encontrada em abundância.
E m a tormenta que de repente ocorreu impediu Cabral de tocar
cm terra naquele ponto. Fez a esquadra subir para o Norte c depois
de ter reconhecido a foz de um rio. acerca de dez léguas, fundeou
numa enseada a que denominou Porto Seguro. Alguns geógrafos aliás
o apelidam também, e com toda a razão. Babia Cabralia.
( )s que de sua gente foram mandados a explorar a terra, relata­
ram que ela era agradável. fecunda cm pastaria*, flores c árvores de
grande port*, abundante em águas doces- Haviam visto homens tri­
gueiros, de cabelos compridos, mas não cncírapinliados que armados
de arcos e flcxas, caminhavam ao longo das praias.
Novos exploradores trouxeram à esquadra. dois srlvagenzinhos
surpreendidos numa barquinha. Foram achados sobremodo rústicos,
¡jais, nada pareciam compreender dos sinais que lhes eram feitos.
Ordenou Cabral que os vestissem de saia e enfeitassem com colares r
bracclett-s dc fôlha de Handles ou de missangas, além d- lhes entre­
garem espelhos <>que pareceu maravilhá-los c tirá-los <lc sua estupidez.
— 41 —

Assim enfeitados foram postos « terra onde não tardaram em


se ver rodeados fwr tuna multidão de sua genl£ a que fizeram ver tais
jóias. Não tardou que fossem vistos os selvagens dispersos para logo
depois voltarem carregados d? viveres, de frutas que em suas canoas
levaram a bordo dos navios. Receberam em troca quinquilharia eu­
ropéia. Pareciam encantados pela admiração que lhes causava a vista
dos portugueses e os presentes destes recebidos. Ai déles! ali encon­
traram a boceta de Pandora.
Compreendendo o que era a simplicidade de costumes daquele
povo, ordenou Cabral o desembarque da maioria de suas tripulações
e depois de fundear ergueu um altar sob um maciço de altas árvores.
Determinou que ali se ce1ebras.se o serviço divino acompanhado de
sermão.
<1- indios misturados aos portugueses assistiram a estas cerimô­
nias. Pareciam comovidos ¡irla majestade dos mistérios religiosos.
A)xis estas ações gratulatorias para com o Eterno, voltou Cabral
aos seus escaleres, não sem se ver rodeado por aqueles bons selvagens
que fíelas cantos, dansas e flechas continuamente desferidas para o ar.
manifestavam a alegria. Viram uns entrar na água até o peito e outro;
como verdadeiros tritões acompanhar a nado os botes c outros ainda
precedê-lo ou segui-lo em suas pirogas.
Durante os sete ou oito dias em que permaneceu em Porto Se­
guro para fazer aguada e refrescar não cessou Cabral de entreter
amistosas relações com aqueles indígenas. Mas não querendo inter­
romper a viagem por mais tempo, despachou o navio dos mantimentos
fiara Lisboa, a fim de comunicar a Dom Manuel a nova feliz da des­
coberta. Mas não deixou 0 lugar sem que nêlc mandasse chantar un*,
marco com o lirazão dos reis de Portugal, deixando ainda dois degre­
dados para viver entre os selvagens daquela tribu- Mais qirdv servi-
riam como intérpretes à gente de sua nação que ali afiortas.se.
Com viva alegria recebeu Dom Manuel a noticia da existência do
novo continente. Déle querendo, dentro de mais curto prazo, t unar
posse. despachou ftequena frota comandada ¡sir Gmtçalo Coelho que
provavelmente partiu do Tejo, pelos anos de 1501 e no põrto de
P.ezenegne encontrou Cabral de volta das índias. Este Bezenegue,
supõe-se ser a ilha de Goréia existente fíelas alturas de I Io 40' 10" de
latitude norte do Cabo Verde.
Eoi Coelho dc ficrto acompanhado por om.ra esquadrilha composta
de seis caravcins, tendo o misino destino e comandada por Cristóvão
Jaques.
Este navegador cuidadosamente explorou tódas as abras, embo­
caduras de rios, cabos c escolhos encontrados ao longo da costa que
acompanhou até o Cabo das Virgens, à entrada rio estreito de Maga-
— 42

Hiñes. Não deixou de chantar, cm todos os lugares onde entendeu


dever aportar, marcos com o lirazão de seu solierano.
Havendo quatro de suas caravelas naufragado, fundou Cm Porto
Seguro feitoria composta de gente de sua tripulação que havia con­
seguido salvar, dvixando-a sol» a direção de dois franciscanos. Voltou
a Portugal com os sens navios, atestados de pau brasil.
Em 1503. Afonso de Mbuquerque apor'ziu a altura da metade
talvez do litoral de Vera Cruz, antes que Cristóvão Jaques ali che­
gasse.
Não disse qual seria a latitude em que se adiara, contando apenas
que notara a prrsença de muitas árvores de especiarias e paus de tinta
que desde os primeiros anos foram o artigo de rendosa exportação.
A maior parte das expedições destinadas às índias operaram re­
conhecimentos no Brasil. Em 1510 um navio português perdeu-se à
entrada da baia de Todos os Santos. Salvou-se parte da tripulação.
|x>is, vinte e cinco, mais tarde nove marinheiros que dele haviam feito
partis ainda viviam entre os indígenas.
Juan Diaz. de Solis, piloto mor de Castela. em 1515 percorreu toda
a extensão da costa, desde o Cabo de S. Agostinho até o rio boje
conhecido soli a denominação de Rio de 1.a Plata e a que ele denomi­
nou então Rio Solis.
Eoi o primeiro eurojieu que entrou na baia do Rio de Janeiro,
que os indígenas em seu idioma chamavam Ganalxtra (sic).
Sabe-se que éste infeliz pereceu com alguns homens de sen sé­
quito, à foz do rio Paraguai, sendo Oxlos devorados pelos antropófagos,
à vista das equipagetis de seus dois navios. \\põs a sua morte foram
estas barcas receber pau brasil em Pernambuco, carga que levaram para
a Espanha.
A baia do Rio de Janeiro, que aliás só mais tarde foi assim cha­
mada. viu-se ainda visitada por uma expedição inglesa (sic! sic! sic!)
sob as ordens .le Fernando de Magalhanes (sic! ) e de Roys de Failerio
(sic) ambos portugueses.
Haviam empreendido, em nome de Carlos I (sic! sic! sic!) a pri­
meira viagem circttmnavegatoria que se tentava. Batizaram-na baia de
Santa Lucia. Acha-se situada sob o trópico de Capricórnio.
Em 1531 João III expediu ao Novo Mundo uma frota sob a co­
mando dr Martini Afonso de Sousa. Este capitão reconheceu, suces­
sivamente, o calxi de -Santo Agostinho, a baia de Todos os Santos e
alguns outros pontos da cosia.
Tocou em Põrto Seguro, a refrescar, e em seguida |iene;roii na
baia de Santa Lúcia, cujo nome mudou para Rio de Janeiro, pelo fato
dali fundear a primeiro de janeiro de 1532 (sic l).
Os titpinambâs chamavam Ganabara a baia do Rio de Janeiro em
cujas praias habitavam, quando os europeus ali chegaram.
— 43 —

CA PÍTU LO V II
S Í'M C I.A HA HISTÓ RIA l-L l M1XKNSK I’EI.U MÉTODO ÇOXFVSO.
OS ASSALTOS HE D I’CLKRC E D L T .fA Y TK OV IN EXPOSTOS PELO MESM O
PROCESSO

Falando do nome do Rio de Janeiro, imposto por Martini Alonso


de <|ue é realmente esquesilo haver tão célebre marojo tomado conto
Denis:
"Çafeè aqui o reparo de que ninguém poderá fugir ao cotn.mtário
de que é realmente esquisito haver tão célebre manijo tomado como
foz de um rio uma aberta que evidentemente denuncia a entrada de
uma baia. E isto quando já outros navegantes sobre ela haviam pro­
curado informes exatos.
Cento número de rios pequenos realmente vem desembarcar em
sua barra ■sic! sic!) mas nenhum é tão considerável que pudesse moti­
var tal denominação. Continuando a sua jornada, afastou-se Martini
Afonso de Sousa o menos possível da costa c de calendário em punho
batizou os pontos mais notáveis, dando a cada qual o nome do santo
cujo ordinal consagrava a festa respectiva.
Seria demasiado longo contar com pormenores as fundações su­
cessivas dos portugueses nos diferentes pontos do Brasil e suas expe­
dições contra os indigenas, por muito tempo indomáveis e afinal quase
aniquilados em sua vasta colônia. Foram estes europeus bravios por
assim dizer forçados a esta d.-struiçâo aflitiva por haver imprudente­
mente atraído o ódio de homens tão vingativos em sua inimizade
quanto constantes na afeição.
Para suprir esta perda da população a avareza dos colonos intro­
duzira em 1570 (sic) no Brasil os negros da Africa cm condição servil
o que aos indigenas inteiraineine desprezado déste momento em diante,
assegurou uma lilierdadc que sem esta medida teriam infelizmente
perdido (sic).
Xão falaremos tão pouco das infrutíferas tentativas |» r diversas
nações européias para arrebatar o Brasil aos portugueses. Lembra­
remos somente às que os franceses dirigiram contra a baia c a cidade
do Rio de Janeiro, pois, a nossa noticia refere-se sònienir ao Pano­
rama desta cidade importante e ]<ara os demais relatos a que nos refe­
rimos [iode ser consultada a obra que sóbre o Brasil publicamos
fírêsil mocurs, usages et contornes ¡fes habitants ¡fe ce vasto pays;
ches Xcpivu. passage des Panoramas i Paris').
A leí que aos estrangeiros imerdiza a entrada ao Brasil parecía
ser o único motivo da legitimação de todos os assaltos e atos de pira­
taria que os aventureiros, ali praticavam desde os primeiros tempos.
Os normandos frequentemente visitavam estas paragens longínquas e
pulas narrativas maravilhosas de suas façanhas e a exibição dos obje­
tos esquisitos que deles traziam inflamavam, ao voltar, a imaginação
dos compatriotas.
Infelizmente para a França ocorreram tempos calamitosos em que
a emigração se tornou desejável. Provocou a reforma de (.’alvino a
ocorrência de uma perseguição fecunda em tragédias mais pavorosas
do que os festins sanguinolentos dos canibais. Um homem paleroso
escorava um partido fraco — o almirante de Coligue, mais tarde um
dos mártires do seu credo.
Sua influência serviu em 1554 para que Durand de Villegagnon.
vice-almirante da Bretanha e já prestigiado por várias campanhas bri­
lhantes, cxecurpsse o projeto que ideara de fundar uma colônia no Ri >
de Janeiro, no Brasil. Designou-a pelo nome pomposo de França
Antártica, declarando que dela queria fazer refúgio e asilo para os
calvinistas.
Xão pediu ao rei Henrique II mais do que dois navios bem arti­
lhados e uma soma de dez mil libras- <> almirante conseguiu que tudo
obtivesse, tendo tido a arte de persuadir ao soberano que esta possessão
acabaria sendo, para o seu Reino, uma font, - de riqueza e prosperidade.
Velejou Villegagnon com um séquito correspondente ao vulto de
seus projetos e desembarcou numa praia à entrada da baia e perto d-
altos |>cnhascos. Dali o expulsaram as marés. Desferrou, para nova­
mente penetrar na baia ad"antando-se acerca de um légua do lado
da terra.
Pequena ilha desabitpda, mais comprida do que larga e defendida
por baixios, chamou-lhe a atenção. Achou-a própria a que fosse for­
tificada, apelidou-a de Coligny. desembargou todo o sen pessoal e ca­
nhões erigindo um baluarte que ainda hoje lhe conserva o nome:
VÍII -gaignoti.
Depois de haver estabelecido relações com os indígenas por inter­
médio de alguns intérpretes normandos que encontrou radicados no
meio déles, cm virtude d - naufrágios, ocupou-se mais da prática reli­
giosa em sua d e fic ie n t,fortaleza do que de alargar e consolidar a sua
conquista.
Xão tardou mie escrevesse para a França, para onde remeteu
vários selvagens enviados ao rei. a fim de que o almirante Coligny
lhe despachasse recursos d« que não podia prescindir. Ao mesmo t -tu­
po comunicou-se com Genebra a fim de que lhe mandasse doutores da
igreja reformados.
Uma esquadrilha, comandada por de Boisb-Comte. seu sobrinho,
trouxe-lhe tins e outros e fundeou, em março de 1555 perto do forte
Coligny. Além de numerosos artífices, de tôdas as especialidades.
— 45 —

rec.-ben Villegaignon c acolheu alguns homens zelosos apóstolos da


propagação do Evangelho, que, saídos de Genebra, haviam embarcado
sob a direção de velho fidalgo chamado Philippe de Corqueillcray-
Desde o primeiro dia fez com que todos os recém-vindos trabalhas­
sem nas obras para o acabamento do forte, dando-lhes no entanto ali­
mentação insuficiente e obrigando-os a assistir a cerimônias religiosa.-
e a predicas. Este chefe, que se revestia da autoridade soberana, fa­
zendo-se acompanhar constantemente de um pagem, mostrou-se tão
severo e vaidoso que o seu império não tardou em tornar-se insu­
portável .
Os intérpretes normandos, sobretudo, não querendo submeter-se
ao constrangimento que lhes impunha quanto aos costumes, conspira­
ram cm número de vinte, contra a sua vida c resolveram lançá-lo no
mar. Tendo a conspiração sido descoberta, refugiaram-se alguns entre
os selvagens. Do número dos que foram postos a ferros afogou-se um.
procurando evadir-se. sendo três enforcados. Longe de tornar Ville­
gaignon mais ameno esta circunstância ainda o azedou. Desde então
revelou o caráter em tíxla a nudez.
Não tardou em abjurar o calvinismo voltando a ser católico ro­
mano e empenhou-se em tiranizar os próprios de quem devia ser o
protetor. Chegou no potito de os banir do forte que haviam ajudado
a construir. João de Lerv pertencente ao grtqio désses homens, escre­
veu sôbre esta expedição, excelente obra em que pinta os costumes dos
selvagens entre os quais permaneceu um ano. Constitui a fonte a que
se abeberaram «piamos têm tratado deste assunto.
Perseguidos em ambos os hemisférios. partiram os calvinistas para
a França a quatro de janeiro (sic) num navio normando. Souberam
cm,ao do comandante do barco, que sem a abjuração d - Villegaignon
teriam no ano imediato chegado à colônia mais de mil pessoas; o
número daqueles que lhes seguiríam o exemplo colocaria os portugue­
ses na impossibilidade de expulsar os franceses de uma das mais belas
posições comerciais do Globo.
Villegaignon quer pela versatilidade, quer pelo receio que os tira­
no- inspiram aos seus subordinados, não tardou em abandonar o forte
<lc Colignv e n América para voltar à França, sob o pretexto que para
ali o chamava o interesse da colônia. I-lavendo alienado o apoio dos
protestantes também não encontrou partidários entre os católicos de
modo que, alguns anos após <> regresso, achando-se a residir em sua
comenda de Beauvais veio a ter conhecimento da completa extinção do
estabelecimento que fundara no Brasil e morreu pm co depois.
Não se sabe a quem terá deixado o governo da colônia. Fósse
como fósse longos e reiterados esforços turna necessários, por parte
dos portugueses para que viessem a apoderar-se do forte Colignv.
— 46 —

Mito <le Sá, Terceiro governador do Brasil conseguiu cm 1566


(.->1 expugná-lo. auxiliado ¡icios missionários Nóbrega c Anchieta,
que M- tinham feito acnnqianhar por verdadeira multidão de selvagens,
hnlrttant -s de Santos e São Paulo.
U» (raneóse* retiraram-se para Ixrrdo de quatro navios que pos-
Miiam no ancoradouro Evacuaram a baia v dirigindo-se para o norte
«Io Brasil fizeram o desembarque no recife que cinge as cos*as de Per­
nambuco aonde pensaram poder entabeleccr-sc.
Dali foram repelidos ¡Velas vigorosas medidas pastas cm prática
¡velo governador desta provincia, que os forçou afinal a abandonar a
America.
Perdeu a França a persjicctiva de possuir uma colônia num dos
mais férteis países do Globo. Quem poderá duvidar da certeza de
que n Ja permanecería após a haver povoado e fortificado, pois. (pie
tanto trabalho exigiu a extírpnção de $ 0 frescas raizes da primeira
tentativa!
Mein de Sá enquanto ¡icrinaneccu naqueles lugares, lançou os ali­
cerce* d • uma cidade a que deu como patrono, São Sebastião, sob cuja
proteção especial se colocara a expedição.
Tal a origem do Rio de Janeiro, mais tarde capital do vasto
reino do Brasil.
As duas outra.-» empresas dos franceses contra o Rio de Janeiro
podrm .ser conside radas mais como assaltos de surjireza do que como
expedições em regra.
Xão foram entretanto efetuadas cm detrimento do direito das
naçócs. pois. que pelas imediações de 1670 (sic) a Córt • de Lisboa,
orientada por política contrária aos seus verdadeiros interesses espo­
sara a causa da Grã-Bretanha contra a França.
Foi então que audazes manijo* desta nação partiram -m guerra
para capturar navios portugueses.
Um simples oficial da Marinha, o capitão Dudair (sic) concebeu
o temerário projeto de se apoderar da rica capitania do Rio de Janeiro
v vri.-jou com uma esquadra de cinco navios tripulado* por mil homens
apenas. Chegado ao seu destino, forçou a entrada da barra (sic) or­
denando o desembarque de stia gente no ponto mais próxima possível
da cidade ( sic).
Embora -mrprezo Dom ( sic) Francisco de Castro, governador do
Rio nrstn época, pôs, num ápice, a capita! ao abrigo de um golpe
de fórça.
Viu-se Dudair forçado a macar incontinente. Esperava por meio
de iriqietuosa choque penetrar na cidade, só esperando 0 êxito <ruc lhe
proporcionasse a desorganização elo inimiga au o acaso. Mas tudo lhe
— 47 —

cnrr.it tlesfavorâvelmenU'; acabrunhado pelo número, acabou por se


render e pedir capitulação quando se viu atingido por nut tiro que o
matou (sic! sic! sic!)- Todos os companheiros do seu infortúnio pe­
receram ott foram encarcerados.
Espalhou-se logo na Europa e exageradamente a noticia do fra­
casso da expedição. Foi então que um herói. Duguay Trouin. jurou
vingá-la.
Solicitou tie Luis XIV alguns navios de guerra e obteve-os. As­
sim. reforçou o armamento que lhe haviam proporcionado alguns
armadores de Saint Malõ.
Confiou-lhe o rei tie França o comando tie cérea de qual,-o mil
homens. Granite foi a diligência que pôs nos preparativos tiesta ex­
pedição. Mas o segredo não foi tão religiosamente guardado que tiño
houvesse transpirado chegando a ser conhecido dt> Gabinete tie Saint
James.
A principio, r .-ceando o caso para si próprio o Gabinete inglés
mandón logo aviso á Córte de Ijsltoa de onde o transmitiram ao Rio
de Janeiro, sob injunção premente a Dorn Francisco de Castro para
que tudo envidasse a fim de colocar-se no melhor pé defensivo jiossive!.
Era o nom • de Duguay Trouin verdadeira causa de terror para
os ingleses. Este ilustre marujo não ignorava que éles deveriam vir
bloquear a baia de Brest por meio de considerável frota.
E com efeito vin e navios ali se apresentaram para tal fim. mas
Duguay Trouin se havia antevi]ado. Vogava já para o Oceano Atlân­
tico. \ altura tie São Salvador sentiu o desejo de começar por ali os
estragos que queria causar no Brasil.
O receio tie lhe faltar água inqiediu-o de tal e assim continuou
diretamente a ¡ornarla.
Mal liáviam decorrido quinxS dias desde que Dom Francisco de
Castro receliera ti’i-o do perigo que ameaçava a sua capitania quando
a frota inmersa lhe surgiu em plena liaia. Corria então o mês de
setembro de 1771 (sic !).
Basta considerar o tine são as fortificações existentes á entrada
tia baia do Rio tie Janeiro para avaliar exatamente o modo heróico pelo
qual nela penetrou a esquadra de Dnguay Trouin. cniliora uma frota
pelo menos tão numerosa (sic) quanto a sua a tanto se opusesse.
Não tardou cm encontrar-se perto da cidade que havia ser o alvo
tie sua vindicta, secundado por lugares tenentes tie grande mérito,
pois fôrn éle próprio quem os escolhera. Eram os cavalheiros de
Goyon, tie Course rae. de Reative e tie Saint Germain. Eram os sol­
dados dignos <le tais comandantes.
Snrprczo tie ver a cidade tão bem preparada para o receber, não
desanimen Duguay Trouin c preparou-se para a Immbardear. A ilha
— 48 —

das Cabras Gic) boje chamada das Cobras (sic), situada a cem passos
da cidade não lhe resistiu. Os portugueses, evacuando-a, tiveram,
quando muito, tem|>o para encravar as baterias e pôr a pique dois
navios mercantes encalhados sob o forte da Misericórdia- Caiu um
terceiro em poder do Cavalheiro de Goyon.
O desembarque geral eíetuou-sc a 14 de setembro sem grandes
dificuldades, pois, Duguay Trouin fizera varrer pelo fogo de quatro
navios a praia onde queria que se efetuasse.
Tomou o comando em chefe do seu pequeno exercito, cujo efetivo
era de três mil e trezentos homens. Quatro morteiros e vinte pedre-
zcs foram montados como artilharia de campo.
Reinava o alarme na cidade. ' > resultado da deeisão de mu con­
selho de guerra, convocado por Dom Francisco de Castro e Gaspar da
Costa fóra que convinha não entregar a sorte a cidade ao acaso de
um só combat-. Tratar-sc-ía de atrair os franceses para os entrin-
cheiramentos testemunhas da derrota de Duclair. Ganhando-se tempo,
ter-se-ia a possibilidade de socorro do retorço que s? pedira a Dom
(sic) Antônio de Albuquerque, governador da capitania de Minas
Gerais.
Os franceses não caíram contudo neste ardil. Colocou Duguay
Trouin algumas Iracas tie fogo jaira bater as fortificações dos Be­
neditinos. Entrementes, os próprios portugueses incendiaram navios
armazéns e fizeram voar pelos ares o navio encalhado de que jã se
falou depois de n ê lte re m feito alguns prisioneiros dos quais em vão
se esforçaram por obter informações acerca das fôrças agressoras.
Mas estes acabaram deixando-se enilsiçar pelas traças de um norman­
do chamado Dubocage. naturalizado português, o qual pelo muito zelo
à sua nova pátria já causara muitos danos à expedição francesa.
Disfarçou-se em marinheiro c como se pertencesse no grupo dos
prisioneiros, fez-se conduzir por soldados ao locai onde eles estavam
guardados. Entalralando logo conversa com os pretensos companhei­
ros de cativeiro obteve a confidência desejada. Fiado em sua infor­
mação. resolveu <i conselho de Guerra, por unanimidade de votos, ata­
car de viva fórça tão fraca tropa e exterminá-la.
Em vão tentaram fazê-lo os portugueses mil c quinhentos homens
sob o comando de Gaspar da Costa quizcram apoderar-se da colina
ocupada pelo cavalheiro de Goyon.
Um ardil de guerra permitiu-lhes a aliertura <la barreira do acam­
pamento francês, mas a bravura da guarnição e a oposição de trezentos
granadeiros que o próprio Dugnay Trouin guiava por um caminho
protegido fizeram com que a tentativa sc baldasse. Os portugueses
recuaram esperando que as fôrças inimigas se poriam a persegui-los
— 49 —

caindo na armadilha que lhes haviam armado. Precisou Duguay


Tçouin sopitar o arrojo de seus guerreiros.
A 19, avisada pelo Cavalheiro de Beauve que tôda a artilharia
da ilha das Cobras (sic) estava em estado de m an d ar, julgou Duguay
Trouin conveniente enviar uma intimação ao governador.
O conteúdo desta dizia que, por parte do rei da França, pedia
explicações a propósito do assassinato do comandante Duclair e do
tratamento rigoroso imposto aos prisioneiros franceses, embora se hou­
vessem eles rendido discricionàriamentc. Exigia que lhe pagassem
uma contribuição dc guerra a titulo de indenização e lhe fossem
entregues os autores do assassínio de Duclair para que deles houvesse
exemplar represália.
Respondeu Dom Francisco que o capitão Duclair viera praticai
um assalto nas terras do seu Governo, sent que de tal o incumbisse o
rei cristianíssimo.
I laviam-lbe os companheiros sido tratados segundo as leis da
guerra. Quanto ao assassinato de seu chefe, convinha recordar que seu
autor era desconhecido. Fôsse descoberto e recebería o castigo de tal
homicidio.
Quanto ao que se referia à sua pessoa, declarava-se prestes a mor­
rer no seu posto. Preferia fazê-lo a ter de trair os interesses dc el-rei
seu amo.
Preparou-se Duguay Trouin então para desferir grandes golpes.
O fogo das baterias francesas não cessou mais, avariando considera­
velmente as fortificações dos beneditinos-
Marcou-se o assalto para o dia seguinte. Aproveitou o chefe as
trevas para mandar chalupas cheias de tropa, a fim de que se apode­
rassem de cinco navios portugueses fundeados na praia.
Tempestade subitamente ocorrida fez com que fossem vistas c
assim sofreram fogo de mosqueteiraria que aliás não fez esmorecer
os assaltantes, pois, começaram o ataque.
Vendo o fogo dos navios concentrar-se sobre as chalupas, dispa­
rou Duguay Trouin êle próprio um canhonaço que deveria servir de
aviso para que tõdas as suas baterias atirassem ao mesmo tempo contra
a cidade.
Estas detonações espontâneas, o ruido do trovão, a que os nume­
rosos ecos da baía tomavam mais terrível o luzir das lxtcas de fogo e
o dos relámpagos encheram de terror os habitantes da cidade contra
a qual o Céu c a T erra e os Infernos pareciam desencadeados.
Fugiram desordenadamente para o interior levando consigo de
seus tesouros o que podiam carregar.
— 50 —

As próprias milicias, o estado-maior c o governador abandonaram


as fortificações. Estava a cidade deserta e entrernentes os estampidos
redobrados do trovão e da artilharia dos sitiantes esconderam de
Duguay Trouin o conhecimento desta deserção.
Ao alvorecer, prestes a visitar o dia aqueles lugares flagelados um
oficial francês, por nome Lasallc. apresentou-se a êle. Era um a ju ­
dante de campo de Duclair que, favorecido pelo tumulto, conseguira
arrombar a cadeia. Anunciou-lhe a evacuação da capital do Brasil —
prevenindo-o de que antes de se retirarem haviam os engenheiros mi­
nado as fortificações dos beneditinos c dos jesuitas com a esperança
de que pudessem sepultar os franceses sob os seus escombros.
A custo acreditando em tais pormenores não tardou que Duguay
Trouin verificasse quanto eram reais. Entrou na cidade, ocupou os
fortes onde cuidadosamente inutilizou as minas. Senhor pacifico do
Rio, recebeu então as bênçãos dos detentos franceses cujas prisões
haviam sido escancaradas.
Prosseguindo na narrativa do assalto de Duguay Trouin, escrevem
os dois autores de Notícia rx/ilicatlva do Panorama do Rio de Janeiro.
que o audaz corsário se viu obrigado a empregar todos esforços para
reprimir o saque a qtte se entregaram suas tropas. Apesar da exe­
cução de alguns rcfratârios, só a custo conscguiu-o.
“ O forte de Santa Cruz não se rendera ainda. Intimou-o Duguav
Trouin a que o fizesse sob pena de ser bombardeado. A rápida ren­
dição deste baluarte torná-lo-ia senhor da baia e da cidade. Receiava
contudo perder os frutos do êxito verdadeiramente miraculoso já obti­
do se não conseguisse negociá-los a troco de fone contribuição de
guerra.
Assim, pois, fez saber ao governador que se. sem demora, não
resgatasse a capital do Brasil (sic!) êle a arrazaria- E para juntar
os atos às ameaças ordenou que duzentos granadeiros incendiassem
lôdas as casas de campo existentes dentro de um circuito de meia légua.
Debalde procuraram as milicias brasileiras repeli-los. Duguay
Trouin mandara reforços a éste cor|x>. Esta situação extremada obri­
gou os infelizes colonos a fazerem Oferecer pelo governador milhão e
meio de francos pagáveis em prazos mais ou tnenos afastados, condi­
ções estas desdenhosamente repelidas.
Nestes entrernentes foi Duguay Trouin avisado, por uns pretos,
qtte o socorro solicitado de dom (sic) Antônio de Albuquerque estava
prestes a chegar, comandado pelo próprio capitão general e que para
se obçer maior eficiência a cavalaria trazia infantes á garupa.
Por meio de ousada e rápida providencia, pusera Duguav Trouin
o seu ix'queno exército em situação de enfrentar a coluna em marcha
— 51 —

quando dom (sic) Francisco de Castro renovou as propostas, prome­


tendo pagar mais vinte e cinco mil francos, a saírem do próprio bolso,
além de cem caixas de açúcar e tõdas as provisões necessárias á
esquadra.
Após cuna indecisão e por assentimento de seu Conselho de
Guerra, aceitou Duguay Trouin tais condições ajustando-lhes a cláu­
sula de que a contribuição seria liquidada dentro de uma quinzena.
Mostrava-se contudo de prevenção, pensando que se Os portugueses
estivessem em condições de o fazer haveríam de o atacar, violando de
novo a convenção estipulada.
Respeitaram-na contudo de modo que as caixas de açúcar e as
outras provisões foram transpirtadas |>ara lrnrdo dos navios franceses
sendo a contribuição de guerra paga a 4 de outubro.
Neste mesmo dia entregou Duguay Trotan a cidade ao governa­
dor e permitiu que os negociantes portugueses resgatassem de sua
gente os artigos do comércio de que se haviam apoderado, sobretudo
quanto aos navios com efeito trocados por gêneros comerciais, exceção
feita de pequeno número que os franceses haviam incendiado.
Reservara Duguay Trouin a ocupação dos fortes que paderiam
proteger-lhe a saida ria Barra, até que éle a houvesse transposto o que
logo ocorreu para maior gáudio dos habitantes.
Escrupulosamente restituirá aos jesuítas os tesouros das igrejas
para os entregar de sita jarte, ao bispo do Rio c agira sob todos
pontos não como pirata mas como conquistador, tão inclinado a poupar
os interesses do inimigo quanto os de sen soberano.
Desagravou-s .> a honra da França e Portugal cuja falta política o
levara a preferir a Inglaterra á França caro pagou o erro cometido,
pois esta expedição causou à sua colônia uma perda de 27 milhões,
soma em que foram avaliados os prejuízos causados ao governo e aos
particulares.
As tempestades fizeram com que a França perdesse parte da presa
que a esquadra de Duguay Trouin carregava e que o mais funesto foi:
um oficial de primeira ordem na pessoa do cavalheiro de Courserac
que comandava o Mariiianimc a Itordo do qual iam 600.000 libras em
ouro. Este navio submergiu-se nas vagas. O de Duguay Trouin
escapou de ter o mesmo fim e este grande capitão confessa que deveu
a salvação somente à amizade e à dedicação do cavalheiro Bois d?
Ijimothc que, no Argonauta, a que comandava, preferiu expor-se a
quase infalível morte a abandoná-lo.
O resultado desta expedição deu 92 por cento de lucro aos seus
armadores c sem os prejuizos causarlos pela tempestade teria rendido
mais de cem por cento. A mesma tempestade desviou Duguay Trouin
— 52 —

de ir correr a mesma aventura no pôrto da Bahia para onde haviam


sido enviados os oficiais da expedição do capitão Duclair.
A moderação com que éste grande homem relata êle próprio os
pormenores desta inconcebível campanha realça, ainda, se tal c con-
Uido possível o heroísmo nela empregado e comunicado a todos os sens
comandados. Pode se tombar sem desdouro ante vencedor de tal
quilate.
O Rio de Janeiro dentro cm curto lapso levantara-se do terrível
colapso de 1711, informam os nossos dois autores. Tamanhos os re­
cursos do Brasil, país absolutamente privilegiado pela Natureza-

C A PÍTU LO V III
NOÇÕES SÓ llRE A ZOOLOGIA DO B R A SIL. IN F O R M E S SOBREM ANEIRA
D E F IC IE N T E S . ING EN U ID A D ES

Tão mediocre vem a ser em geral o texto de Notice Explicative


que nos dã a impressão de ter sido feito de verdadeiros remendos:
trechos inspirados na História do Brasil, deplorável, de A . de Beau-
champ, outros nas memórias de Duguay Trouin, outros ainda repro­
duzidos da obra dos dois colaboradores, aliás fraca: l.c Brêsil fnoeurs,
usages cl coutumes tics habitant dc ce royivtmc edição do mesmo
Nepvett.
A escusa aceitável ê que os nossos dois autores muito moços ain­
da se abalançaram a cometimento que bem poderíam ter adiado.
Inexplicável é que houvessem deixado um irmão de Prévost des­
crever o panorama numa Notice addilionclle pela qual termina o livro
quando ambos ltaviam residido longamente no Rio de Janeiro.
Talvez hajam condescendido por mera deferência para com o em­
presário que desejava ver o nome do irmão figurar no livrinho.
Certo é que este anexo assinado pelo S r. Prevost. Irmão, bem
pouco significa.
O texto de Hipólito Taunay e Ferdinand Denis encerra umas
quarenta páginas consagradas a ministrar ao público francês noções
"sucintas e características" sôbre assuntos da história natural do Bra­
sil, os três reinos da Natureza, um pouco sôbre os recursos minerais
do pais, a que acompanham notas geológicas, umas tantas páginas
sóbre a flora brasileira e um trecho, talvez do dõbro em extensão, dêste
último, consagrado à fauna.
Mas todas estas três seções vêm a ser muito deficientes, e refer­
ías de apreciações ingênuas e sumárias. Em todo o caso salvam-se
pelo pitoresco dos informes, refletindo uma série de idéias outrora
correntes sôbre muitos assuntos brasileiros.
Cultos como eram os dois autores, não se deixaram levar à acei­
tação de abusões que muitos escritores do tempo ainda admitiam acêrca
— S i­

de coisas da nossa flora, nossa fauna e nossos autóctones. Já se po­


diam valer dos relatos tía viagem de varios naturalistas ilustres cujas
obras corriam impressas. Assim nada de muito esquisito encontramos
etn suas páginas.
Vejamos porém o que os dois autores da Noticia Histórica c E x ­
plicativa deixaram traçado sõbre a fauna do pais cuja capital fõra o
assunto do Panorama do jovem e recém-nomeado professor de pintura
de paisagem na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro: Felix Emi­
lio Taunay.
“ A America Portuguesa tão rica nos reinos vegetal e mineral só
possui apenas limitado número de quadrúpedes indígenas. Está ave­
riguado que antes da descoberta nela não se conhecia uma única das
espécies dos diversos animais domésticos conmns às outras partes do
m undo.
Entretanto nela se multiplicaram elas nos últimos três séculos
com rapidez verdadeiramente prodigiosa contribuindo éste fato nota­
velmente para a sua prosperidade.
Delas o interior encerra considerável quantidade, sobretudo de
bois e cavalos que em certos lugares vivem como abandonados no meio
dos campos.
E em parte alguma do globo, talvez, haverá tão belas mulas
quanto no Sul.
As cabras tomam-se assás vulgares mas os canteiros não são
ainda muito espalhados provavelmente por causa do pouco caso que
se faz da sua lã por falta de manufaturas que a aproveitem.
O Mamulh, este animal tão extraordinário pelas dimensões exis­
tiu certamente no Brasil. Ossos recentemente descobertos documen-
tam-no eficientemente.
Entretanto, o elefante, que nas vastas florestas encontraria ali­
mento abundante, é inteiramente desconhecido e o mais volumoso
quadnipede indígena vem a ser o tapir que os portugueses designam
pelo nome de anta.
As formas maciças e arredondadas deste animal mal permitem
que se lhe possa distinguir as articulações. Tem de comprido seis pés
e de altura na parte anterior três e meio, aumentando de duas pole­
gadas a elevação da parte trazeira. E ’ a fêmea geralmente maior do
que o macho.
São as pernas da anta curtas e fortes e tem quatro dedos dos quais
um menor comprido e menos forte que os demais e aliás colocado mais
alto. A êstes dedos terminam unhas pontudas e chatas comparáveis
às dos animais de casco rachado.
A cabeça apresenta a maior analogia pela forma com a do porco,
avoluma-se em giba, perto da origem do focinho que o animal pode
— 54 —

à vontade alongar de meio jié e mesmo virar de um lado para outro a


fim de apreender o que lhe apresentam.
E ’ a parte inferior do nariz que mostra ocasião de se encolher
para baixo. Tem a anta orelhas redondas e os olhos extremamente
pequenos.
Embora o pelo varie de cõr, é geralnientc patrio escuro. Uma
crina de pelos escuros, vizinhos do preto, de polegada e meia de lar­
gura e hispidos como as cerdas dos suiuos. espálham-sc num espaço
de três polegadas sobre a fronte do animal e de sete ao pescoço. Apre­
senta a cauda forma piramidal e é excessivamente curta.
A fêmea só tem duas mamas que se assemelham ás da égua.
Èste animal ama a solidão. E' mesmo difícil encontrá-lo fora das
florestas do interior que orlam o curso dos grandes rios onde conti­
nuamente se banha, tendo a possibilidade de permanecer longamentc
debaixo dágua sem precisar respirar. Procura entretanto o pouso cm
lugares altos c muito secos. Qua.-e todos os frutos selvagens servem-
lhe de pasto, pois é extremamente voraz e devora avidamente as liastes
novas das árvores. Como grito emite uma espécie de assovio.
Embora seja o tapir muito pacifico e dele nada haja o homem a
receiar. torna-se terrível quando perseguido por cães. Conta-se até
que. quando o jaguar se agarra ás suas costas, êle o arrasta aos luga­
res m ais cerrados da mata até que o haja quebrado de encontro às
árvores.
A estação mais favorável à sua caçada é a das chuvas porque
então se torna menos sedentária. Sua carne a que provamos, parece
ter a maior analogia com a do boi.
O quadrúpede mais terrível do Brasil é sem dúvida possível o
jaguar. Assemelha-se muito à nnre (sic) pelas dimensões do corpo e
as manchas que lhe matizam o couro. Cakula-se que chega a ler qua­
tro pês (lm .32) de comprido da ponta do focinho á origem da cauda
cujo comprimento é ordinariamente de 22 a 24 polegadas. Chega a
ter frequentemente mais de dois e meio pés de altura (0.85). A jarte
inferior do cor|Xj é amarelada salpicada tie maní-lias negras feias ••
irregulares. Uma lista negra, bifurcando-se acima do posterior, cor­
re-lhe do alto das espáduas á cauda.
fiste quadrúpede, como aliás todos os de sua espécie, tem. quanto
à forma e aos hábitos, extraordinária prevenga com o tigre. O seu
urro, que de muito longe se faz ouvir tem algo de soturno e grave.
O jaguar percorre incessantemente as grandes florestas e o» luga­
res púlanosos. Prefere até as vizinhanças dos grandes rios que fre­
quentemente atravessa a nado. Embora escolha a presa de preferência
entre bezerros, vitelas c animais ainda mais fracos, às vêzes ataca bois
e cavalos de que quase sempre triunfa.
— 55 —

Para lhes dar a morte emprega meios os mais extraordinários.


Assim. jx>r exemplo, salta sobre o pescoço de um touro, põe-lhe uma
das patas dianteiras sobre a cabeça com a outra segura-lhe o focinho
e torce-o, quebrando-lhe a nuca com facilidade realmente assustadora.
Arrasta então a vítima para a inata a fim de a devorar. Quando per­
seguido por cães e caçadores, trepa com extrema facilidade sobre as
mais altas árvores.
Há ainda três espécies destes quadrúpedes, uma das quais é con­
siderada prlos brasileiros como uma es|)ccie de pantera, embora esta
fera não exista no Brasil. As outras são conhecidas sob a denomi­
nação de Cangitecus (sic!) suçuaranas (sic) ou citgitars. Os indiví­
duos desta terceira espécie tem pelo ruivo c sua carne não é de todo
desagradável ao paladar (sic).
Há também grande número de gatos inontezes cujas peles variam
muito.
EmL a os cervos hajam decrescido devido à guerra continua que
lhe movem oh selvagens c os caçadores, ainda são assás numerosos.
Entre êles notam-se vários inteiramente brancos.
Encontra-se no interior certo animal conhecido sob t nome de
Guará com os traços distintivos do lobo, mas entretanto sem causar
tantos estragos quanto este.
\ arios outros quadrupoles são também designados, em várias
obras portuguesas como cães do mato e cães dágua.
Pstes últimos têm os dedos palmados como os patos, a cauda
longa e achatada na extremidade, o pelo fino e extremamente macio.
São anfíbios c moram de preferência nos rios onde ousatn atacar o
jaguar que acaso encontram atravessando a corrente a nado. E fre­
quentemente saem vencedores num combate aparentemente muito
desigual. E ’ possível domesticá-los; quase só vivem no interior.
A lontra do Brasil descrita por Piso sob os nomes de ilyu e rari-
(jucibciii c maior do que a européia. Fornece, como esta, pele sobre­
modo apreciada que podería ser importada vantajosamente se fosse
possível obter quantidade avultada de tal couro.
Quando o viajante se encontra a certa distância das praias mari­
nhas não c raro que ouça o berro dos macacos uivantes. Atroarn na
floresta â hora do ocaso. Entre estes símios destaca-se sobretudo o
ouarine (sic) ou sima brlscbut (sic) de Linen.
Éste mico pode ter cerca de 21 polegadas de comprido sem contar
á cauda que é da mesma dimensão. A fénica conta três polegadas
menos.
A fisionomia dos individuos de amlms os sexos é um quadrado
comprido sem pelos frontais. Mas em compensação ao mento guarnece
— 56 —

longa barba escura bem formada. O nariz quase não se lhes percebe;
os olhos são muito móveis e vivazes. A cauda apreensora e tão viva­
mente inervada que com verdadeiro custo é possível fazer desenrolar
os anéis que forma quando se enrola em tórno de um galho.
A cõr dominante entre os machos c o negro assás carregado, mas
o ventre apresenta-se de ruivo escuro. O pelo geralmente assás lus­
troso, oferece matiz menos carregado nas [temas.
Êstes simios andam geralmente em familias de oito ou dez indi­
viduo, senão às vezes mais. E ’ um dos machos do bando que parece
encarregado de dirigir a tropinha. Não se os vê saltar com os demais
macacos. Passam lentamente de um galho a outro e sabem perfeita-
mente esconder-se atrás dos troncos quando perseguidos pelos caça­
dores.
E ' muito difícil matá-los e nem sempre possivel apanhá-los até
«piando já atingidos por um golpe mortal, pois se prendem fortemente
aos galhos por meio da cauda. Não caem mesmo que se sacudam as
árvores durante assás longo lapso. Sua carne não tem gosto desa­
gradável e em certos lugares constitui a principal alimentação dos
selvagens.
O ouarine emite gritos melancólicos «pie tem qualquer coisa de
rouco e estridente, ouvimô-los, muitas vezes a mais de uma milha de
distância.
Tão tardonho quanto o macaco, é agil e vivo o uoeau (sic) desig­
nado com justeza pelo nome de preguiçoso, ocorre em «piase tôdas as
florestas. Êsté animal estúpido gasta várias horas a subir ao alto de
uma árvore e apresenta esquisita conformação.
Tem a cabeça muito pequena cm relação ao corpo, os olhos baços,
sem a menor vivacidade: seu pelo lembra lierva seca, as patas dian­
teiras. mais longas que as trazeiras, estão munidas <le unhas exccssi-
vamente longas e recurvas que só se movem conjuntamente.
Agarra-se às árvores de tal modo que já se viu não caírem depois
de haver recebido vários tiros de espingarda. Aliás, e ao nosso ver,
tem-se exagerado muito a lentidão deste quadrúpede ao se dizer que
só pode percorrer uma toeza no lapso de uma hora.
As araras, papagaios e periquitos constituem talvez a mais acui­
tada familia tia avifauna desta parte da América. São os [icriquitos
tão numerosos que passam a ser o flagelo da agricultura.
Existem varias aves oferecidas á mesa como excelentes caças.
Entre elas o horco (sic) que atinge mais ou menos o porte do perú
e tem quase a cor déste. Poderia bem vir a ser ave vulgar de gali­
nheiro.
— 57 —

H á cinco espécies de perdizes, todas de sabor verdadeirameiite


delicioso, mas muito raramente ocorrendo à beira m ar. São algumas
infinitamente mais corpulentas do que as da Europa.
Formam os pombos, igualmente muito avultada família. Em cer­
tos periodos do ano verifica-se a chegada de revoadas imensas destes
columbinos procedentes da América espanhola, e sobremodo dizima­
das. à beira mar. onde continua guerra lhes é movida.
O s rios, lagos e pantanos vêm-se cobertos de patos e pássaros
aquáticos tão notáveis pela plumagem como interessantes pelas obser­
vações que permitem a seu respeito.
O guará, sobretudo, torna-se saliente pelo brilho da cor escarlate
e a elegância das formas. Mas a saracura lhe disputa estas duas van­
tagens ao ser vista a distender as belas azas azues tangenciando a su­
perficie das águas ou ainda quando caminha, rápida, sòbre as nin­
feáceas.
Os colheeiros róseos cobrem as margens do São Francisco, onde
o jaburu parece ser o dominador. Esta ave atinge, certamente, o porte
do cisne e sua plumagem é branca como a dêste. Mas não tem ás suas
formas elegantes, seu longo pescoço e é desprovido de penas. As di­
mensões do bico e das patas negras permitem-lhe procurar a alimen­
tação nas águas dos rios.
Os pássaros pela Natureza destinados à vida florestal não são
dotados de voz tão melodiosa, quanto os da Europa. Mas a êstes
levam vantagem pela riqueza das côres que parecem haver tomado
emprestado de tõdas as gemas preciosas.
Como, com efeito, recusar à cotinga justo preito dc admiração?
A plumagem é geralmente de belo azul ultramarino sobre o qual
se destacam reflexos roxos em quanto no pescoço, no papo c no alto
do ventre, brilha deslumbrante púrpura.
Nas imediações da é[«>ca em que os laranjais estão floridos é que
os beija-flores podem ser observados. São então vistos chegar às
centenas, evoluir em tôrno daquelas belas árvores, emitindo agudo
grito a procurar alimento no meio dos estames de que sugam o polen,
sempre sustidos no ar pelo rápido movimento das azas que forma
uma espécie de zumbido semelhante ao dos zangões.
Não há no Mundo país onde os lagartos se achem mais geral­
mente espalhados. Déles podem ser observados espécimes de mil
cores variegadas. Chegam alguns até aos quartos das casas para se
nutrirem dos insetos neles refugiados.
Não se dá um passo nas matas, sem que alguns não se percebam
correndo sòbre as plantas ou trepando nas árvores.
Entre os que se comprazem em habitar as florestas alguns se dis­
tinguem que chegam a ter até dois pés de comprimento, e sobretudo se
— 58 —

destacam fíelas manchas brilhantes de que o corpo pardo se acha pin­


talgado.
Sua carne é bastante apreciada fíela grande analogia que apre­
senta com a do coelho. Dão-lhe os |>ortuguéses o nome de tiú que não
atribuem a outra espécie do mesmo porte, por eles designada impro­
priamente. pelo nome de camaleão, de corpo esverdinhado com uma
espécie de serrillia escamosa. Corre esta do alto da calieça au extremo
da cauda e apresentando sob om ento, uma bolsa que sc prolonga até
o peito.
O enorme anfibio que fíelas formas tanto se assemelha ao lagarto
também existe em quase todos os lagos c grandes rios.
Etnlsra seja o caimán da América Meridional geralmente menor
do que o crocodilo. outrora tão vulgar no Egito, ainda assim e sobre­
maneira assustador pelas dimensões e ás vézes muito de se pensar.
Dão-lhe os brasileiros o nome de jacaré.
E ' mais ou menos nestes mesmos lugares, nos terrenos úmidos,
que ocorrem grande número de tartarugas de diversas espécies das
quais algumas de casca procurada peló comércio.
Embora exista nesta região ássás considerável número de reptis
|>erigosos pela mordedura c as dimensões corpóreas, existe cm geral
na Europa exagerada idéia dos perigos que nelas podem correr os
viajantes, por sua causa.
Começa por haver grande número que se põe a fugir quando o
homem déles de aproxima e além disto é fácil evitar a diversos graças
ao barulho que na mata fazem no meio das moitas. E' contudo mais
difícil que alguém se garanta dos assaltos da sucurite (sic j. Este
enorme reptil, atinge no Brasil segundo se diz, quarenta pés de com­
primento ( lám .20). Vive nos lagos c pantanos geralmente prende no
fundo dágua a cauda a uma raiz ou então a uma ponta de rochedo.
Dai é vista a atirar-se sobre torios os entes vivos que tem a infelicidade
de se aproximar demasiadamente da margem. Felizmente faz-se o seu
ronco ouvido fora do seu habitat úmido".

CA PÍTU LO IX

AINDA INFORMES SOBRE A ZOOLOGIA E OUTROS SOBRE A ETNOGRAFIA


BRASILEIRAS. NOTÍCIAS DEFICIENTES E FANTASIOSAS

Das páginas de Hipólito Tannay e Ferdinand Denis referentes


a assuntos faunisticos brasileiros ninguém poderá afirm ar que sejam
valiosos, sob o ponto de vista cientifico. Constituem uma série de apu­
ntados sumários e muito sumários, mesmo. sobre mamíferos, aves c
répteis dentre os mais conhecidos do nosso reino animal. Mas te s ­
tante coisa pitoresca tal torna interessante o relato. Sobretudo por
— 59 —

documentarem tima série de noções reinantes no ténipo sõhre a ecolo­


gia dos principais animais de nossas florestas.
As páginas da zoologia seguem-se umas poucas que se ocupam
da vida e dos hábitos de nossos indios. São ainda mais fracas do que
as da zoologia. A única escusa que lhes cabe e que foram redigidas
fiara familiarizar o público parisiense com as coisas do Brasil de cuja
capital ia conhecer o aspecto geral por intermédio do Panorama de
Felix Emilio Taunav.
Tão pouco divulgadas haviam sido até então em França as parti­
cularidades relativas ao império americano que o empresário do pano­
rama, achara indispensável tal apresentação.
Conhecíamos porem o texto do capitulo consagrado à zoologia,
cm suas páginas finais c a etnografía hrasilica.
“ A giboia mais conhecida pelo nome de “ hoa constrictor" no
Brasil atinge, quando muito, de dezoito a vinte pés de comprimento.
Sua mordedura não é venenosa mas quando urgida pela fome, ali-
ra-se frequentemente sõhre animais realmente enormes cm relação
ao próprio porte, arrasta-os para perto de uma árvore onde fixa a
cauda fiara poder com mais força enlaçá-lo. quebra-lhe os ossos e
cobre-o afinai com a viscosa baila antes de o engulir.
Como geralmente emprega vários dias em devorar a presa c
neste periodo fiermniiece numa csfiécie de torpor éste momento pro­
picio é aproveitado para o ataque que lhe fazem. Mas não deixa de
haver sempre ai algum perigo sobretudo se o animal, instigado fíela
dor. consegue sair da espécie de letargia em que se acha.
O surucucu ainda é mais perigoso. Atinge frequentemente qua­
torze fiés de comprimento e sua mordida é quase absolutamente in ­
curável .
Não é exato que a Natureza, como pretendem alguns naturalis­
tas, lhe haja provido a cauda de duas espécies de garras próprias à
apreensão das stuts vitimas.
A cascavel rasteja com grande rapidez (sicl), mas o seu compri­
mento está bem longe de igualar aos dás serpentes das qnais falamos,
e o ruido que faz geralmente lhe denuncia a presença. A espécie de
chocalho que está na extremidade da sua cauda compreende às ve­
zes, nos exemplares adultos, oito e dez anéis. A qualquer animal
prefere os ratos e só ataca o homem quando por este perseguida.
A caninana, a jararaca, e uma multidão de mitras serpentes de­
porte médio são extremamente perigosas. Ncnt todas ostentam no­
táveis cores como a eohra coral cujo nome por si só indica o brilho
da fíete.
Não é raro ocorrer nas casas um reptil de doze a quinze pés de
comprimento que os portuguêses cliamam de cobra de duos rain eos,
— 60 —

e cheio de analogias como as nossas minhocas. E ' chamado


boia, conserva em todo o corpo a mesma grossura não sendo pe­
rigoso.
Muito mais terríveis do que os insetos de França, vem a ser os
mosquitos que ao infeliz europeu recém desembarcados não deixam
um instante de sossego. De tal cevandija pode-se contar uma multi­
dão de espécies diferentes que todos pretendem nutrir-se à sua custa
até que uma longa permanência na terra lhe tenha feito perder a
riqueza do sangue.
A chii/ua (sic) é uma espécie de pulga pequena que se aloja nos
pés para ali depositar os ovos e não deixa de ser hóspede menos in­
cômodo do que os mosquitos.
Nada mais encantador do que, numa bela tarde tropical, ver-se
o espetáculo de milhares de moscas fosfóricas a brilhar nos ares.
Alguns destes insetos, fácilmente capturavas, dariam a qualquer
hora da noite luz suficiente à leitura pela aproximação dos carao-
teres.
Não há quem ignore que em parte alguma como no Brasil exis­
tem borboletas tão esmaltadas das mais vivas como de tão variega-
das cores.
Véem-se-as frequentemente parecendo haver subtraído ao ouro
c á prata o brilho metálico. E o observador não consegue cansar-se
contemplando-as ora a entregar-se ao sópro do zéfiro para logo de­
pois virem pousar sobre uma flor muitas vezes menos brilhante que
suas azas.
Pode-se sem contradição aceitável, considerar as formigas que
assolam a América Meridional, como o mais terrível flagelo da agri­
cultura .
As chamadas formigas mandioca são as maiores e as mais temí­
veis. Frequentemente se toma necessário apanharem-se os ramos ver­
des a lhes serem oferecidos a fim de se preservar as lavouras da sua
voracidade.
Escavam longas avenidas e subterrâneos cujas saídas se acham
muito afastadas umas das outras. Existem outras cavidades, infeliz­
mente, às vezes, sob paredes que na época da invernia vem a tombar,
infalivelmente.
As chamadas formigas de corrdcaon (sic). embora menores tor­
nam-se quase tão temíveis quanto as precedentes. Constituem inume­
ráveis legiões que passam de um distrito a outro.
Não há animal que impunemente se encontre em sua passagem.
Ao se aproximarem fogem os grandes quadrúpedes e os mais
fracos correm os riscos de serem devorados se por infelicidade própria
se acharem entregues ao sono.
— 61 —

Vamos tralar de dar unia idéia geral das nações que habitavam
o Brasil quando a êle chegaram os primeiros conquistadores.
Se compararmos sua importância à das tribus atualmente exis­
tentes, verão os leitores que o povo primitivo desta vasta região da
América Meridional acha-se notavelmente decaido ou antes está quase
inteiramente aniquilado.
Poder-se-á do mesmo modo observar as mudanças operadas nos
costumes destes selvagens o que inspirará a convicção de que perde­
ram quase todas as virtudes guerreiras desde o momento em que os
europeus começaram a se misturar com êles.
Na é|xwa em que formavam população importante teria sido
possível, sem os colocar de rc|xmte sob o jugo das leis, fazer com que
insensivelmente adotasse costumes cuja superioridade sentiam.
Infelizmente porém o espirito fanático vigente a isto se opôs.
Foram tratados como idólatras e desde éste momento foi permi­
tido escravizá-los.
Nunca, entretanto, puderam como os africanos afeiçoar-se à es­
cravidão. Déles restam agora algumas tribus fracas, apenas, com­
postas de alguns guerreiros. Parecem ter subsistido [>ara provar que
o pais não era deserto quando os primeiros europeus ai vieram buscar
as riquesas de que a América nessa época era pródiga.
Quando Pedro Alvares Cabral aportou ao Brasil estava todo o
litoral dominado i>ela nação tupi que déle se havia apoderado depois
de dali haver expulso os tapuias. O nome deste povo conquistador
deriva-se da palavra tupo» que significa trovão, parecendo indicar a
força e a coragem graças às quais teriam conseguido subjugar uma
grande tribu, fixada, bem antes déle à lieira mar e desde muito temida
das outras tribus errantes do interior.
Dividiam-se os tupis em dezesseis tribus diversas, distantes uma»
da» outras, por nomes próprios, mas tendo conservado mais ou menos
os mesmos costumes, a mesma religião e lingua.
Eram os tupinambos de avantajado porte. Tinham como os de­
mais americanos a pele de um vermelho cobreado, com tõda a atenção
arrancava os pelos que sõbre o corpo habitualmente crescem.
Seus cabelos negros e luzidios eram cortados como os dos reli­
giosos. em forma de coroa, e tinham o hábito esquisito de furar o
lábio inferior para ali introduzirem osso liem polido parecido com
as torres do jógo de xadrez, c preso à gengiva por uma cavilha,
enquanto a extremidade inferior passava do orifício labial mais de
uma |>olegada.
Eram sobretudo as crianças e os moços, os que usavam éste
enfeite extravagante. Os homens mats idosos substituiam-no por
— 62 —

uma iXMlra de jaspe verde, lendo a forma de uma moeda de dimensões


médias e encaixadas ás vezes nas Ixtchechas ou nas orelhas igual­
mente furadas de lado a lado.
Aqueles que queriam destacar-se graças a éste singular gênero
de adorno traziam uma |wdra do comprimento e da grossura do dedo
ou então adaptavam duas menores às extremidades do lábio inferior.
Pintavam o corpo de várias cores, mas tinham, sobretudo, o há­
bito de tingir de preto as coxas e as pernas com o fruto do jenipapeiro.
cõr de tal modo fixa que êles podiam passar dias inteiros dentro
dágua sem que ela se apagasse.
As vezes picavam penas que coloriam de vermelho com a tinta
do pau brasil c besuntavam-se com certa goma para depois se cobri­
rem com esta espécie de penugem.
Sua cabeça era geralmcnte ornada dc penas vistosas. Traziam
ao pescoço colares feitos de pedaços dc conchas arredondadas como
se fossem moedinhas e polidas com o maior cuidado.
Alguns também furavam grãos negros, da mais luzidia cõr para,
com eles, fazerem uma espécie de rosários. Terá o leitor uma idéia
de seus adornos vulgares se acrescentarmos a tudo isto um crescente
com meio pé de comprido, fabricado com um osso tão branco e tão
polido quanto o marfim, a que dão o nome de yací, o que na língua
túpica significa lua e ornato éste que às vezes traziam dependurado
no pescoço por um fio de algodão.
Nas cerimônias de seus feiticeiros ou quando deviam solene­
mente matar um guerreiro inimigo, revestiam-se de mantos dc penas
vermelhas. verdes e brancas, artisticamente prêsas uma às outras por
meio de fios e sobre umas espécies de pequenos caniços.
Fornecia-lhe o interior, também. penas de avestruz. Com elas
fabricavam penachos que colocavam sobre a queda dos rins por meio
dc um cordão de algodão. Este ornato chamava-se arraroyr. (? ) E -
provável que só servisse como enfeite e que mesmo nos combate em
que o-traziam lhes fõsse embaraçoso.
Assim como os homens, andavam as mulheres gcrahnentc nuas.
Como aqueles arrancavam sobrancelhas e cilios. Mas deixavam cres­
cer livremente os cabelos de qtte tomavam o maior cuidado c qne às
vezes levantavam por meio de um cordão tinto de vermelho.
Não tinham como os maridos, o hábito de mutilarem o lábio
inferior. Assim o rosto nada lhes tinha de repelente. Em todo o caso
mostravam preferência por um gênero de ornatos quase tão extra­
vagante quanto o outro.
Furavam as orelhas para nelas introduzirem conchas largas e
arredondadas, tendo às vezes uma polegada de circunferência. Ao
- 63 —

calx> de certo tempo faziam com que três conchas lhes caíssem quase
até os ombros.
Quando alguma queria fazer com que seus encantos sobressaís­
sem pedia a alguma companheira que lhe pintasse o rosto. Molhava
esta pequeno pincel na tinta, fazia um circulo no meio da Ixiclteclta
e continuava a traçar uma linha espiralada de còres variegadas até
que lhe houvesse pintalgado a fisionomia de vermelho ou de verde,
tendo, ao mesmo tempo, o maior cuidado em figurar as sobrancelltas
n» lugar habitual.
Seu mais belo ornato vinha a ser uma espécie de braçnl com­
posto de várias peças ósseas muito alvas, cortadas em feitio de esca­
mas de peixe e reunidas por meio de cera misturada com uma espécie
de goma o que dava excelente cola.
Eram as armas dos ttipinambás singelas como as de todos os
povos primitivos. Faziam o maior emprego das que fabricavam, como
aliás praticam os selvagens de agora, com uma madeira dura c flexí­
vel que os portugueses chamam pau darco e tem de sete a oito pés
de altura.
Sua corda era fabricada com uma espécie de cânhamo fornecido
pela palmeira licüm. As flechas trabalhadas com o maior esmero,
podiam ter cerca de uma braça de comprido. Compunham-se de catiiço
muito reto, ligado a um bastão de madeira negra nas extremidades,
por meio de pequenas cascas de árvore. Eram ao alto guarnecidas
|H>r duas penas de um pé de comprido e ao ferro substituía uma
ponta do caniço, algum osso pontudo ou então a extremidade da cauda
de certa arraia que se diz ser muito venenosa.
Empregavam também umas espécies de sabres-maças feitos de
madeira negra ott vermelha, gcralmcnte compridas de cinco a seis
pés e terminadas num pedaço redondo, ou oval, de dois palmos de
largura, c espessa, de uma polegada, no meio.
Era de tal modo adelgnçada nos fiordos que podia cortar como
um machado. A esta arma chamavam tacape. Ornavam-na. nas ceri­
mônias com plumas de diversas cores.
Para se garantirem nos combates das flechas inimigas usavam
uma espécie de pequeño broquel, cortado na parte mais espessa do
couro da anta.
Seus instrumentos musicais eram igualmente da maior simpli­
cidade. Consistiam, a principiar, por grande trompa chamado jaimbia
(sic), podendo ter mais ou menos meio |>é de circunferência. Servia
em geral nos combates para indicar o momento do ataque ou o toque
de reunir.
Para incitar os guerreiros durante a marcha alguns destes indios
faziam ouvir os sous estridentes de uma espécie de flauta ou flautim
fatos dos ossos dos braços e das coxas dos prisioneiros devorados.
— 6+ —

Mencionemos agora o maracá, consagrado principalmente às ce­


rimônias religiosas.
Este instrumento esquisito era feito de uma abóbora sêca furada
nas duas extremidades, cheia de seixos redondos ou de grãos de
milho e atravessada por um pau do comprimento <le pé e meio.
Além disto, os Tupinambãs amarravam às pernas, enquanto dan-
savam. certo fruto de volume e da forma de uma castanha d agua e
cuja casca é extremamente sonora. Tiravam-lhe as sementes, subs-
tituindo-as pelos seixos, enfiavam várias dessas castanhas muna corda
e assim formavam novas espécies de castanholas que serviam perfei-
tamente para marcar o compasso.
Embora nômades como os demais povos americanos, êstes selva­
gens se reuniam em aldeias às vezes em número superior a seiscentos
individuos. As callanas constituintes destas espécies de arraiais po­
da m ter mais de sessenta passos de comprido. Eram construidas
por meio de fortes esteios de madeira a cujos intervalos enchia uma
espécie <le erva chamada findo ( ? ) que tambétn formava a coberta.
Estas habitações nunca passavam de vasto cômodo servindo para
tôda a familia, escolhendo cada membro o lugar que lhe convinha.
Convém notar que os Tupinambãs e os Tupiniquins nunca per­
maneciam no mesmo local mais de cinco a seis meses, mas que sua
aldeia, transferida a uma ou duas milhas do lugar que ocupava, con­
servava o mesmo nome. Justificavam tal insconstància alegando que
a saúde se conserva com a mudança de ares e que não tardariam a
perecer se procedessem de modo diverso daquele que fôra o hábito
dos antepassados.
Cada familia designava, segundo consta, uma certa área para
ali formar horta onde as mulheres cultivavam certas frutas ou certos
rizomas assim como alguns pés de milho.
<>s principais móveis das moradas singelas de que acallamos de
falar eram redes de algodão fabricadas pelas mulheres e designadas
na língua da terra pelo nome de inis. Podiam ter cinco a seis pés
de comprido ( lm.65 a lm,98) e uma braça (2tn.2O) de largura e
por meio de cordas se dependuravam de jiaus colocados atravessados
nas choças e reservados a tal uso.
(Juando a fumaça das fogueiras continuamente acesas dentro das
casas as sujava eram elas lavadas pelas mulheres que na floresta iam
buscar um fruto selvagem, jiarecido com o dc uma alxibora chata, mas
inconqiaràvelmente mais volumosa. Cortavam-na em pedaços que
deixavam em infusão num vaso dc barro cheio dagua para depois
as liater com paus, obtendo frocos de escuma que substituíam per­
fectamente o salião em todos os seus empregos.
Os dolíais utensilios de que se serviam cram jarros «le lwirr»»
redondos e ovnis, nuns como «pie fogareírus e pratos cujo exterior
linha aparência assás grosseira, mas a que davam internamente muito
líelo verniz por intermédio de um liquido branco a que o fogo impri­
mia grande dureza. Esta cerâmica era até frequentemente, ornada
de pinturas variegadas quase sempre assas esquisita piara as quaL
os indios se valiam do certa còr acinzentada c muito solida.
As diferentes tribus eram sobremodo peritas na confecção de
cestos de vime c de palha destinados à guarda de provisões c tinham
grande número de cticurbitacas ôcas de que sc serviam fiara licber.
Os Tupinamlrós assim como os demais tupis obtinham os ali­
mentos essenciais dos rios e florestas, pois não conheciam a prática
da criação de animais domésticus. Eml>ora geralmcntc comessem de
modo indistinto tudo o que a caça lhes fornecia, preferiam acima de
qualquer outra vitualha a carne de anta que no entanto nada tem
de saborosa” .
Terminando a sua rápida e tão sumária resenha preveniam o*
dois colaboradores: “ Para tudo quanto diz respeito aos costumes e
religião do> indígenas, assim quanto ao seu hábito de devnarcm
inimigos, incitamos o leitor a percorrer a obra da qual extraímos
estes pormenores principais. obra esta que otcrece fiel retrospect*
de tudo quanto assás longa experiência das coibas do Brasil nos deu a
conhecer” .
CAPÍTULO X
SU M Á R lo A l’ANHAlJO DA EI.ORA BRASILEIRA. AS EKINUII’AIS RIQUEZAS
MINERAIS INI BRASIL EM BRAVO E DEFILIENTÍSSIM O RELATO

Tratando da flora brasileira, escreveram 05 autores da Xatiee


Explicative da Panorama, algumas páginas sucintas v fracas, hem
fracas mesmo a «pie «u» seguem outras sobre •>< recursos minerais ainda
menos valiosas:
As produções do Brasil variam, necesariamente. em função «Ia
temperatura das diferentes províncias deste vasto reino. Assim nele
sc ve prosperar a maioria das plantas, úteis das outras jKirtes do
Mundo.
As imensas florestas que u cobrem «piase completamente ofere­
cem essências de todos os gêneros, próprias tanto à construção quanto
à marcenaria.
Mas o viajante «pie quizer penetrar nestas mata» se achará a
cada momento detida por enorme* troncos derribados há séculos c
]K»r lianas imensuráveis que depois de se terem lançada de árvore
em árvore, reúniram-sc para formar como que intransponível bar-
— 66 —

reira através da qual frequentemente só se pode passar pelo emprego


do machado ou antes do gume afiado do facão.
A bela gravura publicada recentemente pelo Sr. Chirac, como
aspecto de floresta virgem brasileira é notável produção. aliás, por st
só ensinam mais do que a mais longa das descrições.
Estas plantas esquisitas, que são os cipós, e parecem só poder
viver à custa das árvores a que se prendem, não são tôdas inúteis.
De algumas vêm-se os brasileiros tinir ¡am ido: assim por exemplo o
cipó curtidor, que adquire o diâmetro do braço e os cortumes em­
pregam com êxito. O cipó dc Bcltnpnlc, de que os indios se alimen­
tam, além de uma multidão de outros, cujas propriedades diáriamente
se vinham descobrindo.
Por mais rica que seja a vegetação costeira mostra-se muito in­
ferior à do liinterlund. E’ à margem dos rios que a Natureza ostenta
tôdas as pompas. Arvores de imponente altura protegem com a som­
bra plantas modestas cujos frutos c raizes são poderosos remédios.
Descreveremos estas plantas depois de tom ar conhecidos alguns
destes grandes vegetais indígenas mais notáveis ainda |>ela utilidade
do que pelo porte".
O S r. Denis estava aliás a publicar, dentro em muito breve,
uma obra sõbre á vegetação tropical, examinada sob o aspecto de
suas relações com a Pintura e a Poesia, advertiam os dois autores.
"A familia das palmeiras tão vultosa na África e Asia é também
muito espalhada na América Meridional. No Brasil dela se auferem
vantagens inapreciáveis. Fornece óleos, cordoalha, certas bebidas e
um colmo impenetrável reservado às pobres choças dos indígenas.
O coqueiro (cocos inucifcra) (sic) só por si oferece quase tôd.1
éste material e aliás cresce sem cultura alguma no meio <las areias
marítimas.
Esta árvore que na natureza tropical tem tão brilhante posição,
alça-se às vezes a sessenta pés de altura. Sua haste elegante suporta
um feixe de folhas de dez a onze pes de comprimento, composta de
folíolos sumamente estreitos.
E ’ da extremidade destas grandes folhas que se vê sair um
panicillo carregado de flores a que sucede um fruto, envolto em
fibrosa casca que pelo tamanho pode ser comparado a uma cabeça
de homem.
A noz do coco reveste inteiramente substância extremamente
branca, assiís sólida e de gósto muito agradável. Contém liquido cuia
cór e sabor variam segundo o grau da madtircza da amêndoa.
Quando esta ainda está mole é mais abundante mas quase insípido
e de aspecto brancaccnto. Torna-se mais tarde límpido, agri-doce e
muito refrescante com- gósto levemente assucarado. Pode-se fazer
idéia exata do que seja comparando-se-o ao soro do leite.
— 67 —

Seria demasiado kmgu dar a conhecer os diversos empregos a


que se presta o coqueiro. pois oferece ao homem os meios de satisfazer
a quase tridas as suas necessidades primordiais.
E ‘ em geral na provincia de Pernambuco que se encontra cm
maior abundância o ibirafãlanga, conhecido sob o nome de pau Brasil.
Esta árvore atinge ás veies a altura de um carvalho. Seus galhos
são alternos, assim conto as folhas que têm forma relembrando a do
bnxo. Suas flores brancas, amareladas, apresentam alguma analogia
com as do inugiirt.
Os portugueses distinguem três qualidades: o brasil mirim, o
brasil «ssú e o braxilrla. (sicl, dando todos tinta mais ou menos
apreciada.
O brasil mirim (sici é tido conto ntelhor; tem tronco mais
grosso, casca mais vermelha e menos espessa com flores assás brancas
e extremamente pequenas. A tinta que fornece ê infinitamente mais
hrilhante ao que a do brasil assú.
Sc esta essência que se vende muito com o fim de ser trans­
portada para a Europa não fõsse tão preciosa podería servir para
a construção de edificios, pois dura muito tempo quando empregada
int carpintaria. E notam-se que imersa na água adquire dureza
maior.
() jacurundá, que serve para a confecção de tão belos móveis,
cresce espontáneamente tias florestas do Brasil. Atinge altura de
doze a quinze pês s di um diámetro de oito polegadas. Apresenta
grande número de ramos espalhados rie folhas pontudas e assás
pequenas. Sitas flores bilabiadas têm bela ctír violácea, cobrcm-n’as
|ados brancos c sedosos. Ha diversas variedades desta essência, mas
a mais apreciada ê a que tem cor |<arda muito carregada e algo tirante
pant o roxo.
Ignorava-se atê bem pcuco tempo que a quina, descoberta no
Peru, há cerca de três séculos, existisse no Brasil, mas foi desco­
berta perto das cabeceiras du Guyoba ( s e ) .
Esta árvore do gênero da pentandria mr.ttoginia e da familia
das rubiáceas atinge mediocre |>orte. Tem folhas pecioladas, amplas,
ovais, obtusas, estreitas ao lado da liase, pilosas na página inferior
e mascaradas' por fortes nervuras.
.As flores, de brancura assás agradável, terminam □ ramo a modo
de panículo aberto.
Os naturalistas enumeram niais de trinta espécies deste vegetal,
mas reina ainda grande incerteza acéren da aplicação do nome das
cascas encontradas no comércio e relativas às espécies conhecidas.
Algumas vezes se acham misturadas às das árvores dos gêneros
vizinhos ou mesmo afastados.
— 68 —

A casca da quina não é empregada apenas como febrífugo. Dría


se lança mão. c com o maior éxito, nos casos cm que os tónicos e os
antissépticos são necessários.
Xas farmácias quando muito se conhecem três cs| k-cícs. desig­
nadas sob os nomes de quina cinzenta, quinta vermelha, e quina
amarela ou real.
A primeira secam com cuidado <• enrolam em cilindros do diâ­
metro de um dedo. Dia a <Fa cresce o seu apreço por parte d,.> nego­
ciantes.
As vezes preterem os facultativos sul>stítui-la |>cla casca verme­
lha que provem da Chinchoniu oblongijnli'.*. de sabor muito amargo
e dando maior quantidade de resina do que a precedente.
A quina amarela ê encontrada correntcmcntv no comercio. Re­
cobre-a epiderme muito espessa, mas fácil aliás de ser destacada.
Quando em pedaços chatos, de cór amarelo pálida e cheiro fraco
e desprovida da epiderme. dão-lhe o nome de quina real. As cascas
de procedência brasileira são gendmeutc tidas como de qualidade
inferior.
l ’ma das árvores mais curiosas c mais úteis de tóda a America
Meridional ê sem dúvida alguma u castanheiro do Maranhão a que
o Sr. de Humbolt (sic) deu u nome de Bertolletia (sic ). Vèmo-la
erguer-se majestosamente a mais de cem pês (33 ms. i de altura v
tem geral men te dois a três j>és de diâmetro (0.66 a 0.99). Seus
galhos altemos vergam para a terra no ápice: as fôllias igualmente
alternas, oblongas, dc cinco n seis jxdegadas de comprido ostentam
colorido de lielissimo verde. Produz nozes esféricas muito sólidas e
extremamente rugosas da grossura de uma cabeça de criança e divi­
didas interiormente em quatro lóculos.
Estas espécies de cócos contem cm cada lóculo seis castanhas
de uma polegada a polegada e nieta de grossura que lembra o gosto
de nossas amêndoas. Constituem alimento extremamente agradável
ao paladar e muito procurado pelas diversas tribus selvagem
O gaiaco frequentemente empregado cm medicina coqiO p»xle-
roso sudorífico merecería ser classificado no Brasil entre as árvores
de enfeite. E* assás alto, tem fólhas verdes pálidas, quase redondas,
juntas aos pares. E suas flores de belo azul surgem numerosas do
alto dos galhos. Classificam-nas na (heundria utonoyynia de Linnvu.
(> cacaueiro cresce espontáneamente às margens do Madeira e
do Tocantins onde quase forma florestas. E ’ de mediano porte e
ostenta galhos guarnecidos dc fólhas esverdiadas. alientas, assás
grandes, apresentando muitas analogias com os do castanheiro. Suas
flores, que pertencem á /wliadclfia pentadria nascem sobre os ramos
e até sobre o tronco
— 69 —

São amareladas ou de branco róseo, produzem fruto «I.’longo,


espesso. assas parecido com um inelãosinho. a princípio de verde
esmaecido, depois amarelado e afinal vermelho escuro, salpicado de
pontinhos amarelos na época cm que atinge plena maturação.
Encerra de trinta a quarenta amêndoas oblongas, lisas, de roxo
clara, cobertas por cnvólucro quebradiço c encerrado numa subs­
tância esbranquiçada mucosa de sabor assâs suave. Estas amêndoas
(fitando torradas constituem a base do chocolate.
Entre as árvores úteis notam-se as que fornecem a goma copai.
Tais como a goma clcnti o benjtiiii, o stopax <• várias outras das
quais se obtem bálsamos preciosos como sejam o do Espirito Santo,
do Peru, do copaita e do Cumaro (sic).
Xas imediações da foz do ri.. Salsa, a algumas leguas do Bel­
monte encontram-se nas florestas a planta encantadora que fornece
a baunilha. Suas hastes trepadoras estão munidas de vérrim as en­
roladas em espiral no cume, suas féilhas de um verde sobremodo
agradável rito ovais terminando cm ponta.
As flores de um vermelho brilhante COinpôem-se de uma cor da
de seis pétalas irregulares; notam-sc-lhc na vizinhança unms Imisas
alongadas bivalvas cheias de jMsqiivims sementes pardas encerrando
jHilfKi mole de cheiro mais suave.
Quando muito dão-se os nrasileiros ao trabalho de as recolher.
E* verdade que como (pialidadcs são inferiores às do Perú e México.
A* flo ro de adorno encomravvis nos jardins lirasilciros, até
agora não oferecem muito grande variedade. Cnmeçam entretanto
algumas a ser mais geralmentc espalhadas, mas isto só desde alguns
anos fiara cá.
Sâo «piase todas originárias da Europa, embora seja possível
encontrar e muito belas nas florestas do pais. Da-lns-ttnos a conhecer
assim como as plantas hortenses. ao tratarmos das produções de cada
província” .
Sôbre as riquezas minerais do Brasil foram sobremodo parci-
moniosos os nossos dois autores Muito mais ainda do que quando
trataram da nossa produção vegetal.
*‘Crenic> acertado deixar para o fim desta notícia o que temos
a dizer de História Natural, limitando-nos a alguns pormenores su­
cintos c característicos” .
() interior onde » ouro e as |M*dras preciosas acham-se gcral-
mente disseminados à superfície do solo, apresenta sobretudo pañi
o lado do oeste, planicie*, argilosas, pontuadas de rochas calcáreas,
o que não se nota mais para o lado de leste, onde a terra se torna
vitrificávcl. sem mudar de aspecto até o litoral.
— 70 —

As montanhas neste lado estão cobertas, sobretudo para o lado


da Serra do Frio de rochas de grés micáceo, divisível em tolhellio-
mais e menos espessos e flexíveis (o grês micãceo-flexivel é o de
Hauy.l e cuja textura, em certos lugares, apresenta-se extremamente
porosa, mas. em outras, adquire Instante dureza a ponto de parecer
quartzo. Sob tais folhelhos encontram-se outros de argila foliácea ou
chistosa a principio quase terrosa e depois infinitamente mais sólida.
Encerram uma infinidade de cristais de mina de ferro octaédrico ou
de sulfúrete de ferro. E' geralmente nestas duas espécies de rochas
que se encontram os filões metálicos.
O granito não ocupa as partes mais altas: é sempre encontrado
abaixo das rochas -aibrolamelosas e compõe-se de cristais de fedel--
pato, maiores e menores, muito brancos, de um quartzo de um matiz
escuro e mica.
Na base destas grandes cordilheiras, principalmente para o lado
das montanhas tie formação secundária, servindo conto de barragem
aos rios, encontram-se rochas de areia e mica encerrando grande
número de pedaços de quartzo rolado, uns brancos e outros esver­
deados, coloridos pelo ferro. Acham-se misturados com actinoius
fibrosos, igualmente rolarlo formando tuna espécie tie "poudditig".
Para o lado do mar tódas as montanhas são graníticas e infe­
lizmente não encerram o gesso.
Em certas provincias do Brasil existem ardósias. magnésia, alen,
talco, amianto, molybdeno. enxofre, salitre c salgema. Assim também
freqüentémente pedras de amolar de diferentes espécies, como as pe­
derneiras para espingardas, ocorrem também jaspes e ágatas.
Entbora as pedras preciosas do Novo Mundo sejam geralmente
muito menos apreciadas do que as procedentes do Oriente, constitui­
ram muito tempo grande parte da riqueza de Portugal.
Os diamentes encontram-se súmeme em Minas e em certos luga­
res <le Mato Grosso, Goiás c São Paulo.
Mas é possível conseguir na maioria da.- províncias limitrofes
rubis, safiras, esmeraldas, crisolitas, topázios, ametistas, águas mari­
nhas e uma multidão de cristais.
Todo o ouro procedente do pais ohtem-se pelo processo da lava­
gem e até agora ainda não se descobriram minas propriamente ditas.
Acha-se o metal disseminado em palhetas, grãos, em pequenas
massas designadas sob o nome tie pepitas, no meio tias areias aurí­
feras que geralmente espalhadas á superficie do solu não se esten­
dem pelo solo a dentro mais de alguns |>és ou quando muito algumas
toezas.
— 71 —

E ’ igualmente por meio da lavagem que se obtem a platina. Mas


a prata (sic i acha-se assim como no México e no Potosi, ent assás
grande abundancia ñas millas e ñas camadas pedregosas (sic).
O cobre, o estanho e o chumbo, encontram-se cm maior e menor
abundância, conforme as capitanias e últimamente descobriram-se no
Sul minas de ferro destinadas a tornar-se da litáis alta importancia".
Como vemos, é tudo quanto de mais deficiente e desvalioso lia a
informação que os nossos dois escritores e colaboradores traçaram
acerca dos recursos minerais do Brasil. A sua geologia é a mais
fantasiosa e cortamente podería ter sido nielhorzinha se houvessem
consultado o que Eschwege já publicara.

C A PITU LO XI
ROIlERrO BURFORD F. O SEU PANORAMA DO RIO PE JANEIRO F.M 1 8 2 3 .
QCEM ERA F.STK ARTISTA. ERROS E ENGANOS DO SEU MEMORIAL

Entre os nossos patricios que, com o maior empenho, conseguiram


formar urna Brasiliana digna de real apreço, figura alguém do maior
destaque pelos dotes da inteligência e do caráter, os grandes exemplos
da carreira longa e consagrada, integralmente, â prática do h'.-nt, ao
exercício continuo da probidade cientifica.
Em conversa acerca dos nossos velhos autores, ele nossa xenobi-
bliografia citou-nie volunte de sua preciosa coleção, a mim inteiramente
desconhecido certa Description of u -ufcre the city of S t. Sebastian and
the bay of h’in dr Janeiro, opúsculo ingles, impresso em Londres e
em 1828.
É a descrição de um panorama da baía c cidade guanabarinas
executado por certo Roberto Burford segundo desenhos por ele pró­
prio tirados em. 1823. particularizou o meu eminente informante.
Aguçou-sr-me a curiosidade, notávelmente, tanto mais quanto jus­
tamente tinha e tenho meu avó Felix Emilio Taunav como o mais
antigo dos pintores que se abalançaram a executar um |>an irania da
nossa Guanabara e da sita grande metrópole ribeirinha-
Pós-sc de |>é quem m? levantara tão conspicua lebre e começou
a procurá-la afanosamertte peías muitas prateleiras de suas líelas es­
tantes pejadas de raridades, tias maiores que enobrecem uma brasiliana.
Xão encontrou o livrinho o que me desapontou, pois desejava
sofregañiente tê-lo em mãos para verificar o que lhe seria o porte e
se seria coisa digna de se confrontar com a obra de seu antecessor.
Mas pouco durou esta espectativa ansiosa. Não tardou que o
bondoso amigo me entregasse o livrinho, opúsculo de onze páginas
— 72 —

aconqianhada de estampa muitissiniu mediocre dividida raí ditas secções


limito sobre o comprido de 3S centímetros sobre 9,5 de altura:

Explanation o f a view o f Rio de Janeiro, exhibiting in the Panorama,


l-eicesher Square.

Texto, estampa, encadernação tudo perfeito, tudo de absoluto


frescor indicavam que aquela peça rara, muito rara, pertencia a tima
das mais bem cuidadas e acarinharias bibliotecas do Brasil.
Traz-lhe a fóllui de insto: Description of a fíete o f the City o f
S t. Sebastian/ and the bay o f/ Rio de Janeiro nme exhibiting in
lh e/ Panorama. l.eieesler Square/ Painted by the proprietor/ Robert
B urford/ fro m / drawings taken in the year 1823/ The view o f the
city o f M adrid/ remains open/ l.ondon/ printed by J. and C. .Idlard.
Bartholomew Close/ 1828/ Price Sixpence/
No verso desta fõlha de rosto lê-se: . / view o f the city and lake
o f den n ta / and surronding country/ is now open al the/ Panorama.
Strand.
I’uz-ntc a examinar a estampa du nosso Burford e achei-a da
mais extraordinária mediocridade. Acompaiiliava c ilustrava como
que tun prospect,., era o principal chamariz dos curiosos concorrentes
a tomarem conhecimento rias belezas exóticas das ¡llagas guanabariiias.
então tão extraordinariamente distantes do Strand e de leiccster
Square.
All. certani rule! a contemplação daquele tosco e sumário desenho
não faria coin que muita genre se ahalançasse a gastar meio shilling
comprando tão medíocre peça iconográfica.
Que diferença com a do artista francês' Esta sim dava idéia do
qne era a capital brasileira, cidade de casario compacto c edificios
avantajados. já Com ar. s de cabeça de nação! Na sua similar britânica
que se apresentava? I.'ni primeiro plano profusamente guarnecido tie
navios a vela, guerreiros e mercantes, entremeiados de botes, escaleres,
falúas, canoas e saveiros.
No fundo, cm linha muito tênue, a fimbria do perfil das monta­
nhas do maciço tijucano c. mais próximo, outra das edificações ca­
riocas da lieira-mar.
Na outra margem da baia ainda linhas mais indecisas. Sc o
panorama obedecia a este enfusiamento que potleriam os contemplado­
res británicos divisar da alegria de nossas praias cariocas ensolaradas
vecinentcin/ntc? Que idéia fariam daquelas nossas velhas casas por­
tuguesas. de um e dois andares da era preceliarranhatiora se é possível
assim aventar um neologismo bárbaramente aglutinado.
— 73

Daquelas sacadas de ferro <lo primeiro andar jamais poderíam


•emir que através de suas janelas abertas descia à rua o vozear dos
pianos incontáveis das meninas de sobrado enchendo os ares de melo­
dias rossinianas. modinhas e lundus. Mas diríam talvez que, à tardi­
nha, ali estariam muitas meninas Immitas pertencentes a um tipo muito
diverso do seu.
Se é verdade que o autor do panorama tirou desenhos in loco
para a sua grande tela rotunda, manda a justiça lembrar que muito não
sr esforçou para bem grafar os topónimos localizadores de sua pintura
Jurajuba. Boto Fogo, 1-age, Catete, I .arangeiros, Misericordia, Uba
da Govcrnardo, Serra dos Orgoas. Armazón, Pao 1Vaçucar. Rua de
Dircitc. são nomes da to|xmimia carioca e fluminense que inculcan a<»
sen público.
E como estivesse a desenhar na época em ente Lord Cochrane
acabava de chegar, a convite dv Dom Pedro I, para comandar a ex­
pedição restauradora da Babia cóloeóu o nnsso Burford o sen célebre
IMtrício no primeiro plano, emlrarcadn num escaler <1- grande voga, c
acom]Hinha<¡o de altas patentes. Dirigia-sc o famoso manijo j>ara
bordo de sua capitanea. a Pedro !. cx-Martini de Freitas do costado do
qual se ve ¡rromper a fumarada da salva reclamada, pela presença dn
almirante.
Ninguém poderá. porém. estranhar esta homenagem de um pintor
britânico a mu dos maiores marujos de sua Nação heróica.
Curta como já dissemos é a noticia explicativa do Panorama.
Está muitíssimo longe das dimensões da de sett antecessor francês,
redigida por Hipólito Taunay, irmão do panoramistn, c s u grande
amigo Ferdinand Denis.
Seis páginas apenas se consagram â “ descrição da vista do Rio
de Janeiro” mais cinco havendo com “ notas explicativas da estampa”.
Quão longc estamos das páginas numerosas do opúsculo francés!
Vejamos, ¡x)rém, alguma coisa sobre éste Roberto Burford, au­
tor do nosso Panorama abrangendo o vasto ambiente balisado pelo Pito
IVaçHcar c a Serró das Onjuus, .Innasoá e Foto Fago- Mas podía
ser pior esta toponimia pitorescamrnte lusítaniforme. Há autores que
se s-rvvm de nomes muito m ais... pitorescos.
(.’oisa entre parênteses interessante que minea vi explanada, é a
insistencia pela qual muitos viajantes ingleses teimam cm chamar
Braganza a São Domingos de Niterói. O nosso Burford não fez
exc?ção a esta regra. Calora a sua Braganza entre Prava Grande r a
fortaleza de Gravata (sic).
Varios Burford artistas ingleses existem citados no tão conhecido
dicionário de Bénvzit. Infelizmente nao piule encontrar Dictionnary
of painters de Fhyan nem a Cyclopedia o f painters and painting de
— 74 —

Denison e Perkins onde provavelmente acharia buns elementos bio­


gráficos .
A falta destas obras de grande autoridade valho-me das informa­
ções assás sumarias de Bcnézit. Cita êle quatro Burford: João
paisagista que expôs de 1817 a 1824 na Royal .Academy de Londres.
Leonardo (gravador do século X V III que gravou paisagens e retra­
tos). Tom ai (também gravador nascido pelas vizinhanças de 1710 e
falecido em Londres em 1774 onde de 1762 a 1774 expôs anualmente
na Society of .Artists e a quem se deve a cópia de vários retratos de
Philipps e Schaak. compvsiçô •> paisagísticas e venatorias) c u nosso
Robert.
Seria este parente dos demais? E ‘ o que de todo não posso dizer.
Sõbre Robert Burford pouco diz Bénézit: "pintor inglês de j>a-
noramas nasceu em 1792 c faleceu em 1861. em Londres, provável­
mente” .
"Dirigiu o Royal Panorama de Leicester Square em Londres, de
1827 a 1861- Foi segundo os seus desenhos que se executaram diver­
sas vistas panorámicas rle várias partes do Globo, batalhas e atuali­
dades, oferecidas ao público londrino. Entre 1812 a 1818 expôs na
Royal Academy de Londres”.
Como vê o leitor é minguada a informação que o dicionarista
francês dã da vida e da obra do panoramista da Guanabara.
O panorama é aliás invenção britânica; deve-se a Robert Barker,
pintor, natural de Edimburgo que imaginou tal gênero de quadros
quando se achava preso por ser pagador remisso de dividas. Tirou
patente do invento cm 1796 e foi o autor do primeiro panorama ex­
posto em Leicester Square em Londres. Mais tarde multiplicou os
seus panoramas representando cenários de cidades, batalhas navais e
terrestres, e a exploração desta indústria lhe foi Ihti> rendosa.
O gên-ro passou à França em 1799 com o Panorama de Paris,
explorado mediante patente pelo famoso Roberto Fulton que fez exe­
cutar a enorme tela então exposta pelos pintores Fontaine. Prevost.
Constant e Bourg -ois.
Alcançou magníficos proventos o celeliérrimo inventor da nave­
gação a vajior.
Examinemos, porém, o texto do opúsculo precioso que João Ma­
rinho de Azevedo tão delicadamente me ofertou, suspeiloso, rápido,
de uma cobiça... exata. embora discreta, em sua irreprimibilidade.
A Pefcrifiion o f lio- ríete o f Rio de Janeiro não é má. sobretudo
para o tempo.
Tem alguns erros sérios e diversos enganos, mas sinceramente
cometidos como logo se percebe.
Assim s.- diz que a Córte (sic) se transferiu da Bahia para o
Rio em 1763, que o nome Brasil foi imposto ao nosso pais por
Vcspñcio e do Rio de Janeiro por Martini Afonso de Sonsa. A his­
toria de Duguay Tronin transformado em Tronin está bem mal con­
tada, etc.
Hã. também, novos estropearnentos de topónimos como Mato
Porcas etc. Mas ao par destes deslises encontra-se muita coisa sobre­
modo judiciosa relativa a aspectos de cidade, sua vida social, comer­
cial, religiosa etc.
As impressões urbanas são agradáveis, as descrições da natureza
muito simpáticas.
Deixou o ambiente carioca certain :nte, ao pintor britânico, gratas
recordações.
"A cidade de São Sebastião, correntemente chamada Rio de Ja ­
neiro. ensina-nos Burford, é a capital da província de seu nome e
mrtrójmle do Brasil.
Sua proximidade do distrito mineiro e do Rio da Prata assim
como o seu espaçoso e liem defendido põrto conto oferecessem vanta­
gens grandemente superiores ás da Bahia, foi a Corte (sic) dai |>ara
ali removida em 1763. E desde esta data serviu de sede residencial
a sete vice-reis.
É no momento atual a cidade mais importante, populosa e comer­
cial do Brasil. E talvez no Globo não exista, outra que disponha de
põrto melhor situado para u comércio universal do que o seu. Retine
a conveniência d- igual intercurso com a Europa. América. Africa,
índias Orientais e Bitas do Mar do Sul.
E como capital de pnis rico e da maior vastidão, centraliza re­
cursos internos de vaha e importancia imensas.
\ Babia a que os altorigenes davam o nome de Xethcro-Hy (sic)
o que significa agua escondida é -olí todo <■ qualquer ponto de vista
um dos mais lindos conhecidos c constitui a cltavc de todo o Sul
do Reino.
Quanto á capacidade e segurança garantidas a navios de todo e
qualquer porte não existe alguma que lite leve a palma.
A barra enquadrada por paisagem soberba e sublime tem de lar­
gura apena- 850 braças (1870 m ) com 14 130 m, 80) de profundidade.
Dá em qualquer ocasião livre entrarla e livre saída graças à alternância
diária dos torrais e yirações. Começam os primeiros à tarde avan­
çada e sopram até as oito e m>ve da manhã. Pouco depois principiam
as segundas que vão até a hora do poente.
( I comprimento (Ia baía, de Norte a Sul. é <le seis léguas sóhre
unia largura máxima de quatro e unia circunferência de cento c oitenta
<• duas, dispondo de ftindo para as maiores esquadras.
A paisagem cm tôrim deste golfo é da mais líela. majestosa e
pitoresca descrição. Poucos pontos, no Novo Mundo, terão sido mais
aquinhoados pela mão da Natureza.
Cada acidente ali se apresenta na mais veemente <• magnifica
escala.
Portentosos rochedos de colunas g -minadas. precipicios ahnitos e
verticais, de asjiectos selváticos e desafiadores da imaginação. v»lal-
men-c revestidos de verdejantes arbustos tropicais, com trechos isola­
dos de rica v?rdura. a ocupar todo e qualquer local onde a Natureza
consentiu que >e fixasse uma raiz. A folhagem intensamente verde,
ostenta-se em belo contraste com a areia amarela da praia c o mar
azul c profundo, t.m iinando cm alguns lugares, abrutamentr c em
« utms deixando abertas para líelas abras, angras r retiros. Nestes
muitos há onde se nota o mais perfeito cultivo, e onde se entremeiam
casas brancas, chácaras. pomares, de laranjeiras, mangueiras e outras
árvores.
\ cidade assenta ã margem ocidental do golfo onde ostenta o
casario branco c airoso e elegante aqueduto rodeado de verdejantes
terraços cm declive.
A cada eminência coroa alguma igreja, convento ou forte. As
ilhas wrdejant ?s de que existem pervo de cem. das mais diversas
configurações, apresentam tôda a escala de matizes que uma vegetação
exuberante e vivaz está em condições de oferreer. Ao conjunto en­
feitam c ornam fortes, grandes edificios, navios de todas as nações
ancorados em vários pontos da baia, numerosas e pitorescas embar­
cações a sulcar a» águas. \ tudo isto ilumina brilhante firmamento
desanuviado, constituindo um dos mais belos c animados cenários que
nos é dado poder conhecer” .
Como vemos., ao nosso Roberto Burford deve a contemplação da
natitr -za fluminense ter extraordinariamente enlevado- As poucas li­
nhas em que traduz a admiração pelo que ela lhe proporcionou são
suficientemente eloquentes para (pie possamos colocar o seu redator na
lista daqueles mais arroubados fanáticos da inconqxirável behza gua-
nabariua. Essa mesma que. menos de um século mais tarde inspiraria
a nutro britânico belo livro cujo titulo, de eloquente laconismo, tor-
non-sc gratíssimo aos filhos daquela terra: o Beautiful Rio.
Na lista apre^ •ntada dos autores que se ocuparam em descrever
:i baia do Rio de Janeiro e a que arrolou Augusto Fausto de Sousa,
não vemos citado o nome de Burford, nem éste autor parece haver
conhecido a existência do pintor c de seu panorama.
— 77 —

Passa Buríord a ministrar aos leitores um apanhado sobre a


história du Rio de Janeiro não de todo mau. apesar de sobremodo su­
cinto. Para o tempo, de une data, não deixa até de ser apreciável, tão
errado era gera ¡mente <• (pie sôbr • o nosso jxiis se escrevia então.
"Reclamam os jjortuguêses a prioridade da descoberta do Brasil
liara o seu compatriota Pedro Alvares Cabral, mas tal honra, indubi-
tàvclmentc, pertence ao famoso piloto espanhol Vicente Janez Pinzon,
conij>anhciro de Colomlw», em 1499. Porque só no ano imediato r que
Cabral, ancorando em Pôno Seguro, tomou posse da terra, cm nome
de Portugal.
F.tn 1502 Américo Vespucci Imtizou-a Brasil (>ic) por causa de
certa essência tintória assim chamada e ali encontrada abundantemente.
Foi de quem fez o primeiro ensaio de |jovnamento, mas como »•
país não desse* ouro nem aquele tráfico rendoso que o comércio re­
cente oriental projiorcionava ficou o Brasil desleixado durante largo
período.
Dom João II! dividiu a costa em capitanias distribuídas entre
particulares aventurólos a <picm concedeu jurisdição ilimitada em ma­
téria civil e militar. Cm dos primeiros dêstes capitães. .Martim Afonso
de Sousa, empossou-se do cargo cm 1531 c a explorar o litoral entrou
na Bahia a 1 de janeiro de 1532. Graças a :al circunstância lhe foi im­
posto, impropriamente aliás. nome que até agora tem: Rio de Ja ­
neiro. Já. porém, havia sido transposta a sua borra |x»r J. D. de S<»uli>
(sic) em 1515. o mesmo que com vários de seus homens foi assassina­
do e devorado pelos indígenas do Rio da Prata.
() primeiro |javoamviito na Bahia veio a ser o de I55S e de
Nicolau Durand de \ illegaignun, nascido cm Provins vn Bric. O seu
objetivo confesso era a propagação do calvinismo no Xovo Mundo,
assegurando-se ali asilo aos hugucnolcs perseguidos.
(..'orno a êle se juntassem muitos homens respeitáveis, aventureiros
e a venturosos. começou por se fixar numa ilha da barra onde se
acha agora o forte de l.agé i-ic ). Mas como alí estivesse desabri­
gado contra as altas marés, logo se transferiu para uma ilha do centro,
a que ainda traz n sen nom? c a que cautelosamente fortificou, tendo
em vista especialmente a proteção contra inimigos roma os indios.
Suas normas de mando tornaram-se logo tão intolerantes que
muitos <le seus amigos desgostadas n abandonaram dissuadindo outro*
individuos de o procurarem.
Neste estado de coisas vieram ordens de Portugal para a ex ­
pulsão dos franceses. Forãm éste? em 1560 atacados por Alem de Sá.
o governador do Brasil- Batido?, áp6> valente resistência, fugiram
para o Continente aliándole aos indias Tamayas (sic ).
78 —

Em 1564, Estácio de Sá, sobrinho du governador foi nomeado


de Lisboa com a missão d.’ fundar uma povoação no Rio de Janeiro.
Mas os recursos de que dispunha não lhe permitiram fortificar certo
ponto junto ao Pão de Açúcar, chamado Vila Velha. Provavelmente
o local onde existe atualmente a fortaleza de São João. Ali pcrma-
rjjceu até que o tio ã testa de considerável fõrça viesse em seu auxilio.
Foram franceses e índios atacados no dia de São Sebastião em 1567
e totalmente desbaratados, havendo os seus fortes redutos de Uraçu-
mirim e Paranapuci sido expurgados.
I mediatamente após a vitória de Mem de Sá. de acordo com as
instruções que recebera, localizou a atual cidade que. em honra ao dia,
foi chamada de São Sebastião. Tendo cm vista sua defesa, fortificou
então ambas as margens da barra da baia. Xntes, porém, que estas
obras estivessem prontas, os franceses o atacaram de novo. Derro­
tados. perderam a artilharia que foi montada nas novas fortificações.
Gomo a colônia pudesse dispor de vantagens naturais incomparà-
wlmente superiores às da Bahia c Olinda, os principais centros do
Brasil, gozando da tranqiiilidadc muitíssimo mais profunda, não tardou
que florescessem. A cana de açúcar e o algodão ali introduzidos de­
senvolveram-se com largo êxito. Minas de ouro e diamantes se des­
cobriram e a população c o comércio increm?ntaram-se.
Em 1710 uma divisão naval francesa efetuou um desembarque
cm Guaratibi (sic) a umas quarenta milhas do Rio. jwindo em terra
uns mil marinheiros.
Após desesperada luta, foram êstes derrotados graças à bravura
de F .F . dl’ Menezes (sic!) frade trino. Infelizmente foi esta vitória
conspurcada, jxir conduta ulterior a mais deshumana. Para vingar
essa derrota o famoso Du Guay Trnnin (sic) veio ter àqu-la costa e
valeu-se de tinia cerração para varar a Rarra. a 12 de setembro, cau­
sando sua presença tal consternação que os fortes e a cidade capitula­
ram (sic) e depois de saqueados ainda forant submetidos a um resgate
de seiscentos mil cruzados” .
Como vemos esta parte da narrativa do nosso Burford acha-se
lortementc afetada de laivos "mendes fradiqueanos”. Essa novidade
da capitulação imediata graças á única e singela ação catalítica da
esquadra do terrivel mahtino, águas da barra a dentro, merece o con­
fere do austero autor da História do Brasil pelo método confuso. Ou
o de algum de seus prestigiosos e numerosíssimos discípulos de proce­
der alheio, aliás, à lisura, à lealdade, à franqueza de seu ilustre mes­
tre. a que ardente, cègamente acompanham fingindo contudo repudiar-
lhe os processos.
—n —
CA PÍTU LO XII
INFORMES HE BURFORD SÓBRE A TRANSMIORAÇÃO DA FAMILIA
REAI. AO RIO DE JANEIRO. PROGRESSO DA CAPITAL BRASILEIRA.
DESCRIÇÃO SUM ÁRIA DA CIDADE

Continuemos a reproduzir a narrativa (lo nicstr: pintor Robert


B urford.
"Km 1S07 a córte de Lisboa, julgando prudente procurar abrigo
e proteção cm suas possessors transatlânticas oito naus de linha, quatro
fragatas e dois brigues zarparam do Tejo, a 29 de novembro, com-
boiados pelas naus británicas Marlborouyh, London, Bedford e
Monarch.
E. após uma escala na Bahia, de um mês, chegaram com segurança
no Rio de Janeiro, onde, a 7 le março de 1K0S. o príncipe regente
estabeleceu sua nova Córte.
“ A chegada da familia real provocou muitas e notáveis trans­
formações .
Foram os portos do Brasil abertos e já no primeiro ano noventa
navios estrangeiros atravessavam a barra do Rio de Janeiro. A cidade
que se achava confinada a área pouco maior <k> que fóra. havia um
século, cresceu rápidamente, luirgos e ruas s abriram, foram igrejas
construidas c restauradas, fundou-se um banco, abriu-se um teatro,
publicaram-se jornais etc,
O belo rincão entre o Corcovado e o Mar logo se encheu de
agradabilissimas quintas.
As b ias baias de punta a ponta tomada de manguesais e pântanos,
monarca e sua familia a Córte, mas não só no terreno material como
formando-se em populosos subúrbios. Matas c moitas foram removi­
das, surgindo em seu lugar jardins e chácaras. E os delicados frutos
e hortaliças da Europa e da Africa vieram logo enfileirar-se ao lado
das dádivas e riquezas do solo".
Assim imenso ganhara a capital brasileira com a presença do
monarca e sua familia a Córte mas não só no terreno material como
no emitirá!, trazendo estn permanência em seu bojo as mais importan­
tes consequências políticas.
"Durante a p-nnanêncin da Córte no Rio. continua o reparador
britânico não tinham os brasileiros nenhum motivo de incitamento a
que rompessem com a metrópole.
Mas quando se tornou patente que o rei estava prestes a deixar
o Brasil e que éste deveria voltar ao que fóra, começaram a surgir os
síntomas de anseto pela independência.
— 80 —

\ ária> regiões do pais mostraram-se logo revolucionadas e fize­


ram -se ouvir as reclamações recentes em prol da promulgação dv uma
Constituição similar á qu? as Cortes de Lisboa haviam adotado*
A presença do rei c a presença da Gorte sustaram por certo prazo
qualquer manifestação pública de tais sentimentos no Rio de Janeiro.
Mas afinal, irromperam e o rei foi forcado a sulnnetvr-sc. violentando
a vontade. Não houve argumentos’ porém que o dissuadissem de
partir. Tendo passado o governo a Dom Pedro c a um Conselho fez-se
de vela a 24 <|<* abril d - 1821. 'Tal reemigração ocasionou a mais
grave crise comercial v a maior penúria. Calculou-se que doze mil
pessoas haviam então deixado o Brasil levando consigo um mínimo dv
cinquenta milhões de cruzados ( vintiv mil contos d ; réis ou cinco
milhões dv esterlinos).
"Km setembro de 1822 foi Dom Pedro por consenso geral acla­
mado imperador c nova constituição se projetou. Os acontecimentos
a isto posteriores são muito gcrahnentc conhecidos para que necessitem
ser recordad*>s. <> Brasil, felizinenv v*-ncrn os principais tropeços d«-
sua marcha v rápidamente |x-rlu>tra a senda ascendente da prosperidade
e do prestigio.
Convidado a assumir o comando da esquadra e para êste fim
chegou Lord Cochrane ao Rio, a 13 de março de 1823.
Foi ]x»r éste tempo que as vistas para o Panorama se tomaram.
Assim se explica porque a capitania de Sua Excelência (H is Lordship»
'• diversos outros navios componentes da esquadra brasileira figuram
cm <ltfcrcnr.es pontos da Bahia” .
Expõe Burford os motivos que o levaram à escolha do ponto dv
onde tirou os desenhos mais tarde desenvolvidos no Panorama de
Leicester Square.
” A persjKCtíya obtida do porto a uma distância dv errai de uma
milha da cidade v a mais bela < mais dilatada dv quantas podem ser
obtidas. apaiihandn-lhv as eminencias coroadas de conventos c a linha
das lindas colinas próximas, intervaladas de chácaras e jardins apre­
sentando tal com opulento c magnifico aspecto.
A cidade ocupa uma planicie, na parte Norte v <>ricntal. uma
lingua de terra de configuração irregular, estirando-se para <• Norte e
ligando-se, ao Sul. ao Continente.
\ parte urbana mais antiga c mais im putante ergue-se no litoral:
a rua de Dircitf tsic!) a via principal dos bons prédios corre paralela­
mente à praia, embora a certa distância.
Dela partem, cortando-a em ângulo reto, ruas de nvnor impor­
tância dv novo cortadas por outras numa distância de cérea dc uma
milha.
— 81 —

Muito poucas cúpulas e forres afastadas atraem a vista graças a


altura considerável.
Nem há muitos edificios públicos ao longo da praia, a não ser o
Palácio Real, que se apresenta com grande destaque, estando o ¡tonto
de desembarque a sessenta jardas de seus portões (55 metros).
A Cidade Nova que, em sua maior parte, surgiu após a chegada
da Corte, ligas-'. ¡tela ¡tome de madeira de São Diogo, súltre uni
braço da Iraia chamada Saco do A ltere', ao Itairro de sudoeste ou
Bairro de Mato Porcas (sicll e pelo extenso subúrbio de Catumbi ao
Palácio Real de São Cristóvão.
Maio Porcas confronta com as eminências mais baixas do Corco­
vado numa linha que compreende os Dois Irmãos, a Gávea e outras
montanhas de nomes esquisitos e estupenda altura.
I.onge. ¡tara o lado do Sul, acham-se as baias do Catete e Hot
Pogo (sic) c o agradável vale de Ijtranjeiros (sic).
Do lado Norte acha-se a cidade cercada por um cordão de cinco
montanhas oblongas entre as quais e o Mar só há espaço ¡>ara urna
única ru;i. Coroam-nas o Mosteiro <1- São Bento, a Fortaleza dr
Conceição etc.
Todas as partes daquele ambiente são pitorescamente montanho­
sas. apresentando infinda variedade de cenários inéditos, sublimes c
maravilhosos, acerca rios quais não há descrições verbais cm condiçõe-
de dar adequada idéia.
Divide-se a cidade em sete freguesias. Além das matrizes res­
p etiv as há considerável número de capelas, mosteiros ■■ casas reli­
giosas. algumas muito consideráveis, mas muito pouco notáveis que.
quanto à arquitetura, qtter quanto à decoração intenta.
Festas religiosas quase todos os dias ocorrem acompanhadas de
muito mais pompa do que em qualquer outro país católico da Europa.
Em vários pontos da cidade existem oratórios encostados às casas,
fechado» por portas em cujas faces intpma> há pinturas e estátuas di­
santos. Em determinados dias abrem-se éstes oratórios.
Hã também muitas estátuas da Virgem que duram • o dia perma­
necem colx-rtas c à hora das vésperas ficam iluminadas jx-las velas
dos devotos
Além do L argt/do Paço, há ditas outras bonitas praças. Numa
a da Constituição (sic) veem-se o teatro, quartéis e algumas Ixws ca­
sas: na outra, o Campo de Santana, a Igreja de Santana, o Anfiteatro
e > Museu.
As casas geralmente tem dois andaré», mas algumas contam três
e muitas apenas um. São lxmi construídas de pedras e-tijolos argamas-
sados com cal e mariscos. Os portais e ombreiras são de quartzo ma-
— 82 —

ciço da Bahia. As janelas antigaincnte desfiguravam as lúgubres tre-


liças das gelosias ( rótulas) que foram eliminadas, à chegada da Córte
e substituida- por sacadas leve- e janelas envidraçadas.
\ parte inferior de umas puncas casas ainda exibem tais aleijôcs
que. assim como muitas portas. abrem-se para o lado de fora para
maior mcímiodo dos transeuntes.
As rasas térreas constam de um único cômodo lx*m assoalhado de
tahuas, com alcovas para o repouso noturno, cozinha e pátio interno,
e cocheira cuja única via de acesso se faz através da melhor peça
da casa.
()> prédios de dois ou v c- andares, da gente das classes altas,
dispõe geralmente de um saguão a que dá entrada uma porta de largos
batentes, l-irga série de degraus conduz ao andar superior onde
existe a sala de visitas ricamente pintada e dourada com portas de
dois batentes, dando para as alcovas e camarinhas além das quais se
acha a sala de jam ar onde a familia boma refeições c recclic as visitas
diurnas.
A parle de baixo da casa ocupam os escravos, os animais domes
ticos. É utilizada para diversos serviços familiares-
Quando a éste rez do chão ocupa alguma loja ou oficina, existe
pa-sag?m privativa c escada conduzindo ao sobrado, (piase sempre
habitado por família distinta.
As lojas não são muito numerosas. Entre elas, as dos ourives,
lapidarios r as boticas são as que mais abundam. London sitfw -fine
é cartaz que fere a vista em tõda a parte. Os algodões c as roupas
feitas de Manchester v do Yorkshire, a quincalharia de Birmingham,
louças etc., tudo aqui se encontram. ma> um pouco mais caro do que
na Inglaterra.
Há também muitas casas para a venda de contest iveis e bebidas
mantidas por ingleses. Estas para atraírem os com patriots arvoram
tabuletas recordando-lhes as queridas insígnias da Union Jack, du Jol\
Tar (o alegre lobo marinho) e dos Red Lions (leões vermelhos).
As casas, suburbanas são grandes- Mais bem distribuídas, dis-
p k m dos abundantes confortos da Europa. \cham-sc geralincnte ro­
deadas d? vastos jardins que durante parte do ano assumem aspectos
de enormes ramalhetes. Plantas delicadas, de todos os cantos do
glolx» ali florescem além dos mais vistosos e luxuriantes arbustos in­
dígenas.
Aos caminhos c aos altos regos dágua adornam vasos com «does,
(uberosas etc., a que se interpõe estatuas e pequeños repuxos. Som-
bream-nos laranjeiras, figueiras, goialxiras. bananeiras, axjueirus.
acima dos quais se destacam árvores de fruta pão. jaqueiras c a*
— 83 —

nogueiras sapucuye (sic) assim como o líelo escaríate e o lilaz da


florescência da magnifica eritrina c de melia africana".
Depois desta arrottbada descrição das opulências das chácaras do
Rio de Janeiro, que muito provavelmente, corresponde a exagerada
generalização, obediente como parece, ao preceito falho do ab uno disce
omnes, ficaria o leitor inglés do nosso Burford convencido de que os
arredores do Rio eram uma série dos famosos e fantásticos jardins de
Anuida.
Imaginaria alguma sucessão de vastos e magníficos parques pro­
vidos de fontes, repuxos, lagos, repletos d : estatuas e outras escul­
turas. no género daquelas vilas, maravilhosas vilas, que rodeiam Roma,
por exemplo. E isto, quando bem saltemos quanto tudo ainda entre
nós era modesto e em pequena escala. E nem podia deixar de sê-lo
em tão longínquo rincão, lão escassamente povoado ainda, e terra de
pequenas fortunas. Essas fontes, estátuas, canais que o nosso pintor
viu haveríam de constituir talvez o conjunto de tuna única quinta ex-
cepcionalmente reputada na época, pertencente a algum grande capi­
talista ou negociante da gente de Braz Carneiro Leão ott do visconde
do Rio Seco, marquês de Jundiai.
O que nos ficou como vestígio dessa opulência jardineira de
antanho não ê de natureza a acreditarmos na existência de alguma vila
Alltani, ott Palaviecini. por minima que fôsse em relação aos seus
grandes modelos da peninsula itálica. Quanto a haver muitos e ricos
parques pelas cercanias da boa Cidade Sebastiancnse. como o nosso
panoramista de 1823 quis inculcar ao sett público, tal liberalidade bem
sabemos o que realmente representa.
Terminando a stta resenha sóbre as ixirticularidades salientes do
Rio de Janeiro, dá Burford alguns dados demográficos sumários, re-
jxirtantlo-se fts afirmativas de Alexandre Calddeugh. o diplomara-mi­
neralogista que visitou Minas Gerais em 1821.
A este compatriota chama very intelligent author.
população da cidade e seus subúrbios, que antes da chegada
da Córte não ultrapassava cinquenta mil almas, agora segundo cálculo
de autor muito inteligente se avalia em 135.000. assint distribuidos:
Portugueses e brasileiros ................................... 25.1X10
Pretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105.000
Estrangeiros....................................................... 4.000
C iganos...................................................................... 400
Índios, caboclos e m estiços................. OOO

Total 135.000
— 84 —

Como o leitor terá visto, é simpática e lienevola a pequena memó­


ria descritiva das Iwlettas apregoadas do panorama do Sr. Burford,
pelo próprio autor, convém lembrá-lo- Não há crítica depreciativa
alguma das condições da vida fluminense nem sequer da péssima
higiene da cidade naqueles anos afastados em que imperava o
vai! E coisa nmito pior.
Não se deteve o autor sequer em referir particularidades do he­
diondo tráfico africano. I', éste justamente recrudecerá então no Rio
de Janeiro graças à solicitação veemente de braços, partida dos cafe-
sais que se multiplicavam imenso serra acima.

C A PÍTU LO X III
PAXTU fl-VK IBAHES NOTÁVEIS 1>O RIO 1>E JANEIRO F. PA CtTANABAKA

A segunda |>art ■ da Descrifão do nosso Burford consta de tuna


série de trinta e duas notas maiores e menores sõbre outras tantas
particularidades notáveis do Rio «le Janeiro e da Guanabara.

Baa I 'iar/c ( sic I

Ê uma ilha pequena à entrada da baia a que os ingleses chamam


a baia das Cinco Braças (braças inglesas ou 9.1+ ao todo), teria seus
cem pés de altura com costõcs. quase perpendiculares, de pedra cin­
zenta e partia e Itarro vermelho a que se intercalam manchas de vírente
verdura. No cume está pequena igreja branca onde em tempos de
antanho a manijada íazia as últimas devoções antes de emlsircar.

Pico

Montanha nmit.o ingr-mc numa língua de terra do lado orienta!


da entrada do )s>rto.
Santa Crac

\ fortaleza <le Santa Crtlz. baluarte de considerável poderio cons


titui a principal defesa da Bahia. Os navios, ao entrarem ou saírem,
são obrigados a passar sob suas liocas de fogo. Acha-se. situada m
parte mais liaixa de um rochedo liso, granítico, separado .do seu corpo
principal por uma fissura d ■ certa largura- Está em geral a uma
altura de vinte e quatro a trinta pés. guamecem-na vinte e trêsipeças
para o lado do mar e acha-se flanqueada, a leste e oeste, por batería"
compreendendo trinta e três canhões. Protege-a uma linha regula'
para fuzileiros que corre entre colinas. A montanha atrás encima um
semáforo que à cidade anuncia a aproximação de navios á barra.
— 85

ÍOf/C (sic)

Pequeno forte quadrado sôbre unia massa de rochedo nu a peque­


na distância da entrada da Barra c sóbre os quais o mar a-rebenta
com grande violência quando há tempestade.

N.» 5

Haterías de São João r São Teodosia (sic)


Defendem a margem ocidental da Barra. Supõe-se que ali foi
lugar do primeiro povoamento português no Rio.

N.“ 6
/■’«ó tsic) ¿>ii(itear (sic)

O Paó de Assucar e um rochedo escalfado que sõbre uma base dv


seus quatrocentos pês atinge cérea de mil de altura- Graças ao perfil
especial e à altura balisa a entrada da Bahia O stratum de que ê
constituido parece alçar-se quase pcrpendicularmente.
Passava por pcrfeilamcnte inacessível até o dia em que certo ma­
rinheiro inglês, em curto prazo, realizou-lhe a ascenção. implantando a
bandeira britânica no cume, com grande surpresa e consternação dos
fluminense. Ali permaneceu a bandeira certo tempo, não se tendo en­
contrado alguém assas arrojado para lhe fazer a remoção até que afinai
o próprio marinheiro voluntariamente a realizasse.

IJaliia de Koto (sic) Fogo


O mais delicioso dos locais, rico, em qualquer sentido, de beleza
natural, circundado de belas chácaras que surgiram ajxis a chegada da
familia real quando antes ali habitavam pescadores e ciganos.
A praia do lado septentrional é o dominio dos banhistas e foi
escolhido para pista de corridas de cavalos á semelhança do que se fez
na Inglaterra.
Km sua afastada extremidad ■acha-se um desfiladeiro estreito en ­
tre o Corcovado e os rochedos do grupo do Pão de Assucar. dando
|iassagem para o belo lago Roderigo (sic) de Freitas cuja circunfe­
rência é de cinco milhas. A sua margem estão as instalações da real
fabrica de Pólvora e o real Jardim Botânico, fundado pelo conde de
Unbares para o cultivo do chá e das especiarias orientais. Certo nú­
mero de familias práticas no trato destas plantas foram importadas do
interior da China para o seu cultivo.
— Sí» -

O cinamomo. a noz muscada. o cravo e a canforeira. aqui medram


como em sen solo natal. Mas com o chá não se conseguiu éxito idén­
tico. \ssim están agora desleixando a cultura. Perto da entrada da
garganta há uma aldeia de cigatios que provavelmente foram os primei­
ros a chegar àquela terra quando ainda era sitio de degredo para
criminosos.
ConsTvam o tradicional feitio e aparência c con formam-se à re­
ligião do pais por meio das demonstrações do culto externo.
As familias são gcralmente sedentárias c ocupam-se da pesca, n-
honifiis vagabtmdeiam pelos arredores e são grandes b arg an h ad o s
de cavalos (horse jockicst 1lá alguns ricos c metidos no comércio.
Chamar-se aqui algum cigano é o mesmo que s - lhe dar de velhacc
( Knave j .
/ 'UlCfKlit/llOil
E’ uma ilha pequena a cérea de duas milhas da Barra, assim cha­
mada por causa do S r. Villegaignon, que ali fundou uma colônia
cm 1558. Construiu a fortaleza que chamou Cnligni (sic > cm honra
do homem, na inteireza do térmo (excellent) que era o famoso almi­
rante de tal nome seu chefe c caloroso patrocinador da empresa.
\ superfície da ilha sofreu muitas alterações desde aqtvle tempo,
graças às investidas do mar- Em 1817 imensa massa de suas terras
desapareceu durante uma ressaca. As fortificações que quase cobrem
tôda a ilha são muito poderosas.

Glória
A igreja de Nossa Senhora da Glória ergue-se sóhre mna espla­
nada a pouco mais da metade da colina quase insulada do mesmo nome.
O corpo da igreja c octagonal com 32 pés de diâmetro r muito
apropriadamente ornamentada. O coro obedece a mesma forma, e tem
21 pés dc diâmetro.
Nos dias dc festa a familia real visita muito frequentemente
a igreja.
<) outeiro domina l»elo coiuspectn «Ia Bahia c acha-se recolierto de
chácaras habitadas sobretudo ¡x>r familias inglesas.
\ curta (sic) distância está o Palácio Real dc São Cristóvão, re­
sidência habitual da familia real.
Dá entrada a esse paço um par dc belos portões, cópia dos que
existem em Sion House e oferecido ao defunto rei pelo duque dc
Northumlxjrland ( ?)
— 87

Corcowrfo

A montanha do Corcovado tem a altura de 2.100 pés ingleses


(693 m etros).
Beira da Lapa

Assim se chama uma espécie de terraço construído há seus ses­


senta anos em frente de um rochedo, o qual, quando em saliência con­
siderável nágua. constituía um dos principais redutos dos indios contra
os seus invasores. Atualmente este terraço liga a cidade à Glória e
está emoldurado |>or um renque de casinhas uniformes, encantadora­
mente situadas. mas aliandonadas a gente de classe baixa pelo fato da
estrada passar à sua frente.

Sania Teresa

A via ria ascenção para o Convento de Santa Teresa é muito


Íngreme, mas acha-se Item pavimentada. Este cenóbio ocupa o segundo
lugar cm importância, logo apôs o da Ajuda, que está na cidãde e nã<
pode ser visto.
Encerra vinte e uma freiras. Precauções extraordinárias foram
tomadas para garantir a segurança das janelas ent virtude de certo
rapto voluntário ocorrido através de uma delas, há algum tempo já
\ capela é pequena c singela. E os jardins, nunía encosta que
dá para o poente, e pelo qual passa o Aqueduto, encantadores.

O .tquedulo

O \quedlrto principal abastecedor das fontes públicas da cidade, e


nobre construção no genere da que Dom João V mandou edificar em
Lisboa.
Consiste em duas nmrallias de tijolos dc seis pés de altura, abo­
badadas. disjtondo de aberturas intervaladas jtara o arejamento e ilu­
minação c portas de ferro para darem acesso aos operários. O canal
cujo comprimento atinge três milhas c constituido de blocos de gra­
nito. com d ‘zcnove polegadas de largura e vinte e quatro de profun­
didade .
Começa no M orro do Corcovado onde há hela cascattnha. cujas
águas se coletam cm reservatório coberto. Corre ao longo da crista
oriental do precipicio, deixando a montanlia à esquerda. Atravessa a
cumiada que e estreita, acompanha a encosta ocidental por considerável
distância, tendo sido aberto cm sólida rocha. Passa então para a outra
encosta qtlè, sendo de terra solta, fui cortada para esta travessia e
desenvolve-se através de mata espessa.
— 88 —

Acima do Convento de Sania Teresa aproximarse do cume d •


morro e então desee muito rápidamente através da horta conventual
a urna serie de arcadas sitas abaixo* São estas que conduzem as aguas
ao Morro de Santo Antônio e á cidade.
Numa das cabeceiras do Aqueduto há uma inscrição noticiando
que a obra começou cm 1744.

Passeio Público

O jardim público consta de pequena área cuja arrumação obedece


<ie preferencia a um plano de linhas regulares.
Dá-Jhe entrada k ln portão à rua das Marrecas. Sua principal
avenida estende-sc deste jsirtão a um terraço situado na extremi­
dade oposta do jardim a que domina de uma dezena de pés. Ali
uma alvenaria de material grotesco serve de supedáneo a dois jacarés
de bronze geminados que da guela esguicham água, jjarccendo pres­
tes a saltar no tanque que lhes está por baixo c onde o liquido cai.
Corre a água para dois outros tanques, ao nivel do solo e a cuja
frente há bancos cujos assentos são de treliça metálica e ornamen­
tados com roseiras sempre floridas, esplêndidas passionárias e outras
belas plantas trepadeiras. <• cobertos pela sombra de mangueiras, ja-
queiras, ytos ( ? ) e macieiras rosadas ( ? ) (jam beiros?).
Ali perto estão duas esguias pirâmides graníticas <Ie boas pro­
porções. onde existem inscrições informativas.
Ao terraço, que terá uma centena de pés de comprimento, com
piso dc ladrilho enxadrezado e granito, de diversas côres. guarnecem
brancos.
Ao p a ra s ito que dá para o mar cobrem vasos de llores. Em
cada uma das duas extremidades do terraço acha-se pequeno pavilhão
quadrado, encerrando vistas do Rio e vizinhanças, engenhos c pru-
dtições regionais ricamente pintados e dourados.
Houve outmra neste jardim uma criação de insetos de cochn-
nilha sobre figueiras da India plantadas dç propósito na praia. Está
agora abandonada.
Nas vizinhanças acha-se o Mercado Novo, o do peixe, junto ao
mar. Item almstecido.
Do lado opôsto pa|>agaios e outros pássaros de bela plumagem
estão à venda ao lado dos legumes e frutas dc tòda a casta e de
todos os cantos do Globo.

Misericórdia (sic )

Para tratamento tie inválidos, e fundada cm 1582, c um edifício


amplo. limpo, dc excelente construção e bem mantido. As casas da
— 89 —

cidade du seu ]»trimónio trazc.ni a porta principal tuna inscrição re­


cordando tal circunstância.
Cerca de dois mil enfermos ali encontram minoração de sofri­
mentos e a única formalidade que déles se exige é um atestado de
pobreza assinado por pessoa respeitável sem o que se requer do
solicitante tima soma módica como pensão. Dispõe de um hospicio
para dementes e um asilo a êle conjugado para a reeqição de órfãos
que são liem tratados e educados, em é|x>ca a isto conveniente. Dez
mil crianças foram num lapso de nove anos entregues à roda da
instituição.
Existe mn Recolhimento. <m instituição religiosa feminina, de­
s m ie n te da Misericórdia em cujo recinto reina regime conventual
sem que porém as recolhidas sejam obrigadas a voto.

Hospital Militar
Grande e sólido edificio bem situado p ira p aler gozar de pleno
frescor da brisa marinha. Tem capacidade para várias centenas de
enfermos masculinos. Xas suas vizinhanças há importante Quartel
que é o mais evidente da cidade e ainda o Velho Forte do Monte e
pequena ca|X-la consagrada a São Lourenço.

Catedral
Consagrada a São Sebastião crgue-sc sobre n outeiro agradável
déste nome, em lugar famigerado nos fastos primevos ddo povoamento*
local. A igreja ê edificio Inixo. singelo e sólido, oblongo com dois
pequenos torreões, mas sem janelas.
O interior é muito pouco ornamentado e os altares muito sin­
gelos.
Nas cercanias existem vestigios de fundações mais avantaiadas.
Perto ergue-se tuna coluna de felaspatp cinzelado a quatro pés acima
do solo com dois de largura e um de profundeza. IX- um lado nota-se
o brazão de Portugal. do outro o da Ordem de Christo. Supõe-se
que >e trata de padrão idêntico àquele pelo qual se dix-umentou a
tomada da posse do Brasil e trazido da Bahia quando da construção
da igreja.
<> Rio de Janeiro foi provido de bispado em 1776 (sic !).

Tejara (.rir)
No meio daquelas elevadas e altaneiras montanhas distante de
cérea de nove milhas, acham-se as cascatas da Tijucam. uma das
coisas mais interessantes existentes nas vizinhanças do Rio de Ja-
— 90 —

neiro. A subida até cias, por cutre altos rochedos estava, até última­
mente. eriçada de dificuldades e a descida pela encosta oposta ainda
é perigosa. Uma série de belas cascatas forma em baixo um lago
•magnífico.
A estrada vai ter a uma esplanada de 150 pés em quadra, centro
de duas espléndidas catadupas. Descem as águas por áspero precipício
peqiendicular de cem pés de altura e atravessando a esplanada forma
logo depois segundo salto de igual altitude.
Um bis|K> fugitivo e seu séquito retirando-se da cidade que caíra
■em poder dos franceses em 1710 foi quem descobriu éste longínquo
iretiro.
Escavaram-se nichos nos rochedos para nêlcs se colocarem san­
tos de que ainda restam pedaços mutilados cm dois altares de pedra.
O distrito de Tijuca é grande e pertence principalmente a unia
única pessoa o conde Dasceca (sic ). Cafeeiros ali se tem plantado
•com grandes resultados.

Escaleres

A maior parte dos escaleres e canoas que navegam pela baia


dispõe de tenda ou camarote de tona e duas grandes velas triangu­
lares. São. conforme o tamanho, movimentados por quatro, seis ou
•oito negros, cuja atitude selvática e esquisita, membros nus e tatua­
dos. causa extraordinária impressão aos europeus. A cada remada
levantam-se e batem com as nádegas nos bancos, invariavelmente,
fazendo acompanhar ao trabalho por alguma melodia nacional sei
vagem que vociferam com o maior entono possível.
O homem ao leme é geralmente algum mulato ou branco.

-S'. José
A Igreja de São losé ergue-se na rua do seu nome, atrás do
-palácio. E ' a mais velha |>aróquia da cidade, templo dc construção
.maciça, baixa, escuro e lúgubre.

O Palácio

tá palácio real c o mesmo outrora ocu|>ado pelos vice-reis acres­


cido da Igreja. Convento dos Carmelitas c do Senado da Câmara.
•O primeiro destes edifícios acha-se do lado meridional do larg o . o
último nó ocidental. No norte da praça há um renque de casas parti­
culares e no quarto lado belo cais dc granito com degraus para o mar.
— 91 —

< > paço vice-real ocupa uma área de setenta jardas sobre vinte
■e seis coin pateo interno alieno e arcadas centrais. Nove janelas eni
renque dão para a liaia e vinte e quatro para a praça.
Guando inorada dos vice-reis ali se alojavam a Casa da Moeda
c uma cadeia.
Eoram anillas logo removidas e fêz-se a ligação do Paço com o
convento dos Carmelitas por meio de passadiço coberto.
O andar terreo acha-se agora tomado pelo corpo da guarda,
repartições, etc. O superior dispõe de bela série de cómodos utilizados
nos atos públicos.
A parte terrea do convento abriga as cozinhas e o andar de cima
a famulagem.
A arquitetura e muito chã e o conjunto recorda muito mais algu­
ma grande fábrica do que um paço. Em frente à fachada, que dá
para o mar, há grande fonte com ares de lórre.

.1 Capela Real

Era óutrora a igreja dos Carmelitas. O acesso à porta oriental.


<le Imã altura c proporções, faz-se por meio de poucos degraus lar
gos. Cl interior é amplo e liem iluminado eom forro alto hem pin­
tado onde se notam alguns líelos espécimes de liem entalhados anjos,
santos, etc., e profusão de dourados. .
Reparte-se em nave, pequeno transepto e capcla-mor.
Os dois lados da nave são destinados aos homens, reservando-se
o centro ás mulheres que se ajoelham ou sentam-sc no chão sem dis­
tinção de classes. Por baixo ficam os jazigos.
A capela mor é espaçosa e atapetada. A direita há um altar
magnifico acima do qual se vé uma pintura representando Nossa Se­
nhora cobrindo com o sen manto a rainha Dona Maria e a familia
real recém chegada ao Brasil.
Ao centro ergue-se o trono episcopal c à esquerda a tribuna real.
Sõbre a porta da entrada está o coro dispondo de líelo órgão.
A frente da grade do çórq destaca-se a cabeçorra esculpida de uni
infiel, cuja face exprime a ira e a consternação e com os grandes olhos
intencioualmentc fitos no crucifixo do altar mor. Tem a boca aberta
e a ela vem ter um conduto que se liga a um dos tubos do órgão.
Em certos pontos das cerimônias e ao se fazer a elevação move
o organista determinado registro e das faces do pagão surge lúgubre
grunhido.
Junto á capela régia está a dos Terceiros (Carmelitas), mais ou
menos do mesmo tamanho, mas muito menos esplêndida. Tem a fa­
chada de cantaria parda e portas notavelmente belas.
— 92 —

A Biblioteca Real aclia-sc instalada nesta parte du palácio. Com­


preende de sessenta a setenta mil volumes. Trouxc-a de Portugal <•
rei defunto e nos últimos tempos recebeu o reforço da livraria do
conde de Barca livros modernos c estampas que importaram em
15:530$900.
Abre-se a Biblioteca ao público diariamente, por es|xiço de seis
horas.
Candelária
Esta igreja é o mais nobre dos edifícios, deixando muito longe,
atrás de si. os demais.
Representa o mais belo espécime de Ixmti gosto c magnificência
de que o Rio pode vangloriar-se. Tem dois campanários e a fachada
ricamente ornada. O interior c igualmente elegante. Ali diariamente
cclel iran i capelães.
O Palácio do Bispo
() Paço Episcopal é muito grande e bem edificado. Ao andar
térreo octqjado jxtla Cúria circunda uma arcada. Grande, jardim
atrás do edificio dá passagem para a Fortaleza da Conceição, a mais
poderosa obra de defesa da cidade, propriamente dita.

São Bento
O principal mosteiro do Rio erguc-se sobre líela eminência ro­
chosa c domina largo cenário da cidade c da baia. A ladeira que lhe
dá acesso é muito áspera. Conduz a um pateo atijalado resguardado
)Mjr parapeito. A extremidade de tal área está a capela (sic) cons­
truida há cérea de um século. Tem dois torreões providos <lr reló­
gios e sinos. O interior é realmente (sic) esplêndido c encerra muita
obra de talha, dourada r belos altares.
A casa c grande com um ¡lúteo aberto cercada por arcadas ao
centro e dispõe de agradável refeitório na ante sala do qual se acha
velha c curiosa pintura. Representa a Árvore da Vida em plena
florescencia. Cada flor «pir apresenta certa semelhança com uma
rosa encerra um monge lieneditino envergando o hábito de sua Ordem.

O Arsenal
Até últimamente éste departamento de Estado vivia muito aban­
donado.
Sob o atual imperador tem melhorado rápidamente.
- 93 —

Vários navios ali se construiram, preparando-se ao mesmo tempo


material naval de todos os tipos. Em alinhamento com o Arsenal
acham-se a Bolsa c a Alfândega e ns armazéns e cais déles depen­
dentes .
Ilha das Cobras
A ilha das serpentes é um rochedo de suas trezentas jardas de
comprimento de leste a oeste. O cume onde se ergue a cidadela,
pequeno fortim quadrado, acha-se a oitenta pés acima do nivel do
m ar. A extremidade oposta jcira a qual ela gradualmente descaí só
tem oito pés.
Compreende prisões de Estado, docas, armazéns para couros.
■|teles e açúcar e depósito de material naval. Detendem-tia trinta e
seis peças. Os maiores návios ¡xirlem ancorar em redor de tóda a
ilha. Do lado do norte fundeam os barcos mercantes com o fito de
carregarem e descarregarem saveiros.

lllta dos Ralos


E ’ provavelmente assim chantada ]>or ser infestada jx>r éstes
animais, bicltos de enorme tamanho e muito numerosos na cidade
Aos espécimes da raça canina quase não respeitam l.'ns c outros
são frequentemente vistos alimentando-se, lado a lado, nas mesmas
imundicies de monturo. Tal o poder de seus dentes que frequente­
mente vê-se uma porta grossa por eles perfurada, obra de uma noite.

Sorra dos Oryoas (sir)


As montanhas dos Orgoas representam a principal cadeia do
Rio de Janeiro, dividindo a Provincia em dois distritos. A parte que
mais distintamente se assemelha ao objeto de que se lhe derivou o
nome constitui uma série de rochas piramidais. cujo aspecto relembra
os tubos rlc um órgão separados por vales profundos, estreitos e ven­
tosos a trinta c sete milhas de distância.

Ilha do Gmvniardo (sir)


A ilha do Govcrnardo representa mais ou menos o centro da
baia.
Tem forma irregular, contando duas léguas de leste a oeste,
com muitos promontórios e regatos. Constitui a paróquia de Nossa
Senhora da Ajuda. Era outrora reservarla á Casa Real, mas depois
da revolução foi franqueada ao público. Nela há duas muito grandes
plantações de cana.
• 1’ra.ya Grand»

Pequena abra dotada de larga praia. Lindo c agradável lugar„


por t<>da a parte enfeitada pela presença de belas chácaras, planta
ções, etc. E ' muito populosa e tem presenciado mais transformações
vantajosas do que qualquer outro ponto tia baia.
Muitos particulares jaira lá se retiram durante certos meses para
gozarem dos benefícios dos banhos. O polio que ali há estabelece
ligações com todo o oriente da Provincia c as estradas que vão ter
ao Espirito Santo e Põrto Seguro.
A tropa portuguesa foi desterrada para ali quando o imperador
se viu chamado ao trono ate que se providenciasse a vinda de trans­
portes para a sua transferência a Portugal.

l J edra Prinuiro I.Viiuj


<lutrora Martini de Freitas, mas totalmente restaurada e embe­
lezada, sob as vistas imediatas do imperador.
E ' muito bela nau de duas cobertas sem popa e armada de setenta
e oito bocas de fogo. A 20 de março de 1823 nela arvorou Lord
Cochrane o seu pavilhão de almirante.
MEMÓRIA SÓBRE A DECADÊNCIA DAS TRÊS-
CAPITANIAS. E OS MEIOS DE AS REPARAR
JOSÉ MANUEL DE SEQUEIRA

EX PLICAÇÃO PR ELIM IN A R
A 13 de maio de 1795. o duque de Lafôcs, presidente da Rear
Academia de Ciências, deferiu o requerimento de **José Manuel de
Sequeira, presbítero secular, natural da vila do Cuiabá da Capitania
de Mato Grosso” (1 ).
A frei José da Costa e Azevedo, que dirigia o ensino respectivo
da "aula de Jesus”. coube atestar, três dias depois, em cumprimento
do despacho, que "o reverendo suplicante frequentou por espaço de
três anos as prelcções <lv História Natural, aproveitando cm todos os>
três reinos da Natureza, jxirém com maior progresso no estudo da
Botânica, concorrendo ¡jara este fim a facilidade de desenhar plantas,
que faz realçar o seu merecimento neste ramo. Convento de N . Sra.
de Jesus de Lisboa, 16 de Maio de 1795” .
Para comprovar o aproveitamento nos estudos, a que o impeliu
acentuada vocação. elalxirou por essa época três memórias, referentes
a plantas úteis.
"A primeira continha as virtudes c prestimos da ¡dropifrer. persi-
cario itrrnx, pecegueira brava cm Portugal c erva de bicho no Brasil.
“ A segunda sóbre a palmeira Corifa. aliás buruti do Brasil, onde
descreveu os seus prestimos c utilidades econômicas.
"A terceira sôbrc odafrhne yiyas, aliás embira branca de São
P aulo..
Graças a tais contribuições, que lhe foram oferecidas, a Real
Academia admitiu-o em seu quadro social, mediante diploma elogioso,
de 10 de maio de 1796, que lhe declarava, em latim, traduzido pelo
arcebispo Dom Aquino Corrêa:
° Á tua erudição, por nós bem conhecida, através do testemunho
de muitos c principalmente dos nossos sócios, levou-nos a te convi-
(1) Essa como as outras citações encontram-sc na memoria "invenção,
da (asea Peruviana chamada quina vulgarmente, achada no Cuiabá, no ano
de ¡ÍW”, /ò-tit/u do hndilttlo fíitiMco de Ifa/o Grasso, n. XV. 1926.
— 96 —

•darmos para tomares parte em nossos trabalhos, certos qur do teu


sal>er c industria muita utilidade e vantagens advirão às letras e às
boas artes".
Enaltecido desta maneira pelos sabedores. julgou-se credenciado
para pleitear a cadeira de Filosofia Racional e Moral, que então se
abriría cm Cuiabá.
Nomeado. resolveu ampliar as próprias atribuições cm que apli­
casse :>s novos conhecimentos.
E no passaporte que lhe permitiu a travessia figurou a que pre­
tendia.
De regresso ao Brasil, com a autorização concedida, a 18 de
novembro de 1796, por Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, para que
"possa observar e indagar os produtos naturais" nas "Capitanias |w»r
onde transitar", saltou nr» pórt o de Santos a 1 de maio seguinte.
Sem tardança, principiou a trabalhar, conto desejava.
Ar» arrolar mais tarde as suas atividades, mencionou a descoberta
de águas férreas cm São Vicente, e "ensinou o uso delas": da pedra
<lr cal. em Parnaiba. "quase an mesmo tempo que João Manso Pereira
lambem a descobriu cm Sorocaba"; a "pedra ou mina de ferro"
cm Vila Boa de Goiás, onde "fez fundir uma barra qne entregou ao
Exm.° S r. Tristão da Cunha e Menezes, então Governador Capitão
General daquela Capitania": a árvore, "que produz o papel em lugar
da epàlrnne". na serra "Doirada. que dista de Vila Boa tres leguas"
c finalmente a "pedra flexível, que o vulgo chama elástica".
A 15 de julho, afinal, terminava a sua alongada peregrinação,
ao atingir a cidade oíale nascera. <|uand«» ia cm meio <» século.
Pela segunda vez. tornava a buscá-la. apó> ausência causada |x»r
•anseios culturais.
Da primeira, jornadeara cm companhia do padre Francisco Xavier
«los Guimaraes Brito c Costa, seu conterrâneo e colega, também orde­
nado de presbítero pelo bispo do Rio de Janeiro. Dom José Joaquim
Masrarcnhas Castelo Branco.
Rccemchcgados. ambos estrearam na Matriz cuiabana. |M»r ocasião
do Xatal v Ano Bom. cm que se revesaram junto ao altar c no púl­
pito (2 ’1.
X'o primeiro dia. o padre Brito incumbiu-se do oficio religioso,
e o parceiro pregou. Xo nutro, alternaram-se os encargos, caliendo ao
padre Sequeira celebrar a missa. Insatisfeito, porém,♦coin o saber .ad­
quirido. decidiu aprimorá-lo cm centrode maiores possibilidades.

(2 ) Elogio do padre José Manuel de Sequeira, pelo sócio e presidente


de honra. Dom E randsa» de Aquino C orrêa. ¡>r<»i trido cm sessão d o ( Centro
Mutogrossensc de Letras, a 12 de dezembro <lc 1925. Revisit! do htslihtlo Mis-
.tdrico de Malt> Grasto n . X V . 1926. . . .

.- <•
— 97 —

E na década seguinte, ertutou o Atlántico, á procura de fontes


claras de ensinamentos, em que se abelx-rou, consoante certificaram
os mestres.
Decorrido <> primeiro quinquenio de ausência, voltou com o ti­
tulo tie professor de Filosofía Racional e Moral, que não lhe liastava
á curiosidade cientifica.
l’or isso, ao comunicar ao capitão general. Caetano Pinto de
Miranda Montenegro, a carta régia, que o nomeara, peditt “ junta­
mente venia para nas horas vagas explicar a Filosofia natural aos
que se quizessem a elas aplicar".
Não obstante estimulado pelo governante, que lhe aplaudiu a
sugestão, pois "se fosse necessário até lhe pediría isto mesmo encare­
cidamente”. com o intuito de atenuar a "grande falta desta qualidade
de conhecimentos e os mesmos trabalhos minerais, o objeto principal
da sua indústria praticam-se aqui por uma rotina cega", não teve
éxito a iniciativa. “ Nada se efetuou a respeito deste projeto do In­
ventor. afirmou o padre Sequeira, pois qtte convidando já um já muitos
dos seus |>atricii>s sempre se lhe respondeu que se tem vivido muitos
anos no Cuiabá sem história natural, e alguns mais se adiantaram
considerando ao Inventor maníaco, quando saia a indagar c examinar
produtos da Naturesa".
Não obstante incompreendido em seus anseios de propagandista
cultural, que esmoreciam sem ressonância, persevemu o padre Se­
queira nas indagações de suas preferências. Incumbido pelo capitão
general de “ empregar os seus bons conhecimentos que tem da H is­
tória Natural, tanto nesta importante descoberta (salitre), como na
de quina do Peru”, não sámente apontou os sitios mais adequados
ao ensaio da produção do sal. conto ainda zanzou pelos cercados c
matas dos arredores, â procura da planta preciosa.
E acabou por descobri-la. conforme asseverou na memória inti­
tulada “ Invenção da Cásea Peruviana chamada Quina vulgarmente,
achada no Cuiabá, no ano de 1800”. que a Revista do Instituto H is­
tórico de Hato Grosso publicou em seu número X V de 1926.
As amostras enviada* a l.isltoa coníirmarani-lhc as conclusões,
aplaudidas pelo Aviso de 7 de abril de 1801, que assinalou “ não há
dúvida que ê uma espécie de quina, e boa". Para os Ixttânicos moder­
nos. porém, não prevaleceu o diagnóstico. Assim. F . C- Tloene. que
tão a preceito conhece a flora inatogrossense. colheu, nas imediações
de Cuiabá, o Stryclinos fseudo quine» (S t. H il). que se lhe afigura
ser a planta a que se refere o naturalista cuiabano. Como, igualmente,
as outras por êle examinadas, serão, na atualidade, o Polygonum
acuminatum (herva de bicho), a Mauriliu viuifera (buriti). Funifera
utilis (embira branca), Tiboíicliinia /sr/tyri/rro (árvore de papel).
— 98 —

Ao proferir, a 12 de dezembro de 1925, no então Centro Mato-


grossense de Letras, embrião da atual Academia, o elogio do padre
Sequeira, a quem tomou para seu patrono, o arcebispo bom Aquino
Corrêa traçou-lhe primorosa biografia, na qual mencionou, além das
anteriores, a memória do "Descobrimento dos M artírios”, que o gene­
ral Couto de Magalhães anexou à sua obra. “ Viagem ao Araguaia”,
e a derradeira, acerca da “ Decadência das Três Capitanias c os meios
de as Reparar".
Da última apenas citou a referência contida no Dicionário de
Sacramento Blake, sem ter conseguido manuseá-la.
Figurou, por dois exemplos, na Exposição de História de 1880,
c depois sumiu.
Surge agora a lume, graças á gentileza cativante do major Bara­
tillos Antunes, a quem devemos o obséquio da cópia, que a Revista
divulga, sem os desenhos, por ventura ainda existentes na Academia
de Ciências de Lisboa.
Não destoa das outras memórias, a cujo respeito conceituou o
seu preclaro panegirista.
“ Delas se depreende a sua paixão pela ciência, a sua dedicação
aos estudos e o seu próprio espírito, que. apesar de algum lanto suce-
tivel. se nos entremostra jovial, prático, entusiasta e, o que mais
importa, amantísshno da sua terra” .
As restrições que a técnica moderna poderá apresentar contra
as idéias do padre Sequeira não desmerecem a excelente contribuição
que trouxe para o histórico da mineração em Mato Grosso, e o exame
dos processos de trabalho então usadas em suas lavras auríferas, com
a terminologia respectiva.
V . C. F .
M EM Ó R I A
Que josé Manoel de Sequeira, Presbítero Secular. Proffessor
Regio de Filosofia Racional e Moral da Villa do Cnvabá, Acadêmico
da Real Academia das Siencias de Lisboa enviou à mesma Academia
sobre a decadencia actual das tres Capitanias das Minas c os meios
de a reparar: no anno de 1802. Sendo as Capitanías de Minas no
Brazil o principal ñervo do Comercio das Capitanias de lieira mar. e
ainda mesmo hum dos fulcros do Estado pelo preciozo c primario
metal que se extrahe das entranhas da terra são com tudo estas Capi­
tanias Centraes mais infelizes, que as outras.
As Capitanias de beira-mar com as suas importaçõens, e expor-
taçõens florecen,; e as de Minnas que só exportão o oiro, se vem
hoje em dia cm grandíssima decadencia porque este tirado huma vez, e
removido para beira-mar nada fica senão alguns escravos, e fazendas
que ncllas se consomem.
— 99 —

E quem não vê que donde se tira c se não jxjem necessariamente


lia <le faltar ? <1) esta pois he a principal cauza da decadencia das
Minnas c da penuria em q. vivem os seus habitantes.
O Comerciante que hüa vez perde nas suas mercadorias, fica-lhe
a esperança dc ganhar em outra carregação: o lavrador cujo fructo
deo em baixeza guarda e conserva os viveres até q. tenhão tnclhcr
preço: o fazendeiro de gado ainda que por annos nâo alcance melhor
preço de bois e da carne, cotí tudo consola-se em conservar a sua
casa farta; porem o misero mineiro posto em hum exercício, que
jamais tem principio algum certo e em procura do que não perdeo,
lie o homem das esperanças ou o prodigo do seo e do alheio c que
se não acha o q. espera perdesse a ai, perde ao lavrador, perde ao
Comerciante e com este receio há mui poucos mineiros (2 ).
Esta he a segunda cauza da decadencia das Minnas.
A Capitania de Minas geraes tem dado algftas providencias man­
dando carregações de queijos, toucinhos. carnes salgadas de porco, c
tabaco em rollo p.a o Rio de Janeiro: porem que comercio pôde este
ser q. equipare a grandíssima despeza de ferro, asso, e escravos, q.
se precizão p.a as Minnas? A Capitania de Goivazcs m.t o pouco
exporta em effcitos dassucares e toucinhos p.a a Capitania dc P a rá :
e a Capitania de Mato-Grosso q . he menor das duas nada exporta,
st/tdo a proporção, a mais abundante de todas. Disse mais abundante
por conter mais oum em s i; e o seo terreno por participar «Testaçoens
regulares, expontaneamente produz ni.'° milho, muito feijão, arroz,
assucar e muito gado ( 3 ). O s rios são abundantíssimos de peixe (4 )

( 1 ) Q u id quid dicant A A cu estou que o ouro actualm ente se não


crin porq. aliás tcrnc-hia encontrado nigua m ateria inform e ou ao menos
algua «le que se confiasse ser a p rim itiv a do o ir o ; o que até ao presente
não tem acontecido.
( 2 ) Este term o M in e iro significa Senhor d’escravos, no exercício dc
m in era r c não no sentido dc Cabouquciro.
( 3 ) N ão he raridade prnduz:r o m ilh o na C apitania «Ir M ato-grosso
100, 150, 200 alqueires jx.>r alqueire. O algodão lie ta nto q . ainda lavrad or
alg um colheu ou poude colher q L " se lhe offeree? á vista. A s caimas d’assnrar
amadurecem cm 6 mexes quando cm be ira-m or precizão dc 2 annos; da mesma
sorte a mandioca. q . em 6 mexes estão as suas raizes prom ptas. \ produção
do gado he prodigiosa de sorte que nem os mesmos creadores sabem jam ais
o num ero do que possuem.
( 4 ) H e ind iv iz iv c l a quantidade de peixe, q . no M ez dc M aio sóbc
todos os annos o Rio Cuyabá, e nclle permanece até c M cz de Dezembro
dc sorte q . os m oradores da beira do R io 30 legras R i¿ acima, c R io a
baixo, só $c sustcntüo dc peixe, apezar dc tantos annfmass destruidores. que
o perseguem.
— IDO —

c coni ludo he pobrissimr a O pi tai lia por falta ¿ ’industria p ? a mine­


ração, industria p.a o Comercio, industria p.a facilitar a lavoira.
Tem havido grande descuido cm todo o genero de Fabricar no
Brazil, cm fazerem cazas <> escravos a fim de 05 ter com algum
trabalho, c nenhum custo: pois os q. vem ¿ ‘Africa, alem de serem
buçac* e serení precisos anuos p.a nos entenderem, c serem entendidos
>ãu de altíssimo preço cm beira-mar: razão porq. 05 comerciantes
introduzem fxmcos, e faltando braços hc claro que não pode o Mineiro
emprehender grosso serviço. d onde espere grosso cabedal e os es­
cravos crioilos tem a vantagem de perceberem nirihor o q . se pert ende
e quando nâi» são creados à redea *oha se adject ivão melhor ao serviço
c são menos sujeitos a dezerçãc» c fuga do q. os pretos Africanos. £
ris aqui vemos <pn* a 3 ? cauza da decadencia das Minnas he a falta
¿’escravos.
Para reparar | m»:s esta vizivcl decadencia não descubro (5) senão
3 nidos: l.° Invenção de novas Minas (6) — 2." A extração tío
oiro por industria que facilite o trabalho, e pou|x.* o tempo de q.
se segue extrahir se o mesmo ouro eni menor tempo, e por isso com
muita conta: 3.° — int roducção de dinheiro moeda r provincial.
Parecerei prolixo: porem materia de tanto pozo se não póde. e >c
não deve tratar superficialmente.
Estão as Minas Cansadas: os seos jornaes ja não cobrem as
despegas do ferro, aço. alimento, e vestuario dos escravos, e por isso
o mineiro já desesperado se passa a lavrador «»u creador de gado, ou
erije hum engenho de agoa ardente.*, assttcar ¡xirem onde se poderá
dispor, e qual o equivalente p.a formar a troca q. >e chama compra
e vetída? (7) E porque se não procura inventar noras Minas? § pon.,
senão examinan campanhas incultas, c ainda aquellas cm q- sr não

(5 ) \> M inus Geraes davãu rk Quinto.- a Fazenda Real 100 a rrob a>
de c rirc / 1.Ü 8 S Cruzad» ».*/ todo* o * annus, <• *p !*jn v n -!lic o tro : boje cm dia
m c a títrm ã o q . estes uuntai.* q u into * apenas chegão a 41) a r r o ta s ; aliás 491S
c ru z a d o , c vis aqui maniívsfa a decadencia actual das M inas q . sempre irá a
tnnis se não se reparar.
(6 ) !)<• algumas tento? tradição ck <1. e x iste m ; porem n innvrcin c
innaçâu dos Povos destas C apitanin* riâu perm it tem indagação; nem menos
o exame de Campanhas v irg e m v assim fic arã o sempre até q . haja quem
fomente esta neressaria dilig e n c ia . Desk- mesmo Cuyahâ eu fr.rm c <» exem plo.
Quem *a ta ou vi»» o vast»- sertão q . medeia entre os caminhos de te rra pi».
Goyaz. c o de R io y a . S . Paulo? Quem jam ais exam inou a vasta extensão
de te rra q . medêa entre • d o i- Rios Arino.* <■ \raguaya.* E ninis q. .*e
sabe q. nesses Ivm itc* existem as grande? M inas <lòs M a rtirio s .
(7 ) Esta «órnente he n razão porque no C tty flta se vende a medida
aliás ranada d'agoaardcnie de canoa a 24Hr>. e o n rra tc l de assacai* a 40 rs.
— 101 —

achín formação? iS) Eu oiço a re-posta: porque nesses exames sc


perde o temjKi. «e fazeiii desjtczas. e a final quern genie he o curioso
indagador, que ninguém lhc agradece a deligetictn c menos se dóe
da sua infelicidade quando mal succedido.
§ E porq. senão poderá fazer esta deligeucia dt> descuhrimcnto
do ouro â custa d >publico, c não do particular?.. Não he verdade <j.
todos páriicipão mais e menos dos descobrimentos? Demos de cazo
que se não acha óiro. não se descobrirão prata, cabré, estanho, chumbo,
e ferro. Não se acharão Diamantes, Ruliitts. Safiras, Topazfos, criso­
litas e esmeraldas, c outros muitos mincraes. q. assaz jwideni servir
para o tizo de umitas fabricas e da Farmacia? Podem dizer-me que
não ha quetn fomente este artigo tão importante e menos quem co­
nheça esses metaes mineralizarlos. A» q. cu tomo q. a falla de um
Mecenas he o principal: porq. havendo este, elle procurará e man­
dará Naturalistas ou sujeitos habéis. que tenlião aletn d:> Conheci­
mento da Natureza, inelinaçãc, c propensão aos descobrinieiilo-, e
não aquellos q . p.“ encubrirán a sita ignorancia se occuparão ent
escrever coizas Item inúteis, e talvez por informaçoens. A Prata, o
estanho, e o cobre serão privativos das Minas d'Espanha, d'Inglaterra,
e da Suecia?
Tamhem a quina Peruviana parece» propria somente de l.oxa,
Cuchahatnba. Vayaqnil no Peru e com tudo, eu no Anno de 1800
assaz mostrei que havia Quina nas Serras dc Cityaha. e sendo as
mesmas que atravessando q Brazil entran pela America d'Hespatiha:
§ porq. não podem conter ja nos seos setos e ja nas suas traídas
Minas de Prata? Conheço a diífiettldadc v o trabalho dc hum exame
a q. chantão Socavação (9 ) mas porque se não tiza do trado ou

(S l Formação chamán os Mineiro* no Brazil; «¡. dt baixo da terra


hntn<« sc acha terra c pedra. dianmo hurga Ihão; mais nltaixo outra mau
«errada q. algún v eiei já contem uiro. e se chama Dcrtm.utc: e mais abaixo
A rg il In V xaihro. c quartzo q. <? chama Cascalho c hc onde ordinariamente se
hospitaliza <> oirn afinal sobre o Schisto a q. chamão picara. A pw ar r|c«ta
chamada formação se acltri ouro bntb» em prdaçe-* <■ M?m figura regular à flo r
tia terra; porem quasi sempre misturado, nu concomitada a ocre mania! q.
chamão tapanhnaranga tdiá.« cahcça de X'«gro. Os Min.uro pois prcocupndos
corn esta chamada, formação ritmai pc.vurão i.nro ¿e não nos lugares rm q. a
arhão.
(91 Socavação <e diz mi> Minas os |x>ç"S q. «e obrem p:i. examinar
Os campanhas q se «uppocm aurífera*. O mod*, he nu." grosseiro; porq. A
força de hraços rompem n terra fazeurlo poço* ja quadrado», c já redundo»,
r com «muxlo dc. -.c puder menear trabalhador no «r<> centro, e cada hunt
peço <c chama Socávãó •• éste Itc o único methódo dOxame.
— 102 —

verruma de perfurar a terra c sondar us iniiieracs como ua Europa?


(1 0 ). Então etn poucas horas se examinará hita Campanha q. pelo
grosseiro e trabalhoso niethodo costumado, certo senão examinant
huma Campanha ent muitos dias. Os mesmos rios q. fluindo pelas
terras auríferas contem no seo leito oiro, e geminas peregrinas ainda
estão virgens. tudo por falta de instrumentos pa. o exame; He para
admirar q. em cada huma das tres Capitanias de Minas se adiem
tantas e tantas Campanlias, rios, e Serras pa. examinarem-se! E
esta inercia tem a sua origem na falta de hum Mecenas, e no receio
q. já tenho exposto. Hajão pois cxpediçoens annuaes, c pa. diversos
terrenos a inventar novas Minas e terrenos novos descobrimentos e
grandes interesses assim pa. a Real Fazenda, como pa. os partlcula-
res. As despeaos devem sabir do Publico auxiliado p. S. A . R ..
aquem os povos das Capitanias devem recorrer afim de lhes dar os
indeviduos Sertanejos pa. a expedição do Sertão. O s meios u Mesmo
Snr. Subministrará c talvez se acorde da feliz lembrança que teve
o Snr. D. Pedro 2.° Seu Angustissimo Avô escrevendo a Capitania
de S. Paulo invitando aos moradores pa. a empreza da conquista
dos sublevados pretos do grande quilombo dos Palmares em Per­
nambuco (1 1 ). O único meio de q. me lembro/ sc he licito a hum
simples vassalo indicar meios q . só completem ao Soberano/ era o de
hum Decreto Real pelo qual se perdoassem todos e quaesquer delitos
antes cometidos q. não forem de Leza Magostarle aos facinorosos que
vivem prófugos e foragidos e q. espontaneamente sc apresentarem den­
tro de certo tempo pa. serem occupados no exercício do Sertão pelo
tempo q. merecer a gravidade do delicto. Então se a juntarão muitos e
muitos sertanejos com o interesse de voltarem aos seos domicilios, e
sem muita despezá fazerem-se as cxpediçoens que o vulgo no Brazil
chama bandeiras. Este he o principal meio de reparar a decadencia das
Minas, ao mesmo tempo, q. he o mais incerto por dependencia da
sorte. Agora passo a propor o segundo q. he o mais seguro e o

(1 0 ) N o anno dc 1804 quando eu jã tin h a enviado esta M em oria


Real Academia Lui a V .* Belta ('a p ita i de M ato .g ro sso onde v i alguns trades
de fe rro q . de Lisboa tinha trazid o o D o u to r N a tu ra lis ta A le xan dre Roiz
F erreira achei-os Com m uita im perfeição; então scube que o (in v ern ad or
C apital General Caetano P t.* de M ird .* M ontenegro mandou po r em pratica
alguns d 'aquellos tra d e s : porem sem c f fe ito nu p. insuficiencia delles; ou
po r im p ericia dos q . a nxanejavão. N o fim desta M em oria eu ad ju n to as
configuraçí-ens d ’algutis Irados <|. encontrei nas Encyclopedia antiga c na
A r te dc m in era r nas M inas dc C ham nitz. Tam bém a ju n to hum ira d o da
minha invenção para exa m in ar o leito dos Rios e me parece terá m elhor
c ffc ito do q . a maquina inventada nas M inas-geraes. V id . fig . n." I no I
Dczenho c a fig . 3 do 2.° Dezenho.
(11 ) Q uilom bo ><• diz. nu B ra z il, á povoação cm dezertus cm q . vivem
escravos fu gitivo» .
— 103 —

mais difficil d'entroduzir nos povos M ineiros; e por não ser tão
fastidioso e evitar a prolixidade eu ajunto alguns dezenhos no fim
desta Memoria pa. bem indicar o grosseiro methodo, e céga rutina
com q . se trabadla nas Minas de oiro.
Apezar de que falo nesta Memoria de todas as Minas do Brazil,
com tudo eu me cinjo ao q. prezencei nestas de Cuyaba na Capitania
de Mato-Grosso.
A s Minas de oiro desde a sua origem não conhecem outros ins­
trumentos pa. a cxcavação e exercício de minerar senão a lavanca.
almocrafe. batéa, carumbé, e próximamente m arreta/ Vtd. no Dez
as fig. 2. 3. 4, 5, 6 . / E com esta ferramenta nu lugar da con­
fiança rompem a terra ã força de braços aq. chamão desmontar/
Vid no tn."“’ tig. 7 / e quanto mais se profunda mais e mais trabalho
se augmenta até que chegando ao cascalho, aliás saibro argiloso q.
descansa sobre o Schisto. vulgo pissara se extrahe o oiro por lava­
gem q.d o h a / Vid o Dez 2." fig 1.°/ ou se conhece a perdição quando
se não acha. Ao trabalho de desmontar acresce o d'esgolar a catta
q . he o fosso aberto perpendieularmente, cujo esgoto fazem abraços
dos escravos sobre os receptáculos a que chamão pias/ vid o Dez
1." fig. 8.’/ Este he o methodo de tralialhar nos fundoens. a q.
chamão tyucáer tabuleiros, e teixos dos morros- O segundo methodo
he o tralialho tamlicm a sêco a q. chamão de latatal ou guafieára
(12) . Este methodo hc mais fácil: porq. a guapeara em fiarte tem
12, até 5 [raimos d’altura, em fiarte pouco mais, e então tirão a
terra fazendo rasgoens, e apartando as pedras, passão corno joei-
rando a terra a que chamão coar pa. apartar-lhe as pedras miúdas
afim da lavagem/ como se vê no Dez 5.° fig 9 / Este methodo de
todos he o peior pois q. desperdiça o ouro cento por cento porem a
necessidade he quem obriga a coação da terra, e formar caxambú
(13) e por penuria dãgoa lavar em luyaca ( 1 4 ). O terceiro methodo
he o mais aceado, mais commodo, e de mais utilidade, c se chama
serviço de talho aberto, q. se desbarranca com agoa pa. cima, e
he todo fundado em lavagem dês d'a surapilheira alias terra humosa,
até o schisto ou pissara. q. também a quebrão, e lavão. § Porem

(12) Guapeara, termo gentílico q. eeguifica cute» de terra e tamliem


se diz batatal.
(13) Caxambú. termo da língua dos pretos da Costa da Minna q.
segnifica monte. E na verdade tem a figura cônica q. se faz necessária pa
lançar a terra na pt-e acuminada: ella correndo abaixo, volta as pedras que
facilm.tr se apartão de terra porem perde-se muito ouro q. acompanha as
pedras.
(14) Luyaca, termo da lingoa dos mesmos pretos da Costa. O methodo
de haver em luyaca he sórdido, q. lie batendo a terra com a m.m ‘ agoa
enlodada, e qd.‘ muito grossa, esgotào o pequeno poço, e lanção-lhr nova agoa
afim de continuar a lavagem/ Vid. Dez. 1.* fig. I?.
— 104 —

onde estão as aguas .superiores que bem possão cubrir os terrenos


auriicros: E quacs os mineiros com posses pa. formarem acueductos
de muitas leguas? A necessidade tem ensinado a formalizar vállos,
q. chamán regos debaixo do preceito do nivel/ cm q. são assaz pe­
ritos os Mineiros das Minas-geraes/ porem resta, q. hajão agoas
,-upcriurés. — O quarto mcthudu he u de seguir os íiloetis de quartzo»/
q. se encontrão horizontalmente pelos montes uu diagonalmcnte pelas
planicies ; a estas Minas chamán d'oíiru de pedra ou vieiro de Cristal,
q. não sãu outra coiza senão os íiloetis de quartzo, q . rompendo
os Schistos conservan no seo interior oiro esparzido; pa. cuja extra­
ção se faz necessária a trituração da pedra por meio das marretas e
l»>r e-te method» feita crua c grosseiramente a trituração du quartzo
possão a lavar em bulinetes (1 5 ). O quinto niethodo he o da fais-
qneira. q. lie o mesmo q. mular colhendo o oiro sem destino certo
i maneira de provas já em outro lugar. Este methodo he o proprío
dos escravos, q. andão ao jornal: e de facto não se faz serviço;
mas somente lavando a terra crua e ainda, por entre as Minas velhas,
acltfm alguns residuos de o iro ; a q . chamán falseas. e daqui o termo
faisqueira./ Vid. Dez 2.°, fig. 2.°/ Tenho exposto todos os tne-
thodos. q. conheço se praticão nas Minas do oiro. c também não
duvido affirmar que são os mesmos que nos ensinarão os pretos da
Costa de Ouro e os mesmos q. se praticão a 100 annos a esta ¿«arte,
de -orte q . hoje o conhecimento maior ou menor do mineiro consiste
na melhor ott prior desposição do serviço, de forma que sem este
me smo, se Itaja de fazer com menos escravos, e ntenos tempo.
Xa Capitania das Minas-gentes se tem inventado algumas ma­
quinas, como a roda do rosario d'esgotar; aqueduetos de repuchos,
e •mlm.-rmueos; e <> ferro de examinar os leitos dos rios já demons­
trados no Dez 2." fig. 3: porem pouco melhoramento sentio a arte
de minerar. Outras me parecem, que deverão ser as maquinas de
facilitar o trabalho das Mitras, q. eu não proponho porque não sei
qual o merecimento desta Memoria, e qual o conceito q . por cila
merecerei; piorem apezar da mornidão, que reina em todas as minas,
eu deverei confessar, q. <> mais ignorante da Capitania das Minas-
geraes ; mais sabe dirigir hum serviço, do q . mais entendido mineiro
da Capitania dos Gpiazes; assim como o mais ignorante desta tem
mais conhecimento do q . o mais entendido da arte de minerar da
Capitania de Mato-grosso; e porq. os Mineiros destas ultimas Minas
encontrão mais abundancia d’oirb, ott de mnis fácil extração <1 > q.

(1 5 ) B u litteie se elranra o lu g a r da lavagem da te rra , q . se faz


itehaixo dn reb ojo da quéila d'ügcra. q . o riz on ta l e artific ia lm e n te caite <fc|m-
çitando neste sitio todo n ouro, q . se despega d'agon ou h a rm conto ja
m ostrei no Dez. 2 ." fig . 1.".,.
— 105 —

us Mineiros (las Minas-geraçs; não se canção ou tralmlhão em faci­


litar o serviço, e nem se íenibrão dalgum a industria com q . cm menos
tempo fação o mesmo q. con dobrado íariãu, e talvez com menos
braços. Eu pois direi ou apontarei o q. me ocorre ligei ram cuite a
respeito da Socavação e desmontação.
Para facilitar a soeavação ou exame das campanhas auríferas
trago as vcrrtimas ou tractos, que encontrei na Encyclopedia, c na
Arte das Minas de Chemnitz na J-Iumgria com o seo aparelho/ no
Dez 2.° fig.- 4 ? / Dclles se poderá uzar com muita facilidade, fa­
zendo mover o a ja rd h o p . lx»is ou escravos. Achado o ouro, se pide
fazer a desmontação fazendo a condução da terra por meios de car­
rinhos de mão, ou costados de bois (16) em ordem a poupar braços;
por q . cada escravo apenas pode conduzir hüa arroba de tera p.
vez quando o boi pode conduzir 8 ou 10 arrolw s./ vid. <.• já de­
monstrado Dez l.° fig. 7.a / Quando a cat ia está pcrfiindadn se pôde
tizar de guindaste ou sarrilhos pa. tirar a terra e pedra, q. depois
dc tiradas facilmente se transjiortão pa. onde convier. Para o esgoto
se deverá uzar das ordinarias bombas de repuxo (17) ou dc com­
pressão, visto se não poder construir bombas dc gazes. Quanto no
serviço dc batatal sendo mais fácil a condução d agon q . a da terra,
já se vê, q. nos costados dos bois podem conduzir grandes odres
d’agoa. r com mais facilidade do q. em barris nos costados da- bestas,
c cabeças d'escravos. A respeito do terceiro methodo fica-me lugar
de lembrar o uzo de Mercurio na lavagem do Bulinete. pois q. sendo
o deposito alias cabeceira do Bulinete de páo. e dc hüa só pessa,
pódr-sc bem lançar em cada Bulinete hum arratel de Mercurio cm
ordem a extrahir assim as -ubtilissimas féculas d'ouro, que aliás
binarão sobre a agua enlodada como acontece (18), e depois lau­
d ó ) Na* Minas de Cuyaba esta em bem tu o servirem -se de hóis
com» dc bestas p a. as cargas. E u tenho projcclndo hum genero dc caixão
pa. esse effeitw n q . sc pode encher c v a ra r -« n ser prccíxo descer ou levantar
o caixão; pois fc enche com a pá r se solta a terra p’»r hunt registo, c deste
modo carregará hum boi p a. 8 cMcraVo*/ V i. Dez 2.* fig. 5.“/
(17) Na éra de 1800 cu construi ru» R io Cuxipó vezinho da V illa
dc Cujtilxi a I." Ikiinbn dc repudio na presença do Governador Cap.ni O n e ra i
Çaçtnno Pinto de Miranda c nu mesma éra de 1800 cu fiz corutrnhir em
punto pequeno 3 bombas. q. traludlutrAo no córrego d o ta mesma Villa em
prczctiça do mesmo Governador, q. aprovou e se admirou da simplicidade <lr
rad a hun: porem ns Mineiros rirão-sc das bombas, e debaixo dc móía dizíão.
q. mt." oiro sc tinha tirarlo sa n tam bas. c q riles mais precizavã» dc quem
descobrisse do q. de maquinas, pci» q . c> pretos sqpruim 1>cm a falta <k>
.bamba*.
(18) N a; Minas do» Guayates, ande o ouro he tenue «u como lhe
chamán de jn-urim costumfi-:. por nas scg.tes quedas dos hulinctcs. CQüros
dc Bôi com • contra a corrente d’agtia, e alguiiü cotartàrtlft chamados de
papa pn. haverem o subtil do miró.
— 106 —

çando-sc a massa toda de Mercurio em búa retorta, cuja extremidade


deverá estar subinessa em agoa fria, ali se depositará certamente o
mercurio liquido com pouca perda do seo pêzo, ficando ao mesmo
passo o ouro existente no fundo da retorta. Pelo que respeita aa 4 °
methodo d'extrahir o ouro existente no quartzo ha hum grandíssimo
erro, e grave prejuízo na trituração do quartzo; porque cruamente
nioeni a pedra e lavão sem algum outro beneficio, lançando fora
muito ouro no residuo mal triturado.
Lembra-me advertir que o quartzo aurífero extrahído que seja
das Mitras se deve lançar em hum deposito ou forno como de cal,
e fazer-lhe fogo activo, e quando estiver na sua maior candencia se
lançará agua fria que certamente deixará a pedra fragilissima, e fen­
dida por todos os lados, ac per consequens mais trituravel.
Ao 5." methodo de minerar faiscando nada tenho que aeditar
ou advertir, pois que a faisqueira he o único meio conhecido para se
descobrir o ouro, ou ainda no paiz mais descoberto pela faisqueira se
vem a conhecer o logar mais rico.
Aqui convinha dizer eu o q. sinto e o q . tenho projectado
á respeito da Hydraitlica. q. bem se faz precisa a todo o Mineiro;
pois q. presentemente se não conhece outro modo que o das tapa-
gens, a q. chamão tanques, e os aquedtictos terreos que chamão regos;
porem não me adianto pelas razõens q. já dei e apenas apontarei
algumas maquinas, q . na mineração se fazem precizas.
Já disse q. nas Minas-geraes se tinha inventado a maquina hy­
draulics chamada roda de rosario, q . he tocada pela correnteza d ’agoa:
porem se não pode negar, q . esta roda á tem de despendioza tem
mil desconcertos: E porq. se não lenibrão de fazer voltar pelo mesmo
auxilio d’agoa huma e muitas bombas d’Archimedes aliás despira?
Porq. se não acordão de formalizar as bomlras de compressão por
conductos de sólla./ q. he barata nas M inas/ afim d’elevarem a agua,
e desbarrancaran os tabuleiros, já vesinhos e já distantes dos rios?
(19) Eu não devo supor ignorancia nas Minas-geraes onde estão
muitos artífices e engenhosos maquinistas; porem, culpo a innação.
moleza, e talvez escassez do poderoso, e a pobreza do animoso. Em
híia palavra o q. póde não tem animo de gastar, e o q. quer, e tem
animo de gastar tã o tem? e esta a cauza porq. se não adianta a
industria: se não anima a invenção pa. o melhoramento das Cansadas
Minas.
Tenho apontado os meios de melhorar as Minas facilitando o
tralialho; agora passo a expor o serviço q. he económico e do qual

(19) Chimicamentc apartei 10. 8d. de latão cin 400$ rs. q . recebí dn
meo ordenado q . me foi pago em ouro cm pó da Capitania dos Coyazes.
— 107 —

se podem .seguir grandíssimas utilidades, como vou a mostrar. O


meio económico, de q. me lembro, he a in tro d u c to ñas Minas do
dinheiro, cunhado d’oiro, prata, c cobre; c este meio he só dependente
da vontade de S. A. R . que he quetn pode facilitar as Minas pelo
dito meio.
Primeiramente havendo dinheiro provincial, im qúam, dinheiro
proprio de cada Capitania de Minas, será este cstavel. e permanente,
de q . se seguem as utilidades de não se retardar o comercio á espera
de pagamento d’oiro, q. ainda se não estrahio. a de não se elevarem
os preços das mercadorias, que a titulo de fiadas sobem de preços as
galarim. Em segundo lugar se evita o gravíssimo prejuízo, q. á
muitos sente o publico, a qual cauza o ouro em pó correndo mal
acondicionado nas algibeiras, e a considerável perda q. tem de pezo
ua sua divisão ou destribuição.
Em terceiro lugar, com o uzo do dinlieiro se evita a descarada
uzurpaçãO' <!• costuma fazer a gente baixa c de larga consciencia
falsificando pêzos. e a mesma balança; e a juntando latão ao ouro
para augmentar o seo pézo e apezar de algüa vigilancia q,
costuma a Justiça por neste artigo de balanças, não lie possibel de
liña vez arrancar este inveterado roubo q. se faz ao publico- Em
quarto lugar; havendo abundancia de dinlieiro cunhado para trocar
d ’oiro em pó, e em barra se evita muita parte do extravio do ouro
bruto cujo estravio costuma cauzar a necessidade; porq. ni.‘a - vezes
o Comerciante q. tem de retirar-se pa. beira-mar, acaba de arre­
cadar o q. se lhe deve nas vesperas da sua jom ada: e corno lhe
não fica tenqx) pa. fundir o ouro bruto, ac per consequens. pagar
o (plinto o leva extraviado, e já se vê q . a Real Fazenda he a pre­
judicada. Em 5.° lugar: com o uzo do dinheiro provincial (20) se
pode evitar a deserção, c desvio dos facinórosos, tanto assassinos como
uzurpadores de hüa pa. outra Capitania: pois que aparecendo di­
nheiro estranho em qualq. das Capitanias, deverá ser capturado
aquelle em cuja mão se acha o dinheiro, pois he evidente prova de
q. o individuo não jiassou pelos Registos, e por consequência deli-
quente porq. a ter passado, certo q. faria a costumada troca de di­
nheiro ou ao menos na busca, q. se costuma dar nos Registos seria
achado o dinheiro q. aparece. Em sexto lugar a comodidade dos
viajantes, e cobradores q. nem sempre podem achar balanças fiéis
pa. arrecadação do oiro em pó, c da mesma sorte os pezos que mais

(20) Ja a rnoeda provincial foi entn/duzida na Capitania das Minas-


geraes. a q . cham arão jó la : toda rila era de prata com o* valores de 660rs.
e de .WO. 150, e 75 rs. c porq. não houve prohibição, se pagou toda pa. o
Rio de Janeiro ende cauzoii não pequena confusão com o» MO rs.. 320, c
ROrs. q. concorrem nas Capitanias de beira-m ar.
— 103 —

das vêzes são fabricados pelos dolimos das lialanças e por iss"; em
termo de pêzos pa. receberem, e termos de pozos pa. pagarem*
Isto digo ainda no caso do oiro ser limpo, |torquc quasi sempre vem
o ouro era pó acuitqtanltadu d ’esmeri!. area, c terra; e apezar do
cuidado do recebedor não be fací! apartar do oiro em pó todo o es­
meril q. ajuda o seo pezo (2 1 ).
Parece q. tenho assaz mostrado as utilidades q . necessaria­
mente se hão de seguir da introducção rio dinheiro moeda nas tres
Capitanias de M inas; porem esta muda de tal sorte se deve diversi­
ficar em cada huma das Capitanias, q . bem se conheça, q . esta moeda
he deste e não ¿aquella Capitania.
Aquellas forão as cauzas da decadencia de Minas rotiforme
observei Itá 40 anuos, e este são os meios q. cogitei capazes 'le reparar.
Fosso errar, posso enganar-me c ítem sustento que sejam solidas as
razoens q . dou: porem estou certo que qualquer dos meios apon­
tados posto cm pratica seja pelo moría q. for. he capaz ¿augm entar a
Real Fazenda e de felicitar os povos das tres Capitanias de Minas, e
sc parecer q. me adianto, ou que, são errados os mens juízos, dezejo
q. a Real Academia os corrija e meiderando-vs como defeitos nascidos
da Ignorancia ou descuido, e nunca de prevenção ou interés.-e, pois
que estando eu nas Minas ha quatro annns, não possuo escravos,
não tenho fabricas, e nem alguma outra occtipaçáo se não a ele dictar
as preliçoens da Filosopliia. Racional e Moral aus titeos ouvintes e
por i.-so longe de partiei|>ar das utilidades q. podem as Minas dar
com o seo melhoramento, e só o amor, e zello patriotic» me <>' rigão
»u ptiderão obrigar-me n fazer patentes os meus defeituoso» ;-cmi-
nientos*

(21) E u mesmo vi m isturar St) oitava* ¿ ’esmeril com iot) oitava*


(Potro, e depoi* de catabreadu ccrtariicitte não pude divizor hum só grão
d ’esm eril.
DUAS MEMORIAS SOBRE A CAPITANIA DE SÃO
JOSÉ DO RIO NEGRO (1823)
Pelo padre JOSÉ MARIA COELHO

A CAPITANIA DO PARÂ (1819)


Por JOSÉ ErE BRITO INGLÉS

Com uma apreciação de Arthur Cerar Ferreira Reis

A» duas memórias que a Revista do Instituto Histórico divulga,


referentes ás Capitanias de São José do Rio Negro c do Pará, da
autoria, respectivamente. dos D rs. Jose Maria Coelho e José de Brito
Inglês. fazem parte dr uma interessante c muito útil literatura histó-
rico-gcográfica que se escreveu no Brasil de Dom João VI e de Dom
Pedro I Monografias elalxiradas por homens que viviam nos vários
distritos políticos rio pais, consequentemente perfeitos conhecedores da­
quelas regiões, que estudaram ou em que serviam como funcionários
rio Estado, não ¡Halemos encontrar nelas, é certo, uma fonte de infor­
mação polpuda. farta, imprescindível ao conhecimento de nossos fastos
ou de nossa caracterização geográfica. Pequenas, traçadas sem inten­
ções maiores que a de servir como panoramas ott a de esclarecer auto­
ridades superiores sobre éste e aquel • trecho rio território nacional,
são úteis, todavia, ¡xlo que revelam, ¡xdas noticias que ministram. pela
série de perspectivas que proporcionaram ¡jara a ação construtiva da
poiítica gov ornamental, no momento em que o Brasil deixava a con­
dição de colônia ¡jara ocupar um lugar entre as nações soberanas.
No caso particular das duas memórias que vão a seguir, seus
autores não tiveram outro objetivo. I.igando-se à Amazônia por uma
longa experiência que viveram intensamente, relataram o que viram,
o que sabiam, o que apuravam, sem. evidentemente, alimentar pre­
tensão estética ou de qualquer outra ordem cultural. O depoimento
que prestaram, consequentemente, constituía, no tempo, um depoimento
honesto, chtcidavvo. como se pode verificar ao ler as duas peças qtv
se guardam na seção de manuscritos do Instituto e hoje aqui se editam
— 110 —

A memória sobre o Rio Negro era dada como perdida por (plantos
estudavamos os assuntos amazonenses. Manuel Barata, o eminente
historiador paraense, a ela se referiu nas Efemérides Paraenses. P a
Memoria sobre o Pará não havia, porém, sequer referencias ex­
pressas nos trabalhadores dos Umas do extremo-norte. Manuel Ba­
rata, em cuja riquíssima coleção doada ao Instituto Histórico fomos
encontrá-la, nada dizia a respeito naquelas suas preciosas £ ¡cinerides.
Mais ampla que a outra, mais elucidativa, atingiu, no entanto,
mais firmemente as finalidades por que foi escrita, levando o governe
de Dom João a lançar suas vistas sôbre a Amazônia, nela fazendo rea­
lizar um inquérito de extensão e profundidade de que foi encarregado
o próprio signatário da memória.
Vejamos agora, nos limites de uma nota singela, quem foram os
dois autores, como se credenciaram para elaborá-los, como passaram
pelos quadros sociais do Brasil norte naquela fase de tão intensa ati­
vidade civica conto foi a do pré e postrindepmdência.
O Dr. José Maria Coelho, Visitador do Rio Negro, exerceu igual­
mente o posto eclesiástico de vigário geral da Capitania daquele
nome, hoje o Estado do Amazonas. Transportando-se para ali por
determinação de Dom Romualdo de Sousa Coelho, percorreu a Capi­
tania nos trechos em que ela se encontrava ix-upada e trabalhada pelo;
colonos luso-brasileiros. Instalando-se em Lugar da Barra, hoje
Manaus, um núcleo urbano que principiava a espontar para a vida
política como sede efetiva da administração pública, esteve presente,
sem atitudes nervosas, aos acontecimentos que marcaram o fim do
absolutismo e do domínio português. Homem sereno, não encontra­
mos seu nome entre os elementos do clero que então atuavam, com
tanta intensidade, na Amazônia, nos sucessos partidários. Sua atua­
ção como pastor dos amazonenses foi uma atuação ponderada. As re­
flexões que escreveu revelam o estado dalma de que se viu possuido
em face da decadência que atormentava a Capitania depois do ciclo
construtivo de Lobo d'Almada. E ' certo que não deixou obras de vulto,
conto vigário geral. Faltaram-lhe recursos financeiros para qualquer
tarefa, mesmo de pequeno vulto. Os poucos trechos de sua corres­
pondência com Dom Romualdo c com as autoridades superiores da
Capitania Geral do Pará deixara ver claro a impossibilidade de que
se viu cercado para trabalhar com frutos preciosos.
Já não se pode dizer o mesmo do major José de Brito Inglês,
que escreveu a outra Memória' Nomeado a 17 dc dezembro de 1811
capitão de infantaria e ajudante de ordens do governo do Pará, ali
se manteve durante sete anos, quando seguiu para o Rio de Janeiro,
segundo se depreende de suas palavras. Viajou pelos sertões do Ma­
ranhão, Piaui, Ceará. Pernambuco e Bahia. Na Córte, depois de
— I ll —

quatro meses de estadia, apresentou suas reflexões sobre as condições


e possibilidades do Pará a Dom Totnaz Antônio de Vila Nova Portu­
gal, que era o homem ]x>deroso da época na direção da coisa pública do
Brasil. E ao invés de ser mandado voltar à Amazônia numa função
burocrática, recebeu a comissão de visitar a hinterlândia, examinan­
do-a a rigor.
Executando a missão, entre 1820 e 1821 subiu o Amazonas até o
Rio Negro, de tudo indagando, tudo verificando, — num inquérito
verdadeiramente sensacional, que se guarda em original na seção de
manuscritos da Biblioteca e Arquivo Público do Estado do Pará. Não
se reduzindo a indagar dos problemas como êles |X>diam ser apresen­
tados pelas autoridades encarregadas de serviços estatais, desceu a
minuciosidades que abrangeram o estado de nutrição dos trabalhado­
res, salários que venciam, hábitos, tipos e valor da produção, morali­
dade e honestidade dos encarregados da direção dos serviços, dificul­
dades que entravavam o desenvolvimento econômico e social das re­
giões que foi visitando.
Não conhecemos, na literatura administrativa da época, nada que
se assemelhe ao que apresentou. Indicando as falhas, os vicios gover­
namentais que desabonavam a ação de Portugal no vale amazônico,
lembra as famosas "Noticias Secretas de América", em que Jorge
Juan y Ulloa denunciaram a Carlos IV os erros, os abusos que esta­
vam comprometendo o nome da Espanha na Sularnérica. Nessa via­
gem. Brito Inglês foi surpreendido pelo movimento constiuicionalista
na Barra. Tomou jtarte na deposição do governador Manuel Joaquim
do Paço, integrando a Junta Governativa aclamada pelo povo. Re­
gressando a Belém jx>r determinação da Junta Governativa do Pará,
participou dos entreveros que sacudiram a Província no primeiro Im ­
pério e nas Regências. Faleceu no Recife, segundo Manuel Barata,
no posto de coronel, a 29 de setembro de 1858.
Rio. 21-7-50.
Arthur Cesar Ferreira Reis.

Barão dTtapicurú
merim
1829 —

Him.’ c Exm." Snr: Jozé Felix Pereira de Burgos;


actual Presidente da Provincia do Pará

A efficaz Sollicitude com que V Ex.“ tem promovido a Ventura


tiesta Provincia de S . Jozé do Rio Negro, não levará a mal de live
— 112 —

tribute huma memoria fiel do seu Estado qttazi amortecido: Se ella


merecer a provação (le VEx." e se V Ex-* a fizer sobir os (legraos do
Throuo de S .M . 1. (pie tgm feito escurecer neste novo mundo o nenie
de I ’cdro Grande da Russia ainda espero que das cinzas renascerá
esta bella porção do sen Imperio Assim o primita Déos, c Guárde a
V Ex.* m.'"‘ A.“ Sou com lodo o respeito — De V Ex." Capiu-láo
muito Venerador. c Servo — O Padre Jozé Maria Codito.

VERD A D EIR A M EM ORIA

Das Igrejas desta Capitania de S . Jozé do Rio Negro, escripia pelo


P." Jozé Maria Coelho. Entire professo na Sagrada Rellig-"'" de St:
Juño do Hospital de Jerusalem, graduado na Sagrada Thttollogia pela
Universidade de Coimbra. Vig.' Geral. Juiz dos Cazamcntos. e dos
Residios. Provizor e Visitador desta mesma Capitania

anno de 1823.

Memoria histórica -.obre a Capitania S . Jozé do Rio Negro, escripta


cm 1823 p.do visitador P.r M.1 D.' José Alaria Coelho, Vigário Geral
da mesma Capitania. Copiada da original existente cm poder do
Barão de Itnpicttrú-mirim em 1829 |>elo D r. Luis Rcdél-
D r. E .G . da S.“ Maia.

V ERD A D E!R \ M EM ORI \


das Igrejas desta Capitania de S . Jozé do Rio Negro.
INTRODUÇÃO

Eu tornaria irrizoria a confiança q.’ de mim fez hum dos mais


excelentes Prelados da Porltigucza Igreja americana o E.” " e R."“
S r. D . Romualdo de Souza Coelho Bispo do grão Para, se contente
só com a nomeação onrosa de Visittadòr desta dilattada Capitania,
adormecesse nos braços da Vangloria esquecido dos meus deveres sa­
grados. Semelhante titulo emponda huma Lev regurosa ao meu cora­
ção dezafiava a minha Soljicitude. e não sabendo opor-se a niinlta
obdiencia. só me restava secobrir deficuldades que trazião na sua
frente sempre escripta a palavra não há. Vezitar huma Capitania q.
— 113 —

segundo o milhor calculo tem <lc circunferencia 880 leguas, c que coma
desde a montanha de Parentins print.’0 ponto desta Capitania athe ao
forte de Marabitanas ultima Collonia Portugueza 450 legoas, sem o
estado me dar Embarcação, gente, e Subcidios para a sua inantençã"
hera hum obstáculo p." mim quazi impossível. q’ falto de pagant.'" das
minhas Congruas, e sem recursos proprios, c desponiveis, iazião es­
pirar os meus dezejos no momento mesmo em que nascião. No meio
pois destas privações, restava me só o recurso dos meus amigos, e
forão estes, e os rebates das minha» ordinarias, q." m : fez acreditar
de que mais faz q.“ quer, do que quem pode.
E x aqui a onrosa Provirão de S.E-" R."“ I). Romualdo de Souza
Coeiho. por M de Deos e da S.'* Sé Apostólica, P.ispo do Grão Para,
e do Concelho d? S.M .' 1’ Fidelissima que D.* G.’ — Aos que esta
nossa Prov.*“ virem Saude e Benção. Fazemos saltcr que não po­
dendo nos ainda por urgentes motivos, é (em branco) de Negocios
mais arduos satisfazer a<> vehemente dezejo que temos de visitar
|>essoahn "' o nosso Bispado, e tendo muito cm consideração o bem
espiritual do nosso Rebanho facillitandolhe os meios da sanrifficação
mediante a Graça dos Sacramentos havemos por bem delegar ao M
R?1" D."’ Jozé Maria Coelho Vig.' Geral da Capitania do Rio Negro,
pello bom conceito que fazemos da sua probidade e zello, <> poder de
vesitar aquella Capitania, e de conferir o Sacram?" do Crisma em
quanto não mandarmos o contrario. Dada nesta Cidade de St. Maria
de Belem do Grão Pará sob o nosso signal, e sello de nossas armas,
passada pela Chancellaría, e registada a onde pertencer, aos 30 dias do
mez de Agosto de 1821 anuos. Lázaro Antonio de Azevedo Cordeiro
q’ a escreví. Romualdo Bis]>o do Pará- Lugar do sello. Teg.'J af
18 do livro n.” 19. do Reg?" das Provizõcs Pará I." de Setembro
de 1821 — Azevedo Reg.,M de f. 4 do Livro do Reg?" desta Capitania
e Vig.' Geral de St. Jozé do Rio Negro: Coelho.
Determinado em fin a enxer meu Menisterio. e feito» aquella»
provizões q* estavão a meu pequeno alcance, foi o meu Am “ João
Lucas da Cruz da Villa de Moura, quem me emprestou huma Embar­
cação analloga para a navegação deste soberbo Rio, facillitando me os
seus Tndios |xtra a minha Equipaje, e foi tão liem o dia 10 d; Julho
de 1823 a quelle em que principiei a minha derrota.
Persuado-me não ser importuno em dar prim.'" huma ideia gera!
desta Capitania, seus limites. »-us Governadores, suas Fortalezas, como
também o que observei na dilatada navegação do Rio Negro, que dá
o nome a este Estado, e que podendo ser o mais rico do Brazil, pela
sua situação, toda cheia de Caima*. e toda navegavel. he hoje o mais
infeliz e o mais pobre de todas as pocessões Protuguezas.
— 114 —

caff ." 1.»

hiela geral desta Capitania.


Já eu disse segundo os ntilhores Geógrafos, q ' a circunferencia
tiesta Capitania comprehcndia 880 legoas. e <f a sua longetude desde
a arcantillada Serra de Parentins, sobranceira ao Rio Amazonas, atlie
ao forte de Marabitanas limítrofe d’America hespanhola por este lado
450 leguas. Acrescento agora que ella está cituada na ponta mais
occidental da Capitania do Grão l’ará. Confina pelo lado do E. com
a referida Capit.* do Para; Por O . com Mainas fronteira Hespanhola;
Por N .E . com a Provincia de Caracas tamben, Hespanhola; Pelo N.
pelas pocessões que forão da Ollanda: e pelo S. com a Capit? por-
tugueza de Matto-Grosso.
Estas fronteiras são defendidas por suas Fortalezas. Na de
Mainas sobre ■>Amazonas, ou Solemnes como lhe chamão os Nacionaes
por suas margens serem habitadas da Nação Solliman, tem hum Forte
]xir nom.- tie Francisco Xavier de Tabatinga guarnecido por 45 praças,
e no Rio Iça pouco abaixo desta tem outro ponto guarnecido por
9 praças. Na de Caracas sobre o Rio Negro, tem hum forte denomi­
nado de Jozé de Marabitanas. defendido por 40 praças, e pouco abaxo
sobre este mesmo rio tem outro forte guarnecido por 9 praças deno­
minado de Gabriel da Cachoeira. No porto que confina sobre o Rio
branco, tem hum forte chamado de S t. Joaquim defendido por 10
praças, finalm.1* nas partes tf coníinão com a Capitania do Pará e
com a do Matto-grosso tem dois Registos guarnecidos por 4 praças.
Adiante íallarei do estado destes fortes, sua Artilharia, e seus Com-
mandantes. Atlie ao anuo de 1754 a Capitania do Pará, e Rio Negro
era huma ntesma cousa; porem huma Carta regia de 3 de Março de
1755 s_- separou esta daquella. Ambos estes territórios formão n
Dioseza de St Maria de Belem do Grão-Pará, cujos Ex.” 0 ” Snrs. B.1"
tem nesta Capitania hum Vig.' Geral, que serve ao mesmo tempo de
Provisor. Juiz dos C a s a m . e dos Residios, c de Vesitador das suas
Igrejas.
Depois do referido anno de 1755 tem esta Cap.'* sido athe ao
prez '-' governado por 7 Governadores polliticos, alem dós Governos
interinos na forma da Socessão estabellecida por .Alvará de 12 de
Dezembro de 1770. Os nomes destes Governadores são os seguintes.
Joaquim de Mello Povoas -- Gabriel de Souza Filgueiras. Joaq.“
Tinoco Valiente — M.1 da Gama Lobo de Almada. Jozé Antonin
Salgado. Jozé Joaq.“ Victorio da Costa. Manoel Joaquim dos Passos.
Que sendo dependente do General, e da Junta da fazenda do Pará
aqui administra a Fazenda real, q’ he finalizada por hum D r. Prove­
dor. Tem esta Capit/ tido 3 povoaçóes em que tem residido as Auto-
— 115 —

ridades mencionadas. Foi a primeira a Villa de Javarí que a edifi­


cará» sobre o Amazonas duas leguas aliaxo do Forte de Tabatinga
Os Padres da Comp." denominados Jesuítas fundarão a sua Igreja
que teve por Orago S t. Jozc. hoje não existe, e o sitio em que foi
fundado |>ela espessura do íuatto mal se pode assignar. A 2.'“ foi a
Villa de Barcellos sobre o Rio Negro, de que adiante farei menção: e
a 3.a lie hoje a fortaleza da Barra do Rio Negro onde Rezide o Go­
verno .
Esta Gap." possur hum territorio em extremo fecundo dos Gê­
neros da primeira necessidade para o tizo da vida, e das drogas a.,
mais precisas, e interessantes para o Commercio. As suas principaes
produções são a Mandioca de que se faz a farinha que comem os habi­
tantes em lugar de Pão. O milho que pradar de 3 em tres mczes com
huma fertilidade admiravel; o Arroz, o Algodão de que se vestem a
maior parte dos habitantes: O Tabaco, Caffé, Cacáo, Cravo, e Cas­
tanha vtdgarm"’ chamado do Maranhão: a Salsa parrilha, Goaraná
massa que <> Gentio faz de certas fruetas de que se faz hum uzo
quotidiano na America por ser contra a podridão dos intestinos: Puairi,
perciosa Casca de certas Arvores: Baunilha também frueta: Piaçaba,
de que se fazem as (cm branco) Anil, Crucú. Carajurú, tintas e x c e ­
lentes feitas das folhas de certas arvores que reduzidas a Pão como o
anii, fazem huma cor vermelha como o sangue; Copaiba (tlleo destil­
lado de certas arvores; Breu, c outras muitas tintas. Olleos e Rezinas.
alem de huma emencidade de Madeiras as mais finas e pintadas de
const tem branco) produzidas espontaneam."' nas margens dos Rios,
ou nos centros dos mattos.
Abundancia das pescarias que se fazem, e se tirão nos diferentes
Rios q* retallião este precioso terreno não he menos inter (em branco)
Entre os Peixes <lc toda a Es|>ecie, cujos nomes vareião inteiram."’ das
conhecidas na Europa, em que alguns tem muita semelhança na figura,
e no sabor, ha dois de dismarcada grandeza, e pézo de 6 — 8 e mai-
arrobas tal hc n chamado Piraricti, e o peixe Boi a que os Espanhoes
chamão Vacca marinha. Destes se fazem salgas de milhares de Quin­
taos que sustenta» a maior parte dos habitantes tantri desta Capit.*
como o Pará e Matto-grnsso. Da sita gordura se fazem milhares de
pottes de manteiga, que serve para as luzes etn lugar d: Azeite. Ila
também incrível abundancia de Tartarugas, de que os ovos se fazem
hum sem tnimero de pottes dc manteiga, q’ não só servem para as
1.uzes, mas athe. para adubos de comidas, e manjares sendo a mais
especial de todas as manteigas a que se faz das banlias das refferidas
T artarugas.
Tendo eu ¡aliado da abundancia dos habitantes das agoas. hc
huma divida deixar de fallar rios moradores dos mattos em que se
— 116 —

acha huma produção inumerável de l assas, e de infinidade de ani-


maes- Sem fazer menção dos exccIE-ntcs prados, cm que se criâo.
c nutrem tanto animae? vacum. como Cavallares de cxccllente tam a­
nho, e robustos. Xos achamos Veado? Corças, Rebanhos incalculá­
veis de pircos ntontezes. de espinhos. m .'“ \ntas. Cotias. Macacos
Guaribas, Capivaras. Perguizcs. Pacas. Tatuns. Qtiatins. Iorios ani­
mae? quadntpedes cuja? carnes são gostosíssimas e saudaveis. Do
mesmo modo se encontrón emencidade dc Aves de toda a grandeza, e
admiráveis na sua plumage, no seu numero, nos seus Cantos, nos seus
bicos, e na variedade das suas core?, resultando daqui todo o socorro
para o gasto, e para a manutenção da vida:
Quanto aos seus habitantes, devemos fazer diífcrença entre os já
livilizados que liabitão nas margens do? Lagos. Aliviados, Bahías dos
grandes Rios que retalhão toda esta Capt?. daquelles que cmtregues
a mais brutal barbaridade liabitão no coração dos bosques. Os pri­
meiros são hum milhão de vezes mais deminutos, que os segundos,
porquanto em algumas aparições q' se tem visto na oceasião das suas
festas, ott emsaios de exercicio para a (¡tierra nu.- constantemente tgtn
entre si., se calcula ser um numero infinito de milhares de Alnras
Esta gratule porção do Genero humano, se devide cm Xações ou Tri
bus. sempre difiéreme? Imma da? outras em Idiomas, em Costumes,
em Armas, em ( imams. cm signaes que se imprimem na Cara, na
lioca, no peito, no? narizes, no? beiços, e na- orelhas: suas festa?,
seus intzrtenimemo?, e seus bailes são diversos hulls dos outros. ■de­
sunidas sempre, por isso que desde a sua origem a guerra, e a pilhag.
anda atipoda entre elles de que resulta centenares de A-sasinios. de
surprezas em Aldeias inteiras, e de Prizioneiros que tratão com toda
indignidade, e Villipendio.
Eu seria fastedio? > em extremo ?e empredesse nomear estas na­
ções contentóme em dizer que os pratieos do 1’aiz não atinão no seu
numero e só dizem as Xações mais grandes em q' se achão milhares
de homens, mulheres e criança-: seus nomes são esquezitos. e como ctt
devo tallar da situação dos Povos, c dos rios em que liabitão. nesta
oceasião os ¡numerarei com particularidade c exacção.
Todas estas Xações ou são errante-, ou rezidem em ( azas cujos
tgtos. e par.des são de ]¿os a pique guarnecidas de paiha de varia?
Palmeiras: Alguns são Antropólogo?. comem assim os brancos que
lhe cabem nas mãos, sejão homens ou mulheres, outro? comem sint-
plesm-1' os homens, c não offendcm as mulheres q ’ reservar» para sen
uzo. Também as mays que parem 2 filho? julgando não os poderem
crear, escolhem hum, e cm companhia do? marido- comem o outro.
Do mesmo modo com.-m as prezioncira? que fazem nas sua? Guerras,
sussitada. entre huns e outros. As Armas de que uzão são cm regra
— 117 —

Arcos c flechas q' jogáo ruin prodigiosa destreza ja ¡«jr elevação ja em


linlia ret’.a: as puntas destas flechas são delicadíssimas e farpadas; sña
tocadas .ni certos súmenos de ervas e leitg de a ñ o re s e secas ao Sol;
venenoza- com ellas mandão a morte a todos os vigentes em q' são
empregadas, bem qtit dizem viles ttzãu de antidatos ¡íara nos desco­
nhecidos; mas isto só no cazo de q. não ficarem os bicos das flechas
cravados nos corpos, q’ .ni virtude de sua delicadeza, e pequeñas far­
pas. mal entrão. logo quebrão: o certo lie que por menor que seja
a ferida basta só fazer sangue. para contarem seus dias acabados.
<lutras Nações uzão de paos que arremeção de differentes maneiras
cum huma força enicrivel. Alcm disto uzão tamliem de huns Canudos
formados de dttas pessas ligadas huma na outra de cumprimento de
4-5 varras, as sitas ligaduras são pintadas de differentes cores, c
betumadas de certa rezina de arvores que o ar não pode penetrar
uestes Canudos pois a que chamán Zarabatanas, m etan humas peque­
nas flexazinhas tamb-m ervadas. e as empellen) com o sopro a huma
distancia pasmosa. com pontaria tam ajustada que raras vezes erran ti
ponto a onde as dirigem.

Nutrem se ordinariam." de finetas silvestres de q' abundan os


mattos. e destas frítela- tamliem fazem bebidas, amassão-nas. e depois
d : fermentadas extilláo-na- cm vazos de Harm q . cozem ao Sol. e com
elas se embriagan homens e mulheres: uzão tn."' da Cassa e da
pesca, em que são aumnian"' peritos e industriados, e tombem comem
toda a Costa de animaes, sem excluir os mesmos insettos, jxir exemple
as formigas, e ha tamliem alguns q‘ se nutrem de jwios podres, andan
nus sem differença de idade, on sexo, escondem porem as partes
pud tudas, as mulheres com hum tecido de palha dó etimpriih.'” de hum
palmo quadro pouco mais ou menos, o qual pende de huma ligadura
da mesma palha, que as singe pela sintura. matizadas de algumas mi­
çangas oti vidrilhos: E os homens atão as partes genitais com huma
especia de filia larga.-feita também de palha, \ robas estas coberturas
p aróse mais servirem de ornato, do que porque cóttheção as Leys da
modestia. Juntño-se para coabitarcm varão e f -mea. ou por que o
acazo assim o dispoem, c separño-se por vontade de qualquer dos dois.
São governados por Chefies a q' chamán Tnxatias. mas este- paresse
uño t/.-rem auitnriilad • alguma se não a consultiva. A força destas
nações, e Attetoridade destes Tuxauas consiste tía rilátor fórça de
íamilea. que se lhes agrega. A população aldeada, mais cilha desta
Capital pode cálcufar-se de 15 á 16 mil almas, contados os individuos
de todas as cores. As suas povoações -ão então pela maior parte
-imadas sobre os ríos, sobre as Aricadas, e -obre as Bahías, taes são
as que acabo de visitar no Rio Negro que da o nome a esta Capit.
He por esta razão que en principio a fallar dille em primeiro lugar.
— 118

relacionando o tristr estado cm que achei suas Villas, seus lugares,


suas fortalezas, e suas Igrejas. Parecerá incrível o que tenho a refe­
rir, tuas eu juro pelo sagrado habito q' professo, e ill Verbo Sacerdotis
q. não sou enrarecido. chamando a todos os q . tem viajado esta parte
do mundo, a testemunha da veracidade das minhas afirmativas.

CAPP." 2."

Rio Xeyro

H e p Rio Negro o mais poderoso Vassallo do Imperador dos rios,


o nosso Amazonas. Vindo como fugido da Província de Caracas, talvez
asustado de semelhante nome. Elle entra nos dominios portugueza na
ponta da fortaleza de St. Jozé de Maribitanas. a quem levando os seus
muros respeitosam-1' deixa a direita da sua corrente, ou na parte
austral de suas m arg-ns: emrcquccido de muitos grandes rios que de
hum. e outro lado vem a ser seus tributarios; elle fetteliza as terra»
desta Capit.* ao espaço de 350 legoas, vindo a fazer sua junç.ão com
o poderoso Amazonas no sitio denominado das Lajes, a onde confim
dindo sitas agoas per d? o nome. Na altura de 3gs. e 9 minutos a.«
Polo do Sul. com direcção do Oeste para Leste quaze («aníllelo a d.i
Amazonas que fica a direita da sua corrente dessendo-se («elo rio
Negro, lie o denominado Sitio das Lajes, cuja forte embocadura por
huma estimativa mais ajustada: suas agoas são pretas, amaneira da-
quellas que em Portugal se vem sahir dos esgotadores dos Logares d :
Azeite, e tão denças q' lutando por m.1" tempo com as do Amazonas,
a huma grande distancia, se devizão os Cachoes de agua preta bara­
lhadas com a agoa branca. liste formoso Rio he doptado de pravas,
e margens delliciosas; elle lie por hum e outro lado bordado d ’ arvo­
redos como o nosso Rio Tejo o he em a Villa de Abranles em Por­
tugal sempre verdes, e m.’" floridas estas arvores offerecem aos olhos
huma continuada Primavera. O matiz «leste verde he admiravel. i
alegre para o homem pensador, q’ observa a natureza em huma mesma
cor adimitir tanta variedade de verdes. Estas arvores são altíssima-
de huma grossura pasmosa nos seus pés de que os nacionais esca­
vando os seus troncos por dentro, c pouco a punco abrindo-os ao fogo
fazem Embarcações emteiras que carregão muitas arrobas, a qne os
nacionaes cliamão Canoas- Quanto mais se solte por este Rio. mais se
admirão estas arvores, que rodeadas de hum delgado arbusto, seme­
lhante ao nosso vime cm Portugal, elle sobe ao cume de seus grande-
pámpanos. e não tendo mais a subir pende para a terra, e mal a toca
cria raizes, e toma a elevarse, figurando desta sorte os mastros de
muitas Náos cercadas de suas cxarcias, cliamão os Nacionaes a esta
qualidade de Arbustos Cippó. Em outros sítios figurasse á vista hum
— 119 —

muro bastante alto vestido'de verde como a nossa E ra ; que veste as


paredes em muitas Cazas de Campo em Lisboa, e na Provincia do
Alem Tejo, e desta sorte este continuado Bosque se torna intransive!
Nos sens Centros ha emença Cassa de que já fiz menção, seja
ella quadrúpede ou volátil, mas também ha muitos onças de dism ar­
cada grandeza, e muitas Cobras de veneno o mais mortífero sempr-
promptas a devorar o homem que se atreve, a penetrar sens domicilios
silenciosos: assim mesmo elles são viollados |wlos Nacionaes que ves­
tidos de Couro, e armados de facões semelhantes aos Traçados dos
Officiacs inferiores do nosso Exercito, elles vão a troco do seu diver­
timento, ou do seu interesse afrontar a morte. O Rio também he
abimdautani." de muitas aves aquarias, inteiram.'’ desconhecidas na
Europa, pela sua grandeza, pela sua plumage, e pelo seus nonio
Alem destes tem muitos Patos, e de muitas qualidades, porem sum-
mani.1’ desconfiados, c ariscos, e por isso defficultosos de matar-
Eu já fallei em geral das pescarias dos Rios, este lie Instante
fértil, mas nunca como o Amazonas. Tem também peixe? Bois ou
Vacas marinhas; sua figura he monstruosa, mas a Cabessa. olhos e
beiços, são justam.1’ como d - hum boi; não tem orelhas nem pontas,
mas nutre se de huma quaiidade de herva chamada Capim semelhante
a folha da Sevada da Europa antes de espigar, aqual nasce dentro da
agua junto as liarreiras do Rio; pescão se com harpões, qu- logo que
se cravão. largão o calm; ficando o ferro prezo a huma robusta linha
de muitas varras q’ lie açada a pequenas Canoas fabricadas para este
fim : como este peixe de pello escura anda com a cabeça baixa, e .
lombo lhe he superior, lie fácil serem harpuados, e finda que sejão.
elles partem levando a Canoa atras de si hum liom espaço, findo o qual,
ficão esmorecidos sem tentarem segunda carreira: Tem também este
Rio nas suas aguas o grande Peixe Pirarucu, de excedente gosto, de
linda escama c muito saudavel. Tem Surubim. Filhotes. Pirailai. Tn-
conaré e outros muitos grandes, porem os mais delles. de cabeça
monstruosa e feias. Ila tanih.-m neste rio o ccllebre peixe por nome
Piraqué. nome que lhe dão os nacionaes. a quem os sabios conhecem
jielo nome de Termolges: lie semelhante a huma grande lleras dos
nossos Rios de Portugal, particularm.” no Mondego em Coimbra, i
onde chamán lugiões sua pesca lie mui perigoza. porque ninguém pode
tocaia sem ficar peralizado por in.'° tempo. Tal lie a sua electricidade
de que tem resultado muitas infelicidades e mortes; de ordinario a-
suas residencias são ao ]h; de grandes pedras, já quaze conhecida-
pelos pescadores. Alem deste temível habitante, tem outros não menos
perigosos: Tem Arveia. mui semelhante a dos nossos mares í.uzitanos.
cujo ferrão que tem na cauda hc tão venenoso q’ mata com dores as
mais insuportáveis: liem que se conhece já n seu Antedato sendo apli-
— 120

cado a 'empo, tal lie a denominada Fava de S t. Ignacio que reliada


em pó. e desfeita em agoa tépida tomando-se em pequenas porções,
modélica as dores, e rebate a enílatumação. Tem o atraiçoado Jacaré
monstro horrível desmarcado em grandeza a forças, e quadrúpede e
Amphibio; do meio do Rio elle costuma levantar sua cabeça informe,
e observando-se nas margens na em que elle seve a sua voracidade,
profunda-se. e com a pontaria mais liem deregada, elle vem ¡xir baixo
da agoa fazer a sua preza, sua bocea lie grandíssima e rasgada, tios
lados armada de tres ordens de dentes agodissimos e reforçados, de
sorte que fazendo preza diíicilm.1' se escajia com vida, e quando isto
sosseda u membro em que pegou sempre o quebra, quando 0 não
molille com a mais doloroza amputação. Não são só estes mortíferos
animae- que o Rio Negro nutre em suas agoas. A cituação local que
regâo .suas correntes, faz que ellas inundem infinitas plañidas; hv
aqui qne se crião Cobras da grossura de huma grande arvore, e de
muitas varras de comprido a que os Nacionacs. chamão Cycurijú;
não são vene.lozas, porem todo o vívente que ellas ]>odcm alcançar
com sua cauda fatal, encontra na sua bocea a destruição e a morte;
ro n » he Amfibia ella transmigra pelos Citios que lhe apraz. e desta
sorte tem tinido a vida a muitos homens, q’ ou na pesca ou no lianho
se divertem. Tia também em algumas pravas deste Rio hum pequeno
Feixe chamado pilos N ac” Candirá lie suminam.'" dedicado e agudo
em sua cabessa. e dentes q' cortad como huma lanceta. A sua mal­
dade consiste em procurar a Orctra de qualquer vivehte racional ou
inracional de hum oti de outro sexo que pilha na agoa talvez atraltido
do cheiro da Orina, se elle se entroduz, como não pode recuar por
sua pelle ser viscosa, sim morrem, mas a operação he dolorosissima.
e alguns Entes de huma e de outra especie tem acallado seus dias.

PAKAGRAFFO 1.

l-orl.ilceo da fíarra do Kio Negro Capital derla Capitania

Sabidas pois estas particularidades q' acabo de referir, ó Rio


Negro desde a sua embocadura no Amazonas a 6 horas de jornada
pouco mais oti menos segundo os ventos ou a força de remos, o pri­
meiro povo que se encontra, he a Fortaleza chamada da Barra, ella
fica na margem austral, ou para todos entenderem a direita deste Rio
sobindo sua corrente. Habitada primeiram?" pelas Nações de Manibá.
Haré, e Passé, cujas gentes forão domesticados pelos Religiosos Carme­
litanos Calçados, a sua situação he elegante, e sobranceira ao Rio, cujas
agoas lavãci suas muralhas, e tão pacificas que na noite mais serena,
não se escuta o rogido de suas correntes; muito lavado dos Ares ella
não tem conhecido molestias contagiosas, he rodeada de pequenos ría­
teos do agoas cristalinas, e podia ser huma grande povoação se tivess.
mais Policia, <■ se os (invernadores todos tossem como o grande Gama,
em 1,814 a -na população era de 1<>6 fogos, hoje conta arruados 232.
Referindo me ao q’ jã disse d .‘sta Povoação, acrescento que ella
he Ornada de huma Ribeira cm que se fazem a concertão as Canoas, e
Hatellõc-s do Estado, tendo todos os utensilios para este fim; seus
Edifícios hoje imperiaes são (em branco l soffriveis. assim clles todos
fossem cobertos de telha, suas fabricas de panno de Algixlão. Ollaria.
e de Amarras de Piassaba hum pouco atenuadas, boje vão progre­
dindo: para milhorar do Hospital q' está m .'° arruinado, vai a con­
cluir-se hum novo; tem excellentes Armazéns da Fazenda, dás Annas,
seus pertences e de polvera todos cobertos de telha todos novos. Xo
recinto em q’ lia 11 pequenas ruas, c huma praça quadrada, já se con-
lão seus Edificios nobres outros se vão edificando também cobertos de
telha, porem o chamado palacio do Governo, a Secretaria da Provedo-
ria. c o aquartelamento militar cobertos de palha ameassão roinas e
tudo está sogeito a hum incendio, de q' tem havido já dois bem desas­
trosos. Seu porto he frequentado de todas as Embarcações q. sobem e
dessem desta Capitania, tem mui excellentes Ancoradorcs |>ara se am­
pararem das Tempestades; ba huma boa roda de negociantes Irem esta­
belecidos c acreditados; no seu termo consírva huma boa porção de
Sitios admiráveis c productivos de Algodão, Cacao, Caffé. Mandioca, e
varios frítelos. e he huma pena que estes lavradores não tenhão braços
para aumentarem a sua agricultura. Como os primeiros Descobridores
deste Rio ]«>r hum principio de segurança fazião naquelles pontos q' lhe
parecião mais agradaveis, e deffesns, suas fortalezas à sombra das
quaes se amparassem de hum golpe de mão da Gentillidade; foi aqui
q* elles fazendo huma grande Caza q' ainda hoje existe coberta de
telha, e cercada de hum bom muro de |xxlrn e cal. a este re I cm bran­
co) pois derão o nome de Fortaleza. Ella he hum quadrado quaze per­
feito suas paredes ]>osto q . bastante grossas, mas de altura de 2 ho­
mens |»mco mais ou menos, não tem r> menor 'igual de Cachoeiras
ja ra o uso de fogo de Artilharia, hum poco sobranceira a Povoação
tem toila a capacidade de as ler. e ser arrada |x-lo lado da terra de hum
bom fosso, nada porem paresse q’ existió, e estas mesmas muralhas já
abertas |x>r dois lados não asignão a entrada de sua porta principal:
divisasse com tudo seu bordão na muralha mas informe e arruinado:
não tem vestígios de q . houvesse ali huma Guarita, e a esta roda de
paredes se chama a Fortaleza de que falla M r. de Comlamine pag. 65
dn seu Diario, aonde diz q. a Fortaleza q. defende o rio está no passe
mais estreito do mesmo Rio cuja largura achara ser nestp parte 2:886
varas Castelhanas, no que se enganou pois q. neste ponto tem o ri"
— 122 —

mais largura do que na sua entrada do Amazonas. Esta pois deno­


minada Fortaleza estava destituida de Artilharia, c a apenas contava
pessas. 2 de Bronze do qualibre D 1. e duas de ferro de qualibre de 3.
estas estavão montadas em huns Carros que se não podião mover por
velhos e quebrados, os seus reparos erão huns paus espetados no chão
a que estavão prezos quando se crião dar algumas salvas. A Rcvol-
lução de Cametá fez q‘ este Governo provizorio tomando todas as
medidas de defeza melhorasse neste ponto, fazendo vir varias pessas
abandonadas em Barccllos. q' fez montar, e por ent acção de cortar
de Acidentes.
Alem do q. dito fica, estão aqui algumas Praças destacadas dos
Regimentos d. Linha do Pará, cujo numero se não pode assignar
perfeitam." petas suas Descrições, e em virtude do q. raras vezes
deixão de servir as Praças de 2." Linha q' aqui ha- Este corpo de
Milicianas está indcssiqtlinado ao ponto de não saberem os Soldados
perfeitam."' por a arma ao hombro, e q' quando querem de fogo fogi-
rem com a cara; porem estão com toda a actividade exercitando-se.
Em toda esta Cap.u só existem tres officiae.s destp Corpo q’ não tem
thê ao presente em q' esta escrevo Livro mestre, c com isto digo tudo.
O s ditos officiaes são os seguintes.
Francisco Ricardo Zany Tenente Coronel. Antonio da Silva Cravei­
ro, Capitão. Bonifacio Juão de Azevedo. Tenente. Todos os mais
officiaes estão fora desta Capit.“u dcsfruclaudo as honras q’ lhe dão
suas Patentes, sem ao menos conhecerem suas Companhias, nem os
Soldados saberem quem são seus Superiores, porque nunca huns se
avistaram com os outros.
Já eu disse q’ os Relligiosos Carmelhtanos calçados forão aquel­
los q* primeiro fizerão conhecer as Nações Manibá. Baré e Passe
habitant's deste territorio a Religião Catholica Romana, estes P . P.”
edificarán huma Igreja no mesmo Cilio em q’ hoje está porem arrui­
nando-se o incomparável Governador Manoel da Gama Lobo de \1-
mada. a rendefficou. e ampliou a o |«>nto em que hoje se conserva; seu
Orago lie Nossa Snr.” da Conceição: ao dito Governador deve este
Templo o ser todo forrado de madeira no seu tecto. e estar coberto de
telha: elle foi quem dêo a Pia Bauptismal de pedra mármore muito
Item feita, o Lavatorio da sacristía do mesmo mármore: emgrandesseo
esta Sacristía de hum excedentes Caxõ-.s de bellissima madeira, foi
elle quem déo a Sur." huma Coroa de Oiro. huma Custodia de prata
dourada rodeada de Topázios, huma Atnbola: Vazos de prata para os
S.’“ Olivos. Concha de prata para os bauptismos. hnm prezioso Tri-
Ixillo c Navetji de prata em summa o q" ha liont nesta Igreja elle foi
o donatario mas a sua morte cobrio de lutto esta parrochia, e ainda
hoje chora a sua falta. Este Edificio he muito liem construido de
— 123 —

Madeiras da primeira Le)', tem hum bem arranjado Trono, e huma


bella Tribuna sobre o Altar mor, a onde está collocada deliaixo de
hum Docel huma perfeita imagem da Snr.* da Conceição; tpm duas
Tribunas collateraes. huma para o Governo outra para a Muzica:
tem hum Iwllo gradamenlo e dois Confissionarios de optima Madeira,
dois Pulpitos, oito Janellas que rodeião este edificio em boa Semetria;
distante da Igreja 4 varras do lado da Ep: tem huma pequena Torre
com hum pequeno sino, mas de boa voz. 2 Garridas das quaes huma
está quebrada e prezentem." tanto a Tora como a parede principal da
Cappella mor. muito arruinada, bem q’ com promessa do Governo de
tudo se consertar. Em 25 de Novembro de 1821. em que tomei poss
desta Igreja alent do que fica refferido huma só Alva, hum Amito só
não havia q’ não fosse cheio de buracos. Outros tanto encontrei em
4 Cazulas Rocha, Branca, encarnada, e Verde, porque preta não h á ;
huma destas q' he branca chamada rica tem hum frontal irmão, q’ huma
Devota offreceo á Snr." egualm." cstpa arruinada c o Frontal he o
único q' ha nesta Igreja. A Sacristía não tinha huma Toalha de
Lavatorio q’ não fosse lumia Rede de pesca, os Extrados qvestiâo o
povamento da Igreja feitos pello grande Gama, estpvão podres, e huma
taboa não havia pegada a outra, não se contava hum só Guartinado,
porque desde o Catholico Gama nenhum Governo lhe importou a
Igreja. A Snr." tinha hum só Manto de Seda azul, q' o mesmo Gama
lhe offreseu, mas estava m.” velho e indessente. c só o Altar tjnha
algunas Toalhas em bom uzo- O Sacrario não tinha hum Pavilhão
asseado, e neste triste estado estava reduzida huma Igreja a fasse dos
Snr.** Governadores, e Governos interinos. O (em branco) não tem
residenzia para morar, ou ha de comprar cazas ou ahtgallos, ou ha de
hir dormir ]>ara alguma canoa velha; porque a caza de Residencia q’ lhe
fez o Gama ardeu, c não se tractou de fazer outra, nem mais se d?u a
Igreja o mais pequeno guizamento, tal foi o pouco cazo que se fez
das ordens dadas a este respeito, e da confissão q’ ultimam." fez S.M .
o Snr. Rey D. Juão 6.° no seu Regio decreto de 16 de Abril de . . .
que principiava tendo sido cedida por Bullas pontificiae» aos Snrs.
Reys meus prodecessores a recepção do Dizimo das producções do
Brazil com o encargo de prover a sustentação das Parrochias e Bispos,
de concorrer jiara a construção das Igrejas Parrochiaes. e de suprir
em Ornamentos, e Alfaias necessárias ao Culto Divino ao q’ desde a
mais remota anteguidade era por direito divino e Ecclesiastico desti­
nada. esta prestação, e sendo chegado ao meu Real conhecim.’” os
gravíssimos in (cm branco). Felizmente esta Igreja já tem Roupa
branca, e toda nova |a ra as Funções sagradas em suficiente numero,
o Sacrario ja tem dois Pavilhões ricos, a Snr." já conta dois mantos
tão bem ricos, dois Doccis de Seda e tudo de esmolias; Derão-me
— 124 —

mais, para esta sagrada Imagem huns brincos e Rodeados de oiro com
Diamantes prezo a Imm cordão tãobem de oiro. outro par de brincos
d? prata com petlras brancas, e mais hum Collar de oiro com Imm
Coração de íilagrama, os Estrados da Igreja estão feitos de novo;
a Pia Bauplismal a ponto de caliir ser (em branco) de hum bom gra­
dam.'1’ — Todas as Janellas. Tribunas. Pulpitos e Altar tem seus Cor­
tinados novos: Tem hum bom Reallejo que supre o orgão na festivi­
dade que só elle importou cm oitenta mil reis; mas tttdo isto feito de
esmollas. a minha custa c da pobre fabrica, sem o Governo nada desse,
porque a tudo se diz não ha. <> estado desgraçado desta Igreja |xir
falta de ornamentos como já disse, consequência infalivcl do pouco cazo
dos Governos que aqui tem havido a muitos dos quaes ett mesmo mos­
trei as Vestes sagrarlas no estado que digo, lie a primeira prova da ver­
dade como que von a fallar da lamentável decadencia em que achei e
vi as Igrejas da Capitania, porque se esta a fasse do Governo tem
sido assim tractado. q’ forão aquellas q’ se aehão tão distante e sem
parrochos. Foi pois o dia 10 de Julho de 1823, com q' principiei a
sobir o Rio Xegro. com seis homens de remos, bum piloto, e hum meu
Creado, deixando em meu lugar o R.4 ” João Mog.“ Picanço Vigário do
lugar d • Avrão, não me demorei cm parte alguma e ehegnei ao referido
lugar no dia 15 do mesmo mez: nesta (em branco i jornada deixei a
direita o Sitio de Tarumã, onde antignt."' houve huma Povoação de
Gentios deste nome, e da nação Aruaqui. disse que esta Xação tendo
em guerra acabado a Xação Tarumã, os da Xação Aruaqui forão fun­
dar Ayrãu catequizadas pelos Religiosos Carmelitas calçados também
deixei a minha direita o Rio Atma-rcna, tributario do R. Xegro, a que
os brancos chamão Anna-vilhcna. Suas agoas são pretas, e fazendo a
sua junção com o R. Xegro. ambos formão Ilhas de muita extenção
c tantos C (em branco ) q. liem se pode assignar o proprio leito do
R . Xegro, cujos grandes Canaes da largura do nosso R. Tejo cm a
villa de Tancos em Portugal, juntando-se formão Bahia- e Arocadas
de -I e 6 legoas de largura.
4 leg: abaixo do Ayrão sobre o lado esquerdo, eu jiassei pelo ce­
lebre Sitjo da ponta das pedras: nestas se observan muitas rarid ad -,
entre as quaes he o feitio ríe huma pequena Igreja com |M>rtas, janellas.
duas Torres, a porta principa, bum Zimborio e mais algumas figuras
Xãn posso persuadirme q. a bella simetria que ali vein seja natural, e
só efeito do choque q. ali fazem as agoas. penso q. ali ba muito
artificio e q. o Gentio mui hábil para executar o que vê. nestas pedras
flexíveis com qualquer instrument*! de ferro isto fizesse, a q. os Xa-
cionaes chamão o sitio da lgrejinha. Tanto o Rio Anna villana como
os riaxos q. o cercão por este lado, e a q. os Xac.1' chamão Camtman.
Alapucova c Vourivan, são habitados da Xação Antaqtlis: Esta Xação
on Tribu ȋo tem signaes, ou disformidades, industrial's, em regra
todos ancião nús. e as Mulheres emfeitão se com huma fita tecida de
palha <). ellas juntão das cores q . querem nos braços, em baixo do
sovaco, nos pulsos e nas pernas por sima, e abaixo do juelho, do mesmo
modo cnfeitão os setts filhos q . trazem ao peito; os homens uzão de
arco e fi xa e lanças ervadas. dizem q. ainda hoje comem carne
humana mas q. isto só o praticão com os prezioneiros q . fazem das
nações inemigas.

PARACkAFFO 2.*

Povoado dc .dyrão
Sobranceira ao Rio Negro ao lado esquerdo da sua sobida, ou
margem austral deste Rio a sua situação be levada dos Ares, e livre
por'todos os lados de Pantanos, que a experiencia tem mostrado tra­
zem sempre comsigo a morte. Conta II fogos — 2 Ruas cheias de
matai — hum juiz e sen Alcaide tínicas pessoas que habitam. 11 Cazas
cobertas de palha, quase cahidas. A Igreja meia cabida — o seu
Orago St. Ellias. O Parroeho cabido. Amigam.1" fabricava.se e fiava
se algodão pelo Armazém real. Desde Ayrão the Moura vem 2 Rios
na margem Austral — 1." jan. 2.'1 ba Gentios, agua lie preta, oleo Co-
pabvba <• salsa, na margem do Norte lie o Rio Joguapai com agoa
branca, tem Gentios Arusqui.

1'illr </<• Moura

a esquerda subindo o Rio Negro. Os primeiros moradores cathequi-


zados pelos religiosos Carmelitas calçados forão as nações Maccáo.
Carajai. Cuevana e Jumá, situação não das melhores por ser uma
parte pantanozu. ha 3 fogos 1antes 1:800 fogos) e huma fabrica de
fiar Algodão.
Orago St Ritta de Cassia.
sabio 5 agosto — x do mesmo mez ã Cravoeiro, Illtàs e grâdes Ane-
cadas. Rabias, o rio he temivel pela largura, seus Bachios lie pelas
muyas pedras que no meio de suas Correntes offrecia a vista. 2." dia
da jomad* passei pelo celebre Rio branco, tem agoas cristallinas. elle
faz a sua (em branco) na margem do Norte e desagoa no R . Negro
por tres grandes boceas devididas por 2 Ilhas

Cravoeiro (Povoação)
Saltitifero, na margem austral ou a esquerda subindo. os 1.'"' fun­
dadores forão das Nações Mauáo. Paravn-ana. Moranacu-acena.
— 126 —

Igreja Orago St Alberto — Povoação tem huma Rua larga e com­


prida. contava algum dia 320 fogos, hoje 22 — cabidos c deshabitados.
Iiavia fabrica de trocer algodão do tempo do Gama- numerarios não
ha — muitos Pi (cm branco) pequenos insectos com azas.
14 de Agosto, 4 legoas de Cravoeiro o Rio Coberi na margem
austral tem agoa branca — 2 dias de viagem ate ao Povo de Poiares.
foi habitada da Nação Cavau-ri-cena destruída em guerra hoje a Na­
ção Cara jai. muito Cacáo, Pushed, Breu, Copahyba.

Povoação de Poyares (16 de Agosto)


Na margem austral, esquerda subindo lindissima situação. As
Nações Manau Baré « Passé forão os seus fundadores antigam."' 1830
fogos e 1500 Arcas ou homens capaz pela guerra, hoje 9 cazas cabidas,
os habitantes nmrão nos seus Sitios 2 — 3 dias de jornada distantes

.Algodão — Tabaco — Mandioca, Castanheiras — gado vacum puro —


só o Juiz e Meirinho morão nestas villas —
Igreja St Angelo
sadio 21 Agosto, chegou 22 na 1'illa de Harecllos.
Esta villa foi edificada pelas Nações Manaos. Bare e Payanai. forma 2
colimas separada por huma bella ponta podre de Madeira — hum
comprido palacio em que residião o Governador, o Vig-r geral, e o
D r. Ouvidor está reduzida a matto.
hum quartelh manto para hum Regim.” tem a sorte do Palacio o
Palacctte ou Hospicio dos Carmelitas, — hum grande (em branco)
Real, huna Fabrica de panno de Algodão, huma famoza ollaria desap­
arecerão. foi de 4:600 fogos hoje 22.
(está na margem austral) orago N . Sra. da Conceição.
1.™ Setembro de Barcellos, cheguci 3 Set: a Moreira foi creado pelos
Carmelitas calçados os índios Manau e Baré forão Missionários. está
situado na m arg: austral á huma planicie — plantou-se Algod: Tabaco
c Anil, hoje nada foi de 1700 fogos, hoje só ha dois capazes de se
morarem.
de Moreira 9 Sctem b: e dia 11 à Thomar passei o Rio Varéra que
desagos na marg: austral do Rio Negro, foi habitado pelos Manau
cujas populozas Aldeias principiande deste Rio, occuparão huma e
outra margem do Rio Negro, e dos Rios que lhe erão collatraes. athé
a ponta inferior da ilha Timaxi, fronteira à barra do Rio Chivará.
Os Manáos forão poderosos e igualmente valentes, e muito inclinados
ao Vicio da Antropofagia. Admireime que esta Nação barbara tivesse
idéias dos principios dos Manicheos, mas lie certo que elles admettião
— 1’7 —

ciáis Dcozes — hum chamado Mavari, que era o Autor de todo o bem.
e o outro por lióme Sarava, que era Auctot de ttxlo o nial. Tliomar
1 m arg: austral. D . Jozé 1.’ deu (oral de villa, hojv 1.? fogos antes
780.. dcsappereção os edificios, ainda grandes larangaes. Algodão.
Cacao, Pinheir . . . Piassaba, Mandioca — hoje não da o dizimo dos
dizimos, <trago N .S . do Rozario.
Saín de Thumar 15 S e t: p.“ lugar de Lama = longa cheguei no mesmo
día, íoi fundado pelos Afanan. Bare, e Bamba. marg: austral — de-
ífo n t: huma ilha. I 350 fogos). hoje 13 —
Drago St Jozé.
17 Sept: de lam a longa 19 á St Izabel — Morro Javami a esquerda
ria sobiila do rio, na sua raiz he a primeira Caxoeira passa-se á Sirga.
2." Cachoeira perto de St Izabel. esta Povoação he a seg.'1” que fica a
direita, vê-se de long.-: edificado pelos Indios Vaupé — (2000 fogos)
hoje 19 fog: havia fabrica de Anil. Sabi 23 Setemb: 24 Set: Povoação
de Boa Vista, a esquerda da sobida, fundadores os In d : Mapuri e Ma
(cm branco) (300 fogos) (hoje 18. Drago N .S . da Saude.
24 Set de Boa Vista — 25 à Castanheiro novo, prossimo á esta Povoa­
ção ha a 3." Caxoeira. descarrg: puchava a (em branco) fabrica de
Anil perdida está a direita a sobida do Rio — fundadores Ind: Ma­
puri, Bare, M (em branco) (700 fogos) hoje II. Drago St Antonio
de Lisboa
25 Set: de Castanheiro — 26 a l’ovoac: de N .S . do Carmo — a
direita sobinilo — grande Bahia na frente — Neste Porto a 4.“ Ca­
xoeira — fundad Pichuna que pintas a Cara de preto athe aos Olhos.
Drago N. S. do Carmo (300 fog) hoje 7. (antes Campos: plantados
de anil desde St Izabel até Marabitan por ordem do Gama).
27 Set. de X .S . do Carino, fui atravessar a laica do Rio Caboris a
direita da Sobida do R. Neg." — aguas brancas, na embocadura deste
Rio a Povoação das Caldas — (400 fog) N .S . das Caldas Drago)
hoje s?m Igreja — sem povn. (Castanheiro St Carmo lambem sem
Igreja) -
5.“ Caxoeira - 6.* Caxoeira ao Porto da Sra de Loretto a mais p<-
rigoza — Povoa: da Sra do Loretto, esquerdo, fund: Mapure Bare, M
(em branco) (700 fog) hoje 9 — sem Igreja e outros Estabeleci­
mentos cahidos — 28 Set: Capclla de N . Sra. do Socorro — a direita
— mesmo dia (28) a Povoac: St Jozé, fund. liaré ROO fog: hoje 16
a direita ria sobida — grande Enseada —
Povoac • de Castanheiro velho é Camtmde — assitna deste Povo
7.“ Caxoeira descarregado — nada existe inais da Povoac: teve por
Drago St Antonio de Lisboa, (a direita) — (300 fog)
Contunde a esquerda teve 400 fog: Drago St João Nopomuceno —•
hoje mais nada — 29 Setemb. da Povoaç: de St Jose — à Povoa, rlv
— 128 —

St Pedro a esquerda da subida, fund: Ind: Bare, Mapuri. Autieri.


600 ft>g) boje 10. — Povoaç. de Cantanau — 30 S et: fund: Bare —
a direita 390 fog: boje 7. <trage St Bernardo — Igreja não existe,
na entrada deste Porto a 8-" Caxocir. chantado Cojubv. poco mats
asinta 9." Cax: chamado das fumas — as 2 descaregño. 30 Set:
Povoaç: X .S ra da Xazaretb da Curiana, fund, pelos In d : Mepuri.
Ayrini. Bare, Ma-ay. (a direita (sobindo — 84X) fog: boje 6 fog —
O rag. X .S . da Xazaretb Igreja destruida 30 Set. a noite Fortaleza
de St Gabriel da Caxoeira — Fortalesa n'hutna Rocha viva, a direita.
16 Carrin teiras sobre o Rio — 5 pcssas de ferro, 3 Garitas cobrrt. de
telha, não t a i fossas nem Esplanadas — forão muitos moradores á
roda da fortal — e de fronte 1300 Arcos) hoje 20 fogos, fund. Ind.
Bare. Orago St Gabriel muitos Cap: arrodão esta fortaleza, o Porto
chantad. Prava grande ha unta Cax." chamada Orocobu. Debaixo da
fortaleza outra, passa por huma graganta muito apertada.
2 O u t. Sabi da fortaleza — passei a Povoa, de St Miguel d ■Iparanna.
a direita fund. Bare. 700 fog: boje 4. (Igreja nada) esta 15 Cax.
chant: Caldeirão descareg: 14." cax: Paredão:
Povoa, de St Barbara, a direita, fund. Ind. Manila, Igr: arruinada —
450 fog) hoje 1." perto 15.° Cax." Caranguejo — sabi 4 ou t: passei
pela Povoa, de St Joaquim cl? Coanna na embocadura do rio Guape
\\'au|tes na marg, esquerda fund, [nd: W'aupc (ou Vaupè) e Coonana.
babitão o Rio Vaupè às Xac: Manaus. Bare. T aran a — 3:000 log:
boje 11. Igr. nada Ind: Vaupè gr. Xac. m .'° hem fornidas (Boa vista
Povoa: da Sra St Anna. 5 de O u t: a direita. Ind: Maniba. 290 fog.
boje 9. Igr: sem erttz. T.ugar St Felippc a esquerda — fund. Ind.
Maniba. Igr: cabida. 320 fog. boje 4.
Povoaç. de X .S . da Guia — 6 O u t: Ittd : Mamitas — 600 fo g : boje
8 fog. 16" Caxoeira nu seu porto — X S . da Guia fica quazi tta foz
do Rin Içana, tern Ind: Haniba, Cana. Tintana. Varequena, Tamagnri
7 O ut: Povoa: de St luão Baptista de Malte, marg, direita.
Ind. Baniba. 480 fog. boje 2. Ig r. liad. mais senão o lugar —
7 Chit. Povoa: St. Marcellino, esquerda Ind: Mariba. 400 fog.
boj. 6 abandonados. Povoa: fica na foz do famoso Rio Chiche, fun-
dadorio do R . Xegro. est.- caudelozo Rio teñí Indios Mariba, Cha-
ptiema. Caraqueña. Metido e outros; Chiche
8 outr; Forte de St Jozé de Marabilana. Se a fortaleza de S t Gabriel
da Caxoeira está ñas temías de huma dúzia de homens a renderem
de hum golpe de mão. esta está tal qtte quatro ott 6 lhe poderão fazer
o mesmo
Do forte Espanhol St Carlos ate M arabit: pode S ' chegar em 12 hunts,
na marg, esquerda em huma ponta de terra ent 20 ’—22 e 29 de lat.
— 129 —

Boreal I tin branco) a llanda Espaith: (em branco) de Ierra e paos a


pique c 3 pessas de ferro callib: 4. para fora 4 baterias a 1.” com 3
pessas calibre 3. a 4 la t: teni 4 pcss: callib 3 e tres praças — em tudo
19 pessas de ferro; calibre 4 — 3 — 2 1/2 e 1 1 /2. Só tuca lioas, e
huma menos má cm torno a Povoação. fund. Ind. Arucni c Marapi-
tanas ( Marapizanas) boje 22 cheguei; dia 30 de Novbr, jsira R. Ne­
gro 1823.

1824. lito da Madeira

28 Abril sabio de St Jozé o Padre — 30 na foz do R. Madeira. As


Nações do R. Mad. são — Arará. Marupá. Pama. Lura, Matanari.
L'rupá. Tucuntã, Manti, Carariquina, Juqui, Javarcteirarpa e Mura, a
embocadura no Amazonas 2 militas descendo do Sul an norte, perde o
nome na margem austral do Amazona» na altura de 3" 20', nas suas
cheias atravessa o Amazonas e faz suspender as suas aguas. 2." dia de
navegação ao Sitio Manteigieiras e huma peq. Povoa: de Madreen»
chamado Momturatua?
da V . de Borba — Da embocadura ',é Borítu 24 leguas Borba,
parte austral ou a esquerda da subida, fund. Padr. leznita» ( furão 650
fogos) hoje 33. Igr. St Antonio de Lisboa. Povoação de Jaurai e
Gratas ,i 1 " foráo sepultad, mais de 2000 habitantes, as mulheres allí
não tiverán filhos, suspendían lhe os seus periódicos, e enchavão se lhe
as pernas e ventres — (.rato, leve Igrej. 5 praças. Nas repiquetes
parece a Molestia — D.'chei Borba 18 Maio, o mesmo dia a Povoa,
das Mondara chain: Mtirniuriiliia - i Rio (am im a R :C : a di­
reita a pouco de fmnta de Mtirmurutua — o Rio corre quazi parallel
com o M ed: an lado esquerdo ao subid, do Rio lie a PoVoaç: Canumá
á huma grande enceada, hunt poco abaixo desta Povoa: a direita da
dessida <i<> Rio veem desaguar o Celebre Rio Abacaxis - habitado líe­
los Nac: gentílicas Sapnpe, Camaiti, Avtovaria. Acara-juará, Bravará.
Varupá, Meturucú e Curylia, Na Isa-a do Abacaxis houve do tempo
dos Jezuitás huma Povoação de 1:300 fogos, hoje ainda pocas ruinas
— Pov: Cantimá (19 Maio) Ind. Mundurúçús são pretos até os
olhos, t) Rin Caniima faz junção com um braço do Rio Madeira, c
logo despots mm o R. Abacaxis. 2 dins c 1/2 para gagnar a Manes
muitas Campanas ( Mosque > o Manes das agoas no Camuñas. Maué»
fundado cm 1800, |>or 2 homens beneméritos — 243 fogos existem es­
querda sahir.do o Rio. ( trago N .S . da Conceição — 10 de Junlio de
Manes ao Rio Ramos, pequeno braço do Amazonas — Capella do Isim
Retiro a esquerda sobindo Villa nova da Rainha mitigam.1' Tupina-
barpana <14 Junho) Rio das .Amazonas — fronteira do Governo do
Rio Negro he a elevada Serra da.s Parentins. lióme ríos Indios que a
— 130 —

habitarão ella fica tia e-qiivrd.a da solida do Ri), hum para acima do
celebre Ri<> «Ias TrombetaS que entra no Amazonas pelo direito, e pou­
co abaixo do rio Tupinaharana que faz a Mia junção com o mesmo
Amazonas pelo seu lado esquerdo — dizem que aqui morava as Ama­
zonas. que cautberizavani o peito direito |>ara melhor I )e~emv<>lvercm
-cus Arcos. Entra no Rio das Amazonas depois dos dominios portu-
guezcs 140 e tantos Rios (SO k g : entrando no mar) 60 leg: sem per­
der a cor. Amaz: tem ilhas de 10 até 20 leguas de comprido, traz
grandes arvores antigas e como a terra mesma, que vai enterrar no
Todos os annus o Amaz: declara uma guerra destruidora aquelas
colinas que ficão mais a sna alcançe Cabiam matos inteiros nas
correuléses e com estrondo perigosas as Emliarcações.

Index dos Rias que enlrão no Amasmias


Abacaxis. ■timaré:, Acarapi, Acoti pirerá. .Iimiuiw. Anajas, Ana-
riru-piieá. .Iniba. Apuar pari. .Irari. Araticú. Arorari, Atumá. Ara-
ralú. Ariiius. Huvaitri, Rio das tres barras. Jlorúri, Rio Kraneo, Caita.
Cashiptirú. Coy-ame, Camitica. Caiiiiniá. Capim. Capuri, Canipa-pari.
Carara-uçú. Calhió, Cure-bitri. Cuvari. Cavidiá, Chivará. Coári. Coyari,
Capijo. Curiase, Caricari-aii. Curmí, Curtta-tnanema, Curtirá, D a r ia .
Demc Llemitli, Goajavá, Guátua. Guiriri. Giirnpaltibá, Gurapi, Já
Jayarojo, Jara-ii(ú. Jari Jalapa, Jaú, Javarí, Jasó, lea-itá, Irabú, Jrijo,
fáná Jitrua. Jiiltai; Japixá. Japocô, Java-piri. Jupurá. Jiirubaxi,
Madeira. Maracaná. Maracapueú. Marajó Marapani, Moravia. Mario,
Mattapi. Mattori. Majucoré, Majitvi-si, Mira, M ojó, Mortes, Marajá.
Mutii-avá, Miitu-oeú da Costa. \'appó. R Xcyrp, Xaiuundá. Pavaja,
Poca-jiitó, Padaviiti, Parinui. Paitxis. Pcrí-á, Prridii. J’oppajilo, Pareó,
Purii-aná. Puniré. Puras. (Juijiimi Ramos. Sarará. Siniité, S arabio.
Taculú, Tapajos. T affc. Tiyuié, Toeanlim. Tocré. Tapiña Carona
Trnnibeb’S. lavará Tauapii. Taracú. Taraua-acá. Tarapiiim Tarivii,
Tatuó. Taupe. Tanto:. Tajitvaitá Comá. Tencvixi Tereré, t'exié.
Tejó. Tamarinari, Tuiiii, Trilló. I'ruárá, Trabó. Criibu-coará. Siiiyil.
(144).
\ ’¡llanura da Rainha an lado esq: subindo da Serra do Parintins.
1 / fundador o Capitão Jozé Pedro Curdmil — ajuntpva Indios Topi-
nalrarena. Matte e Mondrecús, he huma llha porque be cercada (2 ra­
mos) ]>elo Rio Ram is outro lado o Amazonas, habitantes 3Q6, tem
hum Rezisto. tem praças e hum Comandante. Capitão (14 Junho
chegou o Padre) sábio 17,
Rio Attumá. (barreiras Cararaucú) querem alguns que <> Ri,, Attuma
seja hum braço do Rio Negro que elle destaca nas visinhanças de
Ayrão - habit: Ind: \ruaqui. l-erucunm. Sedem, e Paraqui — 1/2 dia
— 131 —

de jomada da boca do Rio Attumá. Orago St Anna — Rio <!•• Jat-


tapú — 2 dins de jornada pelo rio Attuma a direita, 3 dias
de jumada huma Çaxocira invencivd morão os Indios Paraquis, \rua-
<|iiis — Jattap-u pcnencc ao district» de Silves — Villa nova de Santo
Antonio do Jattapú. jmico acima do Rio — fundado pelo Tuxaua ou
Principal dos Parentes. M.r l \ da Silva fundou a 1 / caza 1819.
22 casas - 350 almas. Sahi 27. Rio de Sarácá ou Villa de Silver,
n Rio Sarácá a cerca. (O Ri > Aniba. imi braço do Am az:i Villa de
Silves no lado direito >nbindo he rodiftdo pilos lagos e o Rio Aniba
forma huma Ilha — 62 fogos —
Villa de Serpa, amigam.”' Ita.-oahinra (pedras pintadas) furão 1200
fogús. (Jrago. Sn." do Ruzario.

Soliititwij 1824.

13 Dechr: 15 D : a boca rio Lago Janunca a esq: sob: o rio Pes­


queiro imperial, Peix. para Hospital e Fortaleza St Jozé a oitava dia
de jornada a boca do Rio dos Peruns I Punis), largura huma milha, a
esquerda subindo — 3° 50’ lat: austral, malsadio nasce no Perú, habi­
tada pelos Cata vixi, Itata-piujâ, Irijú e Tia ri — Praia da <hiça
Tatarug :
28 l)b r : a boca do Rio Coari, que rcrv'ic o Orocuparnna e o
Arua-am. a esq: sob: dessendo Sul partí o Norte. 4" In*,, a u st: lar­
gura 2 leg: 1'ovoaç: Airwllus fund. Ind. Solimán. Vaniani, Cata vixi.
Juma. Cochivará, Irijú e Varcepi. a esquerda da subida do Rio Coari,
na frente huma grande Bahia. 300 íog: hoje 170. Doença chamada
Tettinga são varias maihas pretas no todo o corpo.
28 de Janeiro Rio Tvífé on Tepe, sua largura he pouco menos
que o Coari, elle desce do Sul para o Norte desagua no Amazonas cm
3“ 18’ ao Sul do Fuñador, as suns aguas são pratas fica a esquerda da
s< Rida do rio 3 milhas de navegação pelo TcílT assima está na margem
• ritnial a Villa de Ega: fund: pdos Snlliman. Vnijupi. Cúrela; Coeru-
ná Juma'. Juprrã, Tamuatia e Achorari. chegado 7 tem branco) ha
m.’* (Cm branco). Na frente de Ega. na margem occidental d<» riu Tef-
fc. cuja largura he de 7 milhas está a Povuação dr Nogueira, fund, dos
Indies Amima, T (cm branco| Javan»»’. Cirú. Vagapi Caiarixi e Maria
arana — 10 <le Jan. cheguci n P»»v«.»ação de Al varans. a esq. sob. do Rio
na marg, oriental de hum ríaxo chamado Vieira digo l ’ra-va. fund.
Ambua. Varu e Cova. 1758. Fonte laia, pouco distante, ao lado direito
subindo <> famozo Rio Japurâ cm que houverão já 2 Igrejas e 2 Puvoa-
ções. huma chamado Marapi. urago St A u l: mitro de Juño «lo Principe
hoje ua<la existe.» Rio Japura muitas Caxoeim-.. elle entra no Amazo­
nas |w>r 7 dtffcrentcs boceas. a sua fonte mínima alta Serra ao Oriente
— 132 —

de P ojaran na Hesjranha e corre de Oest a Test jiarallelo ao Rio Ne­


gro — Os llespanhoes chamán a ponte superior d'este-rio Caquetá.
Dizem alguns Ind: velhos da Nac: Cavaná, que assima da Caxoeira
superior ha huma Nação chamado Igina ou Coatatapija, os quaes to­
das tem caudas, e se fecundarão com os gr. Macacos Coatál! O lag o
Copara houvc huma Povoação dos In d : Juma e Achuran. 16 cheguei
ao Lugar da fonte Boa a esq: da subid: futid. Tnd: Camla-lia. chegarão
ainda os Indios Maraca, Araicá. Xamaná, Ticuna. I’assé e Tumbirá.
sabio 19 de Fonte boa — 4 leg. distante a barra do Rio Jutai cm 2° 40’
Sul. da larra desee para o Norte - Xa (tarto inferior,do rio habitan
es Ind. Tapoxará, Varaicú e Maraña. 25 jan. |Xarnoitei na linea do Rio
Tonantins a direita da subida ha Aldeia dos Ind. Pariana, Guanana
e Caixana. 26 J . jiernoitei entre 2 reaxo- Matttrá e Matura-cttpaca
antigam.'" huma Aldeia dos Ind. Cajtt-ricina. Capella de St Ant. da
Boa Vista hum poco abaixo. O Rio Içá fica a direita entra no Amaz.
em 3“ 9' Sul dizem que nasce na S .rra da Cid. de Pasto no Rumo de
Nordeste da Cid de AVito, O s Hespanh. lhe dão o nume de Putumaio.
Neste rio entrão muitos outros Rios, riaxos e lagos habitados pelos
índios Passe. Chomana. Miranha, Juri. Tpmbira, Pirara. Icã. Ca-
catu-pija. To am a........ ha neste rio hum destacamento militar, urna
Capilla da N . Sra do Carmo.
27 Jan : de noite à Castro de Avcllans, fund pelos Ind. Cambeba,
Tariana, Chomana, Cajuvicena.
30 Jau. Villa de Olivença antigam.'" St Paulo j jtassei js>r 2 pe­
quenos rios Aoura c Jundia em cujas margens habitâo os ind.
Varaica. Marana, Colimo e Majtiruná
30 Jail. V. de Olivença fund: Ind: Combeha, Tucana, Chomana.
Passe e Ju ri.
■I dias de jornada, canoa anda a pique d u m negociante.
4 feb: avistamos o lugar aonde foi a Villa de St Jozé de Javarí
primeira Capital deste listado na marg. austr. do Amaz. fund, jielos
Ind Tttviená hoje tem matto — 9 leg assima este o Rio Javarí na
marg. attst do Amaz. 4” do Sul habit,, jwlos Xac. Ind. Maraña.
Varaicú. Pano, Chajaritá, Chimamta. Janeo ■ Majuruná. Os Maju-
runã trazan ,, Cabello crescido e Coroa aberta como os frades.
O nariz e os beiços são crivados com muitos furos, em que melem
espinhos compridos, e nos furos dos ramos da laicca, pennas <lc Arára.
No beiço inferior, extremidade de nariz e das orelhas pendurâo chapi­
nhas esféricas que fazem de certas conxas marítimas a que chamam
Itan.
2 leg: assima do Rio Javarí está na m arg: septend: do Amaz. () Forte
de São Freo. Xavier de Tabatinga, (chegue q ..........) (O Rio Napo
- 133 —

aos Espanhoes — cassarão os Portugueses <lk- tem oiro tem marco na


m arg: sejrt. do rio Xapn alguns dias de viagem por elle assima.
Taliatinga — em tres planos divididos por hum pequeño Ribeirão 2-4
logos — 336 pessoas.
Do porto ao entrar nesta. Povtiação sobem de 25 degrãos.
lairetto 1 porto llespanh. sub. 1 dia <le v::ig: dcsseildo 4 pessas de
bronze de mialibre <le 6. e 2 de ferro de cal. 1." a porta d-> Comatid.
estão mais 3 de bronze de cal: de 1 e I 1/2. sem Indias 22 homens.
12 fcvr. d - Taliatinga em 2 dias té Oli vença — (subindo 6 dias
( flivcnça (280 fogos t hoje 52, (466 pessoas)
17 lança ferro no |«>rtn de Castro de Avellans, milito desg (180
fogí hoje 10. (85 pessoas)

Boa vista. 16 fogos ( 169 pessoas) <\'ac: Juri. Passe, Churiiniia. Rio
Içá. Capel X .S . do Carmo — Posto militar de II Sold, e o tomam
muito febril da Iw c a do rio té o Posto militar lie um bom dia de
viag-rn, a dinita a subida. 2 pessas de ferro de 1.
Capella do Esp. S t : de Tonantins. 23 fev: 17 fogos (195 pess. Fonte
boa. 27 fev: 35 fogos, tatitigam." 200) I milha distante da barra
do Amaz:
Alvarcns 4 Março — 28 fogos (120 antig)
7 Maio Villa de Ega — (travessou o Rio Teffé a Nogueira).
10 outra vez em Ega. ( kÍ fogos sabia 15 Março
23 M : a m va Cnpella Mathias da Costa — Cap. da S . St Amia —
sabio 28 e 29 de Março a Fort: St Jeteé
(4 Visita)
. tñiin 1825— Kio /Iraitm
Sabio de Si losé 16 Dbr: e 22 I ': ao Porto d? Ayrño.
25 a M oura. 6 leguas ns-irna da villa de Mourn está a boira do Rio
Branco, cll ■ v.'iii huma milha de largura. mareadas Bahia- dohrc-m a
largura, tem muitas ilhas, e as margem uma areia grossa e vermelha,
depois dr dois dias de viag. ve-se uma Serra altiss: cliam: taru m á —
Povo para cm nutro tempo houve Ind: Macoxi. Caripiina. Attian.
Paravicná. Saptirá. Paravilhnnn, Capixana. l'ixutia. Aptísima, e ou­
tras. Povuaçíifs que atiles existirem são St Ant Almas. St. Barbara.
St Mortinho. Si Feiippe. Conceição St Maria, c S. Bento — hoje só 3.
29 Dbr. I ' Povoaçãn St Maria, fiouei até 5 Jan : 1826. a direita da
sobida 12 fogos, air.ig. 6(X) — malsadiu. pestif-.ro. 6 de Jan : 1/2 dia
de jornada subindo, a Indo direito são as Ruças Imperial's.
— 134 —

9 Jan . Pov. do Carmo a c.m i : solando. (600 an u s i buje 16 fogos


sqhio II Jan princip ns Caxncirns no din 17 I.' l a x . do Rabino,
dcsearr: canoas a espia 1 2 dia mais assima 2." Cax: Pancada-
grtmdc — oescarr: a Sirga ao lado direito
19. 3 Cax: chamado Caxoeirinlta descarrg:
21. a fazenda imperia'. Capola St Beato - mais 2 .miro, faz: imper:
St Joaquim. • St Marcos, a esq. sob: ba Vaqueiros e 1mm Cappataz.
.22 Jan: a Eurtaleza St Joaquim, a sua frente fazem a sua junção o
R . branco <■o 11. Taqnetú est" corre da G. Holland, subindo 15 dias
jom ad: ha o primeiro Posto on Resisto Cyquebc e de-te ponto a sita
1 / Cid. Demorara ha 4 días (da
Pessas 10 tie calib. 6 c 4 de calilo 4 outros 4 de calib 3 Pra 9.
|>ertó ha peq. Povoa, de 13 logos Vaqueiros e Soldad, cazados.
3 de Março estaca de colla Padre.

A rq. latía 416 — Doc. 6.


MEMÓRIA SÓBRE A CAPITANIA DO PARÁ — 1819
J o S ft DE BR ITO 1XC.LEZ
M .li.
A utographo

M EM ORIA que contem breves, e ragas reflexões sobre a


tãpilaui.. rio PARA, ■ sobre os diversos Estabelecimentos
de S.M ag.' na mesma Capitania: offerecitla
A<> Jllni.'' e Exni" S a ir. Thomnz Antonio de Villa Nora Portugal
do Const lito de Estado. Menistro e Secretario tie Estado tios Negocñ
do Reino, Encarregado dos Negocios Estrangeiros, e dos da (¡tierra.
Prezidcnie do Real Erario, e Commcndador nas Ordens de Christo t
da Torre e Esjiatla.
Ouo babeo, gratíssimos of fero; si parra stint que pos-
sitfco. non rfuliesco.
Scnec.

As AX ES não são capares de defenderem a.» Cidades, mas. a-


que estavão no Capitolio, despertando com o seu intrépido a
Manijo, salvarão a Roma do furor dos Franceses.

Him." e Exm.” S rn r.

TEN D O ME LEVADO IIL’MA CO N ST A N T E M EDITA -


CAO ao conhecimento de que tiño apparece facilmente a occasiáo de
hum Official se distinguir notavelmente, e que não he muitas vezes
do seu alcance o fazer-se ao menos conhecido, por ser antes hum dom.
ou. depender tie fortuna, do que dos seus esforços: satisfeito por isso
em fazer reeahir a força do meu merecimento exacto do- deveres
d'aquetle emprego, que occtipasse; tenho sido invariável neste princi­
pio: e em diferentes épocas, e distinctas estações tie serviço aliás
criticas, perigozas. e assão de consideração, Como liei feito verificar
nos documentos com que enderecei hum r«|ucrim ?°, que levei à Real
— 136 —

Preztnça; tenha desenvolvida aquclle caracter preciza para ser con­


ceituado, e deixada ver aqitefte germe d? esperanças, que jjodião con­
ceber-se da minha acanhada estera. Com esta convicção que tem sem­
pre precedido a todos os msus actos, tenho eutretido o meu espirito na
maxima de hum grande Sabio— Que os Homens tem, como as Plan­
tas, qualidades occuhas. que u acazo faz a appnreccr; e. que alguma
destas pode mui bem hum dia apparccer em mim na certeza que não
são so as baionetas, a.- espadas, e a àrtilheria quem fazem conhecido
hum Vassallo, e »>lida a grandeza de huma Nação, se ella nã<» tem por
bases inaliahvíis a sccncia. n moral, a política, v a moderação: ver
dade que talvez, induzia a esclnmar o Gr.’’ Federico 2.° da Prussia-Va­
lor Sem regra, he quase sempre inútil'
Porem, devendo me o maior e mais justo interesse o Serviço de
S. Afag." eu mv vejo ua Hsongvira, mas dura necessidade de fallar a
V .E x ? de hum nbjccto, que me deve a tn." mais agradavel attvnção, c
que de certo ocçupa toda a m." sensibilidade, qual he a Cap.'* do Pará,
e portanto obedecendo às Ordens de V . Ex.“ de jspôr por muito as m 1”
ideas sobre os pontos de que V.Ex.* se dignou informar-se de mim
rvllntivos a esta Cap."" direi o que he do meu limitado alcanc?. e o que
me tcin feito conhecer o espaço de sette anuos, que tantos há. que Sou
Ajudante de <Irdcns d ’aqudle Governo; confessando corn a m.“ natural
ingenuidade. que •‘inte bastante, e he assás doloroza para mim a falia
dos conhei im.””’ prccizos para poder avaliar a m - longa viajem pelos
Cerlôes, mie acabo de fazer, e combinar por dies, c |>or as cidades
v Vifias do Brazil, que lenho visto, como Bahia, Pernambuco. Ceará.
Maranhão, Câkíns de Aldeas Altas, Piauhy e etc., o importante e in­
disputável lugar, que distmctamrn*,’ ucrupa no Imperio de S. Alag-’ a
Capitania do Pará: Mas, seguro, une o agrado imminent? do Proteu-
t'ir he quern rnmmmiica mnis bella elegancia ao seu Protegido. como o
bom espelho faz miús precioza a figura; e que cm mat-ria sublime a
ousadia he eloquencia; rjti em reflexões vagas fallar do Para, rogando
a \ .Ex." de favorecer a m." fraqueza na lembrança de que d.•pendendo
ã dignidade de cada emprego da quantidade <- especie de virtude, que se
pod.* exercer nelle. com esta verdadé e com «»s iiirüs expastos princi­
pios i.mlr» feito, e farei únicamente o meu name conhecido, pida des­
graça de nu haverem fartado os meios para estudar, e agora tnesmo
não me Ííicilnar o m u pequeno soldo as proporções de ter l>ons
livros.
HE SEM CONTRAD IÇÃO A TO DA S \S I.C ZES CLARO,
que a Capitania do Para tcm huma incómparaveí preferencia de impor­
tancia. estimação «■p -.- isso de respeito a todas a> nutras de» Brazil; pela
sua hvdrographia prodigio?, a. franca, e geral: pela sita vegetação
prempta, lucrativa e quas? espontanea: pela sua extensão nimiam.’"
— 137 —

grande, util.susceptível de navegar-se, c ver-se; e peh» seus limites com


as Possessões Frnncczas, Hollandezas, e 11espanholas, franqueando ¡>e!a
seu interior estas Communicaçõcs c hum conunercio activo, nutrindo
hum outro rico-nneinna! cum as suas próprias Villas c Aldeas, e com
a Cap."4 do Rio Negro. e tudo p.ir meio da navegação admiravri dos
seus grandes rios, que fazendo o Pará, para assim dizer, hum P rin ­
cipado. offeree? huma constante escola maril ina cm proveito do Ser­
viço dr S . Mag.’ porque os seus habitant •> indígenas indist¡netamente
chaina»!' s para o serviç • dos navio- dr guerra drsenipenhão com faci­
lidade notável as obrigações de marinheiro; e os ( tffiviacs mesmos na­
vegando o Amazonas, c outros rios athé a Cap."* do Rio Negro são
obrigados a practicar-n» quase as mesmas vigílias, trabalhos, t mesmo
observações romo .-<• navegasrem outros marc*. Esta Cap?*, pode di­
zer se. tem sido principiada, c nunca acabada, ou, protegida: contudo
adiantada, v cada vez mais diffittikoza. \lem do cxpisto, que segun­
do i« mens curtos conliedm."* posso diz.-r do Pará: eu não poderia
avançar mais du (pie disse G>n<lamine, Meauprrtuci. Monteiro, e ou­
tros. que irm fallado dr» grande Riu Amazonas; c já mais pode ser de
mim a lembrança de equiparar as m.“* noticias a- destas grandes sa­
inéis : mas. tenho todo o direito de fallar como Nacional, e coma amante
ilos interesses dr S .M a g /, v concorrer quanto possa para a protecção
de huma Cap?* tão impretante: j>or isso continúo a dizer, que edn
deve merecer u mais seria atíençâo. c he a mais digna de respeito, e
des cuidados lo Solieran-, pelo germe couh.-cidu de huma Grandeza
Ctillossal, que • ffvrree. c que pode hum dia ela só fazer o Antemural,
e refugio do Brazil, tendo por apoio, cm estado de d.ícza, c assoreada
a Capitania do Rio Grande do Sul. bem entendido nu sentido de pro­
tecção, com quem sc rommunicn por terra pelo seu interior a coberto
de toda a prqmndcrancia. projectos. c torças que huma guerra lhes
possa preparar; pois hc bem evidente, que o Pará faz as suas com-
niunicaçõvs sem sabir ao Grecano com M att" ’ ¡rosso. Goiás, <■ por
Cónscq.* com t-idas as Minas: cum a Cap.”* de São Paulo, Rio Grande-
do Sul, Bahia, Pernambuco, Ceará. Maranhão, athé Cawmiv. c.c-,
não sendo tão ejteríl o te giro admiravcl. que não jmssa ^'limitánea­
mente lucrar hum commercio reconhccidam?" utilissinv! I*. qual hc
.1 Cap?” do Brazil que está neste sentido: qual a que tem nem parte
de suas pro|>orçõcs?.. . Mas. qual o Remo. m. Nação que pode
lisonjear de possuir hum sem." Principado, une não esteja au alcance
de hum hloquein fatal, c das insidias d-• Inimigo?
<i Pará, rdem da sua hvdrographia. que o torna tão rccomm.-nda-
vel. c faz a Bnzc dr sua grandeza; tem v differvntcs gêneros de
exportação, todos ric* v todos sem grandes tralKÚho.- d" mão de obra,
quero uízer, d ’agricultura: he abund?* de diversas preciosidades, como
a sita hispiría o diz. de cri-taCs, pedras preciosas, c de ouro. com » se
— 138 -

araba de r conhecer na porção de que ini encarregado pelo meu Ge­


neral p.“ entregar a S.M ngA como entregue!: tem cm si bous. e
seguros sitios, e lugares para estaileiros, como un Cidade de Hellem.
Macapá. Santarém. libido-, • na Villa da Barra do Rio Negro: tem
grandes malas, boas madeiras de construcção: o ferro, o pez. a estppa.
e a piaçaln <l< «me liá fabrica de am arra- no Rio Negro: soberlm anani
para o tom.eiame. que a experiencia. tem feito ver de hum prestini •
preferível a outra madeira: os seus habitantes indígenas são, como
disse, dados a navegaçã". e capazes de trabalho com elle- houver sis­
tema. Para as proporções da vida, a Cap."» do Para he a única, que
pode ofiereeer constantan." 1 a abundancia pela nafiiireza do sen ter­
reno. e fr-squidáo. <iuase tudo ilhas, e [tela prompta vegetação: tem
muitas e differentes frutas todas saborozas, e athé esquesitas. e exó­
ticas : os seus rios abundances de agoas, e por isso suas margens feriéis,
fazendo as tartarugas hunt grande recurso de alimento dos sens Habí­
tenles. e outras m .'“ producções naturaes de que não tracto por nñ -
ser '.ote o meu obiecto. vendo-me contudo obrigado a ÇOcar estas ideas
|>ara concluir a grandeza do paiz. Para objectos d? luxo, e recreio,
qual he a C'ap.“ utte abunda, como o Pará, de bellas e finas madeira-
para ornamento de cazas, de que se faz athé hum pequeno ramo de
commercio? Qual o paiz onde se fação, nu, possão fazer com tanta
facilidad ■i-staliellecimentos c engenhos d’agoa cujas ventagen- são tão
palpáveis? Na Cidade magnificas sombrias estradas em hum paiz de
huma sii|K-ríieie vcrdadeiramenU' piaña, torneadas de vistazos arvore­
dos. maiorm."' de canellciras. que com mais plantas exóticas tem tor­
nado o Pará huma nova Crilão, ou, huma Semelhança das Molucas
pelas especiarias, que havendo-se aclimatisado aprczcnlão hum convite
agradavel ao Extrangeiro. que gosta de sentir o fino aroma, que
constantem."’ exhalan. e ao Nacional huma lisongeira vaidade d ■poder
a toda a hora gozer francam.” de wo amenos, c sorregados passeio.-?
E não são est.is os materiaes todos de huma Grandeza Collossai? Que
paiz no mundo tem cm si este fôco de opulencia, de grandeza e de
riqueza? O Pará não necessita de soccorros para ser grande, nem tem
exigências extranhas jiara aprezentar o seu nome orgulhozo: elle so
depende dos seus Nacionacs, dos seus Habitantes, e da protecção <’-»
Seu Soberano, e Senhor, da qual tem sido, como abandonado, vendo
inutilizados estes tão c.lebre.s recursos proprios, que offercce livre e
naturalmente, e que fazem cm toda a parte, e em todò o tempo o
objeçto de riqueza, e da inveja, e ]ior consequência da grand :za que
pretendo provar.
Não sendo os dons da Natureza /cm qualquer grao de perfeição,
qti • os stipponhainos' sufficientes para huma verdadeira grandeza se
elles não são acconqianhados dos auxilios da Arte, e de outros admi-
139 —

niculos: o Pará por i-so não tem podido sabir de hum estado quase
monótono <11 que tem sempre jazido! <) misteriozo espaço de se re
anuos de (m vrrno interino foi hum gol|ie quase morral, que aggravan-
do os antigos abuzos e tornando sem acção as suas forças naturae'
promettia hum triste ím.tiro, quando appareceo, como Astro brilhante,
o actual Governador e Capitão General o Exm." Conde de Villa-Flor,
cujo genio intuitivo conhece cm b r e v tempo o estado de desgraça de
huma tão hrlla Cap.“*: mas sendo ella na razão da sua grandeza não
tem cabido no seu alcance hum remedio repentino, nem era possível...
Contudo, reconhecendo S. Ex.“ mui bem a qualidade da doença, e
o estado delta, partindo sabiamente "do grande principio. que os abu­
sos em vão se aliacán directamente se lhes não são substituidos modos
e ideas mais daras e sistemáticas, providencias, e authoridade bem sus­
tentada" começou c ni as applicações convenientes de mui t m pestiva-
regtilações. e em pouco espaço de tempo as cotizas temando huma face
nova, apparcceo como niisteriozani.” huma nova época no Pará, on.
para milhor me explicar, huma agradar -I rietliamorphose. que fará
sempre memorável o seu Governo. A moral, c a instrucção Ixtse in­
questionável das Monarehias. peso interno que perpetua os Estados,
o Capitel Corintho da Sociedade I12111 estabellecida folgarão lo g o ...
restituindo-se o respeii.i á Rclligiáo. que solluçava abatida cm puro
indiffereutismo: e unindo no Seminario as Aulas de Grammntica 1-a
tina. Rethorica. Philosophia Racional, c Theologia Moral, que desmem­
bradas. ou. desprezadas não tinhãu exercício; abrindo-se ao mesmo
temjxi a> aulas do 1." anno de Mathetnatica, e Dezenho: a Tropa, que
- : achava refundida em hum estado quase de nullidade. c onde a re-
laxação parecia haver-sc familiarizado, existia ern sentido amphibiu, a
sem parte, ou huma gr.'' parte dos seus vencimentos: circunstancia
assãs terrível em hunt paiz limitrophe, de necessidade digno de consi­
deração militar; mas. não tardou a surgir tiovam.,? fardada, instruida
na nova >irdi-nança. e restituida a hum estado drfini’.’vo de subordi-
naççu. <le garbo, de força e de gloria: ella aprezent.i a melhor perspec­
tiva, c Imm Corpo luzido e respeitável: daqui se vê a razão com <pi •
diz Imm celebre Politici — il ne faut ¡¡'un I f omine d'ini certain co­
meteré fo u r entrainer afrés lui tons fes nutres, ct fo u r donner le ton
a tóale une Xution.
l)s Indios óloioroza lem brança!!./ que cm outro tempo da ami­
gada época soffrião a maior vexaçâo — para applicações particulares
cohonestadas com o Serviço do Contracto das carnes veriles, dos diff "
serviços das arrematações dos Dizimos, e Serviço de S.M ag.', fazen-
do-os por isso afugentar do tracto commum. e assustan<lo-os de come­
çarem suas rossas, e trabalhos titeis. e commercials pelo receio d -
serem prestos e subitamente levados a estranho lugar e serviço do qv.al
nunca havião pagamento: já mais querido ápparecer, nem oceuparem-se
— 140 —

cm beneficio da sua lavoura: desgraça rute tem feito hum mal extremo
ao Pará, que falto de braços necessita muito dos seus lmliginas, c estes
de hum sistema a toda a prudencia! S .F .x ? o General actual sem
perda de tempo declarou millo, e destruiu este sistema fatal, obrigando
os Coutractadorcs a njustàrèm-se com os índios, não sendo estes ja
mais prez:*. ou, chamados senão pant o Serviço indispem-avcl de
S.Mag.'' para as camas, que transportan os Destacamentos, ou. em­
barcação. mie salte ftliê Maranhão, ordenando com esjieciai menção
os seus vencimentos. Eis huma Caliza effecient: da infelicidade do
Paiz, quero dizer a vcxaçân antiga dos índios.
RECONSTRUCÇAO, que deixada a si mesma para assim dizer,
consumia hum fundo considerável de dinheiro, como he fácil tic ver
pelo temp i title empregava, <■ pelas emitas dadas pela Junta da Real
Fazenda, não devendo hum interesse effective c zelozo se faria dis-
petidioza. e annullaria os gr." meios do ]miz : se hum General laboriozo
nãu vigiasse, e promovesse tão fortemente o seu trabalho e circunstan­
cias, im|«iriambi-llie as cotizas mais míniiciozas, contando, e conhecen­
do os Offici.aes trabalhadores, e empregados, e estimulando a reconhe­
cida actividade. e zelozo inter -ssc do actual Intendente Interino; de
maneira que o Pará depois de hum esyido de desventura ve nos sens
Estaileiros na Cidade huma grande fragata de guerra, e huma escuna;
:■ me consta agora, cm Marapa mitra escuna, e etu a Villa da Barra
du Rio Negro huma mitra. Ah. e que foco de delapidação. mie con­
sequências tão mortais, e tão lesivas á Real Fazeda uño facilita a
rcla.xnção. < o punco cazo norte importante artigo de Construcção I !
A Capitania do T'ani he a única, un - tem muitos rslalieleeimcnios de
S.M ag.’ productivos de hum cmnnierciu intento, isto lie. de huma Uli
lidade exper num.tda eni proveito da Fazenda Real, cuja administração
e; eni.mica combinada cmn a geral da Capitania pride fazer o Pará
ta lv z indep súdente dos Contingentes qitc recebe do Maranhão.
A Serra-ia, e fabrica de madeira destinadas á eonstrucção. <■ mie
simultaneamente -i-r-.i o cedro, louro, etc-, para vender-se aos Parti­
culares por con'a da Fazenda R al. one ventagens não podem of ¡crecer
• e cilas forem inspeccionadas, c administradas com zelo, e interesse?
Porque, sendo os trabalhos feitos pelos ludios daqtie'les arredores, r-
vencendo mod :cos salarios, e sendo a madeira limita; ciar - -e vê. que
as ventagens serão sempre na razão do trabalho, ou.- ja mais lie inútil,
n-ni soffre empate. >• na razão da madeira, e por consequência lui tal
i-stabv!erim< mu deve s r olhado com vigilancia, e o seu fiscal responder
pelos cones da madeira, pela serraria, e pelo numero da gente empre­
gada. e peas f rranientas. que recebe, fazendo hum ramo <lv arreca­
dação s-pararlo, que laça conhecer a sua vantagem, ou, possibilidade,
ou. prejuízo p.“ em consequência se remediar, prevenir, c promover-se
— HI —

o m as pussiv?! esse interese da Real Fazenda: mas hum v m . v esta-


bdtçimcnii-, como Todos, assãs remotos da Cidade tem a infelicidade
de não poderem ser vistos do General, c creio que lambem o não cos-
lumão ser pelo Intendente /ao menos no rncli tempo/ se bem que o
actual tizc-se ja huma vizit,-» a esta fabrica. Talvez, que havendo hum
Inspector de Todos os Estabelecimentos Renes. que pudesse pvssoahil.,, ‘
inspeccionar, v.-r, c responder itnmcdiaiam.’" ao (¡enera!, a Fazenda
Real utilizasse mui. o bem entendido., que hum tal Inspector devia ser
desligado da authoridade do Intendente para se conferirem as rellaçõcs
da m.'sma surte, que hum Inspector Militar vé pcssoahn.'*. e toma
contas nos Brigadeiros. Coronéis c Comm/* dos Regimentos para res­
ponder ao (¡enera!, v á Secretaría de listado.
A fabrica do carvão tão util. • tfio necessaria para os consumo-
do \rscnal e Trem, qua.iv sempre não corresponde, sendo ni?’" vexes
pr-.ciz.t comprar-se carvão para <» Trem com lesão duplicada da Fa­
zenda Real; porquanto não só despende cm numerário j>ara esta falta,
como uáo se tirãn vantagens dos salarios dos Indios, suidos dos Pe­
destres, alimentos, r «miras despezas; c portanto está na mesma razão
da anVvediniv, merecedora de Inima viva vigilancia, que a faça ao
invJK'i fornecer o> consumos do Arsenal e 'l'rem, quando não pndvssr
dar hum superfino para vrndcr-sc ao Publico, como aquella madeira,
cujo producá serviría para contrabalançar as despezas, que taz, ; tor­
n a r le ind*.pendente do dinheiro <la Ju n ta; e tendo as mesmas provi­
dencias. «i liisncctor doria ao (¡enera! a sua contn? que á vista da do
Intendem serviría de combinar o sett otad o , c remediar os abusos.
A fabrica das amarras no Rio Negro he puramente zelada pelo
Governador, o qual dá conta an General c à Junta; e nesta Cnp.na hã
•.mm fabrica de rolo*, d- panno de algodão, que serve para o arranjo
ccc'jn.im.co dos Indio*, que se empregâo nu serviço de S.M ag.’, e pa-
re.’c dever igualm.’" pertencer á vigilancia de hum Inspvicr Geral
Fiscal, imc p ssoalm.*’ entrain no seu rniudo conhceim."’ para com-
mitnicar ao i ¡. •vemadur o modo de melhoramento, ou, exigir as pro­
videncias precisas, pois parkin vendrr-se ao Publico lambent tanto
amarras, como ó ¡Minio; u uunl Fiscal sem cusv» fará esta insptcção no
Rio Negro fi«» tempo, que destinar a cspecionnr os iríais estabclccim-’" .
c ar plebes. que estão alisolutam.*’ binge das vistas do General exigem
irrcmediavvlm.1'- hum Inspector. I’erniitta-sc-nie observar, que sendo
hoje tão gr.* c táo activo o commereio, c mesmo lavoura do Rio Negro,
e tvndo me los de Iticr ». e cccotiumia a Fazmda Real, como as manVxlgas
de tartaruga v etc., esteja esta Cap."" tão dependente ainda do nume­
rario do Para para pagar á Tropa ali destacada!
A elaboração das mant vigas de tartaruga he obiccto respeitável, e
o mais importante do* cuidados dos Governadores do Ri » Negro, pois
— 142 —

o he de primeira necessidade em toda a Cap.'" pela tizo simultaneo, que


delia se faz. A manteiga serve para allmniar. e para a (Sente jiobre
tenqx-rar os setts guizados e comeres; c tal he, on deve ser a pjrção
de manteiga, que toda a tiente se allumín rom ella, sendo apenas o
azeite de anderoba hunt snpplemcnto. ou. accessorio para ella. Do
trabalho das mantcigas he sempre vantajoza o lucro pela sita absoluta
necessidade, e pr ferivel portanto, no tempo prqprio. a outro qualquer
trabalho, e por isso se Ionia hum ramo de commercio interno ría Capi-
Vmia do Rio Negro, com toda a do l’ará. o qttal depende ixclusivain.'’’
da protecção d’aquclle Governador, que se não for z -l-oni e amante dos
interesses da Rcai Faz.'*" elle pode ser imicatn."' cm sen proveito, pois
que lora do alcance do ti.'" e Cap.'" General, as dispozições ccconomi-
eas do sin Governo são sempre segd." o seu modo tie |tensar. e neste
particular podem ser na razão dos lucros e da abundancia dos ovos de
tartaruga- Mas, não sendo accreditav l que hum Gov."' deixe de vista
este ramo verdadeirani.'" ú til: carece, que elle se lembre, o litáis |w>.—
sivcl, da sita ecconomia. quero dizer, o íazer applicar o maior numero
ti ■gente desponivel a esta elaboração, c que esta seja feita c trabalhada
com soceego c apuro afim de que se faça logo neste acto huma sepa­
ração d'aipulla menos boa. <• mellos capaz, para não ser indistincta-
mente empregadá em os trabalhos das fortalezas, de gala gala etc., a
manteiga capaz de allumiar. que [«ale ser vendida com interesse co­
nhecido. e vigiando os sens extravíos qttas.- sempre grandes, e mesn.io
abusos na acção ¡le arrecadarem-se os ovos, e de elaborarem-se, reco­
nhecer miudam.1" a gente empregada, s - corresponde o irabalbo não só
ao sen numero, como á abundancia dos ovos, o que he faeilimo alhe
pela noticia das vantagens dos Particulares. Sendo constante esta fa­
brica de mantcigas. maiorm." no tempo competente, («trece, que divi-
dind-i—e em hum ramo aparte, c ',endo a protecção do General, e
cs]iecialm."' d’aquclle Gov.'". elle poderia ser applicado á ¡Iluminação
desta C -rt ; porque, ainda que não extrahisse mais de duzentos potes
no primeiro atino. d.v« quaes cada hum tem de 10 a 12 frascos com­
mons; seria hum lie'.o principio (tara coadjuvar o consumo dos azeites
<le peixc, que há rom esta ¡Iluminação, e começar a prq>arar-sé hum
aeces-ono. une p do decurso, e progresso do tem|x> seria scinpre em
rellação á protecção e vigilancia dnqiielle (invernad ir. e mesmo do
General; e claro lia de crer. para futuras grandezas, e vantagens ca­
r-ce de aiVomão liem acertados principios, c providencias, porque he
com vagar c por dqgráos. que as cotizas chegão a perfeição: mas. seto
aquella protecção decidida será inútil todo o trabalho. e vãos todos
os dezejos!
Entrando; quase sempre, cm todos os projectos os caprichos, e
por consequência o desconcerto de ideas; as incertezas, e com estas a
— 143 —

fadiga. as apftthias, c logo o amortccimcn’.o, c enfim as formniidades.


qu.- consomem o tempo, e produzem a emulação, que fere imined ta­
ram-1’' o coração daqUfilles. que satyriza, e maldiz tudo o que conhece
não ser -eu. ou. otruscar em parte o seu nome, e pundonor: he bcm
de crer, que ja mais si- podrrão conseguir bous, e prospero- resultados,
e preparar fortuna. ou. huma grandeza futura enquanto estes terríveis
abusos nao se ai.tacarem dircctain?1', e ><• Ibes oppozcrcm huma
grand * acção, c confiança prudencial, no menos fundada na probabili­
dade. de que mal faz tentar, leudo em materia desta natureza, e ni jos
; uccess.jñ .nao comprehcndao resultados, que possão fazer huma des­
graça: en fallo de materia int -rúa dr ccconomia nacional, ou. parcial;
r me sino | torque cm geral, ninguém ¡xide duvidar que sem alicerce não
se edifica com segurança: e portanto sem sábias disposições, b.-ni re­
gulados estábelecifti.’"". v sem nutras providencias os Imperios não tem
>ido grandes, nem as suas ventagens tem sido obras de momentos.
Ora, todo o mundo no Pará sabe bem, que o azeite de andcrolm,
he Ixmi para a luz: eu renho estudado com cila: h? amargo c por iss •
tom huma triplicada ventagvm: porque conto não tem n uzo de adubar o
corner. como a manteiga, he sempre mais barato 160, 200r " enda pote:
não faz fumaça: e os ratos, e os escravos não uucrcm entrar com elle,
•i que não suceedv á mair^iga. Este azeite, producto de huma casta­
nha de hoje cm m.‘" maior e mais considerável |wirçn«i. que antigamente,
como ninguém pod ■duvidar. deniancira que há fabricas deli'?, como eu
sei de huma do R.'’” P.’ Jozc Pestana de Vas-** na Bahia do Limoeiro
onde elle se trabalha mui aseadamente: logo se esta elaboração do
azeite de anderoba se tem aventajado, e crsscíd'»: hc evidente ser sus­
ceptível de augmento, c este o será na razão da cultura do castanheiro,
v esta segundo a proteção cm se promover de maneira que se torne
hum ramo uua<- geral nus sítios onde abundar. Eis pois hum m."'
capaz. «• infídlive! acce.-sorio. ou. supplements á manteiga de tartaruga,
> por conseq.*' n > cazo de fazer-se hum spccorro ã ¡Iluminação desta
lu rte : nfto direi grande soccorrp, mas algum: c com sábias providen­
cias viu poucos anuos se bnv rã huma boa porção, que pode ser trans­
portada nas pv<|urnn< embarcações do Pará. de que se tirará a dupla
vin-agem de haver-se. ao menos cada hum anuo, hum correio para
aquella Cap."" tão infclizm.*’ favorecida das noticias da Corte: c he
deste modo, qtie tem sido f.odas às cotizas, começando ás vezes por
jirquthas providencias, que cahindo em esquecimento surgem d.pois
com espanto bemdiz.endo a mão nuc as regulou: he d’obscrvar. que o
azeite de anderoba. como a manteiga, chega a fazer-se duro, isto lie.
coalhar, porem, poucas vezes hr na razão da athmosphvra, mas sim
do modo com que foi trabalhado.
— 144 —

O A Z E IT E DE JAC \R É lie, como se sabe, bcm drsag rada vel:


nías promovendo-sc a sua abundancia, jxús há nos lagos de Marajó c
cm otit.ros m ,<H sitios enorme c prodigioso numero dust.* peixe de
huma. grandeza notavd; pode haver huma reserva delle p." o consume»
das obras de furtefícaçân, p." de mudo algum se gastar outro azeite,
ou, mam?iga; e segundo a quantidade deste peixe que appareve nos
lagos, pode ser grande a fabrica do seu azeite. o que se conseguirá
com a protecção do General, eslabelécvndu-se huma com os mesmos
regulam.'"’, que todos os mais •••dabelecim.’"" de S.M ag.' n aquella
Cap.”" • e segundó tenho notado, creio que <■ azeite de jacaré não tarín
mais fumaça na ¡Iluminação, que o azeite actual, que consome a illu-
ininaçâ»; mas q?" elle seja interior, podia ser mandado p*ft esta Corte
para os traba thus de fortificação, c outros sem."* consumos, c eccoiiomi-
zar-sc aqucllc. qué servé p? o uzo da ¡Iluminação, lie necessário poi>
rep tir, que tal projecto carece de protecção, e talvez de hum Empr<-
giylo positivam.’’' a cafó resjxñto. que tome sobre si com interesse esta
tão util (¡economía. e todos os mais cstábcléeim.1'*’, tudo debaixo «la-
vistas do General.
Enquanto n sob.rbo, túmido \mnzunas. que desde o seu nascimen­
to no Reino do Perú da celebre Gagoa Uiuncocba junto da Cidade de
Guanuco d»s Ca valle: ros fizer o espaçozo curso de quase mil e out<>
cvntas kgoas com outenta c quatro de bocea nr» maior Oceano do cabo
do Xnrtc. r com suas imtnen.-as e abundantes ngoas favorecer os mui­
tos c- notáveis rios da Capitania do Pará: os Ccrtões deata Cap."" será»,
sempre ferieis, ricos, c agradáveis, jx>r isso o cstabelccim.'0 do Pes­
queiro de S.Mag." chamado de Villa Franca s.*rá sempre hum esta-
l eiecimculi» lucrativo pela pescaria admiravcl do peixe boi. c do pirarcú,
qur salgado, ou. secco he hum ramo de gr.* vcconomia jxira a Fazenda
Real, purquautp destj peixe se fazem os fornecimentos do Arcenal.
dós Pedestres, das canoas de serviço e da Tropa, que salte em deligcn-
cia: v esta pesca está na razão do trabalho pela m.‘" abundancia de
peixe: e sendo, como disse, muí módicos os salarios dos Indios, as
vrntagens sã<. conhecidas, porque clics se sustenta» do mcsnio p d x c :
e quando apurção he gránele at he se pude vernier ao Publico, que hoje
reputa o pirarcú como genero de primeira necessidade. E com cí feito
sendo bcm preparado elle dá de rosto ao bacalhau; r crcio bem, que
hum dia se tornará hum ramo important,e de cummercio na Costa do
Brazil, porque a pesca de Particulares sendo grande, ella não -ufíre
empate, e a experiencia tem feito conhecer que o pirarcú he bem ali­
mento, e nada nocivo á Escravatura; detuaneira que he mui grande .
scu consumo, e faz no Para hum object» mercantil. Este cstaheW»-
m?ntc Hem m»í trido especialmente ni.*"* abusos, e não tcm merecido des
- 145

seus Administradores a devida vigilancia e zelo, sendo elle verda-


deiram."' mil, e por isso no cazo de dever ser inspeccionado para
que não só encha o seu fim d ■fornecer os Armazéns Reacs, mas alls
se ppssa vender por coma da Real Fazenda. He de notar neste lugar,
que do peixe boi se extrahe lambem manteiga para luz-s. Oh. quanto
seria Util se houvesse quem conhecesse e experimentasse com paciencia
e zelo as proporções que offcreeem estes, e outros estabelecimentos tão
fáceis no Pará!
O Pesqueiro das tainhas he hum outro estabelecim.'" d’inquestió-
navel utilidade: he tinas- sempre immensa e constante a pesca deste
peixe: ellas são salgadas, ou seqcus. c outras metidas cm moira para
screm remetidas ao Receltedor. ou. Thesoureiro, o qual pela simplex
conta do Administrador, assim responde á Real Fazenda: isto he. á
ju n ta que lambem está pelas rellações deste Recebedor sem o u tra'
combinações mi. modos de fiscalizar, que possão mostrar se há. on.
não abuso, e se lie. ou não susceptível o pesqueiro tie maiores venta-
gens; c segundo as minhas ideas não será este o Ixtm method» de hmn..
tal arrecadação, sugeita por este modo a muitos inconvenientes; por."’
s.-ndo milhares, e milhões de milhares de tainhas, que se pescão. oti.
podeni [icscar constantemente vendidas a 10. a 20, e a 3 0" cada huma
ao Publico, claro está, que hc necessária a vigilancia cm combinar as
ventagens tios preços com a gente empregada, c se esta lie o numero
aquem S.M ag? |wga para este trabalho: este esta b e le c im .está na
ordem dos outros e he tie m.1* utilidade a S .M a g 1 pelo fornecim.'" que
offerecc aos Armazéns, e ao Publico, que faz huma parti- tio seu ali­
mento espccialm.1' na Quaresma, c que sendo bom peix? e agradavel
lie objccto tie necessidade ao Pará, e por isso de prompto consumo, e
portanto de ventagem, -• for Item administrado c arrecadado a favor
ria Fazenda Real.
A agratlavel e bella Ilha de Joannes, ou. M arajó respeitável pela
sua fertilidade, pelo seu local, c extensão, e que he digna por estes titulos
tia mais viva protecção e vigilancia por ser atile o armazém, pira assim
rlizer, ou, dcpozito do gado |>ara toda a Capitania infelizm." soffreo
hum choque fatal no tempo do Governo Interino pela indescreta ex-
tracção de gado vaccum. que se fez para as ilhas de Sotavento, ou.
Extrangeiras, e immensas carnes seccas que se facilitarão e íizerão t.
desfalque desta ilha, que gemia huma tão sensível falta, não pela im­
possibilidade de nova creação, e poder remir-se em pouco tempo; mas
sim jielas nenhumas providencias p." seus pastos, c porque crescendo
os Vadios e Dezert.ores a salvo continuam.1' se conhecião roubos de
gados, que imindo-s ■ ao consumo extraordinario, que faz só o Con­
tracto ria Cidade de 30 a 40 hois por dia. via aproximar huma total
— 146 —

taita, e acatar hum tão seguro e prompto objecto do rendimento da


Real Fazenda, que no imposto «las carnes verdes lem nclle o sen cons-
tantp recurso. Foi sem demora bem eonhecidá esta desgraça ao G-‘"
e Cap."' General actual, c tão sensível foi, que fez sentir as inais cffi-
eazes providencias contra os Vadios, e roubadores de gados, vcndu-sc
na nece-sidad? de tomar, como tez. o grande e necessário expediento
<lc ir pcssoalmentc à ilha, v ins|x.*cci<mando as Fazendas de S. Mag.c,
vio o estado da ilha digno da maior attenção. Não >v podendo duvi­
dar. <iur os cinco reis cm libra da* carnes verdes Ir? o rendimento mais
constan^ da Real Fazenda, ja se pode ver a precizão das providencias
p.a a manutenção e creação do gado nesta iamoza ilha; c seria m.ta
c mdcspcnsavel utilidade que se promovesse nella a plantação do capinj
de .Angula para lerem pastos cm abundancia os gados: e. como a
População do Pará maiorm.tf na cidade tem erseido rn.to, c tinha «1
Comercio Marítimo augmentado scnsivelni." entrando de seltcnla a
milenta e tantos navios de todos os lotes nestes últimos annus he natu­
ral o haver crescido o consumo das carnes verdes, não se satisfazendo
a Cidade com quarenta bois por dia. /he verdade, «pu- são bois i*que-
nos. que puncos excedem auto arrobas pela falta de gado' c portanto a
ilha não pode fornecer hum consumo táo grande. |x>rque lambem for­
nece Camutã. Macapá, etc. sem estrago total, consequência d aquella
exportação por sette anuos, e dos roubadores do gado. Para obviar esti­
mai. que he verdadeiram.’* hum mal ]>ara o Povo, para a ilha, e para
a Fazenda Real carece de sistema ath e; isto he. não <le simpüccs pro­
videncias. que não são occúltas ao Genio cln General actual, mas de
hum projecto formal, que não lhe seja menos conhecido: aliás cin
pouco se conhecerá o perigo aqtie está aquella íorm«»za ilha reduzida,
e a Real Fazenda |x>rtanto n sentirá.
\ authoridadc tie hum Inspector das Fazendas de S.M ag. 1*, q u ­
ão mesmo tempo hr Coronel Comm." da Legião Miliciana, mas com
fazendas próprias, e por isso Creador; não tem mostrado a experiencia
n'aquel Ir desgraçado l mipo. que fosse bastante para conter os extra
vios. e roubadores. Com o actual General outra face tem tomado a
ecconomia «Ia ilha: mas tendo ella o espaço de 55 leguas em seu
com prim í, e 35 de largura athe á contra costea; já s? vê, que he
necessária hiia Authnridadc, que cuidando só do governo da ilha, res­
ponda ao General com desinteresse. e não tenha receios de ver impli­
cações. c mvolvimentos nas suas propria* fazendas os quacs todavia,
apezar de sua integridade, não pod- prevenir por não haverem vaiados
ou, divisões, que contenháo os gados, e que não facilitem aos seus
proprios Vaqueiros. e Moços o comineterem roubos, ou ctincorrerem
]>àra os extravíos das carnes. S .M a g ' tem nas Suas fazendas muit?»-
gados: e como estes maiormente no tempo de secca correm, como os
outros, p." a contra costa indistinciam.* entráo cm m.,a * diversas r
— 147 —

alheias fazendas, marcados, e por marcar; e p ir con-equ ncia servem


aos toiiImj* dos Vadios aquem a Contra costa favorece; <• logo que
apparccvm nas fazendas alheias gados não marcados ou ferrados, aque
chamán orelhudos. eis os mareão, <• quase sempre u prejuízo he so das
fazendas de S.Alrig.* cujos Vaqueiros não tem o mesmo interesse e
cuidado, que os I'articulares, que m.’" vigião estes sucessos, <• os - its
gados: daqui nasce diminuir o gado a S. Mag.c c por isso o não puder
vender, como lie costume, e perder os couros, q.*’" por conta da Real
Fax., u se convertessem cm carnes estergados. Como disse. tem cres­
cido a População do P ará: e tendo sido olhada em Lisboa esta Cap.n“,
como degredo, todos os navios trazem Homens degradados, qttr mu­
dando de clima, não nmdáo <lc condição; v se bem o General os laça
logo marchar para o* seus destinos: todavia íacilm.*- cscapão 'pela
natureza do paiz/ e vagando pela Capitania succede qitasc sempre seja
a infeliz ilha de Joannes o object" das suas rapinaçòvs: c eis hum
motivo, que apezar d : se achar prevenido, tem feito c fará hum
objecto da desgraça daquvlia ilha, que actualm.1” custa a sustentar o
contracto, sendo necessário annexar-lhe os dizimos de S.M ag.”.
Por estes motivos, e p *1o accrcscimo da População entendo seria
de huma ventagcm. e absoluta necessidade a protecção da pesca, já nos
referirlo- Pesqueiros de S.M ag" ja nos differentes rios concedendo se
privilegios de izençôts aos índios, que se nccupasscm neste trabalho
afim de ajudarem a sustentação do Povo, e haver abundancia dé peixe
fresco v marisco, o que muito suppriria afalta tias carnes: ao mesmo
tempi», que a ilha sentiría hum soccorro immenso diminuindo a ma­
tança do gado p.a o Contracto. E estes índios occtqmdus na pesca
estarían alistados na Intendencia para se reconhecer se com rí feito o
erãu. v o seu trabalho, ou. pescaria lhe seria livre p.* a venda aprezen-
lando todavia ao Inúndente o peixe para elle informar, q.*1" fosse
prerizo. Promover-sv cffectivam.P a plantação do capim d'Angola
afim de haverem pastos bons, porque o terreno deve ser excediente, c
ter no maior rigor cm acção todas as providencias contra os Vadios r
Roubado res de gado: prohibir as carnes scccas, concedendo -õ a ne­
cessária aos Fazendeiros jxira consumo da sua gente e escravos; r
conceder írançam .proporcionada cxtracção de algún gado para fa­
zendas particulares fora da illta, c nos certòes, que devem promover se
afim de cm júnteos annos o Pará poder contar mais e-LalKdccim-'” de
gados, hoje tão necessários no Brazil, e ajudarem a ilha do que resul­
tará hum incalculável interesse ao Publico e à Fazenda Real: não só
pelo imposto dos cinco reis, p»ois o consumo da carne será sempre
grande, como pela venda de setts gados nas gr.” l ?az.’1*' de S.M ag.”
na mesma ilha: cuja- fazendas podem ser mui úteis, v concorrer tn."’
— 148 —

á ecconomia da Real Fazenda se merecerán «proteção de lams e intei­


ros Administradores, pelos m.'"* gados, e outras proporções.
Esta ilha pela stia natureza. pela sua pozição hydrographica, <•
mesmo pela sua População está no cazo de ter hum Governador mi­
litar, que não seja Fazendeiro, isto lie. Creador de gados, que olhando
para a sttá administração ecconomica a ponha acoberço de insultos do
inimigo /em cazo de guerra/ que por toda a parte a |>ode entrar; c
com pequeno destacamento de Tropa de linha para fazer a liase da
Ordem, c subordinação do serviço, ajudado da Legião, poderá com
algíia fortificação ter a ilha em estado de respeito, e sustentar se athc
o General d.-terminar o que exigirem as circunstancias.
A candía quem dirá que as poucas canclleiras. que a Fazenda
Real tem no jardim do Pará dão hum rendimento, que mostra sobe­
ja m " quanto pode ser lucrativa esta cultura? Eu me lembro d
ottvir. que se tem vendido a canella e.xtrahida deste jardim a 700" :
libra, aqual não demanda grande trabalho na sua cultura; e creio, que
promovendo se com cuidado podería ser hum dos ramos, que mereça
entrar em linha de conta p." o futuro; e havendo algum terreno, elle
deve ser occupado de canclleiras, que fará atlie a conveniencia agra
davcl de purificar o ar com o seu aroma, c hum dia ser objecto mais
vivo de commercio: ao menos será huma parte que unindo-se ao-
estabelecim."’" de S .M ag.' não inutilizará os trabalhos dos Prezos. qut
se empregão na sua cultura, e preparação, e concorrerá para a ecco­
nomia ventajoza, que deites se pode tirar, alliviando a Fazenda Real de
despender o numerario para as despezas, que elles exigem.
Ja não pode ser occtdto, que no Caité existe ou ro : e a noticia de
huma mina tem-se feito geral pela exlracção. que acaba tie fazer-se
dessa porção, que foi aprezeutada a S.M ag.'. Desde m."' tempo que
se sabe haver ouro naquellc sitio de Perneaba, e no tempo du Govern >
Interino constou extrahir-se. utilizando mais o Maranhão, que o Pará
em suas ventagens- Como pois sejão aquella villa, e outros lugar---
accessiveis por mar. como em escala para o Commercio do Maranhão
especialm.1' de pequenas embarcações: claro se vê. que pode fácil
mente desafiar alguma vez aquella noticia a ambição de Aventureiros
Extrangeiros. e demandarem aquelles lugares, onde se estabelecerão
seg.'ln lhes convier, inda que temporariamente ; e se Iwm não possâo
fazer ventagens em "Xt.raeção de ouro por alguma circunstancia, ou.
de ignorarem o verdadeiro sitio, ou, por a maneira de acharem o ouro
contudo, pedem mui liem converter a sua ambição e trabalhos na pilha­
gem. roubo, e destruição daquell-s sitios, e Moradores; e como se
achem sem defeza. o General não lhes poderá accudir senão depois d
vinte dias, para mais, apt-zar da sua actividade e providencias, e he
precizo ser logo am ado , vista a distancia tia Capital. Como tacs
- 149 —

successes devem sempre cauzar grandes damnos. e redundan em des­


graça. cspccialin.”* na pr-.zente época, e cm hüa Cap.n a tão extensa, e
jM»r isso corno a sua força mui dividida; he evidente, que o Cañé’ ou.
Bragança deverá ter hum Governador, ou. ( ommandantc Militar, que
com hum Destacamento de Tropa de linha e com as Companhias Me­
jicanas daquell-s destrietns ponha cm estado militar e de respeito
nqucllc «itiu debaixo da proticcçâo todavia de huma pequena batería
enllocada onde mellh.r convier, scgund<« o conhecimento de accessibili-
dade. c vantagem de defensa, que offereçn o terreno nos sítios. que se
tiverem em vista guardar.
liste estado de respeito, ou, militar não serviría só p.® impedir ••
accesso de Aventureiros marítimos, mas sim de obviar a concurrencia
de Vadios, c a outra gente, que persuadida de achar ouro sem grande
trabalho. correrão tanto do Maranhão em cujo limite está o Caite,
como do Pará, e resultará iníallivelmcnte deste concurso a existencia
de Rapiñadores, malvados, e portanto hum foco de perturliação: al-m
de que nada utilizando o Estado e mesmo os Particulares em pequenas
vxtracções de ouro, que he at he onde podr chegar Gente pobre, que se
contentará por preguiça natural com qualquer Cotiza: lie fácil de ver
o perigo. qitr resultará de sent Gente ser livre nesta extracção. jxiis
<e evadí á agricultura, á pesca, e «nitros trabalhos mais litéis e de
primeira necessidade só pela ambição dr acharem ouro; e |x>rtanto
deve ser de especial attençâo, que o ouro soja ext rábido por Compa­
nhias de .Accionistas, ou Homens bem éstalxdlvcidos, que fação desta
extracção hum ramo e Objccto lucrativo cm que empregando braços
]>or sua conta, c S.M ag-' tendo as ventagens. que lhes são devidas;
a agricultura. e outros cstabelecim?'** tão preciaos, c de toda a alisoluta
preferencia não soffrão diminuição, ou, lesão: Em huma palavra:
O ouro he riqueza: o Caite há muito, que facilita a sua extracção:
quaes são as ventagens. que signal de augmento tem tido aquella Villa
de os seus Moradores, mais nu menos, haverem extrahido suas jiorçoes
de ouro há tanto tempo? Nenhumas ventagens!!! Pelo contrario se
conhece, que hv susceptível de hum gr.” progresso de commercio do
sd, da p.'sca e da agricultura de farinha, bom arroz, algodão, caffé
etc. Será enfim de observar neste lugar, que paizes há mais que
1 hit ros dignos de serem considerados debaixo de hum sistema de guer­

ra: isto he. d- previdencia, de vigilancia, c de cautella: porque a ex­


periencia tem feito ver sempre. «pie «piem m.to se confia he incauto.
<• da desconfiança há sempre a ventagem de se estar prevenido, poden-
do-se juntar, como adminiculo a esta observação, «pie nenhum mal
succedc de ouvirem se ás vezes Homens sem conhecí m.****, sem nome,
e sem aura popular: porque pode se contudo aventurar o credito,
a reputação, ou, mesmo servirem dc suscitarem ideas em grandes. «
— 150 —

¡Iluminados Espiritus: ma>. cia temeridade, do poner» cazo, ou, do des


prezo de certas cotizas, que parecem âs vezes inúteis, mas que cir­
cunstancias tomão niaravilhozas hum día, ou. o podem ser pela .u le:
ja inais se ¡M»d- esperar senão hum mal, senão for desg raça... e lie
|>or isso que talvez o immortal (em branco) julgava de tudo o pcior,
ou, desconfiava para se enganar menos vezes.
FIN A L M E N T E contendo os Grandes Paizes ordrnariam.te em
razão da sua grandeza a do® seus abusos, e estes sejão também na
razão da jjosiçâo r natureza do paiz: he evidente, que o Pará terha em
si mcsnio pela sua hydrographia ;q>ar de sua grandeza a razão de algún*
abusos, que s<» huma especial att nção e hum Genio zelozo e Creador
pode prevenir. Ilv sabido, que as Alfandegns, isto he, que os sen-
rendim.’"’ fazem a riqueza c lucro da Fazenda Real; e no Pará ccm-
binadn com os Dizimos, que pagão todos os gêneros de embarque;
torna este ramo de Alfandcga o mais puderozo, lucrativo, e respeitável
Object o para a Fazenda Real: e por consequência serão sempre fataes
os extravíos, v golpes, que soffrcr huma sem" arrecadação: Porem,
succedendo que os navios que navegan para o Pará demandem neces­
sariamente as salinas, coin». Ponto iníallivel, e receberam o Practico
da Barra; alguns há extrangeiros que recusão receber o Practico, <_.
l>ortanh» «brigados a procurarem <i Porto da Cidade com as m aré-:
dão fundo enquanto não a tem : e no entretanto, como pelo Indo
oriental da Cidade nthe ás salinas há estabelecimentos, fazendas. •
lugares, que estão a fácil alcance de lanxas. c escaleres; pode sucerdv
d'/sem Rarearem os cffeitos todos, ou, parte. que depois sem custo vã-
buscar c entrando o Porto ou muito leves, ou. em lastro; ris hum
golpe c huma diminuição nos direityjs da Aliandcga: c. como conhecem
o paiz trazem os seus papéis e conhecimentos ja prevenidos. Este
abuso fatal pode extender’se athc no» navios nacionaes, porque a sim­
ples prezei iça do Practico não os impede dr os commctterem. E com<
pode hum General evitar hum sem* abuso, se elle he commcttido a
mais de 12. 15, c 20 leguas? He necesario pois hum sistema parti­
cular de serviço, e cunstituir-se na Villa da Vigia hum Destacamento
do qual saiba diariamente huma canoa chamada de rotula, ou de re­
gisto com hum Ixmi official inferior, e quatro soldados, que não
tenha outro fim senão viajar desde a Barra, athe perto da Tojoca.
não sendp realmente precizo senão rotular desde a Vigia atjhc á Barra,
o que não tem escapado á vigilancia czclo incançavel do actual Gene­
ral Conde de Villa Flor, que projectava estabelecer duas barcas canho­
neiras huma para este fim. e outra para a Gm tra Costa para prevenir
os cintarques de gados, e carnes scccas: c mc consta por hum official
Melieiano Ligeiro. .me sabio a 15 de Junho passado do Pará, qu: n>
Barca? rstavãn ja em serviço. Oh. praza a.. Ceo. que S.M ag.’’ con-
— 151 —

ceda aquella Cap."* a continuação do Actual General, que parece muí-


Upliair-.se a si mesmo para acudir a tantos cazos dignos da sua vigi­
lancia. porquanto cm ires anuos apenas pode conhecer e mal prevenir
as doenças de hum Corpo tão extenso e complicado como o Para,
cspecinlm.”' depois da molestia de selle anuos: o sen sistema c pru­
dencia. e maiorm.’ a af feição, qu • tcm ganhado aos Habitantes
pora»» no cazo de fazer hum grande Serviço a S .M a g “ em huma
Cap."* que ella su vale hum Principado.
Aquellvs abusos pois, que facilita a navegação da entrada do Para
são da mesma, c de ni.’" mais pezo. e de prior natureza para a sabida.
J ’urque, combinandu-sc os Mestres, c conter.dendo-sc os Consignata­
rios com os Donos ou Proprietários dos géneros. <• dos c ffeitos p." a
carga dos suus navios, riles lhes >áo levados em canoas aos sitios que
lli-s m arean: ou, elles mesmos comprando os géneros e retendo-os cm
caza, em alguma occasiâu. que escape as rondas da Policía cííectiva
que o General |x>r isso estabeleceu. os cmbarcãu em pequenas canoas, c
os vão depositar, conforme tcm ajustado, nos sitios ja conhecidos. r
depois despachan os navios ou em lastro, pretextando búa mitra espe­
culação. un. que não fazem conta os generas, uu. levan os navios cm
meia carga tambem com motivos especiosos para dqxris d? sahircm.
carregarem ns navios fora do alcance de vista do General, c da Cidade,
v portanto fora da anilharia da Fortaleza.
Quando isto não existisse, bastaria argumentar da possibilidade
pcJa natureza da navegação afim de se darem providencias, c prevenir
tars abusos. qúe nunca cscãpão á ambição do commcrcio, e aos nave­
gadores mercantes; e em t;il cazo he prudencia temer o que he jiara
rviçéar: quanto mais, o argumento he fácil. Appareça o numero de
navios, que entrãe e sahern. e tem sido nestes últimos anuos de 7(1 a SO.
c mais: Vcja-se qual he o scu lote, ou, que Inundadas tcm ; e se clips
sahem enrrégadós ou, n ã o ... e, coiiféríndo-se o lote, com o Dizimo,
e com o despacho de Alfandega se reconhecerá o que íica exposto;
c examines-, -se então onde h;i o ab u so ... e lugo se reconhecerá, que
be. on. na faltfi do Dizimo «piando saiha carregado, e portanto em
incuria, mi. boa fe du> despachas da Alfandega; ou. porque vai car-
regar clandestinamente, quando saiha em lastro, ou. muito leve: jxh-
quanto, |>vlos registos de Gurupa. e outros competentes consta o cacau,
que entra do (. ertão c Cam utá: a salsa, o oleo, o cravo <$> etc. De
necessidade se embareão, pois não tcm outra applicação.. hora. *»s
réditos d’Alfahdega, r os D’zimos não lhes correspondem, nem aos
lutes <!<!•' navios, que entran e sahem. pois ellcs não vem viajar. |og<>
há a b u s o ... logo. deve haver a maior vigilancia, e desconfiança:
especinlm.'” podendo as canoas, que descem do Certão carregadas na­
vegar athe aquellos accuzados sítios clandestinos, sem m.”‘ risco de
serem vistas. ou, desconfiadas, segundo a nautreza d«» Paiz.
— 152 —

Estes, e outros sem /' abusos que estão ao alcance dos meus co­
nhecimento'-, talvez tenhão apenas grande vulto na m ? pequena esfera,
e no meu Patriotismo, que m.19 se influe com a urdem: não duvido:
Mas, a Cap?” do Pará não está no mesmo estado de commercio em
que antigam-”' estava há 15. ou. 20 annos anteriores: ela tem crescido
cm agricultura; em Engenhos, e em mais commcrcio, c at he no da
Escravatura, que não tinha: por consequência as ventagens devem ter
crescido, ou. os seus rendimentos, que tinidos aos Estabelecimentos de
S .M a g / fazem, ou. devem fazer hum fundo considerável das R.*u<la>
Reaes: as >uas despezas haverão crescido, mas ja mais em razão dupla
dos setts réditos... E hc de notar athe, que acUialm.*® se consonrm
objectus de luxo, que erão desconhecidos, c cujos direitos augmenta­
rán; e novamente existem impostos cm gêneros uue nunca os ti verão,
como mel, milho, etc. r que se estão exportando para as Ilhas de
Sotavento.
Dezcju concluir — Que finalmente m? parece, que o Pará tem
rendim /" |»ara a sua despeza. e que talvez possa ser independente do
Contingente de Maranhão: Ou, ao menos com elle poder sustentar sem
pre alguma construção de navios de guerra, sem vexame da Fazenda
Real.
Com u maior respeitp pois submetto á reconhecida prudencia e sa­
bedoria de V.Ex." todo u exposto nesta memoria, que contem vagas
reflexões sobre o Pará: esperando a protecção de V .E x .“ na certeza,
que os llomens são como a moeda, e valem o que os seus Protectores
querem, que valbão; podendo assegurar a V .E x ? que as minhas idea-
são filhas do meu patriotismo, c dos meus dezejos de ser util de alguma
sorte ao Serviço de S.M ag. 1 além d’aquelle em que diariam-1'1 me em­
prego na dita Cap.n “ v se ellas não são novas, como creio, servirão au
menos de estimular o bom serviço de S .M a g /. E eu contentando-mi
de não ser o que não devo ser, continuarei sempre satisfeito a servir
exactamente; e disto farei, como disse, o meu merecim.’® esjxjrandu
contudo a fortuna de V.Ex.* e S .M a g / recontare rem a m “ m.,u fiel
vontade, a animo independente ao Seu Real Serviço. E achando-me
em dcligcncia nesta Corte há mais de quatro mexes: permit*»' V .E x.
de chamar sua attenção e sensibilidade ás circunstancias de hum O ffi­
cial. que tendo sempre vivido só de seus limitados soidos com família:
nâo pode demorar-se nesta Corte s?m vexaçãu manifesta de suas pro-
porções, e ]>or isso regando n lembrança futura de V.Ex.* me apre-
zento á Justiça, c Integridade de V.Ex.* para que despachando-mc
agora, me dé a duplicada ventagem de aproveitar o tempo de servir
cum hum General a quern, tcndo-sc a n vista as circunstancias do Pará
depois do maravilhozo espaço de 7 annus de Gov.9 Interino com razão
se npplicar o que. Tácito diz de Ncrva = Rciolim dissociabilcs mintiit,
— 153 —

Priucipiptuni ac Libértatela, c o i|uc lemos em paginas respeitáveis =


Constitui te hndie super tientes... sit ez-ellus... et adifices. et plantes-

De V.Ex.»

Illin." e Exm.“ Senr. Thoniaz Antonio de Villa Nova Portugal


Do Conselho de Estado. Menistro e Secretario de Estado dos Negocios
do Reino e Encarregado dos Negocios Extrangeiros, e dos da Guerra.
Subdito humiiissinio. c respeitozo

Joze de Britto Inglez


M ajor eííectivo Ajud.” <lc Ordem do (>.“ do Pará

Rio de Janeiro
23 de Novembro

18J9.

N .B . — Tem S .M ag.' igualmente no Pará hum cacoal. estaliele-


cimento, que pode ser rendoz.o. e concorrer bem p-* o projecto da
ecconomia da Real Fazenda, se merecer huma boa administração, como
os outros estalielecini."", e cuidar se cm beneficiar os cavaleiros p.“ a
melhor produção do cacau, que se vende por conta da Faz.'1" Real: e em
se tirar a maior ventagem possível da gente empregada, applicando a
também á plantação da mandioca, etc., e está na mesma razão de dever
ser inspeccionado. i>ois lie assás dist.' da Cid.“. c Sugeito aos mes­
mos abusos.

FORÇA M IL ITA R DO PARA. NA C ID /

R-gimentos da 1 ' IJn h a: todas as Praças


O Primeiro .............................................................. 432
O Segundo ................................................................ 169
O T e rce iro .................................................................. 321
Artilheria ................................................................ 91
C avallaria.................................................................... 92
P e d e s tre s ..................................................... 65

Somma 1 :170
— 154 —

Destacamentos cm tocia a Capitania


O P rim e iro ................................................................ 71
O Segundo.................................................................. 331
41) T erceiro .................................................................. ' 42
.Artilheria . ................ 60

Somma............................................ 504

Milicianos na Cidade
■(.) Primeiro Regim.mU.............................................. 107
O Segundo.................................................................. 143
O Cor|»i dos B om beiros.......................................... 136

Snninta..................................... 386

Força combinada na Cidade da 1." e 2." linha — 1:556 Praças.

lie de no'.ar: Que nesta somma gerai de todas as praça.-. entrão


as doente-, e impedidas no Serviço ecconomico dos Corps*-, de man -ira
que Praças promptas e liquidas vem ser, entrando no numero das
Praças os Officiaes, 654. Destas se faz o serviço indespensa vel diario
da Praça com 133 líomens cm outo (inardas necessárias absolutam.":
e de todas são as sentincllas 29. A artilheria, como tem pouca gente
só faz o serviço do Quartel, e bem assim a (.avaliaria: os Pedestre-
são occupados no Serviço do Arsenal, c alem dos acctizado- nos map-
pas. estão Praças empregadas no Serviço dos batellóes. que se con­
sideran como destacados rellativam.'” ao Serviço diario, <■ o mesmo
succedc aos que estão nas fabricas, e etc. Todos os corpos da guar­
nição precizão de reclutamento: Nenhum está completo, mesmo os
Pedestres: e o Pará deve ser olhado Praça militar da primeira Ordem,
•c portanto em estado de força effeçtiva, es|KCÍalm "' tendo tantos de--
aacam.1” athe o Rio Negro. e Macapá dignos sempre de consideração:

(A rq. — Lata 2S1 — Doe. 14.767.1


CONFERÊNCIAS

A OBRA DE ALEXANDRE DUMAS :


MONTEVIDEO OU UNE
NOUVELLE TROIE
Por ARIOSTO D. GONZALEZ

Durante os anos do céreo <le Montevidéu pelas forças comandadas


pelo general Manuel Orille, a luta mais violenta fui a tías exaltadas
batalhas da imprensa. As hitas sangrentas junto às trincheiras im­
provisadas; o estrondo dos fuzis e dos canhões trepidantes; a vibração
marcial dos tambores e das charangas; tudo esmaece c apaga-se. tudo
se atenúa e desvanece e liá dias e meses cm que ao vigor e ferocidade
dos combates iniciais sucedem o cansaço e o desalento. Só não vacila
nem se quebra o espirito de ação e de beligerância dos publicistas; si?
não se aplaca o aço das penas mais duro e penetrante que o flexível
aço das espadas.
Escritores das mais variadas procedencias congregam-se cm Mon­
tevidéu e lançam a todos os ventos sua produção militante. Literatura,
história, direito e filosofia; idéias, cantos, arte; tudo se torna panfleto
agressivo. l > mal imitado verso clássico, a novela e o drama, a inves­
tigação histórica c a lenta construção jurídica, adotam o caráter c o
tom ria polemica. Até o próprio estilo rias notas diplomáticas deixa de
ser medido, frio e sutil, para transformar-se em exacerbado c áspero
instrumento de propaganda.
Da pequena aldeia agitada e febril, que apenas consegue cobrir a
exígua |K-ninstila com seu casario baixo, cada jornalista quci contri­
buir para a rieíesa do patrimônio comum com sua palavra harmoniosa
e eloquente ou com a boa intenção de seus escritos deslavados e sem
graça. E |>ara aumentar a eficácia dessa propaganda, proctira-sc a
colalioraçãu de escritores eunqx-ns. Uma copiosa bibliografia mostra
até onde chegou essa preocupação rios homens de .Montevidéu. Mas
de tõdas as colaborações obtidas, não há dúvida que a mais impor­
tante foi a de Alexandre Dumas, que pôs o grande prestigio de sua
infatigável pena ao serviço da causa <la ciilade sitiada.
Dvjniís de firmados <•> tratados entre o almirante Le Prcdour <
Rosas r Oribe, que importavam no abandono pela França da defesa
de .Montevidéu, don Andrés llamas sugeriu, da cidade do Rio de
Janeiro, que se enviasse o general Melchor Pacheco y Obes, para
que impedisse a ratificação daqueles acordos. Temos que mandar,
disse Lamas a Manuel Herrera y Obes. “ mn homem inteligente, ativo,
conhecedor de nossas coisas, capaz de tornar qualquer responsabilidade
e ampia, amplíssimámente habilitado: habilitado com o perfeito conhe­
cimento de que estamos colocados entre a civilização e a Iwirbaria e
com a escolha feita, de um désses extremos". O l)r. Herrera y
Obes, alçando-se acima das mesquinharias da vida e esquecendo bri­
gas e ressentimentos. designou Melchor Pacheco y Obes, que partiu
rm main de 1849 desemlrarcando cm Marselha e chegando a Paris
cm mciados de agosto.
Personalidade já consagrada j)or sua forte ação nesses anos
fecundos em grandes sucessos e cm varões condignos: espirito sonha­
dor e altivo, alma acesa e varonil, cheia de lances heróicos, de exaltações
insofreáveis. rica cm dons literários e até cm ritmos lânguidos. Mel­
chor Pacheco vive sempre intensamente, procurando o risco e o tu­
multo: não é um desses homens brandos que se esquivam, e sim um
daqueles a quem o dever converte cm duro c sonoro cristal. Traíra-
Ihador, susceptível. instável, contraditório, aparece sucessivamente
como amigo ou adversário das figuras representativas da Defesa
Escritor de estilo vibrante, orador que levanta os ânimos alaridos,
transforme os auditórios indiferentes, fazend »-ns cnrubescer de raiva
e ihttmdindo-lbes a chama do heroísmo, é ao mesmo tempo um poeta
sensível cujos versos ternos v comovidos cantam a paz de um cemi­
tério. ..
Nessa gestão diplomática tão carregada de dificuldades, apresen
ta-sc tal como é. sem subterfúgios nem dissimulações. Veemente..
impulsivo, decidido, dominado pelo sentido teatral do gesto, multiplica
seus esforços em tòdas as direções, move os recursos que acha necessá­
rios para lograr seus fins. Penetra nos meios políticos e intelectuais;
discute, incita, ameaça, o fen d e... Arco esticado, pensamento flame­
jante. o respirador de sua alma atrai e domina. Uma vez o ministro
das Relações Exteriores lembrou-lhe que a situação da República
Oriental é inferior à de França, porque o Uruguai recebe um subsidio.
Pacheco, jxmdo-se de pé. protesta que se o apoio que lhe era dado
impunha o compromisso de pisar as leis nacionais, recusariam esse
apoio: e acrescentou categórico: “ mais vale perecer que recelar ser­
viços que a cada passo nos são lançados em rosto, fazendo-nos corar
de havê-los recebida” .
Por seu tralialho diverso c sem trégua, por essa luta de todos
os dias com inquebrantável dignidade, consegue conquistar ‘'para a
— 157 —

causa dc Montevidéu tòdas as simpatias dos homens de coração


po rv ir"; “ os ministros e os representantes coitvencerani-sc, ñas nume­
rosas conferencias que tiveram com o general, que a República Oriental
cunta entre seus filhos, homens entínenles e dignos de governar ésse
pais segundo os principios sagrados dos direitos das gentes e formando
com as nações da Europa boas e sólidas relações fundadas em regra­
de equidade, integralmente vantajosas para todos” . Em virtude dessa
propaganda, “a causa que ele defendeu com tanto mérito quanto
patriotismo, lumou-se popular em França” . (Carta de J . Le Long
a Manuel H errera y Ones, de Í9 dc utaio de 1850).
Para a difusão da justiça, e da gloria da luta de Montevidéu
contra a política expansiva de Rosas, Melchor Pacheco solicita e obtem
o auxilio de Alexandre Dumas. Romancista popularizado por unta
vasta obra, o autor dos Três Mosqueteiros está nos pillearos da fama.
Edições renovadas de scus numerosos livros, cm diversos países e
idiomas, alguns no Rio da Prata, — mar.tem-no em contato emo­
cional com uma vastíssima e heterogénea multidão de leitores. Sua
pena voa, animada e solta, sem fatigar com aquelas historias que se
prolongam entre fáceis diálogos e múltiplos assaltos a espada. E'.
sem dúvida, um intérprete do gõsti. e da sensibilidade de sen tempo
e o seu prestigio puramente literario aumenta e amadurece com outros
vivos excitantes: a memoria dos antecedentes de familia, os cochicho-
acerca de sua vida alegre e desordenada, cheia de aventuras, de dúvi­
das. dé brigas e incidentes, como os de seus personagens novelescos.
Neto de urna negra das Antilhas; filho do general Alexandre Dtunas
de la Paillcterie, negro de compleição atlética, capaz dc estrangular
um cavalo entre os joelhos, a quem os austríacos chamavam de “ le
diable noir" e que foi admirado por Bonaparte, o jornalista prodigara
o talento e o dinheiro, “ gastava em empresas extraordinárias, —
segundo Zola. “ Estudos Críticos” —, os milhões que ganháva e tia
lialhava e gozara tendo sempre nos labios o sorriso franco de um
gigante satisfeito"; seu espirito transbordava e “ sua imaginação era
tão poderosa como jamais -a- viu um escritor algum em nenhuma
época literaria"; "sua figura é a de um colosso de ouro e bronze com
pés de argila". Nenhum crítico lhe nega essas aptidões assinaladas
por Sainte-Beuve: "a verve prodigiosa, a fácil animação, a pompa
de encenação, o diálogo espiritual e sempre em movimento, a narração
ligeira que se desenrola sem cessar c supera os obstáculos e o csjiaço
sem desfalecer". Pertence ao extenso núcleo dos escritores que mer-
cantilizam a sua arte: é um folhetinista, que multiplica os episódios
os entrelaça e dilui para servir os fins comerciais das empresas jo r­
nalísticas. Conta-se que sua novela O Capitão Paulo conquistou para
I.c Siècle cinco mil novos assinantes em três semanas. Sua efi­
ciência só encontra rival na de Eugênio Sue. Labor improvisado e
— 158 —

adventicio, muito do «pie deixou sofreu o justo castigo do tempo;


mas entre tantas páginas mortas, perdidas cm volumes que já ninguém
lé, secas e inertes, como as gastas e amarelas folhas que as conservam,
há algumas criações artísticas que refletem o espirito literario de urna
época.
E ’ portante», coisa acertada e um triunfo de Pacheco, conseguir
que cssíi figura de renome universal colabore na defesa de Montevideo.
E o general uruguaio marcou a transcendência dessa cooperação com
as seguintes palavras: “ Alexandre Dumas, que consagrando à Repú­
blica seu talento gigantesco, deu à causa oriental a importância c a
]>opularidadc de seu nome, sem que este seja o único serviço que lhe
devemos". E como Pacheco, todos assim o entendiam e diziam.
John Le Long, urn jovem republicano ao serviço de Montevidéu,
com o cargo de cônsul geral, escreve a Manuel H errera y Olies a 19
de março de 1850 anunciando-lhe que Pacheco interessou na causa
de Montevidéu “ o escritor que, certamente, exerçe hoje a maior in­
fluência” . Sublinha que “ A Nova Tróia" deve produzir na América
nm eleito imenso e pôr em evidência a política astuta e selvagem dc
Rosas. Scrvimo-nos aqui dessa publicação para reviver o zelo da
imprensa de Paris e dos departamentos". O próprio Le Long insiste
dias depois: "O s escritor mais popular que temos, acata de avivar
as simpatias desse povo, numa obra que publicou em elogio aos herói­
cos defensores de Montevidéu” . "Que diabo de pais era aquele. —
pergunta Raul Montero Bustamante no belo prólogo ao documentad •
livro de Jacques Duprey, .-lle.vaiidrc Dumas. Rosas c MonlevUdrtt — .
que não deixava dormir tranquilos nem os reis nem os chefes
de governo nem os almirantes, nem os politicos. nem os jornalistas,
nem sequer as beldades de Paris? Os próprios detratores «le Mon­
tevidéu. M. Chaix D’Est Ange e M. Nogent de Saint Laurent,
pretendendo ridicularizar Montevidéu e seus homens na cour d*Assise>,
o que conseguiram foi transformar em romance c dar interesse pito­
resco v heróico àquela jxjqucna cidade de ultramar que há muitos
anos resistia ao sitio mais famoso que se conhecia depois do da lendária
Tróia".
A obra «le Dumas intitula-se Montevideo oh une mwvclle Trote.
Páginas episódicas. >«n rncadeamcnto orgânico nem intriga novelesca,
sem assento firme na realidade social e histórica, esse trabalho de
Dumas nada acrescenta à sua nomeada literária. <> general Mitre,
que. viveu no ambiente da cidade evocada, considerou esse pequeno
livro como indigno "do maravilhoso talento’’ dc seu autor: mas
assinalou, com todo o acerto que o sen título "será imortal” . Obra
dc circunstância, não é inferior, sem dúvida, aos trabalhos menores
desse fecundo novelista. “ Leem-se suas páginas, acentua Montero.
— 159 —

Bustamante, com o mesmo interesse que despertam suas novelas ou


suas memórias. Encontram-se nelas u mesmo movimento dramático.
<» mesmo sabor romântico, o mesmo sentido de evocação e o mèsnio
sopro de vida que animam ainda os manequins históricos que <• autor
se compraz em fazer desfilar através dos capítulos de seus livros".
Não há dúvida, como disse Carlos Alberto Leutnaim, que "c um
documento de valor histórico por tudo o que sugere sobre uma ejxxsi
que, tanto na Argentina cómo na República do Uruguai. falseiam
entretanto os interesses jxtlitic«»s posteriores a Caseros e uma copiosa
literatura mais ou menos superficial e inepta” .
Xão obstante seus êrros c exagcraçôes, — q«v não acho oportuno
marcar detalhadamente agora, — esse curto livro tem coisas certas
e agudesas que não é possivel desdenhar; como indicou o próprio
Leumann, •‘acumula tantos motivos de meditação atual", que r útil
reavivá-lo.
Descrições felizes, de certo tom romântico, como aquela cm que
se delineia a região uruguaia, "regada |x»r arrotos que cortam os
vales. Xão há grandes bosques; não existem vastas florestas como
na America do Xorte; mas no fundo dos vales a que acabamos de
nos referir, correm regatos sombreados pelo quebracho de casca
rija como ferro. pelo uba/ac de frutos de ouro; pelo salgueiro de
ramada opulenta. (> gaúcho por exemplo, esta bem caracterizado cm
quatro linhas. “ E ‘ o Itohemio do novo mundo. Sem fw.»sse>. sem
casa, sem família. pr»ssui como únicos bens n poncho, o cavalo, o
arreio, o laço e as bolas. A faca é a sua arma; o laço e as bolas
a sua indústria".
O ambiente intelectual e social do.- povos da Prata é retraçado
de modo a marcar, nem sempre com justiça, suas preferencias. Entre
os poetas portenhos nomeia Varela. Laíinur, Domingues e Mármol;
entre os |>octas de Montevidéu menciona Hidalgo. Berro, Acuña de
Figueiroa, Gómez. "A s mulheres de Buenos \ires têm a pretensão
de ser as mais belas da América meridional” : entre as mais fnrmosa>
menciona Agustina Rosas. Pepa T.avalle. e Martina Lynch. Admite
que talvez “ o rosto das mulheres de Montevidéu seja menos des­
lumbrante que o de suas vizinhas, mas as formas são maravilhosas e
os pés. as mãos, as curvas parecem haver sido tomadas de empréstimo
diretamente à Sevilha ou a Granaria, pens, há ali uma variedade que.
cm muitos casos, chega à perfeição". E Montevidéu, "cidade euro­
péia". alma universal que incorpora e assimila almas estrangeiras
prqxtrandn o advento de uma cultura superior c sutil, pode mostrar,
"com orgulho. Matilde Steward, Xazarea Rucker c Cem entina Batile.
quer dizer três tipos, ou melhor, três modelos tic raça: raça escocesa,
raça alemã, raça eatalã". Acresce que entre a .Argentina e o Uruguai
— loo —

existe "uma rivalidade de coragem e elegancia para os homens; lima


rivalidade de beleza, de graça e de formas, para as mulheres; uma
rivalidade de talentos para os poetas, esses hermafroditas da socie­
dade, irritáveis como os homens, caprichosos cotilo as mulheres, e.
contudo, quase sempre inocentes como as crianças". Esse desabafo
de Dumas contra os poetas explica-se por sua esterilidade en» faitee
versos; unui vez chegou a dizer que daria com gosto alguns tie seus
melhores tiranias ou anos de sua existência, para escrever versos
como V'itor Hugo.
"O sitio tie Montevidéu, escreve Dumas numa pagina que muito
nos toca, que foi um tempo de dor e misérias, é agora o tempo que
viu levantarem-se os mellmres estabelecimentos públicos. O ministro
da gueria. Pacheco y Obes. improvisou hospitais civis e militares,
fundou a Casa dos Inválidos, criou as primeiras escolas públicas e
organizou as sociedades tie socorro mútuo. Lamas, o chefe politico,
deu nome ás ruas da cidade e fundou o Instituto Histórico e Geográ­
fico. Herrera y Obes, ministro do Interior, criou a Universidade” .
No meio dos trabalhos da luta de morte, aqueles homens encontraram
energia entusiasmo e visão para formar centros de estudos como o
Instituto Histórico, cujo centenário celebramos em 1945. <■ a Univer­
sidade. cuja centenário será comemorado a IS de julho deste ano.
Passam pelas páginas tie Dumas sóbre Montevidéu os persona­
gens principais tio partido unitário c da Defesa; singulariza-as sempre
com alguma reminiscencia clássica... Caracteres imperfeitos e fugi­
dios. descoliertos na documentação preciosa e parcial tie Pacheco e
de Agustin Wright, alguns déles definidos no seu nrrehatainento
apaixonado, na integridade de uma vida instintiva e forte; outros
apresentados no aspecto simples em que perduram ante a posteridade.
De Bernardino Rivadavia diz que é “ um desses homens de gênio
que aparecem durante os dias tie tormenta, a tona tias revoluções";
''tinha uma instrução universal e estava animado pelo mais puro c
ardente patriotismo'’; “ quiz apressar a marcha do tempo” . O general
Fructuoso Rivera ê "um homem de campo”, mas “ todos seus ins­
tintos dirigem-no para a civilização” ; “ há trinta anos que aparece
no cenário político do pais e. há trinta anos, foi visto tomando da?
armas no momento em que a frase" "Guerra ao extrangeiro! foi
pronunciada” . A silhueta de Garibaldi foi fixada em traços de indis­
cutível atração: “ sua voz ê de uma doçura infinita, semelhante a un
canto” : “ é antes distraído do que atento": suave, generoso, pobre,
sempre desarmado, no combate transfonna-se em arrebatado lutador
■O general Paz é “ o Fabius americano"; Vásquez, "homem de ta­
lento e instrução", liem mereceu do pais; César Diaz é um espirito
-"de grande cultura e goza da reputação incontestável de ser o melhor
— 161 —

tático de infantaria dos dois exércitos; Marcelino Sosa, "o Heitor


da Nova Tróia”, que parecia descendente “ de um daqueles titans que
outrora quizeram escalar o céu”, foi “ o terror do exército inimigo".
Lorenzo Batile anda pelos trinta anos e para com êle a natureza
foi "inais que pródiga: fê-lo valente, espiritual, cheio de talento;
íè-lo enfim, uni dêsses homens cujo porvir está destinado a brilhar
na historia futura da América". E assim desfilam, [Xistos em marclta
pela poderosa intuição do romancista, aquelas personalidades que
transfiguradas em símbolos, em paradigmas, incorporam-se, — acima
de todos os partidos e limitações sectárias e a despeito da fatal im­
pureza da argila humana. — à essência da vida uruguaia.
O meio social de Montevidéu, com seus vinte mil franceses numa
população de cinquenta mil habitantes, com a afluência dos ¡migrados
argentinos, que aportam clandestinamente em frágeis barquinhos, c
traçado em linhas felizes. Alfred dc Brossard, em seu livro Consi-
dérations historiques et politiques sur les Ripubliques de la Plata
dans leurs rapports aver la France et r.dnglcterrc. publicado, como
o de Dumas, em 1850. em Paris, assinala que o Uruguai chegou a
converter-se no principal centro, no Rio da Prata, do comércio francês,
de sua navegação e de sua imigração. Anos mais tarde, Vitor Hugo
recolhe um eco daquele momento excepcional nas páginas de Les
travidlleurs de Io mer, ao escrever numa das histórias da hospedaria
de João: “ Quand Montevidéu engraisse, Buenos-Ayres m aig rit"...
A imigração argentina é incessante: a hospitalidade do povo uruguaio
é “ grande e generasa, como o seria a de uma república ant: ga”. disse
Dumas. Foi assim, acrescenta, que os nomes mais notáveis da A r­
gentina figuram na emigração. Lavalle, a mais brilhante espada de
seu pais; Florencio Varela o seu mais belo talento; Agüero, um dos
seus primeiros homens dc Estado; Echeverria, o Tjunartine da Prnta;
Vega, o Bayard dos exércitos dos A ndes; Gutiérrez, o feliz cantor
das glórias nacionais: Alsina. o grande jurisconsulto c cidadão ilustre,
todos êles estavam entre os imigrantes, como estavam tamliém. Sácnz
Valiente, Molino Torres. Ramos Mejia, os grandes proprietários:
como estavam além dêsses. Rodrigues, o velho general dos exércitos
da independência e dos exércitos unitários; Olazábal, um dos mais
valentes daqueles exércitos dos Andes, do qual dissemos que Vega
era o Bayard. E ’ que Rosas perseguia igualmente o unitário e o
federal, não se preocupando senão com uma coisa: desembaraçar-se
de todos aqueles que podiam ser um obstáculo à sua ditadura".
A influência de Melchor Pacheco sóbre Dumas é [toderosa e
transparente. Não obstante as palavras de justiça ditas acerca de
outras personalidades. Pacheco é apresentado como o centro da obra,
como o herói indispensável, como o insubstituível defensor dos in­
teresses nacionais: o patriota incorruptível, enérgico e batalhador.
— 162 —

Sem éle, na romanceada história de Dumas, todo o drama de Mon­


tevidéu empalidece e cai. E ' Pacheco que, depois de Arroio Grande,
lançou, "em plena campanha”, "o primeiro grito de guerra contra o
exército inimigo"; “antes do próprio governo, éle, por stia única au­
toridade, havia proclamado a liberdade dos escravos” . O Ministério
que se organiza em 1843 é chamado “ o ministério Pacheco y Obes":
o ministro da Guerra fazia os decretos e éle mesmo se encarregava
de pô-los em execução", nenhuma sugestão podia "quebrar-lhe a
vontade de ferro"; "o ministro da Guerra, com suas medidas rigo­
rosas. sua palavra de fogo, sua fé na honra nacional, inspirava ao
exército o mais exaltado entusiasmo". Joaquim Súarez, Santiago
Vázquez, Francisco Joaquim Muñoz, Andrés Lamas, Manuel Herrera
y Obes. aparecem como figuras secundárias ao lado daquele varão
singular que se impõe desde Soriano e sobe às mais altas posições.
Dumas não esquece de dizer que Pacheco conhece, também, o amargor
da derrota, n desengano c o ostracismo, a reparação e a justiça.
Há. portanto, uma evidente colaboração de Pacheco, com dados
minuciosos, com anedotas vivas, com observações e conselhos. Aí.
diz Montero Bustamante, está Pacheco y Obes. "com suas paixões
inquietas, sua sensibilidade exaltada, sua poderosa inspiração, seu
sentido poético c oratório, suas frases fulgurantes, suas comoventes
arengas, seus terríveis requisitorios, seu inflexível conceito de honra
c sua sêde de heroísmo e de glória". E chegou-se até a sustentar que
Montevideo ott mie nouvellc Trote é criação de Pacheco e não de
Dumas. Este mesmo, na publicação das memórias de Garibaldi, no
intuito de dar uma impressão sôbre o Uruguai de 1851. reproduz
algumas páginas de Montevidéu ou unia nova Tróia. “ Estas expli­
cações. assinala, serão tanto mais exatas, porquanto foram ditadas a
quem as publica hoje, em 1849. |>or um homem que teve um grande
papel nos acontecimentos da República O riental: |x-lo general Pa­
checo y Obes. um de nossos melhores amigos” .
O escritor argentino Ernesto Morales, em seu livro “ Fisionomias
de 1849” sustenta que Dumas não teria tido sequer necessidade de
traduzir o manuscrito de Pacheco; não se trataria sequer de uma
obra escrita jatr éste e modificada por Dumas ao traduzi-la |>ara o
francés. O trabalho teria sido feito diretamente em francês pelo
general uruguaio, como o fêz em numerosos opúsculos c ainda em
resanantes dissertações orais.
As provas trazidas pelo S r. Morales, fundarias em presunções
equivocas e contraditórias, em detalhes isolados, em considerações de
vários sentidos, não são convincentes. Esses argumentos podem con­
cretizar-se assim: o titulo, as “ recordações clássicas e alusões mito­
lógicas". denunciam o estilo de Pacheco. O s erros da obra, mais
qué Inexatidões próprias "de um homem estranho ao cenário” que
— 163 —

descreve, “de um historiador qtie fala de ouvir”, são “os de ttltt


participante nos acontecimentos; são erros da paixão, não da igno­
rância; de prosêlita não de indiferente” . Além disso, “ o perfil de
Garibaldi, também só podia fazê-lo. tal como aparece no livro um
homem que o estimasse, que tivesse corrido |>erigos com <■ heróico
chefe da I.cgiâo Italiana” . Essas considerações jxidcm ser válida­
mente contestadas: as reminiscencias clássicas, a que era tão afeito
Pacheco, não constituem originalidade intransmissivel; são reminis­
cencias puramente vertíais e não de cultura profunda. A lembrança
da cidade imortalizada por Homero, as evocações de seus episódios
e de seus personagens eram, de outro lado, lugares comuns na lite­
ratura da ¿poca. E ’, além disso, sinal característico da produção de
Dumas, a contribuição que exige da antiguidade e ainda também das
histórias bíblicas; a história e a geografia são o tear onde tece os
fios de suas novelas. As lembranças da desgraçada Ilion podiam ser
obra de Pacheco ou de Dumas.
Os erros de fato e de apreciação tampouco constituem prova de
que foi Pacheco o autor da célebre história. A parcialidade l>ode >er
do um ou de outro. Primeiro porque se trata de um trabalho de
projxtganda e não de uma desinteressada criação artística. Segundo,
porque nunca Dumas foi apresentado como romancista fiel à verdade
histórica. Parigot, mu de sois críticos escreve o seguinte: “ A novela
histórica era um belo sonho; da novela e da história fêz-se unja
agradável realidade ao serviço das multidões". Posso repetir, pois,
a frase de Alfred de Vigny: "l.'histoire est un roman dont le peuple
est I’auteur".
As fisionomias dos personagens, ás vezes traçadas por um grande
sentimento de simpatia, como no caso do retrato de Garibaldi. são
fáceis para um romancista que sabe impregnar-se do assunto: não
-e pode sustentar, seguramente, que o perfil de Garibaldi só podes-,
ser desenhado por um homem como Pacheco que compartilhou perigo,
com o chefe da Legião Italiana. “ Não esqueçamos. — diz Abel
Ilermant — que seus personagens vivem para nós como viveram
|>ara Dumas. Não esqueçamos que se Balzac foi a primeira vitima
de seus sonhos, se Klanbert teve alucinações de prazer descrevendo ■
envenenamento de Ema Bovary, o autor dos T r is Mosqueteiros
chorou lágrimas verdadeiras quando, no fim, matou Porthos, depois
de ter consagrado, também, páginas, capítulos, volumes sem poder
decidir-se. Seus mais quiméricos filhos, eram filhos seus c, como
tais, partici]>antes. herdeiros, de sua vitalidade abundante".
Outro argumento é a facilidade com que Dumas, utilizou o tra­
balho de colaboradores; mas quando se estuda o método dr. roman­
cista francês, essa observação serviría melhor para demonstrar que
o autor de Motitevitiío nu une nomvlle Trote é Dumas e não Pacheco.
— 164 —

N a obra de Dumas, — ¡abrii/ue de romans Alexandre Dumas et Cie.,


dizia Mirecourt, “ unia |>arte do mérito corresponde aos colaboradores
e, sobretudo a Maquct, que foi tini mestre tie história", mas o escritor
transforma, dá o sentido de proporção, infunde alento artístico, inte­
resse vital, ás páginas, ás vezes desencontradas e mediocres dos cola-
boradores. Um de seus críticos, Albert Thibaudet, explica que “ Dumas
trabalha, borda, desenvolve o esboço, dá-lhe vida” . O grande escritor
não é um repetidor adocicado e servil, mercador vulgar de trabalho
alheio: temperamento artístico, aplica sua aptidão cm fazer brilhar as
pedras opacas dos colaboradores e associados .
Por outro lado, há, entre Montevideo ou une mmvelle Troie e as
obras de Dumas, coincidências sugestivas. O ambiente heróico da
cidade sitiada, sua vida de luta e de martírio, é propicia à evocação
do novelista. Dumas não precisa preparação nem esforço para traçar
o quadro histórico, com personagens lielicosos c cavalheirescos: basta-
lhe dar liberdade ao seu espirito épico. Abel Herman! sublinha: “ o
heróico é sua atmosfera. F. como não concebe senão a vida ativa tudo
se lhe tonta drama, como tudo se tornava verso para Ovidiu".
O utro detalhe excitante é que, no trabalho de Dumas, sempre
há personagens de fõrça excepcional. “ Sempre celebra a força triun­
fante e sorridente, aponta Parigot; os homens de estatura atlética e
músculos de aço povoam seus romances: Modesto Geronflot e Porthos
tem braços poderosos. Numa de suas obras assinala que, em certos
tempos de violência, um homem podia, “ se fôsse vigoroso e direito,
talhar-se um pequeno reino no formoso reino de França". E ' talvez,
mna herança do ambiente familiar, dada a fôrça proverbial do pai.
de quem Saint-Gcorges e Junot tinham inveja. Pois bem; o perfil
de Jorge Pacheco está caracterizado pela íórça hercúlea e estatura
gigantesca.
O s contemporâneo. — sem negar a colaboração de Pacheco,
reconhecida pelo próprio romancista. — atribuiram a Dumas êsse
pequeno livro. E no estilo flexível, de sugestões ligeiras c matizes,
não se encontra a palavra enfática do general uruguaio, tão vibrante
quando escrevia seus relatórios em defesa da causa de Montevidéu
como quando, tomando da autoritária espada dava as vozes de co
mando e de anatema na ação bélica.
Montevideo ou une nomvlle Troie apareceu em 1850. Le Pa­
trióte Trançais. periódico de Montevidéu, de 25 de junlio désse anu
diz, numa correspondência. que os diários de Paris vão se ocupar
dos assuntos do Rio da Prata por motivo da obra de Dumas. “ C'est
un auxiliaire bien puissant que le général Pacheco a conquis á notre
cause, et je suis persuade que cet ouvrage cst destiné á produire en
Amérique un effet immense contre Rosas". Pacheco chegou a Mon-
— 165 —

tcvideu tin iunho desse ano e trouxe boa quantidade de exemplares,


imeiando-se ¡mediatamente uma publicação em espanhol pelo El
Correo de ln Tarde, diário dirigido pelo jornalista argentino Jost-
Luiz Bustamante, conhecido autor do livro Las eineo errores ea/'i-
lalcs da la iuterteneión anylo-francesn. Com a composição de El
Corren de ¡a Tarde íéz-se a primeira edição em espanhol, que [tassutt
ilcsapcrecbida aos nossos mais distintos bibliógrafos e sobre a «pial
chamei a atenção dos estudiosos faz alguns anos. No mesmo ano.
1850, levou-se a cabo, lambem uma tradução para <> italiano, que tem
maior interesse entretanto que o original francês, porque traz um
prólogo i algumas notas explicativas. No prefácio, depois de um
grande elogu a Garibaldi, que " prode conto Scipione, vive in terra
atranirra povere conte Fabrizio e Cincinato”, mostra-se que éste foi
homenageado |>clos mais bril lantes intelectuais. Entre os escritores
que o aplaudem está Alexandre Dumas, “ nome licit caro alie letlerc.
il quale quasi a ripovaztonc de triste, che tentarone macchiare del
loro fango il sacro capo del I’rode, voile tributare agli eroici diffensori
de Montevideo il libro cite ntii presentismo tradotto a Itcncfici di Ga­
ribaldi e sua famiglia. Le pagine clic il gran Romanzierc consagra
all’Eroe de Sant Antonio e del Salto sono una protesta elle la Trancia
libérale acaglia contra le turpitudini della Francia governativa''. Essa
edição, pouquíssimo conhecida, revivia assim mesmo, na oportunidade
indicada, publicando facsimilarmente a fõlha de rosto. Há ttnia edi­
ção em português, feita aqui no Brasil, muito ponen conhecida. Claudio
Gantts mim de seus estudos publicados na Revisla do Instituto H is­
tórica (vol. 190) aludiu, documentadamente, às edições das Memórias
de Garilaldi. onde se reproduz a .Vottt Tróia.
A obra de Iturnas não passou desapercebida. Algumas de suns
frases figuram como epígrafe do opúsculo publicado cm francês em
1851 por Andrés llamas com o titulo de Notice sur la /Ccpiddíqio
Oriéntale de TUruyuay. Xavier Marmier, cm /-• >• Lcttres sur l'.liiié-
rtque, depois tie aludir às hortas tía Aguada e ao Cerro, diz que nin­
guém imaginaria que é. esta, a nova Tróia sitiada desde mais de sote
anos por um exército implacável. . .
El Defensor da Indo/tendenría .-Imerirana. órgão oficial do exér­
cito sitiador de Oribe ent el Cerrito, publicou tima longa refutação,
que, por muitos motivos que não direi agora, atribuiu ao general An­
tonio Diaz. Esse trabalho começou a aparecer a 2-1 de outubro de
1850 e continuou até 27 de dezembro do mesmo ano.
Nele se faz um elogio categórico de Dumas como "um célebre
literato deste século", "afamado romancista, dotado de viva e fecunda
imaginação e de um talento cultivado pelo estudo” . O comentarista
indica que "a estas regiões chegaram muitas obras de Alexandre Dti-
— 166 —

mas; sempre admiramos nelas a fluidez e a elegância de estilo, em


algumas, o gústo delicado na composição” . Mas esclarece que o conde
de Monte Cristo apresenta tuna visivel decadencia daquele artista.
Atribui essa decadência A circunstância de que Dumas encontrou um
rival em Eugène Sué, "competidor formidável, que não lhe disputa
a coroa literária nesse gênero, mas que sem querer lita arrebata,
(torque o mundo inteiro lita dá” . Depois dessa introdução, aparece o
panfletário de prosa deselegante e bronca. O vocabulário da imprensa
resista, gasto no insulto, mancha essas páginas que têm, sem embargo,
interesse histórico; a argumentação perde a eficacia ao passar por
esse estilo agressivo c destemperado. Dumas, — segundo o impug­
nador —. torna evidente que sett "gênio não teve asas senão para
subir ate uma determinada altura", e dai "cai aos trancos como um
miserável abutre, para procurar entre os asqueirosos répteis um ali­
mento que sacie a paixão de escrever que o domina” . Aparece, assim,
falando do que não conhece “ senão pelas obscuridades que mostram
ser um charlatão imbecil". Escreve o critico que “ Dumas não co­
nhece nem o jtais nem os homens de. que fala com tão pouca vergo­
nha” : que vendeu a pena e arriscou a fama por cinco mil francos'.
E personificando os agravos, apresenta Melchor Pacheco como um
"ridiculo personagem de novela, homem singularmente pedante, de
sentimentos cruéis e espirito minguado"; é. em suma, um aventureiro,
um fanfarrão, um farsante. O s defensores de Montevidéu são uma
turba de miseráveis aventureiros. Sóbre Jorge Pacheco, — cujo perfil
esboçará mais tarde Eduardo Acevedo Diaz numa página viva e
durável de Ismael . diz que foi “ um homem agreste, acérrimo godo.
áSsassiiio covarde, verdugo desalmado, em fim. um miserável. <le tão
depravadas intenções qunnto seu filho, o torpe Melchor".
Essa fraseologia violenta, rude e primitiva, dá a ntedida do
valor literário da refutação; mas. escrita |» r um contemporâneo de
muitos do- sucessos referidos, traz dados e observações que o inves­
tigador não deve desdenhar sem análise.
Nega a destruição dos indios pelas forças de Jorge Pacheco e
assinala o excesso de fantazia que há nas afirmações de, que nas
faldas de Aceguá branquearam ao tempo os ossos- dos últimos char­
rúas. E, precisamente, olidr o comentarista traça algumas das pá­
gina- mais animadas dêste trabalho, é no relato do exterminio dos
indios pelu exército de Rivera: exageradas pela paixão, sem dúvida,
mas cheias de interesse humano, de vivacidade e <le calor.
Os poetas assinalados [tor Dumas à consideração pública como
representantes da cultura rioplatensc, são caracterizados assim p d o
jornalista de El ( ir r ito : Mármol “ é um rapaz atrevido, sem pátria
proscrito", "um romancista prosélito dos selvagens unitários", “ cujas
— 167 —

ai revidas produções chegam ao cúmulo da imoralidade e senvergo-


nhice"; Acuña de Figueiroa "é um poeta que cauta sempre arrastado
pelas circunstâncias”, é “ um miserável, um servil” .
Esclarece que limita sua refutação ao Uruguai, porque em Buenos
Aires não há de faltar quem "conteste devidamente tão infames itn-
porturas". Por outro lado, "as toqies calúnias do infame libelo de
Dumas jamais alcançarão as eminentes virtudes e os gloriosos e es­
clarecidos fatos que acreditam a carreira pública do Exmo. Sr. D r.
Jttam Manuel Rosas” .
Sobre a ojiacidade daquelas páginas, destaca-se o detalhe relativo
às marchas do exército de Orille depois da batalha de Arroyo Grande.
Quanto ás acusações formuladas por Dumas sobre conhecidos
atos de Irarliaria, a refutação tem o caráter de uma confissão total.
"A s execuções ordenadas por S .E . o Presidente l). Manuel Oribe
nas campanhas das Províncias da Confederação Argentina; essas
execuções de Avellaneda, Borda, Juan Aposto! Martillea e algún»
outros selvagens unitários a quem Dumas alude, foram atos de rigo­
rosa justiça: foram fatos que não podiam deixar de acontecer sem
que ficasse exposta a segurança destes países” .
Critica a administração de Montevidéu, os contratos com a renda
da Alfândega e outros; faz uma recapitulação de fatos e uma minu­
ciosa enumeração de nomes próprios; ressalta que, quando esta “ ven­
dia os Conventos, a Casa de Exercícios e os terrenos das igrejas de
Montevidéu, S. E . o Presidente da República mandava edificar insta
nova cidade da Restauração, mil formoso Templo a S . Agostinho,
patrono de Pueblo; nutro em l “aso del Molino, e mandava reedificar
todos os que estavam estragados nos outros departamentos da Re­
pública” . Acrescenta, com indiscutível justiça, que tódas essas obras
“ honram a vigilante administração" do general Oribe.
Não é possível continuar, em seus detalhes, a longa réplica de
"E l Defensor de Ia Independencia Americana” ; essa resenha basta,
sem embargo, para dar uma idéia de que no campo sitiador não se
pensou que o opúsculo de Dumas pudesse passar cm silencio. E essa
refutação foi publicada, também, pela (roccfq Mercantil de Buenos
Aires, o (pie significa que se pensou ser útil difundir a propaganda
contra o curioso e sugestivo livro de Dumas.
Jacques Duprey observa sagazmente que "o novelista devia ficar
satisfeito, pois o texto do opúsculo encontra-se pelo menos duas vezes
no resto de sua obra. E ’ verdade que apesar da ganância fabulosa
e de uma atividade transbordante, o dinheiro era sentpre escasso, quer
dizer, o material para publicar". Por outro lado, em sua obra Une
aventure d'emour lembra alguns homens e coisas de Montevidéu e
168 —

faz grandes elogios a Pacheco y Obes, a quem classifica como o ho­


mem mais importante ele todas as revoluções montevideanos.
Dessa obra sensata, sem complicações novelescas, sem arte pura
nem dramáticos conflitos de almas, ficam para todos os tempos o
titulo feliz e unta frase, brazão insuperável e prestigioso: Monlevidl'ti
n’cst fas sculcment une villa, c'est mi symbolc; ce n’csl fa s settlement
un fcuflc. c'cst une esperance; c'est le sytnbole de l'ordrc, c'est
/’esperance de la civilisation.
N a lula angustiosa e tremenda contra a tiranía de Rosas, estreita,
sanguinária <• regressiva, de um americanismo aparatoso e farsante,
que leude a impór sita dura hegemonia aos povos vizinhos, Monte­
vidéu representa u espirito de liberdade ás vezes tumultuoso, às vezes
demagógico. sempre valente. Quando sob a marcha dos exércitos de
Rosas, caem vencidos os mais gloriosos generais e os veteranos das
tropas de centenas de campanhas são dispersados e o povo argentino
é degolado nas mas de Buenos Aires e nos campo, das província-,
o nome de Montevidéu, como uma última esperança, ressoa entre
os cantos de combate c é murmurado pelas mães agoniadas de dor.
F. é de Montevidéu que Manuel Herrera y Ohes lança sua ofensiva
para trair e decidir o general Urquiza. E é tie Montevidéu que um
dia do ano de 1847 parte Andrés Lamas, a queni na obra de Huma­
se qualifica de “ homem de grande talento e de vasta cultura” , para
dirigir-se a esta cidade do Rio de Janeiro, como um novo cruzad"
na dificil empresa de reunir reforços c obter recursos para vencer o
tirano de San Ben.to de Palermo.
Andrés Lamas vence aqui, no Rio, montanhas de dificuldade-
até que se reconheça sua importância. O governo de Buenos Aires
representado pelo general Tomás Guido, — militar que. ostentava no
peito as condecorações ganhas em campaniles gloriosas com San
Martin c Bolívar, governador de Lima e Callao, plenipotcnciário.
ministro de Estado, legislador, jornalista, homem culto c tie autori­
dade. enfim —, move todos os recursos |rara que não seja admitida
a Legação uruguaia. Além disso põe em atividade poderosas in­
fluências e meios de convicção para persuadir que a causa de Monte­
vidéu está definitivamente perdida. Arroyo Grande, India Muerta.
Vence.-, são fatos decisivos e, ao que parece. irreparáveis; a campa­
nha é dirigida pacíficamente pelo general Oribe, que exerce sobre
ela as funções de governo de modo quase norm al: o abandono tia
cidade situada por alguns de seus antigos defensores é sintoma de
desespero e derrota. As brigas e discórdias que agitam e esterilizam
as dizimadas energias dos bandos que não se entendem no último
baluarte da resistência; o afastamento das missões européias; a morte
do comércio; a penúria financeira, são realidades que não se ocultam
com a eloquência das palavras.
Entretanto Lamas tem íc apostólica c não se deixa vencer pel
desalento. N a imprensa, nos círculos econômicos e financeiros, nr,
ambiente do governo, nos meios politicos, nas reuniões sociais, serve
a cansa da República declinante em sua luta tremenda contra Rosas
e o -eu sistema. Aquele ministro plenipotenciario, que pouco antes
era olhado com reserva e receio e que encontrava dificuldades para
ser admitido oficialmente, ê agora acolhido em São Cristóvão pelo
imperador c tratarlo com a devida consideração que merece jielo3
seus eminentes dotes intelectuais, por sua hierarquia de escritor, por
sua conduta, ]mr sua posição social. Na chácara da rua Pedreira da
Glória recebe, com frequência, entre as visitas de tódas as persona­
lidades que passam [telo Rio e que o saúdam como a última esperança,
a do próprio Dom Pedro, acompanhado pela imperatriz. E então,
com discrição e tato, enquanto a conversa gira em tônio de temas
propicios às altas especulações do espirito, o diplomata uruguaio
destrói as tramas sutis anuncias jada eximia habilidade do general
Guido.
Chega finalmente urn dia em que Lamas, acompanhando a in­
teligente e realista política dn I >r. Manuel H errera y Obes, con­
tribui [xxlerosamente para fazer soar no relógio da História, a hora
final da tirania de Rosas. E ’ quando consegue reunir ideais e inte­
resses. homens c elementos bélicos, na canqranha que vai concentrar
em Caseros o poderoso exército com que Urquiza. à frente das tropas
argentinas, brasileiras e uruguaias, abre o caminho para a definitiva
organização constitucional de sen glorioso pais.
Ao saber do triunfo de Caseros, uma curta carta do ministro das
Relações Exteriores do Brasil leva ao conhecimento de Lamas que
sua majestade agraciou-o rom a Cirande Cruz da Ordem de Cristo
do Brasil, tal como se condecoram os heróis no próprio campo de
batalha.

Senhores:
Esforcei-me para fazer desfilar diante de vós. neste ambiente de
cultura refinada e centenária, lembranças e emoções daqueles dias
passados cm que. juntos, vivemos duras e longas jornadas de tra ­
balho, de afãns c de glórias. E quizera dizer-vos, com as mais cate­
góricas e persuassivas palavras que, animados por aquelas grande-
lembranças e à sombra tutelar das ilustres figuras que as povoam
e enobrecem, os historiadores do Uruguai e do Brasil devem adorar
essa herança comum, como se defendem e adoram os valores morais
e culturais que formam <> patrimônio espiritual das nações.
VIDA E OBRA DE ADOLFO MORALES
DE LOS RIOS
Conferencia pronunciada pelo professor Adolfo Morales de
los Rios Filho no ato de sua posse no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro
ctscendência — De estirpe nobre, dos Morales de Castela. con­
tava — Adolfo Morales de los Ríos — entre setts ascendentes, diretos
on colaterais. desde o descobrimento da América até nossos días: Dom
Pedro tie Morales, I.” governador da Terra Firme v. ttm dos primei­
ros companheiros de Francisco Pizarro na conquista do Peru: Dom
Juan de la Torre, outros dos poucos fiéis companheiros de Pizarro;
Dom Juan de Solorzano y Pereira, ilustre filósofo c escritor, cava­
lheiro tía Ordem de Santiago, conselheiro de sua majestade nus Su­
premos tie Castela e ludias. autor da célebre obra /)<• Indiaritm Hex
Disputationes, ou seja. Política Indiana, em dois tomos in-fvlio
(1736-1739), dedicada ao rei Felipe IV e escrita em l.ima: sen tata-
ravó Dom Andrés de Morales y de los Rios, nascido na antiga Ciu­
dad de los fícyles (atual Litiuii, que fui. ali. tima tías autoridades
mais importantes, tendo fundado a Casa da Mocda; os Pareja, ori­
ginarios de Lima, dentre os quais se destaca a célebre dama Marga­
rida Pareja c u vencedor e rlepiis vencido e morto cm Conceição do
Chile, na guerra da Independência: Dom José Manoel Pareja, almi­
rante espanhol, ministro da Marinha da rainha ísaliel II. morto em
ação de guerra defronte de sua terra natal, o Callao — meados do sé­
culo XIX — tio do meu progenitor c irmão postiço de seu pai; Dom
Javier de los Rios. Dom Manuel Cayetano Luyo e Dona Rosa Maria
Morales de los Rios y Salazar, casarla, com Dom José de Salazar y
l'rdaregni. todos da cidade de Lima, no Peru; Dom Bernardo de
Luque y Mañana, do Conselho de sua majestade, ouvidor honorario
da Real Chancelaria da Cidade de Valladolid e corregedor ría Pro­
vincia de Guipúzcoa, na Espanha; Doua Maria Teresa de Morales
de los Ríos, casada com o governador de Montevidéu Ruiz de Iíui-
rlobro. que dali expulsou os ingleses, e que. devido à fuga do vice-rei
Sobremonte, chegou a ser vice-rei do Ri» da P ra ta: Dom Francisco
— 171 —

Javier Morales <le los R íos, tenente-general da Armada, nascido em


Corduba c falecido cm Cadiz no ano de 1815, que, pelos relevantes
serviços prestados no combate aos navios ingleses, contra Gibraltar
e em Tanger, recebeu em 1792 a mercê de conde de Castela; conde
de Morales de los Rios, deputado da cidade de Cadizz ás cortes cons­
titucionais ali sediadas e capitão do exército; Dom José Morales de
los R íos y buque, nascido cm Cádiz em fins tio século X V ill c fale­
cido na mesma cidade no ano de 1843, avô paterno de meu pai. ilustre
marinheiro, com relevantes serviços de guerra, tendo chegado a bri­
gadeiro e tido a honra de comandar o primeiro navio o Cristobal
Colón - movido a rodas que a Espanha possuiu, agraciado com as
grã-cruzes de Isabel, a católica. São -Hermenegildo, São Fernando e
Carlos III: e o marechal de campo Dom José Manuel Pereja y Sep-
tién, tio de meu irmão materno de meu avô.
De Adolfo Morales de los Rios, foram progenitores: Dom Sole­
dad Pimentel y Garcia tie Aridities e Dom Adolfo Morales de los
R íos y Septién, tenente-general, nascido em 1823 na cidade de Cádiz
e falecido na Corunha em 1894. Artilheiro consumarlo, serviu três
vézcs em Cuín, onde muito pelejou, tendo sido promovido a briga­
deiro. Voltando à Espanha, foi sub-diretor da Maestrança dc Sevilha
e em 1847 foi incluido no Exército do Norte, na campanha contra o
pretendente Dom Carlos. Tomou parte nas batalhas dc Soinorrostro,
Las Carreras, Santa Juliana c de São Pedro de .Allanto (oíale se des­
tacou tie tal forma que foi promovido a marechal dc campo) e conse­
guiu entrar com suas tropas em Bilbao. Comandou o Segundo Corpo
de Exército, exercendo o Comando General dc Biscaia. N a chefia
das Tropa. Reais, tomou |xirtc nas batallas Arrntsain e Mendizor-
rots. e voltou a Cuba, onde conseguiu aprisionar Estrada Palma, que
se intitulava presidente de República Cubana. Por tal feito foi pro­
movido a tenente-general c voltou para a Espanha, onde exerceu as
Capitanias (¡eneráis de Extremadura. Sevilha, Cordoba. Valencia e
Biscaia. Possuia as grã-cruzes de Isabel, acatólica, do Mérito Militar
(Vermelha), de São Hermenegildo c tic Alcântara, a medalha de
("tilia, a tie Afonso XII e pertencia à Ordcm tic Calatrava. por ser
m bre pelos quatro costados, o que lhe permitia permanecer colicrto
diante do reí.
Morales dc Los Rios (pai) tinha parentesco pelo latió mátenlo
com São Pedro de Arlate, c pelos Morales dc los R íos y l.uquc com
Santa Teresa tic Jesús.
Terra Natal: Sopilhu — Antiquíssima cidade, tão vetusta, que
segundo a Icnda. fui Hércules qttcni a cdiíicou... Terra que foi dr
íberos, fenicios, cartagineses, helenos, romanos, vándalos, suevos,
visigodos, árabes c cristãos. Todos nela deixaram sua marca inde-
level.
Giamou-sc. tie cornêço, Hospalis. E foi desse nome (de .S'/rin e
illi, cidade) que se derivou o vocábulo Espana. Depois foi a romana
Cirilas Julio ou Julia R im ula; Jxbilia. a denominaram os árabes.
E. quando reconquistada pelos cristãos passou a ser Sevilha.
Terra, onde foi <, solar do almirante lionifax (que a conquistou
aos sarracenos); repjusam Guzman-el-Bueno e Colombo; morreu
Hernán Cortés; Cervantes escreveu parte do Dom Quixote, e vive
ram Fernando Ruiz (M estro Mayor de la Santa Iglesia), Churri­
guera, Juan de Herrera c o eminente padre Manuel Gil.
Terra cantada por tantos escritores e poetas, dentre os quais se
destacou êsse magistral poeta do Brasil, que foi Martins Fontes.
Iniciando uma saudação a Villaespesa, tie disse de Sevilha:

"Trago-tc do Brasil o calar de meu beijo!


E num gesto triunfal te sauda e festejo,
Cclcbrando-tc a lionra, a exaltar-te a façariha
— Flor do Guadalquivir, glória da ardente Espanha/"

Cabeça da fertilissima Andaluzia, regada pelo Guadalquivir, Sc


vilha possui não piucos marcos humanos, sentimentais, artísticos,
históricos v nacionais, impossível, simplesmente impossível, numa
oração deste gênero, será bosquejar tudo quanto de grandioso, belo
e interessante ela contém. Capital dos godos, como havería de ser
dos árabts e dos espanhóis muçulmanos, nela, sendo capital dos cas­
telhanos. as cortes de 1260 fizeram que o dialeto da Castelà lassasse
a ser o idioma nacional.
As terra.- tia América c do Brasil estão intimamente ligadas a
Sevilha e a sua provincia. De falo, coube ao marinheiro Juan Ro­
drigues Bermejo, natural de Molinos, avistar da nave de Colombo,
a ilha da Guanahani, atual W atting. E — segundo revela o notável
orador deste Instituto e magnífico reitor da Universidade do Brasil.
D r. Pedro Calmou, na sua magistral História do Brasil — foi em
Sevilha. no ano de 1584. qtte um soldado da armada de Diego Flores
Valdez escreveu crônica rimada, dizendo que ao arraial fundado pelos
hispano-lusitanos na Paraiba se tinha dado o nome de Felipea.

")■ porque el nombre se vea


llamase Ia Filipea
y el querfo P arayva...

Também muito ligado à América e ao Brasil foi o pórto de Paios


de Maguer, ponto de partida para muitas das arrancadas em direção
às terras que. pela ironia do destino, deixaram de ser chamadas co­
lombianas .
Da Andaluzia foram originários Seneca, Lucano, Silin, Cohiniela
e muitos outros homens cujos numes, façanhas e ações levaram o re­
nome andaluz e o seu próprio através do mundo. Estão no caso de
Vicente Yañez Pinzón, Diego de Lepe e Juan Dias de Solis. que.
somente antecedidos pelo catelhano Alonso de Ojcda, íoram dos pri­
meiros a conhecer terras do Brasil. E, mais, cientistas, médicos, en­
genheiros. E poetas como o duque de Rives, Gustavo Adolfo Bccquer
e Garcia Lorca; um humanista, como Nebrija. historiadores do valor
de Bartolomé de las Casas; enciclopedista: Santo Isidoro; militares,
da estirpe de Gran Capitain e de Queipo de Llano; geógrafo, como
Piedro Cieza de León; escritores da valia de Carranza, Andrada c
D. Blanca de los R íos ; oradores, como os insignes Castelar e M o ret;
atores, tal como o excelso Rafael Calvo; grandes pintores: Roelas,
Velazquez. Murillo. Váldés Leal, Francisco Pacheco, Luís de V ar­
gas. Francisco Herrera (o Velho e o Moço), Pedro de Villegas. Ruiz
Gijón; escultores: Hita. Martinez Montañés, Alonso Cano, Lucas
Valdés. Bernardo de Gijón. Antonio Susillo, R oldan; arquiteto De­
metrio de los R íos .
Pois foi naquela região, na cidade de Sevilha, que nasceu, a 16
de março de 1858, quem teve o nome completo de Adolfo Morales de
los Rios y Garcia de Pimentel.
Estados Secundários — Realizou seus estudos elementares, pri­
meiro numa escola situada em logradouro público, da cidade natal,
de denominação sui-getieris: R u ç do .-I. li C ,, e depois, no Colégio
dos padres jesuítas do Põrto de Santa Maria.
Fêz a sua educação secundária, com real proveito, no Real Se­
minário de Nobles, em Vergara, província de Guipúzcoa. O profundo
conhecimento tias humanidades, que ali adquiriu, foi um fator decisivo
de sua vitória na vida.
Reto rei: Na Campanha Carlista — Estalando a Guerra Car­
lista no Norte da Espanha, para lá partiu na Brigada de Infantaria
comandada por seu pai, tomando parte, com os seus irmãos José Ma­
nuel e Javier, nas batalhas de Somorrostro. Santa Juliana, Las Car­
reras e San Pedro de Abanto, onde foi ferido. Levantado o céreo de
Bilbáo pelo exército de Afonso XII, entrou nessa cidade com as
tropas legais. Ai foi elogiado em ordem do dia e condecorado, tendo
assistido ã promoção de seu progenitor a marechal de campo e con­
sequente nomeação |>ara o cargo de governador militar de Biscaia.
Paris: l'ida Acadêmica — Pretendeu estudar engenharia em
Madrid, mas em breve praso decidia dedicar-se à arquitetura, para
o que se matriculou cm 1874 na Escola de Belas Artes de Paris, onde
teve como professores de composição aos ilustres M r. de Merindole,
arquiteto diocesano e um dos grandes colaboradores de Haussmann
— 174 —

lia transformação de Paris, e M r. Guenepin, notável arquiteto, an­


tigo Prix dr Rome.
Naquela cidade permaneceu oito anos (1874-1882), assistindo a
todos os cursos de arte ali realizados, frequentando com assiduidade
os da Sorbonne e do Instituto de França, e convivendo com espíritos
superiores como Viollet-lx: Due, de quem fôra, aliás, dis'cipulo, pouco
antes da morte do mesmo.
A longa estadia em Paris, a maneira pela qual se dedicou a tõda
sorte de estudos, e a presença de uma sua tia Dona Margarida P a­
reja. c de uma grande amiga da familia Morales de los Rios, Mme.
de Bois-Brunet. ali também residente, cujo salão acolhia o que de
mais fino <■ culto existia na França, contribuiram de maneira deci­
siva pant a sua formação intelectual <• artística, e aprimorada edu­
cação.
Ainda era estudante de arquitetura e já colaborava na Seção
Espanhola da Exposição Universal de Paris de 1878.
Quatro anos depois concirna o seu curso. Tinha, então, vinte e
quatro anos de idade.
Com mais cinco ex-colegas, dentre os quais se notava um prin­
cipe japonés, empreendeu uma longa e interessante viagem pele
Mediterrâneo, até n Oriente. Visitou, assim, o Sul da E.-panhá e da
França, a Itália, Grécia, Palestina. Turquia, Egito. Tripolit&hia v
Marrocos.
Volta á França, toma parte no concurso par* * Creche de Se
dan, sendo classificado em terceirp lugar, e projeta um grande edi­
fício para um dos boulevards de Paris.
Na Espanha Keingressando na Espanha, éle tomou parte em
diversos concursos púlilicos de arquitetura. Assim, venceu os seguin­
tes certame-: Grandes Teatros de Cádiz e de Cartagena: Mercarlo de
Valencia; Banco dr- Espanlta e Hólsa de Comércio, de Madrid: Bairro
de Mira('<melia. Quebra-M ar da Zurrióla. Praça de Touros. Palácio
Provincial e Grande Cassino, em Nau Sebastian.
Em -en |xiis natal, projetou mais: a decoração monumental da
Praça de Catalunha, em Barcelona; o monumento comemorativo e
pequeno museu dedicado ao poeta Calderon de Ia Barca, em Madrid:
o balneário do Palácio Real de Sun Sebastian; o Museu Regional d.-
Cádiz: o ixivilhâo |>ara lianhos de mar. em San I.iicar lie Uarraiueda.
para o infante Dom Antônio de Orleans; e a pretoria, feira e mercado
de panos, de Tilosa.
Em Ctidis — Ocupavam os iberos a parte da península que de­
pon lhes tomou o nome, onde hoje fica situada a cidade de Cadie.
quando os fenicios ali foram ter. para instalar suas colônias. Deve-
• - 175 —

se, pois, aos fenicios a fundação da antiga Godes. E até ali chegariam
gregos c rumanos, sendo erigido uní templo a Hércules, no qual
fizeram sens votos os grandes Aníbal e Júlio César Gudes constituiu,
a seguir, o último lialuarte do ixiderio cartaginés. Depois, quando
habitada por inúmeros ceteranos de Augusto, receben o titulo de
Augusta urbe Julia Gadditaua. Tornando-se árabe, foi reconquistada
cm 1262, pelo rei Afonso, o Sábio.
Cidade esplendida, dotada de valiosos monumentos. Cádis tem
cm volta de si lugares e povoaçôes ligadas á história do Brasil e da
América: os portos de Santa Haría e de Sttnlucar de Rarraiueda. dos
quais partiram tantos navegantes c expedições etn direção aos tró­
picos. Assim, de Santa María, amigo Porto Menestra dos fenicios,
partiu, em 1940, o já referido Alonso de Ojeda, levando cm sua
companhia ao piloto Juan de la Cosa e ao então negociante Américo
Vespúcio. E foi de Sflti/iícur de Rarraineda (a romana Oleastruin)
que zarpou Cristóvão Colombo. em 1498, para realizar sua terceira
viagem á America. Dali Femão de Magalhães empreendeu, em 1510,
sua viagem de circumnavegação. E a ela viría ter Elcano. em 1522.
depois de ter realizado tal façanha.
Na mesma, foi jurada a Constituição, organizada pelas cortes,
de tão grande influencia com relação ao absolutismo dos reis. Sa­
bida é a repercussão que a Constituição espanhola teve no Brasil,
onde Dom João VI foi obrigado a jurá-la. na falta de outra.
Lembraremos, como mais um elo de ligação de Cádiz com o
Brasil, que seu nome figurou, quase todos os dias dc quatro lustros
seguidos, na imprensa do Rio de Janeiro, pela mão do ilustre coman­
dante Luis Gomes, progenitor do brigadeiro Eduardo Gomes, na for­
midável canipanlia que desenvolvera para unir, por meio de freqiientc
navegação, aquela cidade com o Recife, e para estabelecer portos
francos em an dias.
Naquela cidade. Morales de los Rios projetou c construiu o Grau
Teatro, dotado de amplas proporções e obedecendo ao estilo mudijar.
isto é. o dos áralxs que abraçaram a religião católica. Em a noite
da inauguração conheceu Maria Rita de Cuadra y Amenabar que
havería de ser — após o consórcio realizado a 29 de julho de 1886
— durante tantos anos, a espôsa fiel e dedicada. Possuidora de líelo
rôsto e de airosa figura, grande inteligência, elegantíssima no trajar
e no andar, simpática e alegre, incomparável mãe de três filhos, exem­
plar dona de casa, — se impôs à sociedade espanhola e á da cidade
da Carioca, de que foi uma de suas grandes damas. Nascida naquela
cidade a 29 de dezembro de 1863, aqui veio a falecer com 48 anos de
idade, a 7 de março de 1911.
■Sun Sebastian: trampolim pura. a A m M ca . Os últimos anos de
sua vida na Espanha, os viveu Morales de los Rios na capital da pro­
víncia de Guipúzcoa: Suit Sebastian. antiga Uruchulo. Essa provin­
cia é unía das quatro chamadas vascongadas. sendo as demais Na-
leirra, Altaica e I'isatya. tendo, respectivamente, como capitais as ci­
dades de Pamplona, Vitória e Bilbao. Ocupam essas provincias um
território montanhoso — sede da grande siderurgia — onde vive uma
antiga raça, forte e nobre, que fala o vascuence. Raça antiga, pois
suas origens estão mergulhadas nos primordios do homem da Eu­
ropa: furte, |>ela sua robustez e saúde: nobre pelo seu caráter.
San Sebastian — conhecida como Piróla do Cantábrico, ocupan­
do situação belissnia. como uma bahia que muito faz lembrar a de
Botafogo, c. em si. não menos líela e importante. Contém amplas
avenidas e praças. Iiairros pitorescos c bem construidos, edificios no­
táveis; valiosas instituições culturais.
Mas existem outras analogias entre aquela cidade e o Rio de
Janeiro, além da antes assinalada, porquanto segundo escreveu Cons­
tantino de Eslá: En focos sitios conto <•« San Sebastian cs (uh per­
ic ia Ia conjuncitín del mar y la montaña; Rio de Janeiro cm peque­
ño, con robles en ves de palmeras. S i alguien quisiera trasar parale­
lismo, la tínica linca semejante c la de la capital de Guipuscoa es la
que ofrece Rio. La bahia, los casinos, las playas, los montes sobre las
casas, todo tiene una siniilitud que sugestiona, que pone de acuerdo
al trópico con b v brumas y al caf; con la sidra. A isso convém acres­
centar que muitas de suas avenidas têm liananeiras como flora deco­
rativ a...
Na limpissima urbe existem coisas que lembram o Brasil. Assim,
há uma rua com mn neme familiar aos brasileiros: Oquendo. O almi­
rante do mar Oceano, Dom Antonio de Oquendo, fo: quem saiu da
Bahia a 1 de setembro de 1631, comandando a esquadra hispano-
portuguésa a fim de combater a esquadra na altura dos Abrolhos a
12 do mesmo mes. Sai vencedor do encontro militar mais sangrento
dos ocorridos nas águas do Brasil — na opinião do liarão do Rio
Branco. — emboca com grandes perdas e lamentando a marte de seu
colega almirante Francisco de Valecila. Ñas Casas Consistoriales há
dois quadros que figuram a façanha do filho de San Sebastian. E urna
estátua de Oquendo, ao lembrar novamente o nome do Brasil, imor-
taliza-lhe a figura varonil.
São também líaseos, e muito ligados à historia do Brasil, Juan
Sebastian de Elcano. Santo Inácio de I.oyola e n |>adre Juan de Az-
pilcueta. o Navarro (assim cognominado por ter nascido na provincia
de N avarra). Dos mencionados. Elcano esteve na Bahia de Guana­
bara. como integrante da frota de Fernão de Magalhães. Santo Igna-
— 177 —

cio de Loyola, se tião esteie no Brasil, muito influiu no seu desbra-


vamcnto. exploração e evangelizarán através dos esforços e a santi­
dade de seus disci|iulos: os Jesuítas. O padre jesuíta Azpilcueta. de
familia solarenga <le sua província natal, veio — conto é sobejamente
sabido, para <> Brasil cm 1549. com os primeiros jesuítas trazidos
por Tomé de Souza. Foi o primeiro a verter a Imgtta tupi para o por­
tuguês. organizando, como consequência, unta gramática. O padre Ma­
nuel da Nóbrega déle disse, nas Curias do Brasil: Trabalhamos de
saber a lingua deles e nisto o padre Navarro nos leva vantagem a
todos".
En San Sebastian. Morales de los Rios féz, com o seu colega
I.. Aladren, o palacio da provincia, ou do Govérno Civil, e o Grande
Cassino ou Grande Cassino Easonense. Também trabalhou, como
arquiteto, para a Sociedad In mobiliária, lia qual foi presidente o Se­
nhor José Cáeer. cujo filho, Manuel Cácer. foi diplomata no Rio de
Janeiro, onde se consorciou com a senhorita pertencente á distinta
familia I.as>ance. Uni filho deste casal — Dom José de Cácer y Las-
sance foi também — em 1942 — secretario da Emliaixada da Espa­
nha no Rio de Janeiro, sendo atualmente ministro-conselheiro da
mesilla. Como arquiteto. Morales de los Rios fez para a referida
sociedade o quebra-mar da Zurrióla. Isso constituiu uma vitória para
si, porquanto todos os espigões até então construidos tinham sido des­
truidos pela impetuosidade do mar. Também projetou e construiu o
liairro de Mira-Concha, cuja rúa principal, désse nome, começa na
Concha e termina no Antiguo. E, mais, os ja citados projetos da
Praça de Touros e do balneário.
Acallada, coin grande sucesso, a construção do Cassino da Ca­
pital Guipuzcoana. aceitou o convite do ministro chileno na Espanha
para ir ao Chile, a finí de ali fundar a Escola de Arquitetura. Partindo
para a América, desembarcou em Buenos Aires, de onde não pôde
prosseguir viagem etn virtude de grave situação jiolitica no pais dos
Andes.
Cinda e coiné(o da acão no Brasil — De sorte que, de retorno à
Europa, passou pelo porto de Santos, onde embarcou, no navio cm
que viajava, o arquiteto lielga M r. Alfred De Mol que vinha para o
Rio de Janeiro com o intuito de dedicar-se a trabalhos dc urbanística,
pretendendo mesmo realizar obras désse genero em Teresópolis. Con-
citoti-o a trabalharem em comum. Chega, assim, ao Rio de Janeiro
pouco depois da proclamação da República e resolve permanecer na
cidade durante algnm tempo. Mas nela ficou definitivamente.
Para isso contribuiu o seguinte: tendo-se associado com um ilus­
tre oficial de engenheiros e hábil artista espanhol — Hastoy, —
montou com o mesmo uma casa de construções que girou, com grande
sucesso sob a razão social de Hastoy Morales de los Rios, levando
— 178 —

a cabo inúmeras e valiosas construções. Acontece que um dia esse


sócio, que era o caixa da firma, desapareceu levando uma grande parte
dos recursos da sociedade. Dada a queixa à policia e resultadas infru­
tíferas tõdas as pesquisas para a prisão do desleal companheiro, Mo­
rales de los Rios reune os credores c os pôs ao corrente do que ocor­
ria. Não solicita a falência, nem quer concordata; promete pagar a
todos, de vez que se conformassem cm esperar, pois com o seu tra-
lialho a todos satisfaria. Assim fêz, pois em poucos anos as dívidas
estavam liquidadas.
O Professar ■— Lutara, assim, como um mouro, até que, em 1897,
se lhe apresentou a oportunidade de inscrever-se no concurso para o
cargo de professor da Cadeira de Estereotomia no Curso de Arqui­
tetura da Escola Nacional de Belas A rtes. Após inúmeras, difíceis e
brilhantes provas teóricas c práticas, saiu vencedor, sendo classifi­
cado cm 1." lugar e nomeado pelo Governo. Já estava naturalizado
brasileiro,
Exerceu, depois e sucessivamente, por indicação da Congregação
da Escola, as Cadeiras de Geometria Descritiva, Perspectiva e Som­
bras, Elementos de Arquitetura e Desenho de Ornatos, Grande Com­
posição de Arquitetura, e História e Teoria da Arquitetura, como su­
cessor, nesta última, do eminente engenheiro e grande conhecedor da
arquitetura Dr. Ernesto Cunha de Araújo Viana, filho de um dos
grandes vultos do Império Brasileiro; Cândido José de Araújo Viana,
visconde com grandeza e marquês de Sapucai, que presidiu o Instituto
Histórico durante 30 anos.
Em tõdas as cadeiras que lecionou, tleixou traços indeléveis de
seu saber, competência e vastíssima erudição. Amigo de seus alunos
a todos acolhia e tratava com lhaueza. Por isso foi muito querido e
apreciado.
Desenliando rápida e graciosamente, e aquarelando com grande
espontaneidade e técnica completa, êle soul>e transmitir essas quali­
dades a seus discípulos. Formou, desta sorte, várias gerações de a r­
quitetos. dentre os quais se destacaram na vida profissional e no pro-
fessorado: Heitor de Melo, Aloisio de Almeida Staiembreclier, f >tto
Khun. Armando Teles, Ratd Lessa de Saldanha da Gama. Miguel
Calmou du Pin e Almeida (homônimo e parente do ministro do
mesmo nome), Arquimedes Memória. Rafael Paixão. Nestor Egidio
de Figueiredo. Celestino Severo de San Ruan. Angelo Bruhns. Rant
Cardoso de Cerqueira, Roberto Magno de Carvalho. Augusto de V as­
concelos Junior, Mário Fertin de Vasconcelos. Evaristo Sá. Luis Sig­
norelli. Rafael Galvão. José Paulo Ferreira. Nerco de Sampaio, Er-
nani Dias Corrêa, Henrique Vasconcelos. Osvaldo Soares Vieira
Machado, Eduardo de Sousa Aguiar, Manuel Henrique de Lima,
— 179 —

Salvador Duquv Estrada Batalha, Ricardo José Antunes Junior, Eno­


ch da Rocha U nia, Paulo Ewerton Nunes Pires, Pedro Paulo Fer­
nandes Bastos. Paulo Ferreira Santos. Paulo Thedim Barreto, Edu­
ardo da Costa Júnior, Paulo Candiota e Dona Arinda de Cruz Sobral,
a primeira arquiteta diplomada pela Escola. Resta mencionar o nome
do mais desvalioso de todos: quem usa da palavra neste momento.
() .Irqnih io — A característica dos seus projetos era o ecletis­
mo, orientação essa proveniente de fertilíssima imaginação e de com­
pleto conhecimento dos mais variados e antagônicos estilos. Quer
desenhasse mansardas francesas ou levantasse minaretes árabes; quer
idealizasse modelos decorativos amerindios de grande valor ou perfi­
lasse molduras ogivais; corresse cimalhas hispanizantes ou tracejasse
arcadas mudejares: estilizasse animais, plantas, flores e frutos; reves­
tisse frentes c portais de duro granito da Carioca ou de dourados azu­
lejos sevilltanos; quer projetasse uma maternidade, um museu ou uma
modesta vivenda — êle se revelava sempre o artista completo, que em­
presta alma c carinho à sua obra, que a sente concebida com os olhos
do espirito c a vê integralmente realizada para gáudio, apreço e es­
pontânea admiração dos espíritos superiores que sentem as coisas
originais, supriores e harmónicas, que apreciam a beleza sempre
eterna, indissohivelmente ligada ao espirito Itnmano, no que êle tem
de superior e refinado.
Levou. mais a efeito, nesta cidade, outros três mil e tantos pro­
jetos, havendo algumas ruas cujos edifícios foram quase todos plane­
jados e fiscalizados por êle. Entre seus vultosos projetos realizados
se destacam, jvela importância, os situados na Avenida Rio Branco:
Palácio da Escola Nacional de Relas Artes, Edificio do Jornal
“ O Pais", Supremo Tribunal Federal. Palácio da Associação dos
Empregados no Comércio. Edificio “ Persa” . “ Ferro de Engomar"
(edificio de planta triangular situado entre Avenida, Rosário e O u­
rives), “ Edifício dos Elefantes" (entre Buenos Aires e Alfândega),
Casas “ Costa Pacheco" <• “ A rtur Napoleãn" Edifício "Costa Reis”,
a primitiva "Equitativa” e a "Casa das Aguias". E em outras vias
públicas: u Palácio Cardenalicio (na Glória), o prédio do jornal
“ A Tribuna" (Rua do O uvidor), a “ Tõrre Eiffel” (na mesma ru a).
Associação Tipográfica Fluminense (Avenida Passos), Clube Ginás­
tico Português (Rua Buenos Aires». Teatro Cassino (Rua do Pas­
seio). Basílica do Sagrado Coração de Maria, no Meier ( em arqui­
tetura "mudelar” ) . Tõrre da igreja matriz de São João Batista da
Lagoa (Botafogo). Abadia e altar da igreja de Santana. Fábrica de
Calçado "Ferreira Souto". Colomi Clube (Rua Marquês de Abran-
tes). Arco Manuelino (mandado erigir pela Colônia Portuguesa. na
Praça da Glória, para comemorar o IV Centenário do Descobrimento
— 180 —

do Brasil), edificio da Associação dos Funcionários Públicos Civis


(Avenida Games Freire, esquina da rua do Rezende), edifício da
“ Sociedad Espanhola de Beneficicncia" (rua da Constituição).
Banco de Cauções e Descontos. Palácio do Comendador Garcia de
Infante, Palacete dos Drs. Francisco Ferreira (Tijuca) e Pinto
Um a (São Clemente), Vilas Italianas do S r. F. Pinto, palacete do
conde de Leopoldina (reform a) c Parque de Diversões da E xjxjsí-
ção Internacional do Centenário da Independência do Brasil.
As (adiadas que fazia, chamavam a atenção, despertando vivo
apreço. Por isso. A rtur de Azevedo — o notável escritor, crítico e
autor teatral — enviou-lhe de Paris, cm 1905. uma coleção de facha­
das, acompanhadas dos seguintes versos:

"A O M O RALES"

“Oh, bemfcilor de nossas ruas.


Talento pródigo e feliz,
Não são mais belas que as luas
Essas fachadas de Paris".

Fora do Rio de Janeiro, projetou: os esgotos das cidades do


Salvador (Bahia) e Maceió (A lagoas); a Maternidade do Recife, a
remodelação do Instituto Histórico e Geográfico da mesma cidade;
a planta detalhada da cidade do Salvador; o edificio da Municipali­
dade de Canavieiras (Estado da R a h ia ); e duas igrejas, uma no Re­
cife e outra em Põrto Alegre.
De sua autoria existem numerosas obras particulares nas cidades
do Recife, Maceió. Vitória, Terezópolis, Niterói. Belo Horizonte,
São Paulo. Campinas, Santos. Pelotas. Põrto Alegre e Montevidéu.
Concorreu ao monumento a ser erigido ao almirante Barroso,
com um primoroso e simbólico trabalho que se acha no Museu His­
tórico Nacional; assim como ao monumento a Cristo Redentor, no
Corcovado.
Muito se dedicou, também. â arquitetura funerária, possuindo os
cemitérios do Rio de Janeiro numerosas e interessantíssimas obras,
dentre as quais se destaca o túmulo do comandante Pio Torelli, no
Cemitério de São João Batista.
O Urbanista r Paãsagisla\ — Dotado de ampla visão urbanística,
pois tinha a retina inpregnada pelas grandiosas obras levadas a efeito
prir Haussmann cm Paris e (irlos arquitetos espanhóis na Gran-Via
de Madrid e nas ramblas de Barcelona, êle foi o primeiro no Brasil,
e. talvez em tôda a América do Sul. a cogitar da organização de
planos reguladores c de ampliação das cidades.
181 —

Assim, elaborou, com o citado arquiteto belga M r. De Mot. um


piano de urbanização para a cidade de Tcrezôpolis, por ocasião do
CHcilhameltto. periodo áureo de negócios e iniciativas do começo da
República.
Dai por diante não abandonara a matéria e elabora um outro
plano para a cidade do Salvador.
Por fim. pugna denodadamente para que o Rio de Janeiro fôsse
dotado de um projeto de sistenlatização dos melhoramento urbanos.
A sua campanha nesse sentido, o combate que sempre ofereceu
aos planos parciais de melhoramentos e o grande critério que sempre
demonstrou, foram os fatores que contribuiram para que viesse a
fazer parte da Comissão de Técnicos incumbida, pela Prefeitura Mu­
nicipal, dc estudar u problema urbanístico da cidade.
Em matéria de urbanização, êle via onde alguns nada enxerga­
vam. Tinha confiança, no Brasil e neste urbe que tanto amava, e
podia prever o rápido desenvolvimento de um e o portentoso futuro
da ottlra, apôs a grande era de transformação operada após as ordens
de I.auro Müller, Paulo de Frontín c Pereira Passos.
Por isso não se Conformou com o gabarito de trinta e três me­
tros dado à então Avenida Central, hoje Rio Branco, pleiteando para
que não fôsse inferior a cinquenta. Xessa mesma ocasião pugnou
ardentemente pelo alargamento progressivo e portanto, extraordina­
riamente econômico de tôdas as m as transversáis ã Avenida. Item
como |X'la criação de uma praça circular (rnnd-point) com cento e
vinte metros dé diâmetro na confluência da Avenida com a rua Sete
dc Setembro. E como complemento, propôs que uma outra avenida,
com quarenta metros de largura, atravessasse essa praça, partindo da
Ponta do Calaltouço e terminando na Praça da República, na parte
fronteira ao Quartel General. Na qualidade dc membro da Comissão
de Técnicos, apresentou projetos dc armamento da zona do Castelo
e da Ponta do Calahouço.
O congestionamento do trafego, a incômoda e quase insolúvel
circulação dos pedestres e o prejudicial estacionamento dos veículos
do Rio atual, constitui uma prova real do acerto das suas idéias lan­
çadas publicamente naquela época- Então ninguém o acreditava, hoje
todos lamentam que as suas sugestões não tivessem sido aceitas.
Conto arqmteto-urbanista organizou, mais, uni plano perfeito e
muito interessante de estradas de rodagem para o Distrito Federal e
projetou e levou a efeito a urbanização de um vasto trecho da cidade
fronteiro ao atual Jockey Clube, abrindo numerosas e bem traçadas
ruas que soltem pelas encostas da Gávea e dando-lhes nomes peculia­
res à especimes da flora brasileira.
E como paisagista traçou não poucos e belos jardins tropicais
com fontes c cascatas de - ussurrante água.
— 1X2 —

Outras faceta^ dc sua capacidade — Além de gravador, mode­


lava ent tarro, com extrema facilidade e graça; aquarelava de ma­
neira verdadeiramente notável; conhecia a fundo o trabalho da ma­
deira e do metal, tendo produzido obras de marcenaria e serralheria
notáveis e originais; dominava tanto os assuntos ligados á joalheria
como aos leques; era versado na indumentária de tõdas as épocas e
países; discernia, descrevia e ilustrava os diversos uniformes dos
exércitos dos mais opostos países do planeta; a heráldica não lhe
apresentava segredos e não foram poucos os brazões que interpretou
no Brasil. Conhecia os estilos do mobiliário e as alfaias, da mesma
forma que a arqueologia e a epigrafía. Apaixonado pela numismá­
tica. não despresou dedicar-se â iconología ou tratar algum assunto
peculiar á simbologia. E tnn lápis hábil e elegante ilustrava a palavra
fluente e amena.
O Precursor — Era o professor Morales de los Rios uma perso­
nalidade dinâmica, multiforme e adaptável a todos os assuntos e tra­
balhos. Muitas foram suas iniciativas c idéias e não poucas as con­
cessões que obteve. Estão no caso; a Vila Balnearia de Ondina (na
Bahia); a Vila Balneária na Praia de José Menino (em Santos); a
concessão dos esgotos e dos mercados da cidade do Salvador; a cons­
trução da Estrada de Ferro Norte de Alagoas; a Imobiliária do Rio
de Janeiro, sociedade de auxilio mútuo para a construção de edificios
[articulares; o saneamento e a eletrificação da cidade de Maceió.
Alagoas. E tentou obter concessões análogas em Aracaju, Teresina,
Campos e Varginha.
Requereu ao Congresso Nacional a concessão de uma Estrada de
Ferro du Xingu (no Estado do Pará) ao Araguaia (no Estado de
Goiás). Com o engenheiro Justino da Silveira Franca, pretendeu
construir as Estradas de Ferro Bahia a Minas e Norte de Minas.
Féz os estudos de um Cadastro para os Estados do Brasil. Submeteu
ao apreço do Govémo Federal um projeto de Estrada dc Ferro Grão-
Nordeste Sul Americano, ligando os Estados Centrais do Brasil aos
portos transatlânticos do Nordeste da República. Apresentou proposta
para a construção de um Sanatório Público, em Cascadura. Quiz
executar o Saneamento do Estado de Goiás e o da sua capital. Pre­
tendeu construir, com n Sr. Richard Ready, .pequenos mercados-
modelos em todos os bairros da Capital Federal, bem como um certo
número de lavanderias Públicas a vapor. Desejou executar, com os
engenheiros João Pedreira do Couto Ferraz e José Joaquim da Silva,
a construção dc edifícios escolares padronizados, no Rio de Janeiro.
Pretendeu levar a efeito, em 1911, com os Srs. tarão Amadée
Reille c engenhero Jó6o Pedreira do Couto Ferrai Júnior, a cons­
trução de hotéis nos terrenos do antigo Convento da Ajuda (atual
Cinclándia) e no Cáis do P orta. Dedicou-se ardentemente ao estudo
■Ia piscicultura, tendo fundado uma Companhia de Pesca. Projetou
uma cidade industrial e um porto franco na Ilha do Governador, bem
rumo a sua ligação nulo e ferroviária com o continente. Quiz orga­
nizar uma grande emprêsa para a unificação das diferentes compa­
nhias de bondes (tramways) do Rio de Janeiro, grandioso projeto
recebido com ceticismo, mas, entretanto, pouco depois levado a cabo
com pleno éxito. E, |xir fim, muito trabalhou para conseguir estabe­
lecer altos fomos no Estado de Minas Gerais, invertendo nessa em­
presa capitais espanhóis e brasileiros.
O Homem Estudioso — A vasta cultura de que era dotado per­
mitia que discorresse, com pleno conhecimento de causa, sôhre os mais
diversos e complexos assuntos.
Palestrador admirável e possuindo um timbre de voz agradabi­
lísim o, êle tinha sempre em volta de si, qualquer que fôsse o lugar
cm que se achasse, numerosos admiradores do seu talento e da sua
surpreendente entdição. Os seus a pro|>ósitos e as suas não menos
felizes e finas respostas, fizeram época e foram muito comentadas e
divulgadas.
Orador de grandes recursos, pronunciou orações que ficaram
memoráveis a realizou inúmeras e interessantes conferências.
Falava muitos idiomas: francês, inglês, italiano, espanhol e por­
tuguês. Os primeiros, com extrema perfeição; e o último com sota­
que espanhol. Dominava, também, o latim, e muito conhecia tanto o
árabe e o vasconço, conto um pouco do hipi-guarani.
Era escritor muitíssimo apreciado, altordando as mais variadas
modalidades literárias; prosa, romance, canto e poesia. Jornalista de
fato, escreveu em todos os jornais do Rio, e muito frequentemente em
jornais e revistas dos Estados do Brasil. Espanha. França, Estados
Unidos, Uruguai e Argentina.
Muito querido nas rodas de jornalistas e escritores cariocas, era
êle um auxiliar presttmoso e desinteressado de tõdas as redações.
Atendia, prolixamente, a tõdas as consultas que lhe eram feitas
e a ninguém deixava sem resposta e amplamente satisfeito.
Amava a polêmica e dela sabia tirar todo o partido, lançando
mão, com rara felicidade, da ironia. Como bom andaluz, sempre con­
servou o chiste, a espontaneidade e alegria sevilhanas. A sua con­
trovérsia com o D r. Vieira Fazenda, notável conhecedor das coisas
cariocas, relativamente á fundação do Rio de Janeiro, ficou célebre.
Conhecia bem a História do Brasil e possuia uma grande eru­
dição nos assuntos e problemas ligados ao Rio de Janeiro, cidade da
qual foi. sem contestação, tini dos seus maiores historiadores. Os
— 184 —

seus Subsídios para a história da nietró|xile brasileira — apresenta­


dos ao Primeiro Congresso de História Nacional, realizado, em 1914.
pelo Instituto Histórico c (Geográfico Brasileiro — constituem tima
das obras mais completas relacionadas com o período compreendido
entre a chegada dos primeiros estrangeiros à Guanabara e a definitiva
fundação da cidade, em 1567. Tamliém se especializou em estudos
peculiares à pre-história americana.
Deixou inéditos os seguintes trabalhos: Ilha dn Governador,
A Guanabara. Os Pairs. O Marabá, Os Karat bus, Dos Termos Tupis.
Zoologia Sagrada. Pujones y Muñecas cu Pajeo y en el Circo, Pofn-
nes en las Corles y ctt general. Alguns desses trabalhos estão incom­
pletos. pois não chegara a concluí-los.
O AltruXrta. Sua altivez era sobejamente conhecida c apreciada.
Pm* isso, nunca jxrdiu para si. nem subiu as escadas dc um Ministério
ou frequentou as antes-salas oficiais. Só foi ao I’alúcio do Catete
jmra que os arquitetos brasileiros tivessem trabalho na Exposição do
Centenário da Independência. As palavras que Jhc dirigiu nessa oca­
sião o presidente da Rquiblica. D r. Epitácio Pessoa, constituiram <•
melhor padrão de glória de sua vida afanosa e honrada.
Seu altruismo não tinha limites. Em volta déle não havia neces­
sitados. A todos ajudava e amparava. E não poucas vezes arcou com
responsabilidades alheias. Não contente dc lecionar na Escola e no
Colégio Pio-Americano, ele ainda adiava tempo, à noite, para ensi­
nar, gratuitamente, nu seu vastíssimo "atelier” da rua Pitarque de
Macedo, a numerosos estudantes, desenhistas, operários e aprendizes.
Os serviços que prestou na qualidade de cônsul da Espanha no
Rio de Janeiro, na ocasião em que era ministro o S r. José de Llave-
ria. ficaram consagrados como notáveis, tais foram a atividade, zelo
e abnegação com que se houve. No exercício dêsse Cargo, foi dedica­
díssimo aos espanhóis aqui residentes, dizimados, então, pela febre
amarela. A todos atendia, levava socorros materiais e espirituais e a
não poucos acompanhou à última morada. Isso êlc o fazia sem alar­
des e custeando as desjxrsas. E repatriava, do mesmo modo, famílias
e famílias de emigrantes, que, com as mortes dos chefes, tinham ficado
ao desamparo.
Por ocasião da epidemia da grijie que assolou <> Rio de Janeiro,
cm 1918. verificou que a população suburlwina morria à mingua de
alimentação e assim solicitou do então ministro da Guerra, general
Caetano de Faria, uma cozinha de campanha e alguns soldados. Com
esses bravos servidores, percorreu os subúrbios em tôdas as dire­
ções, día e noite, ao sol u à chuva, distribuindo alimentos e socorros.
Na falta de médicos, ele mesmo distribuía os remédios indicados para
o combate à epidemia, salvando, assim, inúmeras vidas dc pessoas
— 185 —

que jaziam abandonadas nas suas casas e nas habitações dos altos
morros e das longínquas estradas. E como era meticuloso em tudo,
organizou um detalhadissimo tombamento dos socorros prestados, tão
humilde quão devotadamente. Esse ê um documento que honra um
homem.
Afcrfre de Energia — Espiritu construtor, |>or excelência, sem­
pre disposto a animar, aconselhar e ajudar, jamais se deixou vencer
pelos desgostos c tristezas que a vida tão frcqitenre e implacavel­
mente proporciona. A s penas e dissabores não lhe entibiavam o espí­
rito forte; ao contrário, elas contribuíam para que lutassem com mais
deriodo. Pode-se dizer, sem exagero, que o seu estoicismo diante da
adversidade tinha muito de heróico; raiava mesmo à sublimidade.
Para a frente, dizia; c para a frente, sem recuo, sempre andou.
P or tudo isso, êlc foi, incontestàvelmente, um grande professor
de energia.
O Cavalheiro — Cavalheiro, na verdadeira acepção do termo,
recebia os amigos cm sua casa — valioso museu de arte — com a
fidalguia de sua gente. A sua mesa, fina e variada, sentaram-se as
figuras mais representativas da é|M>ca em que viveu.
Grande filósofo, compreendia a humanidade e era tolerante com
os erros e maldades alheias. O que não suportava era a ignorância.
Por isso classificava os homens em preparados e ignorantes.
Perdoava as perfidias e injustiças. Sómente se aborrecia um
pouco quando o atacavam pelas costas. Agia de viseira erguida e
respeitava o adversário que nobremente terçava armas. Quando o
amarguravam muito, extraia das páginas do Dom Quixote as pas­
sagens que melhor se aplicavam a cada caso. E . assim, acabava rindo
dos homens e das coisas. Outras vezes, era na Imitação de Cristo
que procurava lenitivo )>ara as tristezas da existência.
Católico Apostólico e Romano. por principios tradicionais de fa­
milia e jmr convicção própria, seguiu o exemplo do Senhor, não guar­
dando rancor e perdoando a todos que, voluntária ou involuntária­
mente, lhe tinham feito mal.
Honras r recompensas — Sua fertilíssima imaginação e a enorme
facilidad? de composição que possuía, contribuiram para qtie viesse a
conquistar, como arquiteto, numerosíssimas premiações: 3." prêmio no
concurso para a Creche de Sedan (F ra n ç a ); Medalha de bronze, na
Exposição de Belas Artes de Madrid (1881); 2." prêmio e execução
do projeto do Grande Cassino de San Sebastian (1882); 1? prêmio
no concurso, realizado em 1884. para os mercados centrais de Valencia;
Medalha de prata, na Exposição de Befas Artes de Madrid (1884) ;
Medalha de prata, concedida na Exposição de Horticultura de Ma-
— 186 —

drid; premiu único no concurso de projetas para o Banco de Espanha,


em Madrid (1884); 1." premio no concurso da Bolsa de Comércio de
Madrid (1884); 3." premio no concurso da Igreja do Bum Pastor,
em San Sebastian (1185): 1.” premio, em 1893, no concurso de pro­
jetos para o Saneamento da Cidade do Salvador ( Estado da Babia):
1." prêmio no concurso para os mercados da Capitania 11898); 1" prê­
mio pi lo estudo para a execução da ViaçãO Férrea do Estado da Bahia
(1895) : Grande Medalha de Ouro, no Salão Oficial de Helas Artes
do Rio de Janeiro, em (1906); 2.“ premio c três menções honrosas no
concurso de fachadas para a Avenida Central do Rio de Janeiro, boje
Avenida Rio Branco (1908); l.° prêmio no concurso de projetos para
o novo edificio do Conselho Municipal do Rio de Janeiro (1914);
1." premio pelo Portão Colonial da Exposição do Centenario da Inde­
pendencia do Brasil (1922): Grande Premio e Medalha de Ouro pelo
projeto e execução do Parque de Diversões da citada Exposição
Internacional (1922).
Diversas associações galardoaram seus incontestáveis merecimen­
tos. e assim foi: Membro Correspondente da Real Academia Espa­
nhola de História, da Société Française d’Arcbeologic (P aris), da
Société Academique d'Histoire Internationale, da Real Academia His­
pano-Americana de Ciências e Artes (C á d iz ); Presidente e Fundador
da Sociedade El Fomento de las Artes, de San Sebastian (Espanha),
para a instrução dos operários; Membro Honorário do Folclore
Fosco de Gitifotscoa e membro do juri de Belas Artes do mesmo:
membro da Sociedade de Higiene do Brasil e relator permanente da
Seção de Higiene Pública; Fundador e Membro Correspondente do
Instituto Histórico e Geográfico da Bahia; Membro Correspondente
dos Institutos Históricos dc Pernambuco e Alagoas; l.“ Secretário do
XX Congresso Internacional de Americanistas (Rio de Janeiro, 1922);
Membro do 1." Congresso de História do Brasil; Fundador e Presi­
dente do Centro de Arquitetos c Construtores; Fundador e President, ■
da Sociedade Central de Arquitetos, do Rio de Janeiro; Presidente
Honorário do Instituto C nt,ral de Arquitetos do Brasil; Presidente
da Delegação Brasileira do Comité Permanente de Congressos Pan-
Americanos de Arquitetos (M ontevidéu); Membro Honorário da As­
sociação de Arquitetos do Chile e da Sociedade Central de Arquitetos
de Buenos Aires; Membro Correspondente da Sociedade de Arquitetos
do U ruguai; Membro do Conselho Superior de Belas Artes do Brasil.
Pertenceu, ademais, á Associação de Aquarelislas, Centro Artístico,
Sociedade de Geografia, Associação dos Construtores Civis do Rio de
Janeiro, Casa de Cervantes. Câmara Espanhola de Comércio e In­
dústria <• Clube de Engenharia do Rio de Janeiro.
Possuia a Cruz de Mérito Militar da Espanha, pelos antes citados
serviços de guerra; o Oficialato da Ordem da Coróa da Itália: a in-
— 187 —

signia da Academia Espanhola de H istoria; e a Cruz de Benemérito


Italiano pelos trabalhos realizados na Exposição Universal de Paris
(1878).
A eidade do Rio de Janeiro prestou, pela generosa mão do pre­
feito Prado Júnior, homenagem à sua memória, dando o name de
Rua Morales de los Ríos a urna nova via pública, transversal à rua
Barão de Mesquita.
Os arquitetos argentinos, delegados ao IV Congresso Pan-Ameri­
cano de Arquitetas. realizado nesta Capital, em 1930, fizeram apôr ao
seu túmulo uma expressiva placa. <Is arquitetos brasileiros, com a
solidariedade de tõdas as delegações estrangeiras ao citado Congresso,
inauguraram na Quinta da Boa VisU. seu busto, obra do escultor bra­
sileiro Humberto Cozza E o notável engenheiro Dr. Govis d? Ma­
cedo Cortes, vice-presidente do Conselho Federal de Engenharia e
Arquitetura e Diretor do Departamento Nacional de Portos, Rios <
Canais, propôs cm 1946. ao citado Conselho, a institpição do prêmio
Morales de los Idos <Pai), a ser concedido ao melhor aluno de arqui­
tetura daquele ano, o que foi feito cm 1948, sendo galardoado o arqui­
teto Renato Righetto.
Brasileiros — O sentimento de brasilidade que o empolgava era
muito grande. E procurou transmitir esse arraigado sentimento aos
filhos,
Mas seu brasileirismo não impedia que esquecesse a Espanha.
P or isso, serviu-a dedicadamente: fê-la conhecida, apreciada e res­
peitada no Brasil. Para tanto, não vacilou — por ocasião da guerra
de Cuba — de descer da tribuna da imprensa para a praça pública,
onde organizou, acompanhado de fiéis amigos, contra-manifestações
àquelas outras, hostis ao pais de seus antepassados.
Descendência — De seu consórcio houve três filhos: aquele que
traça este resumo: Eugênia Morales de los Rios de Vieira, casada
com o Consul uruguaio D r. Elmatto Vieira, recentemente falecido em
Montevidéu: e Margarida Morales de los Rios de Magariús Pittaluga.
casada com D . Mateo Magarinos Pittaluga, funcionário da Câmara
de Representantes do Uruguai-
Foi irmão: de Soeur Assunción, do Sacré Conor; do Brigadeiro
do Exército Espanhol D. Javier Morales de los Rios, que foi coman­
dante da Escolta Real de Afonso X III, casado com D . Maria de Vil­
lana; do Tenente Coronel reformado do mesmo Exército D. José
Manuel Morales de los Ríos, residente durante longo tempo em Lisboa,
tendo sido um dos chefes da Casa Bancária Bnrnay. casado com Dona
Amelia Bumay: e de D. Teresa Morales de los R íos de Valderrama,
casada com D. Salvador Valderrama.
— 188 —

Deixou vivos, além tios irmãos, mais os seguintes parentes: Dom


Eduardo Morales de los Rios, chefe da Secção de Traduções do Minis­
tério das Relações Exteriores de Cuba; D. Gonçalo Güell y Morales
de los Rios, então secretário da Embaixada de Cuba em Washington e,
depois, Encarregado de Negócios no Rio de Janeiro e Sub-Secretário
de Estado; Conde de Morales de los Rios, notável historiador; Dom
Gonzalo Morales de Scpticn Rincón y Ramirez de Areliano, doutor cm
direito canónigo, catedrático de Retórica, Capelão e Ministro do T ri­
bunal Metropolitano das Ordens M ilitares; inúmeros outros parentes,
sobrinhos e netos, na Espanha. França. Portugal. Peru, Cuba, Uru­
guai e Brasil: uma nora, D. Maria Almeida Morales de los Rios;
e os três filhos.
O fim — Homem de coração, mas também de luta, esperou a
morte de pé. no momento em que partia, com 70 anos de idade, para
o trabalho quotidiano. E na tarde de 3 de setembro de 1928. rodeado
dos seus parentes, amigos c discípulos, entregou serenamente a alma
ao Criador. Seu enterro constituiu uma consagração definitiva. A
éle comjiareccram desde o representante do Presidente da República,
ministros de Estado, o prefeito, embaixadores, a sociedade, o mundo
intelectual <• artístico, a colônia espanhola, até o que foi mais cotnovc-
dor, uma multidão de seus antigos operários e de gente humilde da
cidade, principalmente dos subúrbios.
Mas se o seu corpo baixou à terra — no Campo Santo de São
João Batista — . seu espirito, suas obras e seu exemplo permaneceram
sempre vivos, (tara modelo das gerações futuras. A lembrança de sua
galharda figura sobreviveu ao ine-xorável passar do tempo e seu nome
é sempre relembrado traia a vez que se estuda, o Cavalheirismo, a
Cultura, a História a Arquitetura da Espanha e do Brasil.
TRANSCRIÇÕES

JOSÉ CARLOS DE MACEDO SOARES

O diplomata — O Brasil e a Liga das Nações — Ativi­


dades diplomáticas — Rumos da diplomacia brasileira
— O engenheiro da paz
A vocação diplomática c um privilégio de raras personalidades. N ão é uma
conquista de esforço, de paciencia c de boa vontade. É um presente do destino.
O verdadeiro diplomata não se plasma através de institutos e de academia*.
O aprimoramento cultural concorre tão súmente para iluminar-Thc a vocação,
pois, o que caracteriza o diplomata é o pleno desenvolvimento do “ senso diplo­
mático* ’ dote <¡¡nc nem todos os que exercem a diplomacia possuem.
Essa qualidade excepcional constitui itma da* notas características de José
C arlos de Macedo Soares.
Tôda a sua personalidade está impregnada desse "senso diplomático” , que
transparece na elegância do trato, na habilidade de conciliar antagonismos e. so­
bretudo. nu discernimento com que pesquisa as soluções pacíficas, moderadas <
satisfatórias. K a persuasão sem veemência, a concórdia setn mediocridade, a
pacificação sem humilhação e o entusiasmo su n sofismas.
Desse extraordinário senso diplomático c que deriva o equilíbrio espiritual
c a serenidade afetiva dc sua personalidade.
É um diplomata por ín d d e, e justam ente por isso ninguém melhor do que
êle está apto para as grandes tarefas da política internacional.
S eria mesmo para adm irar que, dotado de tão esplendidas qualidades, não
fôsse solicitado para os difíceis encargos de sua vocação.
Macedo Soares não p oderh fugir a essa contingência que não só a vida
pública lhe impunha c lhe impÓe como ainda encontrava em sua inclinação íntima
uma imposição insubjugâvel. E assim o tono.*, na prim eira linha de nossa
diplomacia, como que a completar, com o seu vulto, a galeria de Rio Branco,
Joaquim Nabuco, Rui Barbosa c Epitâcio Pessoa, nu passado, c de O távio
Mamgatíeira e Raul R em andes no presente.
Em José Carlos de Macedo Soares o senso diplomático apurou-se cm face
dc outros falô rts espirituais que convergiram concoinitantcmentc para aguçá-lo
ainda m ais.
Surge, cm primeiro lugar, u sentido hum ano dc seu catolicismo purificado,
sobretudo, na excelência da lição franciscana que, com tanto 3mor, adm ira e
exalta. Possui essa virtude cristã dc compreensão hum ana c dc mutuo enten­
dimento acima de ressentim entos nacionais já superados pela história e pelos
ideais dc pacificação universal.
— 190 —

Não é fácil livrar-se desse pêso jacobino que esmaga. militas vezes, es­
píritos de escol.
Concorre, além desse humanismo cristão, para o realce de sua vocação
diplomática, n ‘ crcnidade de historiador, revelada sobretudo no julgamento dos
conflitos, dos desentendimentos c dos atritos bélicos. Disso deu provas Macedo
Soaréè na publicação ‘'Falsos troféus de Ituzamgo” (1920).
P. tun elemento que não pode srr suliestimado na apreciação dessa faceta do
ilustre brasileiro. Sabe ver os fatos históricos com superioridade serena,
distante de desarrazoados excessos.
E anima o seu profundo senso diplomático, coroando-o, o espirito jurídico,
a força viva da juricidade, a presença constante do D ireito que define a sua
educação democrática c o seu amor à justiça c à equidade.
Macedo Soares cnquadra-sc no plano dos homens que acreditam no Direito
c na grandeza de sua inspiração humana c social.
Ewcs tres fntôrcs convergem na caracterização do diplomata que ama a paz
pela universalização cristã, que ama a verdade pela fidelidade à história c que
ama a justiça pelo amor ao D ireito.
Sob esses impulsos construtivos, a sua inclinação, naturalmente, tinha de
adquirir uma auréola singular.

O B R A S IL E A S O C IE D A D E D A S NAÇÕES

A sua primeira obra, de sentido diplomático, tinha de ser um exame do


que se tentava, no mundo, abalado pela primeira conflagração mundial, cm
favor da paz.
O edificio espiritual, com que Wilson .sonhara, era. sem dúvida, um marco
na história do entendimento internacional.
Embora houvesse erros c senões na sua elaboração, embora faltasse nela
a força jurídica fiara legislar para a Humanidade, embora contra ele surgissem
antagonismos in-tqierávcis, o órgão idealizado representava algo de significativo
para a civilização.
qne :i Sociedade das Nações figura no ¡xassado, não se jxxle negar o
que da contribuiu para a Immanizaçãc» dos atritos internacionais.
Nossas perspectivas são outras r talvez menos equitativas que as dos cons­
trutores da antiga Liga Pelo menos, oulrora, não persistia no conclave das
nações. a dc<irrazoada e injustificável hierarquia das grandes nações.
A verdade c que víamos na velha Sociedade da» Nações uma esperança
que. infelizmente, pereceu em novo mar de sangue. E, hoje, com a Orga­
nização das Nações Unidas nem sequer podemos sonhar com unia e<penutçn
fugidia. Há Intente, trágica, incoercivel, a suspeita de uma ruptura, a qualquer
momento, esperada.
Macedo Soares, na sua obra, estuda a posição do Brasil cm face da Socie­
dade das Nações. Aparecido cm 1927, esse documento, escrito com isenção,
logo foi traduzido em vários idiomas em circunstâncias lisonjeiras para o seu
autor, pois, teve sempre prefácios assinados por figuras expressivas do pensa­
mento europeu,
Uma carta prólogo do conde de Romanones recomenda a tradução espa­
nhola. A francesa teve cnmo arauto um membro ilustre da Academia Fran­
cesa. M . Gabriel HanoUuiwa. que fez o prefácio. E a inglesa vem acompa­
nhada dc uma " introduction” dc Lord Philimore.
Merecia, de futo, essa consagração, pois, esse trabalho constitui fonte
valiosa da nossa bibliografia diplomática.
— 191 —

Com ele, José C arlos de M acedo Scares firm o u a sua autoridade nesses
assuntos internacionais c cquipou-se intelectualm ente para tarefas objetivas, em
que o s.eu prestigio de pu blicista ia ser m obilizado para um a atuação mais intensa
a serviço da p a tria .
Patenteara a sua competência, grangeara renome internacional e firm a ra ,
inevitavelm ente, com a nacionalidade, c o m p ro m is o e s p iritu a l decisivo para o
encargo diplom ático.

A T I V ID A DES D l P L O M A T IC A S

A nação rc c ru tu u -o . M acedo Soares respondeu condignamente. S e rviu â


pá tria nos postos para onde fo i enviado.
Í-: urn m om ento de operosidade, no (pial se ap rim oram as sua* qualidades
c se aguça ainda m ais o seu senso dip lom ático .
O ric n ta -o um p ro fu n d o c pa trió tic o dinam ism o. E os encargos se sucedem,
oferecendo sempre fru to s fecundos para a nossa reputação internacional.
O B rasil, saído de um a revolução, necessitava, de seus representantes no
e x te rio r, uma ação eficie nte que despertasse a nosso respeito confiança e
p re stigio.
A In ira era propícia para a m obilização do eminente b ra s ile iro .
Nfacedo Soares não recusa a incum bência.
E m 1932 segue como C hefe da Delegação B ra s ile ira à C onferência do
D esarm amento.
Nesse mesmo ano, em Genebra, assume a chefia da Delegação do B ra s il à
X V I C onferência In tern ac ion al do T raba lho .
E tn seguida, é designado nosso representante no Bureau In tern acion al do
T ra b a lh o .
E, logo após recebe a credencial de em baixador cm missão especial ju n to
ao governo da Itá lia .
O ê x ito de suas atividades no estrangeiro envaidece a p á tria , que o re­
clam a para a ta re fa dc constituinte (1933-1934).
Const j acionai izado n país. José C arlos de Macedo Soares c convidado para
m in is tro da* Relações E x te rio re s .
£ u gra tule chanceler da nossa II R epública.
Coube à t-Ie no rte a r a nossa política inte rna cio na l, realçando-a perante as
nações v iriliz a d a s .
F oi, também, <• Chanceler da Dem ocracia, que, como constituinte, ajudara
a con s tru ir. E pôde comparecer, sem constrangim ento, à posse do segundo
m andato do inesquecível presidente Roosevelt, ivatfcr da democracia pan-ame­
rica na .
(Jijando m in istro, difíceis problemas teve de en frentar, mas a todos eles
deu solução acertada e jus ta .
P roje tou a smt competencia cm tw in continente, d irim in d o incomprccnsões
entre nações v iz iu li ts que, sob os seus auspícios, reto m a ram à paz desejada.
Todas essns atividades consagraram -no como um dos paladinos do pan-ame­
rica nism o.
Interrum pida a nossa vida constitucional, derrubada a es tru tu ra democrática
da nação. Macedo Soares. já afastado do M in is té rio das Relações E x te rio re s ,
passou a s e rv ir o B ra s il no âm b ito técnico do In s titu to B ra s ile iro de Geo­
g ra fia c E statística.
— 192 —

Em 1939 é fc ’to m em bro da Comissão B ra s ilic ra para :i C odificação do


D ire ito Internacional. A sua experiencia recomendava-o para cssa magna
ta r c i 1.
E iivm podia d e ix a r de fig u r a r nessa comissão quem jã dera mostras
íu fic ie tjtv r de vocação c genio pa ra esses m isteres e já gra ng ea ru a h o n rii de
ser eleito para a Academia In te rn a c io n a l de D ip lo m a ria .

R U M O S D A D I P L O M A C IA B R A S IL E IR A

Dez anti.- depois de te r publicado O H ra s il e u Sociedade das Nações, José


C arlos de Macedo Soares reune os sens discursos, nos quais, com o chanceler,
traçara os ritm o» d i diplom acia bra sile ira fix a n d o ideais, apontando tendências
c exp rim ind o aspirações sadias.
São lições nascidas espontáneamente da p ró pria atividade diplom ática, cm
contacto d ireto com os problemas concretos e objetivos. E, como tudo que
escreve Macedo Soares, a clareza acompanha a reflexão, cercando-a de limpidez
sem p re ju dic a r a perspectiva da pro fun did ad e.
N e w s rum os da diplom acia brasileira, tódas as suas qualidades espirituais
transparecem.
A ju r ic id id e enobrece o seu pensamento. 0 D ire ito está presente e o
sentim ento dem ocrático nunca o abandona.
Sempre que se to rn a proveitosa, a rememoração h is tó ric a é feita, com
eq uilíb rio e serenidade.
E , finalmente, liá um alvo m ais a lto e supremo, c ris tão po r excelência, ilu ­
m inando esses rum os que, com tanta argúcia e experiência, José C arlos de
Macedo Soares traço u.
F lo r da diplom acia brasileira, esta obra deverá ser semeada entre todos os
que aspiram s eg uir a form osa c a rre ira de R io Branco.
Macedo Soares do u trin a sem afetação, esclarece sem vaidade c expõe sem
a rtifíc io s reb arha tivos. A in d a a i o seu senso dip lom ático se faz sen tir, con-
v d e ttd o sem imposições. persuadindo sem a trito s e orientando sem obscuridade
Rumos de idéias, esses discursos guardam o c alo r de sua atividade de chan­
cele r do B ra s il da D em ocracia e da R epública. f i uma obra que honra a
pá tria e i d ig n ific a perante o m undo.
H á quem atrih u a â diplom acia intenções m aquiavélicas, chamando-a a rte de
in trig a s secretas, arte de enganar s o rrin d o ou de s o r r ir enganando c ta n n s
ou tras friu lc ira s .
Esta pode ser a falsa diplom acia, talvez a mais com um porque as coisas
falsas tem la rg a saída.
A verdadeira, porém , não se guia po r esses processos. Esta últim a , fiara
e x is tir solicita ideais, reclama pensamento e exige elevação.
José C arlos de Macedo Soares só conhece este cam inho de decência, de
firm eza e de sincera convicção na fo rç a c ria do ra dos ideais. E é bem, pela
segurança de suas atitudes, o m odel", o paradigm a dtz diplom ata désse a lto te o r.

O E N G E N H E IR O D A PAZ

Para ele. a diplom acia nada m ais v do que a engenharia da Paz.


Não é ta re fa amena num mundo povoado de incomprccnsões, de c o n flito s
e de asperezas .viciais.
N ão c fá c il e x tin g u ir ódios: desfazer ressentim entos e elim in a r revanches
e vinganças.
— 193 —

Rcm difícil é rçcònstririr •• mundo cm novas ba«e«, inais justas c mai*


hum anas.
Para c-^a reconstrução ¿ de m ister a mobilização de engenheiro» da Paz.
Onde retifa êâ$çs beneméritos da Humanidade?
Um no B rasil podemos, <cm vâcifaçâo, apontar: Jv*é C arlos de Macedo
Snares.
Nenhum outro pode llw disputar epíteto >ngcittvo de ” engenheiro
da P a z ” .
é a definição de scu espirito, a afirm ação ilc SCU caráter c, nçima de tudo,
a glória de sua personalidade.

(E xecrpto di um cotudo biográfico).

JO A Q U IM R IB E IR O .
O INSTITUTO HISTÓRICO E O
CONGRESSO NACIONAL
MOZART M Q XTE1RO (•)

D u ra n te , ritáis dc-’ jjcz arios dc n m i zade Calópvras. n n palestra couósco, a


propositó dos c itud os históricos a que se cut regava , fez, p o r vvzes, estas obser­
vações: l. ° Os homens públicos do B rasil, em sua quase totalidade, não sabem
suficientem ente a nossa H is tó r ia : 2 6 Para que alguém se dedique neste pais
no trab alh o h is tó ric o , pesquisando cm arq uivos bibliotecas c museus, isto é.
procurando a verdade cw n seus p ró prios «dhos, precisa ler situação que lhe
perm ita d e s lo a r o m elhor <1«» seu tempo :i essa atividade inte lectu al.
E ra com autoridade que Çalógcra*» m •• fazia tais considerações. Sendo um
dos mais ilm -trcs estadistas da República, podia fu la r d i incapacidade, um tanto
generalizada, dos nossos homens de g o v e rn o ; c sendo um d"» mais ah,alisados
historiadores nacionais, habituado a |>e¡ietrar os segn-dos das nossas fontes
históricas, sabia qtin ntn custa no B ra s il ou mesmo no utro pais, onde ;u
referirlas fontes sejam mais acc-sívcis ser alguém, ainda que modestamente,
m u trabalhador da H is tó ria . N áu basta que um pro le tá rio «la reconstrução do
passado humano disponlm das qtnlidades de in ie lig e n c h . c u ltu ra e caráter
necessárias á sua ta re fa ; c m ister que também dis|mnha de m u ito tem po.
Talvez não ha/u Iraalhador, seja n rm na l, seja inte lectu al, para quem u tempo
passe mais depress.'*: até porque nãr» <• contam as horas nem os dias que êie
perde, cm investigações in fru tífe ra s . (» iai^cadur que c a t» ouro, o ga rim p e iro
que busca diamantes, o pv^juisa do r que arris c a sondagens procurando petróleo
no seio da te rra, são às vêxcs mais felizes cm achar u que desejam, do que o
h is to ria d o r que investiga n verdade, nas fontes puras.

Capistrano de Abreu, mestre dv Calógcras. para le r tempo de sc fazer, como


se fez, um das m aiores conhecedores da nossa H is tó ria , viveu muitos anos
entregue aos seus estudos; e tã<> descuidado dc outras atividade-,, c tão pobre,
que. p o r ocasião dc sun m orte. escrevemos vm “ ( l J o rn a l'’ , do R io, um a rtig o ,
com éste titu lo : l ’m fra d e n teiidia tnlc dc xabcdaiúi • a rtig o catalogado na
bib lio g ra fia de Cap tira n o , c d il.u h pelo In s titu to N acio na l do L iv r o .
V n rn h a g "'. ” o pai da Jio.vsa H is tó r ia ” . c O liv e ira L im a. «• his to ria d o r de
D um João* V L m ergulharam nu> a rq u iv o , d ip k-n iálicu, e realizaram obrçt c * .
tensa c profunda na his to rio g ra fia brasileira, porque, diplom atas dc profissão,
tiv era m tempo r facilidade» para isso,

(♦) C atedrático do In s titu iu dc Educação du D is trito Federal I.


— 195 —

Tubian M o n te iro , yó depois de a d q u irir fo rtu n a c v iv e r de rendim entos, é


que se c ttn w gruu de corpo c alma a estudar o Im perio, escrevendo a respeftó
unía H is to ria m onum ental, que talvez, infe lizm e nte , não possa te rm ina r.
Sc íó s-c necessário, m ostra riam os, sem sombra de paradoxo, ¿orno o tempo
c o din he iro se relacionam , curiosamente, com o trab alh o histó rico . Roberto
Simonsen, homem de grande? negócios, m u ito ocupado c m ilito ric o , para
escrever a sua “ H is tó ria económica do B ra s il’ ’, necessitou de a u xilia re s.
Criógenas, consagrando boa parte do sen tempo a pesquisas históricas, levadas
a e fe ito achí aju da de ninguém , — depois de haver sido deputado r m in is tro
da A g ric u ltu ra . da Fazenda c da (¡tie rra , era pobre ; ta n to assim que. cm 1925,
A ssis C hateaubriand. per interm édio deste artic u lis ta , lhe mandou um presente
num envelope, por Im vcr o preclaro h isto ria do r, com a nossa cooperação, o rg a n i­
zado a m a g n ifie r edição especial de “ O J o rn a l", cum cm unttivn da centenário
de Dom Piadr»» l i , - edição vtn que. a convite de Calógeras e de quem escreve
esta coluna colaboraram os maiores historiadores e h is to rió gra fos do país. F o i
depois infe icha do cm volume pelo In s titu to H is tó ric o .
Para poder escrever a sua “ H is tó ria do B r a iil’*, aliás com m uita com pila­
ção c pouca pesquisa, levou R ocín Pombo m u ito tempo. — tenqx» que, para
¿de. que era pobre, representava d in he iro . E fo i assim considerando, que um
g ru p o de amigos c adm iradores sc quntizou para o fim de lhe oferecer uma
casa modesta nos subúrbios.

Estas considerações, vem. aqui, a p ro pó sito do In s titu to H is tó ric o , c do


d in h e iro de que ele precisa.
N o anu passadi^, aparccqu na Câm ara tmt p ro je to de lei. que tomou o n." 357,
autorizando •> Poder E xe cutivo a a b r ir ao M in is té rio da Justiça o cred ito espe­
cial de C r$ 1.000.00(1.(Xl (um m ilhão dc c ru z e iro s ): metade desta im portância
destinada ao In s titu to H is tó ric o c G e og rá fico B rasile iro, para restauração c
conservação do seu a rq u iv o e bib lio te c a; e a o u tra metade para custeio dc
publicações c para rcapnrvlhamento das ofic in a s d<» A rq u iv o N acional. N o a r ­
tig o 2.", mandava o p ro je to aumentar para C r$ 300.000,011 (trezentos tm l c ru ­
zeiros) a subvenção anuid do In s titu to , que e. agora, de du re .to? m il
Q u e r no que diz respeito ao In s titu to H is tó ric o , quer nu que tange ao
A rq u iv o N acional, essas providências eram justas. Q uanto à associação presi
dida pelo E m baixador José C arlos de M acedo Soares. publicamos recent emente
nesta colim a longo trabalho sob a ep íg ra fe “ O que é • > In s titu to H is tó ric o ” :
quem quer que o tenha lido ficou saliendo, sc ainda o não soube-se. o que
representa, para a c u ltu ra nacional, aquela agremiação, que há 109 anus con­
secutivos. guarda c defende, como nenhuma nutra as mais altas e nobres tr a ­
dições brasileiras. ( D o .Arquivo, falarem os ofio rtun am cntc.)
O aludido p ro je to com facilidade, tran sitou na Câm ara, c seguiu fiara ••
Senado. Sua marcha no Senado não fo i, porém , tân suave. A Comissão dc
C onstituiçã o e Justiça nada teve a opc'ir; a de Educação c C u ltu ra , c u jo re lator
fu i n S r. E vandro V isn a. opinou favoravelm ente, declarando que >> aument»*
d r subvenção para o In s titu to H is tó ric o “ c o n stitu i ato dc in te ira ju s tiç a ” ; ma.*,
po passo que assim se pronunciavam as duas refe rid as comis-ões. a dc Finança?,
subscrevia o parecer do seu re la to r, S r . V ito rin o F re ire . O representante do
M aranhão, alegando a “ situação d ifíc il em que sc encontra o T esouro N a ­
c io n a l". propôs que se reduzisse, de 1.000 para 400 contos de réis, o c réd ito a
que se refe re o a r t. l. ° do p ro je to ; e também sugeriu que se suprim isse <•
a r t. 2.". visto <pH- o In s titu to H is tó ric o , na linguagem do ilu s tre relator, “ já
— 196 —

está ainfHü'íido com a subvenção de Cr$ 2lM).(KX).0O, nu O rçam ento da União”


O S r . V itorino Freire não eslava. tnlvex, bem inform ado acerca do que re ­
presenta o Instituí» H istórico na evolução cultural do Brasil, nem sobre o que
é o Arquivo Nacional cómo fonte, copiosa c viva, da H islór;a-pátria.
Indo o projeto •» plenário, cm discussão única, o Senado, num gesto que o
recomenda ios circulo, intelectuais d<i país, dcrrihtm o parecer da Comissão
d r F inanças isto v. o parecer elaborado pel»» distinto representante maranhense
Assim agiu plenário utrndvndo. prmcipidmcntc. às considerações expendíais
da tribuna pele» S rs. lvo de Aquino, líder da maioria, r Aloisio de Carvalho,
representante Itaiano da União l.trinocrâticn Nacional. A propósito, lembrou, cm
aparte, o S r. Aloísiw de ta rv a lh o que. naquele mesmo dia. naquela mesma
sessão cm que e-iava falindo, o Senado aprovara o projeto que autoriza
Presidente tía República a doar â U niversidade dc São Paulo a biblioteca do
S r. Silvio Portugal, recànicmcntc adquirida pela União, ao preço dc C»$
2.000.1)00.00 (dois milhues de cruzeiros). Enquanto a Comissão de Finanças
emitia parecer favorável a essa doação — que aliás, no entender do Sr. Aloisio
de Carvalho, podia ter sido frita à Biblioteca Nacional. — negava ao Instituto
Histórico um simples aumento dc cem contos dc rei-
Os S rs. Fernandes Tâvora <• Ribeiro Gonçalves. da m inoria. também Pila­
ram a favor «Io projeto; mas o líder dessa toncada, S r . F erreira «Ir Sousa, não
teve no debate a intervenção que seria de esperar d i sua inteligência e da
■ma cultura.
Enfim, o Senado aprovou o crédito de um milhão dc cruzeiros, destinado
ao Instituto H istórico c ao \r«|uiv<> Nacional. E ntretanto, embora reconhecen­
do, como declarou o liilcr <ln maioria, a necessidade de ser aum entada a sub­
venção anual d«> Instituto, foi forçado a votar contra éste aumento, no projet-.
em lide. |x»r não ser assunto dc |ci especial, ma* sim da lei orçam eatárín.
E ra uma questão dc to n to . de técnica legislativa, c nada mais. Em última
análise, o Senado cumpriu o seu dever.
Resta agora à Câmara, cuja atitude para com o Instituto H istórico é tam ­
bém digna dc elogio, incluir no Orçam ento de 1950 n verba dc U r$ JOil.tMH) (Mi
«•orno subvenção anual áqiicl i gloriosa instituição, que ha mais dc um século
honra »» Brasil — c da qual o Brasil intelectual já não pode prescindir.
Concedendo ao Instituto H istórico « Geográfico B rasileiro a subvenção de
que cli p re c ia , prestará o Congresso Nacional um bom serviço a»» pais.
PUBLICAÇÕES

LIVROS RECEBIDOS
Abril de 1949
EL AMOR PERFECTO — Ramon S. Varona — Editorial Soleta —
Iji Habana. 1948.
- SUBSIDIOS ESPARSOS PARA A HISTÓRIA DA FARMACIA
CARIOCA Carlos da Silva Xraúpi — Oficina Gráfica Editora A Núitc —
Rio de Janeiro. 194'».
— FOLKLORE DE LA REPUBLICA DOMINICANA - Toinw I e II
— Manuel Andrade — Editora Montalvo — Ciudad Trnjillo, 1948.
LA PROYECCION (¡NOMONICA SOBRE EL HORIZONTE DE
CU DAD DE TRUJILLO — Rámon M. Otzct — Cosmopolita — Ciudad
Trujillo. 1946.
— TRUJILLO — Abrlnrdo R. Nanita Editorial El Diari< — San­
tiago, 1946.
— LA GENESIS DE LA CONVENCIÓN DOMINICO-AMERICANA
— M. de 1. Trono so de la Concita Edit. El Diario — Santiago. 1946.
— SEGUNDA ( XMPAÑA DE SANTO DOMINGO — J. B. Lrnmnicr
Delafossc — Edit. El Diario Santiago. 1946.
- LA ISLA ILLUMINADA - .1 A. O ^rin Lizaram — Edit El
Diario Santiago. 1946.
— El. TREFE — German Soriano — Imprensa Dominicana Ciudad
Trnjillo.
— DOCTRINA CRISTIANA PARA INSTRUCCION Y INFOR­
MACION DE LOS INDIOS POE MAÑERO HISTORIA Fray Pedro
de Córdoba Edit. Montalvo — Trujillo. 194S.
— CAPACIDAD DE LA REPUBLIC X DOMINICANA PARA AB­
SORBER REFUGIADOS Editora Montalvo — Ciudad 'Trujillo. 1946.
BIBLIOGRAFIA DE LA BIBLIOGRAFIA DOMINICANA Luis
Floren Lozano — Roque* Reinan — C A. Trnjillo. 1948.
O DIREITO PENAL MILITAR Dr. Mário T. Gomes Carneiro
— Impr. Militar - Rio de Janeiro. 1949.
— LA BIBLIOTECA ERASMITA DE DIEGO MENDEZ José
Almninc Edit. Montalvo - Trujillo. 1945.
EL REGIMEN DE LA TIRF.FA EN IX AMERICA ESPAÑOLA
DURANTE EL PERIODO COLONIAL - l..>é M. Ot> Caplcqui Edit.
Mm.talvu - Trnjillo. 1946.

Maio de 1949
- LIMITES E DEMARCAÇÕES NA \ MAZA NT A BRASILEIRA —
Dr. Artur Cc*ar Reis — Impr. Nacional — Rio de Janeiro, 1948.
— 198 —

— V IS C O N D E DE M A U A A U T O B IO G R A F IA - Prelado do D r.
Cláudio Ganns — Zélio Valverde — Rio de Janeiro. 1943.
— L U Z A M E R IC A — P rof. D r. Taciano A . Mqntciro - Irmão? Pongctti
— Rio de Janeiro. 1947.
A T E R R A DA VERA CRUZ N A ERA DE Q U IN H E N T O S —
Eduardo Di.» — Ofie. G rid. Lisboa. 1949.
— H IS T O R IA D E L B R A S IL — Lafayette Pereira Guimarães — Im pr.
Barrie — Mcxicc-D. F. 1946.
- BELÉM - ASPECTOS GEO-SOU IA IS DO M U N IC ÍP IO — 1."
V ol. - Ernesto Crux — José Olimpio Edit. Rio <le Janeiro 1945.
M O N U M E N T O S DE BELÉM - L* vol. — Ernesto Cruz — José
Olimpio Edit. — Rio de Janeiro — 1945.
ESCRITOS — tomo II — Andres [«amas — Im pr. L I. G. U. —
Montevidéu — 1943.
- LA A N T A R T IC A C H IL E N A - Osenr Pinochet de la Barra — Edit,
del Pacifico — Santiago de Chile — 1948.
- T R A B A LH O S FU N E B R E S NA ROÇA — José Nascimento de A l­
meida Prado — Departamento de Cultura — Sao Paulo — 1947.
SEA BRA — A lobio de Carvalho Filho — Balda — 1944.
- R EVO LU Ç ÃO E T R A D IÇ Ã O — Aloísív de Carvalho Filho - Impr.
Regina — Bahia — 1944.
— DISCURSO X P R E S C II.IA N O S IL V A — Estab. Dois Mundos —
Bahia — 1941.
— PRO B LE M A S B R A S ILE IR O S DE A N T R O P O LO G IA - Gilberto
Freire — Departamento Cultural — Rio de Janeiro — 1943.
- O C IN Q U E N T E N Á R IO DF. BELO H O R IZ O N T E (Conferência em
12-12-1947) — Nelson de Senna — lm pr. Oficial do Estado — Belo H o ri­
zonte — 1948.
— C A N C IO N E IR O DA B A H IA — Dorival Caymmi — L iv r. Martins
E d il. - São Paulo — 1947.
— IN G LESES N O B R A S IL Gilberto Freyre — L iv r. E dit. José
Olimpio — Rio de Janeiro — 1948.
— F.UCLIDES DA C U N H A Sílvio Rabelo — L iv r. E dit. Ca<a do
Estudante — Rio de Janeiro — 1948.
— PO ESIAS C O M P LE T A S - Manuel Bandeira — I.iv r. E dit. Caw
do Estudante — Rio de Janeiro — 1948.
— H IS T Ó R IA M É D IA DE M IN A S G E R A IS — Diogo L. A . P. de
Vasconcelos — lm pr. Nacional — Rio de Janeiro 1948.
— H IS T Ó R IA A N T IG A D A S M IN A S G E R A IS L* e 2.* volumes
— Diego L. A . P. de Vasconcelos — Imprensa Nacional — Rio de Ja.
nciro — 1948.
- M E M Ó R IA S H IS TÓ R IC A S DO R IO DE JA N E IR O - 7.’ . 8 " c 9."
volumes — JfTsê de S. Azevedo Pizarro c A raújo — Imprensa Nacional —*
Rio de Janeiro. 1948.
— Q U IM IC A O R G AN IC A A L IF A T IC A - Tomos I c II — Mário
Saraiva — Edit. A gir — Rio de Janeiro — 1948.
— PRELEÇÓES DF. T E C N O LO G IA O R G A N IC A - Otto Rothe —
E dit. A gir — Rio de Janeiro — 1948.
— S A N E A M E N T O U R B A N O E R U R A L - V ictor M . Ehlers. C. E .
— Inipr. Nacional — Rio de Janeiro - 1048.
P R A T IC A S A N IT A R IA E R U R A L — H arry S. Mustard — Impr.
Nacioiiiil — Rio de Janeiro — 1947.
— 199 —

— POESIAS ESCOLHIDAS — Castro Alves — Impr. Nacional — Riu


de laneiro — 1947.
- VISITA A TERRA NATAL - DISCURSOS PARLAMENTARES
— Tomo I — vol. XX, 1893 -- Rui Barbosa -- Impr. Nacional — Rio de
Janeiro — l ‘*48.
- AS CESSÕES DE CLIENTELA - Tomo I - Vol. XL - 1913 —
Rui Barlxisa — Impr. Nacional - Rio de Janeiro — 1948.
TRABALHOS JURIDICOS — Tomo IV — Vol. XXV — 1898 —
Rui Barlxisa — Rio de Janeiro — 1948.
QUEDA DO IM PÉRIO - Tornos IV r V — vol. XVI. 1889 - Rui
Barbosa — Rio de Janeiro — |948.
— OLINDA — Gilberto Freyre — José Olimpio — Rio de Janeiro. 1944.
— ESTUDOS DE ECOLOGIA HUMANA - Tomo 1 - Donald
Pierson. Ph. I) — Live. Martins Edit. — San Paulo — 1948.
- GAÚCHOS E BEDUINOS - Manoelito de Omcllns - Livr. José
Olímpio — R'.<> de Janeiro — 1948.
— ARRUAR — MAriy Sate — Livr. José Olimpio — Rio de Janeiro
— 1948.
— HISTÓRIA UNIVERSAL — Tomos: I. II e HI — Valent im Veit
— Livr. Martins Edit. — São Paulo — 1947.
— SOCIOLOGIA DA VIDA RURAL — T . Lynn Smith — Livr. Edit.
Casa du E'tiuiantc — Rin <Je Janeiro - 1946.
DOCUMENTÁRIO ARQUITETÔNICO - Fascículos: III, IV. V,
VI. V il c VIII — José Wnsth Rodrigues — luvr. Martins Edit. — São
p a u |o — 1945.
— FRANS POST - 1612-1680 — Tip. Mercantil Rio de Janeiro.
— A POESIA BATEU A MINHA PORTA — Thea Sgnki — SIo
Paulo 1948.
— COMPENDIO Y DESCR1C1ON DE LAS INDIAS OCIDENTALES
— Antonio Vasques <lc Espinosa — Smithsonian Institution — Washing­
ton _ 1948.
— TERRITÓRIO DO AMAPA (Perfil Histórico) — Artur Cesar
Ferreira Reis — Imprensa Nacional — Rib de Janeiro — 1949.
- FREI GABRIEL TELLEZ - (TIRSO DE MOLINA) - Confe­
rência pronunciada pelo Sr. Embaixador Macedo Suares — Academia Brasi­
leira de Letras — Rio de Janeiro — 2-12-1948.
- PARECERES DO CONSULTOR GERAL DA REPÚBLICA —
vol. I (12-1947 a 4-1948) — Professor Haroldo Valladño — A. Codito Branco
Filho — Rio de Janeiro — 1.949.

Junho de 1949

- QUEDA DO IMPÉRIO (DIARIO DE NOTICIAS) — vol. XVI,


tomo Vi. 1889 — Obras completas de Ruy Barbosa — Imprensa Nacional —
Rio ilc Janeiro — 1948.
- HISTÓRIA LITERARIA DO CEARA - L" tomo Márirz Lidiare*
— Jornal do Comercio — Rio de Janeiro — 1948.
- BIBLIOGRAFIA DEL PADRE BARTOLOMÉ DE LAS CASAS
— Berta Becerra de León — Ucar García S. A. — La Habana — 1949.
- O GOVÉRNO MUNICIPAL NO BR \S IL — Océlio de Medeiros
— I. B. G. E. — Rio de Janeiro — s_d.
— 200 —

R O SSIG N O L Armand God«n — Un«ver>clle de Tari* — Paris 1949.


IL L U S T R A T IO N - Nove turn..» de 1914 a 1918 — O ferta du Ge­
neral \ Di Priniio - 13 Rue Saint Georges Paris.
- H IS T O R IA DA CO LO N IZA ÇA O P O R T U G U E SA DO B R A SIL —
O lm a du General A Di Priniio — 13 Rue Saint Georges - Paris.
- D O IS \ N ( ) S D E G O V E R N O : PO L IT IC A F. \D M IN IST R A Ç A O
— Otávio Maiigalxúra — Im prensi Oficial da Bahia — Bahia — 1949.
- M E M Ó R IA S DE UM M A SC A T E Tatius J««mc Bastan! — E.
Briguict & Cia. — Rio de Janeiro — 1949.
- E N S A IO S D E H IS T Ó R IA E < RITIC.X — A . G. de A raújo Jorge
— Instituto Rio Branco Ri.i de Janeiro. 1948.
— N O B II.IA R Q U IA B R A SIL E IR A — Coronel Laurenio Lage — S
G M. G Rio de Janeiro. 1949.
- U N IV E R S ID A D E DE C U L T U R A T R A D IC IO N A L IS T A — Dr
A rtu r de Vasconcelos — São Paulo. 1948.
- o C E N T E N Á R IO DO N A SC IM E N T O D O G E N E R A L M AR­
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— R evista M ilita r B ras ile ira — julh o-dcze nth m de 1948, v o l. X L V I I I ,
ano X X X I V . ns. 3 c 4 . R io de J aneiro.
— The U nited Stales Q n ate rly Book List v o l. 5, n.“ I. m arch 1949.
Anual Report ot the American H is to ric a l \ssocintion, 1945. v o l. IT .
W a shin gto n,
— Guia de Peço» de Cnidas — Edição de 1948, nA 1. ano T. M inas Gerais.
— Catálogo — Book forecast, nA 8, 15 de m ain de 1949. H olanda.
- Casa «le la C ultu ra Equatoriana — tonto ITT, agósto.dieiem brc de 1948,
nA 7 . — Q u ito .
— Letras del E quador — fe brero de 1949, n.“ 42. ano I V . Q u ito.
— Rcndiconto del I’Accademia «Idle Scicnzc F isich c c M atcm atiche —
sene IV . v ol. X I V (a n n i I . X X X V - L X X X V I ) c serie I V . v o l. X I I ! (A n u í
L X X X IV ) ottohre, 1942. diciembre 1945 e outrogennaio 1946, diciembre
de 1947. N a p o li.
Boletim da Superintendencia dos Serviços do C afé — Dezembro de
1948 e ja n e iro de 1949. ns 262 e 263. ano X X I I I . São P aulo.
— 207 —

— Boletín de la Sociedad Mexicana cie Geografia y E stadística — Indice


General que comprclwndc desde el tomo y hasta el tomo L X 1II, 11139-1947.
Julio-Diciembre de 1947, torno LX 1V , ns. 1 c 3. M éxico. D . F .
— Boletín Indigenista — marzo, 1949, u.“ 1, vol. IX . México, I ) . F .
— Banco d>» Brasil S . A . — 1808-1949 (R elatórios apresentado» à Assem­
bléia Geral do s Acionista» na Sessão O rdinária de 29 c 30 de abril de 1949).
— Rio de Janeiro.
— Educación — Febrero-m arzo de 1949 n." 58, año X . Caraca».
- Boletín de la Sociedad Mexicana de G eografía y Estadística — Julio-
octubre de 1948. ns. 1 c 2, turno L X \T — México, D . F .
— Boletín Bibliográfico de Antropologia Americana — ro l. 11, 1948. —
México.
— Vozes de Petrópolis — tnarço-abril de 19-49, vol. 7, fase. 2. Petrópolis.
— Nação Brasileira — março de 1949, n.“ 307, anu X X V I1. Rio de Janeiro.
— Agronomia — « itu b ro <• dezembro de 1948, vol, V II, m" 4. ano V H .
— Rio de Janeiro.
— Intercâm bio — Juncirc-niarço de 1949, V IL" ano. — R io de Janeiro.
— Ocidente — n." 133. vol. X X X V I, maio dr 1949. Lisboa.
— T he Library oí Congrí**-» Q uarterly Journal of current acquisitions —
februnry 1.949, n." 2. vol. tj. — W ashington.
— Boletim Geográfico • - março de 1949, n." 72, ano VI — R io de
Janeiro.
— Guia quincenal de la actividad intelectual y artística argentina — año
TIL n.M 43 e 44. 1.* quincena de mayo e 2 / de junho de 1949. - Buenos A ires.
— Revista do Instituto H istórico c G eográfico de Sao Paulo — volume
X L IV, L* parte, 1948. — São Paulo.
— Boletim do Clube Naval — 3.” trim estre de 1947, n." 111, uno X X V II
— Rio de Janeiro.
— Estatística Agrícola - 1941. O ln n ia de Moçambique.
Anais da Organização dns Estados Americanos — vol. 1. n." 1, 1949.
— W ashington.
— Americas — Junho.JuIhn de 1949. vol. I. n ? 4. R io de Janeiro.
— Correio de Vltcrlandia — 19 de junho de 1949, n." 2.676, ano X I. —
Minas Gerais.
— Lea — n,’ 3, de maio de 1949, Union Panam ericana. Wabhingtun.
— Boletim Bibliográfico — n." 12, 1949. — São Paulo.
— Anuário Estatístico d«- Brasil — n " IX. 1948. — Rio de Janeiro.
— Resoluções da Junta Executiva Central do Consclln» Naciimal de E sta ­
tística no ano de 1948. tts. 305 a 321, vol. X I I . Rio de Janeiro.
— Congresso de Prefeitos rio Triángulo Mineiro — Rio de Janeiro.
— A Prolific idade da mulher segundo a idade inicia! da atividade « p r o ­
d utora no Brasi, Estatística Demográfica, n." 6. Rio de Janeiro. ( I . B . G . E . ) .
NOTICIÁRIO

Realizmi-sv na última quinzena de abril de 20 a 28 na sede do


Instituto Histórico o IV Congresso de Historia Nacional, comemo­
rativo do 4.° Centenario da Fundação da Cidade do Salvador.
A iniciativa desse importante certame coube ao historiador Pe­
dro Calmou. na «assembléia geral de 13-5-47. Adotando-a o Instituto,
constituiu uma "comissão dr organização" sob a chefia do ministro
A. Tavares de Lyra, presidente; Dr. Alfredo Valladão. l.° vice­
presidente; Dr. Pedro Calmou. 2.° vice-presidente; Dr. Wandcrlcy
Pinh<», 3.° vice-presidente; Dr. Virgilio Correa, secretário geral;
Dr. Leão Teixeira, 1." secretário; D r. Feijó Bittencourt. 2." secre­
tário; r Dr. Affonso Costa. 3.° secretário; e mais os Srs. Rodolfo
(¡areia. Affonso de Tannay. Braz do Amaral, (arlo s Canteiro. Ra-
fller de Aquino. Arthur C. F. Reis e J . P. Leite Cordeiro, mem­
bros .
( > "regimento” do Congresso. dal Mirado |x»r essa comissão, foi
publicado nesta Kevisia (vol. 197 — Outubro-Dezemhn» 1947 pá­
ginas. 212-216). Por élc se vê que o Congresso se comporia de 8
seções, pelas quais se dividiríam as teses respectivas limitadas ao
período de 1500 a 1763.
Antes dr inaugurar-se o Congresso, em substituição do Dr. Braz
do Amaral, já então falecido. entrou para a comissão organizadora
o Dr. Cláudio («anus. Criou-se ainda mais uma comissão (9.“ i des­
tinada às teses avulsas. A presidencia c composição dessas comissõe*
foi distribuída pela seguinte forma.
1." Comissão: História Geral. Presidente. Dr. Afonso de lí.
Tannay; Membros, professor Ernesto de Sousa Campos. D r. Abrindo
Sodrv. Dr. Rodrigo Otávio Filho v professor Eduardo Dias.
2. “ Comissão: Geografia Histórica e Cartografia. Presidente,
Dr. Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho; Membros. Dr. M Dié-
gues Júnior, desembargador F.lízahelo Barbosa Carvalho, professor
Ernani Cidade c major de Paranhos .Antunes.
3. " Comissão: Etnografía. Presidente. Dr. \rtu r Reis: Mem­
bros, Dr. Mário Melo, professor Munhoz da Rocha Neto, professor
Adauto Cámara r Comandante Lucas Boiteux.
— 209 —

4.“ Comissão: História Econômica e Social. Presidente, profes­


sor Leopoldo Antônio Feijó Bittencourt; Membros, ministro João
Martins de Carvallm Mutirão, almirante Alvaro de Vasconcelos,
deputado l.uis Viana Filho e professora Luisa da Fonseca.
5? Comissão: História Militar <• Diplomática, Presidente, co­
mandante Carlos da Silveira Carneiro; Membros, ministro Joaquim
de Sousa Leão Filho, ministro Argcu Guimarães. comandante Thiers
Fleming e general Estêvão Leitão de Carvalho.
6.a Comissão: Religião, ('¡¿arias. Letras <• .dries. Presidente.
Dr. José Pedro l.eite Cordeiro; Membros, padre Serafim Leite
S. J .. D r. Rodrigo Melo Franco de Andrade, frei Basilio Rower
e professor Luis Silveira.
7 “ Comissão; Instituições Políticas e Jurídicas. Evolução tias
cidades. Presidente, ministro Alfredo Valadão; Membro.-, desem­
bargadores Florencio de Alirett, Vieira Ferreira. Jítlião R. Macedo
Soares e deputado Attreliann Leite.
X.“ Comissão; Itio-biblimjrajia. Presidente. Afonso Costa: Mem­
bros. professor Ilaroldo Valadão. desemlrargador Cristino Castelo
Branco. Dr. laíayelle Pereira Guimarães e professor Alberto Iria.
9." Comissão: Contribuições avulsas. Presidente. D r. Cláudio
Gamis: Membros, desemlnrgndor Júlio César de Faria, coronel João
Batista Magalhães, D r. Herbert Ciinaharrn Reichardt e Dr. Luis
Felipe Vieira Souto.
Ao Coitgre-so compareceu uma ilustre delegação portuguesa sob
a chefia de Julio Damas e compista dos Srs. padre Serafim l.eite.
Dr. Damián Peres, professor Emani Cidade. Sras. Berta l.eite.
Maria Isabel de Albuquerque. Luiza Fonseca. Dr. Abierto Ria e
Eduardo Dias. Também várias instituições culturais do Rio e dos
Estado- se fizeram especialmente representar. <> número de adesõe-
atingiu a cérea de 400 Congressistas e o numero das teses: 134.
Com uma sessão preparatória a 20 de abril e a sessão inaugural
a 21 o Congresso realizou tres sessões plenárias (25. 26 e 27 de
abril t e a de encerramento, em 2S de abril — tendo falado na sessão
s llene de abertura, em nome do Instituto, o seu presidente, embai­
xador J . C. de Macedo Soares, e. na de clausura, o membro A. T a­
vares de l.yra. presidente do Congresso.
Do valor e importância das contribuições ser;\ dada detalhada
noticia, pelo secretário geral, no seu Relatório anual e nas publi­
cações próprias (anais| que sairão dentro cm breve editando-se al:
as teses dos congressistas e os respectivos pareceres das comissões.
— 210 —

ESTATÍSTICA DO INSTITUTO HISTÓRICO


1949

TRIMESTRE A bril Alaiu I unho Total

Obras oferecidas .................................... .5 44 23 82


Revistas nacionais. estrangeiras ......... 45 90 71 218.
Catálogos recebidos ....................... 1 4 4 9
Mapas oferecidos .............................. 1 — 1
6 1 7

A R Q U IV O Abril Maio J unho Total

Documentos consultados .. • • ........... 1.29(1 2.302 2.205 5.707

MUSEU A bril Maio Junho Total

Visitantes ............................................... 48 72 132

S A I.A P Ú B LIC A DE t.E IT U R A AbH. Maio Junho Total

CotMuhns:
(Obras) ------------ . . . . . 850 2.405 2.427 5.682
J o rn a is ............................... 310 600 666 1.576
700 800 800 2.390
«I 60 182 302

S E C R E TA R IA Abril M.ii-• Junho Total

Ofícios. Cartas. Telegramas :


Recebidos ......... 750 152 120 1,022
Expedidos .. ................... 220 380 172 772
ÍN D IC E
A b r il - J u n h o de 19 49

1— TftAUALItOS OUJÜIXAIS
1. Ico no grafia carioca. Ox rfow « m i/ an ligas panoramas </o Rio
de Jon de a, ( ( ’em cinco fo to g ra fía » ). Por Vforuo de T íiuttay 3
2. M em ória sobre a dcçndência das tres Capitanías e os meios
de as re p a ra r. P o r José M anuel de Sequeira, professor régio
de filo s o fía 11802), Coni uma apreciação de V ir g ilio Corrêa
F i lh o ......................................................................................................... 95
3. Pita s M em orias, C apitania de São Jasé do K in N e g ro (1829)
pelo padre José M a rla C o d h n ; 0 J Capitania da P o n í (1819)
pur José de B r ito Ingles. Com tmm apreciação de A r tu r
Cesar F e rre ira Reis .......................................................................... 109
I I — COXH:R KNCl AS
4 .4 obra de A le ja n d re D nm ns : " M ontevideo an nne ncmvellc
T rote” , po r Arioso.- I) . Gonzalez. ScssHo com emorativa 'In
D ia da- A m éricas. 12 de ab ril de 1 9 4 9 ..................................... 155
5. I ‘ida r obra de .Id o lje M orale s d r ins R ios. Professor A<lol-
fo M orales de Io* Rios I'ilh o Sessile» de 27 <le m ain de 1949 170

I I I — .TKAXSCtlçÔRS
(». José ( arlos de Macedo Soares. por Joaquim R ib e iro .......... 189
7. O in s titiilli H is tó ric o e n Caugresso N acional, por M ozart
M onteiro PM

TV’ — HÚU.K. t ç ó t s .........................................................................................4 . . . . 197


L iv ro s re c e b id o » ....................................................................... 200

V —- noticiá rio ...................................................................................................... 208


E s ta tís tic a .................... 210
,. i - u 4

. . . 1 .

. •■
INSTITUTO HISTORICO E GEOGRAFICO BRASILEIRO

COM ISSÕES PE R M A N E N T E S EM 1948-1949

Leão Teixríra Filho


fiasilio de Magalhães
Feijó Bittencourt
Canabarro Reichardt
Valentim Benicio da Silva

Carvalho Mouròo
Tavares Cavalcanti
F undos e O rçamentos: . . . . Oliveira Vionna'
M. A. Teixeira de Freitas
Cristovão Leite de Castro

Raul Tavares
Rodler de Aquino
Geografia: ............................... Carlos da Silveira Carneiro
Virgílio Corria Filho
Lucas Baiteux.

Rodolfo Garcia
A/rindo Sodrí
A rqueología e E tnografía : Roquete Pinto
Josl Luís Batista
Gustavo Barroso.

Rodrigo Otávio Filho

B ibliografía : .......................
Vieira Ferreira
Eugênio Vilhena de Morais

Levi Carneiro
Costa Ferreira
E statutos : W underley Pinho.
Pedro Calmon
Edmundo da Lux Pinto.

Alfredo Nascimento e Silva


Augusto Tavares de Lyra
Admissão de S ó cios : ........... Alfredo Paladào

Cláudio Ganns

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