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BORIS VALLEJO

Pintura Passo a Passo


Faz uns vinte anos que tive a oportunidade de adquirir um livro dos
trabalhos de Boris Vallejo. Posso até arriscar a dizer que ele foi
(indiretamente) o artista que me inspirou e me ajudou a evoluir na minha
paixão, a arte. Hoje em dia fica até parecendo redundância falar alguma
coisa sobre esse grande mestre da “fantasy art”, uma vez que existe muito
material na internet ou em livros e revistas, mas acho que informação
nunca é demais. Então fiz uma pesquisa tentando reunir o máximo de
materiais e postar as mais úteis e interessantes informações sobre ele.

BIOGRAFIA
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Boris Vallejo nasceu em 1941, em Lima, Peru. Estudou violino e também
medicina. Deixou o curso de medicina para estudar artes e ingressou na
Escola Nacional de Belas Artes. Como em Lima não havia grandes
oportunidades e reconhecimento decidiu emigrar para os Estados Unidos
em 1964. “Minha idéia era trabalhar alguns anos, voltar ao Peru e abrir uma
agencia de publicidade.” Partiu para os Estados Unidos sem ter o mínimo
de conhecimento do inglês.

As atenções dos Estados Unidos para as artes estavam voltadas para Andy
Warhol (1928-1987), mas Boris não queria trilhar por este caminho. Foi um
conselho do primo de seu pai que fez Boris não desanimar “Não é o mais
importante na pintura, mas você deve ter controle na execução da técnica
para fazer o que você realmente quer”.

Apaixonado pela arte clássica e pelos surrealistas Rene Magritte e,


especialmente Salvador Dalí, na década de 70 Vallejo ficou impressionado
com a arte de Frank Frazetta (1928-2010), “Suas figuras tão dinâmicas,
personagens musculosos e as mulheres voluptuosas; toda essa energia
me abriu os olhos para este tipo de ilustração que eu estava prestes a
desenvolver”. Boris estava também muito interessado em fisiculturismo e a
“fantasy art” lhe oferecia a oportunidade de trabalhar com a figura humana,
o que tanto queria

Nas quatro décadas que Boris viveu nos Estados Unidos, publicou mais de
vinte cinco livros com suas pinturas e gravuras, além de ilustrar livros,
capas de filmes e discos de bandas, HQs, entre outros e, é hoje o artista
mais bem sucedido na área da ficção, erotismo e “fantasy art”. Marvel
Comics, Paramount Pictures, Ford Motor Company, Sony, Nike, Vintage
Books estão em sua longa lista de clientes.
Boris viveu 17 anos em New York depois mudou-se para Maplewood, New
Jersey. Finalmente fixou residência em Allentown, Pensilvânia onde agora
mora em uma casa com grandes jardins e dois ateliês.
Casou-se com a artista e fisiculturista Julie Bell em 1994, com quem além
ajudar nas obras também trabalha nas de própria autoria (obras estas bem
parecidas com a de Vallejo).
Boris Vellejo viaja o mundo chamado para apresentar palestras e expor
suas obras, mas nunca recebeu um convite de seu país de origem, “Claro
que meu sucesso foi construído nos Estados Unidos, mas como eu queria
ter uma relação mais próxima com o meu país”

O PROCESSO DE TRABALHO DE BORIS VALLEJO

&& Após adquirir meu primeiro livro do Boris (Mirage, 1982) ficava
pensando: como um pintor poderia chegar a resultados tão fantásticos?
Quando consegui comprar outro livro (Boris Vallejo: Fantasy Art
Techniques, 1985) que pude ver o processo de construção das obras de
Boris, o qual serve somente para matar a curiosidade e não minimizam a
excelência de seu talento. E é com este livro que passo a descrever,
mesmo que pouco, a forma de construção de suas obras

Primeiro Passo (Esboço)


Na primeira parte da construção de uma pintura, Boris faz diversos
esboços para criar a idéia do trabalho. Feito esboço que representa a idéia
inicial com suas características como, por exemplo, luz e sombra, forma,
personagens, motivo, entre outros, Boris parte para o esboço mais
complexo. “O pensamento de alguma forma vê as coisas diferentemente
dos olhos. Na minha cabeça as coisas estão em movimento, eu tenho uma
chance de pega-la e colocá-la no papel. É como desenhar uma figura em
movimento” Então Boris parte para o “esboço final da idéia” finalizado com
nanquim e, às vezes com tinta acrílica.

Primeiro esboço (descartado)


Segundo Passo (Fotografia)
Neste segundo passo Boris contrata modelos para fotografar sua idéia. Os
modelos pousam utilizando o esboço inicial como referência. Segundo
Boris alguns alunos e outros artistas costumam questioná-lo se pintar
utilizando fotos Vallejo não estaria trapaceando, pois os “antigos mestres”
não utilizavam esta ferramenta. Em resposta Boris diz que utilizar a
fotografia como apoio economiza tempo e dinheiro e o fato dos “antigos
mestres” não a utilizarem foi porque não a haviam inventado, os “antigos
mestres” faziam arte com modelos vivos, o que explica a questão de tempo
e dinheiro.

Fotografias com modelos

Terceiro Passo (Esboço final da pintura)

Utilizando as fotografias dos modelos, Boris faz um último esboço bem


detalhado em grafite. Depois de concluído o esboço Boris faz a
transferência do esboço para um papel chamado “Strathmore” da série
“Cold Press Illustration Board” que na verdade é um tipo de papel especial
para tinta óleo. Utilizando os lápis H e 6H para desenhar o contorno dos
objetos neste papel, Boris passa para a primeira fase da pintura.

Esboço final
Quarto Passo (Primeira fase da pintura)

A primeira fase da pintura consiste em pintar as formas com uma única cor
de tinta acrílica muito diluída. Segundo Boris, na teoria, tintas a base de
água e tinta a óleo não se misturam, tendendo a isolar a tinta óleo. Mas isto
depende de como você usa a diluição. “Eu uso o acrílico como se fosse
tinta aquarela, ou seja, extremamente diluída”.

Primeiro estágio da pintura em acrílico

Quinto Passo (Segunda fase da pintura)

Depois de concluída a pintura das formas com a tinta acrílica é feita uma
camada de tinta óleo com cores transparentes, basicamente as cores que
serão utilizadas na pintura. Devem ser transparentes ao ponto de não
acobertar totalmente o esboço feito pela tinta acrílica. Estes dois estágios
constituem no que é chamado “the underpainting”, ou seja, o que vai
embaixo da pintura. Segundo Boris, “Alguns artistas usam óleo de linhaça
misturado com a tinta óleo para torná-la transparente. É o método
tradicional, mas demora demais para secar. Óleo de linhaça funciona sem
problemas, mas retarda a secagem. Eu prefiro usar tiner para pintura, não
a terebintina* produzido para artistas, mas o tiner feito nas indústrias de
tintar”.
*Espécie de solvente fabricado a partir da resina de pinheiro.

Segundo estágio da pintura


Sexto Passo (Fase final)

Finalmente, depois de terminada a etapa do “underpainting”, é iniciada a


etapa de coloração final. “Eu sempre começo trabalhando na parte do
fundo. Acho que as figuras devem se ajustar ao fundo na ordem de dar-
lhes mais força que precisam. Quando você está pintando, coisas no
primeiro plano devem sobrepor o segundo plano.” Com o fundo
intensificado Boris passa ao primeiro plano, normalmente pela cabeça e
pescoço. Ao contrário de vários artistas, Boris não passa para outra parte
da pintura sem que esteja finalizada a que está trabalhando, por exemplo,
enquanto não finalizar a cabeça não passará para o braço, pelo menos em
primeira instância. Boris também ressalta: “Uma coisa que é muito
importante saber é quando parar de trabalhar na sua pintura. Isto é
aprendido com a experiência. Quanto mais inseguro é o artista, mais tem a
tendência de sobrecarregar a pintura”. Boris ainda acrescenta que se
concentra nas pequenas partes do quadro

O quadro finalizado
E para finalizar outra grande dica de Boris:
“Há a tendência das pessoas desistirem de trabalhar com óleo devido a as
cores nas suas telas se tornar “amarronzadas” devido à sobreposição de
cores. Para a coloração com sucesso, você não pode simplesmente
sobrepor uma cor a outra. O que eu faço é colocar uma cor perto da outra e
depois misturar os seus limites. Desta forma as cores permanecem limpas
e retêm suas próprias características”.

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