A Redefinição Da Biblioteca Universitária À Luz Dos Paradigmas

A REDEFINIÇÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA À LUZ DOS PARADIGMAS
DA BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:

Um Estudo de Caso
Relato de Pesquisa
Jorge Santa Anna
Mestrando em Gestão e Organização do Conhecimento
Universidade Federal de Minas Gerais
jorjao20@yahoo.com.br
Maria Elizabeth de Oliveira Costa

Doutoranda em Gestão e Organização do Conhecimento
Universidade Federal de Minas Gerais
mabethcosta@gmailo.com
Resumo
Apresenta as contribuições advindas da Biblioteconomia e Ciência da Informação quanto às práticas pro-
fissionais realizadas em uma biblioteca universitária. Objetiva identificar os pontos paradigmáticos obser-
vados na referida unidade de informação, a partir dos paradigmas que sustentam essas duas áreas do co-
nhecimento, discorridos na literatura. Com esse propósito, o estudo caracteriza as bibliotecas universitá-
rias na modernidade; apresenta os paradigmas da Ciência da Informação e Biblioteconomia; e, por fim,
investiga a política institucional, os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca e os pontos paradigmáti-
cos que os sustentam. Os resultados evidenciam que a maioria dos paradigmas adotados pela biblioteca
universitária pertence à Biblioteconomia, tais como: foco no acervo documental, pouca preocupação com
o usuário, predominância de livros impressos, atuação tecnicista, atividades de cunho meramente docu-
mental e pouca interação entre setores e gestão dos fluxos de informação. Apenas dois paradigmas são
frutos da Ciência da Informação, a saber: preocupação acentuada com a recuperação da informação e
tendência à informatização. Sugere-se a elaboração de um plano de ação, oriundo de um planejamento
bem estruturado, a fim de reformular a política institucional, redefinindo e ampliando as práticas bibliote-
cárias, tendo como base a fusão dos paradigmas dessas duas áreas.
Palavras-chave
Paradigmas. Biblioteca Universitária. Biblioteconomia. Ciência da Informação. Práticas profissionais.
1 INTRODUÇÃO crescimento, seja no desenvolvimento de

coleções, na oferta de materiais informacio-
A biblioteca universitária caracteriza- nais ou na prestação de serviços de apoio
se por sua forte aderência e sintonia com as acadêmico, além daqueles voltados à cultura
atividades desenvolvidas no âmbito universi- e recreação, atendendo diferentes públicos e
tário, por conseguinte, contribui com a for- demandas. Essas unidades de informação
mação profissional e o desenvolvimento devem revestir-se de uma política institucio-
social. As mudanças oriundas da sociedade nal pautada na gestão estratégica e na inova-
são refletidas nas atividades universitárias ção, tendo em vista tornarem-se competiti-
que, por sua vez, demandam novos produtos vas e trabalhar em prol da melhoria contí-
e serviços informacionais a serem ofertados nua.
no ambiente acadêmico. Observa-se, ao longo dos tempos,
As bibliotecas universitárias têm se que a biblioteca universitária tem se destaca-
constituído em organismos em constante do por seu poder adaptativo e, sobretudo
Ci. Inf. Rev., Maceió, v. 4, n. 3, p. 40-57, set./dez. 2017 40
Jorge Santa Anna / Maria Elizabeth de Oliveira Costa
pelas inovações que são realizadas, a partir nais originadas a partir do tratamento reali-
do uso de tecnologias avançadas, bem como zado em acervos documentais. Já a Ciência
pela qualidade na oferta de seus produtos e da Informação contempla aspectos mais
serviços. Esse fato demonstra que essa bi- amplos, como a preocupação com a recupe-
blioteca se adapta a diferentes paradigmas, ração da informação, o estudo dos conceitos
considerando as tendências do contexto inerentes à informação, bem como os fluxos
atual, por meio de uma postura proativa, informacionais e o uso da informação pelos
interventiva e inovadora. usuários (ARAÚJO, 2015).
A literatura brasileira apresenta di- Com efeito, pode-se considerar que
versos estudos que versam sobre as mudan- as instituições inseridas em uma sociedade
ças paradigmáticas ocorridas no âmbito das mutante e competitiva demandam novos
bibliotecas universitárias, principalmente a serviços e produtos, logo, as profissões e
partir do crescimento das universidades, do também a universidade devem revestir-se de
desenvolvimento de pesquisas e com o uso concepções e fundamentos que garantam
das novas tecnologias, demonstrando a ca- uma intervenção mais produtiva e satisfató-
pacidade de mudança e adaptação dessas ria por parte dos profissionais que atuam
unidades (CARVALHO, 2004; CARVA- nesse contexto. Essa situação pode ser cla-
LHO, 2011; CUNHA, 2010; FERREIRA, ramente constatada no âmbito das bibliote-
1980; LEITÃO, 2005; SANTA ANNA, cas universitárias.
2015; SANTA ANNA; CALMON, 2015a; As mudanças em curso requerem a
SANTA ANNA; PEREIRA; CAMPOS, formulação de paradigmas, considerados
2015; TARAPANOFF, 1981). como “padrões ou modelos” a serem segui-
A necessidade de mudanças nesses dos e compartilhados por uma comunidade
espaços está ligada às transformações sociais de especialistas com vistas a transformar e
e ao desenvolvimento do conhecimento ampliar o conhecimento. Na Bibliotecono-
científico produzido pelas áreas que fomen- mia e Ciência da Informação, a reformulação
tam a prática profissional. Segundo estudo dos paradigmas que sustentam essas áreas e
realizado por Vieira e Ardigo (2015), no caso as práticas profissionais torna-se uma neces-
das bibliotecas da atualidade, a reformulação sidade imprescindível nos dias atuais, no
dos paradigmas que sustentam a Biblioteco- intuito de acompanhar as rápidas e constan-
nomia e o desenvolvimento da Ciência da tes mudanças provocadas pela tecnologia,
Informação nas últimas décadas geram a ciência, política, economia, entre outros se-
necessidade de repensar práticas e fazeres tores da sociedade (VIEIRA; ARDIGO,
profissionais no contexto de qualquer uni- 2015).
dade de informação. Nesse contexto, considerando a pes-
É comum notar, no âmbito das bi- quisa de Vieira e Ardigo (2015), que investi-
bliotecas brasileiras, a adoção de práticas gou os paradigmas da Biblioteconomia e
tradicionais, as quais fomentaram a origem e Ciência da Informação em uma biblioteca
desenvolvimento da Biblioteconomia, área especializada, demonstrando a proeminência
que possui uma forte relação com o trabalho de paradigmas da Biblioteconomia, conside-
técnico realizado em bibliotecas. No entan- ra-se relevante analisar e discutir os para-
to, na atualidade, com o surgimento da Ci- digmas proeminentes em uma biblioteca
ência da Informação na década de 1960 e universitária.
sua incorporação à Biblioteconomia, as bi- Portanto, este estudo objetiva identi-
bliotecas devem considerar os novos para- ficar os pontos paradigmáticos observados
digmas, uma vez que, segundo Oliveira em uma biblioteca universitária, a partir dos
(2004), essas áreas, embora possuam fortes paradigmas da Biblioteconomia e da Ciência
relações interdisciplinares, sustentam-se em da Informação discorridos na literatura. Os
paradigmas distintos. objetivos de natureza intermediária do estu-
A Biblioteconomia apresenta uma do são: caracterizar as bibliotecas universitá-
história longa, tendo suas práticas profissio- rias na modernidade; apresentar os paradig-

A Redefinição da Biblioteca Universitária à Luz dos Paradigmas da Biblioteconomia e Ciência da Informa-
ção: um estudo de caso
mas da Ciência da Informação e Biblioteco- o contexto das bibliotecas, principalmente

nomia; e, por fim, investigar a realidade de no que se refere à gestão dos acervos por
uma biblioteca universitária, de modo a i- elas custodiados e com o crescimento da
dentificar os paradigmas que a sustentam, produção editorial evidenciado nas últimas
considerando os produtos e serviços infor- décadas.
macionais oferecidos aos usuários. Nas bibliotecas universitárias, as ati-
A metodologia do estudo é compos- vidades de tratamento da informação bus-
ta por pesquisa bibliográfica, com a consulta cam desenvolver acervos que atendam de-
a livros e artigos que versam sobre a temáti- mandas específicas e constituem uma reali-
ca, e estudo de caso em uma biblioteca unidade evidente, em virtude da diversidade de
versitária, por meio da técnica de observação público atendido, que são, normalmente:
direta, considerando o regulamento da uni- discentes, docentes e colaboradores, e pelas
dade de informação e os produtos e serviços diversas atividades prestadas à universidade
ofertados nesse espaço informacional. no apoio às atividades de pesquisa, ensino e
extensão (CARVALHO, 2011).
2 REVISÃO DE LITERATURA Nota-se que a biblioteca universitária
também exerce o papel de educadora no
Ao longo desta revisão, consideran- processo de serviço do ensino-
do os objetivos deste estudo, serão apresen- aprendizagem, o que demonstra o papel
tadas discussões relacionadas às principais pedagógico dessa instituição, como também
características e conceitos das bibliotecas sua participação na geração de conhecimen-
universitárias, como também, os paradigmas to para a sociedade, por meio de práticas
que sustentam a Biblioteconomia e a Ciência educacionais (SANTA ANNA, 2015a). Por
da Informação. apresentar essa preocupação com a educa-
No decorrer da revisão, esses assun- ção, salienta-se aqui que todos os persona-
tos são apresentados, especificamente, com gens envolvidos com a educação não apenas
base nas mudanças promovidas nas bibliote- transmitem conhecimentos, mas também
cas universitárias em face do uso das tecno- promovem a capacidade de ampliação do
logias digitais, as quais promoveram novos conhecimento na sociedade, pois, segundo
serviços e produtos informacionais, em con- Ferreira (1980, p. 1) “não cabe à educação
sonância com os objetivos da organização transmitir conhecimentos, experiências e
mantenedora, as necessidades da comunida- ideias, mas, sobretudo, dar a instrumentali-
de usuária e o atendimento aos paradigmas zação necessária, para que cada um, por si
que fundamentam as práticas profissionais. mesmo, seja capaz de fazer descobertas,
criar e construir algo”.
2.1 A biblioteca universitária: um orga- A biblioteca universitária, portanto,
nismo em crescimento e adaptação representa o espaço destinado à oferta de
produtos e serviços variados, atendendo,
Conforme postulado por Rangana- primordialmente, a comunidade universitá-
than (2009), a biblioteca deve ser um orga- ria, constituindo-se como um ambiente que
nismo em constante crescimento, haja vista atende, de imediato, as atividades de ensino,
atender as necessidades do público a que pesquisa e extensão da universidade. O seu
serve, provocando a satisfação dos usuários, relacionamento com a sociedade se faz por
sobretudo quanto à oferta de materiais in- meio da universidade e não diretamente. O
formacionais de qualidade, estando o acervo relacionamento da universidade com a soci-
em sintonia com as exigências e desejos dos edade é seletivo, sujeito às funções da uni-
usuários. versidade dentro desta sociedade e de suas
A reflexão de Ranganathan (2009) decisões e “negociações” políticas (TARA-
constitui uma das cinco leis da Biblioteco- PANOFF, 1981).
nomia propostas pelo autor e demonstra a Segundo a autora supracitada, a uni-
dinamicidade e inovação que devem permear versidade e a biblioteca universitária brasilei-

ras são produtos da história social, econômi- onais, o que ocasiona economia de tempo,
ca e cultural do país, bem como das caracte- além de reduzir gastos desnecessários.
rísticas regionais brasileiras. Seus produtos e Santa Anna e Calmon (2015) enten-
serviços, segundo Carvalho (2004), comun- dem que a biblioteca universitária segue as
gam de princípios específicos oriundos das leis da Biblioteconomia propostas por Ran-
atividades educacionais propostas pelo sis- ganathan, uma vez que os produtos e servi-
tema de ensino superior do país. ços são oferecidos com alto padrão de quali-
Nota-se forte relação existente entre dade, de modo a satisfazer diferentes neces-
biblioteca universitária, universidade e socie- sidades, além das atividades realizadas busca-
dade. Nas palavras de Ferreira (1980, p.7): rem a melhoria contínua, o que demonstra a
capacidade inovadora, criativa e transforma-
Se a biblioteca é importante para dora desse tipo de unidade de informação.
o ensino geral, no ensino superior Na visão de Cunha (2010), as cons-
seu papel é proeminente em vir- tantes transformações sociais repercutiram
tude do valor da própria universi- no posicionamento da universidade, de mo-
dade, pois nenhuma outra institu- do que a biblioteca universitária teve que se
ição ultrapassa em magnitude a
contribuição universitária, a qual
reinventar. Na atualidade, conforme o autor,
torna possível o formidável avan- a biblioteca universitária faz uso de variadas
ço tecnológico e científico que se tecnologias, aderindo, a cada dia, à realidade
registra atualmente em todos os virtual, manifestando-se como um espaço
campos de conhecimento. híbrido.
Santa Anna (2015a) menciona que a
A utilização das novas tecnologias, biblioteca universitária deixou de ser vista
certamente, representou uma nova postura como labirinto e está situada em um nível de
adotada por essas unidades de informação. complexidade, que visa atender necessidades
Mediante ao uso de sistemas informatizados, das mais diferenciadas, oferecendo ativida-
as bibliotecas universitárias ampliam as pos- des de cunho educacional, informacional,
sibilidades de busca de documentos e desen- cultural e recreativo. O autor considera que a
volvem novas formas de interação com os proposta da biblioteca universitária em mui-
usuários, desencadeando uma relação mais to se assemelha com a biblioteca pública, a
aproximada do usuário com a informação e qual se coloca a serviço da cidadania, o que a
favorecendo a produção de conhecimento caracteriza como uma instituição interventi-
demandada pelas atividades universitárias va em favor do desenvolvimento pessoal,
(CARVALHO, 2004). profissional e social.
As tecnologias, no contexto das bi- Ora, vê-se que a biblioteca universi-
bliotecas universitárias, trazem novas formas tária ampliou suas funções, uma vez que não
de interação, permitindo a elaboração de contribuiu somente com as atividades educa-
novos produtos e serviços, de modo a facili- tivas, mas exerce um papel muito mais am-
tar o acesso e uso à informação, o que pro- plo com os cidadãos e a própria comunidade
porciona ganho para o usuário final. É im- externa. Assim, tem-se que as principais
portante considerar, também, que os usuá- funções dessa biblioteca é fomentar "[...] o
rios são beneficiados com os recursos ele- apoio ao ensino e à pesquisa. [...] e a fun-
trônicos, pois é possível, por meio de ações ção cultural e educacional que a universi-
colaborativas, compartilhar produtos, servi- dade deve desempenhar na comunidade em
ços e práticas, através de um processo amplo que se estende o seu raio de ação e que a
e integrado de socialização (CARVALHO, biblioteca da universidade também deve
2004). Para Santa Anna e Calmon (2015), as apoiar" (LA BIBLIOTECA, 2005, p. 30,
bibliotecas universitárias inserem-se no con- tradução nossa, grifo nosso).
texto da colaboração, realizando atividades Santa Anna (2015a, p. 15, grifo nos-
de compartilhamento de recursos informaci- so) considera que a realidade vivenciada pe-
las bibliotecas universitárias do Brasil coloca

essas unidades em favor do “[...] oferecimen- des a serem atingidas, o que requer, muitas
to diversificado de produtos, serviços, bem vezes, mudanças relativas à cultura organiza-
como a condução diversificada dos métodos, cional e institucional, de modo que novos
técnicas e tecnologias necessários ao geren- modelos de gestão sejam instituídos. Tam-
ciamento e controle efetivo da informação, bém precisam ser considerados os propósi-
proporcionando, assim, mudanças nos tos, métodos de trabalho e funções atribuí-
fazeres biblioteconômicos [...]”. das às bibliotecas, os quais também devem
Assim, evidencia-se uma nova ambi- ser revistos pelos profissionais responsáveis,
ência para a biblioteca universitária que, se- o que requer uma mudança quanto à inter-
gundo Santa Anna (2015a, p. 15), consolida venção profissional, como também se faz
a ideia de uma biblioteca híbrida, “[...] per- necessária uma mudança na formação dos
meada por produtos de diferentes tecnologi- futuros profissionais (MELO; MARQUES;
as, sejam eles em formato impresso ou digi- PINHO, 2014).
tal, e por serviços, também, dos mais varia- Os paradigmas que regem a atuação
dos, oferecidos presencialmente quanto em profissional e que repercutem nas atividades
ambiente web”. bibliotecárias são variados, porém, o cerne
A história evolutiva das instituições dessa questão está na mudança de foco da
de informação, especialmente as bibliotecas biblioteca, ou seja, seu objeto principal de
universitárias, tem demonstrado a capacida- trabalho, que deixou de ser o objeto materi-
de evolutiva e adaptativa dessas unidades. al, relacionado à função de custódia, para o
No futuro, a partir do processo de informa- acesso à informação contida nesse objeto, o
tização e utilização do espaço digital, preve- que evidencia o paradigma do acesso, cujo
em-se mudanças estratégicas e radicais no personagem central deixa de ser o acervo
espaço, nos objetivos, funções e na gestão para ser o usuário (COELHO NETTO,
dos serviços e produtos gerados (CUNHA, 1996; SANTA ANNA, 2015b).
2010). No presente, confirma-se que as bi- A mudança de paradigma do acervo
bliotecas universitárias para o acesso e usuário implica em inúmeras
mudanças em diversos aspectos das práticas
[...] deixaram um estágio de labi- realizadas nas bibliotecas. Este constitui,
rinto para atingirem um estágio segundo Santa Anna (2015b), o paradigma
de encruzilhada, em busca de um que viabiliza a redefinição de outros para-
ambiente híbrido/misto (presen- digmas presentes nas bibliotecas da atualida-
cial e digital). Esse novo estágio de, caracterizando a biblioteca, como um
está em construção, e isso não
ambiente de inovação, em constante cresci-
quer dizer que a biblioteca uni-
versitária alcançou o estágio final mento e adaptação ao longo dos tempos.
de transformação, ao contrário,
essas unidades prepararam-se pa- 2.2 Paradigmas da Biblioteconomia e da
ra um momento futuro, em que Ciência da Informação
as tecnologias contemporâneas
estarão fortemente inseridas em A atuação ou prática bibliotecária
seu contexto (SANTA ANNA, constitui um dos fazeres mais antigos do
2015a, p. 15). mundo, iniciado desde o momento em que
surgiram as primeiras formas de escrita, re-
Assim, as bibliotecas universitárias, presentadas nos tabletes de madeira e de
ao se depararem com um contexto mutante, argila. No entanto, a institucionalização da
competitivo e inovador, devem rever os profissão, bem como a institucionalização da
paradigmas que as sustentam, no intuito de Biblioteconomia como área do conhecimen-
oferecer de forma satisfatória e com máxima to, ocorreu somente a partir das revoluções
qualidade os produtos e serviços informaci- que permearam o iniciar do século XX
onais (MELO; MARQUES; PINHO, 2014). (ORTEGA, 2004).
Os paradigmas precisam contemplar
a amplitude e complexidade das necessida-
Ao longo dos tempos, segundo Si- Os processos de recuperação da in-

queira (2010), com o aumento da produção formação demandaram o uso de tecnologias
documental, os métodos de organização avançadas, assim como a interação com ou-
propostos pela Bibliografia não foram sufi- tras disciplinas a fim de aperfeiçoar os siste-
cientes para armazenar os documentos de mas de comunicação eletrônica. Além disso,
forma que fossem recuperados. Surgiu, por- a preocupação com o uso, gestão dos fluxos
tanto, as propostas da Documentação, a qual de informação, bem como a satisfação do
prezava por novas formas de representação usuário que consome a informação passou a
dos documentos, centrada, principalmente, ser um desafio não resolvido pela Bibliote-
em seus conteúdos. Além disso, destaca-se conomia, o que fez nascer, em 1962, uma
também a origem da biblioteca pública, a nova área do conhecimento, denominada de
qual ampliou seus fazeres, tornando-se um Ciência da Informação (ARAÚJO, 2014;
espaço democrático para disseminação e OLIVEIRA, 2005).
produção de conhecimentos. A Ciência da Informação irmanou-se
Essas mudanças caminharam a pas- à Biblioteconomia a fim de proporcionar
sos lentos, contemplando décadas e séculos melhorias nos processos de tratamento, re-
para se oficializarem. No entanto, as mudan- cuperação e uso da informação materializa-
ças mais drásticas às atividades desempe- da, inicialmente, nos acervos documentários.
nhadas pelas bibliotecas estão, segundo Ara- Portanto, a Ciência da Informação fomenta
újo (2014), relacionadas às grandes revolu- práticas profissionais a serem utilizadas por
ções científica, tecnológica e social do século inúmeros profissionais, tendo uma maior
XVIII em diante, desencadeando novos aproximação, no contexto brasileiro, tanto
desafios a serem superados pelas bibliotecas. em nível de formação, quanto em nível de
Essas mudanças representaram o alicerce atuação profissional, com os bibliotecários e
para a consolidação dos paradigmas da Bi- os vários contextos de informação em que
blioteconomia. esses profissionais podem atuar (ARAÚJO,
Portanto, a prática profissional bibli- 2014).
otecária, inicialmente, sustentou-se em uma Segundo Oliveira (2005), embora
atividade essencialmente técnica, realizada possuam uma forte relação interdisciplinar e
nas tradicionais bibliotecas, mantidas sobre a atuem em conjunto, essas áreas não podem
ordem religiosa e, mais tarde, sob o coman- ser consideradas um único campo, pois cada
do estatal. Em linhas gerais, os fazeres bibli- uma teve sua evolução e consolidação pau-
otecários referiam-se ao tratamento dos do- tada em paradigmas distintos. Enquanto a
cumentos a serem incorporados em um a- Biblioteconomia nasceu do trabalho técnico
cervo, tendo em vista a preservação e custó- realizado nas antigas bibliotecas, o que con-
dia desse material. Mais tarde, surgiu a ne- solida o paradigma do acervo, a Ciência da
cessidade de disseminação da informação, a Informação teve sua gênese a partir das ne-
qual passou a ser vista como insumo para a cessidades informacionais dos usuários, os
concretização da cidadania, elevando, por- quais requerem acesso informacional inde-
tanto, o compromisso social, político e de- pendente do suporte e com o uso de recur-
mocrático da biblioteca (ORTEGA, 2004). sos informatizados, de modo a evitar esfor-
No entendimento de Araújo (2014), ços e gastos na recuperação e uso da infor-
Siqueira (2010), Ortega (2004) e Russo mação.
(2010) é a partir da Segunda Guerra Mundial A Biblioteconomia preza pela gestão
que novos problemas vieram à tona e a inde todo o ciclo informacional, considerando
formação passou a ser o insumo básico para as etapas de produção, armazenamento e
resolver os impactos deixados pelo pós- disseminação da informação, não conside-
guerra. Surgiu, assim, uma nova disciplina, a rando aspectos inerentes à recuperação e uso
Recuperação da Informação, que foi reno- dessa informação, compromisso esse que se
vada, gradativamente, com o uso avançado estende à Ciência da Informação. Essas
de sistemas informatizados. questões do acesso e uso são mais comple-

xas, pois envolvem aspectos cognitivos e tudo é fluxo, tudo é energia em movimen-
comportamentais, além do uso acentuado to”. Assim, a biblioteca deve colocar-se a
dos sistemas informatizados, o que remete à serviço da melhoria contínua daquilo que
Ciência da Informação solicitar auxílios a oferece, considerando as necessidades de
outras disciplinas, fato esse que demonstra seus usuários. Além disso, a unidade deve
uma de suas principais características: a in- constituir-se um organismo integrado, atu-
terdisciplinaridade (ARAÚJO, 2010). ando na sociedade de forma holística, con-
No entendimento de Oliveira (2005), trolando os fluxos de informação e forne-
a Biblioteconomia está sustentada no para- cendo melhores condições de acesso e uso
digma da biblioteca propriamente dita e faz da informação no contexto social (SOUZA,
uso das técnicas, recursos, métodos e proce- 1996, não paginado).
dimentos para tratamento de documentos a O paradigma raganathiano, também
serem inseridos em um acervo bibliográfico. denominado de paradigma do fluxo da in-
Nota-se, segundo essa autora, uma preocu- formação, segundo Souza (1996, não pagi-
pação acentuada com o suporte informacio- nado)
nal, sem valorizar apropriadamente a infor- [...] só tem sentido quando visto
mação nele contida e suas diversas manifes- como processo de comunicação.
tações e possibilidades de uso. Aliás, o processo de comunica-
Saracevic (1996), além de mencionar ção, poderia ser visto como o
o tratamento técnico realizado em acervos mais universal de todos os meca-
nismos do universo. Visto, como
bibliográficos, considera que a instituição em Heráclito, na condição de flu-
biblioteca também pode realizar atividades xo, tem como equivalente na Fí-
voltadas à educação e à cultura, o que afere a sica a Energia que, nas relações
concretização de serviços e produtos volta- sociais, é a Interação comunicati-
dos à comunidade local, fato este que de- va, sendo o verdadeiro combustí-
monstra a manifestação da biblioteca no vel da existência humana. No
contexto socioeconômico de uma determi- mundo de hoje, este processo é
nada nação. nada menos que a razão de exis-
Os paradigmas que sustentam a prá- tência das redes telemáticas.
tica bibliotecária consolidaram-se em dois
diferentes momentos, sendo divididos em Percebe-se certa similaridade, ou me-
paradigmas deweyianos e ranganathianos. lhor, uma intersecção desse paradigma com
Os primeiros referem-se à atuação, tão so- os paradigmas da Ciência da Informação, o
mente, em bibliotecas físicas, em que se pre- que despertou uma aproximação maior entre
ze pelo tratamento e organização de docu- essas duas áreas. Na visão de Souza (1996),
mentos; já os segundos contemplam uma os paradigmas deweyianos já não são consi-
atuação mais científica, considerando, além derados como modelos a serem seguidos no
do fazer técnico, a participação humana na âmbito científico. Isso por causa da visão
estruturação dos produtos e serviços ofere- tecnicista e engessada que eles aferem à prá-
cidos nas bibliotecas (SOUZA, 1996). tica profissional. No entanto, mesmo estan-
Em linhas gerais, os paradigmas de- do em voga os paradigmas ranganathianos,
weyianos possuem como ações centrais as segundo a conclusão de Souza (1996), mui-
atividades relativas aos processos de organi- tas bibliotecas brasileiras ainda partilham dos
zação da informação (catalogação, indexação paradigmas deweyianos, embora eles já se-
e classificação), como também as atividades jam insuficientes para atender as demandas
centradas na educação bibliográfica, por atuais de fluxo, ou seja, eles não representam
meio dos serviços de atendimento ao usuário um modelo que se centre em fluxos comuni-
na busca e empréstimos de documentos cativos, em transações interativas como a
(SOUZA, 1996). sociedade atual requer.
Por sua vez, os paradigmas rangana- Além desses paradigmas que susten-
thianos sustentam-se na tese de que “[...] tam a área da Biblioteconomia e, por conse-
guinte, a prática profissional de bibliotecá-
rios atuantes em inúmeros e variados con- profissionais na elaboração de redes e canais

textos e instâncias, Araújo (2014) defende colaborativos, de modo que as práticas pro-
três perspectivas contemporâneas inerentes a fissionais e os instrumentos de trabalho pos-
essa área: trata-se da questão da mediação, sam ser compartilhados, fato esse que viabi-
ou seja, o profissional atuante como selecio- liza um trabalho colaborativo e integrado
nador de informações pertinentes para o entre diferentes unidades. Nesse contexto
usuário; outro aspecto diz respeito à media- tecnológico, o mapeamento e gerenciamento
ção como insumo para formação cidadã, dos fluxos de informação também devem
contemplando aqui, atividades de cunho ser considerados, o que abre novas possibili-
educativo e cultural oferecidas em bibliote- dades de atuação do profissional, conside-
cas, como em outras organizações que pre- rando outras instâncias e contextos, viabili-
zem pela cidadania; por fim, a última ver- zando um processo de desinstitucionalização
tente apontada por Araújo que sustenta as da prática profissional (trabalho além da
práticas bibliotecárias modernas refere-se ao biblioteca), assim como apontou o estudo de
estudo e às práticas no âmbito das bibliote- Lancaster (1983).
cas digitais, com todas as implicações em Araújo (2014) também destaca os es-
termos de acervos, serviços e dinâmicas rela- tudos métricos da informação e a gestão da
tivas a esse novo modelo de biblioteca. informação, a qual poderá contribuir nos
No que se refere aos paradigmas da processos decisórios dos usuários, sobretudo
Ciência da Informação, Oliveira (2005) des- em ambientes empresariais, permitindo uma
taca a participação do profissional na cons- melhor tramitação e logística da informação
trução e gerenciamento de sistemas informa- e viabilizando o seu melhor aproveitamento.
tizados, de modo que novas formas de ar- Por fim, outro ponto destacado por Araújo
mazenamento, bem como estratégias de (2014), também mencionado por Oliveira
busca e recuperação da informação possam (2005) e Russo (2010), diz respeito à impor-
ser desenvolvidas. Esse paradigma é fruto tância conferida ao usuário das bibliotecas.
das discussões propostas pela Teoria Mate- Nas palavras de Araújo (2014, p. 111), essa
mática da Informação, que, com a ajuda de área do conhecimento
profissionais ligados às áreas tecnológicas,
novos instrumentos e ferramentas de traba- [...] não nasceu como uma ciência
lho, como novos recursos a serem utilizados tipicamente social, mas identifi-
na recuperação, puderam ser incorporados cou-se ao longo dos anos com o
nos acervos bibliográficos. escopo das ciências sociais à me-
dida que se orientou para uma
Essa cooperação entre diferentes
postura em que os sujeitos pas-
profissionais visando a construção de um saram a ser vistos como o
produto amplo e inovador consolida uma principal ator e objetivos dos
atuação interdisciplinar, sendo essa uma chamados sistemas de informa-
característica imprescindível da Ciência da ção, e que métodos e conceitos
Informação, assim como demonstra Sarace- das ciências humanas e sociais fo-
vic (1996). ram aplicados para o seu estudo
Araújo (2014) discorre acerca da am- (ARAÚJO, 2014, p. 122, grifo
plitude que permeia o campo delimitado pela nosso).
Ciência da Informação. Para o autor, o para-
digma emergente que se apoia essa área é o Sendo assim, o paradigma do acesso
infocomunicacional, ou seja, além da gestão e uso da informação, considerando as neces-
da informação é preciso estabelecer canais sidades dos usuários, e tendo em vista a sa-
de comunicação, de forma a aumentar as tisfação desses sujeitos, representa um novo
possibilidades de interação entre o usuário e modelo a ser seguido pelas unidades de in-
os produtos que ele deseja obter. formação, sobretudo em bibliotecas univer-
O autor enfatiza as práticas realiza- sitárias, conforme mencionado na pesquisa
das em ambiente digital e a participação de de Santa Anna (2015a).

Com efeito, as unidades de informa- uma vez que exibe as características de de-
ção da contemporaneidade, com destaque terminado fenômeno por meio da observa-
especial às bibliotecas universitárias, dada a ção realizada em uma biblioteca universitá-
complexidade de produtos e serviços por ria. O objetivo é identificar pontos paradig-
elas oferecidos, conforme discorrido na tese máticos desse tipo de biblioteca a partir dos
de Melo, Marques e Pinho (2014), devem paradigmas da Biblioteconomia e da Ciência
desenvolver mecanismos inovadores, consi- da Informação, conforme explanados pela
derando inúmeras necessidades advindas literatura especializada.
com a evolução das sociedades e com o de- A consulta à literatura especializada
senvolvimento das ciências, de modo que os forneceu parâmetros para identificação da
paradigmas que sustentam a prática profis- realidade estudada. Portanto, esta pesquisa
sional sejam redefinidos. também se apresenta como uma revisão de
No âmbito das inovações provoca- literatura, que constitui
das pela Ciência da Informação, constata-se
que a atenção não deve limitar-se, tão so- [...] um tipo de investigação cien-
mente, com a custódia, a posse dos docu- tífica que tem por objetivo reunir,
mentos, mas com a sua circulação e sua dis- avaliar criticamente e conduzir
uma síntese dos resultados de
seminação da maneira mais produtiva possí-
múltiplos estudos primários. As-
vel. Assim, o foco não deve estar propria- sim, a revisão de literatura tem
mente nos documentos (registro físico), mas papel fundamental no trabalho
em seu conteúdo, ou dito de outro modo, na acadêmico, pois é através dela que
informação contida nos documentos (A- você situa seu trabalho dentro da
RAÚJO, 2014). grande área de pesquisa da qual
Como se percebe, os diversos auto- faz parte, contextualizando-o
res são unânimes ao considerar a necessida- (COOK; MULROW; HAYNES,
de e valiosa importância de reformulação 1997, p. 376).
dos paradigmas que sustentam as práticas
bibliotecárias. Todavia, mesmo cientes des- Além da revisão de literatura, a pes-
sas propostas e reflexões, é importante anali- quisa documental e estudo de caso também
sar a realidade das instituições de informa- constituíram características deste estudo. De
ção, no intuito de comparar as atividades acordo com Gil (2008), a pesquisa documen-
realizadas com as discussões apresentadas tal é aquela em que os materiais utilizados,
pela literatura. Nessa perspectiva, apresen- diferentes da revisão de literatura, não rece-
tam-se a seguir os procedimentos metodoló- beram ainda um tratamento analítico, consi-
gicos deste estudo. derados como documentos de primeira mão,
não publicados. Já o estudo de caso consiste
3 MATERIAIS E MÉTODOS no estudo profundo e exaustivo de um ou
poucos objetos, de maneira que permita seu
Este estudo foi realizado a partir da amplo e detalhado conhecimento. A pesqui-
recomendação de pesquisa proposta no tra- sa documental foi realizada pela consulta a
balho de Vieira e Ardigo (2015), que descre- documentos internos da instituição, com
veram os paradigmas da Biblioteconomia e ênfase ao regulamento da biblioteca univer-
da Ciência da Informação em uma biblioteca sitária investigada. Por sua vez, o estudo de
de modalidade especializada. Os autores caso foi realizado em uma biblioteca univer-
recomendaram a identificação dos paradig- sitária da esfera particular.
mas dessas duas áreas em outras unidades de Os dados da pesquisa classificam-se
informação, sobretudo àquelas com grande como primários e secundários. Em linhas
demanda informacional e diversas preocupa- gerais, segundo Richardson (1999), os dados
ções quanto às atividades prestadas. primários são aqueles que apresentam rela-
A pesquisa caracteriza-se como des- ção física direta com os fatos analisados, ou
critiva, considerando os fins a que se destina, seja, foram coletados especificamente para
uma determinada investigação. Ao contrário,

os dados secundários contemplam as infor- social, realizando as atividades de ensino, de

mações que não apresentam relação direta pesquisa e de extensão.
com o acontecimento registrado, tendo sido A universidade está distribuída em
reunidos para algum outro propósito que cinco campi, localizados em municípios dife-
não o estudo imediato em mãos. rentes, sendo que a biblioteca universitária
No contexto deste estudo, os dados está inserida em um sistema ou rede de bi-
primários referem-se àqueles advindos da bliotecas, formado por cinco unidades, uma
fonte pesquisada, no caso a biblioteca uni- em cada campus. Portanto, essas unidades
versitária, e os secundários dizem respeito de informação são regidas por um sistema
aos dados coletados das fontes documentais interligado, em que a biblioteca central é o
investigadas. No que se refere à coleta dos órgão suplementar vinculado diretamente à
dados primários, utilizou-se a técnica da Reitoria e coordena todos os procedimentos
observação direta, por meio de cinco visitas técnicos do sistema. O estudo de caso foi
por semana. Na visão de Alvarez (1991, p. realizado na biblioteca central, uma vez que
560), a observação direta é o “[...] único ins- todas as demais unidades estão, hierarqui-
trumento de pesquisa e coleta de dados que camente, submetidas às normas e políticas
permite informar o que ocorre de verdade, da unidade central.
na situação real, de fato”, conduzida por Administrativamente, as setoriais es-
meio de análises contínuas de observações tão vinculadas aos seus centros de ensino.
em relação a práticas, experimentos e rela- Assim, a biblioteca central compreende a
cionamentos existentes em um contexto unidade que gerencia o funcionamento das
específico de investigação. demais unidades de informação vinculadas
Importante mencionar, outrossim, ao sistema. Ela é responsável por elaborar
que, as visitas foram realizadas de forma todas as políticas que sustentarão os traba-
individual pelo pesquisador, não tendo inter- lhos de todos os profissionais do sistema,
ferências de nenhum profissional atuante na delegando direitos e deveres das unidades e
unidade. Além dessa técnica, na última visita, de seus usuários. Também é responsável em
procedeu-se a uma entrevista com o diretor realizar todos os processos de formação,
da biblioteca, haja vista sanar algumas lacu- desenvolvimento e tratamento das coleções,
nas e/ou dúvidas manifestadas durante os enviando os itens para as bibliotecas setori-
cinco dias de observação. ais que realizarão os processos de dissemina-
Após a coleta de dados partiu-se para ção da informação nos diferentes centros de
as análises e contextualizações, considerando ensino onde estão inseridas.
as propostas refletidas pela literatura, de O sistema de bibliotecas aqui anali-
modo a identificar no contexto real investi- sado adéqua-se à forma de gestão centraliza-
gado os pontos paradigmáticos que orientam da, sendo as “atividades meio” do sistema
a unidade de informação analisada. Os resul- (organização e gestão), realizadas de forma
tados e discussão estão descritos na seção centralizada (em uma biblioteca central), e as
seguinte. “atividades fim” (serviço de referência), rea-
lizadas de forma mais independente nas uni-
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO dades setoriais, mas as rotinas de trabalho
devem seguir as mesmas diretrizes expostas
A biblioteca universitária analisada no regulamento do sistema de bibliotecas.
neste estudo pertence a uma universidade A biblioteca central é gerenciada por
privada, em que são oferecidos 18 cursos de uma diretoria e é departamentalizada, já que
graduação, distribuídos em diversas áreas do os inúmeros processos de trabalho são reali-
conhecimento, e quatro programas de pós- zados em seções diferenciadas, as quais
graduação. Essa universidade objetiva for- compreendem as seguintes: núcleo de in-
mar profissionais qualificados para o merca- formática, aquisição, processamento técnico,
do de trabalho, por meio do incentivo à in- reparos, empréstimo, multimeios, referên-
vestigação científica e ao desenvolvimento cia/acervo geral, periódicos, e, por fim, a

seção de pesquisa bibliográfica. A unidade decorrer das atividades prestadas aos usuá-
presta serviços e produtos para públicos rios.
diferentes, no âmbito da universidade, limi-
tando-se, apenas, ao atendimento desses 4.2 Dos produtos oferecidos pela unida-
usuários (comunidade interna). de de informação
4.1 Da política e cultura institucionais Considerando as exigências prescri-

tas no regimento interno, ao observar os
A biblioteca universitária contém um produtos que são gerados com as práticas
regulamento interno, devidamente publicado bibliotecárias constata-se o cumprimento do
em âmbito institucional, o qual contempla que está disposto no referido documento
todas as práticas a serem realizadas pela bi- institucional. Em linhas gerais, no que se
blioteca, assim como menciona as regras e refere aos tipos de produtos oferecidos, tem-
normas de procedimentos que devem ser se, tão somente, a disponibilização de itens
considerados diante de situações específicas informacionais, sejam eles nos mais diferen-
que permeiem o cotidiano de trabalho. ciados suportes.
O referido regimento foi elaborado Por meio do trabalho realizado no
pelos bibliotecários gestores da unidade em processo de organização da informação,
parceria com o conselho universitário, fato através das técnicas, métodos e instrumentos
esse que comprova a vinculação da unidade de catalogação, indexação e classificação,
de informação com a universidade. Portanto, como, por exemplo, com o uso das tabelas e
as atividades a serem realizadas na biblioteca, códigos de catalogação, são geradas as fichas
de acordo com esse documento, devem con- catalográficas impressas, os registros catalo-
templar, prioritariamente, as exigências e gráficos informatizados, as etiquetas biblio-
necessidades de professores, alunos e servi- gráficas, dentre outros produtos. De modo
dores, tendo prioridade o fornecimento de geral, as fichas catalográficas impressas são
materiais informacionais para sustentar as geradas para compor as teses e dissertações
atividades de ensino, pesquisa e extensão. defendidas nos programas da universidade;
Observa-se, com base nos objetivos os registros catalográficos são inseridos na
prescritos no regimento, que a biblioteca base de dados eletrônica da biblioteca, a fim
tem como centro de suas atenções, formar de formar o catálogo digital, o qual está dis-
acervo bibliográfico de qualidade para a co- ponibilizado na web; e, as etiquetas impres-
munidade universitária. Além disso, ela é sas são anexadas nas lombadas dos livros e
responsável por garantir a oferta de material nos multimeios, a fim de facilitar a disponi-
informacional a todos os setores da univer- bilização do item nas prateleiras do acervo.
sidade. A partir disso, seu objetivo principal Importante mencionar, de acordo
é incentivar a pesquisa, extensão e o ensino, com relatórios e estatísticas fornecidos pelo
além de realizar as atividades de comutação sistema de gerenciamento da biblioteca, que,
bibliográfica com outras unidades, serviços atualmente, a biblioteca central possui um
de atendimento ao usuário e visitas guiadas, acervo diversificado, composto em sua mai-
de modo a “familiarizar” a universidade com oria por 140.816 títulos de livros e 201.194
a biblioteca. exemplares. Ainda disponibiliza ao público:
De acordo com informações forne- trabalhos acadêmicos, totalizando 4.221 títu-
cidas pelo gestor entrevistado, a biblioteca los e 5.810 exemplares; periódicos: 1.671
universitária considera o regulamento como títulos e 7.3520 exemplares. Possui ainda
o “fio condutor” de todas as atividades que recursos eletrônicos (CDs e DVDs), totali-
são realizadas, ou seja, o referido documento zando 293 títulos e 400 exemplares em for-
possui valor legal no âmbito da universidade mato eletrônico.
e é seguido integralmente, garantindo efici-
ência, legitimidade e respaldo legal aos pro-
cessos de trabalho e às decisões tomadas no

4.3 Dos serviços oferecidos pela unidade impressos oriundos da aquisição, realiza-se,
de informação por meio do software Pergamum, a geração
dos registros catalográficos e sua inserção no
Conforme relatado pelo gestor da catálogo eletrônico. Essas atividades são
biblioteca analisada, a referida unidade de realizadas em parceria com redes de catalo-
informação realiza uma gama de serviços gação, como a Bibliodata, tornando o traba-
biblioteconômicos direcionados à comuni- lho colaborativo, de modo a poupar tempo e
dade universitária. recursos.
Por meio da observação aos nove se- A seção de conservação destina-se a
tores ou departamentos existentes na unida- reparar os materiais impressos, a grande
de, constatou-se que em cada setor é realiza- maioria, livros, os quais foram deteriorados
do um serviço diferente, a maioria deles vol- por diversos agentes. Realiza-se conservação
tada à prestação de produtos informacionais curativa, ou seja, pequenos reparos, haja
e atendimento personalizado e/ou informa- vista permitir o manuseio e o uso do docu-
tizado. mento pelo usuário.
Inicialmente, o núcleo de informática A seção de empréstimo realiza servi-
existente dentro da biblioteca realiza ativida- ços de atendimento personalizado ao usuá-
des de manutenção dos recursos eletrônicos rio, contemplando: cadastramento de usuá-
utilizados em todos os departamentos. Esse rios, recebimento de multas e liberação de
núcleo é formado por dois bibliotecários livros para empréstimo domiciliar. O em-
com especialização em Tecnologia da In- préstimo, especificamente, pode ser realiza-
formação que realizam serviços relativos à do de forma informatizada, por meio de um
construção, gestão e aperfeiçoamento dos terminal de autoatendimento.
sistemas de recuperação de informação utili- A seção de multimeios contém o a-
zados pela biblioteca, em parceria com a cervo de CD e DVDs, com profissional
empresa que oferece o software de gerenci- disponível para atendimento personalizado
amento bibliotecário. na localização desses itens.
Na seção de aquisição são realizadas A parte destinada aos periódicos, a
as atividades de formação e desenvolvimen- hemeroteca, semelhante aos multimeios,
to da coleção, contemplando práticas admi- disponibiliza jornais e revistas, tendo profis-
nistrativas de conferência de livros adquiri- sionais para atendimento personalizado.
dos, gestão do pregão eletrônico, atendimen- Nesse setor também são realizadas, em par-
to a fornecedores de livros, periódicos e ceria com a aquisição, os serviços de comu-
multimeios e controle e gerenciamento de tação bibliográfica (solicitação de cópias de
doações e intercâmbio. artigos e livros disponibilizados em outras
Na seção de processamento técnico bibliotecas).
é desenvolvido o trabalho intelectual de re- No acervo geral, é realizado o servi-
presentação da informação. Através dos ço de atendimento ao usuário na busca e
instrumentos de representação são gerados recuperação de itens. Uma equipe de profis-
os diversos produtos da catalogação, tais sionais está à disposição dos usuários para
como: fichas catalográficas, registros eletrô- conduzi-los nas buscas e recuperação dos
nicos e etiquetas impressas. Destaca-se o itens, tendo, como ferramenta de auxílio,
serviço de catalogação na fonte, direcionado terminais informatizados de consulta ao
exclusivamente aos alunos dos programas de acervo.
pós-graduação, que devem enviar arquivo Por fim, o setor de pesquisa biblio-
com a dissertação ou tese finalizada, a fim de gráfica está próximo ao acervo e restringe-se
que os bibliotecários confeccionem a ficha à manutenção do sítio da biblioteca, sobre-
catalográfica, a qual será inserida após a fo- tudo na inserção das teses e dissertações no
lha de rosto e, após esse processo, o arquivo acervo eletrônico de trabalhos acadêmicos.
será disponibilizado na biblioteca digital. No O sítio da biblioteca está estruturado de mo-
que se refere à representação dos materiais do que diversos serviços possam ser realiza-

dos via web, tais como: consulta ao acervo, tram-se os paradigmas detectados, as áreas
renovações, mural de notícias, acesso a di- de conhecimento a qual pertencem e a iden-
versas bases de dados, acesso à biblioteca tificação dos paradigmas nas atividades reali-
digital e ao repositório de artigos acadêmi- zadas pela unidade de informação.
cos, dentre outros serviços. Esse setor tam- Observa-se que a maioria dos para-
bém atende o usuário no que se refere ao digmas encontrados na unidade de informa-
auxílio em pesquisas, seja na consulta às ção aqui estudada pertence à área da Biblio-
bases de dados, seja disponibilizando com- teconomia, ou seja, dos oito paradigmas
putadores para pesquisa individual. Também principais observados, apenas dois, qual seja
são realizadas as normalizações dos traba- “a preocupação com a recuperação da in-
lhos acadêmicos, assim como orientações formação” e “a tendência à informatização”
aos usuários que desejam normalizar suas são frutos de esforços e pesquisas desenvol-
produções. vidas no campo da Ciência da Informação.
Por meio de entrevista realizada com Em linhas gerais, essa constatação
o gestor da biblioteca, constatou-se que não está em consonância com os resultados ob-
são oferecidas atividades culturais ou recrea- tidos por Souza (1996) e Vieira e Ardigo
tivas no recinto da biblioteca. Portanto, en- (2015), que também evidenciaram a necessi-
tende-se que a biblioteca está limitada à ofer- dade de reformulação das bibliotecas na
ta de material informacional, disponibilizan- atualidade, as quais deverão revestir-se de
do inúmeros produtos e serviços em prol da produtos e serviços inovadores, de modo a
gestão e disseminação de acervos bibliográ- tornarem-se instituições mais reconhecidas,
ficos. valorizadas, competitivas e úteis, tanto para a
Conforme o gestor da unidade, são organização mantenedora quanto para a
desenvolvidas estratégias para aproximar os sociedade como um todo.
usuários inseridos na universidade com os Conforme defendido por Vieira e
produtos e serviços que a biblioteca oferece. Ardigo (2015), essa constatação possui certo
Assim, por meio de treinamentos e visitas teor de obviedade, uma vez que se analisou
guiadas, considerando calendário divulgado uma unidade de informação caracterizada
junto à comunidade universitária, os usuá- como biblioteca, e, nesse contexto, a área da
rios tornam-se conhecedores do que está a Biblioteconomia volta-se a uma atuação mais
seu dispor, considerando os recursos e servi- prática e técnica, direcionada,
ços informacionais necessários para condu- tradicionalmente ao acervo, suporte e
zir as atividades acadêmicas. processo técnico.
Quando perguntado acerca da im- Ortega (2004) e Araújo (2014)
portância do usuário para a unidade, o en- também relatam que a Biblioteconomia
trevistado garante que tudo que é oferecido preservou sua característica principal que
visa beneficiar os usuários da universidade. sustentou seu nascimento, qual seja, o
Assim, o usuário passa a ser o centro das trabalho realizado nas tradicionais
atenções, e a unidade exerce o papel de me- bibliotecas. Assim, mesmo tendo evoluído
diadora entre o usuário e a informação in- ao longo dos tempos, segundo Souza (1996),
corporada nas mais diversas coleções biblio- as bibliotecas conservam a essência do
gráficas gerenciadas pelos profissionais. trabalho técnico, realizado em prol do
armazenamento e preservação de coleções
4.4 Dos paradigmas constatados na bi- bibliográficas.
blioteca universitária A interlocução entre
Biblioteconomia e Ciência da Informação
A partir dos dados coletados em constitui uma realidade no contexto
campo, é possível detectar quais paradigmas brasileiro. Essa fusão, segundo Castro
estão inseridos nas práticas bibliotecárias (2000), é vantajosa para as unidades de
realizadas na biblioteca universitária aqui informação, uma vez que proporciona novas
analisada. Assim, no Quadro 1, demons- práticas de trabalho, ampliando o campo de

atuação dos profissionais da informação. para essas organizações, sobretudo no que se

Nesse sentido, de acordo com Vieira e refere à inovação, criatividade e capacidade
Ardigo (2015), considerar os paradigmas da interventiva dessa unidade no
Ciência da Informação em conjunto com os desenvolvimento pessoal, institucional e
da Biblioteconomia representa um avanço social.
Quadro 1 – Identificação dos paradigmas que sustentam a biblioteca universitária
Paradigma Área do Conhecimento Identificação na Biblioteca - Justificativa

Foco no acervo do- Biblioteconomia Praticamente, todas as atividades realizadas nos diversos
cumental setores comungam do mesmo objetivo: gerenciar o acervo
informacional.
Pouca preocupação Biblioteconomia Embora existam serviços de atendimento, como na referên-
com o usuário cia, a atenção ao usuário é limitada – o foco não está nas
pessoas e suas necessidades - pois faltam serviços de aco-
lhimento, principalmente no ambiente digital, pouca comu-
nicação e marketing, além da ausência de treinamentos,
palestras, eventos e atividades culturais e recreativas.
Maioria dos itens Biblioteconomia Embora existam multimeios e periódicos, a quantidade de
centra-se em livros livros impressos é extremamente maior no comparativo com
impressos outras fontes de informação. Verificar e mencionar as cole-
ções de livros eletrônicos assinadas pela biblioteca.
Atuação tecnicista Biblioteconomia O setor de processamento técnico, ao utilizar metodologias
e instrumentos de representação, consolida uma atuação
tecnicista, o que pode engessar os processos de trabalho, por
conseguinte, provocar insatisfações, limitações e dificuldades
quanto ao acesso e uso da informação.
Atividades de cunho Biblioteconomia Considerando as múltiplas funcionalidades da biblioteca
meramente informa- (função informacional, educacional, social e recreativa), a
cional biblioteca investigada coloca-se a serviço apenas da função
informacional, priorizando a manutenção e crescimento do
acervo bibliográfico.
Preocupação acentua- Ciência da Informação O desenvolvimento e a gestão do sítio da biblioteca, bem
da com a recuperação como a manutenção da coleção digital e o trabalho realizado
da informação pelo setor de informática em parceria com os gestores do
software de gerenciamento, ocasiona ações de melhoria
contínua quanto aos canais e sistemas de comunicação,
gestão de metadados e busca e recuperação da informação
nos ambientes digitais.
Tendência à informa- Ciência da Informação O setor de informática realiza ações contínuas de tornar a
tização informação cada dia mais acessível ao usuário, podendo ele
acessar os produtos e serviços oferecidos através do ambien-
te digital. Destaca-se a manutenção dos sistemas de busca e
recuperação da informação, bem como a instalação de ter-
minais de consulta e autoempréstimo no recinto da unidade.
Pouca interação entre Biblioteconomia Notou-se que os setores, embora precisem estar em sintonia,
setores e gestão dos agem de forma individualizada, tendo como foco, apenas, as
fluxos de informação atividades que lhes são atribuídas, o que dificulta a integra-
ção e manutenção dos fluxos de informação gerados a partir
das relações estabelecidas.
Fonte: dados da pesquisa (2016).
É bem verdade que as bibliotecas universitárias, principalmente, tendem a

vêm se evoluindo ao longo dos tempos, ampliar seus paradigmas a partir do uso das
redefinindo seus paradigmas, principalmente novas tecnologias, inserindo-se em um
quando extravasaram o paradigma ambiente colaborativo e de socialização, de
deweyiano para o ranganathiano, como nos acordo com o estudo de Carvalho (2004).
ensina Souza (2016). As bibliotecas Esse novo ambiente, certamente, demandará

esforços mais amplos, principalmente sobre as mudanças que ocorrem na comuni-

quanto à recuperação da informação, o que dade acadêmica, como também colocarem-
demonstra a contribuição que a Ciência da se a serviço de prestar serviços sociais para a
Informação tem a oferecer nesses desafios. localidade onde estão inseridas, o que remete
A construção e gestão dos espaços a sua contribuição com a prática cidadã. A
digitais e atuação do profissional ou exten- multiplicidade de funções inerentes a essa
são da biblioteca universitária para outras biblioteca tem requerido a redefinição de
instâncias e contextos é uma tendência pro- seus paradigmas, logo requer práticas profis-
missora para o futuro. Certamente, muitos sionais mais intensas, amplas e colaborativas,
desafios fazem-se presente nessa nova reali- de modo a atender diferentes demandas,
dade, o que requer a reformulação dos para- instâncias e contextos.
digmas que sustentam as atuais unidades de Constatou-se que a constante evolu-
informação. Para tanto, entende-se que não ção da Biblioteconomia e da Ciência da In-
se faz necessário criar novos paradigmas, formação tem despertado expectativas de
mas sim incorporar à prática bibliotecária melhorias nas unidades e serviços de infor-
paradigmas mais amplos, considerando a mação. Essas áreas comungam de objetivos
fusão das duas áreas: Biblioteconomia e Ci- similares, no entanto, sustentam-se em para-
ência a Informação. digmas diferentes, sendo eles necessários
para ampliar as práticas profissionais e mi-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS nimizar os desafios existentes nas bibliotecas
da atualidade.
Neste estudo, foi possível identificar A revisão de literatura demonstrou
os pontos paradigmáticos observados em que a Biblioteconomia se alicerça no traba-
uma biblioteca universitária, a partir dos lho e nos processos técnicos realizados em
paradigmas da Biblioteconomia e da Ciência acervos bibliográficos, cuja função principal
da Informação discorridos na literatura, e é permitir o armazenamento, a gestão e dis-
concluir sobre a necessidade de reformula- seminação desses acervos, que, por sua vez,
ção das práticas profissionais que permeiam apoiam a construção de conhecimentos. Já a
o ambiente dessa biblioteca, de modo a tor- Ciência da Informação apresenta paradigmas
ná-la mais integrada à instituição mantene- mais complexos, relacionados à recuperação,
dora, às necessidades de seus usuários e à uso e fluxo da informação, tendo como foco
sociedade em geral. a informação, em vez de seu suporte, como
Constatou-se que a maioria dos pa- também prioriza o usuário da informação.
radigmas adotados pela biblioteca universitá- Por fim, a partir das considerações
ria pertence à Biblioteconomia, tais como: deste estudo, sugere-se que a biblioteca uni-
foco no acervo documental, pouca preocu- versitária aqui analisada adote um plano de
pação com o usuário, maioria dos itens con- ação, oriundo de um planejamento bem es-
centrada no formato de livros impressos, truturado, a fim de que sua política seja revi-
atuação tecnicista, atividades de cunho me- sada, de modo que os paradigmas da Ciência
ramente informacional e pouca interação da Informação sejam incorporados e, por
entre setores e gestão dos fluxos de infor- conseguinte, novas práticas profissionais
mação. Apenas dois paradigmas observados possam ser implementadas na unidade, vi-
são fruto da Ciência da Informação, a saber: sando sua redefinição como um organismo
preocupação acentuada com a recuperação inovador e integrado à instituição que a abri-
da informação e tendência à informatização. ga, proporcionando desenvolvimento profis-
A análise na literatura e os resultados sional e acadêmico aos usuários e também
da pesquisa in loco reafirmam a necessidade desenvolvimento institucional e social em
de as bibliotecas universitárias refletirem seu contexto de atuação.

THE REDEFINITION OF THE UNIVERSITY LIBRARY IN THE LIGHT OF THE

PARADIGMS OF BIBLIOTECONOMICS AND INFORMATION SCIENCE
Abstract
It presents the contributions from Librarianship and Information Science regarding the professional practices carried out in a
university library. It aims to identify the paradigmatic points observed in this unit of information, from the paradigms that
sustain these two areas of knowledge, discussed in the literature. For this purpose, the study characterizes university libraries
in modernity; presents the paradigms of Information Science and Librarianship; and, finally, investigates the institutional
policy, the products and services offered by the library and the paradigmatic points that sustain them. The results show that
most of the paradigms adopted by the university library belong to librarianship, such as: focus on the documentary collection,
little concern with the user, predominance of printed books, technical activities, purely documentary activities and little
interaction between sectors and management of information flows. Only two paradigms are the fruits of Information Science,
namely: a marked concern with information retrieval and a tendency towards computerization. It is suggested that a plan of
action be developed, from a well-structured planning, in order to reformulate institutional policy, redefining and expanding
library practices, based on the fusion of the paradigms of these two areas.
Keywords
Paradigms. University Library. Librarianship. Information Science. Professional practices.
Artigo recebido em 15/09/2017 e aceito para publicação em 09/12/2017
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A Redefinição Da Biblioteca Universitária À Luz Dos Paradigmas

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A REDEFINIÇÃO DA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA À LUZ DOS PARADIGMAS

DA BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:

Maria Elizabeth de Oliveira Costa

1 INTRODUÇÃO crescimento, seja no desenvolvimento de

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mas da Ciência da Informação e Biblioteco- o contexto das bibliotecas, principalmente

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Ao longo dos tempos, segundo Si- Os processos de recuperação da in-

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rios atuantes em inúmeros e variados con- profissionais na elaboração de redes e canais

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os dados secundários contemplam as infor- social, realizando as atividades de ensino, de

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4.1 Da política e cultura institucionais Considerando as exigências prescri-

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atuação dos profissionais da informação. para essas organizações, sobretudo no que se

Quadro 1 – Identificação dos paradigmas que sustentam a biblioteca universitária

Paradigma Área do Conhecimento Identificação na Biblioteca - Justificativa

É bem verdade que as bibliotecas universitárias, principalmente, tendem a

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esforços mais amplos, principalmente sobre as mudanças que ocorrem na comuni-

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THE REDEFINITION OF THE UNIVERSITY LIBRARY IN THE LIGHT OF THE

Artigo recebido em 15/09/2017 e aceito para publicação em 09/12/2017

REFERÊNCIAS dence for clinical decisions. Ann Interna-

CARVALHO, I. C. L. A socialização do FERREIRA, L. S. Bibliotecas universitá-

CARVALHO, M. C. R. Apresentação. In: GIL, A. C. Como elaborar projetos de

Ci. Inf. Rev., Maceió, v. 4, n. 3, p. 40-57, set./dez. 2017 55

LE COADIC, Y.-F. A ciência da informa- vista Digital de Biblioteconomia e Ciên-

Ci. Inf. Rev., Maceió, v. 4, n. 3, p. 40-57, set./dez. 2017 56

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/ VIEIRA, D. C.; ARDIGO, J. D. Paradigmas

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