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ADRIANA VAREJÃO

• Adriana Varejão é uma artista plástica contemporânea que vem ganhando cada
vez mais destaque no espaço nacional e internacional. Atualmente, é uma das
artistas brasileiras de mais destaque na cena contemporânea, no Brasil e exterior.

• Nascida em 1964, a carioca Adriana começou sua carreira nos anos 80, ainda
muito jovem. Entre 1981 e 1985 freqüentou cursos livres na Escola de Artes
Visuais e no Rio de Janeiro e fez sua primeira exposição individual em 1988, na
galeria Thomas Cohn.

• Filha de um piloto da aeronáutica e de uma nutricionista fez cursinho pré-


vestibular no colégio Impacto. Foi cursar engenharia na Puc. No meio tempo, fez
um curso de arte. E pronto. “Acho que um dia eu acordei e virei artista”, brinca.
Alugou um ateliê e começou a produzir.

"Não pensava se conseguiria ou não viver da própria arte. Eu estava vivendo, fazendo as
coisas, descobrindo a minha linguagem. Não estava preocupada se ia ou não expor, quanto
ia ganhar, qual ia ser meu galerista. Falo para os estudantes isso quando vou dar palestras.
Vejos as pessoas muito preocupadas com o resultado. Não é por aí. É preciso apenas
encontrar suas voz. E achar a tal linguagem, de acordo com ela, nunca é fácil. É muito
sofrimento. Cada vez que você olha uma tela em branco acredita piamente que não vai ter
mais idéias, que vai ficar bloqueada. O processo de criação é dolorido.”
Características das obras:
Sua obra reproduz elementos históricos e culturais, com temas ligados à
colonização, ao barroco e à azulejaria. Investiga também a utilização do corpo
humano, da visceralidade e da representação da carne como elemento estético.
Apesar de remeter ao barroco, adquire forte contemporaneidade em
decorrência do acúmulo excessivo de materiais, camadas de tinta e
informações.

“A pintura é minha raiz, da mesma forma que o


Brasil” Adriana Varejão
• O trabalho, o cotidiano, as fases

• Adriana Varejão: Tento me prender dentro do ateliê, mesmo que eu


vá para lá para não fazer nada. Na pintura, assim como na arte de
maneira em geral, você tem que ter uma predisposição para a coisa
começar a acontecer, tem que se desocupar do mundo, e você só
consegue fazer isso depois de um determinado número de horas.
Chego ao ateliê, fica fazendo uma porção de coisas, fico olhando
para o quadro e aí começo a mergulhar dentro da coisa, da pintura,
depois de três, quatro horas ali. Aí a pintura começa a funcionar, a
acontecer, as coisas começam a fluir, o mundo vai ficando cada vez
mais distante, a cabeça vai parando e então começo a entrar ali
naquele barato. O tempo aqui não é só o da execução, mas é esse
tempo necessário para a cabeça se desligar um pouco dos
acontecimentos do mundo, você ficar num estado mental mais ou
menos livre para poder olhar simplesmente.
Entrevista. Link de acesso, 29/03/2022: https://www.escritoriodearte.com/artista/adriana-
varejao#:~:text=Nascida%20em%201964%2C%20a%20carioca,1988%2C%20na%20galeria%20Thomas%20Cohn
• As interrupções, os compromissos

• Adriana Varejão: Quando uma filha te interrompe no meio de um processo como este,
tem que parar. Aí volta para cá no dia seguinte. Às vezes atraso meus compromissos
quando estou num pique muito bom de pintura, vou noite adentro. Mas tem dias que
entro no ateliê e dá tudo errado, a mão, o olho, está tudo errado. Tem dias que faço uma
porção de coisa e acho que foi genial, “nossa, hoje eu resolvi todos os problemas”. No dia
seguinte, entro e vejo que era tudo uma porcaria. Varia, agora quando estou num pique
bom, estou sentindo que as coisas estão funcionando, aí tento estender o máximo de
horas possível pintando. Teve vários momentos da minha vida que esqueci que era
sábado, domingo, Natal, Carnaval, Copa do Mundo.
• É um projeto de vida mesmo, de dedicação, todos os dias. A rotina de vir para o ateliê é
uma constante na minha vida. E também o trabalho não se resume em só vir para o
ateliê executar a obra. Quem trabalha com criação está o tempo todo percebendo o
mundo também. Lembro-me que quando comecei a ser artista, descobri o que era arte,
a realidade se transformou completamente, as coisas se transformaram, tinham um
frescor em tudo o que eu lia, os filmes que via, de estar ali, diante do mar, na praia, de
estar ouvindo uma música. Tudo é matéria para a pintura, para a arte. O artista nunca
descansa, está de férias, vai para casa e se desliga do trabalho. Não tem essa dinâmica.
Você trabalha o tempo todo, vivendo, sentindo, olhando, ouvindo, cheirando. Está
trabalhando o tempo todo.
Entrevista. Link de acesso, 29/03/2022: https://www.escritoriodearte.com/artista/adriana-varejao#:~:text=Nascida%20em
%201964%2C%20a%20carioca,1988%2C%20na%20galeria%20Thomas%20Cohn
• As séries

• Adriana Varejão: Quando começo uma nova série, é um acontecimento sensacional. Tem um pouco desse frescor
do início, quando comecei a ser artista, o frescor de descobrir novos lugares, novos assuntos. Saunas e banhos
(2001-2009) foram um pouco assim, comecei essa série completamente por acaso. Abri um livro de arquitetura de
Macau [ex-colônia portuguesa, a península asiática tornou-se região administrativa da China em 20 de dezembro
de 1999] em Portugal. Estava numa livraria, comecei a ver um livro e vi umas fotos de um cantinho azulejado, uma
arquitetura completamente gambiarra, sem a menor importância, o livro era sobre isso. Macau parecia
completamente o Rio de Janeiro. E eu sempre trabalhei em cima dessas ideias de transposições culturais.
Entrevista. Link de acesso, 29/03/2022: https://www.escritoriodearte.com/artista/adriana-varejao#:~:text=Nascida%20em%201964%2C%20a
%20carioca,1988%2C%20na%20galeria%20Thomas%20Cohn.
• Muito tempo atrás, fiz uma exposição chamada Terra
incógnita (1991-2003), que falava sobre uma China
brasileira, sempre com essa relação entre China e Brasil
acontecendo em minha obra. E essa era uma ideia mais
contemporânea. Aí calhou de eu estar em Paris e comecei a
visitar as saunas nos bairros muçulmanos, aquelas saunas
só de mulheres. Fui parar numa sauna subterrânea incrível,
toda azulejada. Ao mesmo tempo associei isso com os
botequins do Rio de Janeiro, também com os mercados de
carne. Tudo era um pouco essa mesma arquitetura
funcional do azulejo vulgar, contemporâneo. Esse tipo de
ambiente começou a me seduzir muito. Fui para Budapeste,
buscar também em filmes, como Banhos [de Yang Zhang,
1999], um filme chinês incrível, trouxe-me a presença das
piscinas. É mais ou menos assim que acontece.
• Agora tomei contato com a obra de um ceramista português que
viveu no final do século XIX, [Rafael] Bordalo Pinheiro [também
caricaturista e jornalista, que morou no Brasil entre 1875 e
1879]. Ele dirigiu durante 20 anos uma fábrica de cerâmicas em
Caldas da Rainha, em Portugal. Há dois anos estou namorando
essa obra e agora fui conhecer de perto, em Lisboa, coleções
particulares destes pratos. Fui a Caldas da Rainha, à casa onde
Bordalo viveu, comprei biografias dele. Eu sou tomada, mas não
por uma pesquisa – não chamaria de pesquisa, mas de paixão.
Fico apaixonada por um assunto, um universo, uma sensação e
procuro construir histórias em torno disso e viver um pouco
essas coisas. As séries acontecem um pouco assim.

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