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Introdução à Análise Matemática 1

Luís António de Almeida Vieira

3 de Novembro de 2019
Prefácio
Este livro apresenta uma primeira abordagem dos conceitos teóricos de Análise Mate-
mática, e tem alguns exercícios resolvidos. Para fazer este livro inspirei-me nos livros
de Cálculo de Hamilton Guidorizzi volumes 1 e 2, de James Stuart e no primeiro
volume de cálculo de Sallas Saturnino. Trata-se de uma actualização das Noções de
Análise Matemática 1 publicadas por mim.

3
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

dedicatória
Dedico este livro a todos os meus alunos da Feup, e dos cursos de Minas e Ambiente,
e a toda a minha família especialmente à minha querida mãe.

Luís António de Almeida Vieira.


Universidade do Porto, Faculdade De Engenharia, Departamento de Engenharia Cívil,
Seção de Matemática.

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Conteúdo
Prefácio 3

1 Breves Conceitos Introdutórios 11


1.1 Definições Topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2 Funções Reais de Variável Real 17


2.1 Funções Reais de Variável Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3 Funções Elementares 19
3.1 Funções Polinomiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2 Funções Racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.1 Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.2 Desigualdades Importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2.2.1 Propriedades de um Triângulo Rectângulo . . . . . . 24
3.2.2.2 Propriedades num Triângulo Qualquer . . . . . . . . . 24
3.2.3 Algumas Operações Elementares Sobre Funções . . . . . . . . . 24
3.3 Gráfico de uma Função Real de Variável Real . . . . . . . . . . . . . . 25
3.3.0.1 Monotonia de uma função real de variável real . . . . 25
3.3.1 Inversa de uma Função Injectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.3.2 Algumas Propriedades Gráficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Funções Inversas das Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . . . 28
3.4.1 Função Exponencial de Base a > 0 e a 6= 1 . . . . . . . . . . . 32
3.4.2 Função Logaritmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4.3 Alguns limites Importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4.4 Funções Hiperbólicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4.5 Limite Segundo Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4.6 Revisões de Propriedades dos Limites . . . . . . . . . . . . . . 38
3.4.7 Definição de Limite Segundo Heine . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.5 Assimptotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.6 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.7 Diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.8 Recta Normal e Recta Tangente ao Gráfico de f num Ponto . . . . . . 48
3.9 Teorema de Bolzano, Weierstrass, Rolle e de Lagrange . . . . . . . . . 51
3.10 Dedução de algumas das Fórmulas de Derivação . . . . . . . . . . . . 61
3.10.1 Tabela das Derivadas em x . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.10.2 Tabela das Derivadas no Caso Geral . . . . . . . . . . . . . . . 68
7
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3.11 Estudo do Gráfico uma Função Real de Variável Real . . . . . . . . . 69


3.11.1 Regra de l’Hopital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.12 Indeterminações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.12.1 Indeterminções do Tipo 00 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

3.12.2 Indeterminações do tipo ∞ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.13 Indeterminação da Forma 0∞. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.13.1 Indeterminações do tipo 00 , 1∞ , ∞0 . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.14 Fórmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.14.1 Definição de função de classe C n e classe C ∞ . . . . . . . . . . 77
3.15 Fórmula de Taylor, Fórmula de MacLaurin . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.16 Diferencial de uma Função Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
3.16.1 Princípio de Indução Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.17 Classificação dos Pontos Críticos de uma Função . . . . . . . . . . . . 92

4 Integrais Definidos de Funções Limitadas 95


4.0.1 Definição de Soma Superior e Inferior de Darboux de uma Função 98
4.0.2 Definição de Soma Inferior e de Soma Superior de Darboux . . 99
4.0.3 Definição de Integral e de Integral Inferior . . . . . . . . . . . . 100
4.0.4 Definição de Função Integrável no Intervalo [a, b] . . . . . . . . 100
4.0.5 Critério para ver se uma função é integrável . . . . . . . . . . . 102
4.1 Continuidade duma Função Implica a sua Integrabilidade . . . . . . . 104
4.1.1 Propriedades das Funções Integráveis num Intervalo . . . . . . 105
4.2 Áreas de Figuras Planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
4.3 Integração, Integrais Indefinidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
4.3.1 Tabela de Primitivas Imediatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
4.4 Alguns Exercícios com Solução para Cálculo de Areas . . . . . . . . . 114
4.5 Exercícios sobre Primitivas Imediatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

5 Método de Substituição 117

6 Integração por Partes 121

7 Integração por partes Aplicada a Integrais Definidos 125

8 Integração por Substituição nos Integrais Definidos 127


8.1 Alguns Problemas sobre Integrais com Solução . . . . . . . . . . . . . 129
8.1.1 Problemas Sobre áreas de Figuras Planas . . . . . . . . . . . . 129
8.1.2 Problemas sobre Primitivas Directas . . . . . . . . . . . . . . . 129
8.1.3 Problemas sobre Integração por Partes . . . . . . . . . . . . . . 130
8.1.4 Problemas para o Método de Substituição . . . . . . . . . . . . 133

9 Utilizando Fórmulas de Recorrência 137


9.0.1 Problemas sobre Integrais Definidos . . . . . . . . . . . . . . . 138
9.1 Alguns Problemas para Desenvolver o Cálculo . . . . . . . . . . . . . . 140
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9.2 Fórmulas de Recorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141


9.3 Propriedades dos Polinómios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

10 Funções Racionais 147


10.1 Funções Racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
10.2 Integração de Funções Racionais Simples f (x) = (x−a)C
l . . . . . . . . . 148

10.3 Integração de Funções Racionais Simples f (x) = [(x−a) 2 +b2 ]r . . . . . . 149


Dx+E

10.4 Decomposição de uma Fração Racional Irredutível Própria . . . . . . . 150


10.5 Método dos Coeficientes Indeterminados . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
10.6 Método rápido para Determinar as Constantes Associadas às Raízes Reais153
10.7 Exercícios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
10.8 Revisões sobre o Método de Integração por Substituição e Por partes . 164
10.8.1 Integrais Definidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166

11 Exercícios de Revisão 169

12 Técnicas de Integração 177


R √
12.1 Integrais de Euler, do Tipo f (x, ax2 + bx + c)dx . . . . . . . . . . 177
R
13 Integrais Binomiais, do tipo xm (a + bxn )p dx 187

R   pq1   p2   pr
ax+b q2 ax+b qr
f (x, ax+b
)dx
1
14 Integrais da Forma cx+d , cx+d , · · · , cx+d 193
R
15 Integrais do tipo f (sen(x), cos(x))dx 197
R
15.1 Integrais do Tipo f (sen (x), cos (x))dx . . . . . . . . . . . . . . . . 198
2 2
R
15.2 Integrais do Tipo f (sen(x), cos(x))dx onde f é uma função ímpar em · · · .201
R √
16 Outro método para obter f (x, ax2 + bx + c)dx. 203

17 Sucessões 207
17.0.1 Princípio de Indução Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . 214

18 Séries de Números Reais 217


18.1 Fundamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
18.2 Séries de Termos Posítivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226
18.3 Séries de Termos Positivos e Negativos, não Necessáriamente Alternadas241

19 Aplicações 243
19.1 Comprimento de uma Curva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243
19.2 Área de uma Superfície de Revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 246
19.3 Centro de Gravidade de n Particulas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249

20 Centro de Gravidade de uma Região do Plano 251


20.0.1 Centro de Gravidade de uma Linha de Densidade Constante . 253
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20.1 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255


20.1.1 Comprimento de uma Curva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
20.1.2 Área de uma Superfície de Revolução . . . . . . . . . . . . . . 255
20.1.3 Centro de Gravidade de m Particulas . . . . . . . . . . . . . . 255
20.1.4 Centro de Gravidade de uma Região do Plano . . . . . . . . . 255
20.1.5 Centro de Gravidade de um Fio de Densidade Constante . . . . 256

21 Integrais Impróprios 257


21.1 Integrais Impróprios de Primeira Espécie . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
21.2 Integrais Impróprios de Segunda Espécie. . . . . . . . . . . . . . . . . 259
21.3 Definição de Área duma Região Ilimitada . . . . . . . . . . . . . . . . 261
21.4 Critérios de Comparação de Integrais Impróprios de Funções Positivas 264
21.4.1 Primeiro Critério de Comparação . . . . . . . . . . . . . . . . . 264
21.4.2 Segundo Critério de Comparação de Integrais Impróprios, Critério do Quociente266
21.5 Integrais Impróprios Mistos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270
21.6 Exercícios Resolvidos sobre Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271

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1 Breves Conceitos Introdutórios


Como vamos trabalhar essencialmente em Análise Matemática 1 práticamente só em R
vamos começar por descrever as propriedades dos números reais. Para tal, começamos
por introduzir a definição de corpo.
Diz-se que um conjunto K munido de duas aplicações + e ∗ de K × K em K, chamadas
de adição(+) e multiplicação ∗ respéctivamente, é um corpo se são verificas as 11
propriedades que passamos a descrever:
1. ∀x, y ∈ K, x + y ∈ K.
2. Associatividade ∀x, y, z ∈ K, (x + y) + z = x + (y + z).
3. Comutatividade ∀x, y ∈ K, x + y = y + x.
4. Existência de elemento neutro. ∃0 ∈ K∀x ∈ K, x + 0 = x
5. Existência de simétrico ∀x ∈ K, ∃x′ ∈ K : x + x′ = 0
6. ∀x, y ∈ K, x ∗ y ∈ K.
7. Associatividade do produto ∀x, y, z ∈ K, (x ∗ y) ∗ z = x ∗ (y ∗ z).
8. Comutatividade ∀x, y ∈ K, x ∗ y = y ∗ x.
9. Existência de elemento unidade ∃1 1 ∈ K∀x ∈ K \ {0}1 ∗ x = x.
10) Existência do inverso ∀x ∈ K \ {0}∃x−1 ∈ K, x ∗ x−1 = 1.
11. Distribuitividade do produto relativamente à soma ∀x, y, z ∈ K, x ∗ (y + z) =
x ∗ y + x ∗ z.
Ora como R verifica estas 11 propriedades então podemos dizer que R é um corpo.
Definição 1.1. O corpo K quando está munido de uma relação binária ≤ diz-se um
corpo totalmente ordenado pela relação ≤ se e só se, forem verificadas as propriedades
a)b)c) e d.
a) ∀x ∈ K, x ≤ x, ∀x ∈ K;(Refléxiva)
b) ∀x, y ∈ K, ((x ≤ y) ∧ (y ≤ x)) ⇒ x = y;(Anti-simétrica)
c) ∀x, y, z ∈ K, ((x ≤ y) ∧ (y ≤ z)) ⇒ (x ≤ z);(transitiva)
d) ∀x, y ∈ K, (x ≤ y) ∨ (y ≤ x);
Observação 1.1. Relembramos que em R verificam-se ainda as desigualdades:
a) ∀x, y, z ∈ R, (x ≤ y) ⇒ (x + z ≤ y + z);
b) ∀x, y, z ∈ R, ((x ≤ y) ∧ (0 ≤ z)) ⇒ (xz ≤ yz).
Observação 1.2. Sejam a e b números reais. Define-se o intervalo [a, b] como sendo
o conjuntos dos números reais que são maiores ou iguais que a e menores ou iguais
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que b. E portanto numa notação mais matemática, escrevemos [a, b] = {x ∈ R :


a ≤ x ≤ b}. Do mesmo modo definimos o intervalo ]a, b[, ]a, b], [a, b[ como se segue
]a, b[= {x ∈ R : a < x < b} ]a, b] = {x ∈ R : a < x ≤ b} e [a, b[= {x ∈ R : a ≤ x < b}.
Ainda temos de apresentar as notações para mais alguns intervalos, nomeadamente
[a, +∞[, ]a, +∞[, [−∞, b], ] − ∞, b[ e ] − ∞, +∞[ que se definem através das seguintes
igualdades.

[a, +∞[ = {x ∈ R : x ≥ a}
]a, +∞[ = {x ∈ R : x > a}
] − ∞, b] = {x ∈ R : x ≤ b}
] − ∞, b[ = {x ∈ R : x < b}
] − ∞, +∞[ = R.

Uma das necessidades de utilizar intervalos é quando necessitamos de resolver ine-


quações e muitas vezes essas inequações envolvem expressões com módulos. Por essa
razão introduzimos agora a definição de valor absoluto ou módulo de um número real.

Definição 1.2. Seja x um número real. Define-se o módulo de x, como sendo o


número real |x| definido através da seguinte igualdade

x, x ≥ 0,
|x| = .
−x, x < 0

Apresentamos de seguida algumas das propriedades que são utilizadas quer no secun-
dário quer na maior das unidades curriculares de Análise Matemática.
a) ∀x ∈ R, |x| ≥ 0;
b) ∀x, y ∈ R, |xy| = |x||y|;
c) ∀x, y ∈ R, |x + y| ≤ |x| + |y|;

d) ∀x ∈ R, ∀y ∈ R \ {0}, xy = |x|
|y| ;

e) ∀x, y ∈ R, ||x| − |y|| ≤ |x − y|.


Dados dois números reais a e b define-se a distância entre a e b como sendo o número
real d(a, b) = |a−b|. A noção de distância é muito importante para interpretar algumas
inequações com módulos. Assim, por exemplo o conjunto {x ∈ R : |x − a| < R} é
formado por aqueles números reais x que distam de a menos do que R, por essa razão
podemos escrever {x ∈ R : |x − a| < R} =]a − R, a + R[. Por sua vez, o conjunto
{x ∈ R : |x−a| > R} é formdo pelos números reais x que distam de a mais do que R e é
por essa razão que podemos escrever {x ∈ R : |x−a| > R} =]−∞, a−R[∪]a+R, +∞[.
Por último, vale apena dizer que {x ∈ R : |x + a| < R} = {x ∈ R : |x − (−a)| <
R} =] − a − R, −a + R[ e do mesmo modo tem-se {x ∈ R : |x + a| > R} = {x ∈ R :
|x − (−a)| < R} =] − ∞, −a − R[∪] − a + R, +∞[.
Terminamos aqui a breve justificação da utilização do conceito de distância entre
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dois números reais a e b dizendo que se nas inequações de módulos envolvidas nos
conjuntos apresentados envolvêssem ≤ o comentário seria análogo basta substituir
nas definições anteriores < por ≤ .
Agora precisamos de começar por introduzir novos conceitos como majorante, mino-
rante, conjunto majporado, conjunto minorado, conjunto limitado, supremo de um
conjunto e infimo de um conjunto, mínimo de um conjunto e máximo de um conjunto
estes conceitos são de máxima utilidade quando estivermos a definir o conceito de
função integrável num conjunto e no estudo ne máximos e mínimos absolutos de uma
função real num conjunto.
Estamos agora em condições de introduzir algumas notações topológicas em R. Assim,
vamos apresentar um conjunto de definições e exemplos.

1.1 Definições Topológicas


Definição 1.3. Bola abertaA bola aberta de raio ǫ centrada em a é o conjunto
B(a, ǫ) =]a − ǫ, a + ǫ[.

Definição 1.4. Ponto interior de um conjuntoSeja A um conjunto não vazio de


R. Diz-se que a é um ponto interior a A se e só se ∃ǫ > 0 tal que B(a, ǫ) ⊂ A.

Observação 1.3. O conjunto dos pontos interiores de A chama-se interior de A e



denota-se por1 A.

Exemplo 1.1. Por exemplo se A =]0, 1] então A =]0, 1[.

Definição 1.5. Ponto fronteiro de um conjuntoSeja A um conjunto não vazio


de R. Diz-se que a é um ponto fronteiro de A se e só se ∀ǫ > 0, B(a, ǫ) ∩ A 6= ∅ e
B(a, ǫ) ∩ R \ A 6= ∅.

Observação 1.4. O conjunto de todos os pontos fronteiros de um conjunto A designa-


se por fronteira de A e passamos a denotar fr(A).
1
Exemplo 1.2. Se A = {x ∈ R : ∃n ∈ N : x = n} então fr(A) = A ∪ {0}.

Definição 1.6. Ponto exterior de um conjuntoSeja A um conjunto não vazio de


R. a é um ponto exterior de A se e só se for um ponto interior ao complementar de
A.

Definição 1.7. O conjunto dos pontos exteriores a A chama-se exterior de A e


passamos a designar por ext(A).

Exemplo 1.3. Se A =]1, 2[ então ext(A) =] − ∞, 1[∪]2, +∞[.


1 Ou muitas vezes, por int(A)
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Definição 1.8. {Definição de conjunto aberto}Diz-se que um conjunto A é aberto se



e só se A = A.


Exemplo 1.4. Se A = [0, 1] então A nãoé aberto, pois A =]0, 1[6= A = [0, 1]. Mas,

se A =]0, 1[ então A é um conjunto aberto pois A =]0, 1[= A.

Definição 1.9. Aderência de um conjuntoSeja A um conjunto não vazio e a ∈ A.


Diz-se que um ponto a de R é um ponto aderente a A se e só se ∀ǫ > 0, B(a, ǫ)∩A 6= ∅.
O conjunto de pontos aderentes a A chama-se aderência de A e denota-se por A.

1
Exemplo 1.5. Considere-se o conjunto A = {x ∈ R : ∃n ∈ N : x = n }. Então 0 ∈ A

e A = A ∪ {0} e A = ∅.

Definição 1.10. {Conjunto fechado}Um conjunto A diz-se fechado se e só se A = A

Observação 1.5. Aqui em R vale apena,2 dizer que um conjunto é fechado se e só


se os pontos fronteira pertencerem ao conjunto e que um conjunto é aberto se e só se
os pontos fronteira não pertencerem ao conjunto.

Definição 1.11. Se A =]0, 1] então A não é fechado, pois A =]0, 1] 6= [0, 1] = A.

Definição 1.12. {Ponto de acumulação de um conjunto}Um ponto a diz-se um ponto


de acumulação de A se e só se ∀ǫ > 0, B(a, ǫ) ∩ A \ {a} 6= ∅. Ao conjunto dos pontos
de acumulação de A chama-se derivado de A e passamos a denotar por A′ .

Definição 1.13. Ponto isoladoDiz-se que a é um ponto isolado de A se e só se

∃ǫ ∈ R+ : B(a, ǫ) ∩ A \ {a} = ∅.

Observação 1.6. Precisamos, agora de introduzir os conceitos de conjunto minorado,


conjunto majorado, ínfimo de um conjunto, supremo de um conjunto máximo de um
conjunto, ínfimo de um conjunto e mínimo de um conjunto. Conceitos estes que são
utilizados por exemplo na prova do Teorema de Bolzano, e do Teorema que diz-se que
toda a função contínua num intervalo fechado [a, b] é limitada nesse intervalo.

Definição 1.14. {Conjunto majorado}Sejam A um subconjunto não vazio de R e M


um número real. Diz-se que M é um majorante de A se e só se ∀x ∈ A, x ≤ M. Se
existe um número real M tal que M é um majorante de A diz-se que A é majorado.

1
Exemplo 1.6. Por exemplo, o conjunto A = {x ∈ R : ∃n ∈ N : x = n} é um
conjunto majorado pois ∀x ∈ A, x ≤ 1.
2 Com a topologia em R induzida pela distância d definida por d(x, y) = |x − y|
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Definição 1.15. {Conjunto minorado}Sejam A um subconjunto de R não vazio e m


um número real. Diz-se que m é um minorante de A se e só se ∀x ∈ A, x ≥ m. Se
existe um número real m tal que m é um minorante de A diz-se que A é minorado.

Exemplo 1.7. O conjunto A =] − ∞, 0[ não é minorado, mas o conjunto A = [0, 1[


é, pois ∀x ∈ A, 0 ≤ x.

Definição 1.16. {Conjunto limitado}Seja A subconjunto não vazio de R. Diz-se que


A é limitado se e só se existe M > 0 tal que |x| < M, ∀x ∈ A.

Observação 1.7. É evidente, que dizer que um conjunto é limitado é equivalente a


dizer que ele é majorado e minorado.

Definição 1.17. {Definição de supremo e máximo de um conjunto}Sejam A um


subconjunto não vazio de R que é majorado e M um número real. Diz-se que M é o
supremo de A se e só se M for um majorante de A e M for o menor dos majorantes de
A. E escreve-se M = sup(A). Se sup(A) ∈ A então diz-se A tem máximo e escrevemos
max(A) = M.

Definição 1.18. {Definição de ínfimo e mínimo de um conjunto}Sejam A um sub-


conjunto não vazio de R que é minorado e m um número real. Diz-se que m é o
ínfimo de A se e só se m for um minorante de A e m for o maior dos minorantes de
A. E escreve-se m = inf(A). Se inf(A) ∈ A então diz-se A tem mínimo e escrevemos
min(A) = m.

Teorema 1.1. {Condição suficiente para um conjunto ter supremo e ínfimo}Todo o


conjunto majorado tem supremo e todo o conjunto minorado tem infímo.

Observação 1.8. Mas será natural introduzir uma maneira mais matemática de
definir supremo e ínfimo de um conjunto, o que será feito no próximo teorema.

Teorema 1.2. Seja A um subconjunto majorado não vazio de R. Então M é o su-


premo de A se e só se M é um majorante de A e ∀ǫ > 0, ∃x ∈ A : x > M − ǫ.

Teorema 1.3. Seja A um subconjunto minorado não vazio de R. Então m é o ínfimo


de A se e só se m é um minorante de A e ∀ǫ > 0, ∃x ∈ A : x < m + ǫ.

15
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

2 Funções Reais de Variável Real


Sejam X e Y dois conjuntos. Vamos agora introduzir o conceito de função de um
conjunto X num conjunto Y. Uma função f definida em X e tomando valores em
Y é uma aplicação que a cada elemento de X associa um único elemento de Y. Ao
conjunto X chama-se domínio de f. Se f é uma função de X em Y então o elemento
y ∈ Y que é associado a um elemento x ∈ X por f denota-se por f (x) e chama-se o
valor de f em x, ou a imagem de x por f. Os elementos x ∈ X e y ∈ Y chamam-se
variáveis, sendo x a variável independente e y a variável dependente. O conjuntos dos
valores de f , isto é Im f = {y ∈ Y : ∃x ∈ X : y = f (x)}, chama-se o contradomínio
de f ou a imagem de X por f.

2.1 Funções Reais de Variável Real


Definição 2.1. Sejam X e Y conjuntos e f uma função de X em Y. A função f
diz-se uma função real de variável real quando X ⊂ R e Y ⊂ R.

Relembramos novamente a definição de domínio e contradomínio de uma função real


de variável real.

Definição 2.2. Seja f uma função real de variável real. Chama-se domínio de uma
função real de variável real ao conjunto formado pelos números reais para os quais a
expressão analítica de f está bem definida.

Definição 2.3. Seja f uma função real de varíavel real. Chama-se contradomínio de
f ao conjunto dos valores reais que são imagem de algum número real do domínio de
f.

Exemplo 2.1. Assim, quando dizemos considere a função real de variável real f tal
que f (x) = x+1
x−1
, fica logo explicito que o domínio de f é D = {x ∈ R : x + 1 6= 0},
isto é que o domínio de f é D = R \ {−1}, pois o conjunto de valores reais onde
a expressão analítica de f toma significado são aqueles em que o denomidador da

fração x+1
x−1
é diferente de zero. Por sua vez, o domínio da função f (x) = x + 1 é
D = [−1, +∞[ porque o conjunto dos valores onde a raiz toma significado são aqueles
em que o radicando é não negativo. Mas muitas vez, para determinar o domínio de
uma função real de variável real temos de exigir que todas as expressões envolvidas
na expressa analítica da função tomem significado. Por exemplo se consideramos a
17
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função real de variável real f tal que f (x) = x + 1 + √1x então1 o domínio de f é o

conjunto D = {x ∈ R : (x + 1 ≥ 0) ∧ ( x 6= 0) ∧ (x ≥ 0)}. Logo D = {x ∈ R : (x + 1 ≥
0) ∧ (x > 0)}, ou seja D = {x ∈ R : (x ≥ −1) ∧ (x > 0)}. E portanto D =]0, +∞[.

Observação 2.1. Daqui para a frente, vamos designar o domínio de uma função real
de variável real ora D ora por Df.

Definição 2.4. {Gráfico de uma função}Se f é uma função real de variável real cujo
domínio é D então o gráfico de f é o conjunto Graf(f ) = {(x, f (x)) ∈ R2 : x ∈ D}.

Muitas vezes para desenhar o gráfico de uma função real de variável real temos de
recorrer a certos conceitos tais como o de a função ser par e da função ser ímpar.

Definição 2.5. Função ímparUma função real f de variável diz-se ímpar se e só


se f (x) = −f (−x), ∀x ∈ D.

Definição 2.6. Função parUma função f real de variável real diz-se par se e só se
f (x) = f (−x), ∀x ∈ D.

Agora passamos a introduzir os conceitos de função injectiva, sobrejectiva e de função


bijectiva e passamos a definir a inversa de uma função injectiva real de variável real.
Por último descrevemos a relação entre os gráficos f e f −1 . Daqui em diante nas várias
definições que se seguem D é o domínio da função f.

Definição 2.7. {Função injectiva} Seja f : D 7→ B. Diz-se que f é injectiva se e


só se ∀x, y ∈ D, (x 6= y) ⇒ (f (x) 6= f (y)).

Definição 2.8. Função sobrejectivaSeja f : D 7→ B. Então f diz-se sobrejectiva


se e só se ∀y ∈ B∃x ∈ D : y = f (x)

Definição 2.9. Função bijectivaSeja f : D 7→ B. Então f diz-se bijectiva se e só


se f for injectiva e sobrejectiva.

Teorema 2.1. Seja f : D ⊂ R 7→ B ⊂ R uma função bijectiva. Então o gráfico de


f −1 é o simétrico do gráfico de f relativamente à recta de equação y = x.

Demonstração. Seja (x, y) ∈ Graf(f ). Mas então

(x, y) ∈ Graf(f ) ⇔ y = f (x)


⇔ x = f −1 (y)
⇔ (y, x) ∈ Graf(f −1 )

1 Notem que sempre na expressão analítica de uma função real surge uma raiz então o radicando
tem de ser não negativo, por sua vez sempre que na expressão analítica de uma função surge uma
fração então o denominador dessa fração tem de ser não nulo
18
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3 Funções Elementares

3.1 Funções Polinomiais


Seja n um número natural, ai ∈ R for i = 0, · · · , n e an 6= 0. Uma função real de
variável real P tal que P (x) = an xn + an−1 xn−1 + · · · + a1 x + a0 , ∀x ∈ R diz-se
um polinómio de grau n. Se n = 0 então P (x) = a0 e o gráfico de P é uma recta
horizontal y = a0 . Se n = 1 então P (x) = a1 x + a0 então o gráfico de P é uma recta
cuja equação é y = a1 x + a0 , sendo esta recta paralela à recta y = a1 x e cortando o
eixo Oy no ponto (0, a0 ). Por último se P (x) = a2 x2 + a1 x + a0 então o gráfico de
P é uma parábola de equação y = a2 x2 + a1 x + a0 cujo eixo de simetria é um eixo
paralelo ao eixo Oy. Se a2 > 0 então a parábola é voltada para cima e o vértice desta
parábola é o ponto mais baixo do gráfico de f e se a2 < 0 então o gráfico de P é uma
parábola voltada para baixo e o vértice desta parábola é o ponto mais alto do gráfico
de P. Aqui vale apena recordar que se P (x) = ax2 + bx + c e △ = b2 − 4ac > 0 então
o gráfico de P intersecta o eixo Ox em dois pontos, se b2 − 4ac = 0 então o gráfico
de P é tangente ao eixo ox e por último se b2 − 4ac < 0 então o gráfico de P não
intersecta o eixo Ox.

3.2 Funções Racionais


Diz-se que uma função real de variável real f é uma função racional em x se e só se
P (x)
f (x) = Q(x) onde P e Q são polinómios e Q um polinómio diferente do polinómio
P (x)
nulo. Note-se que um polinómio é uma função racional pois P (x) = 1 .

3.2.1 Funções Trigonométricas


Aqui começamos por rever certos conhecimentos do secundário. Em primeiro lugar
relembramos na tabela abaixo a correspondência entre os graus e radianos de um
ângulo
Graus 0ž 300 450 600 900 1200 1350 1500 180ž 2700 3600
2π 3π 5π 3π
Radianos 0 π
6
π
4
π
3
π
2 3 4 6 π 2 2π

Vamos agora definir as funções trigonométricas. Considere-se o circúlo de raio 1


centrado na origem de um referencial ortonormado de R2 . Considere-se um ponto
P = (x, y) desse circulo com x 6= 0 e y 6= 0. Em seguida considere-se o ângulo α
19
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

positivo formado pela semi-recta OP com o semi-eixo positivo do eixo Ox. Então
definem-se as funções trigonométricas em α do seguinte modo:

sen(α) = y
cos(α) = x
y sen(α)
tg(α) = =
x cos(α)
x cos(α)
cotg(α) = =
y sen(α)
1 1
sec(α) = =
x cos(α)
1 1
cosec(α) = = .
y sen(α)

Aqui temos que antes de tudo, dizer quando é que as funções trigonométricas seno,
coseno, ......,cosecante estão definidas. O domínio do seno e do cosseno é R. O domínio
da tangente é o conjunto D = {x ∈ R : x 6= π2 + kπ, k ∈ Z}, o domínio da cotangente
é o conjunto D = {x ∈ R : x 6= kΠ, k ∈ Z} o domínio da secante é o conjunto
D = {x ∈ R : x 6= π2 + kπ, k ∈ Z} e por sua vez o domínio da cosecante é o conjunto
D = {x ∈ R : x 6= kπ, k ∈ Z}.

Note-se que o contradomínio do seno e do coseno é D′ = [−1, 1]. Por sua vez, o
contradomínio da tangente, cotangente é o conjunto d′ =]−∞, +∞[ e o contradomínio
da secante e da cosecante são ] − ∞, −1] ∪ [1, +∞[.
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Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

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Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Graus 0ž 300 450 600 900 1200 1350 1500 180ž 2700 3600
2π 3π 5π 3π
Radianos 0 π
6
π
4
π
3
π
2 3 4 6 π 2 2π
√ √ √ √
1 2.0 3.0 3.0 2.0 1
sen(θ) 0 2 1 0 −1 0
√ √2 2 2.0 2.0
√ 2.0√
3.0 2.0 1
cos(θ) 1 0 − 12 − 2.02.0 3.0
− 2.0 −1 0 1
√2 2 2.0
√ √ √
3.0 3.0
tg(θ) 0 3.0 1 3 s/S − 3.0 −1.0 − 3.0 0 s/S 0

3.2.2 Desigualdades Importantes


1) sen2 (θ) + cos2 (θ) = 1.0;
2) 1 + tg 2 (θ) = sec2 (θ);
3) 1 + cotg2 (θ) = cosec2 (θ);
4) sen(a + b) = sen(a) cos(b) + cos(a)sen(b);
5) sen(a − b) = sen(a) cos(b) − cos(a)sen(b);
6) cos(a + b) = cos(a) cos(b) − sen(a)sen(b);
7) cos(a − b) = cos(a) cos(b) + sen(a)sen(b);
8) sen(−θ) = −sen(θ);
9) cos(−θ) = cos(θ);
10) sen(2a) = 2sen(a) cos(a);
11) cos(2a) = cos2 (a) − sen2 (a);
1−cos(2θ
12) sen2 (θ) = 2.0 ;
1+cos(2θ)
13) cos2 (θ) = 2.0 ;
14) cos(p) + cos(q) = ....;
15) cos(p) − cos(q) = − − −;
16) sen(p) − sen(q) = ....;
23
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

17) sen(p) + sen(q) = ...

3.2.2.1 Propriedades de um Triângulo Rectângulo


cateto oposto
a) sen(θ) = hipótenusa ;
cateto adjacente
b) cos(θ) = hipotenusa ;
cateto oposto
c) tg(θ) = cateto adjacente ;
cateto adjacente
d) cotg(θ) = cateto oposto ;
hipótenusa
e) sec(θ) = cateto adjacente ;
hipótenusa .
f) cosec = cateto oposto

3.2.2.2 Propriedades num Triângulo Qualquer

i) Lei dos senos.


Sejam a, b e c os lados de um triângulo qualquer e A, B e C os ângulos que se
opoem a esses lados então senA
a = sinB
b = senC
c .
ii) Lei dos cosenos
a2 = b2 + c2 − 2bc cos(A)
b2 = a2 + c2 − 2ac cos(B)
c2 = a2 + b2 − 2ab cos(A)

3.2.3 Algumas Operações Elementares Sobre Funções


Apresentamos as operações elementares sobre funções, que passamos já a descrever.
Sejam f e g funções reais de variável real cujos domínios são respectivamente D1 e
D2 .
1) {Soma de Funções e Subtração de funções} f ± g é uma função real de variável
real tal que o domínio de f ∓ g é D = D1 ∩ D2 e (f ∓ g)(x) = f (x) ∓ g(x), ∀x ∈
D1 ∩ D2 .
2) {Produto de funções} f g é uma função cujo domínio é D = D1 ∩D2 e (f g)(x) =
f (x)g(x), ∀x ∈ D.
f
3) {Quociente de Funções} g é uma função cujo domínio é D = {x ∈ R : x ∈
f f (x)
D1 ∧ x ∈ D2 ∧ g(x) 6= 0}. g (x) = g(x) , ∀x ∈ D.
4) {Composição de funcões} g ◦ f é uma função real de variável real cujo domínio
é D = {x ∈ R : (x ∈ D1 ) ∧ (f (x) ∈ D2 )} e g ◦ f (x) = g(f (x)), ∀x ∈ D.
A função αf + βg tamém é uma função cujo domínio de αf + βg é D = D1 ∩ D2
e (αf + βg)(x) = αf (x) + βg(x), ∀x ∈ D1 ∩ D2 . Muitas vezes estas propriedades,
são úteis quando pretendemos desenhar gráficos de funções reais de variável real.
24
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Por exemplo para desenhar o gráfico g(x) = cf (x) desenha-se o gráfico de f (x) e
depois para desenhar o gráfico de g num ponto x multiplica-se f (x) por c. Assim,
por exemplo para desenhar o gráfico de g tal que g(x) = −f (x) faz-se uma simetria
do gráfico de f relativamente ao eixo Ox. Por exemplo para desenhar o gráfico de g
tal que g(x) = f (x) + c basta deslocar o gráfico de f c unidades para cima do eixo
Ox e paralelamente ao gráfico de f se c > 0 ou deslocar |c| unidades para baixo do
eixo Ox se c < 0. Por sua vez, se c é positivo para desenhar o gráfico de g tal que
g(x) = f (x − c) basta fazer uma translação do gráfico de f c unidades para a direita
e para desenhar o gráfico de g tal que g(x) = f (x + c) basta fazer uma translação do
gráfico de f c unidades para a esquerda. Apresentamos agora, alguns gráficos:

3.3 Gráfico de uma Função Real de Variável Real


3.3.0.1 Monotonia de uma função real de variável real

Seja f uma função real de variável real cujo domínio é o conjunto D. Então
i) f é uma função crescente em D se e só se ∀x, y ∈ D, x < y ⇒ f (x) ≤ f (y);
ii) f é uma função estritamente crescente em D se e só se ∀x, y ∈ D, x < y ⇒
f (x) < f (y);
iii) f é uma função decrescente em D se e só se ∀x, y ∈ D, x < y ⇒ f (x) ≥ f (y);
iv) f é uma função estritamente decrescente em D se ∀x, y ∈ D, x < y ⇒ f (x) >
f (y).
Definição 3.1. Uma função f diz-se monótona em D se é crescente ou decrescente.
Por sua vez, diz-se estritamente monótona em D se ela for estritamente crescente ou
25
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

estritamente decrescente em D.

Agora vamos introduzir as noções de máximo e mínimo local de uma função real de
variável real.
Definição 3.2. Sejam f uma função real de variável real cujo domínio é D e x0 ∈ D.
Se f (x) ≤ f (x0 ), ∀x ∈ D então diz-se que f (x0 ) é o valor máximo absoluto de f. E
x0 diz-se que é um ponto de máximo absoluto de f.
Definição 3.3. Sejam f uma função real de variável real cujo domínio é D e x0 ∈ D.
Se f (x) ≥ f (x0 ), ∀x ∈ D então diz-se que f (x0 ) é o valor mínimo absoluto de f. E
x0 diz-se que é um ponto de mínimo absoluto de f.

Mas mais para a frente precisamos do conceito de função real de variável real limitada,
que não é mais que uma função cujo contradomínio de f é majorado e minorado. Mas
fica melhor introduzir a definição que se segue.
Definição 3.4. {Função limitada num subconjunto do domínio} Seja f uma
função real de variável real cujo domínio é D. Diz-se que f é uma função limitada
em A ⊂ D se ∃L ∈ R+ ∀x ∈ A |f (x)| ≤ L.
Definição 3.5. {Definição de mínimo local de uma função} Sejam f uma
função real de variável real cujo domínio é D e x0 ∈ D. Diz-se que x0 é um ponto de
mínimo local(relativo) de f se existir δ > 0, ∀x ∈ Bδ (x0 ) ∩ D, f (x) ≥ f (x0 ).
Definição 3.6. {Definição de máximo local de uma função} Sejam f uma
função real de variável real cujo domínio é D e x0 ∈ D. Diz-se que x0 ∈ D é um
ponto de máximo local(relativo) de f se existir δ > 0, ∀x ∈ Bδ (x0 ) ∩ D, f (x) ≤ f (x0 ).
Definição 3.7. Função injetivaSeja f uma função real de variável real cujo domínio
é D. A função f diz-se injetiva se e só se ∀x, y ∈ D, (x 6= y) ⇒ (f (x) 6= f (y)) .

Observação 3.1. Muitas vezes utiliza-se uma outra definição de função injetiva
quando f é uma função real de variável real cujo domínio é D. Assim, diz-se que
f é injetiva se e só se ∀x, y ∈ D, (f (x) = f (y)) ⇒ (x = y) .

Para desenhar o gráfico de uma função f, muitas vezes, precisamos de saber qual é
o contradomínio de f e se o contradomínio de f coincide com o conjunto de chegada
função e esta última observação conduz-nos ao conceito de função sobrejectiva.
Definição 3.8. Definição de função sobrejectivaSeja f uma função real de variá-
vel real cujo domínio é D e o conjunto de chegada é E. A função f diz-se sobrejéctiva
se e só se o contradomínio de f coincide com E. Isto é f é sobrejéctiva se e só se
∀y ∈ E, ∃x ∈ D : f (x) = y.

Observação 3.2. Por sua vez, uma função real de variável real muitas vezes é in-
jectiva e sobrejectiva e nesse caso então ela diz-se bijectiva.
Definição 3.9. Definição de função bijectivaSeja f uma função real de variável
real. A função f diz-se bijectiva se e só se for injectiva e sobrejectiva.

26
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3.3.1 Inversa de uma Função Injectiva


Definição 3.10. Inversa de uma função real de variável realSejam f uma
função injetiva, Df o seu domínio, e CDf o seu contradomínio. Define-se a inversa
de f de CDf em Df como sendo a ùnica função g : CDf 7→ Df tal que g ◦ f (x) =
x∀x ∈ Df e f ◦ g(y) = y∀y ∈ CDf. E usa-se a notação g = f −1 .


Exemplo 3.1. Se considerarmos f e g tais que f (x) = x3 e g(x) = 3
x então
g = f −1 , pois para x ∈ R tem-se

f ◦ g(x) = p
f (g(x))) = f ( 3 (x))

= ( 3 x)3
=x

e
g ◦ f (x) =
g(f√(x))) = g(x3 )
= x3
3

= x.

3.3.2 Algumas Propriedades Gráficas


Observação 3.3. {Translação de f na direção do eixo Oy}
Seja c um número real posítivo. Então o gráfico de g tal que g(x) = f (x) + c, ∀x ∈ D
é obtido fazendo uma translação na direção do eixo Oy do gráfico de f de c unidades
para cima quando c > 0. Por sua vez, o gráfico de g tal que g(x) = f (x) − c, ∀x ∈ D
é obtido fazendo uma translação na direção do eixo Oy do gráfico de f para baixo
quando c > 0. de c unidades para baixo.

Observação 3.4. {Translação de f na direção do eixo Ox} O gráfico de g tal


que g(x) = f (x − c), ∀x ∈ D,com c > 0 obtém-se fazendo uma translação na direção
do eixo Ox para a direita de c unidades do gráfico de f quando c > 0.

Observação 3.5. {Translação na direção do eixo Ox} O gráfico de g tal que


g(x) = f (x + c), ∀x ∈ D, com c > 0, obtém-se fazendo uma translação na direção do
eixo Ox do gráfico de f para a esquerda de c unidades.

Observação 3.6. {Reflexão relativamente ao eixo Ox.} O gráfico de g tal que


g(x) = −f (x), ∀x ∈ D obtém-se do gráfico de f, fazendo uma simetria em relação ao
eixo Ox do gráfico de f.

Observação 3.7. {Reflexão relativamente ao eixo Oy} O gráfico de g tal que


g(x) = f (−x), ∀x ∈ D obtém-se do gráfico de f fazendo uma simetria deste relativa-
mente ao eixo Oy.
27
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Observação 3.8. {Expansão em relação ao eixo Oy} Seja c > 0. Se c > 1 o


gráfico de g tal que g(x) = cf (x), ∀x ∈ D obtém-se do gráfico de f afastando o gráfico
de f relativamente ao eixo Ox.

Observação 3.9. Contração em relação ao eixo OySe 0 < c < 1 então o gráfico
de g tal que g(x) = cf (x) obtém-se do gráfico de f aproximando o gráfico de f do
eixo Ox.

Observação 3.10. O gráfico de g tal que g(x) = f (cx) com c > 1 obtém-se do gráfico
de f contraindo o gráfico de f , isto é aproximando o gráfico de f do eixo Oy. Isto quer
dizer por exemplo para desenhar o gráfico de g tal que g(x) = sen(2x), ∀x ∈ R basta
desenhar o gráfico de f (x) = sen(x) e aproximá-lo do eixo Oy, passando o periodo
de g a ser π e portanto para desenhar g basta fazer o desenho do seno e e depois
dividir os valores particulares do seno por 2. E se 0 < c < 1 então o gráfico g tal que
g(x) = f (cx) obtém-se do gráfico de f afastando o gráfico de f do eixo Oy.

3.4 Funções Inversas das Funções Trigonométricas


Função inversa do seno restrito a [− π2 , π2 ].

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Função inversa do cosseno restrito ao intervalo [0, π].

29
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Função inversa da cotangente restrita ao intervalo ]0, π[.

30
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

intervalo [0, π] \ { π2 }.

Função inversa da secante restrita ao intervalo [−π/2, π/2] \ {0, }.

31
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Gráfico do arccosecx
Exercício 3.1. Faça o gráfico f (x) = cos2 (x) + sen(x).

Figura 3.1: Gráfico de f

Resolução 3.1.

3.4.1 Função Exponencial de Base a > 0 e a 6= 1

Figura 3.2: Gráfico de f (x) = ax com a > 0 ∧ a 6= 1

32
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 3.3: Gráfico de g(x) = loga (x) coma > 0 ∧ a 6= 1

3.4.2 Função Logaritmica


Definição 3.11. Seja a um número real posítivo com a > 0 e a 6= 1. Então define-se
loga (x) como sendo o número real y tal que ay = x, e escrevemos y = log[a](x).
Observação 3.11. {Algumas Propriedades} Considere-se a um número real tal
que a > 0 e a 6= 1. Então tem-se:
a) log[a](a) = 1;
b) log[a](1) = 0;
c) alog[a](u) = u;
d) au = eln(a)u .

Apresentamos algumas propriedades importantes dos logarítmos no próximo Teorema


3.1.
Teorema 3.1. Sejam x,y e a números reais positivos tais que x ∈]0, +∞[, y ∈]0, +∞[
e a ∈]0, +∞[\{1}. Então:
a) loga (xy) = loga (x) + loga (y);
 
b) loga xy = loga (x) − loga (y);
c) loga (xb ) = b loga (x);
loga (x)
d) logb (x) = loga (b) .

Demonstração.
a) Sejam u = loga (x) e v = loga (y). Mas então au = x e av = y. Mas então au av = xy.
Ou seja au+v = xy. Mas então loga (xy) = u + v, ou seja loga (xy) = loga (x) + loga (y).
u
b) Sejam u = loga (x) e v = loga (y). Mas então au = x e av = y. E portanto xy = aav ,
 
ou seja xy = au−v . Logo loga xy = u − v. Como u = loga (x) e v = loga (y). Então
 
mostramos que loga xy = loga (x) − loga (y).
33
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

c) Seja um u = loga (x) então au = x. Mas então (au )b = xb , ou seja abu = xb . Logo
loga (xb ) = bu. Como u = loga (u) então loga (xb ) = b loga (x).

d) Considere-se w = logb (x), u = loga (x) e v = loga (b). mas então bw = x, au = x e


av = b. (av )w = bw = x. E portanto avw = au . Mas então vw = u , ou seja w = uv .
Mas como w = logb (x) , u = loga (x) e v = loga (b) então logb (x) = loga (x)
log (b) . a

3.4.3 Alguns limites Importantes


Aqui nesta subseção lembramos alguns limites importantes
ax
a) a > 1, p ∈ R+ , limx→+∞ xp = +∞;
p
b) a > 1, p ∈ R+ , limx→+∞ axx = 0;
p
c) p ∈ R , a >
+
1, limx→+∞ logx (x) = +∞;
a

d) p ∈ R+ , a > 1, limx→+∞ logxap(x) = 0.


e) limx→0 senx
x = 1.

3.4.4 Funções Hiperbólicas


Nesta seção apresentamos a definição das funções hiperbólicas e algumas propriedades.

Definição 3.12. Definição da Funções hiperbólicasAs funções cosh, sinh,tanh,


cotgh,sech e cosech definem-se tal como se descreve de seguida.
ex +e−x
a) cosh(x) = 2 ;
x −x
b) sinh(x) = e −e 2 ;
sinh x
c) tgh(x) = cosh x;
d) cotghx = cosh
sinh x ;
x

1
e) sech(x) = cosh(x)
1
f) cosech(x) = sinh(x) .

Observação 3.12. Assim, como nas funções trigonométricas se verifica cos2 (x) +
sen2 (x) = 1 nas funções hiperbólicas tem-se cosh2 (x) − sinh2 (x) = 1. Com efeito,
tem-se:  x −x 2
cosh2 (x) − sinh2 (x) = e +e2
 x −x 2
e −e
− 2
2x
+2+e−2x e2x −2+e−2x
= e 2 − 4
= 44
= 1.

Exercício 3.2. Mostre que ∀x, y ∈ R, sinh(x + y) = sinh(x) cosh(y) + cosh(x) sinh(y).
Obtenha uma desigualdade semelhante para sinh(x − y).
34
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 3.2. Sugestão utilize a definição de sinh e de cosh .

Exercício 3.3. Mostre que ∀x, y ∈ R, cosh(x+y) = cosh(x) cosh(y)+sinh(x) sinh(y).

Resolução 3.3. Sugestão utilize a definição de sinh e de cosh .

Exercício 3.4. Mostre que sinh(2x) = 2 sinh(x) cosh(x) e que cosh2 (x) = cosh2 (x) +
sinh2 (x) e deduza então que cosh(2x)−1
2 = sinh2 (x).

Resolução 3.4. Sugestão utilize a definição de sinh e de cosh ..

Figura 3.4: Nesta figura apresentamos os gráficos das quatros funções hiperbólicas
sobrepostos

35
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3.4.5 Limite Segundo Cauchy


Definição 3.13. {limite segundo Cauchy limx→a f (x) = b}
Sejam f : Df ⊂ R 7→ R e a um ponto de acumulação de Df. Diz-se que b é o limite
de f no ponto a (ou quando x tende para a), e escreve-se limx→a f (x) = b, se e só se
∀ǫ > 0, ∃δ > 0 : x ∈ Df ∧ 0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) − b| < ǫ.

Definição 3.14. {Limite segundo Cauchy à direita limx→a+ f (x) = b}


Sejam f : Df ⊂ R 7→ R e a um ponto de acumulação de Df. Diz-se que b =
limx→a+ f (x) = b, se e só se

∀ǫ > 0∃δ > 0 : x ∈ Df ∧ a < x < a + δ ⇒ |f (x) − b| < ǫ.

Definição 3.15. {Limite segundo Cauchy à esquerda limx→a− f (x) = b}


Sejam f : Df ⊂ R → 7 R e a um ponto de acumulação de Df. Diz-se que b =
limx→a− f (x) = b, se e só se

∀ǫ > 0∃δ > 0 : x ∈ Df ∧ a − δ < x < a ⇒ |f (x) − b| < ǫ.

Figura 3.5: Ideia geométrica do conceito de limite à esquerda

Observação 3.13. Dizer que limx→a+ f (x) = limx→a− f (x) = b é equivalente a dizer
que limx→a f (x) = b

Teorema 3.2. {infinitésimo vezes função limitada dá infinitésimo}


Sejam, δ > 0, a ∈ R, f uma função limitada em 1 ]a − δ, a + δ[\{a} ⊂ Df, g uma
função de variável real tal que ]a − δ, a + δ[\{a} ⊂ Dg e limx→a g(x) = 0. Então
limx→a (f g)(x) = 0.

Demonstração. Sejam L ∈ R > 0 : |f (x)| ≤ L, ∀x ∈]a − δ, a + δ[\{a} δ1 tal que


δ1 < δ : 0 < |x − a| < δ1 ⇒ |g(x)| < Lǫ . Logo 0 < |x − a| < δ1 ⇒ |f (x)g(x)| ≤ L Lǫ = ǫ.
Logo limx→a (f g)(x) = 0.

Exemplo 3.2. limx→0 x3 senx = 0 pois |sen(x)| ≤ 1, ∀x ∈ R e limx→0 x3 = 0.

Definição 3.16. {limx→a f (x) = +∞}


Seja f : Df ⊂ R 7→ R e a um ponto de acumulação de Df. Diz-se que o limite de f
quando x tende para a é +∞ se e só se ∀M > 0∃δ > 0 : (x ∈ Df ∧ 0 < |x − a| < δ) ⇒
(f (x) > M ) e escreve-se limx→a f (x) = +∞.

1 Relembramos que f é limitada num conjunto A se e só se ∃M > 0 : |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ A


36
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 3.6: Ideia geométrica do conceito de limite quando x tende para a ser mais
infinito

Definição 3.17. {limx→a f (x) = −∞}


Seja f : Df ⊂ R 7→ R e a um ponto de acumulação de Df. Diz-se que o limite de f
quando x tende para a é −∞ se e só se ∀M < 0∃δ > 0 : (x ∈ Df ∧ 0 < |x − a| < δ) ⇒
(f (x) < M ) e escreve-se limx→a f (x) = −∞.

Figura 3.7: Ideia geométrica do conceito de limite quando x tende para a ser menos
infinito

Definição 3.18. { limx→+∞ f (x) = b} Seja f : Df ⊂ R 7→ R e suponhamos


que Df não é majorado. Diz-se que o limite de f quando x → +∞ é b se e só se
∀ǫ > 0∃M ∈ R+ : (x ∈ Df∧x > M ) ⇒ (|f (x)−b| < ǫ) e escreve-se limx→+∞ f (x) = b.

Figura 3.8: Ideia geométrica do conceito de limite quando x tende para +∞ ser um
número real

Definição 3.19. {limx→−∞ f (x) = b} Seja f : Df ⊂ R 7→ R e suponhamos que


Df não é minorado. Diz-se que o limite de f quando x → −∞ é b se e só se
∀ǫ > 0∃M ∈ R− : (x ∈ Df∧x < M ) ⇒ (|f (x)−b| < ǫ) e escreve-se limx→−∞ f (x) = b.

Definição 3.20. {limx→+∞ f (x) = +∞}


Sejam f : Df ⊂ R 7→ R e suponhamos que Df não é majorado. Então diz-se que
limx→+∞ f (x) = +∞ se e só se ∀M2 > 0∃M1 > 0 : (x ∈ Df∧x > M1 ) ⇒ (f (x) > M2 )
e que limx→+∞ f (x) = −∞ se e só se ∀M2 < 0∃M1 > 0 : (x ∈ Df ∧ x > M1 ) ⇒
(f (x) < M2 )−

Definição 3.21. a) limx→−∞ f (x) = +∞ ⇔ ∀M2 > 0∃M1 < 0 : (x ∈ Df ∧ x <


M1 ) ⇒ (f (x) > M2 ).
b) limx→−∞ f (x) = −∞ ⇔ ∀M2 < 0∃M1 < 0 : (x ∈ Df∧ x < M1 ) ⇒ (f (x) < M2 ).

Vamos agora traduzir geométricamente o caso limx→−∞ f (x) = −∞. Apresentamos


agora as definições de limx→a+ f (x) = +∞, limx→a+ f (x) = −∞, limx→a− f (x) =
+∞, limx→a− = −∞
37
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 3.9: Ideia geométrica do conceito de limite quando x tende para +∞ ser um
número real

Figura 3.10: Ideia geométrica do conceito de limite quando x tende para +∞ ser +∞

Definição 3.22. Seja f uma função real de variável real cujo domínio é Df e seja
a um ponto de acumulação de D então diz-se que limx→a+ f (x) = +∞ se e só se
∀M > 0∃δ > 0 : ((x ∈ Df ) ∧ (a < x < a + δ)) ⇒ (f (x) > M ). Por sua vez-se diz-se
que limx→a+ f (x) = −∞ se e só se ∀M < 0∃δ > 0 : ((x ∈ Df ) ∧ (a < x < a + δ)) ⇒
f (x) < M.

Do mesmo modo falamos das definições limx→a− f (x) = ±∞. Por essa razão apresen-
tamos as definições que se seguem

Definição 3.23. Seja f uma função real de variável real cujo domínio é Df e seja
a um ponto de acumulação de D então diz-se que limx→a− f (x) = +∞ se e só se
∀M > 0∃δ > 0 : (a − δ < x < a) ⇒ (f (x) > M ). Por sua vez-se diz-se que
limx→a− f (x) = −∞ se e só se ∀M < 0∃δ > 0 : ((x ∈ Df ) ∧ (a − δ < x < a)) ⇒
(f (x) < M ).

3.4.6 Revisões de Propriedades dos Limites

Teorema 3.3. Sejam f1 , f2 : D ⊂ R 7→ R, c ∈ R e a um ponto de acumulação de D.


Se limx→a f1 (x) = l1 e limx→a f2 (x) = l2 e c é um número real então:
a) limx→a cf1 (x) = cl1
b) limx→a [f1 (x) + f2 (x)] = l1 + l2 ;
c) limx→a [f1 (x) − f2 (x)] = l1 − l2
d) limx→a [f1 (x) ∗ f2 (x)] = l1 ∗ l2 ;
1 1
e) Se l1 6= 0 então limx→a f1 = l1 ;
(x)
f) Se l1 6= 0 então limx→a ff21 (x) = ll21 .

Demonstração. a) Com efeito se c = 0 é evidente que limx→a cf1 (x) = limx→a 0f1 (x) =
limx→a 0 = 0 e por sua vez c∗l1 = 0. Logo mostramos neste caso que limx→a cf1 (x) =
c ∗ l1 . Suponhamos agora que c 6= 0. Seja ǫ um número real positivo e seja D1 o
domínio de f1 e seja δ um número real positivo, tal que 0 < |x − a| < δ ∧ x ∈ D1
38
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 3.11: Ideia geométrica do conceito de limite quando x tende para −∞ ser +∞

Figura 3.12: Ideia geométrica do conceito de limite quando x tende para −∞ ser −∞

e tal que |f1 (x) − l1 | ≤ ǫ


|c| . Mas então para 0 < |x − a| < δ ∧ x ∈ D1 tem-se

|cf1 (x) − cl1 | = |c||f1 (x) − l1 |


ǫ
≤ |c| |c|
≤ ǫ.

Logo, mostramos que limx→a cf1 (x) = cl1 .


b) Sejam D1 e D2 domínios das funções f1 e f2 . Seja ǫ > 0 e δ1 e δ2 números
reais positivos tais que (x ∈ D1 ∩ D2 ) ∧ 0 < |x − a| < δ1 e |f1 (x) − l1 | < 2ǫ e
tais que (x ∈ D1 ∩ D2 ) ∧ 0 < |x − a| < δ2 e |f2 (x) − l2 | < 2ǫ . Mas então para
δ = min{δ1 , δ2 } tem-se
 ǫ ǫ
(x ∈ D1 ∩ D2 ∧ 0 < |x − a| < δ) ⇒ |f1 (x) − l1 | < ∧ |f2 (x) − l2 | <
2 2
Por sua vez, como
ǫ ǫ
|(f1 (x) + f2 (x)) − (l1 + l2 )| ≤ |f1 (x) − l1 | + |f2 (x) − l2 |(≤ + = ǫ)
2 2
então podemos concluir que se (x ∈ D1 ∩ D2 ) ∧ (0 < |x − a| < δ) então |f1 (x) +
f2 (x) − l1 + l2 | ≤ ǫ. Logo limx→a (f1 (x) + f2 (x)) = l1 + l2 .
c) Logo pela alínea b) e alínea a) tem-se

limx→a (f1 (x) − f2 (x)) = limx→a (f1 (x) + (−1)f2 (x)


= limx→a f1 (x) + limx→a (−1)f2 (x)
= l1 + (−1)l2
= l1 − l2 .

d) Para provar esta igualdade, nós vamos começar por fazer um pequeno truque.
Note-se que

|f1 (x)f2 (x) − l1 l2 | = |f1 (x)f2 (x) − f1 (x)l2 + f1 (x)l2 − L1 l2 | =

= |f1 (x)(f2 (x) − l2 )| + |(f1 (x) − l1 )l2 |


= |f1 (x)||f2 (x) − l2 )| + |f1 (x) − l1 ||l2 |
≤ |f1 (x)||f2 (x) − l2 | + |f1 (x) − l1 |(|l2 | + 2).
39
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Sejam D1 e D2 os domínios das funções f1 e f2 e seja δ1 > 0 tal que


 
ǫ
(x ∈ (D1 ∩ D2 ) ∧ 0 < |x − a| < δ1 )) ⇒ |f1 (x) − l1 | < ,
2(|l2 | + 2)

e portanto
 ǫ
(x ∈ (D1 ∩ D2 ) ∧ 0 < |x − a| < δ1 )) ⇒ |f1 (x) − l1 |(|l2 | + 2) < .
2
Por sua vez, seja δ2 > 0 tal que

x ∈ D1 ∩ D2 ∧ 0 < |x − a| < δ2 ⇒ |f1 (x) − l1 | < 1.

Mas então x ∈ D1 ∩ D2 ∧ 0 < |x − a| < δ2 então |f1 (x)| ≤ 1 + |l1 |. Finalmente


escolha-se δ3 > 0 e tal que δ3 < δ1 e δ3 < δ2 tal que |f2 (x) − l2 | ≤ 2(1+|l
ǫ
1 |)
.
E portanto |f2 (x) − l2 |(1 + |l1 |) ≤ 2 para x ∈ D1 ∧ D2 ∧ 0 < |x − a| < δ3
ǫ

Mas então para x ∈ D1 ∩ D2 ∧ 0 < |x − a| < δ3 temos que |f1 f2 − l1 l2 | ≤ ǫ


Logo como provamos que ∀ǫ > 0∃δ > 0 : (x ∈ D1 ∩ D2 ∧ 0 < |x − a| < δ) ⇒
|f1 (x)f2 (x) − l1 l2 | ≤ ǫ. então concluimos que limx→a f1 f2 = l1 l2 .
e) Em primeiro lugar note-se que

1 1 |l1 − f1 (x)|
| − |=
fx l1 |l1 | ∗ |f1 (x)|

1 1
= |l1 − f1 (x)| ∗
|l1 | |f1 (x)|
1
Seja ǫ > 0 e D1 o domínio de f1 . Como limx→a f1 (x) = l1 então escolha-se
|l1 |
δ1 > 0 tal que x ∈ D ∧ f1 (x) 6= 0 ∧ 0 < |x − a| < δ1 e tal que |f1 (x) − l1 | < 4 .
Mas então, tem-se
|l1 | = |l1 − f1 (x) + f1 (x)|
≤ |L1 − f1 (x)| + |f1 (x)|
≤ |L41 | + |f1 (x)|.
Mas, então para 0 < |x − a| < δ1 ∧ x ∈ D1 tem-se

l1
|f1 (x)| ≥ |L1 | − ,
4

ou seja |f1 (x)| ≥ 43 |l1 | e portanto para

x ∈ D1 ∧ 0 < |x − a| < δ1 |

tem-se
1 1 4
≤ .
||f1 (x)|| |l1 | 3

40
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Por sua vez escolha-se δ2 < δ1 tal que x ∈ D1 ∧ 0 < |x − a| < δ2 e

3 2
|f1 (x) − l1 | < |l1 | ǫ.
4
Mas então para x ∈ D1 ∧ 0 < |x − a| < δ2 tem-se

| f11(x) − 1
l1 | ≤ |l12 | 34 ǫ 43 |l11|2
≤ ǫ.

1 1
E portanto limx→a f1 (x) = l1 .
f) Pelo item c) e item d) tem-se
f1 (x) 1
limx→a f2 (x) = limx→a f1 (x) limx→a f2 (x) = l1 l12
= ll21 .

Teorema 3.4. {Enquadramento de limites}


Sejam a ∈ R, c ∈ R+ , f1 , f2 e f3 funções de variável real tais que f1 (x) ≤ f2 (x) ≤
f3 (x), ∀x ∈]a − c, a + c[\{a} ∩ D1 ∩ D2 onde D1 e D2 são os domínios de f1 e f2
respectivamente. Se limx→a f1 (x) = limx→a f3 (x) = l então limx→a f2 (x) = l.

Demonstração. Com efeito seja ǫ um número positivo e sejam δ1 , δ2 < c tais 0 <
|x − a| < δ1 ⇒ |f1 − l| ≤ ǫ e 0 < |x − a| < δ2 ⇒ |f3 − l| ≤ ǫ. Mas então considere-se
δ3 = min{δ1 , δ2 }. Então

0 < |x − a| < δ3 ⇒ |f1 (x) − l| ≤ ǫ

e
0 < |x − a| ≤ δ3 ⇒ |f3 (x) − l| < ǫ.
Logo, tem-se 0 < |x − a| < δ3 ⇒ (l − ǫ ≤ f1 ≤ l + ǫ) ∧ (l − ǫ ≤ f3 (x) ≤ l + ǫ) . Mas
então como f1 (x) ≤ f2 (x) ≤ f3 (x), ∀x ∈]a − δ3 , a + δ3 [ podemos concluir que 0 <
|x − a| < δ ⇒ |f2 (x) − l| < ǫ. Ou seja mostramos que limx→a f2 (x) = l.

Observação 3.14. Muitas vezes para provar que não existe limx→a f (x) de um modo
simples temos que utilizar uma outra definição de limx→a f (x) = b conhecida por
definição de Heine. Que passamos a introduzir na próxima.

3.4.7 Definição de Limite Segundo Heine


Definição 3.24. {Definição de limite segundo Heine}
Sejam f : Df ⊂ R 7→ R e a um ponto de acumulação de Df. Então limx→a f (x) = l
se e só se ∀(xn )n∈N : ((xn )n∈N → a ∧ (∀n ∈ N, xn ∈ Df)) ⇒ ((f (xn ))n∈N → b) .
41
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Exemplo 3.3. Vamos mostrar que não existe


 
1
lim sen .
x→0 x

Com efeito considerem-se as sucessões

1
xn = ,
π
2 + 2nπ
e
1
yn = 3π .
2 + 2nπ
Tem-se limn→+∞ xn = 0 e limn→+∞ yn = 0 e
 
1 π 
lim sen = lim sen + 2nπ = 1,
n→∞ xn n→∞ 2
   
1 3π
lim sen = lim sen + 2nπ = −1.
n→∞ yn n→∞ 2
1

Logo 6 ∃ limx→0 sen x .

Exercício 3.5. Determine os seguintes limites.


x3 −x
a) limx→0 x2 −x ;
b) limx→0 exp(sen(x));
1
c) limx→1+ (x−1)3 ; .
d) limx→+∞ (x3 − x2 − x − 1);
3 2
e) limx→−∞ x x−x
3 −1
−1
;
ln x
f) limx→+∞ x .

Resolução 3.5. Utilize um dos programas da wolfram da internet para obter os


limites.

Teorema 3.5. Teorema da unicidadeSejam f : Df ⊂ R 7→ R e a um ponto de


acumulação de Df. Então se existir limx→a f (x) então é único.

Teorema 3.6. Sejam f : Df ⊂ R 7→ R e a um ponto de acumulação de Df. Então


limx→a f (x) = b ⇔ limx→a |f (x) − b| = 0.

3.5 Assimptotas
Definição 3.25. {Verticais} Seja f : Df ⊂ R e a ∈ Df . Diz-se que a recta x = a
é uma assimptota vertical ao gráfico da função real de variável real f se e só se
limx→a+ f (x) = ±∞ ou limx→a− f (x) = ±∞.
42
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Definição 3.26. horizontais em +∞ e em −∞


Diz-se que a recta y = b é uma assimptota horizontal do gráfico de uma função real
de variável real f em +∞(−∞) se e só se limx→+∞ f (x) = b( limx→−∞ f (x) = b).

Definição 3.27. {Assimptotas oblíquas em +∞ e em −∞}


A recta y = mx+b é uma assimptota oblíqua ao gráfico de uma função real de variável
real f em +∞(−∞) se e só se limx→+∞ f (x) f (x)
x = m ∈ R(lim x→−∞ x = m ∈ R) e
limx→+∞ (f (x) − mx)(limx→−∞ (f (x) − mx)) = b ∈ R.

Observação 3.15. Assim, por exemplo se o domínio de uma função real de variável
real f é R então f tem uma assimptota oblíqua em+∞(−∞) se e só se limx→+∞ f (x) x =
m ∈ R(limx→−∞ f (x) x = m ∈ R) e lim x→+∞ (f (x) − mx) ∈ R(lim x→−∞ (f (x) − mx) ∈
R).

3.6 Continuidade
Definição 3.28. {Definição de Continuidade mum Ponto} Sejam f : D ⊂ R 7→ R e

a ∈ D. Diz-se que f é contínua no ponto a se e só se existir limx→a f (x) = f (a).

Definição 3.29. {Definição de continuidade à direita} Sejam f : D ⊂ R 7→ R e



a ∈ D. Diz-se que f é contínua à direita no ponto a se e só se existir limx→a+ f (x) =
f (a).

Definição 3.30. {Continuidade à esquerda} Sejam f : D ⊂ R 7→ R e a ∈ D. Diz-se
que f é contínua à esquerda no ponto a se e só se existir limx→a− f (x) = f (a).

Definição 3.31. {Definição de continuidade num conjunto} Sejam f : D ⊂ R 7→ R


e A ⊂ D. f diz-se contínua em A se e só se f for contínua em qualquer ponto de A.

Observação 3.16. Se f é contínua à esquerda e contínua à direita no ponto a então


f é contínua em a.

Teorema 3.7. Propriedades das funções contínuasSejam c um número real e



f, g : D ⊂ R 7→ R funções contínuas num ponto a ∈ D. Então f ± g, f ∗ g, cf são
funções contínuas em a. Se g(a) 6= 0 então fg é contínua em a.

Teorema 3.8. Composição de funções contínuasSejam f : D ⊂ R 7→ R, g : E ⊂



R 7→ R tais f (D) ⊂ E. Se f é contínua em a ∈ D e g contínua em f (a) então g ◦ f
é contínua em a.

43
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Demonstração. Tem-se

limx→a (g◦f )(x)−(g◦f


x−a
)(a)
= limx→a g(f (x))−g(f
x−a
(a))

= lim x → a g(ff(x))−g(f (a)) f (x)−f (a)


(x)−f (a) x−a
= lim x → a g(ff(x))−g(f (a))
(x)−f (a) lim x → a f (x)−f
x−a
(a)

= g ′ (f (a))f ′ (a).

Definição 3.32. Seja f : [a, b] ⊂ R 7→ R. f diz-se contínua em [a, b] se e só se f é


contínua em ]a.b[, f é contínua à esquerda no ponto a e f é contínua no ponto b à
direita.

Teorema 3.9. Teorema do sinal de uma função contínua perto de a Seja



f : D ⊂ R 7→ R uma função contínua em a ∈ A. Então
a) se f (a) > 0 então existe δ > 0, ∀x ∈ D, x ∈]a − δ, a + δ[⇒ f (x) > 0.
b) Se f (a) < 0 então existe δ > 0, ∀x ∈ D, x ∈]a − δ, a + δ[⇒ f (x) < 0.

Demonstração. a) Se f (a) > 0 então como f é contínua em a escolha-se δ > 0 tal


que (x ∈ D ∩ |x − a| < δ) ⇒ (|f (x) − f (a)| < f (a)). Logo,

(x ∈ D∩]a − δ, a + δ[) ⇒ 0 < f (x) < 2f (a).

Ou seja (x ∈ D∩]a − δ, a + δ[) ⇒ 0 < f (x).


b) Se f (a) < 0 então como f é contínua em a escolha-se δ > 0 tal que

|f (a)|
(x ∈ D ∧ |x − a| < δ) ⇒ |f (x) − f (a)| < .
2
Logo,

|f (a)| |f (a)|
(x ∈ D∩]a − δ, a + δ[) ⇒ f (a) − < f (x) < f (a) + .
2 2
Ou seja

f (a) f (a)
(x ∈ D∩]a − δ, a + δ[) ⇒ f (a) + < f (x) < f (a) − .
2 2
Assim
f (a)
(x ∈ D∩]a − δ, a + δ[) ⇒ f (x) < < 0.
2

Teorema 3.10. Se f é contínua em [a, b] então f é limitada em [a, b] Se f é


contínua em [a, b] então f é limitada em [a, b].
44
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Demonstração. Considere o conjunto C = {x : x ∈ [a, b]e f é limitada em[a, x]}. É


evidente que f é limitada em [a]. Logo o conjunto C é diferente do vazio e é majorado
por b. Considere-se M = sup{C}. Vamos mostrar que M = b. Suponhamos que
M < b, mas então como f é contínua no ponto M existe um ǫ tal que f é limitada em
[M − ǫ, M + ǫ] para algum ǫ tal que ǫ < b − M. Mas então f seria limitada em [a, M ]
e em [M, M + ǫ]. Mas então f seria limitada em [a, M + ǫ]. Mas então, sup(C) não
seria M absurdo. Logo M = b. Mas, por continuidade sabemos que existe ǫ > 0 com
ǫ < b − a tal que f é limitada em [b − ǫ, b]. Mas como f é limitada em [a, b − ǫ] então
f é limitada em [a, b].

Observação 3.17. Daqui em diante pressupomos que as funções f que apresentamos


abaixo são contínuas em qualquer ponto do seu domínio.
a) f (x) = sen(x), f (x) = cos(x), f (x) = tg(x), f (x) = cotg(x), f (x) = sec(x), cosec(x),
f (x) = arctg(x),arccot(x),arcsec(x),arccosec(x),arcsin(x),arccos(x) f (x) = exp(x),
f (x) = ax , a > 0,sinh(x),cosh(x),tanh(x),cotgh(x).
Pn
b) f (x) = k=0 ak xk , ak ∈ R, ∀0 ≤ k ≤ n com n ∈ N.
c) f (x) = loga (x), a > 0, a 6= 1.

3.7 Diferenciabilidade
Definição 3.33. Sejam f : D ⊂ R 7→ R e a um ponto interior a D. Chama-se
derivada de f no ponto a ao limite se existir limx→a f (x)−f
x−a
(a)
e f diz-se derivável
df
em a. Designa-se a derivada de f no ponto a por f (a) ou por dx

(a). Se o limite
f (x)−f (a)
limx→a x−a existir e for um número real então f diz-se diferenciável em a

Definição 3.34. Definição de função derivável e diferenciável num ponto


a fórmula dos h.Sejam f : D ⊂ R 7→ R e a um ponto interior a D. Chama-se
derivada de f no ponto a ao limite limh→0 f (a+h)−f
h
(a)
se existir e f diz-se deri-
df
vável em a. Designa-se a derivada de f no ponto a por f ′ (a) ou dx (a). Se existir
f (a+h)−f (a)
limh→0 h e for um número real então f diz-se diferenciável em a.

Definição 3.35. Definição de função derivável e diferenciável à direita num


ponto a
Sejam f : D ⊂ R 7→ R e a um ponto interior a D. f diz-se derivável à direita no ponto
a se e só se existir limh→0+ f (a+h)−f
h
(a)
. Caso tal limite exista chama-se derivada de
f à direita no ponto a a tal limite e escrevemos f ′ (a+ ) = limh→0+ f (a+h)−f h
(a)
. f
diz-se diferenciável à direita no ponto a se e só se o f (a ) for um número real e
′ +

escrevemos f ′ (a+ ) = limh→0+ f (a+h)−f


h
(a)
.

Definição 3.36. Definição de função diferenciável à esquerda num ponto


aSejam f : D ⊂ R 7→ R e a um ponto interior a D. f diz-se derivável à esquerda no
ponto a se e só se existir limh→0− f (a+h)−f
h
(a)
, e nesse caso a esse limite chamamos
45
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

f ′ (a− ) = limh→0− f (a+h)−f


h
(a)
. Se este limite for um número real então f diz-se
diferenciável à esquerda no ponto a e escrevemos f ′ (a− ) = limh→0− f (a+h)−f
h
(a)
.

Observação 3.18. Se f for diferenciável à esquerda e à direita no ponto a e f ′ (a+ ) =


f ′ (a− ) então f é diferenciável em a ef’(a podemos escrever f ′ (a) = f ′ (a+ ) = f ′ (a− ).

Observação 3.19. Note-se que uma função é diferenciável num ponto a então o
gráfico de f não apresenta um bico em a e f é contínua em a. Por essa razão sabemos
que f (x) = |x| não é diferenciável no ponto 0. Com efeito tem-se

limx→0+ f (x)−f
x−0
(0)

= limx→0+ |x|−|0|
x−a
= limx→0+ xx
= limx→0+ 1
=1

Logo f é derivável no ponto a à direira e temos f ′ (0+ ) = 1. Como f ′ (0+ ) ∈ R então


f é diferenciável à direita em 0. e como

limx→0− f (x)−f
x−0
(0)

|x|−|0|
= limx→0− x−a
= limx→0− −x x
= limx→0− (−1)
= −1.

então f é derivável à esquerda no ponto a. E como f ′ (0− ) ∈ R então f é diferenciável


á esquerda no ponto 0. Visto que f ′ (0+ ) = 1 6= −1 = f ′ (0− ) então f não é derivável
em 0 e portanto não é diferenciável em 0.

Observação 3.20. A função f (x) = x não é diferenciável em 0 à direita. Mas é
derivável à direita em 0. Com efeito tem-se
f (x)−f (0)
f ′ (0+ ) = lim
√x→0
+
x−0
x−0
= limx→0+ √x−0
= limx→0+ xx
= limx→0+ √1x
= 01+
= +∞.

Logo f é derivável em a à direita por que o limx→0+ f (x)−f


x−0
(0)
existe e ñão é diferen-
ciável à direita em 0 porque este limite não é um número real. Aqui vale apena dizer
que f é derivável à direita em 0 porque a recta tangente ao gráfico em (0, f (0)) está
bem definida, isto é existe, mas f não é diferenciável em 0 à direita, pois o declive
da recta tangente ao gráfico de f no ponto (0, f (0)) é +∞ e não um número real.
46
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Vamos apresentar mais um exemplo para que o conceito de derivável num ponto e
diferenciável num ponto fiquem bem percebidos. Considere-se por exemplo
 1
x sex>0
f (x) =
= 0 se x = 0

Vamos mostrar que f é derivável em 0, mas quef não é diferenciávelem 0. Temos que
1
x −0
f ′ (0+ ) = limx→0+ x−0
= limx→0+ x12
= 01+
= +∞
1
x −0
f ′ (0− ) = limx→0− x−0
= limx→0+ x12
= 01+
= +∞
Logo f é derivável em 0 pois existe f ′ (0) = f ′ (0+ ) = f ′ (0− ) = +∞. Mas f não é
diferenciável em 0 pois f ′ (0) 6∈ R. Vale apena dizer também que em geral para ver
se uma função f é diferenciável num ponto a quando a expressão analítica de f está
partida por ramos então em geral analisam-se as derivadas de f à esquerda e à direita
no ponto em estudo.

Teorema 3.11. Diferenciabilidade implica continuidadeSejam f : D ⊂ R 7→ R


e a um ponto interior a D. Se f é diferenciável em a então f é contínua em a.


Demonstração. Seja x ∈ A e suponhamos que f é diferenciável em a, logo f ′ (a) ∈ R.

f (x) − f (a)
f (x) − f (a) = (x − a)
x−a
Mas então aplicando limites a ambos os membros da igualdade anterior vem

f (x) − f (a)
lim (f (x) − f (a)) = lim lim (x − a)
x→a x→a x−a x→a

lim (f (x) − f (a)) = f ′ (a) lim (x − a)


x→a x→a

lim (f (x) − f (a)) = f ′ (a)0


x→a

lim f (x) = f (a),


x→a

Ou seja f é contínua em a.

Definição 3.37. {Diferencibilidade num conjunto A} Sejam f : Df ⊂ R 7→ R e


A ⊂ Df. Diz-se que f é diferenciável em A se e só se for diferenciável em cada ponto
47
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

de A.
Definição 3.38. Diferencibilidade num intervalo [a, b] ⊂ Df Sejam f : [a, b] ⊂ R 7→ R
e [a, b] ⊂ Df. Diz-se que f é diferenciável em [a, b] se e só se f for diferenciável em
]a, b[ e se f for diferenciável à direita no ponto a e se f for diferenciável à esquerda
no ponto b.

Observação 3.21. Pressupomos que são diferenciáveis todas as funções reais de va-
riável real dadas no secundário, mais as funções polinomiais e as funções hiperbólicas.

3.8 Recta Normal e Recta Tangente ao Gráfico de f


num Ponto
Definição 3.39. {Recta Tangente, Recta Normal}

Sejam f : Df ⊂ R 7→ R e a ∈ A. Se f é diferenciável em a então uma equação
da recta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a)) é y = f (a) + f ′ (a)(x − a). E
se f ′ (a) 6= 0 uma equação da recta normal ao gráfico de f no ponto (a, f (a)) é y =
f (a) − f ′1(a) (x − a). Se f ′ (a) = 0 então uma equação da recta tangente ao gráfico de
f no ponto (a, f (a)) é y = f (a) e uma equação da recta normal ao gráfico de f no
ponto (a, f (a)) é x = a.
Teorema 3.12. {Propriedades} Sejam f, g : D ⊂ R 7→ R funções diferenciáveis

f
no ponto a ∈ A então f ± g, f g são diferenciáveis em a. E se g(a) 6= 0 então g é
diferenciável em a. Tem-se ainda que
i) (f + g)′ (a) = f ′ (a) + g ′ (a)((f + g)′ (a) = f ′ (a) + g ′ (a));
ii) (f ∗ g)′ (a) = f ′ (a)g(a) + f (a)g ′ (a);
 ′ ′
(a)g′ (a)
iii) fg (a) = f (a)g(a)−f (g(a))2 .

Demonstração. Suponhamos que f é diferenciável em a e que g é diferenciável em a.


i)
limx→a ( (f +g)(x)−(f
x−a
+g)(a)
= limx→a f (x)−f (a)
x−a + limx→a g(x)−g(a)
x−a
= f (a) + g (a).
′ ′

Logo f + g é diferenciável em a e (f + g)′ (a) = f ′ (a) + g ′ (a);


ii)
limx→a f (x)g(x)−fx−a
(a)g(a)

= limx→a f (x)g(x)−f (x)g(a)+f x−a


(x)g(a)−f (a)g(a)

f (x)(g(x)−g(a))+(f (x)−f (a))g(a)


= limx→a x−a
= limx→a f (x) g(x)−g(a)
x−a + f (x)−f
x−a
(a)
g(a)
= limx→a f (x) limx→a x−a + limx→a f (x)−f
g(x)−g(a)
x−a
(a)
g(a)
= f (a)g ′ (a) + f ′ (a)g(a)
= f ′ (a)g(a) + f (a)g ′ (a).
48
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Logo f g é diferenciável em a e (f g)′ (a) = f ′ (a)g(a) + f (a)g ′ (a).


iii) Tem-se
f (x) f (a)
− g(a)
limx→a g(x)
x−a =
f (x)g(a)−g(x)f (a)

= limx→a g(x)g(a)
x−a =
f (x)g(a)−f (x)g(x)+f (x)g(x)−g(x)f (a)

= limx→a g(x)g(a)
x−a =
f (x)(g(a)−g(x))+(f (x)−f (a))g(a)
l
= limx→a x−a =
g(x)g(a)

= limx→a f (x) limx→a (g(a)−g(x)


x−a
1
g(x)g(a) + limx→a g(a)
f (x)−f (a)
x−a
1
g(x)g(a)
−(g(x)−g(a) 1 f (x)−f (a) 1
= limx→a f (x) limx→a x−a g(x)g(a) + g(a) limx→a x−a g(x)g(a)
′ ′
f (a)g(a)−f (a)g (a)
= g2 (a) .
 ′
f f f ′ (a)g(a)−f (a)g′ (a)
Donde g é diferenciável em a e g (a) = (g(a))2 .

Teorema 3.13. Teorema sobre diferenciablidade da composta, regra da com-


posição Sejam f : D ⊂ R 7→ R e a ∈ Int(D) g : E ⊂ R 7→ R, f (D) ⊂ E. Então se
f é diferenciável em a e g diferenciável em f (a) então g ◦ f é diferenciável em a. E
tem-se (g ◦ f )′ (a) = g ′ (f (a))f ′ (a).

Demonstração. Suponhamos que f é diferenciável em a e g édiferenciável em f (a).


Então:
(g ◦ f )(x) − (g ◦ f )(a)
(g ◦ f )′ (a) = lim
x→a x−a
(g(f (x)) − g(f (a))
= lim
x→a x−a
 
(g(f (x)) − g(f (a)) f (x) − f (a)
= lim
x→a f (x) − f (a) x−a
   
(g(f (x)) − g(f (a)) f (x) − f (a)
= lim lim
x→a f (x) − f (a) x→a x−a
= g ′ (f (a))f ′ (a).
Logo, mostramos que
(g ◦ f )′ (a) = g ′ (f (a))f ′ (a).

Teorema 3.14. Teorema da função inversaSejam I um intervalo aberto e f :


I 7→ R uma função estritamente monótona e contínua e f −1 : J = f (I) 7→ R a sua
inversa. Se f é diferenciável no ponto a e f ′ (a) 6= 0 então f −1 é diferenciável em
f (a) e (f −1 )′ (f (a)) = f ′1(a) .

49
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Demonstração. Suponhamos que f ′ (a) 6= 0. Seja x ∈ I. Então


 
f −1 (x) ◦ f (x) = x → (f −1 ◦ f )(x))′ = 1 .

Mas então pela regra da composta 3.13 tem-se:

1
(f −1 )′ (f (x))f ′ (x) = 1 ∧ f ′ (x) 6= 0 ⇔ (f −1 )′ (f (x)) = ∧ f ′ (x) 6= 0.
f ′ (x)

Assim, como f ′ (a) 6= 0 então

1
(f −1 )′ (f (a)) = .
f ′ (a)

Observação 3.22. {Regra de aplicação muito prática, para calcular as derivadas das
funções inversas das funções trigonométricas}

dy 1
= dx
dx dy

Vamos calcular a derivada do arctgx utilizando a regra de cálculo acima.

y = arctg(x), x = tg(y)

dy 1
= dx
dx dy

1 1
= =
1
cos2 y
1 + tg 2 y
1
= .
1 + x2
Observação 3.23. Vamos fazer mais um exemplo para que fiquem esclarecidos com
o método. Considere-se f tal que f (x) = arcsen(x) sendo a inversa da função f
a função g tal que g(x) = sen(x), x ∈] − π2 , π2 [. Assim, tem-se y = arcsen(x) e
x = sen(y). Donde
dy 1
dx = dx dy
1
= cos(y)
= √ 1 ,
1−sen2 (y)
Note-se quey ∈] − π2 , π2 [
1
= √1−x 2
.

Teorema 3.15. {a Ponto de Máximo local ou mínimo local implica f ′ (a) = 0 se a ∈ A
e f for diferenciável numa bola centrada em a } Sejam f uma função diferenciável num
50
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1


conjunto D e a ∈ D. Se a for um ponto de máximo local de f ou ponto de mínimo
local de f então f ′ (a) = 0.

Demonstração. Suponhamos que a é um ponto de máximo local de f e seja ǫ > 0 tal


que I =]a − ǫ, a + ǫ[⊂ D e tal que f (x) ≤ f (a), ∀x ∈]a − ǫ, a + ǫ[. E portanto para
x ∈ I tem-se f (x) − f (a) ≤ 0. Mas então

f (x) − f (a)
x ∈]a − ǫ, a + ǫ[∧x > a ⇒ ≤ 0,
x−a
pois x − a > 0. Assim,

f (x) − f (a)
f ′ (a+ ) = lim+ ≤ 0.
x→a x−a
Por sua vez
f (x) − f (a)
x ∈]a − ǫ, a + ǫ[∧x < a ⇒ ≥ 0.
x−a
Assim f ′ (a− ) = limx→a− f (x)−fx−a
(a)
≥ 0. Mas então f ′ (a) = f ′ (a+ ) ≤ 0 e f ′ (a) =
f ′ (a− ) ≥ 0. E portanto f ′ (a) = 0. Segundo caso a é um ponto de mínimo relativo de
f , repete-se o raciocínio. Logo f ′ (a) = 0.

Definição 3.40. Definição de ponto crítico de uma função real de variável


realSejam Df um aberto de R e f : Df ⊂ R 7→ R uma função diferenciável em Df

e a ∈ Df, a diz-se um ponto crítico de f se e só se a ∈ A e f ′ (a) = 0 ou se a é um
ponto fronteira de Df.

Observação 3.24. Note-se que se x é um extremo local de f e se forem verificadas as


condições do Teorema anterior f ′ (x) = 0. Mas se f ′ (x) = 0 não podemos concluir que
x éum extremo local de f. Por exemplo, se f (x) = x3 então f ′ (x) = 3x2 e f ′ (0) = 0
e no entanto 0 não é nem um ponto de máximo nem um ponto de mínimo local de f.

3.9 Teorema de Bolzano, Weierstrass, Rolle e de


Lagrange
Teorema 3.16. {Teorema de Bolzano, Teorema dos valores intermédios } Seja f
uma função contínua em [a, b] e f (a) 6= f (b) então f assume todos os valores entre
f (a) e f (b).

Demonstração. Vamos provar em primeiro lugar que se f é contínua em [a, b] e se


(f (a) < 0 < f (b)) ∨ (f (b) < 0 < f (a)) então existe c ∈]a, b[ tal que f (c) = 0.
Suponhamos então que f é contínua em [a, b] e f (a) < 0 < f (b).(se f (a) > 0 > f (b)
procedia-se de um modo idêntico) Como f (a) < 0 então existe um c > a tal que
51
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

f (x) < 0, ∀x ∈ [a, c[. Seja M = sup{c : f (x) < 0, ∀x ∈ [a, c[}. É evidente que M ≤ b.
Não pode acontecer que f (M ) > 0 pois nesse caso f seria positiva em algum intervalo
à esquerda de M e sabemos que à esquerda de M f é negativa. Por sua vez, do mesmo
modo concluimos que M < b. Por sua vez não podemos ter f (M ) < 0, pois nesse
caso existiria um intervalo [M, t[ com t > M no qual f seria negativa o que contradiria
a definição de M. Logo f (M ) = 0. O caso de f (a) > 0 > f (b) procediriamos do
mesmo considerando M = sup{c : f (x) < 0, ∀x ∈]c, b]} e chegariamos à conclusão
que f (M ) = 0. Suponhamos agora que f é contínua em [a, b] e K é um número
real tal que f (a) < K < f (b)(o outro caso pode ser tratado do mesmo modo) e
mostremos que existe c ∈]a, b[ tal que f (c) = K. Mas então considere-se a função g
tal que g(x) = f (x) − K que é contínua em [a, b] e tem-se g(a) = f (a) − K < 0 e
g(b) = f (b) − K > 0. Mas então existe c ∈]a, b[ tal que g(c) = 0, ou seja tal que
f (c) = K.

Figura 3.13: Ideia geométrica do Teorema de Bolzano

Corolário 3.9.1. Corolário do Teorema de BolzanoSeja f uma função contínua


em [a, b] tal que f (a)f (b) < o. Então existe c ∈]a, b[ tal que f (c) = 0.

Figura 3.14: Ideia geométrica do corolário Teorema de Bolzano

52
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Exemplo 3.4. Considere f (x) = x3 − x2 + x. Mostre que existe c ∈]0, 3[ tal que
f (c) = 10. Vamos analisar f no intervalo [0, 3]. f (0) = 0 e f (3) = 21. Como f é
contínua em [0, 3] então pelo Teorema de Bolzano f assume todos os valores entre 0
e 21 e portanto existe c ∈]0, 3[ tal que f (c) = 10.

Teorema 3.17. Teorema de WeierstrassSe f é uma função contínua definida


num intervalo [a, b] com a < b e a, b ∈ R então f atinge um valor máximo absoluto e
um valor mínimo absoluto em [a, b].

Demonstração. Como f é contínua em [a, b] então pelo Teorema 3.10 podemos concluir
que f é limitada em [a, b]. Considere-se M = sup{f (x) : x ∈ [a, b]}. Precisamos
de mostrar que ∃xM ∈ [a, b] tal que f (xM ) = M. Para provar que isso acontece,
1
considere-se a função g(x) = M−f (x) . Senão existisse nenhum xM ∈]a.b[ tal que
f (xM ) = M ,então g seria uma função contínua em [a, b] e pelo Teorema anterior g
seria uma função limitada em [a, b]. Mas pela definição da função g é evidente que
ela não pode ser limitada em [a, b]. Logo f assume o valor M em [a, b],isto é existe
xM ∈ [a, b] : f (xM ) = M. Considere-se m = inf{f (x) : x ∈ [a, b]}. Para provar que f
1
atinge o minimo valor absoluto m em [a, b]. Consideramos a função g(x) = f (x)−m .
Mas então g seria contínua em [a, b] e portanto seria limitada em [a, b], mas tal seria
um absurdo. Logo existe xm ∈]a, b[: f (xm ) = m.

Figura 3.15: Ideia geométrica do Teorema de Weierstraas

53
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Teorema 3.18. Teorema de RolleSeja f uma função contínua num intervalo [a, b]
e diferenciável no intervalo aberto ]a, b[(a < b). Se f (a) = f (b) então existe c ∈]a, b[
tal que f ′ (c) = 0.

Demonstração. Esta prova baseia-se no Teorema de Weierstrass. Se f é contínua em


[a, b] então pelo Teorema de Weierstrass podemos concluir que f atinge um valor
mínimo absoluto me um válor máximo absoluto M em [a, b]. Seja xm ∈ [a, b] com
f (xm ) = m e seja xM um ponto tal que xM ∈ [a, b] e f (xM ) = M. Mas então temos
dois casos:
a) Primeiro caso m = M.
Mas então f é constante é constante em ]a, b[. .
Como f (x) = m, ∀x ∈ [a, b] então f ′ (x) = 0, ∀x ∈]a, b[. Logo, neste caso esco-
2 e tem-se f (c) = f ( 2 ) = 0.
lhemos c = a+b ′ ′ a+b

b) Segundo caso: que m 6= M. Mas neste caso ou xm ∈]a, b[ ou xM ∈]a, b[, pois
f (a) = f (b). Se xm ∈]a, b[ então escolhemos 2
c = xm e temos f ′ (c) = 0. Se xM ∈]a, b[ então escolhemos c = xM e temos
f ′ (c) = 0.

Figura 3.16: Ideia geométrica do Teorema de Rolle

2 Como xm é um ponto de mínimo local de f então pelo Teorema 3.15 temos f ′ (xm ) = 0
54
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Exercício 3.6. Mostre que a função f tal que f (x) = 2x3 − 3x2 + 4 não tem dois
zeros no intervalo ]2, +∞[.

Resolução 3.6. Notem que se x1 e x2 com x1 < x2 fossem dois zeros de f em ]2, +∞[
então f (x1 ) = f (x2 ). Mas como f é uma função contínua em [x1 , x2 ] ⊂]2, +∞[,
pois f é uma função polinomial, e como f é diferenciável em ]x1 , x2 [, pois f é uma
função polinomial então pelo Teorema de Rolle existiria um ponto c ∈]x1 , x2 [⊂]2, +∞[
tal que f ′ (c) = 0, e portanto existiria um ponto c ∈]2, ∞[ tal que f ′ (c) = 0. Mas
f ′ (x) = 6x2 − 6x. E portanto (f ′ (x) = 0) ⇔ (x2 − x = 0) ⇔ (x(x − 1) = 0) ⇔ ((x =
0) ∨ (x = 1)). Mas então os zeros de f’ são zero e um, e portanto f’ não se anula em
]2, +∞[. Logo a função f não tem dois zeros ]2, +∞[.

Teorema 3.19. Teorema de LagrangeSeja f uma função real de variável real contínua
em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Então existe c ∈]a, b[ tal que f ′ (c) = f (b)−f
b−a
(a)

Demonstração. Arranja-se uma função auxiliar g que verifica as condições


do Teorema de Rolle Considere-se a função
3

g de [a, b] em R tal que:

f (b) − f (a)
g(x) = f (x) − f (a) − (x − a).
b−a

Logo g é contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Logo para que g verifique as
condições do Teorema de Rolle falta mostrar que g(a) = g(b). É evidente que g(a) = 0
e
g(b) = f (b) − f (a) − f (b)−f
b−a
(a)
(b − a)
= f (b) − f (a) − (f (b) − f (a))
= 0.
Logo pelo Teorema de Rolle ∃c ∈]a, b[ tal que g ′ (c) = 0. Mas, como

f (b) − f (a)
g ′ (x) = f ′ (x) −
b−a
f (b)−f (a)
então ∃c ∈]a, b[ tal que f ′ (c) − b−a = 0, ou seja tal que

f (b) − f (a)
f ′ (c) = .
b−a
3 Notem que a ideia da demonstração consiste em construir uma função g auxiliar tal que g em
a e b tome o mesmo valor zero. Mas então a ideia para construir tal função consiste em dois
passos:Primeiro determinamos uma função h tal que h(a) = f (a) e tal que h(b) = f (b). Segundo
consideramos a função g(x) = f (x) − h(x). Determine-se a expressão analítica da função h que é
f (b)−f (a)
o gráfico da recta secante que passa por (a, f (a)) e por (b, f (b)). h(x) − f (a) = b−a
(x − a),
f (b)−f (a)
ou seja h(x) = f (a) + b−a
(x − a). Notem que neste caso h(a) = f (a) e h(b) = f (b) .E
f (b)−f (a)
portanto g(x) = f (x) − f (a) − b−a
(x − a).
55
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 3.17: Interpretação do Teorema de Lagrange

Observação 3.25. Não podemos deixar de lembra que o teorema de Lagrange afirma
que se tivermos uma função contínua no intervalo [a, b] e diferenciável no intervalo
aberto ]a, b[, então existe um valor c tal que c ∈]a, b[ tal que a recta tangente ao gráfico
de f no ponto (c, f (c)) tem o mesmo declive que a recta secante que une os pontos
(a, f (a)) e (b, f (b)).

56
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Exercício 3.7. Mostre que x > 0 ⇒ ex > 1 + x.

Resolução 3.7. Seja x um número real tal que x > 0. Notem que ((ex > 1+x)∧(x >
x 
0)) ⇔ ( e x−1 > 1) ∧ x > 0 Assim, considere-se f tal que f (u) = eu , ∀u ∈ [0, x].
Como f é a função exponencial então f é contínua em [0, x] e diferenciável em ]0, x[.
Mas então pelo Teorema de Lagrange tem-se f (x)−f
x−0
(0)
= ec com c ∈]0, x[. Como ec > 1
para c ∈]0, x[ então tem-se f (x)−f
x−0
(0)
> 1 para x > 0. Mas como f (x) = ex ∧ e0 = 1
x
−1
então ex−0 > 1, e portanto ex − 1 > x, ou seja ex > x + 1.

Teorema 3.20. Teorema do CrescimentoSeja f uma função contínua em [a, b] e


diferenciável em ]a, b[. Então
i) f ′ (x) > 0, ∀x ∈]a, b[⇒ f é estritamente crescente em [a, b];
ii) f ′ (x) < 0, ∀x ∈]a, b[⇒ f é estritamente decrescente em [a, b];
iii) f ′ (x) = 0, ∀x ∈]a, b[⇔ f é constante em [a, b];
iv) f ′ (x) ≥ 0, ∀x ∈]a, b[⇒ f é crescente em [a, b];
v) f ′ (x) ≤ 0, ∀x ∈]a, b[⇒ f é decrescente em [a, b];
vi) f é crescente em [a, b] ⇒ f ′ (x) ≥ 0, ∀x ∈]a, b[;
vii) f é decrescente em [a, b] ⇒ f ′ (x) ≤ 0, ∀x ∈]a, b[.

Demonstração. {Esboço de prova, baseia-se no Teorema de Lagrange }


i) Suponhamos que f ′ (u) > 0, ∀u ∈]a, b[. Sejam x, y ∈ [a, b] tal que x < y. Então
pelo Teorema de Lagrange tem-se f (y)−f
y−x
(x)
= f ′ (c), c ∈]x, y[. Mas então como
f (c) > 0 ∧ y > x podemos concluir que f (y) > f (x). Logo provamos que f é

estritamente crescente em [a, b].


ii) Suponhamos que f ′ (u) < 0, ∀u ∈]a, b[. Sejam x, y ∈ [a, b] tal que x < y. Então
pelo Teorema de Lagrange tem-se f (y)−f
y−x
(x)
= f ′ (c), c ∈]x, y[. Mas então como
f (c) < 0 ∧ y > x podemos concluir que f (x) > f (y). Logo provamos que f é

estritamente decrescente em [a, b].


iii) Suponhamos agora que f ′ (u) = 0, ∀u ∈]a, b[. Seja d ∈]a, b[ e x, ∈ [a, b] tal que x 6=
d. Então pelo Teorema de Lagrange tem-se f (x)−f
x−d
(d)
= f ′ (c), c ∈]a, b[∧f ′ (c) = 0.
Logo f (x) = f (d), ∀x ∈ [a, b]. Logo f é constante em [a, b].É evidente que se f
é constante em [a, b] então f ′ (x) = 0.
iv) Suponhamos então que f ′ (u) ≥ 0, ∀u ∈]a, b[. Sejam x, y ∈ [a, b] com x < y. Mas
então pelo Teorema de Lagrange temos f (y)−fy−x
(x)
= f ′ (c), c ∈]a, b[, ∧f ′ (c) ≥ 0.
Mas como y − x > 0 então f (y) − f (x) ≥ 0. E portanto f (x) ≤ f (y), ou seja f é
crescente.
v) Suponhamos então que f ′ (u) ≤ 0, ∀u ∈]a, b[. Sejam x, y ∈ [a, b] com x < y. Mas
então pelo Teorema de Lagrange temos f (y)−fy−x
(x)
= f ′ (c), c ∈]a, b[, ∧f ′ (c) ≤ 0.
Mas como y − x > 0 então f (y) − f (x) ≤ 0. E portanto f (x) ≥ f (y), ou seja f é
decrescente.
57
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

vi) Seja x ∈]a, b[. Se f é crescente em [a, b] então podemos afirmar que f (y)−f
y−x
(x)

0, ∀y ∈ [a, b], y > x. Mas então f (x ) ≥ 0. Logo f (x) ≥ 0, ∀x ∈]a, b[. Ana-
′ + ′

lisemos agora o que se passa para x = b. Como f (x)−f x−b


(b)
≥ 0, ∀x < b então
f (x)−f (a)
f ′ (b− ) ≥ 0. Se x = a então como x−a ≥ 0, ∀x > a ∧ x ∈ [a.b] então
f ′ (a+ ) ≥ 0.
vii) Seja x ∈]a, b[. Se f é de decrescente em [a, b] então podemos afirmar que
f (y)−f (x)
y−x ≤ 0, ∀y ∈ [a, b], y > x. Mas então f ′ (x+ ) ≤ 0. Logo f ′ (x) ≤ 0, ∀x ∈
f (x)−f (b)
]a, b[. Analisemos agora o que se passa para x = b. Como x−b ≥ 0, ∀x < b
f (x)−f (a)
então f ′ (b− ) ≤ 0. Se x = a então como x−a ≤ 0, ∀x > a ∧ x ∈ [a.b] então
f ′ (a+ ) ≤ 0.

Definição 3.41. Definição de segunda derivada e derivada de ordem nChama-


se segunda derivada de uma função f de D em R ou derivada de ordem 2 de f à função
derivada de f ′ de D em R que denotamos por f ′′ tal que f ′′ (x) = (f ′ (x))′ . Vamos
passar a usar a notação f (0) = f, f (1) = f ′ , f (2) = f ′′ . e do modo geral define-se a de-
rivada de ordem n, sendo n um número natural, de f como sendo a função f (n) de D
em R por recorrência, isto é através das seguintes relações f (j) (x) = (f (j−1) (x))′ , ∀j ∈
N, 1 ≤ j ≤ n e por definição f (0) (x) = f (x).

Teorema 3.21. {Definição de concavidade voltada para cima e concavidade voltada


para baixo} Seja f uma função diferenciável num intervalo aberto I =]a, b[. Diz-se
que o gráfico de f tem concavidade voltada para cima em I se e só se f ′ é crescente
em I. Diz-se que o gráfico de f tem concavidade voltada para baixo em I se e só se f ′
é decrescente em I.

Teorema 3.22. {Concavidade para cima f (2) (x) > 0, x ∈ I, concavidade voltada
para baixo f (2) (x) < 0, x ∈ I} Seja f :]a, b[7→ R. Se f (2) (x) > 0, ∀x ∈]a, b[ então f
tem concavidade voltada para cima em ]a, b[. Se f (2) (x) < 0, ∀x ∈]a, b[ então f tem
concavidade voltada para baixo em ]a, b[.

Demonstração. Suponhamos que f (2) (x) > 0, ∀x ∈]a, b[. Sejam u, v ∈]a, b[ tal que u <
v. Como f (1) é contínua em [u, v] pois [u, v] ⊂ I e diferenciável em ]u, v[, pois ]u, v[⊂ I,
(1) (1)
então pelo Teorema de Lagrange tem-se f (v)−fv−u
(u)
= f (2) (c) > 0, c ∈]u, v[. Como
v − u > 0 então f (u) < f (v). Mas então f
(1) (1) (1)
é crescente em ]a, b[ e portanto f
tem concavidade voltada para cima em ]a, b[.
Suponhamos que f (2) (x) < 0, ∀x ∈]a, b[. Sejam u, v ∈]a, b[ tal que u < v. Como f (1)
é contínua em [u, v] e diferenciável em ]u, v[, pois ]u, v[⊂ I, então pelo Teorema de
(1) (1)
Lagrange podemos concluir que ∃c ∈]u, v[ tal que f (v)−f v−u
(u)
= f (2) (c) < 0. Mas
como v − u > 0 então f (1) (v) − f (1) (u) < 0. Logo f (1) (v) < f (1) (u) e portanto f (1) é
decrescente em ]a, b[, logo f tem concavidade voltada para baixo em ]a, b[.
58
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Apresenta-se de seguida dois gráficos para tentar explicar geométricamente os concei-


tos de concavidade dum gráfico de uma função f voltada para baixo e de concavidade
de um gráfico de uma função f voltado para cima.

59
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 3.18: Interpretação geométrica do conceito de concavidade

Figura 3.19: Interpretação geométrica do conceito de concavidade

60
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Definição 3.42. Seja f : [a, b] 7→ R e tal que f (2) está definida em ]a, b[. Um ponto
c ∈]a, b[ tal que f (2) (c) = 0 e a segunda derivada muda de sinal na vizinhança de c
diz-se um ponto de inflexão de f.

Teorema 3.23. Sejam f uma função que admite segunda derivada contínua num
intervalo aberto I =]a, b[ e c ∈]a, b[. Então:
i) se f (1) (c) = 0 e f (2) (c) > 0 então c é um ponto de mínimo local de f ;
ii) se f 1) (c) = 0 e f (2) (c) < 0 então c é um ponto de máximo local de f.

Demonstração. i) Como f (2) é contínua em ]a, b[ e f (2) (c) > 0 pelo Teorema de
conservação de sinal, existe δ > 0 tal que δ < min{b − c, c − a} tal que f 2) (x) >
0, ∀x ∈]c − δ, c + δ[. Segue-se que f (1) é crescente em I e como f ′ (c) = 0 resulta
que f ′ (x) < 0, ∀x ∈]c − δ, c[ e f ′ (x) > 0, ∀x ∈]c, c + δ[. Logo f é estritamente
decrescente em ]c − δ, c] e estritamente crescente em [c, c + δ[.
ii) Deixamos para o leitor, pois é análoga à feita para o item[i)].

3.10 Dedução de algumas das Fórmulas de Derivação


Teorema 3.24. Tem-se que:
a) K ′ = 0
b) x′ = 1
1
c) (ln(x))′ = x
d) (xn )′ = nx n−1
, ∀n ∈ N,
e) (sen(x)) = cos(x)

f) (cos(x))′ = −sen(x)
1
g) (tg(x))′ = (cos(x))2 .

h) (cotg(x))′ = − sen12 (x)


i) (e ) = e
x ′ x

j) (sinh(x))′ = cosh(x)′
k) (cosh(x))′ = sinh(x)
1
l) (tanh(x))′ = cosh2 (x)
m) (cotgh(x))′ = sinh12 (x) .
n) (a ) = ln(a)a .
x ′ x

1
o) (loga (x))′ = x ln(a) .

61
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Demonstração. a) Seja a um número real e f tal que f (x) = K, ∀x ∈ R. Então:


f (x)−f (a)
f ′ (a) = limx→a x−a
= limx→a K−K x−a
0
= limx→a x−a
= limx→a 0
= 0.

Logo mostramos que f ′ (a) = 0, ∀a ∈ R. E portanto f ′ = 0, ou seja mostramos


que se f é constante no seu domínio então a sua função derivada é a função nula.
b) Seja a um número real. Se f (x) = x então
f (x)−f (a)
f ′ (a) = limx→a x−a
= limx→a x−ax−a

= limx→a 1
= 1.

Como a era qualquer, mostramos que (x)′ = 1.


c) Seja a um número real posítivo. Então vem

f ′ (a) = limx→a f (x)−f


x−a
(a)

= limx→a ln(x)−ln(a)
x−a
ln( x
a)
= limx→a x−a
= limy→0 aeyy−a
= limy→0 a(eyy−1)
= a1 limy→0 eyy−1
= a1 .

1
Como a era um número real positivo, mostramos que ∀x ∈]0, +∞[, (ln(x))′ = x
d) Para provarmos que a derivada de f (x) = xn é f ′ (x) = nxn−1 vamos adotar um
método mais simples. Considere-se a notação:

y = xn . (3.1)

Então aplicando a ambos os membros da igualdade (3.1) o logaritmo neperiano,


vem

ln(y) = ln(xn ). (3.2)

Logo

ln(y) = n ln(x). (3.3)

62
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Agora, derivando ambos os membros da igualdade (3.3) obtemos

y′ n
= . (3.4)
y x

Donde
n
y′ = y . (3.5)
x
Como y = xn então
n
y ′ = xn (3.6)
x

Ou seja mostramos que y ′ = nxn−1 .


e) Seja a um número real. Então tem-se
sen(x)−sen(a)
f ′ (a) = limx→a x−a .

Vamos considerar como objectivo principal utilizar a regra limx→0 sin(x)


x = 1.
Assim, vamos recorrer a um bocado de trigonometria. Como sen(a + b) =
sen(a) cos(a) + cos(a)sen(b) e sen(a − b) = sen(a) cos(a) − cos(a)sen(b) en-
tão sen(a + b) − sin(a − b) = 2 cos(a)sen(b). Assim, chamando p = a + b e
q = a − b obtemos a = p+q 2 ∧ b =
p−q
2 . Assim, tem-se sen(p) − sen(q) =
p+q
 p−q

2 cos 2 sen 2 . Considerando p = x e q = a na igualdade anterior vem
 
sen(x) − sen(a) = 2 cos x+a
2 sen x−a
2 . Assim, vem

f ′ (a) = limx→a sen(x)−sen(a)


x−a
2 )sen( 2 )
2 cos( x+a x−a
= limx→a x−a
sen( x−a )
= 2 cos(a) limx→a x−a2
sen( x−a )
= 2 cos(a) 12 limx→a x−a2
2
= 2 cos(a) 12 ∗ 1
= cos(a).

Como a era qualquer mostramos que (sen(x))′ = cos(x), ∀x ∈ R.


f) Trabalho de casa.
h) Mostrem que cos(p) − cos(q) = ..... Depois o pensamento é análogo.

63
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

g) Tem-se
tg(x)−tg(a)
f ′ (a) = limx→a x−a
sen(x) sen(a)
− cos(a)
= limx→a cos(x)
x−a
sen(x) cos(a)−cos(x)sen(a)

= limx→a cos(x) cos(a)


x−a
sen(x−a)

= limx→a cos(x) cos(a)


x−a
sen(x−a)
= limx→a cos(x)1cos(a) limx→a x−a
= cos12 (a) ∗ 1
= cos12 (a) .
Como a era um número real positivo qualquer então chegamos à conclusão que

1
∀x ∈ R, (tg(x))′ =
cos2 (x)

h) Procede-se do mesmo modo da alínea anterior.


i) Tem-se
f ′ (a) = limx→a f (x)−f
x−a
(a)
x a
−e
= limx→a ex−a
x−a
= limx→a ea e x−a−1
x−a
= limx→a ea limx→a e x−a−1 = ea ∗ 1
= ea .
Como a era um número real qualquer então mostramos que (ex )′ = ex .
j) Tem-se
sinh(x)−sinh(a)
(f ′ (a)) = limx→a x−a
ex −e−x a −a
− e −e
= limx→a 2
x−a
2

1 ex −ea 1 e−a −e−x


= 2 limx→a x−a + limxx→aa 2 x−a
1 a 1 1 e −e
= 2 e + limx→a 2 ex ea x−a
1 a 1 1
= 2 e + 2 (ea )2 e
a

1 a 1 1
= 2 e + 2 ea
1 a 1 −a
= 2e + 2e
ea +e−a
= 2
= cosh(a).
Como a era um número real qualquer, então mostramos que (sinh(x))′ = cosh(x).
Notem que eu deveria ter escrito (senh(x))′ = cosh(x), mas como estou a fazer
os apontamentos latex é mais fácil escrever deste modo.
k) Fica a cargo do leitor.
l) Fica a cargo do leitor.
m) Fica a cargo do leitor.

64
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

n) Notem que:
f (x) = ax
= (eln(a) )x
= ex ln a .

Assim, temos, pelo Teorema 3.13, (f ′ (x)) = ln(a)ex ln(a) = ln(a)ax .


ln(x)
o) Tem-se pela propriedade d) do Teorema 3.1 que (loga (x)) = ln(a) . Assim, con-
1
cluimos que (loga (x))′ = x ln(a) .

Teorema 3.25. Sejam f e g funções diferenciáveis e D1 e D2 os seus domínios


respectivamente e a ∈ D1 ∩D2 ef(x)>0,∀x ∈ D1 ∩ D2 . Então:
 ′
(f (x))(g(x)) = g(x)′ (f (x))g(x) ln((f (x))) + g(x)f (x)g(x)−1 f ′ (x). (3.7)

Demonstração. Considere-se a seguinte notação

y = (f (x))g(x) . (3.8)

Assim, aplicando o logaritmo neperiano a ambos os membros de (3.8) vem


 
ln(y) = ln (f (x))g(x) . (3.9)

Mas então:

ln(y) = g(x) ln(f (x)). (3.10)

Derivando ambos os membros de (3.10) vem

y′
= (g(x) ln(f (x))′ (3.11)
y

Logo
 
′ ′ f ′ (x)
y = y g (x) ln(f (x)) + g(x) (3.12)
f (x)

Mas como y = (f (x))g(x) então


 
′ ′ f ′ (x)
y = (f (x)) g(x)
g (x) ln((f (x))) + g(x) (3.13)
f (x)

Assim, simplificando (3.13) obtemos a igualdade (3.14)

y ′ = g ′ (x)(f (x))g(x) ln(f (x)) + g(x)f (x)g(x)−1 f ′ (x) (3.14)


65
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3.10.1 Tabela das Derivadas em x

dy
y = h(x) dx = h′ (x)
y=K 0

(x)α α(x)α−1 , α 6= 0
exp (x) ex
1
ln |x| x

cx = ex ln c , c ∈ R+ \ {1} cx ln c
logc |x| = lnln|x| +
c , c ∈ R \ {1}
1
x ln c

sen(x) cos(x)
cos(x) −sen(x)

1
tg(x) cos2 x = sec2 (x)

cotg(x) −cossec2 (x)


sec(x) sec xtgx
cosec(x) −cossec(x)cotg(x)
arcsen(x) √ 1
1−x2
1
arccos(x) − √1−x 2
1
arctg(x) 1+x 2

1
arccotg(x) − 1+x 2.

senh(x) cosh(x)

cosh(x) senh(x)
1
tanh(x)
cosh2 (x)
1
cotgh(x)
senh2 (x)

Observação 3.26. Mas antes devemos habituar-nos a utilizar uma tabela de deri-
vação mais geral que chamamos a tabela geral das derivadas. Assim, vamos apre-
sentar só um exemplo para explicar a notação da tabela. Vamos agora mostrar que
(ef (x) )′ = ef (x) f ′ (x) Assim, considere-se a notação y = eu e u = f (x) mas então,
dy dy
pela regra da cadeia, ver Teorema 3.13, vem dx = du du
|u=f (x) dx
. E portanto, tem-se:
dy d(eu ) dy dy
dx = du | u = f (x) du
dx . Mas então dx = (eu )|u=f (x) f ′ (x). Logo dx = ef (x) f ′ (x).
66
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

67
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3.10.2 Tabela das Derivadas no Caso Geral

dy
y = f (x) dx = f ′ (x)

y=K 0

(f (x))α α(f (x))α−1 f ′ (x), alpha 6= 0

exp f (x) exp f (x)f ′ (x)

1
ln |f (x)| f (x) f (x)

cf (x) = ef (x) ln c , c ∈ R+ \ {1} cf (x) ln cf ′ (x)

ln |f (x)| 1
logc |f (x)| = ln c , c ∈ R+ \ {1} f (x) ln c f (x)

sen(f (x)) cos(f (x))f ′ (x)

cos(f (x)) −sen(f (x))f ′ (x)

1
tg(f (x)) cos2 f (x) f (x)

= sec2 (f (x))f ′ (x)

cotg(f(x)) −cosec2 (f (x))f ′ (x)

sec(f (x)) sec f (x)tg(f (x))f ′ (x)

cosec(f (x)) −cosec(f (x))cotg(f (x))f ′ (x)

1
arcsen(f (x)) √ f ′ (x)
1−f (x)2

1
arccos(f (x)) −√ f ′ (x)
1−f (x)2

1
arctgf (x) 1+f (x)2 f (x)

arccotgf (x) − 1+f1(x)2 f ′ (x).

senh(f (x)) cosh(f (x))f ′ (x)

cosh(f (x)) senh(f (x))f ′ (x)

1
tanh(f (x)) f ′ (x)
cosh2 (f (x))
68
1
cotgh(f (x)) f ′ (x)
senh2 (f (x))
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3.11 Estudo do Gráfico uma Função Real de Variável


Real
Para estudar o gráfico de uma função devemos abordar os seguintes pontos:
a) Domínio.
b) Sinal de f, senão não for muito complicado e ver se é possível utilizar uma
propriedade gráfica que possa ajudar para desenhar o gráfico de f.
c) Zeros;
d) Paridade,Simetrias, Propriedades gráficas;
e) Assimptotas, verticais e obliquas. Calculo do limite de f para pontos da fron-
teira do domínio de f;
f) Monotonia e extremos relativos;
g) Concavidade e pontos de inflexão;
h) Gráfico.

Exercício 3.8. Obtenha os gráficos das seguintes funções:


a) f (x) = x3 − x;
b) g(x) = x ;
x+1

c) h(x) = xe ;x

ln(x)
d) l(x) = x .

3.11.1 Regra de l’Hopital


Teorema 3.26. Teorema de CauchySejam a e b números reais, tal que a < b e
f e g duas funções reais de variável real contínuas em [a, b] e diferenciáveis em ]a, b[
tais que g ′ (x) 6= 0, ∀x ∈]a, b[. Então existe c ∈]a, b[ tal que

f (b) − f (a) f ′ (c)


= ′ (3.15)
g(b) − g(a) g (c)

Demonstração. Considere-se a função h de [a, b] 7→ R tal que h(x) = f (x) − kg(x)


tal que h(a) = h(b). Mas então, como h(a) = f (a) − kg(a) e h(b) = f (b) − kg(b)
então f (a) − kg(a) = f (b) − kg(b) e portanto f (b) − f (a) = k(g(b) − g(a)) ou seja
(b)−f (a) (b)−f (a)
k = fg(b)−g(a) . Logo h(x) = f (x)− fg(b)−g(a) g(x). Por construção h(a) = h(b), como f é
contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[ , pois h é uma combinação linear de funções
contínuas e diferenciáveis, então pelo Teorema de Rolle temos ∃c ∈]a, b[, h′ (c) = 0.
(b)−f (a) ′
Mas então, existe c ∈]a, b[ tal que h′ (c) = 0. Como h′ (x) = f ′ (x) − fg(b)−g(a) g (x)
f (b)−f (a) ′
então ∃c ∈]a, b[ tal que 0 = f ′ (c) − g(b)−g(a) g (c), ou seja existe c ∈]a, b[, notem que
f ′ (c) f (b)−f (a)
g (c) 6= 0, tal que

g′ (c) = g(b)−g(a) .
69
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Teorema 3.27. Sejam f e g funções contínuas em [a, b] e diferenciáveis em ]a, b[.


Então existe um número c ∈]a, b[ tal que

[f (b) − f (a)]g ′ (c) = [g(b) − g(a)]f ′ (c) (3.16)

Demonstração. Considere-se a função h(x) = (f (b) − f (a))g(x) − (g(b) − g(a))f (x)


Mas então
h(a) = (f (b) − f (a))g(a) − (g(b) − g(a))f (a)
= f (b)g(a) − f (a)g(a) − g(b)f (a) + g(a)f (a)
= f (b)g(a) − g(b)f (a)
e
h(b) = (f (b) − f (a))g(b) − (g(b) − g(a))f (b)
= f (b)g(b) − f (a)g(b) − g(b)f (b) + g(a)f (b)
= f (b)g(a) − g(b)f (a)
Como f e g são contínuas em [a, b] então h é contínua em [a, b]. E visto que f e g
são diferenciáveis em ]a, b[ então h é diferenciável em ]a, b[. Como h(a) = h(b) então h
verifica as condições do Teorema de Rolle, e portanto existe c ∈]a, b[ tal que h′ (c) = 0
e portanto existe c ∈]a, b[ tal que (f (b) − f (a))g ′ (c) − (g(b) − g(a))f ′ (c) = 0, ou seja
tal que (f (b) − f (a))g ′ (c) = (g(b) − g(a))f ′ (c).

Teorema 3.28. Regra de l’hopitalSejam f e g duas funções reais de variável e


suponhamos que existe δ > 0 tal que f e g são contínuas em [a − δ, a + δ] \ {a}[ e
diferenciáveis em x ∈]a−δ, a+δ[\{a}[ e tal que g ′ (x) 6= 0, ∀x ∈]a−δ, a+δ[\{a}. Então

(x) (x)
se limx→a f (x) = 0, limx→a g(x) = 0 e existe limx→a fg′ (x) então existe limx→a fg(x) e
f (x) f ′ (x)
limx→a g(x) = limx→a g′ (x) .

Demonstração. Considerem-se as funções g e f , definidas de ]a − δ, a + δ[7→ R tal


que ∀x ∈]a − δ, a + δ[\{a}, f(x) = f ∧ g(x) = g(x) e tal que f (a) = 0 e g(a) = 0.
Seja x ∈]a − δ, a + δ[∧x > a (o caso em que x ∈]a − δ, a + δ[∧x < a trata-se de modo
análogo) . Mas então f e g são funções contínuas em [a, x] e são funções diferenciáveis
em]a, x[ e portanto verificam as condições do Teorema18.17, logo existe c ∈]a, x[ tal
que
(f (x) − f (a))g ′ (c) = (g(x) − g(a))f ′ (c)
, ou seja existe cx ∈]a, x[ tal que

(f (x) − 0)g ′ (cx ) = (g(x) − 0)f ′ (cx ).


f (x) f ′ (cx )
Então g(x) =
g′ (cx ) . Como cx se aproxima de a quando x se aproxima de a e como
f ′ (y)
existe limy→a g′ (y) então podemos escrever:

f (x) f ′ (cx )
limx→a g(x) = limx→a g′ (cx )

(y)
= limy→a fg′ (y)
70
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Teorema 3.29. Regra de l’hopitalSejam f e g duas funções reais de variável real


e suponhamos que existe δ > 0 tal que f e g são contínuas em [a − δ, a + δ] \ {a} e
são diferenciáveis em ]a − δ, a + δ[\{a} e tal que g ′ (x) 6= 0, ∀x ∈]a − δ, a + δ[\{a}.

(x)
Então se limx→a f (x) = ±∞, limx→a g(x) = ±∞ e existe limx→a fg′ (x) então existe
f (x) f (x) f ′ (x)
limx→a g(x) e limx→a g(x) = limx→a g′ (x) .

Demonstração. Sejam f e g duas funções reais de variável real e seja δ > 0 tal que f e g
são funções diferenciáveis em ]a−δ, a+δ[\{a}[ e tal que g ′ (x) 6= 0, ∀x ∈]a−δ, a+δ[\{a}.

(x)
Suponhamos que limx→a f (x) = ±∞, limx→a g(x) = ±∞ e que limx→a fg′ (x) = l e
f (x) f (x)
vamos provar que limx→a+ g(x) = l . Vamos mostrar que limx→a+ g(x) = l, (A prova
f (x)
de que limx→a− = l é análoga). Sejam (xn )n∈N tal que xn → a e (yn )n∈N tal
g(x)
+

que yn → a , verificando ∀n ∈ N, xn ≥ yn , e tal que a < yn < xn < a + δ.


+

f (yn ) g(yn )
e tal que limn→+∞ g(xn ) = 0 ∧ limn→+∞ g(xn ) = 0. Tem-se:

f (xn ) f (xn ) − f (yn ) g(xn ) − g(yn )


= ∗ +
g(xn ) g(xn ) − g(yn ) g(xn )
f (yn )
+
g(xn )
 
f (xn ) − f (yn ) g(yn ) f (yn )
= 1− + (3.17)
g(xn ) − g(yn ) g(xn ) g(xn )

Seja cn ∈]xn , yn [ tal que

f (xn ) − f (yn ) f ′ (cn )


= (3.18)
g(xn ) − g(yn ) g ′ (cn )

Mas de (3.17) podemos então escrever que


 
f (xn ) f ′ (cn ) g(yn ) f (yn )
lim = lim ∗ 1 − lim + lim+ (3.19)
n→+∞ g(xn ) n→+∞ g ′ (cn ) n→+∞ g(xn ) n→a g(xn )

f ′ (cn )
= lim (1 − 0) + 0 (3.20)
n→+∞ g ′ (cn )

f ′ (x)
= lim (3.21)
n→+∞ g ′ (x)

= l (3.22)
f (x)
Como sucessão (xn )n∈N convergia para a então podemos escrever limx→a+ g(x) = l. Do
f (x) f (x)
mesmo provariamos que limx→a− g(x) = l. Donde podemos concluir que limx→a g(x) =
l.

Teorema 3.30. regra de l’Hopital Seja l é o número real 0, ou +∞ ou −∞.


Sejam f e g duas funções reais de variável real tais que f e g são contínuas em
71
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

[M, +∞[ e diferenciáveis em ]M, +∞[ com M > 0 e g ′ (x) 6= 0, ∀x ∈]M, +∞[. Então se

(x) (x)
limx→+∞ f (x) = limx→+∞ g(x) = l e limx→+∞ fg′ (x) = l1 então limx→+∞ fg(x) = l1 .

1
Demonstração. Considere-se a função f1 tal que f1 (x) = f ( x1 ), x ∈]0, M [. Então f1 é
1 1 1
diferenciável em ]0, M [, pois a função h tal que h(x) = x , ∀x ∈]0, M [ é diferenciável
1 1
]0, M [ e f é diferenciável em ]M, +∞[ e h([0, M [) ⊂]M, +∞[ e g(x) = f ◦ g(x), ∀x ∈
1
]0, M [.
1
A função é contínua em ]0, M [ porque é composta de duas funções contínuas. Temos
que limx→0+ f1 (x) = limx→0+ f ( x1 ) = limx→+∞ f (x) = l Considere-se a função g1
tal que g1 (x) = f ( x1 ), x ∈]0, M 1 1
[. Então g1 é diferenciável em ]0, M [, pois a função
1 1 1
h tal que h(x) = x , ∀x ∈]0, M [ é diferenciável ]0, M [ e gé diferenciável em [M, +∞[
1 1
e h([0, M [) ⊂]M, +∞[ e g(x) = f ◦ g(x), ∀x ∈]0, M [. temos que limx→0+ g1 (x) =
1 1
limx→0+ g1 ( x ) = limx→+∞ g(x) = l. Verifica-se que g1′ (x) 6= 0, ∀x ∈]0, M [, pois
′ 1 1
g1 (x) = g ( x )(− x2 ) e g (x) 6= 0, ∀x ∈]M, +∞[. Assim, podemosconcluir que
′ ′

f1′ (x) 1
(f ( x ))′
limx→0+ g1′ (x) = limx→0 (g( x
+ 1
))′
−f ′ ( 1 ) 1
= limx→0+ −g′ ( 1x ) x12
x x2
f ′( x1
)
= limx→0+ g′ ( 1 )
x

(x)
= limx→+∞ fg′ (x)
= l1 .

f1 (x) f1 (x)
Recorrendo ao Teorema 3.30 concluimos que existe limx→0+ g1 (x) e limx→0+ g1 (x) =
f1′ (x)
lim x→0+ g′ (x) = l1 Assim
1

f (x) f1 (x)
lim = lim = l1
x→+∞ g(x) x→0+ g1 (x)

Não provamos o Teorema 3.31 pois a demonstração é idêntica

Teorema 3.31. Seja l o número real zero, ou +∞ ou −∞. Sejam f e g duas funções
reais de variável real contínuas em ] − ∞, M ] e diferenciáveis em ] − ∞, M ] com
M < 0 e g ′ (x) 6= 0, ∀x ∈] − ∞, M ]. Então se limx→−∞ f (x) = limx→−∞ g(x) = l e

(x) (x)
limx→−∞ fg′ (x) = l1 então limx→−∞ fg(x) = l1 .

Finalmente apresentamos o Teorema 3.32 que generaliza os Teoremas anteriores. Va-


mos considerar no Teorema 3.32 que o simbolo α pode ser a, a+ , a−i , +∞, −∞ e que
l1 pode ser 0, −∞, +∞ e l2 pode 0, −∞ ou +∞.

Teorema 3.32. Teorema de l’Hopital,caso geral,muito importante Sejam f e


g funções contínuas em [α−ǫ, α+ǫ]\α e diferenciáveis em I =]α−ǫ, α+ǫ[\α (Ou num
intervalo I = [M, +∞[, com M > 0 se α = +∞, ou num intervalo I =] − ∞, M ] com
72
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

M < 0 se α = −∞) e tal que g 6= 0 e g ′ 6= 0 em I. Se limx→a f (x) = limx→a g(x) = l1



(x)
com(l1 = 0), ∨(l1 = +∞) ∨ (l1 = +∞) e limx→a fg′ (x) = l2 com (l2 ∈ R) ∨ (l2 =
f (x)
+∞) ∨ (l2 = −∞)) então limx→a g(x) = l2 .

3.12 Indeterminações

0
3.12.1 Indeterminções do Tipo 0

Exercício 3.9. Calcule os seguintes limites


ex −1
a) limx→0 x ;
tg(x)−x
b) limx→0 x−sen(x) ;
sen(2x)
c) limx→π sen(3x) ;
1−cos x
d) limx→0 ln(1+x 2) ;

ex −1
Resolução 3.8. a) Tem-se limx→0 x = 00 ;
Logo pela regra de L’Hopital obtemos
x
limx→0 e x−1
x
−1)′
= limx→0 (e(x) ′
x
= limx→0 e 1−0
x
= limx→0 e1
= limx→0 ex
= e0
=1

tg(x)−x
b) limx→0 x−sen(x) = 00 ;
Mas então pela regra de L’Hopital tem-se:
tg(x)−x
limx→0 x−sen(x)
2
= limx→0 sec (x)−1
= ( 00 )
1−cos(x)
Pela regra de L’Hopital
2
(x)−1)′
= limx→0 (sec
(1−cos(x))′
2 sec x sec xtg(x) 2 sec3 (x)
= limx→0 0+sen(x) = limx→0 1
= 1.
73
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

sen(2x)
c) Tem-se limx→π sen(3x) = 00 ; Logo aplicando a regra de L’Hopital, tem-se

sen(2x)
limx→π sen(3x)

= limx→π (sen(2x))
(sen(3x))
= limx→π 32 cos(3x)
cos(2x)

2 cos(2x)
= 3 limx→π cos(3x)
2 1
= 3 −1
= − 32 .

d) Tem-se
1 − cos x 0
lim = .
x→0 ln(1 + x2 ) 0
Pela regra de L’Hopital tem-se
1−cos x
limx→0 ln(1+x2 )
(1−cos x)′
= limx→0 (ln(1+x 2 ))′

= limx→0 +sen(x)
2x = 00
1+x2
2
= limx→0 +(1+x 2x
))sen(x)
= 0
0
Pela regra de L’Hopital
2
))sen(x))′
= limx→0 (+(1+x(2x) ′
2xsen(x)+(1+x2 ) cos(x)
= limx→0 2
= 12 .


3.12.2 Indeterminações do tipo ∞

Exercício 3.10. Calcule os seguintes limites:


ex
a) limx→+∞ x2 .
3 2
b) limx→+∞ x −x +x+1
x3 −1
x
c) limx→+∞ xe 2

ex +∞
Resolução 3.9. a) Como limx→+∞ x2 = +∞ , então pela regra de L’Hopital vem
x
limx→+∞ xe 2
(ex )′
= limx→+∞ (x 2 )′
ex
= limx→+∞ 2x = +∞
+∞
Logo pela regra de L’Hopital
x
= limx→+∞ e2
= +∞.
74
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

x3 −x2 +x+1 +∞
b) Como limx→+∞ x3 −1 = +∞ então pela regrade L’Hopital vem,

x3 −x2 +x+1
limx→+∞ x3 −1
3 2
+x+1)′
= limx→+∞ (x −x (x3 −1)′
2
limx→+∞ 3x −2x+1
3x2 = +∞
+∞
Logo pela regra de L’Hopital tem-se
2
−2x+1)′
= limx→+∞ (3x (3x 2 )′
6x−2 +∞
= limx→+∞ 6x = +∞
Logo pela regra deL’Hopital vem
= limx→+∞ 66 = 1.

ex +∞
c) Tem-se limx→+∞ x2 = +∞ . Logo pela regra de L’Hopital vem
x
limx→+∞ xe 2
(ex )′
= limx→+∞ (x 2 )′
ex
= limx→+∞ 2x = +∞
+∞
Logo pela regra de L’Hopital vem
(ex )′
= limx→+∞ (2x) ′
x
= limx→+∞ e2
= +∞.

3.13 Indeterminação da Forma 0∞.


Este tipo de indeterminações transformam-se em indeterminações do tipo ∞/∞ ou da
forma 0/0. Com efeito se limx→a f (x) = 0 e limx→a g(x) = +∞ então limx→a f (x)g(x) =
0∞. então podemos escrever
f (x)
limx→a f (x)g(x) = limx→a 1
g(x)
0
= 0

ou
g(x)
limx→a f (x)g(x) = limx→a 1
f (x)

= ∞.
Exercício 3.11. Calcule limx→0+ x ln(x).
Resolução 3.10.
limx→0+ x ln(x)
= limx→0+ ln(x)
1 = −∞
+∞
x
Pela regra de l’Hopital vem
1
= limx→0+ x
− x12
= limx→0+ (−x)
= 0.
75
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3.13.1 Indeterminações do tipo 00 , 1∞ , ∞0

Neste caso estas indeterminações são levantadas todas do mesmo modo. A função
f g é definida por f (x)g(x) = eg(x) ln(f (x)) , ∀x tal que f (x) > 0. Assim-se f e g estão
definidas e f (x) > 0 num intervalo ]a, b[ então se existe limx→b− g(x) ln(f (x)) tem-se

lim f (x)g(x) = elimx→b− g(x) ln(f (x)) .


x→b−

Poderá obter-se limx→b− g(x) ln(f (x)) = 0∞ em três casos:


a) se limx→b− g(x) = 0 e limx→b− f (x) = 0;
b) se limx→b− g(x) = ±∞ e limx→b− f (x) = 1;
c) se limx→b− g(x) = 0 e limx→b− f (x) = +∞;
Nestes três casos temos respectivamente que limx→b− f (x)g(x) = 00 , limx→b− f (x)g(x) =
1∞ e limx→b− f (x)g(x) = ∞0 . Definições semelhantes poderão ser obtidas quando
x → b+ , x → c ∈]a, b[ e x → ±∞.

Exercício 3.12. Calcule os seguintes limites.

a) limx→0+ xx = 00 .
1
b) limx→1+ x x−1
1
c) limx→+∞ x x .

Resolução 3.11. a) Tem-se limx→0+ xx = 00 . Assim limx→0+ xx = limx→0+ ex ln(x) .


Por sua vez, procedendo tal como foi feito anteriormente obtemos limx→0+ x ln x =
0. E portanto limx→0+ xx = elimx→0+ x ln(x) = e0 = 1.
1 1 ln x
b) limx→1+ x x−1 = 1+∞ . Assim limx→1+ x x−1 = limx→1+ e x−1 . Calculemos então
ln x
limx→1+ x−1 = 00 Assim, aplicando a regra de l’Hopital tem-se:

ln x
limx→1+ x−1
(ln x)′
= limx→1+ (x−1) ′
1
= limx→1+ x
1
1
= limx→1+ x
= 1.

Mas então
1 ln x
lim+ x x−1 = elimx→1+ x−1 = e1 = e.
x→1

1 1 1 ln x
c) Temos que limx→+∞ x x = ∞0 e x x = eln x x = e x . Aplicando a regra de
76
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

ln x
L’Hopital ao limite limx→+∞ x (= ∞/∞ obtemos

ln x (ln x)′
limx→+∞ x = limx→+∞ x′
1
limx→+∞ x1
1
= limx→+∞ x
= 1/(+∞)
= 0.

E portanto
1
lim+ x x−1 = e0 = 1.
x→1

Observação 3.27. Mas nas indeterminações 00 , 1∞ , ∞0 , podemos adoptar outro


método para resolver o problema das indeterminações. Vamos apresentar a ideia
no cálculo novamente do limite limx→0+ (xx ). Com efeito tem-se y = xx Assim,
ln(y) = ln xx e portanto ln(y) = x ln(x). Logo limx→0+ ln(y) = limx→0+ x ln(x). Por
sua vez,como limx→0+ x ln(x) = 0∞. Repetindo o que fizemos anteriormente obtemos
que limx→0+ x ln(x) = 0. E portanto

lim ln(y) = 0.
x→0+

Ou seja
elimx→0+ ln(y) = e0 .
Logo
lim eln(y) = 1.
x→0+

E portanto
lim y = 1.
x→0+

Mas como y = xx então obtivemos que limx→0+ xx = 1.

3.14 Fórmula de Taylor


3.14.1 Definição de função de classe C n e classe C ∞
Definição 3.43. {Função de classe C n num conjunto } Seja f : D ⊂ R 7→ R
.Se f ′ for contínua em D então diz-se que f é de classe C 1 em D e escrevemos
f ∈ C 1 (D). Seja n um número natural dizemos que f é de classe C n em D, e
escrevemos f ∈ C n (D), se existir a derivada de ordem n de f em D e for contínua
em D.

Exemplo 3.5. Seja f tal que


 
x2 cos x1 , se x 6= 0
f (x) = .
0 se x = 0
77
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Vamos mostrar que f é diferenciável em R. Temos que para x 6= 0,


   
′ 1 2 1 1
f (x) = 2x cos − x sen (− 2 ),
x x x

ou seja, para x 6= 0 temos que


   
′ 1 1
f (x) = 2x cos + sen .
x x

Calculemos agora pela definição f ′ (0). Tem-se

f ′ (0) = limx→0 f (x)−fx−0


(0)

x cos( x )−0
2 1
= limx→0 x−0
x2 cos( x
1
)
= limx→0 x
1

= limx→0 x cos x
=0

Pois  
1
0 ≤ |x cos
| ≤ |x|
x
 
e como limx→0 |x| = 0 então limx→0 |x cos x1 | = 0 e portanto limx→0 x cos 1
x = 0.
Assim, mostramos que
  
2x cos x1 + sen 1
, se x 6= 0
f ′ (0) = x
0, se x = 0.

Mas f’ não é contínua em 0. Para mostrar que f ′ não é contínua em zero, vamos
construir duas sucessões xn e yn ambas a convergirem para zero e tais que f ′ (xn ) = 1
1
e tal que f ′ (yn ) = −1. Assim, considerem-se as sucessões xn = π +2nπ e yn =
2
1
3π . Mas então temos que f ′ (xn ) = 1, ∀n ∈ N e f ′ (yn ) = −1, ∀n ∈ N. Temos que
2 +2nπ
limn→+∞ xn = 0 e limn→+∞ yn = 0 e limn→+∞ f ′ (xn ) = 1 6= −1 = limn→+∞ f ′ (yn ).
Logo não existe limx→0 f ′ (x) e portanto f ′ não é contínua em 0 e portanto f não é
de classe C 1 em R.
Definição 3.44. {Função de classe C ∞ num conjunto} Se ∀n ∈ N, f ∈ C n (D) então
diz-se que f é de classe C ∞ em D e escrevemos f ∈ C ∞ (D).
Exemplo 3.6. A função f tal que f (x) = ex , ∀x ∈ R é de classe C ∞ , isto é f ∈
C ∞ (D), pois ∀n ∈ N, f (n) (x) = ex e a função exponencial é contínua.

3.15 Fórmula de Taylor, Fórmula de MacLaurin


Seja f uma função real de variável real contínua em a e admitindo todas as derivadas
em a até à ordem n. Vamos agora determinar um polinómio pn,a de ordem n tal que
78
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

f (a) = pn,a (a) e de tal modo que para todo o número natural j menor ou igual a n
se tenha f (j) (a) = p(j) (a). Vamos já considerar o polinómio escrito em potências de
x − a. Assim, considere-se o polinómio pn,a tal que:

pn,a (x) = a0 + a1 (x − a) + a2 (x − a)2 + · · · + an (x − a)n (3.23)

Derivando sucessivamente o polinómio pn,a obtemos:

pn,a (a) = a0
p(1)
n,a (a) = a1
p(2)
n,a (a) = 2a2
p(3)
n,a (a) = 3.2a3
.. .
. = ..
p(n)
n,a (a) = n(n − 1)(n − 2) · · · 1an . (3.24)

Mas relembrando que n! = 1 ∗ 2 ∗ 3 ∗ · · · ∗ n de (3.24) obtemos

p(a)n = a0
p(1)
n,a (a) = a1
(2)
p (a)n,a = 2!a2
(3)
p (a)n,a = 3! ∗ a3
.. .
. = ..
p(n)
n,a (a) = n!an (3.25)

(j)
Assim, como queremos que pn (a) = f (j) (a) para j um número natural menor ou
igual a n, então os coeficientes do polinómio pn,a ficam determinados pelas igualdades
3.26.

a0 = f (a)
a1 = f (1) (a)
2!a2 = f (2) (a)
3!a3 = f (3) (a)
.. .
. · · · ..
n!an f (n) (a),

(3.27)

79
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

ou seja do sistema 3.30 vem:

a0 = f (a)
a1 = f (1) (a)
f (2) (a)
a2 =
2!
f (3) (a)
a3 =
3!
.. .
. · · · ..
f (n) (a)
an = . (3.28)
n!
Assim, o polinómio pn,a que verifica as condições pretendidas é tal que

f (1) (a) f (2) (a) f (3) (a)


pn,a (x) = f (a) + (x − a) + (x − a)2 + (x − a)3 + · · · +
1! 2! 3!
f (n)
+ (x − a)n . (3.29)
n!
Definição 3.45. O polinómio pn,a diz-se o polinómio de Taylor de ordem n no ponto
a de f. Se a = 0 então o polinómio pn,a diz-se o polinómio de Maclaurin de ordem n
de f.

Exercício 3.13. Determine os polinómios de Taylor de ordem n no ponto a das


seguintes funções reais de variável real f onde:
a) f (x) = ex ;
b) f (x) = sen(x), a = 0;
c) f (x) = x3 + x − 1, a = 0.

Resolução 3.12. a) Neste caso, temos

f (a) = ea
f (1) (a) = ea
f (2) (a) = ea
f (3) (a) = ea
..
.
f (n) (a) = ea .

e portanto o polinómio de Taylor de ordem n de f no ponto a é o polinómio pn,a


tal que

ea ea ea
pn,a (x) = ea + (x − a) + (x − a) + (x − a)3 + · · · +
1! 2! 3!
ea 4 (x − a)n
+ (x − a) + · · · + .
4! n!
80
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Agora, apresentamos na figura 3.20 vários gráficos dos polinómios de Maclaurin


de ordem n da exponencial, para mostrar que perto de zero quanto maior é a
ordem do polinómio mais o gráfico se aproxima do gráfico da exponencial perto
de zero .

Figura 3.20: Gráficos de vários polinómios de MacLaurin da exponencial.

b) Determinemos agora o polinómio de Maclaurin de f em 0 de ordem n quando


f (x) = sen(x), ∀x ∈ R, Neste caso temos que

f (0) (x) = f (x) = sen(x)


f (1) (x) = cos(x)
f (2) (x) = −sen(x)
f (3) (x) = − cos(x)
f (4) (x) = sen(x)
.. ..
. = .,

ou seja temos que


f (x) = sen(x)
f (1) (x) = sen(x + π2 )
f (2) (x) = sen(x + 2 π2 )
f (3) (x) = sen(x + 3 π2 )
f (4) (x) = sen(x + 4 π2 )
.. ..
.=.
f (n) (x) = sen(x + n π2 ).
Donde
f (0) = sen(0) = 0
f (1) (0) = sen(0 + π2 ) = 1
f (2) (0) = sen(0 + 2 π2 ) = 0
f (3) (0) = sen(0 + 3 π2 ) = −1
f (4) (0) = sen(0 + 4 π2 ) = 0
..
.
f (n) (0) = sen(n π2 ).
Assim, chegamos à conclusão que as derivadas de ordem par de f em 0 são
nulas e que as derívadas de ordem ímpar ora assumem o valor -1 ora assumem
o valor -1. Mas podemos escrever que
n
X 1 π
pn,0 (x) = sen(j )xj . (3.30)
j=0
j! 2
81
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Assim, podemos dizer que

1 3 1 π
p2n,0 (x) = x − x + x5 − ... + sen((2n − 1) )(x)2n−1 ,
3! 5! 2
e que
1 3 1 π
x + x5 − ... + sen((2n − 1) )x2n−1 .
p2n−1,0 (x) = x −
3! 5! 2
Agora, apresentamos o gráfico de vários polinómios de MacLaurin do seno na
figura 3.21.
P0,0 (x) = 0
p1,0 (x) = x
P2,0 (x) = x
3
p3,0 (x) = x − x3!
3 5
p5,0 (x) = x − x3! + x5! .

Figura 3.21: Gráficos de vários polinómios de MacLaurin do seno

c) Tem-se
p0,0 (x) = −1,
p1,0 (x) = x − 1,
p2,0 (x) = x − 1,
p3,0 (x) = x3 + x − 1,
pn,0 (x) = x3 + x − 1, ∀n ∈ N + 3.

Teorema 3.33. {Teorema de Taylor} Sejam a e x números reais, com a < x e


n um número natural e f uma função real de variável real de [a, x] ⊂ R 7→ R tal
que f ∈ C k ([a, x]), ∀k ∈ N : 0 ≤ k ≤ n e f (n+1) está definida em ]a, x[. Então existe
c ∈]a, x[ tal que

f (2) (a)
f (x) = f (a) + f (1) (a)(x − a) + (x − a)2 + · · · +
2!
f (n−1) (a) f (n) (a) f (n+1) (c)
+ (x − a)n−1 + (x − a)n + (x − a)n+1 .(3.31)
(n − 1)! (n)! (n + 1)!

Demonstração. Vamos construir uma função g de [a, x] 7→ R tal que g(a) = g(x) =
0, tal que g é contínua em [a, x]([x, a]) e tal que g é diferenciável em]a, x[(]x, a[).
Considere-se então g de [a, x](]x, a[) em R tal que

(x − t)2 (2)
g(t) = f (x) − [f (t) + (x − t)f ′ (t) + f (t) + · · · +
2!
(x − t)n (n) C
+ f (t)] − (x − t)n+1 . (3.32)
n! (n + 1)!
82
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

g é contínua em [a, x] pois f ∈ C n ([a, x])(C n ([x, a])) e das condições do Teorema
resulta também que g é diferenciável em ]a, x[(]x, a]). Determine-se a constante C tal
que g(a) = g(x) = 0. Como g é contínua em [a, x] e diferenciável em ]a, x[, então pelo
Teorema de Rolle, podemos concluir que existe c ∈]a, x[(c ∈]x, a[) tal que g ′ (c) = 0.
Derivemos então ambos os membros de (3.32) em ordem a t. Logo obtemos
2
(− (x−t)
2! f (2) (t))’
(−(x − t)f ′ (t))′ }|z {
z }| { (x − t)2 (3)
g ′ (t) ′ ′ ′′ ′′
= −f (t) + f (t) − (x − t)f (t) + (x − t)f (t) − f (t) + · · · +
2!
(x−t)n−1
(- (n−1)!
f (n−1) (t))’
z }| {
(x − t)n−2 (n−1) (x − t)n−1 (n)
+ f (t) − f (t) +
(n − 2)! (n − 1)!
(x−t)n
(− n! f (n) (t))’ C
(− (n+1)! (x − t)n+1 )’
z }| { z }| {
(x − t)(n−1) (n) (x − t)(n) (n+1) C
+ f (t) − f (t) + (x − t)n . (3.33)
(n − 1)! (n)! n!

Na igualdade (3.33) na soma do segundo membro desta igualdade o termo negativo


corta com o seguinte e o termo positivo corta com o o termo anterior, por essa razão
os únicos termos que sobram são os dois últimos. Assim, obtemos

C − f (n+1) (t)
g ′ (t) = (x − t)n (3.34)
n!
Mas como g(a) = g(x) = 0, g é contínua em [a, x] e diferenciável em ]a, x[ então pelo
Teorema de Rolle existe c ∈]a, x[, (c ∈]x, a[) tal que g ′ (c) = 0. Mas então a constante
C verifica a equação:

C − f (n+1) (c)
(x − c)n = 0 (3.35)
n!

Logo C = f (n+1) (c). E portanto de (3.32) como g(a) = 0 obtemos, fazendo t = a e


C = f (n+1) (c) nesta igualdade:

(x − a)2 (2) (x − a)n (n)


0 = f (x) − [f (a) + (x − a)f ′ (a) + f (t) + · · · + f (a)] −
2! n!
f (n+1) (c)
− (x − a)n+1 . (3.36)
(n + 1)!

Donde de (3.36) obtemos a igualdade (3.37) que se designa por fórmula de Taylor de

83
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

f de ordem n no ponto a.

(x − a)2 (2) (x − a)n (n)


f (x) = f (a) + (x − a)f ′ (a) + f (t) + · · · + f (a) +
2! n!
f (n+1) (c)
+ (x − a)n+1 . (3.37)
(n + 1)!

com c ∈]a, x[ se x > a ou c ∈]x, a[ se x < a.

Apresentamos de seguida uma igualdade (3.38) que é conhecida como Fórmula de


Taylor de ordem n de f no ponto a.

f (2) (a)
f (x) = f (a) + f (1) (a)(x − a) + (x − a)2 + · · · + (3.38)
2!
f (n−1) (a) f (n+1) (c)
+ (x − a)n + (x − a)n+1 , c ∈]a, x[∨c ∈]x, a[, c ∈]x, a[
n! (n + 1)!

Se a = 0 então a igualdade (3.38) chama-se Fórmula de MacLaurin de f de


ordem n.
Por sua vez, muitas vezes para aproximar uma função real de variável real perto de
um ponto a utiliza-se o polinómio de Taylor de f de ordem n no ponto a.
O polinómio de Taylor de ordem n de f no ponto a é o polinómio pn,a que se apresenta
em (3.39).

f (2) (a) f (n−1) (a)


pn,a (x) = f (a) + f (1) (a)(x − a) + (x − a)2 + · · · + (x − a)n−1 +
2! (n − 1)!
f (n) (a)
+ (x − a)n . (3.39)
(n)!
(n+1)
Definição 3.46. O resto de Taylor de ordem n de f no ponto a é Rn,a (x) = f (n+1)!(c) (x−
a)n+1 , com c ∈]a, x[ se x > a ou c ∈]x, a[ se x < a. Se a = 0 o polinómio pn,a diz o
polinómio de MacLaurin de ordem n de f, e neste caso passamos a escrever apenas
por pn e Rn .
Observação 3.28. Para cada x do domínio de f tem-se a igualdade (3.40).

f (x) = pn,a (x) + Rn,a (x). (3.40)

Assim, tem-se

lim f (x) = lim pn,a (x) + lim Rn,a (x) (3.41)


n→+∞ n→+∞ n→+∞

Se limn→+∞ Rn,a (x) = 0 e como limn→+∞ f (x) = f (x) então podemos escrever que

f (x) = lim pn,a (x) (3.42)


n→+∞
84
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Mas
n
X f j (a)
lim pn,a (x) = lim (x − a)j
n→+∞ n→+∞
j=0
j!
+∞ (j)
X f (a)
= (x − a)j ,
j=0
j!

e portanto passamos a escrever (3.42) da forma que se apresenta em (3.43).


+∞ (j)
X f (a)
f (x) = (x − a)j , , (3.43)
j=0
j!

+∞ (j)
X f (a)
ea (x − a)j passsamos a chamar série de Taylor de f no ponto a.
j=0
j!

Apresentamos o desenvolvimento de algumas funções nas suas séries de Maclaurin e


o domínio onde tal desenvolvimento é válido.

x2 x4 x6 x2n
cos x = 1− + − + · · · + (−1)n + · · · + · · · , ∀x ∈ R,
2! 4! 6! (2n)!
x3 x5 x7 x2n+1
sen(x) = x− + − + · · · + (−1)n + · · · , ∀x ∈ R,
3! 5! 7! (2n + 1)!
x2 x3 xn
ex = 1+x+ + + ···+ + · · · , ∀x ∈ R,
2| 3! n!
x2 x3 x4
ln(1 + x) = x− + − + · · · +, ∀x ∈] − 1, 1],
2 3 4
x3 x5 x7
arctg(x) = x− + − + · · · , ∀x ∈ [−1, 1].
3 5 7
f (x)−g(x)
Definição 3.47. Diz-se que f = g + o(h) na vizinhança de a se limx→a h(x) = 0.

Observação 3.29. Assim, podemos escrever as igualdades anteriores na forma

x2 x4 x6 x2n
cos (x) = 1− + − + · · · + (−1)n + o(x2n ),
2! 4! 6! (2n)!
x3 x5 x7 x2n+1
sen(x) = x− + − + · · · + (−1)n + o(x2n+1 ),
3! 5! 7! (2n + 1)!
x2 x3 xn
ex = 1+x+ + + ···+ + o(xn ),
2| 3! n!
x2 x3 x4 (−1)n−1 n
ln(1 + x) = x− + − + ···+ x + o(xn ),
2 3 4 n
x2
cos(x)−e− 2
Exercício 3.14. Aplicando a fórmula de Taylor calcule limx→0 x4 .
85
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 3.13.
x2
cos(x)−e− 2
limx→0 x4 = 
2 4 2 4
1− x2 + x4! − 1− x2 + x8 )+o(x4
= limx→0 x4
1 4
− 12 x +o(x4 )
= limx→0 x4
o(x4 )
x4 (− 12
1
+ x4 )
= limx→0  x 4

4
)
= limx→0 − 12 1
+ o(x x4
1
= − 12 .
Exemplo 3.7. Fórmula de MacLaurin de ordem 3 da exponencial

f (x) = ex , f (n) (x) = ex , f (n) (0) = 1, f (4) (c) = ec

p10 (x) = 1 + x,
x2
p20 (x) = 1 + x + 2 ,
x2 x3
p30 (x) = 1 + x + 2 + 3! .

A Fórmula de MacLaurin de ordem 3 de f é:

x2 x3 ec
f (x) = 1 + x + + + x4 ,
2 3! 4!
com c ∈]0, x[ se x > 0 ou com c ∈]x, 0[ se x < 0.

Exercício 3.15. Aplicando a fórmula de MacLaurin, desenvolva em potências de x


até à nona potência a função f tal que f (x) = ln(1 + x), ∀x ∈ [0, 1]. Estime o erro
que se comete quando desprezamos R9 (x) na fórmula de MacLaurin de f.
Resolução 3.14. Temos que

f (x) = ln(1 + x)
1
f (1) (x) = 1+x
f (x) = (1 + x)−1
(1)

f (2) (x) = (−1)(1 + x)−2


f (3) (x) = (−1)(−2)(1 + x)−3
f (4) (x) = (−1)(−2)(−3)(1 + x)−4
..
.
f (9) (x) = (−1)8 (1 + x)−9 .

Donde temos que

1 2 1∗2 3 1∗2∗3 4 1 ∗ 2 ∗ 3 ∗ ···∗ 8 9


f (x) = x − x + x − x + ···+ x + R9 (x),
2! 3! 4! 9!
ou seja que
1 1 1 1
f (x) = x − x2 + x3 − x4 + · · · + x9 + R9 (x).
2 3 4 9
86
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Com
(−1)9 f (10) (c) 10
R9 (x) = x .
10!
Seja x ∈ [0, 1]. Então

9!
|R9 (x)| = |(−1)9 10!(1+c) 10 x
10
|
1
≤ 10 |x|10
1
≤ 10 .
x2
Exercício 3.16. Prove a seguinte as desigualdades: x − 2 < ln(1 + x) < x, ∀x ∈
]0, +∞[.
1
Resolução 3.15. Temos que f (x) = ln(1 + x), f (0) = 0, f (1) (x) = 1+x = (1 +
x) , f (0) = 1, f (x) = (−1)(1 + x) , f (0) = −1, f (x) = 2!(1 + x)−3 . Pro-
−1 (1) (2) −2 (2) (3)
2
vemos em primeiro lugar que x − x2 < ln(1 + x). Como a fórmula de MacLaurin de
ordem 1 de f é
1 1
f (x) = x − x2 , c ∈]0, x[
2 (1 + c)2
então podemos dizer, que f (x) < x, ∀x ∈ R. Por sua vez, temos que para a fórmula
1 2
de Maclaurin de ordem 2 de f obtemos que: ln(1 + x) = x − 2! x + 13 (1+c)
1
3x
3
com
1 2
c ∈]0, x[ e portanto concluimos que ln(1 + x) > x − 2 x , ∀x ∈]0, +∞[.

87
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

3.16 Diferencial de uma Função Real



Definição 3.48. Seja f : D ⊂ R 7→ R uma função diferenciável num ponto a ∈ D.
Chama-se diferencial da função f no ponto a à aplicação linear df (a) : R 7→ R tal que
df (a)(h) = f ′ (a) · h.

Teorema 3.34. Sejam f, g : D ⊂ R 7→ R funções diferenciáveis em a ∈ D. Então
tem-se:
i) d(f + g)(a) = df (a) + df (b);
ii) d(f g)(a) = g(a)df (a) + f (a)dg(a);
iii) d(f n )(a) = nf n−1 (a)df (a);
g(a)df (a)−f (a)dg(a)
iv) d( fg )(a) = g2 (a) .
v) d(g ◦ f )(a) = g (f (a)) · df (a).

Figura 3.22: Interpretação geométrica do diferencial num ponto a

88
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Exercício 3.17. Use o conceito q de diferencial para determinar aproximadamente o


valor da função f tal que f (x) = 5 2−x
2+x para x = 0.15.

Resolução 3.16. Vamos relacionar o valor de f (0.15) com o valor de f (0). Assim,
vamos considerar a = 0 e h = △ = 0.15. Assim, vamos considerar que f (0.15) ≈
f (0) + df (0)h = f (0) + f ′ (0.15)h. Tem-se
  1 ′
2−x 5
f ′ (x) = 2+x
  −4
5
 ′   −4
5
= 51 2−x2+x
2−x
2+x = 1
5
2−x
2+x
−4
(2+x)2
  45
= − 45 2−x2+x 1
2
r(2+x)
4
4 2+x
= − 5(2+x) 2
5
2−x

Logo f ′ (0) = − 51 e h = 0.15. Donde

df (0)h
= − 15 0.15
= −0.03.

E portanto f (0.15) ≈ f (0) + df (0)h = 1 − 0.03 = 0.97. Note-se que o verdadeiro valor
de f (0.15) = 0.9724.

Exercício 3.18. Encontre um valor aproximado de 5 33.

Resolução 3.17. Considere-se f (x) = 5 x.

5
33 = f (2) + df (32)1
√ √
= 5 32 + ( 5 x)′|x=32 · 1
1
= 2 + 5√ 5
324
1
= 2 + 80
= 2.0125

3.16.1 Princípio de Indução Matemática


Para mostrar que certas condições são válidas no conjunto dos números naturais usa-
se o Princípio de Indução Matemática. Este princípio de indução matemática
diz-nos que uma condição c(n) é verdadeira para todo o número natural n se e só se:
1) A condição c(n) é verdadeira para n = 1;
2) Para todo o número natural k, se a condição c(n) é verdadeira para n = k, então
ela é verdadeira para n = k + 1.
n
X
Exercício 3.19. Seja x um número real tal que x 6= 1. Mostre que ∀n ∈ N, xp =
p=1
89
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

1 − xn
x
1−x

n
X 1 − xn
Resolução 3.18. Considere-se a condição c(n) : xp = x .
p=1
1−x
P1
1) Para n = 1 tem-se displaystyle n=1 x = x 1−x 1−x . Esta igualdade é verificada
p

1
X
1−x
pois pois xp = x e x 1−x = x Logo c(1) é verdadeira.
p=1
2) Provemos agora que ∀k ∈ N, c(k) ⇒ c(k + 1) é uma proposição verdadeira.
Hipótese c(k) é verdadeira; Tese c(k + 1) é verdadeira Assim, suponhamos agora
k
X 1 − xk
que c(k) é verdadeira, isto é que xp = x . Provemos que c(k + 1) é
p=1
1−x
k+1
X 1 − xk+1
verdadeira isto é que xp = x .
p=1
1−x

k+1
X k
X
xp = xp + xk+1
p=1 p=1
como c(k) é verdadeira então
k
= x 1−x
1−x + x
k+1
k k
= x(1−x )+x(1−x)x
1−x
k k
−xk+1
= x 1−x +x1−x
k+1
= x 1−x
1−x .

Logo 2) é verificada
n
X 1 − xn
Logo por 1) e 2) mostramos que ∀n ∈ N, xp = x .
p=1
1−x

Exercício 3.20. Mostre que 2n ≤ 2n .

Resolução 3.19. Considere-se a condição c(n) : 2n ≤ 2n . Mostre-se então que:


1) c(1) é verdadeira;
2) ∀k ∈ N : c(k) ⇒ c(k + 1).
Com efeito, como 2 ≤ 21 logo c(1) é verdadeira. Mostre-se que agora que ∀k ∈ N :
c(k) ⇒ c(k + 1).
• Hipótese 2k ≤ 2k é verdadeira.
• Tese 2(k + 1) ≤ 2k+1 é verdadeira.
90
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Tem-se
2 ∗ (k + 1) ≤ 2k + 2
Pela Hipótese de Indução
≤ 2k + 2
≤ 2k + 2k
≤ 2 ∗ 2k
≤ 2k+1 .
Logo as propriedades (1) e (2) são verificadas e portanto, mostramos pelo princípio
de indução matemática que ∀n ∈ N, 2n ≤ 2n .

Exercício 3.21. Mostrem que

n(n + 1)(2n + 1)
∀n ∈ N, 12 + 22 + 32 + · · · + n2 =
6
utilizando o princípio de indução matemática.
n(n+1)(2n+1)
Resolução 3.20. Considere-se a condição c(n) : 12 +22 +32 +· · ·+n2 = 6 .
Prove-se então que:
1) c(1) é uma proposição verdadeira .
2) ∀k ∈ N, c(k) ⇒ c(k + 1).
Como 12 = 1∗2∗3
6 então provamos que c(1) é uma proposição verdadeira. Provemos
agora 2) Hipótese c(k) é verdadeira; Tese c(k + 1) é verdadeira. ou seja;
• Hipótese
k(k + 1)(2k + 1)
12 + 22 + 32 + · · · + k 2 =
6
• Tese
(k + 1)(k + 2)(2k + 3)
12 + 22 + 32 + · · · + (k + 1)2 = .
6
Como

12 + 22 + 32 + · · · + (k + 1)2 = |12 + 22 + 3{z


2
+ · · · + k 2} +(k + 1)2
k(k+1)(2k+1)
= 6
k(k+1)(2k+1)
= 6 + (k + 1)2
2
= k(k+1)(2k+1)
6 + 6(k+1)6
k(k+1)(2k+1)+6(k+1)2
= 6
(k+1)(k(2k+1)+6(k+1))
= 6
(k+1)(2k2 +k+6k+6)
= 6
(k+1)(2k2 +7k+6)
= 6
(k+1)(2(k+2)(k+ 23 ))
= 6
(k+1)(k+2)(2k+3)
= 6 .

Então provamos 2), logo como mostramos que 1) e 2) são verdadeiras chegamos à
91
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

conlusão pelo princípio de Indução Matemática que

n(n + 1)(2n + 1)
∀n ∈ N, 12 + 22 + 32 + · · · + n2 = .
6

3.17 Classificação dos Pontos Críticos de uma Função


Teorema 3.35. {Aplicações da fórmula de Taylor à classificação de pontos críticos}
Seja f uma função de classe C n num intervalo I e a um ponto interior a I. Se

f (1) (a) = f (2) (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0 ∧ f (n) (a) 6= 0

então
a) se n é ímpar então a não é um ponto de extremo local(relativo) de f;
b) Se n é par e f (n) (a) < 0 então a é um ponto de máximo relativo de f e se n é
par e f (n) (a) > 0 então a é um ponto de mínimo relativo de f.

Demonstração. a) Seja n um número natural ímpar e f (n) (a) > 0( f (n) (a) < 0)
Visto que f (n) é contínua em I e a ∈ Int(A) então escolha-se δ > 0 tal que

]a − δ, a + δ[⊂ I ∧ f (n) (x) > 0, ∀x ∈]a − δ, a + δ[.

Mas então ∀x ∈]a − δ, a + δ[ pelo Teorema de Taylor tem-se

f (n−1) (a) f (n) (c)


f (x) = f (a)+f (1) (a)(x−a)+· · ·+ (x−a)n−1 + (x−a)n , c ∈]a, x[∨c ∈]x, a[
(n − 1)! n!

Como f (a) = f (1) (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0 então

f (n) (c)
f (x) − f (a) = (x − a)n , ∀x ∈]a − δ, a + δ[, c ∈]a, x[∨c ∈]x, a[
n!

Como c ∈]a − δ, a + δ[ então f (n) (c) > 0 e como n é ímpar então

f (x) > f (a), x > a ∧ x ∈]a − δ, a + δ[

e
f (x) < f (a), x < a ∧ x ∈]a − δ, a + δ[
E portanto x não é um ponto de extremo relativo de f. Do mesmo modo se
mostraria no caso em f (n) (a) < 0 que a não é um ponto extremo de f.
b) Seja n um número natural par e suponha-se que f (n) (a) > 0. Então escolha-se
(n)
δ > 0 : ∀x ∈]a − δ, a + δ[, f n (x) > 0. Então f (x) − f (a) = f n!(c) (x − a)n , ∀x ∈
]a − δ, a + δ[, c ∈]a, x[∨c ∈]x, a[. Como f (n) (c) > 0 e n é par então f (x) − f (a) >
92
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

0, ∀x ∈]a − δ, a + δ[\{a}. Ou seja f (x) > f (a), ∀x ∈]a − δ, a + δ[\{a}. E portanto


a é um ponto de mínimo local de f. Suponhamos agora que n é par f (n) (a) < 0
e escolha-se δ > 0 : ∀x ∈]a − δ, a + δ[, f (n) (x) < 0.. Mas então

f (n) (c)
f (x) − f (a) = (x − a)n , ∀x ∈]a − δ, a + δ[, c ∈]a, x[∨c ∈]x, a[.
n!

como c ∈]a − δ, a + δ[ logo f (n) (c) < 0 e como n é par então f (x) − f (a) <
0, ∀x ∈]a − δ, a + δ[\{a}. Ou seja n é par

f (x) < f (a), ∀x ∈]a − δ, a + δ[\{a}.

E portanto a é um ponto de máximo local de f.

Exemplo 3.8. Classificação de pontos críticos recorrendo à segunda deri-


vada.
Considere-se a função
x3 x2
f (x) = − .
3 2
Assim, os pontos críticos de f são os números reais x tais que f (1) (x) = 0. Ou seja
tais que
x2 − x = 0 ⇔ x(x − 1) = 0 ⇔ (x = 0) ∨ (x = 1).
Assim os pontos críticos de f são x = 0 e x = 1. Como

f (2) (x) = 2x − 1

então
f (2) (0) = −1 < 0
e portanto x = 0 é um ponto de máximo local de f. Como

f (2) (1) = 1 > 0

então x = 1 é um ponto de mínimo local de f.

93
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

4 Integrais Definidos de Funções


Limitadas
Sejam a e b números reais com a < b e f uma função real de variável real definida em
[a, b] e limitada em [a, b], e tal que f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]. Considere-se a região D do
plano delimitada pelo gráfico de y = f (x) e pelos gráficos das rectas x = a, x = b e
y = 0.

Como medir a área de D? Para tal começamos por dividir a região D em n regiões
Di , i = 1, · · · , n e consideramos a partição de pontos Pn = {(x0 , 0), (x1 , 0), · · · , (xn , 0)}
do intervalo [a, b] verificando x0 = a, xn = b e xi < xi+1 , ∀i = 1, n − 1.
Considere-se a figura 4.2 e aproxime-se o valor da área da região Di por um valor
inferior e por um valor superior. Aproximamos, ver 4.3, a área da região Di pela área
da região rectangular ri por defeito.
A aproximamos,4.4 , a área da região Di pela área da região Ri rectangular por
excesso. Mas então temos

ri ⊂ Di ⊂ Ri
Mas a área de cada rectângulo obtém-se multiplicando o valor do comprimento da
95
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 4.1: Região D

Figura 4.2: Região Di

sua altura vezes o comprimento da sua largura, assim podemos concluir que

mi (xi − xi−1 ) ≤ area(Di ) ≤ Mi (xi − xi−1 ).

Considerando a notação △xi = xi −xi−1 , mi = inf x∈[xi−1 ,xi ] f (x) e Mi = supx∈[xi−1 ,xi ] f (x)
96
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Figura 4.3: Rectângulo cuja área aproxima a área de Di por defeito.

Figura 4.4: Rectângulo cuja área aproxima a área de Di por excesso.

obtemos
mi △xi ≤ area(Di ) ≤ Mi △xi .

Assim, podemos concluir que

m1 △x1 + m2 △x2 + · · · + mn △xn ≤ area(D)


97
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

area(D) ≤ M1 △x1 + M2 △x2 + · · · + Mn △xn .

4.0.1 Definição de Soma Superior e Inferior de Darboux de uma


Função
Definição 4.1. {Definição de Soma Inferior de f} A soma

m1 △x1 + m2 △x2 + · · · + mn △xn

chama-se soma inferior de f e denota-se por s(f, Pn )−

Definição 4.2. {Definição de Soma Superior de f} A soma

M1 △x1 + M2 △x2 + · · · + Mn △xn

chama-se soma superior de f e denota-se por S(f, Pn ).


Exemplo 4.1. Considere-se a função f (x) = x e considere-se a partição P2 =
{0, 1, 2} do intervalo [0, 2]. Sejam m1 = inf x∈[0,1] x = 0 e m2 = inf x∈[1,2] x = 1.
Então s(f, P2 ) = m1 (1 − 0) + m2 (2 − 1) = 01 + 1 ∗ 1 = 1 . Por sua vez, considerando
M1 = supx∈[0,1] x = 1 e m2 = supx∈[1,2] x = 2 então S(f, P2 ) = 1 ∗ (1 − 0) + 2(2 − 1) =
1 + 2 = 3.

As desigualdades anteriores, supondo f positiva em [a, b], dizem-nos que o valor can-
didato a representar o valor da área da região D 1 deverá ser um número real maior
ou igual do que o valor de qualquer soma inferior e menor ou igual que o valor de
qualquer soma superior. Mostraremos adiante que se f for contínua em [a, b] só hà um
valor nessas circunstâncias. A este número chamamos a área de D.
1 Onde D é a região limitada por x = a, x = b o gráfico de f e y = 0
98
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Observação 4.1. As desigualdades anteriores dizem-nos que o valor candidato a ser


a àrea da região D dever ser um número real que é um majorante das somas inferiores
e um minorante das somas superiores. Mas devemos dizer mesmo que esse número
deve ser o menor majorante das somas inferiores e deve ser o maior minorante das
somas superiores.

Definição 4.3. {Definição de partição de pontos de um intervalo [a, b]} Sejam


a e b números reais com a < b. O conjunto de pontos {x0 , x1 , · · · , xn } diz-se uma
partição do intervalo [a, b] se e só se a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn = b.

Observação 4.2. Cada partição divide o intervalo [a, b] em n intervalos a saber


[x0 , x1 ], [x1 , x2 ], · · · , [xi−1 , xi ], · · · , [xn−1 , xn ] com comprimentos △xi = xi − xi−1 , i =
1, · · · , n.

Daqui em diante, vamos supor que f é uma função real de variável real que é limitada
no intervalo [a, b]. Logo existe um número real positivo M tal que |f (x)| ≤ M, ∀x ∈
[a.b].

4.0.2 Definição de Soma Inferior e de Soma Superior de Darboux


n
X
Definição 4.4. Seja mi = infx∈[xi−1 ,xi ] f (x). A soma s(f, Pn ) = mi △xi chama-se
i=1
soma inferior de Darboux de f relativamente à partição Pn .
n
X
Definição 4.5. Seja Mi = supx∈[xi−1 ,xi ] f (x). A soma S(f, Pn ) = Mi △xi chama-
i=1
se soma superior de Darboux de f relativamente à partição Pn .
99
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Apresentamos de seguida algumas ropriedade importante das somas inferiores e su-


periores de uma função real de variável real limitada e definida em [a.b].
Teorema 4.1. Sejam a e b números reais com a < b e Pn uma partição de pontos
de [a, b], e seja f : [a, b] 7→ R limitada. Então para qualquer partição Qn de pontos de
[a, b] tem-se. s(f, Q) ≤ S(f, P) e s(f, P) ≤ S(f, Q).
Observação 4.3. Qualquer soma superior de Darboux de uma função limitada é um
majorante das somas inferiores e qualquer soma inferior de Darboux de uma função
limitada é um minorante das somas superiores. Assim, o infimo do conjunto das
somas superiores existe e o supremo das somas inferiores existe também .
Observação 4.4. Assim, podemos falar no ínfimo das somas superiores e no supremo
das somas inferiores.
Definição 4.6. Definição de integral superior de Darboux de uma função
limitada Sejam a e b números reais com a < b e f : [a, b] 7→ R uma função limitada
em [a, b]. O ínfimo(o maior minorante das somas superiores) das somas superiores
Rb
designa-se por integral superior de f em [a, b] e representa-se por a f (x)dx.

4.0.3 Definição de Integral e de Integral Inferior


Definição 4.7. Sejam a e b números reais com a < b e f : [a, b] 7→ R uma função
limitada em [a, b]. O supremo(o menor majorante das somas inferiores) das somas
Rb
inferiores designa-se por integral inferior de f em [a, b] e representa-se por a f (x)dx.

4.0.4 Definição de Função Integrável no Intervalo [a, b]


Definição 4.8. Sejam a e b números reais tais que a < b e f : [a, b] 7→ R uma função
limitada. Diz-se que f é integrável à Riemann ou R− integrável em [a, b] se e só se
Rb Rb
a f (x)dx = a f (x)dx e a este número diz-se o integral de Riemann de f em [a, b] e
Rb Rb Rb
escrevemos a f (x)dx = a f (x)dx = a f (x)dx.
Exemplo 4.2. A função f (x) = c é integrável em [a, b] Seja Pn = {x0 , x1 , · · · , xn }
n
X n
X X n
uma partição de pontos de [a, b]. Então s(f, Pn ) = mi △xi = c△xi = c △xi =
i=1 i=1 i=1
c(b − a). Logo
Z b
f (x)dx = c(b − a).
a
n
X n
X n
X
S(f, Pn ) = Mi △xi = c△xi = c △xi = c(b − a). E portanto
i=1 i=1 i=1

Z b Z b
f (x)dx = f (x)dx = c(b − a)
a a
100
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

e concluimos que f é integrável em [a, b] e


Z b
f (x)dx = c(b − a).
a

Teorema 4.2. Sejam a e b números reais tais que a < b e f : [a, b] ⊂ R 7→ R tal que
Rb
f (x) = c, ∀x ∈ [a, b]. Então a cdx = c(b − a).

Observação 4.5. {Convenção} Sejam a e b números reais tais que a > b então
Rb Ra Ra
define-se a f (x)dx = − b f (x)dx, note-se que b < a, e a f (x)dx = 0.

Exemplo 4.3. {Exemplo de função não integrável} Considere-se a função f real de


variável real tal que 
1, x ∈ Q
f (x) = .
0, x 6∈ Q
Seja Pn = {x0 , x1 , x2 , · · · , xn } uma partição de pontos de [a, b]. Então s(f, Pn ) =
Xn n
X Rb
mi △xi = 0△xi = 0, e portanto a f (x)dx = 0. Tem-se
i=1 i=1

n
X n
X n
X
S(f, Pn ) = Mi △xi = 1△xi = 1 △xi = b − a
i=1 i=1 i=1
101
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Rb
e portanto a
f (x)dx = b − a. Como
Rb
a
f (x)dx = 0
6= b − a
Rb
= a f (x)dx

então f não é integrável em [a, b].

4.0.5 Critério para ver se uma função é integrável


Teorema 4.3. Critério para ver se uma função limitada é integrávelSejam
a e b números reais com a < b e f : [a, b] 7→ R uma função limitada. Então f é
integrável em [a, b] se e só se ∀ǫ > 0 existe uma partição Pǫ de pontos do intervalo
[a, b] tal que S(f, Pǫ ) − s(f, Pǫ ) < ǫ.

Demonstração. Suponhamos que ∀ǫ > 0 existe uma partição Pǫ de pontos do intervalo


[a, b] tal que S(f, Pǫ ) − s(f, Pǫ ) < ǫ. Sejam ǫ > 0 e Pǫ uma partição de pontos de [a, b]
tais que S(f, Pǫ ) − s(f, Pǫ ) < ǫ. Mas então, considerando F o conjunto de todas as
partições do intervalo [a, b],

s(f, Pǫ ) ≤ sups(f, Q)Q∈F ≤ infS(f, Q)Q∈F ≤ S(f, Pǫ ).


102
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Rb
Mas então inf{S(f, Q)}Q∈F − sup{s(f, Q)}Q∈F ≤ ǫ. Logo a f (x)dx = InfS(f, Q) =
Rb
Sup(s(f, Q)) = a f (x)dx Logo f é integrável em [a, b]. Suponhamos agora que f é
Rb
integrável então a f (x)dx + ǫ não é um minorante das somas superiores. Então existe
Rb Rb
uma partição Pǫ1 de [a, b] tal que S(f, Pǫ1 ) < a f (x)dx + ǫ Por sua vez, a f (x)dx − ǫ
não é um majorante das somas inferiores, então existe uma partição Pǫ2 tal que
Rb
a
f (x)dx − ǫ < s(f, Pǫ2 ) Mas então considerando P ǫ = Pǫ1 ∪ Pǫ2 . temos S(f, P ǫ ) −
s(f, P ǫ ) < ǫ.

Exemplo 4.4. {Aplicação deste critério à função f (x) = x} Sejam a e b núme-


ros reais com a < b e f : [a, b] 7→ R tal que f (x) = x. Considere-se a parti-
ção Pn = {x0 , x1 , · · · , xn } de [a, b] onde xi = a + b−a n i, i = 0, · · · , n. Mas então
mi = infx∈[xi−1 ,xi ] f (x) = xi−1 e Mi = supx∈[xi−1 ,xi ] f (x) = xi

n n
X X b−a b−a
s(f, Pn ) = mi △xi = (a + (i − 1) )
n n
i=1 i=1

b −a2
(b − a)2
2
= −
2 2n
n n
X X b−a b−a
S(f, Pn ) = mi △xi = (a + i )
i=1 i=1
n n

b 2 − a2 (b − a)2
= +
2 2n
 
b 2 − a2 (b − a)2 b 2 − a2 (b − a)2
S(f, Pn ) − s(f, Pn ) = + − −
2 2n 2 2n
(b − a)2
=
n
2
(b−a)2 2
Escolha-se n tal que (b−a)
n < ǫ, ou seja tal que ǫ < n. Escolha-se pǫ = ⌊ (b−a)
ǫ ⌋+1
Assim, podemos dizer que

∀ǫ > 0∃n = pǫ ∈ N : S(f, Pn ) − s(f, Pn ) < ǫ.


Rb b2 −a2
Mas então f é integrável em [a, b] e a
f (x)dx = 2 .
b2 −a2
Note-se que 2 = sup(s(f, Pn )) ≤ sup(s(f, Q)) ≤ inf(S(f, Q)) ≤ inf(S(f, Pn )) =
b2 −a2
2 .
b2 −a2
Logo 2= sup(s(f, Q)) = inf(S(f, Q))
Rb Rb 2 2 Rb
e portanto a f (x)dx = a f (x)dx = b −a2 e finalmente concluimos que a f (x)dx =
b2 −a2
2 .
103
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

4.1 Continuidade duma Função Implica a sua


Integrabilidade

Definição 4.9. {Definição de função uniformemente contínua } Seja f : D ⊂ R 7→ R.


Diz-se que f é uniformemente contínua em D se e só se ∀ǫ > 0∃δ > 0 : ∀x, y ∈
D, |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < ǫ.

Exemplo 4.5. Agora vamos mostrar que f (x) = x2 é uniformemente contínua em


[a, b]. Sejam a e b númros reais com a < b. Sejam x and y elementos de [a, b] e
considere-se L = max{|a|, |b|}. Então

|x2 − y 2 | = |(x − y)(x + y)| ≤ |x − y| (|x| + |y|) ≤ 2L|x − y|.

Logo
ǫ
∀ǫ > 0∃δ = : ∀x, y ∈ [a, b] : |x − y| < δ ⇒ |x2 − y 2 | < ǫ.
2L

Exemplo 4.6. {Exemplo de uma função que não é uniformemente contínua em


R,f (x) = x2 , ∀x ∈ R} Considerem-se as sucessões cujos termos gerais são xn =
√ √
n + 1 e yn = n. Tem-se limn→+∞ (xn − yn ) = 0 e limn→+∞ (f (xn ) − f (yn )) = 1.
Logo podemos concluir que f não é uniformemente contínua em R.

Teorema 4.4. Toda a função contínua num intervalo fechado e limitado [a, b]é uni-
formemente contínua em [a, b].

Teorema 4.5. Sejam a e b números reais com a < b e f : [a, b] 7→ R uma função
contínua em [a, b]. Então f é integrável em [a, b].

Demonstração. Seja ǫ > 0. Como [a, b] é um intervalo fechado e limitado então


f é uniformente contínua no intervalo [a, b]. Mas então escolha-se δ > 0 tal que
(x, y ∈ [a, b] ∧ |x − y| < δ) ⇒ |f (x) − f (y)| < b−a ǫ
. Escolha-se uma partição Pn =
{x0 , x1 , · · · , xn } de [a, b] tal que |xi − xi−1 | < δ, ∀i = 1, · · · n. Sejam

Mi = supx∈[xi−1 ,xi ] f (x) = f (ζiMi )

com ζiMi ∈ [xi−1 , xi ] e mi = infx∈[xi−1 ,xi ] f (x) = f (ζimi ) com ζimi ∈ [xi−1 , xi ].
104
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Mas então vem


n
X n
X
S(f, Pn ) − s(f, Pn ) = Mi △xi − mi △xi
i=1 i=1
n
X
= (Mi − mi )△xi
i=1
Xn
= (f (ζiMi ) − f (ζimi ))△xi
i=1
n
X ǫ
= △xi
b
i=1 P
− a
n
= b−a
ǫ
i=1 △xi
ǫ(b−a)
= b−a
= ǫ.

Logo f é integrável em [a, b].

Teorema 4.6. Sejam a e b números reais com a < b e f : [a, b] 7→ R uma função
limitada com um número finito de descontínuidades em [a, b]. Então f é integrável em
[a, b].

4.1.1 Propriedades das Funções Integráveis num Intervalo

Teorema 4.7. Sejam a e b números reais com a < b e f : [a, b] 7→ R uma função
Rb
integrável em [a, b]. Se m ≤ f (x) ≤ M, ∀x ∈ [a, b] então m(b − a) ≤ a f (x)dx ≤
M (b − a).

Demonstração. Seja P = {x0 , · · · , xn } uma partição de pontos de [a, b] e mi =


infx∈[xi−1 ,xi ] f (x) e Mi = supx∈[xi−1 ,xi ] f (x). Mas então
Rb Rb
af (x)dx = a f (x)dx
= sup(s(f ; P))
≥ s(f, P)
Xn
= mi △xi
i=1
n
X
≥ m△xi
i=1
n
X
=m △xi
i=1
= m(b − a).
105
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Por sua vez


Rb Rb
a
f (x)dx = a f (x)dx
= inf(S(f ; P)) ≤ S(f, P)
X n
= Mi △xi
i=1
n
X
≤ M △xi
i=1
n
X
≤M △xi
i=1
= M (b − a).
Logo
Z b
m(b − a) ≤ f (x)dx ≤ M (b − a).
a

Observação 4.6. Muitas vezes usa-se outra definição de função integrável em [a, b].
Que passamos a apresentar já de seguida que é equivalente à definição apresentada
anteriormente. E é esta definição que é utilizada para estabelecer mais à frente fórmu-
las de cálculo de volumes, de áreas de sólidos de revolução, fórmulas de comprimentos
de arcos e fórmulas que determinem o centro geométrica de regiões planas.

Definição 4.10. Seja f : [a, b] ⊂ R 7→ R. Diz-se que ! f é integrável segundo Riemann


n
X
em [a, b] se e só se existe lim||Pn ||→0 f (ci )△xi com Pn = {x0 , x1 , · · · , xn } uma
i=1
partição de pontos de [a, b], ||Pn || = maxi∈{1,··· ,n} |xi − xi−1 |, e com ci ∈]xi−1 , xi [ para
i = 1, · · · , n e nesse caso o seu valor chama-se integral definido de f em [a, b].

Observação 4.7. Muitas vezes daqui em diante vamos dizer apenas que f é integrável
Rb
em [a, b] e ao simbolo a f (x)dx chamamos integral definido em [a, b]. Apresentamos
aqui esta definição de função integrável em [a, b] também por permitir provar as pro-
priedades que apresentamos no Teorema 4.8 de um modo fácil.

Teorema 4.8. Propriedade muito importante Sejam a, b e c números reais com


a < b < c e f , g : [a, b] 7→ R funções limitadas e integráveis em [a, b] e C ∈ R Então
Rb Rb Rb
a) f ± g é integrável em [a, b] e a (f (x) ± g(x))dx = a f (x)dx ± a g(x)dx
b) f g é integrável em [a, b].
Rb Rb
c) Cf é integrável em [a, b] e a (Cf )(x)dx =C a f (x)dx
d) Se b ∈]a, c[ , f|[a,b] e f|[b,c] sáo funções integráveis em [a, b] e [b, c] respectivamente
Rc Rb Rc
então f é integrável em [a, c] e a f (x)dx = a f (x)dx + b f (x)dx. Por sua vez
se f é integrável em [a, c] então f é integrável em [a, b] e f é integrável [b, c] e
verifica-se a igualdade anterior.
Rb
e) Se f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] então a f (x)dx ≥ 0.
106
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Rb Rb
f) Se f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b] então a f (x)dx ≤ a g(x)dx.
Rb Rb
g) |f | é uma função integrável e | a f (x)dx| ≤ a |f (x)|dx.

Demonstração. Vamos provar as propriedades que não precisam de muita matemática


e que seja acessível a qualquer aluno.

e) Se f é integrável então
Rb Rb
f (x)dx = a f (x)dx = sup(s(f, P))
a
≥ s(f, P )
Xn
= mi (xi − xi−1 )
i=1
n
X
= infx∈[xi−1 ,xi ] f (x)(xi − xi−1 )
i=1
porque f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] então
≥0

f) Se f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b] então 0 ≤ (g − f )(x), ∀x ∈ [a, b]. Mas então pela proprie-
Rb Rb Rb
dade e) conluimos que a (g − f )(x)dx ≥ 0 e portanto a g(x)dx − a f (x)dx ≥ 0, ou
Rb Rb Rb Rb
seja a g(x)dx ≥ a f (x)dx. Finalmente, tem-se a f (x)dx ≤ a g(x)dx.

g) Temos que

−|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)| (4.1)

Mas então de (4.1) obtemos (4.2).


Z b Z b Z b
− |f (x)|dx ≤ f (x)dx ≤ |f (x)|dx (4.2)
a a a

Mas então de (4.2) obtemos (4.3).


Z b Z b
| f (x)dx| ≤ |f (x)|dx (4.3)
a a

Teorema 4.9. Se f : [a, b] 7→ R é integrável então F : [a, b] 7→ R tal que F (x) =


Rx
a f (u)du, ∀x ∈ [a, b] é contínua em [a, b].

Demonstração. Como estamos a supor que f é limitada

∀x ∈ [a, b], |f (x)| ≤ L.


107
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Seja x0 ∈]a, b[. Ora se x ∈]a, b[ e x > x0 então


Z x Z x0 Z x
F (x) − F (x0 ) = f (u)du − f (u)du = f (u)du.
a a x0

Pelo Teorema 4.8 alínea g) então concluimos que


Z x
| f (x)dx| ≤ L(x − x0 ).
x0

Como limx→x+ L|x − x0 | = 0 então concluimos que limx→x+ (F (x) − F (x0 )) = 0, isto
0 0
é limx→x+ F (x) = F (x0 ). Se x ∈]a, b[ e x < x0 então
0

Z x Z x0 Z x0
F (x) − F (x0 ) = f (u)du − f (u)du = − f (u)du
a a x

Mas então Z x0
| f (u)du| ≤ L(x0 − x)
x

e portanto limx→x− (F (x) − F (x0 )) = 0, isto é limx→x− F (x) = F (x0 ). Assim, mos-
0 0

tramos que limx→x0 F (x) = F (x0 ), ou seja mostramos que F é contínua em x0 . É


evidente que por pensamento análogo concluimos que F é contínua em a à direita e
é contínua em b à esquerda. Logo mostramos que F é contínua em [a, b].

Teorema 4.10. Teorema Fundamental do CálculoSe f : [a, b] 7→ R é integrável em


Rx
[a, b] e f é contínua em x0 ∈ [a, b] então F (x) = a f (u)du é diferenciável em x0 e
F ′ (x0 ) = f (x0 ).

Demonstração. Seja x0 ∈]a, b[ e considerem-se para cada x ∈ [x0 , b] os números reais,


Mx e Nx tais que Mx = supx∈[x0 ,x] f (x) e mx = infx∈[x0 ,x] f (x). Por sua vez, tem-
Rx
f (u)du
se F (x)−F
x−x0
(x0 )
= x0x−x0 e como para u ∈]x0 , x] se tem mx ≤ f (u) ≤ Mx . Logo
podemos concluir que:
Z x Z x Z x
mx du ≤ f (u)du ≤ Mx du
x0 x0 x0

ou seja que Z Z Z
x x x
mx du ≤ f (u)du ≤ Mx du
x0 x0 x0

e portanto temos
Rx
m(x − x0 ) ≤ x0 f (u)du ≤ Mx (x − x0 ) e portanto divididindo a equação anterior por
x − x0 obtemos que mx ≤ F (x)−F (x0 )
x−x0 ≤ Mx . Mas por f ser contínua em x0 então
podemos concluir que limx→x+ Mx = f (x0 ) = limx→x+ mx e portanto mostramos que
0 0
F (x)−F (x0 ) F (x)−F (x0 )
limx→x+ x−x0 = f (x0 ). Do mesmo modo mostramos que limx→x− x−x0 =
0 0
108
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

f (x0 ). E portanto F (1) (xo ) = f (x0 ). Prova-se da mesma maneira quando x0 = a ou


x0 = b. Logo concluimos que F (1) (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b].

Teorema 4.11. Teorema Fórmula de BarrowSejam f : [a, b] 7→ R uma função


Rb
contínua em [a, b] e g : [a, b] 7→ R tal que g ′ (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b]. Então a f (x)dx =
g(b) − g(a).

Rx
Demonstração. Considere-se a função F (x) = a f (u)du. Como f é contínua em [a, b]
então F é diferenciável e ∀x ∈ [a, b] : F ′ (x) = f (x). Mas temos também que g ′ (x) =
Ra
f (x). Mas então F (x) = g(x) + K. Como F (a) = 0 pois a f (x)dx = 0 então K =
Rb
−g(a) e portanto F (x) = g(x) − g(a). Ora F (b) = a f (x)dx. Mas F (b) = g(b) − g(a)
Rb
e portanto F (b) = g(b) − g(a). Assim a f (u)du = g(b) − g(a).

Definição 4.11. Dada uma função f definida num intervalo aberto I, diz-se que F
é uma primitiva de f se e só se F ′ = f.
R2
Exercício 4.1. Calcule 1 x3 dx.
4
Resolução 4.1. Como ( x4 )′ = x3 então
R4 4

1
x3 dx = ( x4 )|21
= 4 − 14
16

= 15
4 .

R3
Exercício 4.2. Calcule 1 (x2 − x)dx.

Resolução 4.2. Tem-se


R3 R3 R2
1
(x2 − x)dx = 1 x2 dx − 1 xdx
3 2
= ( x3 )|31 − ( x2 )|21
= 27 1 4
3 − 3 − (2 − 2)
1
26 3
= 3 −2
= 52−9
6
= 43
6 .

Teorema 4.12. Teorema do Valor Médio para Integrais Sejam a e b números


reais e Rf : [a, b] 7→ R sendo f continua em [a, b], então existe c ∈ [a, b] tal que
b
f (x)dx
f (c) = a b−a . e define-se o valor f (c) como sendo o valor médio de f em [a, b].

Demonstração. Sejam xmin , xmax ∈ [a, b] tal que f (xmin ) = minx∈[a,b] f (x),
f (xmax ) = maxx∈[a,b] f (x). Considere-se m1 = f (xmin ) e M1 = f (xmax ). Mas então

m1 ≤ f (x) < M1 , ∀x ∈ [a, b].


109
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Rb Rb Rb
Pelo Teorema 4.8 alínea f vem a m1 dx ≤ a f (x)dx ≤ a M1 f (x)dx. Logo m1 (b−a) ≤
Rb
Rb f (x)dx
a f (x)dx ≤ M1 (b − a) E portanto m1 ≤ ≤ M1 . Logo pelo Teorema de
a
b−a Rb
f (x)dx
Bolzano, note-se que f é contínua em [a, b], ∃c ∈]a, b[ tal que f (c) = a b−a .

Rb
Observação 4.8. Note-se que do Teorema 4.12 resultaque a f (x)dx = f (c)(b − a).
E portanto o Teorema 4.12 permite-nos concluir que quando a função integranda
f é positiva que existe c ∈]a, b[ tal que a área da região do espaço delimitada por
y = f (x), x = a, x = b e y = 0 é a mesma que área do rectângulo de altura f (c) e com
largura b − a.

Exercício 4.3. Calcule a área da região de R2 delimitada por y = 1 − x2 e y = 0.

Resolução 4.3.

Logo R1
area(D) = −1 (1 − x2 )dx
Z 1
R1
= −1 1dx − x2 dx
−1
3
= x|1−1 − x3 |1−1
= (1 − (−1)) − ( 13 − (− 31 )
= 2 − ( 23 )
= 63 − 32
= 34 .

4.2 Áreas de Figuras Planas

Se f é integrável em [a, b] e f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] então a área da região de R2


limitada pelas rectas x = a e x = b, pelo eixo Ox e pelo gráfico de f é dada por
Rb
area(D) = a f (x)dx.
110
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

A área de uma região D limitada pelas rectas x = a e x = b e pelos gráficos das


funções f e g integráveis no intervalo [a, b] tais que f (x) ≤ g(x) é dada através da
Rb
igualdade area(D) = a (g(x) − f (x))dx.

Exercício 4.4. Calcule a área da região do espaço D limitada por y = x + 2, y =


x + 1, x = 1 e x = 2.

Resolução 4.4.

Assim, considerando g(x) = x + 2 e f (x) = x + 1 tem-se


R2 R2
area(D) = 1 (g(x) − f (x))dx = 1 ((x + 2) − (x + 1))dx
R2
= 1 (2 − 1)dx
R2
= 1 1dx
= x|21
=2−1
= 1.

Observação 4.9. Notem que o Teorema da média R b permite-nos dizer que c ∈]a, b[ tal
Rb f (x)dx
que a f (x) = f (c)(b−a),ou seja diz-nos f (c) = a b−a . E esta igualdade sugere-nos
a introdução do conceito de valor médio de uma função real definida num intervalo
[a, b], que apresentamos na definição seguinte.
111
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Definição 4.12. Seja f uma função real de variável real contínua em [a, b] então
define-se
Rb o valor médio de f em [a, b] como sendo o valor fmedia tal que: fmedia =
f (x)dx
a
b−a .

4.3 Integração, Integrais Indefinidos


Definição 4.13. {Definição de primitiva de uma função} Sejam f e F duas funções
reais de variável real definidas num intervalo I. Diz-se que F é uma primitiva de f
em I se e só se F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ I.
Definição 4.14. {Função primitivável} Uma função F diz-se primitivável num in-
tervalo I se existir uma primitiva de f definida em I.
Exemplo 4.7. Como (x2 )′ = 2x então x2 é uma primitiva de 2x. Como (senx)′ =
cos x então senx é uma primitiva de cos x.
Teorema 4.13. {Teorema de Darboux} Seja I ⊂ R um intervalo aberto, f : I ⊂ R 7→
R uma função diferenciável em I. Se existirem a, b ∈ I tais que f ′ (a) 6= f ′ (b) então,
para todo o k entre f ′ (a) e f ′ (b) existe c ∈]a, b[ tal que f ′ (c) = k.

0, x < 2
Exemplo 4.8. {Exemplo de função não primitivável} A função f (x) =
2, x ≥ 2.
não é primitivável em R. De facto a existência de uma função F : R 7→ R tal que
F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ R contradiz o Teorema de Darboux pois f ′ não toma nenhum
valor entre 0 e 2.
Teorema 4.14. Se F é uma primitiva de f num intervalo I então qualquer que seja
a constante real C a função G(x) = F (x) + C é também uma primitiva de f em I.
Teorema 4.15. Se F e G são duas primitivas de f num intervalo I então F − G é
constante em I.
Observação 4.10. Podemos dizer que todas as primitivas de f são da forma F + C
com F uma primitiva de f e C ∈ R.
Definição 4.15. {Definição de primitivas imediatas} Chamam-se primitivas imedi-
atas de uma função real de variável real aquelas funções que se deduzem directamente
por uma regra de derivação.
Observação 4.11. {Notação} Se F é uma primitiva de f num conjunto D en-
R
tão passamos a designar por f (x)dx qualquer primitiva de f em D e escrevemos
R R
f (x)dx = F + C ou P f (x) = F + C. Ao integral f (x)dx chamamos integral
indefinido.
Teorema 4.16. {Propriedades do integral indefinido}
R R
a) Kf (x)dx = K f (x)dx
R R R
b) (f (x) ± g(x))dx = f (x)dx ± g(x)dx
112
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

4.3.1 Tabela de Primitivas Imediatas

R
f (x) f (x)dx
g ′ (u(x))u′ (x) (g ◦ u)(x) + C
(u(x))α+1
(u(x))α u′ (x), α 6= −1 α+1 +C
u′ (x)
u(x) ln |u(x)|+C
e u (x)
u(x) ′
eu(x) + C
au(x)
au(x) u′ (x) = eu(x) ln a u′ (x), a ∈ R+ \ {1} ln a +C
cos (u(x))u′ (x) sen(u(x)) + C
sen(u(x))u′ (x) − cos (u(x)) + C
tg(u(x))u′ (x) − ln | cos(u(x))| + C

(u(x))u′ (x) ln |sen(u(x))| + C


sec2 (u(x))u′ (x) tg(u(x)) + C
cosec2 (u(x))u′ (x) −cotg(u(x)) + C
u′ (x)
1+u2 (x) arctg(u(x)) + C
u′ (x)
√ arcsen(u((x))) + C
1−u2 (x)
sinh(u(x))u (x) ′
cosh u(x)
cosh (u(x))u′ (x) sinh u(x) + C

tgh(u(x))u′ (x) ln | cosh(u(x))| + C


cotgh(u(x))u′ (x) ln | sinh(u(x))| + C
sec(u(x))u′ (x)dx ln | sec(u(x)) + tg(u(x))|
cosec(u(x))u′ (x)dx ln |cosec(u(x)) − cotg(u(x))| + C

Exercício 4.5. Calcule a área da região

D = {(x, y) ∈ R2 : ((−3 ≤ x ≤ −2) ∧ (4 − x2 ≤ y ≤ x2 − 4))}∩

∩{(x, y) ∈ R2 : ((−1 ≤ x ≤ 1)∧(x2 −4 ≤ y ≤ 4−x2 ))∧((2 ≤ x ≤ 3)∧((x2 −4)−(4−x2 ))}.


ver figura 4.5.

Figura 4.5: Região complicada


113
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 4.5. Assim, tem-se


R −2 R2
area(D) = −3 ((x2 − 4) − (4 − x2 ))dx + −2 ((4 − x2 ) − (x2 − 4))dx+
R3 2
+ 2 ((x − 4) − (4 − x2 ))dx
R −2 R2 R3
= −3 (2x2 − 8)dx + −2 (8 − 2x2 )dx + 2 (2x2 − 8)dx
R −2 2 R2 R3
= 2 −3 (x − 4)dx + 2 −2 (4 − x2 )dx + 2 2 (x2 − 4)dx
3
x3 2 x3
= 2( x3 − 4x)|−2−3 dx + 2(4x − 3 )|−2 + 2( 3 − 4x)|2
3
8 27 8
= 2[(− 3 − 4(−2)) − (− 3 − 4(−3))] + 2[(4 ∗ 2 − 3 )−
−(4(−2) − −8 27 8
3 )] + 2[( 3 − 4 ∗ 3) − ( 3 − 8)]
= 2[(− 3 + 8) − (− 3 + 12)] + 2[(8 − 83 ) − (−8 + 83 )]+
8 27

+2[ 27 8
3 − 12) − ( 3 − 3 )]
24

= 2[( 3 − 3 ) − (− 3 + 24
16 9 8 24 8 24 8
3 )] + 2[( 3 − 3 ) − (− 3 + 3 )]+
+2[( 27 36 16
3 − 3 ) − (− 3 )]
= 2( 3 − 3) + 2( 3 + 16
16 16 16
3 ) + 2(−3 + 3 )
7 32 7 7 32
= 2( 3 ) + 2( 3 ) + 2 3 = 2(2 3 + 3 )
= 2 46
3
= 92
3 .

4.4 Alguns Exercícios com Solução para Cálculo de


Areas

Exercício 4.6. Calcule a área da região do espaço D delimitada por y = x2 e

y = x.
Resolução 4.6. Resultado área(D)= 31 .
2
Exercício 4.7. Calcule a área da região D de R2 delimitada por y = xe−x , y =
x + 1, x = 2 e x = 0.
7 e−4
Resolução 4.7. Resultado área(D)= 2 + 2 = 3.05092.
Exercício 4.8. Determine a área da região D de R2 delimitada por y = 2x2 + 10 e
y = 4x + 16.
64
Resolução 4.8. Resultado área(D) = 3 .

Exercício 4.9. Calcule a área da região D de R2 delimitada por y = 2x2 + 10,


y = 4x + 16, x = −2 e x = 5.
142
Resolução 4.9. Resultado área(D)= 3 .

Exercício 4.10. Determine a área da região D delimitada por y = sen(x), y =


cos(x), x = π2 ex = .0

Resolução 4.10. Resultado área(D)= 2 2 − 2.
Exercício 4.11. Determine a área da região D delimitada por x = 21 y 2 −3 e y = x−1.
Resolução 4.11. Resultado área(D)= area(D) = 18.
114
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

4.5 Exercícios sobre Primitivas Imediatas


Exercício 4.12. Mostre que
R
1) (3x2 − 4sen(x))dx = x3 + 4 cos(x) + C.
R 4 3 2
2) (2x3 − 4x2 + 3x − 5)dx = x2 − 4x3 + 3x2 − 5x + C.
R √ 2

3
3) (x − x)dx = x2 − 2 3x + C.
R 1
4) xdx 90 dx = − 89x89 + C.
R 2
5) ( x2 + x33 )dx = − x2 − 2x3 2 + C.
R 1 √
5 4
6) √5
x
dx = 5 4x + C.
R √ √ √ √
3 4
3
7) ( x + 3 x)dx = 2 3x + 3 4x + C.
R √ √ √7 8

8 9
8) ( 7 8x + 8 7x)dx = 7 88x + 8 97x + C. )
R √ √  √ √
4 x − x 4 x dx = 8 3x − x5 10 + C.
3
9)
R 3 2 √
10) x + √1x dx = 17 (x7 + 4 x2 ) + ln |x| + C.
R 3  √3 √
√2 9 x2
11) √
3
x
+ x
dx = 2 +4 x+C
R 4 √ 
4 √3x dx + C.
12) 2+3x 2 dx = √
6
arctg 2
R dx q
13) 2x2 +1 dx = 21 ln x + x2 + 12 + C.

R 1
14) dx x = 3x ln 3 + C.
R3
15) ť (2sen(x) + 3tgx)dx = −2 cos x − ln | cos x| + C.
R
16) sen12 2x dx = 41 (tgx − cotgx) + C.
R
17) (2 sinh(x) − 5 cosh x)dx = 2 cosh(x) − 5 sinh(x) + C.
R
18) tg 2 xdx = tgx − x + C.

115
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

5 Método de Substituição
R R
Um integral da forma g(f (x))f ′ (x)dx pode ser escrito na forma g(u)du fazendo
u = f (x) e du = f ′ (x)dx. Por sua vez, se G é uma primitiva de g, note-se que
G′ (u) = g(u), então G ◦ f (x) é uma primitiva de g(f (x))f ′ (x). Pois

dx (G
◦ f (x)) = G′ (f (x))f ′ (x)
d

=

g(f (x))f ′ (x).
G =g

Assim Z Z
′ d
g(f (x))f (x)dx = (G ◦ f (x))dx = G ◦ f (x) + C.
dx
Note-se que podemos chegar ao mesmo resultado se calcularmos
Z
g(u)du

R
e depois substituirmos u por f (x). Assim, escrevemos g(u)du = G(u)|u=f (x) + C =
G(f (x)) + C.
R
Exercício 5.1. Calcule (x3 − 1)4 3x2 dx e depois verifique o resultado através da
derivação.

Resolução 5.1. Fazendo u = x3 − 1 , obtemos du = 3x2 dx. Assim


Z
(x3 − 1)4 3x2 dx

Z
u5 (x3 − 1)5
= u4 du = ( )|u=x3 −1 + C = + C.
5 5
Note-se que

(x3 − 1)5 1
( + C)′ = ((x3 − 1)5 )′ + (C)′ = (x3 − 1)4 3x2 + 0 = (x3 − 1)4 3x2 .
5 5
R
Exercício 5.2. Calcule senx cos xdx.
R
h 2 i5.2. Se u = sen(x)2 então du = cos(x)dx. Assim
Resolução
R
senx cos(x)dx =
udu = u2 + C = sen2 (x) + C.
|u=sen(x)
117
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Observação 5.1. Solução alternativa Aqui,temos que dizer que podiamos ter proce-
dido do seguinte modo: R
senx cos(x)dx
R
= 12 (2sen(x) cos(x)dx
R
= 21 (2sen(x) cos(x))dx
R
= 21 sen(2x)dx
R
= 41 2sen(2x)dx
= 41 (− cos(2x)) + C
= − 41 cos(2x) + C.
R dx
Exercício 5.3. Calcule (1+5x) 5.

Resolução 5.3. Fazendo u = 1 + 5x obtemos du = 5dx. Assim, tem-se


R dx
(1+5x) 5
R 5dx
= 15 (1+5x) 5
1
R
= 5 (1 + 5x)−5 (5dx)
R
= 15 u−5 du
−5+1
= 15 u−5+1 + C
−4
= 15 u−4 + C
−4
= 15 (1+5x)
−4 +C
1 1
= − 20 (1+5x)4 + C
1
= − 20(1+5x) 4 + C.

R √
Exercício 5.4. x3 4 1 + x4 dx.

Resolução 5.4. Fazendo u = 1 + x4 então du = 4x3 dx. Assim,


R 3√ R √
x 4 1 + x4 dx = 3 1 + x4 x3 dx
R 1
= (1 + x4 ) 3 x3 dx
1 du
u3 4
R 1
= u 3
du
4
1
R 1
= 4 u 3 du
1 +1
1 u3
= 4 13 +1 + C
4
1 u3
= 4 + C
h4 3 √ i
3 3 4
= 16 u +C
p |u=1+x4
3 3
= 16 (1 + x4 )4 + C.
R
Exercício 5.5. Calcule sec4 (x)tg(x)dx.

Resolução 5.5. Note-se que (sec (x))′ = sec (x)tg(x) e


Z Z
sec4 (x)tg(x)dx = sec3 (x) sec(x)tg(x)dx.
118
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Então fazendo u = sec (x) então du = sec (x)tgxdx. Assim


R R
sec4 (x)tg(x)dx = sec3 (x) sec(x)tg(x)dx
R
= u3 du
4
= u4 + C
4
= sec 4 (x) + C.
R
Exercício 5.6. (x4 − 1)(x5 − 5x + 1)5 dx.

Resolução 5.6. Se u = x5 − 5x + 1 então du = (5x4 − 5)dx = 5(x4 − 1)dx. Assim,


obtemos R 4 R
(x − 1)(x5 − 5x + 1)5 dx = (x5 − 5x + 1)5 (x4 − 1)dx
u5 du
5
R 5 du
= u 5
R
= 51 u5 du
6
= 15 u6 + C
5 6
= 51 (x −5x+1)
6 +C
(x5 −5x+1)6
= 30 + C.

R
Exercício 5.7. Calcule cos5 xdx

Resolução 5.7. Tem-se


R R
cos5 (x)dx = cos4 (x) cos(x)dx
R
= (cos2 (x))2 cos(x)dx
R
= (1 − sen2 (x))2 cos(x)dx.

Logo, fazendo u = senx obtemos du = cos(x)dx.


R R
cos5 (x)dx = (1 − u2 )2 du
R
= h (1 − 2u2 + u4i)du
3
u5
= u − 2 u3 + 5 +C
|u=sen(x)
3 5
= sen(x) − 2 sen3 (x) + sen5 (x) + C.

Exercício 5.8.
Z
1
√ dx (5.1)
1 − 4x2

Resolução 5.8. Com o objectivo de eliminar a raiz em (5.1)vamos fazer 2x =


119
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

sen(t), t = arcsen(2x) e portanto 2dx = cos(t)dt. Assim, tem-se


R R
√ 1 dx = √ 1 2 cos(t) dt
1−4x2 1−sen (t) 2
1
R 1
= 2 √ 2 cos(t)dt
R 1cos (t)
= 21 cos(t) cos(t)dt
R
= 21 dt
= 21 t + C
= 21 arcsen(2x) + C.

120
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

6 Integração por Partes

Teorema 6.1. {Integração por partes}


Z Z
f (x)g ′ (x)dx = f (x)g(x) − f ′ (x)g(x)dx

Demonstração.
(f g)′ = f ′ g + f g ′

Z Z

(f g) dx = (f ′ g + f g ′ )dx

Z Z
fg = f ′ gdx + f g ′ dx,

Z Z
fg − f ′ gdx = f g ′ dx

Ou seja Z Z

f g dx = f g − f ′ gdx

Exemplo 6.1. Z Z
x
xe dx = xe − x
1ex dx

Z Z
xex dx = xex − 1ex dx

Z
xex dx = xex − ex + C

Mas a regra de primitivação por partes também fica definida pela seguinte igualdade:
R R
uvdx = P (v)u − u′ P (v)dx
121
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Exemplo 6.2. R
x ln xdx
R
= ln xxdx
2
= ln x x2 −
R 1 x2
− x 2 dx
2 R
= x 2ln x − x2 dx
2 R
= x 2ln x − 21 xdx
2 2
= x 2ln x − 21 x2 + C
2 2
= x 2ln x − x4 + C.
Exemplo 6.3. {Muitas vezes temos repetir a integração por partes até surgir o mesmo
integral} Z Z
ex sen(x)dx = ex sen(x) − ex cos (x)dx
Z  Z 
x x
e sen(x)dx = e sen(x) − e cos (x) − x x
e (−sin(x))dx
Z Z
ex sen(x)dx = ex sen(x) − ex cos (x) − ex sin(x)dx
Z
2 ex senxdx = ex sen(x) − ex cos (x) + B
Z
ex sen(x) − ex cos (x)
ex senxdx = + C.
2
A integração por partes permite obter primitivas dos arcos e dos logaritmos, por
exemplo de ln x, arctgx, arcsenx, · · · etc.
Exemplo 6.4. Z Z
ln (x)dx = 1 ln (x)dx

Z Z
1
ln (x)dx = x ln (x) − x dx
x
Z Z
ln (x)dx = x ln (x) − 1dx

Z
ln (x)dx = x ln (x) − x + C.
Z Z
arctgxdx = 1arctg(x)dx

Z
1
= xarctg(x) − x dx
1 + x2
Z
x
= xarctg(x) − dx
1 + x2
122
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Z
1 2x
= xarctg(x) − dx
2 1 + x2
1
= xarctg(x) − ln (1 + x2 ) + C.
2
O objectivo da integração por partes é transformar o cálculo de uma primitiva de uma
função no de outra primitiva de outra função mais simples.

Exemplo 6.5.
R 1 R  1

1
x3 (1 + x2 ) 2 dx = 2 x2 2x(1 + x2 ) 2 dx
2 3
= 21 x2 (1+x3 ) −
2

R  22 3

− 12 2x 3 (1 + x2 ) 2 dx
2 3 R 3

= 21 x2 (1+x3 ) − 31
2
2x(1 + x2 ) 2 dx
2
2 5
3 1 (1+x ) 2
= 31 x2 (1 + x2 ) 2 − 3 5 +C
2
3
2 25
= 31 x2 (1
p+
2
x ) − 15 (1p
2 2
+x ) +C
= 31 x2 (1 2
+ x2 )3 − 15 (1 + x2 )5 + C.
R
Para utilizar a integração por partes em uvdx temos1 que seguir várias regras:
quando conhecemos as primitivas dos dois factores u e v da função integranda de
R
uvdx, então temos respeitar a seguinte ordem de preferência:
a) se um dos factores é a exponencial, começa-se a primitivar pela exponencial.
b) se nenhum dos factores é uma exponencial e um deles é uma função trigonométrica,sen(x)
ou cos(x), então começa-se por ela.
c) se nenhum dos factores não é uma função exponencial ou uma função trigono-
métrica, mas um deles é da foram xm então começa-se a primitivar por ele.
R
Exercício 6.1. Calcule xex dx.

Resolução 6.1. R R
xex dx = ex dx
R
= ex x − ex dx
= ex x − ex + C.
R
Exercício 6.2. Calcule x cos(x)dx.

Resolução 6.2. R R
x cos(x)dx = cos (x)xdx
R
= sen(x)x − sen(x)dx
= sen(x)x − (− cos (x)) + C
= sen(x)x + cos(x) + C.
1 Pressupomos que u e v ou são funções, ou funções tigonométricas seno ou coseno ou potências de
x. Pressupõe-se ainda que são de tipos diferentes
123
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

R
Exercício 6.3. Calcule x3 (1 + x)100 dx.

Resolução 6.3.
R R
x3 (1 + x)100 dx = (1 + x)100 x3 dx
101 R 101
= (1+x)
101 x3 − (1+x) 101 3x2 dx
101 R
(1+x) 3
= 101 x − 101 (1 + x)101 x2 dx
3
101 102 R 102
= (1+x)
101 x3 − 1013 (1+x)
[ 102 x2 − (1+x) 102 2x]dx + C
(1+x)101 3 3 (1+x)
102
6
R (1+x)102
= 101 x − 101 102 x + 101 2
xdx
101 102 R102
= (1+x)
101 x3
− 3 (1+x)
101 102 x2
+ 6
101∗102 (1 + x)102 xdx
(1+x)101 3 3 (1+x)
102
= 101 x − 101 102 x + 2
103 R 103
6
+ 101∗102 [ (1+x)
103 x − (1+x) 103 dx]
101 102
= (1+x)
101
3 (1+x)
x3 − 101 102 x2 +
6 6
R
+ 101∗102∗103 (1 + x) x − 101∗102∗103
103
(1 + x)103 dx
101 102
= (1+x)
101
3 (1+x)
x3 − 101 102 x2 +
6 6
+ 101∗102∗103 (1 + x) x − 101∗102∗103∗104
103
(1 + x)104 + C

124
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

7 Integração por partes Aplicada a


Integrais Definidos
Teorema 7.1. Sejam a e b números reais tais que a < b, f ∈ C 1 ([a, b]) em [a, b] e g
uma função contínua em [a, b]. Então se G é uma primitiva de g em [a, b] então
Z b Z b
f (x)g(x)dx = [f (x)G(x)]ba − f ′ (x)G(x)dx
a a

Demonstração. Tem-se
(f G)′ = f ′ G + f G′ .
Como G′ = g logo podemos escrever

(f G)′ = f ′ G + f g.

Assim Z Z
b b

(f G) dx = (f ′ G + f g)dx,
a a
ou seja
Z b Z b
[f G]ba = f ′ Gdx + f gdx
a a
e portanto
Z b Z b
f gdx = [f G]ba − f ′ Gdx.
a a

Exemplo 7.1. R2 R2
ln xdx = 1 1 ln (x)dx
1 R2 
= (x ln (x))|21 − 1 x x1 dx
R2
= 2 ln 2 − 1 ln 1 − 1 dx
R2
= 2 ln 2 − 1 dx
= 2 ln 2 − x|21
= 2 ln 2 − (2 − 1)
= 2 ln 2 − 1.

125
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

8 Integração por Substituição nos


Integrais Definidos

Teorema 8.1. {Integração por Substituição} Sejam a e b números reais tais que
a < b, f : [a, b] 7→ R, x 7→ f (x) uma função contínua em [a, b] , F uma primitiva de
f em [a, b] e g : [c, d] 7→ [a, b], t 7→ x = g(t)(dx = g ′ (t)dt) tal que g ∈ C 1 ([c, d]) tal que
g(c) = a e g(d) = b. Então
Z b Z d
f (x)dx = f (g(t)) g ′ (t)dt.
a c

Demonstração. Sejam F : [a, b] 7→ R uma primitiva de f e H : [c, d] 7→ R a função tal


que H(t) = F (g(t)). Mas então como g(c) = a ∧ g(d) = b e H ′ (t) = F ′ (g(t))g ′ (t) =
f (g(t))g ′ (t)
Z d Z d
f (g(t))g ′ (t)dt = H ′ (t)dt = H(d) − H(c) = F (g(d)) − F (g(c)) =
c c

Z b
= F (b) − F (a) = f (x)dx.
a

Observação 8.1. Notem que se x = g(t). Então

dx
= g ′ (t)
dt
,
dx = g ′ (t)dt
,
a = g(c), b = g(d).
R1√ √
Exemplo 8.1. 0 1 − x2 dx f (x) = 1 − x2 . Considere-se a mudança x = g(t) =
127
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

sin(t), g( π2 ) = 1 e g(0) = 0 e g ′ (t) = cos(t).


R1√
0 R π1 − x dx
2

= 02 f (g(t))g ′ (t)dt
Rπ√
= 02 1 − sen2 t cos(t)dt

= 02 cos(t) cos(t)dt
R π2
= 0 cos2 (t)dt

= 02 1+cos (2t)
dt
R π2 2 Rπ
= 1/2 0 dt + 14 02 2 cos (2t)dt
π
= π4 + 14 (sen(2t))|02
= π4 .

Observação 8.2. {Relembrando.} O objectivo do método de substituição é:


a) ver se após a mudança se obtém uma primitiva imediata,
b) transformar a função intreganda numa nova função que se saiba integrar por
partes,
c) ver se é possível transformar a função integranda num quociente de polinómios
ou num polinómio, porque aqui tem-se um método eficiente que resolve muito
bem o problema de integração.

R √
Exemplo 8.2. Obtenha-se 1+1√x dx considerando a mudança x = t2 , t = x, dx =
2tdt. R 1 R 2t
√ dx =
1+R x 1+t dt
1+t−1
= 2  1+t dt
R R 1 
=2 1dt − 1+t dt
= 2 (t − ln |1 + t|)t=√x + C
√ √
= 2 x − 2 ln (1 + x) + C.

Exemplo 8.3. Faça t = cos(x), dt = −sen(x)dx para desenvolver o integral


Z
senx
I= dx.
cos x + (cos x)3
128
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Assim, podemos escrever


R sen(x)
cos (x)+(cos (x))3 dx
R −sen(x)
= − cos (x)+(cos (x))3 dx
R dt
= − t+t3
R 1
= − t(1+t 2 ) dt
R 1 ť

=− t − t
1+t 2 dt
1
R 2t
= − ln |t| + 2 1+t2 dt
= (− ln |t| + 21 ln(1 + t2 ))|t=cos(x) +C
√ 2
= ln 1+tt + C.
|t=cos(x)

Finalmente concluimos que logo


Z p
senx 1 + cos2 (x)
dx = ln + C.

cos x + (cos x)3 | cos x|

8.1 Alguns Problemas sobre Integrais com Solução


8.1.1 Problemas Sobre áreas de Figuras Planas
Exercício 8.1. Calcule a área da região D limitada pelas rectas x = 0, x = 1, y = 0
e f (x) = x2 . Resposta area(D) = 13 .

Resolução 8.1.
Z 1
x3 1 1
area(D) = x2 dx = ( )| = .
0 3 0 3

8.1.2 Problemas sobre Primitivas Directas


Exercício 8.2. Mostre que
a) Z
x3 + 1 x3
dx = + ln |x| + C;
x 3
b) Z
1 1 x
dx = arctg + C;
a2 +x2 a a
c) Z
1 x
√ dx = arcsen + C;
2
a −x 2 a

d) Z
sec xdx = ln | sec x + tgx| + C.
129
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 8.2. a)
R x3 +1
R 3 R 1
= xx dx +
dx x dx
Rx 2 R 1
= x dx + x dx
3
= x3 + ln |x| + C.

b) Z Z
1 1
dx = 2 dx
a2 + x2 a (1 + xa2 )
2

Z 1
1
= a
2
a (1 + xa2 )
1 x
= arctg + C.
a a
c) Z Z
1 1
√ dx = q dx
a − x2
2
a 1−

x 2
a
Z
1 1
= q dx
a 
x 2
1− a
Z 1
= q a  dx
2
1 − xa
x
= arcsen +C
a
d) Como (sec (x))′ = tg(x) sec (x) e (tg(x))′ = sec2 (x) então é por essa razão que
tem sentido a a resolução que se apresenta agora:
R R
sec (x)dx = sec (x)(tg(x)+sec
sec (x)+tg(x)
(x))
dx
= ln | sec (x) + tg(x)| + C.

8.1.3 Problemas sobre Integração por Partes

Exercício 8.3. a)
Z
x(1 + x)10 (1 + x)11
x(1 + x)9 dx = − + C;
10 110

b) √
Z p
x a2 + x2 a2 p
a + x dx =
2 2 + ln |x + a2 + x2 | + C;
2 2
130
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

c) Z
x cos xdx = xsenx + cos x + C;

d) Z
x 1
(cos x)2 dx = + sen2x + C;
2 4
e) Z
x2 senxdx = −x2 cos x + 2xsenx + 2 cos x + C.

R
Resolução 8.3. a) Para obter I = x(1+x)9 dx temos de ver qual é objectivo que
devemos satisfazer, assim pretende-se que após calcular a primitiva de uma das
funções x ou (1 + x)9 se obtenha uma função que já se saiba primitivar então é
por essa razão que vou começar por fazer a primitiva de (1 + x)9 . Assim, tem-se
R
x(1 + x)9 dx
10 R 10
= x (1+x)
10 − 1 (1+x)10 dx
(1+x)10 1 (x+1)
11
= x 10 − 10 11 + C
10 11
= x (1+x)
10 − (x+1)
110 + C.

b) R√ R √
a2 + x2 dx = 1 a2 + x2 dx
√ R
= x a2 + x2 − x 2√a2x 2 +x2
dx
√ R 2
= x a + x − √a2 +x2 dx
2 2 x
√ R 2 2 −a2
= x a2 + x2 − a√+x 2 +x2
dx
√ R a2a+x 2 R 2
= x a + x − √a2 +x2 dx + √aa2 +x2 dx
2 2
√ R √ R
= x a2 + x2 − a2 + x2 dx + a2 √a21+x2 dx
truque de mágico
√ R√ R √
x+ a2 +x 2
= x a2 + x2 − a2 + x2 dx + a2 √a2 +x √
2 (a2 + a2 +x2
dx.

Logo
Z p Z √
p
2 x + a2 + x2
2 a + x dx = x a + x + a
2 2 2 2 √ √ dx.
a2 + x2 (x + a2 + x2 )
Ou seja
Z p p p
2 a2 + x2 dx = x a2 + x2 + a2 ln(x + a2 + x2 ) + B.

Assim
Z p √ √
x a2 + x2 + a2 ln(x + a2 + x2 )
a + x dx =
2 2 + C.
2
131
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

c) Tem-se começando a primitivar pelo coseno que


R R
x cos xdx = xsenx − (x)′ senxdx
R
= xsenx − senxdx
= xsenx − (− cos x) + C
= xsenx + cos x + C.
R
d) Para calcular o integral I = cos2 (x)dx temos dois métodos ou usar fórmulas
trigonométricas ou utilizar integração por partes. Mas vamos utilizar a integra-
ção por partes. Logo temos de escrever (cos x)2 como o produto de duas funções.
Assim, tem-se:
R
cos x cos xdx
R
= cos xsenx − (−sinx)senx
R
= cos xsenx + sen2 xdx
R
= cos xsenx + (1 − cos2 x)dx
R R
= cos xsenx + 1dx − cos2 xdx
R
= cos xsenx + x − cos2 xdx.
Assim, mostramos que
Z
cos xsenx + x
cos2 xdx = +C
2

Ou seja que Z
sen2x x
cos2 xdx = + + C.
4 2
e) Nesta alínea o objéctivo a cumprir na integração por partes é primitivar a função
trigonométrica duas vezes é chegarmos a um integral de uma função trigonomé-
trica. R 2
x senxdx
R
= x2 (− cos x) − 2x(− cos x)dx
R
= x2 (− cos x) + 2 cos xxdx
R
= −x2 cos x + 2[senxx − senx1dx]
R
= cos xx2 + 2xsenx − 2 senxdx
= cos xx2 + 2xsenx − 2(− cos x) + C
= cos xx2 + 2xsenx + 2 cos x + C.

Exercício 8.4. Mostre que


Z
xex dx = (x − 1)ex + C.
132
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 8.4. R R
xex dx = xex − 1ex dx
R
= xex − 1exdx
R
= xex − ex dx
= xex − ex + C
= ex (x − 1) + C.

8.1.4 Problemas para o Método de Substituição

Exercício 8.5. Verifique que


a) Z
5 5 x
dx = arctg + C,
4+x2 2 2
b) Z
dx
= x − ln (1 + ex ) + C, faça t = ex (x = ln t);
1 + ex
c) Z
dx
= ln |arctg(x)| + C.
(x2 + 1)arctg(x)

Resolução 8.5. a) Considere-se a mudança de variável x = 2t e portanto tem-se


dx = 2dt Logo R 5 R 5
4+x 2 dx = 4+4t2 (2dt)
R 5 1
= 2 1+t2 dt
= 25 arctg(t)|t= x + C
 2
= 25 arctg x2 + C.

b) Fazendo a mudança t = ex e portanto x = ln t e dx = 1t dt,tem-se


R R 1
dx
= 1+t dt
t
R x
1+e
1
= t(1+t) dt
truque de mágico
R
= 1+t−t dt
R t(1+t)
1 1
= t dt − 1+t dt
= [ln |t| − ln |1 + t|]t=ex + C
= ln t+1 x +C
t
x t=e
= ln ex +1 + C.
e

133
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

1
c) Considere-se a mudança u = arctg(x) e portanto du = 1+x2 dx. Assim, obtemos

R dx R 1
(x2 +1) 1+x2
arctg(x) = arctg(x) dx
R
= duu
= ln |u|u=arctg(x) + C
= ln(arctg(x)) + C.

Exercício 8.6. Mostre que


a) Z
x
cos(ln x)dx = [cos(ln x) + sen(lnx)] + C, t = ln x;
2
b) Z
earctgx arctgx (1 + x)
3 dx = e √ + C, u = arctg(x).
(1 + x )
2 2 2 1 + x2

Resolução 8.6. a) Neste exercício podemos fazer directamente por partes ou pri-
meiro uma mudança de variável e depois por partes. Mas é melhor fazer uma
mudança em primeiro lugar. Considere-se t = ln x e portanto x = et , e
dx = et dt. Para converter o problema de obter a primitiva de cos(ln x) no pro-
blema de obter a primitiva de et cos t que já sabemos.
R R
cos(ln x)dx = cos(t)et dt
R t
= e cos tdt
R
= et cos t − et (−sent)dt
R
= et cos t + et sentdt
R
= et cos t + [et sent − et cos tdt]
R
= et cos t + et sent − et cos tdt.
Como Z
2 et cos(t)dt = et cos t + et sent

eñtão Z
eln x cos(ln x) + eln x sen(ln x)
cos(ln x)dx = +D
2
Logo Z
x cos(ln x)
cos(ln x)dx = xsen(ln x)2 + C
+
b) Neste exercício vamos considerar a mudança u = arctg(x) e portanto du =
134
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

1
1+x2 dx e x = tg(u). Logo tem-se
R earctg(x)
R eu
3 dx = 1 du
R 2 )e2u
(1+x (1+tg2 u) 2
= 1 du
2 u) 2
R (sec
eu
= sec u du
R u
= e cos udu

Por sua vez, tem-se


R
eu cos udu
R
= eu cos u − eu (−sen(u))du
R
= eu cos u + eu sen(u)du
R
= eu cos u + [eu sen(u) − eu cos(u)du]

E portanto R
eu cos(u)du
eu cos(u)+eu sen(u)
= 2 + B.
Assim R R
earctg(x) eu
3 dx = 1 du
R 2 ) e2u
(1+x (1+tg2 (u)) 2
= 1 du
2 (u)) 2
R (sec
eu
= sec(u) du
R
= eu cos(u)du
u u
= [ e cos(u)+e2
sen(u)
]|u=arctg(x) + C
earctg(x) cos (arctgx)+eu sen(arctg(x))
= 2
arctg(x)
xe√arctg(x)
= e√
1+x2
+ 1+x2
+C
earctg(x) (1+x)
= √
1+x2
+ C.

135
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

9 Utilizando Fórmulas de Recorrência


R 1
Exercício 9.1. a) Mostre que se In = (x2 +a2 )n dx então

1 x 2n − 1 1
In+1 = + In , n ≥ 1, n ∈ N
2na2 (x2 + a2 )n 2n a2
e
x 1 1 x
I2 = + arctg + C.
2a2 x2 + a2 2a3 a
R R
b) Mostre que lnn (x)dx = x lnn (x) − n lnn−1 xdx + C, n ∈ N.

Resolução 9.1. a)
R
In+1 = (x2 +a12 )n+1 dx
R 2
= a12 (x2 +aa 2 )n+1 dx
R a2 +x2 −x2
= a12 (x 2 +a2 )n+1 dx
R 2 2 R x2
= a12 (x2a+a+x 2 )n+1 dx − a2
1
(x2 +a2 )n+1 dx
R R 
= a12 (x2 +a 1
2 )n dx − 2a2
1
x 2x(x2 + a2 )−n−1 dx
2 2 −n R 2 2 −n
= a12 In − 2a12 [x (x +a −n
)
− 1 (x +a −n
)
dx]
R
= a12 In + 2na2 (xx2 +a2 )n − 2na 1
2
1
(x2 +a2 )n dx
2n 1
= 2na 2 In + 2na2 (x2 +a2 )n − 2na2 In
x

= 2n−1
2na2 In + 2na2 (x2 +a2 )n
x

Logo, mostramos que

2n − 1 x
In+1 = In +
2na2 2na2 (x2 + a2 )n

Fazendo n = 1 na igualdade anterior obtemos

1 x
I2 =
I1 + 2 2 .
2a2 2a (x + a2 )
R 1 1

Como I1 = a2 +x 2 dx obtemos I1 = a arctg a + C e portanto
x

1 x x
I2 = arctg + 2 2 + C.
2a 3 a 2a (x + a2 )
R R
b) Para mostrar que lnn (x)dx = x lnn (x) − n lnn (x)dx + C, ∀n ∈ N nota-se
137
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

logo que temos que escrever a função integranda como 1(ln(x))n e começar por
integrar a função constante 1. Assim, obtemos
R R
lnn (x)dx = 1 lnn (x)dx
R
= x lnn (x) − xn lnn−1 (x) x1 dx
R
= x lnn (x) − n lnn−1 (x)dx + C.

9.0.1 Problemas sobre Integrais Definidos

Exercício 9.2. Mostre que


Z √
p3
4π √
4 − x2 dx = + 3, x = 2sen(t).

− 3 3

Resolução 9.2. Considerando


√ √ x = 2sin(t) então dx = 2 cos(t)dt e além disso tem-se
3 = 2sen( π3 ) e − 3 = 2sen(− π3 ) e portanto t = π3 e t = − π3 . Logo, podemos escrever
Z √ Z π
3 p 3 p 
√ 4 − x dx =
2 4 − 4sen2 (t) 2 cos tdt
− 3 − pi
2
Z π
3
= 4 cos2 (t)dt
−π
3 Z π
3
=4 cos2 (t)dt
−π
Z π2
3 1 + cos (2t)
=4 dt
−π 2
Z π2 Z π3
3
=2 dt + 2 cos(2t)dt
−π
2 −π
3
π π
= 2(t|− π + (sen(2t))|−3 π )
3
2 3
= 2 2π 2π 2π
3 + [sen( 3 ) − sen(− 3 )]
= 4π 2π 2π
3 + [sen( 3 ) + sen( 3 )]
4π 2π
= 3 + 2sen√ 3
= 4π
3 +√ 2 23
= 4π
3 + 3.

Exercício 9.3. Utilize o Teorema da média para integrais para mostrar que
a)
Z 1 p √
3< 9 + x2 dx < 10;
0

b) r r
Z π
π 2 1 π 3
< 1 + sen2 xdx < .
2 0 2 2 2
138
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 9.3. a)
Z 1 p √
3< 9 + x2 dx < 10;
0

Como a função f (x) = 9 + x2 é uma função continua em [0, 1] então pelo
Teorema do valor médio para integrais tem-se
Z 1 p
9 + x2 dx = (1 − 0)f (c)
0

com c ∈]0, 1[. Como


p √
c ∈]0, 1[⇒ 3 < 9 + c2 < 10

então Z Z Z
1 1 p 1 √
3dx < 9 + x2 dx < 10dx,
0 0 0
ou seja Z 1 p √
(3x)|10 < 9 + x2 dx < ( 10x)|10
0

e finalmente obtemos
Z 1 p √
3< 9 + x2 dx < 10.
0

b)
Z π2 r r
π 1 π 3
< 1 + sen2 (x)dx <
2 0 2 2 2
q
Neste caso temos f (x) = 1 + 12 sen2 (x) e portanto f é uma função contínua em
Rπq
[0, π2 ] logo pelo Teorema da média para integrais obtemos 02 1 + 12 sen2 (x)dx =

2 − 0 f (c) com c ∈]0, 2 [. Como
π π

r r
π 1 3
c ∈]0, [⇒ 1 < 1 + sen2 c <
2 2 2
então Z π Z π r Z π r
2 2 1 2 3
1dx < 1 + sen2 (x)dx < dx
0 0 2 0 2
E portanto concluimos que
Z π r r
π 2 1 π 3
< 1 + sen2 (x)dx < .
2 0 2 2 2

139
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

9.1 Alguns Problemas para Desenvolver o Cálculo

Exercício 9.4. Mostrem que


a) Z  
1 1 x+1
dx = arctg + C;
x2 + 2x + 5 2 2

b) Z
1 1 √ 1 √
√ √ dx = (x + 1) x + 1 + (x − 1) x − 1 + C;
x+1− x−1 3 3

c) Z
1 1
√ dx = arcsen(2x − 2) + C.
−27 + 72x − 36x2 6

Resolução 9.4. a) R R
1 1
dx = x2 +2x+5 dx
R2 +2x+51
x
= x2 +2x+1+4 dx
R 1
= (x+1) 2 +4 dx
R 1
= 2  dx
4 (x+1)
4 +1
R
= 41 1 
(x+1)2
22 +1
R 1
1
= 2
2
(x+1)
2
2 +1
1

= 2 arctg
x+1
2 + C.

b)
R 1√
R √x+1+√x−1
√ dx = 2 dx
R √ x−1 √
x+1−
= 12 ( x + 1 + x − 1)dx
R 1 1
= 12 ((x + 1) 2 + (x −1) 2 )dx
3 3

= 12 (x+1) + (x−1)
2 2
3 3 +C
2 2
√ √
= (x+1)3 x+1 + (x−1)3 x−1 + C.
140
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

c) R 1

2
dx
R −27+72x−36x
1
= √ 2
dx
R −27−36(x1 −2x)
= √ 2 −2x+1−1)
dx
R −27−36(x 1
= √ 2 −2x+1)
dx
R 9−36(x 1
= √ dx
9−36(x−1)2
1
R 1
=3 √ dx
1−4(x−1)2
R
= 13 √ 1 2
dx
1
R 1−(2x−2)
2
=6 √ dx
1−(2x−2)2
1
= 6 arcsen(2x − 2) + C.

9.2 Fórmulas de Recorrência


R
Exercício 9.5. Seja n um número natural. Considere o integral In = secn (x)dx.
Mostre que
a)
secn−2 (x) n−2
In = tg(x) + In−2 , ∀n ∈ N + 1
n−1 n−1
b) Calcule I2 .

Resolução 9.5.

a) Tem-se
Z Z
In = secn (x)dx = secn−2 (x) sec2 (x)dx
Z
= secn−2 (x)(1 + tg 2 (x))dx
Z Z
= secn−2 (x)dx + secn−2 (x)tg 2 (x)dx
Z Z
= sec n−2
(x)dx + secn−2 (x)tg(x)tg(x)dx
Z Z

= secn−2 (x)dx + secn−3 (x) sec(x)tg(x) tg(x)dx

Note-se que (sec (x))′ = tg(x) sec (x)


Z Z
secn−2 (x) secn−2 (x)
= sec n−2
(x)dx + tg(x) − sec2 (x)dx
n−2 n−2
Z Z
secn−2 (x) secn (x)
= secn−2 (x)dx + tg(x) − dx
n−2 n−2
secn−2 (x) 1
= In−2 + tg(x) − In .
n−2 n−2
141
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Logo mostramos que

1 secn−2 x(x)
In + In = In−2 + tgx
n−2 n−2
Ou seja que
n−1 secn−2 (x)
In = In−2 + tg(x)
n−2 n−2
Assim, vem
n−2 secn−2 (x)
In = In−2 + tgx.
n−1 n−1
b) I2 = tg(x) + C.

Exercício 9.6. Seja n um número natural. Considere a seguinte notação In =


R 1
(1+x2 )n dx. Mostre que
a)
1 x
In = In−1 + In−1 − , ∀N ∈ N + 1
2(1 − n) 2(1 − n)(1 + x2 )n−1

b)
1 x
I2 = arctg(x) + + D.
2 2(1 + x2 )

Resolução 9.6. a) Seja n um número natural maior ou igual a 2. Para estabe-


lecer uma fórmula de recorrência que exprima In à custa de Ij com j ≤ n − 1
R
considere-se a notação In = (1+x1 2 )n dx. Assim, vem
R
In = (1+x1 2 )n dx
R 2
−x2
= 1+x
(1+x2 )n dx
R 1+x2 R x2
= (1+x 2 )n dx − (1+x2 )n dx
R R
= (1+x12 )n−1 dx − (1+x x∗x
2 )n dx
R
= In−1 − x ∗ x(x + 1) dx
2 −n
R 
= In−1 − 12 h x 2x(x2 + 1)−n dx i
2 −n+1 R
= In−1 − 12 (1+x )
−n+1 x − 1
(1−n)(1+x2 )n−1 1dx .

Logo, mostramos que


Z
x 1 1
In = In−1 − + dx.
2(1 − n)(1 + x2 )n−1 2(1 − n) (1 + x2 )n−1

e portanto provamos que

1 x
In = In−1 + In−1 − ,
2(1 − n) 2(1 − n)(1 + x2 )n−1
142
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

ou seja que
3 − 2n x
In = In−1 − .
2(1 − n) 2(1 − n)(1 + x2 )n−1
Finalmente concluimos que

2n − 3 x
In = In−1 + .
2n − 2 (2n − 2)(1 + x2 )n−1

2n−3
b) Como In = 2n−2 In−1 + x
(2n−2)(1+x2 )n−1 , ∀n ∈ N, n ≥ 2 então

1 x
I2 = I1 +
2 2(1 + x2 )
R 1
Visto que I1 = 1+x2 dx então I1 = arctg(x) + C então

1 x
arctg(x) +
I2 = + D.
2 2(1 + x2 )
R
Exercício 9.7. Considere-se a seguinte notação In = senn (x)dx. Mostrem que
cos (x)senn−1 (x) 
In = n−1
n In−2 − n + C, ∀n ∈ N + 1 e que I3 = − cos3 x 2 + sen2 x + C.
Resolução 9.7. Sugestão:olhem para o segundo membro da igualdade a estabelecer.
R
Exercício 9.8. Considere-se a seguinte notação In = (cos (x))n dx. Mostrem que
sen(x) cosn−1 (x) sen(x) cos3 (x)
In = n−1
n In−2 + n + C e que I4 = 83 x + 3
16 sen(2x) + 4 +C :
Resolução 9.8. Sugestão:igual à feita no exercício anterior.

9.3 Propriedades dos Polinómios


Dois polinómios p1 e p2 dizem-se iguais e escreve-se p1 = p2 se e só se p1 (x) =
p2 (x), ∀x ∈ R. Assim, podemos dizer que os polinómios p1 (x) = an xn + an−1 xn−1 +
· · · + a1 x + a0 e p2 (x) = bm xm + bm−1 xm−1 + · · · + b1 x + b0 de graus n e m são iguais
se só se n = m e ai = bi , ∀i = 1, · · · , n. Mas muitas vezes, temos que simplificar
polinómios e é por essa razão que apresentamos o seguinte Teorema.
Teorema 9.1. Dados dois polinómios p1 e p2 de graus n e m respectivamente com
n > m, existem polinómios q e r tais que p1 (x) = p2 (x)q(x) + r(x) tais que o grau de
r é menor que grau de p2 . O polinómio q diz-se o polinómio quociente e o polinómio
r diz-se o resto.
Observação 9.1. Assim, se considerarmos p1 = x2 + 1 e p2 (x) = x + 1 obtemos
q(x) = x − 1 e r(x) = 2.
n
X
Definição 9.1. Um polinómio p(x) = ai xi , ai ∈ R de grau maior ou igual a 2
i=0
diz-se redutível em R se existem polinómios p1 e p2 tais que grau de pi < grau de p
143
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

para i = 1, 2 e tais que os graus de p1 e de p2 são maiores ou iguais a um e além


disoo p(x) = p1 (x)p2 (x). O polinómio p diz-se irredutível em R se não for redutível.
Observação 9.2. Os polinómios p tais que
a) p(x) = x − α, α ∈ R
b) p(x) = x2 + bx + c, com b2 − 4c < 0 , isto é tal que p não tem raízes reais.
são irredutíveis em R.
Teorema 9.2. Todo o polinómio p de grau maior ou igual a dois com coeficientes
reais é o produto de potências de polinómios irredutíveis. Todo o polinómio com
coeficientes reais pode escrever-se na forma

p(x) = c0 (x − α1 )n1 · · · (x − αp )np · · · [(x − a1 )2 + b21 ]p1 · · · [(x − ar )2 + b2r ]pr

onde c0 é o coeficiente do monómio de maior grau.


√ √
Observação 9.3. a) x4 + 1 = (x2 − 2x + 1)(x2 + 2x + 1);
b) x3 − x2 + x − 1 = (x − 1)(x2 + 1);
c) x6 + x5 + 3x4 + 2x3 + 3x2 + x + 1 = (x2 + 1)2 (x2 + x + 1)

Como decompor um polinómio num produto de factores? Existem vários métodos


para o fazermos? A resposta para os polinómios até ao terceiro grau é sim. Para
os de quarto grau só se forem de certas formas, tais como, por exemplo para os
de quarto grau, por exemplo da forma p(x) = ax4 + bx2 + c. No entanto, temos
sempre o método dos coeficientes indeterminados. Assim, imagine-se que pretendemos
decompor x3 + x2 + x + 1 em factores. Neste caso, podemos perguntar como deve ser
o número real b para seja verificada a igualdade

x3 + x2 + x + 1 = (x + 1)(x2 + bx + 1).

Isto é, tal que seja verificada a igualdade

x3 + x2 + x + 1 = x3 + bx2 + x + x2 + bx + 1

Melhor dizendo, determinemos as constantes a, b e c tais que

x3 + x2 + x + 1 = x3 + (b + 1)x2 + (1 + b)x + 1 = 0.

Logo, tem-se 
b+1=1
1+b = 1
m
b=0
Logo obtivemos x3 + x2 + x + 1 = (x + 1)(x2 + 1). Mas se tivessemos obtido um
sistema impossível, então utilizariamos mais variáveis para resolver o problema. Mas
144
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

não haverá em certos casos maneiras mais simples? Para responder a tal questão
apresentamos os seguintes Teoremas.

Teorema 9.3. Seja P (x) = an xn + an−1 xn−1 + · · · + a1 x + a0 um polinómio com


coeficientes inteiros e seja pq um número racional escrito na forma irredutível. Se pq
é uma raiz de P então p|a0 e q|an .

Observação 9.4. Considere-se novamente o polinómio p(x) = x3 + x2 + x + 1. Logo


os números candidatos a serem raízes inteiras de p são −1 e 1. Fácilmente vemos que
x = −1 é uma raiz de p. Logo utilizando a regra de Ruffini chegamos à conclusão que
x3 + x2 + x + 1 = (x + 1)(x2 + 1).

Observação 9.5. Considere o polinómio p(x) = 6x3 + 13x2 − 4 Determine as raizes


do polinómio p. Então pelo Teorema das raízes racionais as raízes racionais de P são
da forma pq onde p|4 e q|6. Logo p ∈ {±1, ±2, ±4} e q ∈ {±1, ±, 2, ±3, ±6}. Então
considerando todos os casos possíveis obtemos pq ∈ {±1, ±2, ±4, ± 21 , ± 13 , ± 32 , ± 43 , 61 }.
Assim, as raízes de P são −2, − 32 , 12 . E portanto

2 1
p(x) = 6(x + 2)(x + )(x − ).
3 2
Teorema 9.4. Todo o polinómio de grau n com coeficientes reais ou complexos possui
exactamente n raízes em C.

Teorema 9.5. Seja p um polinómio com coeficientes reais. Se z é uma raiz de p


então z é uma raiz de p.

Observação 9.6. É graças a estes dois Teoremas que fácilmente decompomos em


factores os polinómios P (x) = xp + 1. Vamos agora decompor p4 (x) = 1 + x4 . Logo
considere-se a notação
Z = −1 = cis(π).
Logo as raízes do polinómio p4 são zk = cis( π+2kπ 2 ), k = 0, 1, 2, 3. E portanto, podemos
escrever z0 = cis( 4 ), z1 = cis( 4 ), z2 = cis( 4 ), z3 = cis( 7π
π 3π 5π
4 ) E portanto

1 1 1 1 1 1 1 1
Z0 = √ + i √ , Z1 = − √ + i √ , Z2 = − √ − i √ , Z3 = √ − i √
2 2 2 2 2 2 2 2
Logo
1 + x4 =
     
1 + x4 = x − √12 + i √12 x − − √12 + i √12 ··
     
· x − − √12 − i √12 x − + √12 − i √12
145
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Assim
  
1 + x4 = (x − √12 ) − i √12 (x + √12 ) − i √12
  
(x + √12 ) + i √12 (x − √12 ) + i √12
  
= (x − √12 ) − i √12 (x − √12 ) + i √12
  
(x + √12 ) − i √12 (x + √12 ) + i √12
   √  √ 
= (x − √12 )2 + 21 (x + √12 )2 + 12 = x2 − 2x + 1 x2 + 2x + 1 .

146
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

10 Funções Racionais
Definição 10.1. Chama-se função racional em x toda a função f : D ⊂ R 7→ R que
pode escrever-se da forma f (x) = pp12 (x)
(x) em que p1 e p2 são polinómios e D := {x ∈
R : p2 (x) 6= 0}.

(x)
Definição 10.2. Uma função racional f (x) = pp21 (x) diz-se irredutível se p1 e q1 não
tiverem raízes comuns, caso contrário diz-se redutível.
p(x) p(x)
Quando f (x) = q(x) é redutível o que se faz é simplifica-se a fração q(x) . Por exemplo
2
x −1
se f (x) = x3 −x2 +x−1 então tem-se

(x + 1)(x − 1) x+1
f (x) = = 2 .
(x − 1)(x2 + 1) x +1

E agora já podemos integrar


Z Z  
(x + 1)(x − 1) x+1
dx = dx
(x − 1)(x2 + 1) x2 + 1
Z Z
x 1
= dx + dx
x2 + 1 x2 + 1
Z
1 2x
= dx + arctg(x) + C
2 x +1
2

1
= ln(x2 + 1) + arctg(x) + C.
2

10.1 Funções Racionais


Daqui em diante pressupomos que as funções racionais com que estamos a trabalhar
são írredutíveis.
p1 (x)
Definição 10.3. Uma função racional f (x) = p2 (x)
a) diz-se própria se o grau de p1 < grau de p2 ;
b) diz-se imprópria se o grau de p1 ≥ grau de p2 .
1 (x)
Observação 10.1. Quando f (x) = p2 (x) é uma função racional imprópria, então
procedemos do seguinte modo:
147
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

a) começamos por dividir o polinómio p1 pelo polinómio p2 Então p1 (x) = p2 (x)q(x)+


r(x), onde grau de r é menor que o grau de p2 .
(x)
b) Em seguida escrevemos pp21 (x) = q(x) + pr(x)
2 (x)
R p1 (x) R R r(x) r(x)
c) p2 (x) dx = q(x)dx + p2 (x) dx e p2 (x) é uma função racional própria e para
r(x)
esta função racional já temos métodos eficientes para calcular o integral p2 (x) dx.

R x2 +x+1
Exemplo 10.1. Calculemos então x−1 dx. Para tal proceda-se do seguinte modo:
a) x + x + 1 = (x − 1)(x + 2) + 3;
2

x2 +x+1 3
b) x−1 = x + 2 + x−1 ;
R x2 +x+1 R R 3
c) x−1 dx = (x + 2)dx + x−1 dx;
R x2 +x+1 R R R 3
d) x−1 dx = xdx + 2dx + x−1 dx;
R x2 +x+1 2 R 3
e) x−1 dx = 2 + 2x +
x
x−1 dx;
R x2 +x+1 x2
f) x−1 dx = 2 + 2x + 3 ln |x − 1| + C.

Definição 10.4. {Definição de função racional simples } Diz-se que a função racional
f (x) = p(x)
q(x) é uma função racional simples ou uma fração simples se e só se

a) f (x) = (x−a)l , com C, a ∈ R e l ∈ N;


C

b) f (x) = [(x−a)2 +b2 ]r , com D, E, a, b ∈ R


Dx+E
e r ∈ N.

10.2 Integração de Funções Racionais Simples


C
f (x) = (x−a)l

Para integrar f (x) = (x−a)


C
l temos de considerar dois casos l = 1 e l > 1. Analisemos

então cada um destes casos.


a) Se l = 1 então
Z Z Z
C 1
f (x)dx = dx = C dx = C ln |x − a| + D
x−a x−a

b) Se l > 1 então R R C
f (x)dx = (x−a) l dx
R
= C (x − a) dx
−l
−l+1
= C (x−a)
−l+1 +D
1
= C (1−l)(x−a) l−1 + D.

148
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

10.3 Integração de Funções Racionais Simples


Dx+E
f (x) = [(x−a)2 +b2 ]r

Para calcular o integral de f (x) = [(x−a)


Dx+E
2 +b2 ]r com b 6= 0 em primeiro lugar devemos

fazer a mudança de variável x = a + bt e portanto dx = b dt. Logo


Z Z
D(a + bt) + E
f (x)dx = bdt
(b2 t2 + b2 )r
Z
Da + Dbt + E
= bdt
b2r (t2 + 1)r
Z
1 Da + E + Dbt
= dt
b 2r−1 (t2 + 1)r
.,

Considerando (D′ = Da + E) ∧ (E ′ = Db) obtemos


R 1
R D′ 1
R E′t
f (x)dx = b2r−1 (t2 +1)r dt + b2r−1 (t2 +1)r dt
D′
R 1 E′
R
= b2r−1 (t2 +1)r dt + b2r−1
t
(t2 +1)r dt.
R 1 2r−3
Como calcular (t2 +1) r dt? Utiliza-se a fórmula de recorrência Ir = 2r−2 Ir−1 +
1
(2r−2)(1+t2 )r−1 , ∀r ∈ N, rR ≥ 2 r − 1 vezes. Tal como fizemos no exemplo teórico.
Temos de agora calcular (t2 +1) t
r dt. Tem-se os seguintes cálculos

Z Z
t 1 1 (t2 + 1)−r+1
dt = 2t(t2 + 1)−r dt = +C
(t + 1)
2 r 2 2 −r + 1

1 1
= +C
2 (1 − r)(t2 + 1)r−1
Finalmente, tem-se Z
f (x)dx = ... = [G(t)]t= x−a .
b

R R R
Exemplo 10.2. Exemplo (x2 −4x+5) 2 dx = ((x2 −4x+4)+1)2 dx =
x x x
((x−2)2 +1)2 dx.
Então faça-se a mudança x − 2 = t, dx = dt. Logo
R 2+t
R
(x2R−4x+5)2 dx = R (t2 +1)2 dt
x

= 2 (1+t1 2 )2 dt + (t2 +1)


t
2 dt.

149
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

R 1
Calcule-se (1+t2 )2 dt.

R 1
R
1+t2 −t2
(1+t2 )2 dt = 2 2 dt
R 1+t2 R(1+t t)2
= (1+t2 )2 dt − (1+t2 )2 dt
R 1 R
= 1+t 2 dt − tt(1 + t2 )−2 dt
1
R 
= arctg(t) − 2 h t 2t(1 + t2 )−2 dt i
2 −1 R (1+t2 )−1
= arctg(t) − 12 t (1+t −1
)
− −1 1dt
1
= arctg(t) + 2(1+t t
2 ) − 2 arctg(t) + C

= 21 arctg(t) + 2(1+t t
2 ) + C.

R
Por sua vez, calcule-se t
(1+t2 )2 dt. Tem-se
R R
2 )2 dt = t(1 + t2 )−2 dt
t
(1+t
R
= 21 2t(1 + t2 )−2 dt
2 −1
= 12 (1+t−1
)
+D
1
= − 2(1+t 2) + D

Finalmente tem-se
R 1
R R
(x2h−4x+5)2 dx = 2 dt + (t2 +1)
x t
2 dt.
i 2 )2
(1+t h i
1 1
= 2 2 arctg(t) + 2(1+t2 )
t
− 2(1+t2 ) +E
|t=x−2 |t=x−2
1
= [arctgt + 1+tt
2 − 2(1+t2 ) ]|t=x−2 + E,
1
= arctg(x − 2) + 1+(x−2)
x−2
2 − 2(1+(x−2)2 ) + E.

10.4 Decomposição de uma Fração Racional Irredutível


Própria
p(x)
Teorema 10.1. Se f (x) = (x−α1 )n1 ···(x−αp )np ···[(x−a1 )2 +b21 ]p1 ···[(x−ar )2 +b2r ]pr
com

α1 , · · · , αp .a1 , · · · , ar , b1 , b2 , · · · , br

números reais e n1 , n2 , · · · , np , p1 , · · · pr números naturais é uma função racional ir-


redutível própria então f decompoe-se do seguinte modo
p
A11 A1n1 Ap1 Anp
f (x) = + · · · + + · · · + + ···+
(x − α1 )n1 (x − α1 )1 (x − αp )np (x − αp )1

M11 x + N11 Mp11 −1 x + Np11 −1 Mp11 x + Np11


+ · · · + + +
(a1 x2 + b1 x + c1 )p1 (a1 x2 + b1 x + c1 )p1 −1 a1 x2 + b1 x + c1
+···+
150
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

M1r x + N1r Mprr −1 x + Nprr −1 Mprr x + Nprr


+ + · · · + + .
(ar x2 + br x + cr )pr (ar x2 + br x + cr )pr −1 (ar x2 + br x + cr )1
Exemplo 10.3. Se
1
f (x) =
(x − 1)3
então
A3 A2 A1
f (x) = + + .
(x − 1)3 (x − 1)2 (x − 1)
A1 = 0, A2 = 0 e A3 = 1. Se

1
f (x) =
(x − 1)2 (x − 3)3

então
A1 A2 B1 B2 B3
f (x) = + + + + .
(x − 1)2 x − 1 (x − 3)3 (x − 3)2 x−3

Mas a notação com indices é muito complicada, então na decomposição de uma função
racional irredutível própria à custa de funções racionais simples podemos utilizar
constantes sem indices.

Exemplo 10.4. {Exemplo 2}

A B C D E
f (x) = + + + + .
(x − 1)2 x − 1 (x − 3)3 (x − 3)2 x−3

Exemplo 10.5. Se f (x) = x+1


(x2 +1)2 (x2 +4)3 então

A1 x + B1 A2 x + B2 C1 x + D1 C2 x + D2
f (x) = + + 2 + 2
(x + 1)
2 2 (x + 1)
2 (x + 4) 3 (x + 4)2

C1 x + D1
+ .
(x2 + 4)
1
Exemplo 10.6. Se f (x) = (x−1)3 (x2 +x+1)2 então

A1
f (x) = (x−1) 3 +
A2
(x−1)2 + A3
x−1 +
B1 x+C1
+ (x2 +x+1)2 +
+B 2 x+C2
x2 +x+1 .

10.5 Método dos Coeficientes Indeterminados


Agora temos de responder à questão, como descobrir as constantes que surgem na
decomposição de uma função racional própria irredutível à custa de funções racionais
simples. Para tal há um método para determinar essas constantes que se chama o
método dos coeficientes indeterminados, que passamos a descrever: Básicamente este
151
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

método consiste em reduzir ao mesmo denominador ambos os membros da igualdade


do Teorema da Decomposição e depois igualar os numeradores de ambos os membros
da igualdade obtida, utilizando o facto que ambos os numeradores são polinómios e
portanto para serem iguais, os coeficientes das potências de x devem ser iguais em
ambos os membros. Mas é melhor ver um exemplo.

R 1
Exemplo 10.7. Calcule-se (x−1)2 (x+2)2 dx. Tem-se

1
(x−1)2 (x+2)2 = (x−1)2 + x−1 + (x+2)2 + x+2
A B C D
2 2 2 2
= A(x+2) +B(x+2) (x−1)
(x−1)+C(x−1) +D(x−1) (x+2)
2 (x+2)2
A(x +4x+4)+B(x +4x+4)(x−1)+C(x2 −2x+1)
2 2
= (x−1)2 (x+2)2 +
D(x2 −2x+1)(x+2)
+ (x−1)2 (x+2)2 .

Donde

1 = A(x2 + 4x + 4) + B(x3 + 3x2 − 4) + C(x2 − 2x + 1) + D(x3 − 3x + 2)

Juntando os monómios em x3 , x2 , x e os monómios constantes na igualdade anterior


obtremos:

1 = (B + D)x3 + (A + 3B + C)x2 + (4A − 2C − 3D)x + (4A − 4B + C + 2D)


 
 B+D =0  A = 19
  2
A + 3B + C = 0 B = − 27
 
⇔ 1

 4A − 2C − 3D = 0 
 C= 9
  2
4A − 4B + C + 2D = 1 D = 27
R 1 1
R 1 2
R 1 R R
(x−1) 2 (x+2)2 dx = 9 (x−1) 2 dx − 27 x−1 dx + 91 (x+2)
1 2
2 dx + 27
1
x+2 dx
R R 1 R R 1
= 91 (x − 1)−2 dx − 27 2 1
x−1 dx + 9 (x + 2)
−2 2
dx + 27 x+2 dx
−1 −1
= 19 (x−1)
−1
2
− 27 ln |x − 1| + 19 (x+2)
−1 + 2
27 ln |x + 2| + C
2x+1 2 |x+2|
= − 9(x−1)(x+2) + 27 ln |x−1| +C
r 2
2x+1 |x+2|
= − 9(x2 +x−2) + ln + C.
27
|x−1|

Portanto chegamos à conclusão que o método dos coeficientes indeterminados resolve


o problema de determinar todas as constantes que surgem na decomposição de uma
função racional irredutível própria em funções racionais simples, mas é muito labo-
rioso. Não haverá um método muito mais rápido para integrar? Há só um método
para descobrir as constantes? A resposta à segunda interrogação há muitos métodos.
Aliás se temos m constantes devemos arranjar m condições para descobrir essas m
constantes. Mas quando todas as raízes do denominador da função racional irredutí-
vel f (x) = p(x)
q(x) são todas reais então há um método que é relativamente rápido para
descobrir todas as constantes que passamos a descrever na seção seguinte.
152
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

10.6 Método rápido para Determinar as Constantes


Associadas às Raízes Reais
Teorema 10.2. Seja f (x) = p(x)
q(x) uma função racional irredutível própria. Se α é
uma raiz de q com multiplicidade ni então tem-se que se q(x) = (x − α)ni t(x) e tal
que t(α) 6= 0 então
p(x) p(x) An i
q(x) = (x−α)ni t(x) = A1
(x−α)ni + A2
(x−α)ni −1
+ ··· + x−α + v(x)

g(j−1) (α) p(x)


onde Aj = (j−1)! , j = 1, · · · , ni onde g(x) = t(x) .

Demonstração. Como

p(x) p(x)
=
q(x) (x − α)ni t(x)
A1 A2 Ani
= + + ··· + +
(x − α) ni (x − α)ni −1 x−α
+ v(x) (10.1)

então multiplicando (10.1) por (x − α)ni obtemos

p(x)
= A1 + A2 (x − α) + A3 (x − α)2 + · · · + Ani (x − α)ni −1 +
t(x)
+ (x − α)ni (v(x)) (10.2)

Mas então fazendo em ambos os membros de (10.2) x = α obtemos p(α) t(α) = A1 .


Derivando ambos os membros (10.2) obtemos
 
d p(x)
= A2 + 2A3 (x − α) + · · · + (ni − 1)Ani (x − α)ni −2 +
dx t(x)
d
+ (ni )(x − α)ni −1 (v(X)) + (x − α)ni (v(x)) (10.3)
dx
 
p(x)
Mas então fazendo x = α em (10.3) obtemos dx d
t(x) = A2 Derivando outra
|x=α
vez (10.3) obtemos
 
d2 p(x)
= +2A3 + · · · + (ni − 1)(ni − 2)Ani (x − α)ni −3 +
dx2 t(x)
d
+ ni (ni − 1)(x − α)ni −2 v(X) + ni (x − α)ni −1 (v(x)) +
dx
d d2
+ ni (x − α)ni −1
(v(x)) + (x − α)ni 2 (v(x)) (10.4)
dx dx
 
1 d2 P (x)
Fazendo x = α em ambos os membros de(10.4) obtemos 2! dx 2 T (x) = A3 . E
|x=α
153
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

derivando ni − 1 vezes(10.1) e fazendo x = α na equação otida obtemos


 
1 dni −1 p(x)
Ani = .
(ni − 1)! dxni −1 t(x) x=α

P (x)
Considerando a notação g(x) = T (x) = f (x)(x − α)ni ,podemos dizer que Aj =
g(j−1) (α)
(j−1)! , j = 1, · · · , ni .

1
Exemplo 10.8. Desenvolva a função racional f (x) = (x−1)2 (x+1)3 em frações racio-
nais simples. Tem-se

1 A1 A2 B1 B2 B3
= + + + +
(x − 1)2 (x + 1)3 (x − 1)2 (x − 1) (x + 1)3 (x + 1)2 (x + 1)

Logo h i
1
A1 = (x+1)3
|x=1
= 18 , h i
1 1
A2 = 1! d
(
dx (x+1) 3 )
d  |x=1
= dx ((x + 1)−3 ) x=1
 
= (−3)(x + 1)−4 |x=1
3
= − 16

Determinem-se agora os Bi s
1 1
B1 = [ (x−1) 2 ]|x=−1 = 4 ,

B2 = [ dx
d
((x − 1)−2 )]|x=−1
 
= (−2)((x − 1)−3 ) |x=−1
= 82
= 14
h 2 i
1
B3 = 2! d
dx 2 ((x − 1)−2
)
d  |x=−1
= dx ((−2)(x − 1)−3 ) |x=−1
1
= 2! [6(x − 1)−4 ]|x=−1
1 6
= 2 16
13
= 28
3
= 16
154
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Logo, integrando vem


R 1
R1 1 3
R 1
(x−1) 2 (x+1)3 dx = 8 (x−1)2 dx − 16 x−1 dx+
R R R
+ 41 (x+1) 1
3 dx + 4
1 1 3 1
(x+1)2 dx + 16 Rx+1 dx
R R
= 81 (x − 1)−2 dx − 16 3
ln |x − 1| + 14 (x + 1)−3 dx + 41 (x + 1)−2 dx + 3
16 ln |x + 1| + C
−1 −2 −1
= 81 (x−1)
−1
3
− 16 ln |x − 1| + 41 (x+1)
−2 + 41 (x+1)
−1
3
+ 16 ln |x + 1| + C
2 |x+1|
−3x −3x+2 3
= (x+1)2 (x−1) + 36 ln |x−1| + C

Exemplo 10.9. Desenvolva


Z
1
dx
(x2 + 1)(x2 + 4)

escrevendo a função integranda como uma combinação linear de funções racionais


simples.
1 ax + b cx + d
= 2 +
(x2 + 1)(x2 + 4) x + 1 x2 + 4
Então  
1 1
(ai + b = ) ⇔ (ai + b = )
x2 + 4 |x=i 3
1
e portanto a = 0 e b = 3

1 1
(c2i + d = [ ]|x=2i ) ⇔ (c(2i) + d = ).
x2 + 1 −3

Logo (d = − 31 ) ∧ (c = 0). Assim

1 1 1 1 1
= −
(x2 + 1)(x2 + 4) 3 x2 + 1 3 x2 + 4

E portanto Z Z
1 1 1 1 1
dx = dx − dx
(x2 + 1)(x2 + 4) 3 x2 + 1 3 x2 + 4
Logo R 1 1 1 1
(x2 +1)(x2 +4) dx =R 3 arctg(x) − 3 x2 +4 dx
= 31 arctg(x) − 13 14 1
dx
( x )2 +1 2
R 1
= 31 arctg(x) − 1 2
6( ) x
2
2
+1

= 31 arctg(x) − 16 arctg x
2 + C.
Exemplo 10.10. {Exemplo 3}
R 4 −x3 +6x2 −4x+7
Obtenha I = x (x−1)(x 2 +2)2 dx. Desenvolvendo a função integranda de I em ele-
mentos simples obtemos:

x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 A Cx + D Ex + F
= + 2 + 2 .
(x − 1)(x + 2)
2 2 x − 1 (x + 2)2 x +2
155
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Logo  
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7
A= = 1.0
(x2 + 2)2 |x=1

√ 4 3 2
C 2i + D = [ x −x +6x −4x+7
]|x=√2i ⇔
√ √ x−1 √
4+2 2i−6∗2−4 2i+7
C 2i + D = √
2−1 √

√ √
4+2 2i−6∗2−4 2i+7
C 2i + D = √ ⇔
√ √ 2i−1
C √2i + D = √2i − 1 ⇔
C 2i + D = 2i − 1 ⇔
C = 1 ∧ D = −1
E portanto concluimos que

x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1.0 1x − 1 Ex + F
= + + 2 (10.5)
(x − 1)(x2 + 2)2 x − 1 (x2 + 2)2 x +2

Precisamos de arranjar duas condições para determinar as duas constantesE e F. Uma


ideia para arranjar uma condição será como 0 não é uma raiz de algum denominador
de alguma fração então podemos fazer x = 0 em (10.5). Assim, obtém-se
   
7 1.0 −1 F 1 F
= + + ⇔ − =
−4 −1 4 2 2 2

E portanto F = −1 e

x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1.0 1x − 1 Ex − 1
= + 2 + 2 . (10.6)
(x − 1)(x2 + 2)2 x − 1 (x + 2) 2 x +2

Multiplicando ambos membros da igualdade (10.6) por x obtemos (10.7).

x5 − x4 + 6x3 − 4x2 + 7x x 1x2 − x Ex2 − x


= + 2 + (10.7)
(x − 1)(x2 + 2)2 x − 1 (x + 2)2 x2 + 2

Calculando o limite de ambos os membros de (10.7) em +∞ obtemos

1 = 1 + E,

ou seja obtemos E = 0. E portanto, tem-se:


R x4 −x3 +6x2 −4x+7
R 1.0
R R
(x−1)(x2 +2)2 R dx = x−1 dx + (x1x−1
2 +2)2 dx +
−1
x2 +2 dx
R
= ln |x − 1| + 12 (x22x +2)2 dx −
1
(x2 +2)2 dx − arctg(x) + C
2 −1 R
(x +2)
= ln |x − 1| + 21 −1 − arctg(x) − (x2 +2) 1
2 dx + C.
 
1 1 1
= ln |x − 1| − 2(x2 +2) − 2(x2 +2) − arctg(x) − 4√ 2
arctg x

2
− x
4(x2 +2) + C.

156
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

10.7 Exercícios Propostos

Exercício 10.1. Mostre que


a) Z
2x2 − 3x + 3 2
dx = 3 ln |x| − − ln |x − 1| + C.
x3 − 2x2 + x x−1
b) Z
x2 1 2 x
dx = − arctg(x) + arctg + C.
(x2 + 1)(x2 + 4) 3 3 2

2x2 −3x+3 2x2 −3x+3


Resolução 10.1. a) Como x3 −2x2 +x = x(x−1)2 então considere-se a seguinte
decomposição
2x2 − 3x + 3 A B C
= + + .
x(x − 1)2 x (x − 1)2 x−1
Logo
2
A = [ 2x −3x+3
x2 −2x+1 ]|x=0 = 3,
2
B = [ 2x −3x+3
x ]|x=1 = 2,
d 2x2 −3x+3
C = [ dx ( x )]|x=1 = [ dx
d
(2x − 3 + x3 )]|x=1
= (2 − 0 − x32 )]|x=1 = −1.
Assim, tem-se
2x2 − 3x + 3 3 2 −1
= + + .
x(x − 1)2 x (x − 1)2 x−1
Donde R R R R −1
2x2 −3x+3 3 2
x(x−1)2 dxR= x dx + + x−1
(x−1)2 dx dx
= 3 ln |x| + 2 (x − 1) −2
dx − ln |x − 1| + C
−1
= 3 ln |x| + 2 (x−1)
−1 − ln |x − 1| + C
1
= 3 ln |x| − 2 x−1 − ln |x − 1| + C.

b) Tem-se
x2 Ax + B Cx + D
= 2 + 2
(x2 + 1)(x2 + 4) x +1 x +4
e 2
Ai + B = [ x2x+4 ]|x=i
m
Ai + B = −13
m
Ai + B = − 31
m
A = 0 ∧ B = − 31 .
157
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Assim 2
C2i + D = [ x2x+1 ]|x=2i
m
−4
C2i + D = −4+1
m
C2i + D = + 34
m
C = 0 ∧ D = 43
Logo R R R
x2 1 1 4 +1
(x2 +1)(x2 +4) dx = − R 3 x2 +1 dx + 3 x2 +4 dx
= − 13 arctg(x) + 41 43 1
dx
( x2 ) +1
2
R x2
= (x2 +1)(x2 +4) dx
R 1
= − 13 arctg(x) + 21 43 2
dx
( x2 )
2
+1
R x2
= (x2 +1)(x2 +4) dx 
= − 13 arctg(x) + 32 arctg x
2 + C.

Exercício 10.2. Estabeleça as igualdades:


a) Z
2x + 3
dx = ln |x − 2| + ln |x + 5| + C
(x − 2)(x + 5)

b) Z
x 1 (x + 2)4
dx = ln +C
(x + 1)(x + 2)(x + 3) 2 (x + 1)(x + 3)3

Resolução 10.2. a) Podemos dizer que

2x + 3 A B
= + ,
(x − 2)(x + 5) x−2 x+5
 
2x + 3 7
A= = =1
x + 5 |x=2 7
e que  
2x + 3 −7
B= = =1
x−2 |x=−5 −7
Logo
2x + 3 1 1
= + .
(x − 2)(x + 5) x−2 x+5
Assim R R R 1
2x+3 1
(x−2)(x+5) dx = + x+5
x−2 dx dx.
R 2x+3
= (x−2)(x+5) dx = ln |x − 1| + ln |x + 5| + C.
158
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

b) Temos que

x A B C
= + + ,
(x + 1)(x + 2)(x + 3) x+1 x+2 x+3
−1 1
A = [ (x+2)(x+3)
x
]x=−1 = (+1)2 = − 2
−2
B = [ (x+1)(x+3) ]x=−2 =
x
−1 = 2
−3 3
C = [ (x+1)(x+2)
x
]x=−3 = 2 = −2

e portanto
R R
1 1
R 2 3 1
R
(x+1)(x+2)(x+3) dx = − 2 x+1 dx +
x
x+2 dx − 2 x+3 dx
= − 12 ln |x + 1| + 2 ln |x + 2| − 23 ln |x + 3| + C
= − 12 ln |x + 1| + 21 4 ln |x + 2| − 23 ln |x + 3| + C
(x+2)4
= 12 ln |(x + 2)4 | − 21 ln |(x + 1)(x + 3)3 | + C. = 12 ln (x+1)(x+3) 3 +C

Exercício 10.3. Mostre que


a) Z
x 1 2
dx = ln |x − 1| + ln |x + 2| + C;
(x − 1)(x + 2) 3 3

b) Z
3x2 − 2x + 4
dx = ln |x − 1| + ln(x2 + 4) + C;
(x − 1)(x2 + 4)

c) Z
3x2 − 2x + 3 1 − 3x
dx = 2 + C.
(x − 1) (x + 1)
2 2 x −1

Resolução 10.3. a) Tem-se x


(x−1)(x+2) = A
x−1 + B
x+2 ,

A = [ x+2
x
]|x=1 = 31 ,
B = [ x−1 ]|x=−2 = 32
x

e portanto
x
(x−1)(x+2) = 31 x−1
1
+2 1
1
R 1 2
R 1 3 x+2
= 3 x−1 dx + 3 x+2 dx
R
= (x−1)(x+2)
x
dx = 13 ln |x − 1| + 2
3 ln |x + 2| + C.

b) Mostre-se agora que


Z
3x2 − 2x + 4
dx = ln |x − 1| + ln(x2 + 4) + C.
(x − 1)(x2 + 4)
159
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Tem-se que
3x2 − 2x + 4 A Bx + C
= + 2
(x − 1)(x + 4)
2 x−1 x +4
onde 2
A = [ 3x x−2x+4
2 +4 ]|x=1 = 55 = 1,
3x2 −2x+4
B2i + C = [ x−1 ]x=2i
m
B2i + C = −12−4i+4
2i−1
m
2Bi + C = −8−4i2i−1
m
(2Bi + C)(2i − 1) = −8 − 4i
m
−4B + 2iC − 2Bi − C = −8 − 4i
m
(−2B + 2C)i − 4B − C = −8 − 4i
m

−2B + 2C = −4
−4B − C = −8
m

2B − 2C = 4
4B + C = 8
m

C =0
B=2
Logo, concluimos que

3x2 − 2x + 4 1 2x
= + 2
(x − 1)(x + 4)
2 x−1 x +4
Z Z Z
3x2 − 2x + 4 1 2x
dx = dx + dx
(x − 1)(x2 + 4) x−1 x2+4
Z
3x2 − 2x + 4
dx = ln |x − 1| + ln |x2 + 4| + C
(x − 1)(x2 + 4)

c) Determinem-se as constantes A, B, C e D tais que

3x2 − 2x + 3 A B C D
= + + +
(x − 1) (x + 1)
2 2 (x − 1)2 x − 1 (x + 1)2 x+1

160
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Tem-se
h i
3x2 −2x+3
A= (x+1)2 = 44 = 1
h |x=1
i h i
2 2
d 3x2 −2x+3
B= dx (x+1)2 = (6x−2)(x+1) −(3x
(x+1)4
−2x+3)2(x+1)
= 16−16
16
h 2 i |x=1 |x=1
3x −2x+3 8
C= (x−1)2 = 4 =2
h |x=−1 i h i
d 3x2 −2x+3 (6x−2)(x−1)2 −(3x2 −2x+3)2(x−1)
D= dx ( (x−1)2 ) |x=−1 = (x−1)4 |x=−1
−32+32
= 16 = 0.

3x2 −2x+3 1 0 2 0
Logo (x−1)2 (x+1)2 = (x−1)2 + x−1 + (x+1)2 + x+1

R 3x2 −2x+3
R 1
R 2
(x−1) 2 (x+1)2 dx = (x−1) 2 dx + (x+1)2 dx
R R
= (x − 1) −2
dx + 2 (x + 1)−2 dx
−1 −1
= (x−1)
−1 + 2 (x+1)
−1 +C
1 1
= − x−1 − 2 x+1 +C
= x1−3x
2 −1 + C.

Exercício 10.4. Mostre que


a) Z
1 1 x
dx = arctg(x) + + C;
(x2 + 1)2 2 2(x2 + 1)

b) Z
x2 1
dx = arctg(x + 1) + 2 + C;
(x + 2x + 2)
2 2 x + 2x + 2

c) Z
4x2 − 16x + 14
dx = ln |x − 1| + 2 ln |x − 2| + ln |x − 3| + C.
(x − 1)(x − 2)(x − 3)

Resolução 10.4. a)
R 1
R
1+x2 −x2
(x2 +1)2 dx = 2 2 dx
R 1+x2 R (xx2+1)
= (1+x2 )2 − (x2 +1)2 dx
R 1 1
R 
= (1+x 2) − 2 x 2x(x2 + 1)−2 dx
2 −1 R 2 −1
= arctgx − 21 [ (x +1)
−1 x − (x +1)
−1 1dx]
R
= arctgx + 12 x2x+1 − 21 x21+1 dx
= arctgx + 21 x2x+1 − 21 arctg(x) + C
= 12 arctg(x) + 21 x2x+1 + C.
161
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

b)
R x2
R x2 +2x+2−2x−2
(x 2 +2x+2)2 dx = 2 +2x+2)2 dx
R 1
R (x2x+2
= x2 +2x+2 dx − (x2 +2x+2)2 dx
R 1
R
= (x+1) 2 +1 dx − (2x + 2)(x2 + 2x + 2)−2 dx
2 −1
= arctg(x + 1) − (x +2x+2) −1 +C
1
= arctg(x + 1) + x2 +2x+2 + C.

c) Podemos dizer que

4x2 − 16x + 14 A B C
= + +
(x − 1)(x − 2)(x − 3) x−1 x−2 x−3
e que  
4x2 − 16x + 14 2
A= = = 1,
(x − 2)(x − 3) |x=1 2
 2 
4x − 16x + 14 −2
B= = = 2,
(x − 1)(x − 3) |x=2 −1
e que  
4x2 − 16x + 14 2
C= = =1
(x − 1)(x − 2) |x=3 2
e portanto
4x2 − 16x + 14 1 2 1
= + + .
(x − 1)(x − 2)(x − 3) x−1 x−2 x−3
Logo
Z Z Z Z
4x2 − 16x + 14 1 2 1
dx = dx + dx + dx.
(x − 1)(x − 2)(x − 3) x−1 x−2 x−3

Finalmente, tem-se que


Z
4x2 − 16x + 14
dx = ln |x − 1| + 2 ln |x − 2| + ln |x − 3| + C.
(x − 1)(x − 2)(x − 3)

Exercício 10.5. Verifique que


a)
Z
5x − 2 −x − 5
dx = 2 2 − arctgx + C;
(x + 1)
2 2 x +1

b) Z
6x2 − 12 (x − 1)(x − 2)
dx = ln
+ C;
x4 − 5x2 + 4 (x + 1)(x + 2)

c) Z
3x3 + x2 − x − 1 1
4 2
dx = − + ln |x3 − x| + C.
x −x x
162
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 10.5. a)
R 5x−2
R 5 2x 2
R
(x2 +1)2 dx = h2 (x2 +1)2
dx − (x2 +1)
i2
dx
2 −1
5 (x +1) 1 1 x
= 2 −1 − 2 2 arctg(x) + 2 x2 +1
5 1
= − 2 x2 +1 − arctan(x) − x2x+1 + C
−x− 25
= −arctg(x) + 2(x2 +1) + C.

b) Mostre-se agora que

6x2 − 12 6x2 − 12 6x2 − 12


= =
x4 − 5x2 + 4 x4 − 5x2 + 4 (x − 1)(x + 1)(x − 2)(x + 2)

Determinem-se as constantes A, B, C e D tais que a igualdade abaixo é verifi-


cada onde é válida.

6x2 − 12 6x2 − 12 A B C D
= = + + +
x − 5x + 4
4 2 (x − 1)(x + 1)(x − 2)(x + 2) x−1 x+1 x−2 x+2

Logo  
6x2 − 12 −6
A= = = 1,
(x + 1)(x − 2)(x + 2) |x=1 −6
 
6x2 − 12 −6
B= = = −1,
(x − 1)(x − 2)(x + 2) |x−1 6
 
6x2 − 12 12
C= = = 1,
(x − 1)(x + 1)(x + 2) |x=2 12
 
6x2 − 12 12
D= = = −1.
(x − 1)(x + 1)(x − 2) |x=−2 −12
Assim

6x2 − 12 1 −1 1 −1
= + + +
(x − 1)(x + 1)(x − 2)(x + 2) x−1 x+1 x−2 x+2

E portanto
R 6x2 −12
(x−1)(x+1)(x−2)(x+2) dx
R 1 R −1 R R −1
1
= x−1 dx + x+1 dx + + x+2
x−2 dxdx
= ln |x − 1| − ln |x + 1| + ln |x − 2| − ln |x + 2| + C
= ln | (x−1)(x−2)
(x+1)(x+2) | + C.

3x3 +x2 −x−1 3x3 +x2 −x−1 3x3 +x2 −x−1


c) Como x4 −x2 = x2 (x−1)(x+1) então temos que x4 −x2 = A
x2 + B
x +

163
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

C
x−1 + D
x+1 Logo
 
3x3 + x2 − x − 1 −1
A= = =1
(x − 1)(x + 1) |x=0 −1
 
(9x2 + 2x − 1)(x2 − 1) − (3x3 + x2 − x − 1)2x 1
B= = =1
(x − 1)
2 2
|x=0 1
 3 
3x + x2 − x − 1 2
C= = =1
x2 (x + 1) |x=1 2
 3 
3x + x2 − x − 1 −2
D= )= =1
x (x − 1)
2
|x=−1 −2
E portanto
R 3x3 +x2 −x−1
R R R R
x4 −x2 dx = x12 dx + x1 dx + x−1 1
dx + 1
x+1 dx
1
= − x + ln |x| + ln |x − 1| + |x + 1| + C.

10.8 Revisões sobre o Método de Integração por


Substituição e Por partes

Exercício 10.6. Mostre que


a) Z    
1 x2 1 1
xarctg dx = arctg + (x − arctgx) + C,
x 2 x 2

b) Z
ex x2 dx = ex x2 − 2exx + 2ex + C,

c) Z √
arcsen x √ √ √
√ dx = 2 xarcsen x + 2 1 − x + C.
x

Resolução 10.6. a)
R 1
 2  R 2 −1
xarctg x dx = x2 arctg x1 − x2 1+x21 dx
 1 R x2 x2
x2 1
= 2 arctg x  + 2 R x2 +1 dx
x2 1 1 x2 +1−1
= 2 arctg x  + 2 R x2 +1 dx
x2 1 1
R 1
= 2 arctg x + 2 1dx − 21 1+x 2 dx
x2 1 1 1
= 2 arctg x + 2 x − 2 arctg(x) + C.
164
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

b) R R
ex x2 dx = ex x2 − ex 2xdx
R
= ex x2 − 2 ex xdx
R
= ex x2 − 2[ex x − ex 1dx]
= ex x2 − 2ex x + 2ex + C.

c) Vamos fazer a mudança de variável x = t2 e portanto dx = 2tdt


R √ R
arcsen x
√ = arcsent
dx t 2tdt
R x
= 2 arcsentdt
R
= 2 1arcsen(t)dt
R 1
= 2tarcsen(t) − 2 t √1−t 2
dt
R 1
= 2tarcsen(t) + (−2t)(1 − t2 )− 2 dt
1
(1−t2 ) 2
= [2tarcsen(t) + ]t=√x + C1
√ 2
= [2tarcsen(t) + 2 1 − t2 ]t=√x + C
√ √ √
= 2 xarcsen( x) + 2 1 − x + C.

Exercício 10.7. Mostre que as igualdades abaixo sáo verificadas, recorra à mudança
indicada só se for necessário.
a) Z
√ 9 p 3p
x 3 1 + xdx = − 3
(1 + x)7 + 3 (1 + x)4 + C, 1 + x = t3 ;
28 4
b) Z
x3 x2 1
x2 arctgxdx = arctg(x) − + ln (x2 + 1) + C;
3 6 6
c) Z
1 √
3 1 dx = 2arctg x + 1 + C, 1 + x = t2 .
(1 + x) + (1 + x) 2
2

Resolução 10.7. a)
R √ R 1
x 3 1 + xdx = x(1 + x) 3 dx
1 +1 R 4

= x (1+x) − 1 (1+x)
3 3
1
+1 4 dx
3 3
4 R 4

= x (1+x) − (1+x)
3 3
4 4 dx
3 3
4 4
+1
= x (1+x) 3 (1+x) 3
3
4 − 4 4
+1
+C
3 3
4 7
(1+x) 3 3 (1+x) 3
=x 4 − 4 7 +C
3 3
3 4 9 7
= 4 x(1
p + x) − 28
3 (1 p
+ x) 3 + C
3 3 9 3
= 4x (1 + x)4 − 28 (1 + x)7 + C.
165
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

b)
R 3 R 3 1
x2 arctg(x)dx = x3 arctgx − x3 1+x 2 dx + C.
x3 arctg(x) 1
R x3
= 3 − 3 1+x2 dx
x3 arctg(x) R
= 3 − 31 (x − x2x+1 )dx
3 R R
= x arctg(x)
3 − 31 xdx + 13 x2x+1 dx)dx
3 2 R
= x arctg(x)
3 − 31 x2 + 61 x22x
+1 dx)dx
x3 arctg(x) x2 1
= 3 − 6 + 6 ln(1 + x2 ) + C.

c) como 1 + x = t2 então dx = 2tdt e portanto


R 1
R 2t
3 1 dx = t3 +t dt
R 21+(1+x) 2
(1+x)
= 2 t2 +1 dt .
= 2[arctg(t)]t=√x+1

= 2arctg( x + 1) + C

10.8.1 Integrais Definidos


Exercício 10.8. Calcule os seguintes integrais definidos:
a)
Z 9
1
√ dx = 6 − 2 ln 4, x = t2 ;
0 1+ x

b)
Z 1
dx
= arctg3 − arctg2.
0 x2 + 4x + 5
Resolução 10.8. a) Fazendo x = t2 vem dx = 2tdt e t = 3 e t = 0
R9 1√
R3 R3
dx = 0 2tdt dt =2 t+1−1
1+t dt
0 1+ x
R3 R 3 1+t
1
0
= 2( 0 1dt − 0 1+t dt)
= 2[t]30 − 2(ln(1 + t))|30
= 6 − 2 ln 4.

b)
R1 R1 1
dx
0 x2 +4x+5
= 0 (x+2) 2 +1 dx = (arctg(x + 2))|0
1

= arctg(3) − arctg(2).

Exercício 10.9. a) Mostre que


Z 1 Z 1
p
x (1 − x) dx = q
xq (1 − x)p dx, x = 1 − t
0 0

b) Seja f uma função contínua em [−a, a]. Mostre que se f é uma função par então
Ra Ra Ra
−a f (x)dx = 2 0 f (x)dx e que se f é ímpar então −a f (x)dx = 0.
166
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 10.9. a) Considere-se a mudança t = 1 − x, dt = −dx. Logo


R0
1(1 − t)p tq (−dt)
R1
= − 0 (1 − t)p tq (−dt)
R1
= 0 (1 − t)p tq dt
R1
= 0 (1 − x)p xq dx

b)
Ra Ra R0
−a
f (x)dx = 0 f (x)dx + −a f (x)dx
Ra R0
= 0 f (x)dx + a f (−u)(−du)
Ra Ra
= 0 f (x)dx − 0 f (u)(−du)du
Ra Ra
= 0 f (x)dx + 0 f (u)du
Ra Ra
= 0 f (x)dx + 0 f (x)dx
Ra
= 2 0 f (x)dx

Não tem solução, pois pretende-se que o leitor resolva o problema ou consulte um bom
livro de Ánálise.

Exercício 10.10. a) Considere a área da região

D = {(x, y) ∈ R2 : −3 ≤ x ≤ 3, 0 ≤ y ≤ (x + 1)ex+1 }.

x2 y2
b) Calcule a área da região do espaço D = {(x, y) ∈ R2 : a2 + b2 = 1}. Solução
area(D) = πab.
c) Calcule a área da região D = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 4 ∧ x2 + y 2 ≤ 4x}.

Resolução 10.10. Resolvemos apenas a alínea a).


R3
area(D) = −3 (x + 1)ex+1 dx
R3
= ((x + 1)ex+1 )|3−3 − −3 ex+1 dx
= 4e4 − (−2)e−2 − (ex+1 )|3−3
= 4e4 + 2e−2 − (e4 − e−2 )
= 4e4 + 2e−2 − e4 + e−2
3e4 + 3e−2

167
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

11 Exercícios de Revisão

Exercício 11.1. a) Mostre que a função f (x) = x3 − 6x + 3 tem uma e só uma


raíz no intervalo [0, 1];
x
b) Mostre que x > −1 ⇒ e x+1 ≤ 1 + x, recorra oa Teorema de Lagrange.

Resolução 11.1. Consulte estes apontamentos.

Exercício 11.2. a) Para cada uma das funções f estude


a) O domínio,
b) Os zeros,
c) Paridade,
d) Sinal da função, se não der muito cálculo,
e) Assimptotas verticais,
f) Assimptotas obliquas,
g) Estude a monotonia da função f,
h) Estude a concavidade da função f,
i) Faça um esboço do gráfico de f.
onde f é dada por
x3
a) f (x) = (x+1)2 ;

b) f (x) = 3
1 − x2 ;
c) f (x) = x + e−x senx;
1
d) f (x) = x ∗ e− x2 ;
e) f (x) = x ln x.

Resolução 11.2. Se possível recorrer a uma máquina de calcular ou a um programa


gráfico como o winplot.

Exercício 11.3. {Problema de áreas} Considere as funções f (x) = 2x, g(x) = x2 e


h(x) = x1 que se apresentam na figura abaixo.
169
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

a) Calcule a área da região tracejada limitada pelos gráficos das funções f, g e h;


1
b) Calcule a àrea da região D = {(x, y) ∈ R2 : 1 ≤ x ≤ 5 ∧ x ≤ y ≤ x2 }.

Resolução 11.3. a) Primeiro determinemos os pontos de interseção dos gráficos


das funções envolvidas na fronteira de D.

 y = 2x
y = x1

x>0
m
 1
 x = 2x
y = x1

x>0
m
 1
 2 =x
2
1
y= x

x>0
m

1
 √2 = x

y = x1

 x>0
m
m
(
x = √12

y= 2

Determinemos agora as coordenadas dos pontos de interseção dos gráficos de


170
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

1
y= x e y = x2 supondo x > 0. Assim, tem-se
 1
 = x2
x
y = x2

x>0
m

 1=x
3

y = x2

x>0
m

 x=1
y=1

x>0
m

x=1
y=1

Então
R √1 R1
area(D) = 0 2 (2x − x2 )dx + √1 ( x1 − x2 )dx
2
R √1 R √1 R1 R1
= 0 2 2xdx − 0 2 x2 dx + √1 x1 dx − √1 x2 dx
2 2
1
√ 1

3 3
= (x2 )|0 2 − ( x3 )|0 2 + (ln x)|1√1 − ( x3 )|1√1
2   2
1
= 12 − 0 − [ 6√ 2
− 0] + [ln(1) − ln √1 ] − [ 1 −
2 3
1

6 2
]

= 12 − 31 +√ln( 2)
= 61 + ln( 2).

b)
R5
area(D) = 1 (x2 − x1 )dx
3
= ( x3 )|51 − (ln x)|51
= 125 1
3 − 3 − ln(5) + ln(1)
= 3 − 31 − ln(5)
125

= 124
3 − ln(5).

Exercício 11.4. {Problema sobre recorrência na integração por partes In } Seja n ∈ N


R Rπ
e In = xn cos (x)dx e Jn = 0 xn cos (x)dx
a) Mostre que In = sen(x)xn + n cos (x)xn−1 − n(n − 1)In−2 ,
b) Obtenha uma fórmula de recorrência para Jn ,
c) Calcule J3 .
171
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 11.4. a) Tem-se que


R
In = xn cos(x)dx
R
= sen(x)xn − sen(x)nxn−1 dx
R
= sen(x)xn − n sen(x)xn−1 dx
R
= sen(x)xn − n[(−cos(x)xn−1 − (−cos(x))(n − 1)xn−2 dx
R
= sin(x)xn + n cos(x)xn−1 − n(n − 1) cos(x)xn−2 dx
R
= sin(x)xn + n cos(x)xn−1 − n(n − 1) cos(x)xn−2 dx
= sen(x)xn + n cos(x)xn−1 − n(n − 1)In−2

Donde mostramos que

In = sen(x)xn + n cos(x)xn−1 − n(n − 1)In−2

b) Seja n ∈ N + 2. Temos pela alínea a)] que



Jn = [sen(x)xn + n cos(x)xn−1 )|π0 − n(n − 1) 0
cos(x)xn−2 dx
= n(−1)(π)n−1 − n(n − 1)Jn−2
= −n(π)n−1 − n(n − 1)Jn−2

Donde obtivemos que Jn = −n(π)n−1 − n(n − 1)Jn−2 .


c)
J3 = −3(π)2 − 6J1
= −3(π)2 − 6J1

= −3π 2 − 6( 0 x cos(x)dx)

= −3π 2 − 6((xsen(x))|π0 − 0 sen(x)dx)

= 3π 2 − 6(− 0 sen(x)dx)
= 3π 2 − 6(−(− cos(x))|π0 dx)
= 3π 2 − 6(cos(x))|π0 dx
= 3π 2 − 6(−1 − 1)
= 3π 2 + 12.
Exercício 11.5. Calcule os seguintes integrais:
R x+1
a) x(x−1) 2 dx;
R 2x
b) 4+2x dx;
R
c) x2 arctg(x)dx;
R
d) x2 √1x2 +1 dx, x = tg(t).

Resolução 11.5. Neste exercício pretende-se que o leitor faça o exercício e depois
verifique o resultado utilizando as propriedades do integral indefinido.

Exercício 11.6. Considere f (x) = x ln (x).


a) Determine o domínio de f.
b) Calcule limx→0+ f (x).
172
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

c) Estude o sinal de f.
d) Calcule a primeira derivada de f e estude a monotonia de f.
e) Calcule o(s) ponto(s) de minímo e o(s) ponto(s) de máximo local de f se existi-
rem.
f) Calcule a segunda derivada de f e estude a concavidade de f.
g) Faça um esboço do gráfico de f.

Resolução 11.6. Faça o estude de f e o gráfico de f, e depois compare o gráfico de f


com o gráfico de f obtido utilizando uma máquina gráfica.

Exercício 11.7. Calcule os seguintes integrais definidos.


R 2 √x
a) 1 e√x dx;
R1 √
b) 0 x3 1 + xdx;
R9 √
1+ x
c) 4 √ √ dx, x = t ;
6
6 5
x (1+ 3 x)
R2
d) 1 arctgx
1+x2 dx.

√ √
Resolução 11.7. a)√Fazendo x = t2 e portanto t = x, logo (x = 2) → (t = 2)
1
e (x = 1) → (t = 1) e como dt = 2√ x
dx então concluimos que :

R √
x R √2 √
e√x
21 e√x dx = 2 1 2 x
dx
R √2
= 2 1 √et dt
= 2(et√)|1 2
= 2(e√ 2 − e1 )
= 2e 2 − 2e

b) A ideia será primitivar a potência em 1 + x tantas vezes quantas as necessárias


173
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

para desaparecer a potência de x. Assim, considerem-se os seguintes cálculos.


R 1 3√
0R
x 1 + xdx =
1 1
= 0 x3 (1 + x) 2 dx
3 R1 3

= ( (1+x) x3 )|10 − 0 (1+x)


2 2
3 3 3x2 dx
2 R 2
3 1 3
= 32 (2 2 − 0) − 36 0 (1 + x) 2 x2 dx
3 R1 3
= 23 (2 2 ) − 2 0 (1 + x) 2 x2 dx 
5 R 1 (1+x) 25
2 3 (1+x) 2 2 1
= 3 (2 ) − 2
2 5 x )|0 − 0 5 2x
 25 R
2

3 1 5
= 32 (2 2 ) − 2 ( 52 2 2 − 0) − 54 0 (1 + x) 2 x
5
5
= 232 − 45 2 2 +
R1 5
+ 58 0 (1 + x) 2 xdx
5
5
= 23
2
− 45 2 2 + 
7 R1 7

+ 58 (1+x) (1+x) 2
2
7 x|10 − 0 7 1dx
2 2
5
5
= 3 − 45 2 2 +
22

7 R1 7
+ 58 72 2 2 − 72 0 (1 + x) 2 dx
5
5
= 232 − 45 2 2 +
6 27 16 1
R 7
+ 35 2 − 35 0 (1 + x) dx
2
5
22 4 52
= 3 − 52 +
9
6 27 16 (1+x) 2 1
+ 35 2 − 35 9 |0
2
5
5
= 232 − 45 2 2 +
6 27 32 9
+ 35 2 − 35∗9 (1 + x) 2 |10
5
5
= 232 − 45 2 2 +
6 27 32 9
+ 35 2 − 315 (2 2 − 1)

c) Fazendo a mudança √x = t6 então obtemos dx = 6t5 dt para x = 9 vem t = 6
9e
para x = 3 vem t = 6 3
R9 √
1+ x

6 5 √ dx
4 x (1+ 3 x)
R√ 6
9 1+t3
= √6
3√ t5 (1+t2 ) 6t dt
5
R 3 1+t3
= 6 √ 6
3 (1+t2 )
dt
R √3  −t+1

= 6 6 3 t + t2 +1

 2 √
3
R √3 t R √3 1 
= 6 t2 | √ 6
3
− √6
3 t2 +1 dt +

6
3 t2 +1 dt
 √ 3 R √3 2t √ 
3
= 6 3−2 3 − 21 √ 6 2
3 t +1 dt + arctg(t)| √6
3
√ √
3
√ √
= 9 − 3 3 −3 ln(1 + t2 )| √ 6
3
+ 6arctg( 3) − arctan( 6 3).

174
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

d)
R 2 arctgx
1 R 1+x2
dx
2 1
= 1 arctg(x) 1+x 2 dx
2
= ( arctg2 (x) )|21
2 2
= arctg (2)−arctg
2
(1)
.

175
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

12 Técnicas de Integração
Agora vamos introduzir a noção de função racional nas incógnitas x1 , x2 , · · · , xn .

Definição 12.1. Seja f : D ⊂ Rn 7→ R que a (x1 , x2 , · · · , xn ) ∈ D associa f (x1 , x2 ,· · · , xn ).


Dizemos que f é uma função racional em x1 , x2 , · · · e xn se e só se f (x1 , x2 , · · · , xn ) =
P (x1 ,··· ,xn )
Q(x1 ,··· ,xn ) onde P e Q são funções polinomiais em x1 , · · · , xn−1 e xn .

x2 +y 2 +1
Exemplo 12.1. Por exemplo f (x, y) = x2 −y 2 +1 é uma função racional em x e
2 2
+z 2
y. A função f (x, y, z) = x x+y 2 +z 2 é uma função racional em x, y e z. A função
x2
f (x1 , x2 , · · · , xn ) = x1 +x2 +x3 +···+xn +x2 é uma função racional em x1 , x2 , · · · , xn−1 e
1
em xn .

Observação 12.1. Muitas vezes passaremos a dizer integração de funções do tipo


f (x, h1 , h2 , · · · , hn ) onde f é uma função racional querendo realmente dizer que f é
uma função racional em n+1 variáveis x1 , x2 , · · · , xn e xn+1 e que depois substituimos
na sua expressão f (x1 , x2 , · · · , xn , xn+1 ) o x1 por x e as últimas n variáveis xi+1 por
hi , i = 1, · · · , n.


12.1 Integrais de Euler, do Tipo f (x, ax2 + bx + c)dx
R

R √
Para desenvolver os integrais da forma f (x, ax2 + bx + c)dx onde f é uma função
racional em duas variáveis vamos ter de estabelecer mudanças de variáveis que permi-
tam estabelecer uma relação entre a antiga variável e a nova variável que√seja da forma
x = g(t) sendo g uma função racional em t e de tal modo que a raiz ax2 + bx + c
seja transformada
√ numa função racional em t. Tal consegue-se se considerarmos a

igualdade ax2 + bx + c = ax + t, no caso em que a > 0, após quadrarmos ambos
os membros desta igualdade e após simplificarmos √ a equação obtida o termo em x2

anula-se, ou então se considerarmos a igualdade ax + bx + c = xt + c, no caso
2

em que c > 0, e depois após quadrarmos ambos os menbros desta igualdade e após
simplificarmos a equação obtida desapareçe o termo em c. E depois após resolver essa
nova equação obtida em ordem a x obtemos a mudança de variável que desejamos.

Ou então, quando b2 − 4ac > 0 fazendo ax2 + bx + c = t(x − α), onde α é uma
das raízes da equação ax2 + bx + c = 0, e portanto após elevar ambos os membros
desta igualdade ao quadrado, e após a simplificação da mesma e resolvendo a equação
obtida em ordem a x obtemos uma equação que nos dá ao fim ao cabo a mudança a
fazer. Assim, após estes breves comentários, vamos considerar o método para resolver
177
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

R √
os integrais do tipo f (x, ax2 + bx + c)dx onde f é uma função racional em duas
variáveis. Para tal considerem-se os 3 casos que passamos a descrever:
√ √
a) Primeiro caso. Se a > 0 então fazemos ax2 + bx + c = t ± ax.
i) Vamos optar por analisar o caso em que escolhemos
√ o sinal mais e portanto

analisemos
√ a mudança definida pela igualdade ax2 + bx + c = t + ax,

logo t = √ax + bx + c − ax. Mas então elevando ambos os membros da
2

igualdade ax2 + bx + c = t + ax ao quadrado obtemos

ax2 + bx + c = t2 + 2tx a + ax2 .

Logo

bx + c = t2 + 2tx a. (12.1)

Assim, resolvendo a equação (12.1) em ordem a x vem:



bx − 2tx a = t2 − c.

E portanto

x(b − 2t a) = t2 − c.
Assim, tem-se

t2 − c
x= √ . (12.2)
b − 2 at

Logo de (12.2) obtém-se:


√ √
(2t)(b−2 at)−(t2 −c)(−2 a)
dx = (b−2
√ 2 dt
√ √ 2 at) √
2tb−4 at2 +2 at −2 ac
= √
at)2
dt
√(b−2
2 √
2tb−2 at −2 ac
= √
(b−2 at)2 √
dt

−2 at2 +2tb−2 ac
= √
(b−2 at)2
dt.

Logo √ √ t2 −c
ax2 + bx + c = t + a b−2√
at
√ √ √
bt−2 at2 +√ at2 − ac
=
√ b−2
2 √
at
bt− at√ − ac
=
√b−2 at √
− at2 +bt− ac
= √
b−2 at
.
Assim
R √ R 
t2 −c
√ 2 √  √
ac −2 at2 +2tb−2

f (x, ax2 + bx + c)dx = f √ , − at +bt−
√ √ 2
ac
dt
b−2 at b−2 at (b−2 at)
= (G(t))|t=√ax2 +bx+c−√ax ,

178
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

onde G é uma primitiva da função racional g em t tal que


 2 √ √  √ √
t − c − at2 + bt − ac −2 at2 + 2tb − 2 ac
g(t) = f √ , √ √ .
b − 2 at b − 2 at (b − 2 at)2
√ √
ii) Podiamos ter analisado o caso ax2 + bx + c = t − ax, mas chegariamos
a relações quase idênticas portanto deixamos este trabalho para quem for
ler estes apontamentos.
√ √
b) c > 0. Então1faz-se a mudança ax2 + bx + c = xt ± c. Vamos mais uma vez,
escolher o sinal mais. Assim tem-se:
√ √ !
p √ ax2 + bx + c − c
ax2 + bx + c = xt + c t = (12.3)
x

Logo quadrando ambos os membros da igualdade (12.3) vem



ax2 + bx + c = x2 t2 + 2xt c + c.

Assim

ax2 + bx = x2 t2 + 2xt c (12.4)

e simplificando (12.4) obtemos



ax + b = xt2 + 2t c

e portanto

ax − xt2 = 2t c − b. (12.5)

Assim, resolvendo em ordem a x a equação (12.5) vem



2 ct − b
x= .
a − t2
Logo √ √
2 c(a−t2 )−(2 ct−b)(−2t)
dx = (a−t2 )2 dt
√ √ √
2a c−2 ct2 +4 ct2 −2bt
= (a−t2 )2 dt.
e portanto √ √
2 ct2 − 2bt + 2 ca
dx = dt.
(a − t2 )2

1O
√ √
objectivo é que após elevar a igualdade ao quadrado na igualdade ax2 + bx + c = xt ± c
desapareça o termo em c.
179
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Por sua vez, √ √


ax√2 + bx + c = xt + c

= 2 a−t
ct−b
2 t + c
√ 2 √
2 ct −bt
= a−t2 + c
√ √ √
2 ct2 −bt+ ca−t2 c
= a−t 2
√ 2 √
−bt+ ca
= ct a−t 2 .
R √ R  2√ct−b √ct2 −bt+√ca  2√ct2 −2bt+2√ca
f (x, ax2 + bx + c)dx = f a−t2 , a−t2 (a−t2 )2 dt
= (G(t)) √
ax2 +bx+c−

c
|t= x

onde G é uma primitiva da função racional g em t tal que


 √ √ 2 √  √ √
2 ct − b ct − bt + ca 2 ct2 − 2bt + 2 ca
g(t) = f , .
a − t2 a − t2 (a − t2 )2

c) b2 − 4ac > 0.
Neste caso sendo x1 e x2 as raízes do polinómio
√ √ ax + bx + c =
2
0 fazemos

ax + bx + c = t(x − x1 ) ou se a > 0 fazemos ax + bx + c = at(x − x1 ).
2 2

Suponhamos que a > 0 fazemos


p √
ax2 + bx + c = at(x − x1 ).

Então se a > 0 podemos escrever:


p √
a(x − x1 )(x − x2 ) = at(x − x1 ).

Logo
a(x − x1 )(x − x2 ) = at2 (x − x1 )2 .
Assim
x − x2 = t2 (x − x1 ).
Logo
x − t2 x = x2 − t2 x1 .
Assim
x(1 − t2 ) = x2 − t2 x1 .
Logo
x2 − t2 x1
x=
1 − t2
e portanto
2t(x2 − x1 )
dx = dt.
(1 − t2 )2

180
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Por sua vez, tem-se


p √
a(x − x1 )(x − x2 ) = at(x − x1 )
√ 
−t2 x1

= t a x21−t 2 − x1

= at (x1−t
2 −x1 )
2 .

Donde
R √ R  −t2 x1 √ (x2 −x1 )  2t(x2 −x1 )
f (x, ax2 + bx + c)dx = f x21−t2 , at 1−t2 (1−t2 )2 dt
= (G(t)) √
ax2 +bx+c
|t= √
a(x−x1 )

onde G é uma primitiva da função g tal que


 
x2 − t2 x1 √ (x2 − x1 ) 2t(x2 − x1 )
g(t) = f , at .
1 − t2 1 − t2 (1 − t2 )2
R
Exemplo 12.2. Desenvolva √ 1 dx
x 1+x+x2

p
1 + x + x2 = xt + 1 (12.6)

1 + x + x2 = x2 t2 + 2xt + 1
x + x2 = x2 t2 + 2xt
1 + x = xt2 + 2t
x − xt2 = 2t − 1
x(1 − t2 ) = 2t − 1

2t − 1
x = . (12.7)
1 − t2
Assim, tem-se
2(1−t2 )−(2t−1)(−2t)
dx = (1−t2 )2 dt
2−2t2 +4t2 −2t
= (1−t2 )2 dt
e portanto

2t2 − 2t + 2
dx = dt.
(1 − t2 )2

181
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Agora vamos exprimir a raiz como função de t, utilizando (12.6) em (12.7) obtemos

1 + x + x2 = xt + 1
2t−1
= 1−t 2t + 1
2t2 −t+1−t2
= 1−t2
2
−t+1
= t 1−t 2 .

ou seja
p t2 − t + 1
1 + x + x2 =
1 − t2
donde R R
√ 1 1 2t2 −2t+2
x 1+x+x2
dx = 2t−1 t2 −t+1 (1−t2 )2 dt
R 2 1−t2 1−t2

= 2t−1 dt
= (ln |2t − 1|) √1+x+x2 −1 + C
√ t= x
1+x+x2 −1
= ln 2 1 +C

x −

2 1+x+x2 −2−x
= ln x + C.

R √
−x2 +2x+3
Exemplo 12.3. Desenvolva x2 dx
Como
−x2 + 2x + 3 = 0 ⇔ (−1)(x − 3)(x + 1) = 0
então fazemos a mudança de varıável
p
(−1)(x − 3)(x + 1) = t(x − 3) (12.8)

−(x − 3)(x + 1) = t2 (x − 3)2


−(x + 1) = t2 (x − 3)
−x − 1 = t2 x − 3t2
−x − t2 x = 1 − 3t2
x + t2 x = 3t2 − 1
x(1 + t2 ) = 3t2 − 1

3t2 − 1
x = (12.9)
1 + t2
182
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

√  2 
−x2 + 2x + 3 = t 3t1+t−1 2 − 3
h 2 i
3+3t2
= t 3t1+t−1
2 − 1+t2
h 2 2
i h i
= t 3t −1−3−3t
1+t2 = t −4
1+t2

4t
= − 1+t 2.

Então da igualdade (12.9) obtemos

6t(1+t2 )−(3t2 −1)2t


dx = (1+t2 )2 dt
6t+6t3 −6t3 +2t 8t
= (1+t2 )2 dt = (1+t 2 )2 dt

Logo √
R −x2 +2x+3
R (1+t2 )2 4t 8t
x2 dx = − (3t 2 −1)2 1+t2 (1+t2 )2 dt
R 32t2
= − (3t2 −1) 2 (t2 +1) dt

= ··· .
Optamos por deixar assim, devido o desenvolvimento conduzir a um grande volume de
cálculo. Agora, aqui achamos melhor que o leitor vá pesquisar no google um link para
cálculo de integrais, por exemplo indo navegar na net utilizando a chave bfintegrator
calculator Symbolad.
R
Exemplo 12.4. Obtenha o integral √ dx
1+ 1+x+x2
.
Aqui temos a = 1 > 0, logo podemos fazer
p
x2 + 2x + 2 = x − t. (12.10)

Elevando ambos os membros ao quadrado da equação (12.10) vem

x2 + 2x + 2 = x2 − 2xt + t2 (12.11)

Logo de (12.11) obtemos (12.12)

2x + 2 = t2 − 2xt. (12.12)

E portanto

2x + 2xt = t2 − 2.

Assim

x(2 + 2t) = t2 − 2.

E portanto

t2 − 2
x =
2 + 2t
183
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Donde
2t(2+2t)−(t2 −2)2
dx = (2+2t)2 dt
t2 +2t+2
= 2(1+t)2 dt

x2 + 2x + 2 = x − t
t2 −2
= 2+2t −t
2 2
= t −2−2t−2t
2+2t
2
= −t 2+2t
−2t−2
.
E portanto √ −t2 −2t−2
1 + x2 + 2x + 2 = 1 + 2+2t
2
= 2+2t−t2+2t
−2t−2
2
−t
= 2+2t
t2
= − 2+2t .
Logo R
√ dx
1+ 1+x+x2
2 +2t+2
R t2(1+t)2 dt
= −t2
2+2t
R (t2 +2t+2)(1+t)
=− t2 (1+t)2 dt
R t2 +2t+2
=− t2 (1+t) dt
R t2 +2(t+1)
=− dt
R t2 (1+t) 
2 1
=− t2 + t+1 dt
R R 1
=− 2t−2 dt − t+1 dt
−1
= −2 t−1 − ln |1 + t| + C
= 2t − ln |1 + t| + C √
= x−√x22+2x+2 − ln |1 + x − x2 + 2x + 2| + C.

R
Exemplo 12.5. Calcule o seguinte integral √ 1 dx.
x2 −1
p
x2 − 1 = t(x − 1) (12.13)

Elevando ao quadrado ambos os membros de (12.13) obtemos (12.14)

x2 − 1 = t2 (x − 1)2 (12.14)

Logo, vem

(x − 1)(x + 1) = t2 (x − 1)2 (12.15)

e portanto obtemos (12.16)

x + 1 = t2 (x − 1) (12.16)
184
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Assim, obtemos a igualdade (12.17)

x − t2 x = −t2 − 1. (12.17)

Resolvendo em ordem a x (12.17) obtemos (12.18)

−t2 − 1
x = . (12.18)
1 − t2

Reescrevendo (12.18) obtemos (12.19)

1 + t2
x = . (12.19)
t2 − 1
Logo
2t(t2 −1)−(1+t2 )2t
dx = (t2 −1)2 dt
2t3 −2t−2t−2t3
= (t2 −1)2 dt
−4t
= (t2 −1)2 dt.

Mas então utilizando a igualdade (12.19) concluimos que:



x2− 1 = t(x− 1)
1+t2
=t t2 −1 − 1
1+t2 −t2 +1
= t t2 −1
2t
= t2 −1 .

Logo
−4t
R R (t2 −1)2
√ 1 dx = 2t dt
2
R x −1
2
t2 −1

= 1−t2 dt.
Determinemos as constantes A e B tais que

2 A B
= + .
1−t 2 1−t 1+t
Logo. pelos apontamentos de polinómios obtemos
2
A = [ 1+t ]|t=1
=1
2
B = [ 1−t ]|t=−1
=1

e portanto
2 1 1
= +
1−t 2 1−t 1+t

185
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Assim, tem-se Z Z Z
2 −1 1
dt = − dt + dt,
1 − t2 1−t 1+t
ou seja Z
2
dt = − ln |1 − t| + ln |1 + t| + C.
1 − t2
E portanto Z
2 1 + t
dt = ln 1 − t p x+1 + C.

1 − t2 |t=
x−1

Assim, temos q
Z 1 + x+1
2 x−1
dt = ln q + C.
1 − t2 1 − x+1


x−1

E portanto concluimos que:


Z √ √
2 x − 1 + x + 1
dt = ln √
√ +C
1 − t2 x − 1 − x + 1

186
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

13 Integrais Binomiais, do tipo


xm(a + bxn)pdx
R

Sejam m, n e p números racionais, e a e b 6= 0 números reais. Para desenvolver os


R
integrais do tipo xm (a + bxn )p dx temos de considerar 3 casos:
a) Primeiro caso p é um número inteiro e pelo menos um dos números m e n é um
número racional positivo da forma pq 6∈ Z com p e q números naturais primos
entre si. Faz-se a substituição x = tα onde α é o menor multiplo comum dos
denominadores de m e n. Assim dx = αtα−1 dt. Notem que neste caso temos
Z Z
x (a + bx ) dx = tm1 (a + btn1 )p αtα−1 dt
m n p

com m1 = nα ∈ N e n1 = mα ∈ N. Mas então


Z
xm (a + bxn )p dx = [G(t)] 1 +C
t=x α

onde G é uma primitiva da função g com

g(t) = tm1 (a + btn1 )p αtα−1

que é uma função racional em t. Vamos então apresentar o cálculo de um integral


R
do tipo xm (a + bxn )p dx com p um número natural e com pelo menos um dos
números m ou n um número racional positivo não inteiro.
Exemplo 13.1.
Z
1
x 2 (1 + x2 )3 dx

Como p = 3 ∈ N então1 fazemos x = t2 . E portanto dx = 2tdt. Donde


R 1 R 2  12
x 2 (1 + x2 )3 dx = t (1 + t4 )3 ∗ 2tdt
R 
= t 1 + 3t + 3t + t 2tdt
4 8 12
R
=  (2t2 + 6t6 + 6t10 + 2t14 )dt
√ √ √ √
t3 t7 t11 t15 x3 x7 x11 x15
= 2 3 + 6 7 + 6 11 + 2 15 √ + C. = 2 3 + 6 7 + 6 11 + 2 15 + C.
|t= x

1 Notem a ideia é fazer desaparecer as raízes.


187
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

b) Segundo caso p é um número racional que não é inteiro e m+1


n é um número
inteiro.

Faz-se a mudança a + bxn = tα em que α é o denominador de p.


Neste caso devemos notar que

bxn = tα − a
α
xn = t b−a
α 1
x = t b−a n .

Logo
1
1 tα −a n −1 αtα−1
dx = n b b dt
α tα −a
 1−n
= bn b
n
t α−1
dt.
Assim, vem
R R tα −a
m tα −a
 1−n
xm (a + bxn )p dx = b
n α
tpα bn b
n
tα−1 dt
R tα −a  m+1−n
= α
bn b
n
t pα+α−1
dt
R tα −a
 m+1 tα −a −1 pα+α−1

= α
bn b
n
b t dt
R  m+1  
tα −a
= α
bn b
n b
tα −a t
pα+α−1
dt
R  m+1  pα+α−1 
tα −a
= αb
bn b
n t
t −a α dt
R α  m+1  pα+α−1 
−a
= α
n
t
b
n t
tα −a dt.

Donde Z
α
xm (a + bxn )p dx = (G(t))|t= √
α
a+bxn ,
n
com G uma primitiva da função racional g tal que
  m+1  
tα − a n
tpα+α−1
g(t) = .
b tα − a

c) Terceiro caso p é um número racional que não é inteiro e m+1


n não é inteiro, mas
m+1
n + p é um número inteiro. Neste caso faz-se a mudança b + ax−n = tα onde
α é o denominador de p, pois
Z Z
p
xm (a + bxn )p dx = xm xn ax−n + b dx

Z
= xm+np (b + ax−n )p dx

m+np+1

Agora nota-se que −n = − m+1
n −p = −
m+1
n + p ∈ Z e portanto estamos
no segundo caso.
188
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Exemplo 13.2. Desenvolva o seguinte integral:


Z
1 1
x 3 (2 + x 2 )3 dx

Logo m = 31 , n = 21 , p = 3 como p é um número natural então estamos no primeiro



caso e então como mmc(2, 3) = 6 então devemos fazer x = t6 , t = 6 x e dx = 6t5 dt.
Assim, vem
Z Z
1 1
x 3 (2 + x 2 )3 dx = t2 (2 + t3 )3 ∗ 6t5 dt
Z
= 6 t7 (2 + t3 )3dt
Z
= 6 t7 (8 + 3 ∗ 22 t3 + 3 ∗ 2t6 + t9 )dt
Z
= 6 t7 (8 + 12t3 + 6t6 + t9 )dt

t8 t11 t14 t17


= 48 + 72 + 36 +6 +C
8
√ 11 √ 14 √ 17 √
6 6 6 6
x8 x11 x14 x17
= 48 + 72 + 36 +6 + C.
8 11 14 17
R 1
Exemplo 13.3. Calcule x3 (1 + x2 ) 2 dx. Notem que m = 3, n = 2 e p = 21 ,mas
3+1
n =√ 2 = 2 ∈ Z. Logo deve-se fazer a mudança: 1+x = t . e portanto x = t −1
m+1 2 2 2 2

, t = 1 + x e xdx = tdt. Logo


2

R 1 R 1
x3 (1 + x2 ) 2 dx = x2 (1 + x2 ) 2 xdx
R 2
= (t − 1)ttdt
R
= (t2 − 1)t2 dt
R 4
=  (t − t2)dt
5 3
= t5 − t3 √ +C
√ |t=√1+x2
2
(1+x ) 5 (1+x )3
2
= 5 − 3 + C.
R 1
Exemplo 13.4. Calcule o seguinte integral x2 (1 + x2 ) 2 dx.
Logo m = 2, n = 2, p = 21 e m+1 3 1
n + p = 2 + 2 = 2 ∈ Z. Logo estamos no terceiro caso.
R 1
Então devemos transformar a função integranda de x2 (1 + x2 ) 2 dx de modo que se
caia no segundo caso. Assim, tem-se
R 1
x2 (1 + x2 ) 2 dx
R 1
= x2 x2 (x−2 + 1) 2 dx
R 1
= x2 x x−2 + 1 2 dx
R 1
= x3 x−2 + 1 2 dx.

189
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Agora tem-se m = 3, n = −2 e p = 21 . E portanto m+1 n = 3+1−2 = −2 ∈ Z. Logo


devemos fazer a mudança de variável x + 1 = t . E portanto temos as seguintes
−2 2

igualdades 2 x−2 = t2 − 1 e portanto derivando ambos os membros desta igualdade


vem (−2)x−3 dx = 2tdt ou seja x−3 dx = −tdt. Donde vamos reescrever a função
R 1
integranda do integral x2 (1 + x2 ) 2 dx de modo que seja fácil reescrever essa função
integranda como função de t. Assim, tem-se
R 1
x2 (1 + x2 ) 2 dx
R 1
= x3 x−2 + 1 2 dx
R 3 1
= xx−3 x−2 + 1 2 (x−3 )dx
R 1
= x6 x−2 + 1 2 (x−3 )dx
R 1
= (t2 −1) 3 t(−t)dt
R t2
= − (t2 −1)3 dt.
R t2
Vamos, começar por utilizar integração por partes para desenvolver o integral (t2 −1)3 dt
Assim, tem-se R t2
−1)3 dt
(t2R
1
= 2  t2t(t2 − 1)−3 dt 
2 −2 R (t2 −1)−2
= 12 (t −1)−2 t − −2 1dt
R
= − 14 (t2 −1)
t 1
2 + 4
1
(t2 −1)2 dt

2 Notem 1
que x2 = t2 −1
190
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

R 1 1 1
Calculemos agora o integral (t2 −1)2 dt Como (t2 −1)2 = (t−1)2 (t+1)2 então tem-se3

1 A B C D
= + + +
(t − 1)2 (t + 1)2 (t − 1)2 t − 1 (t + 1)2 t+1

Tal como foi dado na teórica então


1 1
A = [ (t+1) 2 ]|t=1 = 4
1
B = [ dt
d
(t+1)2 ]|t=1 = [ dt (t + 1)
d −2
]|t=1
= [(−2)(t + 1) ]|t=1 = (−2)(8)−3 = − 41
−3
1 1
C = [ (t−1) 2 ]|t=−1 = 4
1
D = [ dt (t−1)2 ]|t=−1 = [ dt
d d
(t − 1)−2 ]|t=−1
= [(−2)(t − 1)−3 ]|t=−1 = 14

3 Notem 1
que podiamos ter resolvido a decomposição da fração racional (t2 −1)2
à custa de frações
simples de outro modo, como vou explicar de seguida. EÃľ muito importante que todos os
alunos percebam que quando nos esquecemos de um método para resolver um problema tem-
se sempre uma outra maneira de resolver. Mas temos sempre de pensar em sermos rápidos
para podermos resolver outros problemas. Assim, para descobrir as constantes A, B, C e D por
exemplo, podemos reduzir ao mesmo denominador na equação (13.1) todas as frações envolvidas,
mas deixando sempre todos os productos factorizados.
1 A B C D
= + + + (13.1)
(t − 1)2 (t + 1)2 (t − 1)2 t−1 (t + 1)2 t+1
Assim, tem-se
1 = A(t + 1)2 + B(t − 1)(t + 1)2 + C(t − 1)2 + D(t − 1)2 (t + 1) (13.2)
Agora reparem, que fazendo t = 1 em (13.2) obtemos 1 = A(1 + e portanto 1 = 4A, ou 1)2
seja A = 14 . Por sua vez, fazendo t = −1 em (13.2) vem 1 = C(−2)2 e portanto C = 14 . Assim,
analisemos a igualdade (refoutramaneira2)
1 1
1 = (t + 1)2 + B(t − 1)(t + 1)2 + (t − 1)2 + D(t − 1)2 (t + 1) (13.3)
4 4
Derivando sos membros de (13.3) obtemos (13.4)
1 1
0 = (t + 1) + B(t + 1)2 + 2B(t − 1)(t + 1) + (t − 1) + 2D(t − 1)(t + 1) + D(t − 1)(13.4)
2
2 2
Agora substituindo t = 1 em (13.4) vem
0 = 1 + 4B
Logo B = − 14 . Agora substittuindo t = −1 em (13.4) vem
0 = −1 + 4D
1
Logo D = 4
. E portanto
R 1
R 1 1
R 1 1
2 (t+1)2 dt = 4 (t−1)2
dt − 4 t−1
dt+
R(t−1)
1 1
R 1 1 .
+ 4 (t+1)2
dt + 4 t+1
dt + C

Notem em todo o cálculo eu deixei tudo factorizado, para ser fácil determinar as constantes.
Notem que a maneira mais lenta para determinar as constantes envolvidas (13.1) é rduzir as
frações todas ao mesmo denominador, depois reescrever ambos os membros desta equação obtida,
como polinómios de quando muito grau 3, e depois igualar ambos os coeficentes dos polinómios da
equação obtida em ambos os membros,e em seguida resolver um sistema com quatro incógnitas.
191
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Logo, R R 1 1 R 1 1
1
2 (t+1)2 dt = 4 (t−1)2 dt − 4 t−1 dt+
R(t−1) R
+ 41 (t+1) 1
2 dt + 1 1
4 t+1 dt
 
= − 41 t−1 1
− 41 ln |1 − t| − 14 t+1
1
+ 14 ln |1 + t| + C
 
= − 21 t2 −1
t
+ 41 ln t+1t−1 + C.

R 2 1
 
x (1 + x2 ) 2 dx = + 41 (t2 −1) t 1 t
2 + 8 t2 −1

2 −
|t= 1+x
|x|
h i
1
− 16 ln t−1t+1 √
1+x2
+ C.
|t= |x|

E portanto finalmente obtém-se


R 3
√ √
1 |x| 1+x2 |x| 1+x2
 √x ) dx =
x2 (1 + 2 2
4 + 8 −
1 x2 +1+|x|
− 16 ln √
x2 +1−|x|
+ C.

192
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

14 Integrais dap Forma p


! 1 ! 2 ! pr
ax+b q1 ax+b q2 ax+b qr
f (x, , ,··· , )dx
R
cx+d cx+d cx+d

Nesta seção pretendemos calcular integrais da forma


Z   pq1   p1   pr !
ax + b 1 ax + b q1 ax + b qr
f x, , ,··· , dx (14.1)
cx + d cx + d cx + d

onde f é uma função racional em r + 1 variáveis e além disso pi e qi são números


naturais primos emtre si, isto é mdc(pi , qi ) = 1 para i = 1, · · · , r. Para transformar
a função integranda do integral (14.1) numa função racional numa nova variável t
vamos proceder como passamos a deescrever no próximo parágrafo. Para transformar
  pi
ax+b qi
as expressões cx+d para i = 1, · · · , r em potências da nova variável t devemos
estabelecer a mudança de variável tal que ax+b cx+d = t onde α é o menor multiplo
α

comum dos números naturais q1 , q2 , · · · , qr . Assim, para exprimir x em função de


 1
ax+b α
t apresentam-se os seguintes cálculos cx+d
ax+b
= tα , (t = cx+d ). Logo ax + b =
tα (cx + d). E portanto
ax + b = tα cx + tα d.
Assim
ax − tα cx = dtα − b.
Logo
x(a − ctα ) = dtα − b.
E portanto
dtα − b
x= .
a − ctα
Assim tem-se
dαtα−1 (a−ctα )−(dtα −b)(−cαtα−1 )
dx = (a−ctα )2 dt
(dαa−bcα)tα−1
= (a−ctα )2 dt.
193
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Donde
R   p1   pq1   pr R dtα −b α α−1
ax+b q1 ax+b qr
f (x, cx+d )dx = f ( a−ct , · · · , tαr ) (dαa−bcα)t
1
, ax+b
cx+d , · · · , cx+d α,t
1
(a−ctα )2 dt
R
= g(t)dt
 1
ax+b α
= G( cx+d )+C

α α−1
dt −b α1
onde G é uma primitiva da função racional g em t tal que g(t) = f ( a−ctα,t , · · · , tαr ) (dαa−bcα)t
(a−ctα )2 .

Observação 14.1. Note-se que na expressão


Z   pq1   p1   pr
ax + b 1 ax + b q1 ax + b qr
f (x, , ,··· , )dx
cx + d cx + d cx + d

c ou d podem ser nulos, mas não podem ser ambos nulos, e note-se que b, c e d podem
assumir os valor a = 1, b = 0, c = 0, d = 1. E por facilidade de exposição vamos
apresentar exemplos em que as constantes verificam estas condições.

R √
x+1
Exemplo 14.1. Calcule 1+
√3
x+1
dx.

Então considere-se a relação x + 1 = t (t = 6 6
x + 1). E portanto dx = 6t5 dt. Logo
R √ R
x+1 t3

1+R3 x+1
dx = 1+t2 6t dt
5

t8
= 6 1+t2 dt 
R 6 1
=6 t − t + t2 − 1 +
4
+C 1+t2
 7 5 3

= 6 t7 − t5 + t3 − t + arctg(t) √ +C
√ √ √ |t= 6 x+1
6
6 (x+1)7 6
6 (x+1)5 6
6 (x+1)3 √ √
= √7 − √5 + 3 − 6 6 x + 1 + 6arctg( 6 x + 1) + C
6 6 (x+1)7 6 6 (x+1)5 p √ √
= 7 − 5 + 2 6 (x + 1)3 − 6 6 x + 1 + 6arctg( 6 x + 1) + C.
R 1√
Exemplo 14.2. Calcule √ 3 dx.
x+ x2
Note-se que Z Z
1 1
√ √
1 dx =
2 dx
x2 + x3
x + x2
3


e portanto, então devemos fazer a mudança x = t6 (t = 6 x) e portanto dx = 6t5 dt.
194
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Logo: R R
1√ 1
√ 3 2 dx = 1 2 dx
R x+ 1 x 5 x 2 +x 3
= t3 +t4 6t dt
R 5
= t36t
+t 4 dt
R t2 
=6∗
 t+1
R 
1
=6 t−1+ t+1 √
6
 t= x
2
=6 2
t
− t + ln(1 + t) + C
√
6 √ √ 
2
= 6 2x − 6 x + ln(1 + 6 x) +C
√ √ √
= 3 x2 − 6 6 x + 6 ln(1 + 6 x)
+D
6

√ √ √
= 3 x − 6 x + 6 ln(1 + x) + D.
3 6 6

R x
Exemplo 14.3. Calcule √1+x dx.

Fazendo x + 1 = t então t = 1 + x, x = t2 − 1 , dx = 2tdt e
2

R R 2
−1
√ x dx = t√
2tdt
1+x
R 3 t2
= 2 t t−t dt
R 2 R
= 2 t dt − 2 1dt
3
= (2√t3 − 2t)t=√1+x + C
(1+x)3 √
=2 3 − 2 1 + x + C.
R
Observação 14.2. Para calcular o integral √ x dx
1+x
vamos agora utilizar o método
de integração por partes.
R R 1
√ x dx
1+x
= x(1 + x)− 2 dx
1 R 1
(1+x) 2 (1+x) 2
= 1 x− 1 ∗ 1dx
2 2
1 R
(1+x) 2 1
= 1 x − 2 (1 + x) 2 dx
2
√ 3

= 2x 1 + x − 2 (1+x)
2
3 +C
√ p2
4 2
= 2x 1 + x − 3 (1 + x)3 + C
√ √
= 2x 1 + x − 34 (x + 1) 1 + x + C

= 6x−4x−4
3√ x+1+C
2x−4
= 3 x + 1 + C.

195
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

15 Integrais do tipo
f (sen(x), cos(x))dx
R

Vamos agora explicar os métodos que devem ser utilizados para desenvolver os in-
R
tegrais f (sen(x), cos(x))dx onde f é uma função racional em duas variáveis. Para
os integrais deste tipo existe um método eficiente que permite transformar a função
integranda dos integrais deste tipo numa função racional de uma variável, só que o
método que vamos descrever tem um defeito que é pode conduzir-nos muitas vezes

a muito cálculo. Neste método vamos considerar a mudança t = tg x2 . Mas para
utilizar esta mudança de variável temos de exprimir o seno e coseno como funções de

tg x2 . Assim, considerem-se os seguintes cálculos1

senx = sen2 x2
 
= 2sen( x2 ) cos( x2 )
sen( x ) 
= 2 cos x2 cos2 ( x2 )
( 2 )
= 2tg x2 1+tg12 x
(2)
= 2 1+t
t
2

cos(x) = cos(2 x2 )
 
= cos2 x2 − sen2 x2
 
= cos2 ( x2 1 − tg 2 x2

= 1+tg12 x 1 − tg 2 x2
(2)
2
= 1−t
1+t2 .
 2
Como t = tg x
2 então arctg(t) = 2 ou
x
seja x = 2arctg(t), e portanto dx = 1+t2 dt.
Assim R R 2
2t 1−t 2
f (sin(x), cos(x))dx = f ( 1+t 2 , 1+t2 ) 1+t2 dt
R
= g(t)dt

= G(tg x2 ) + C
2
2t 1−t 2
onde G é uma primitiva da função racional g tal que g(t) = f ( 1+t 2 , 1+t2 ) 1+t2

Exemplo 15.1. Faça a mudança t = tg x2 para desenvolver o integral
Z
dx
.
sen(x)(2 + cos(x) − 4sen(x))
1 Temos de saber as fórmulas de trigonometra sen(2u) = 2sen(u) cos(u) e cos(2u) = cos2 (u) −
sen2 (u) e 1 + tg 2 (x) = cos21(x) .
197
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1


Se t = tg x
2 então :
1−t2
sen(x) = 2 1+tt
2 , cos(x) = 1+t2
2
dx = 1+t2 dt.
Logo R dx
sen(x)(2+cos(x)−2sen(x)) =
2
R 1+t2
dt
= t 1−t 2
2t

2 1+t 2 2+ 1+t2 −2 1+t2
R (1+t2 )dt
= t(t2 −4t+3)
R 1+t2
= t(t−3)(t−1) dt.

1+t2
Determinem-se as constantes A, B e C tais que t(t−3)(t−1) dt = A
t + B
t−3 + C
t−1 .
Assim 2
1+t 1
A = ( (t−3)(t−1) )|t=0 = 3
1+t2 10 5
B= ( t(t−1) )|t=3 = 3∗2 = 3
1+t2 2
C= ( t(t−3) )|t=1 = −2 = −1.

Logo Z Z Z Z
1 + t2 11 5 1 1
dt = dt + dt − dt
t(t − 3)(t − 1) 3t 3t−3 t−1
Assim,
Z
1 + t2 1 5
dt = ( ln |t| + ln |t − 3| − ln |t − 1|)|t=tg( x ) + C.
t(t − 3)(t − 1) 3 3 2

Logo, finalmente tem-se


R 1 1
 5

sen(x)(2+cos(x)−2sen(x)) dx = 3 ln tg x
2
+
3 ln tg x
2


− ln tg 2 − 1 + C.
x

15.1 Integrais do Tipo f (sen2(x), cos2 (x))dx


R

R
Mas quando pretendemos calcular f (sin2 (x), cos2 (x))dx onde f é uma função raci-
onal de duas variáveis então devemos fazer a mudança de variáveis t = tg(x). Por sua
vez, devemos notar que
1 1
sen2 (x) = 1 − cos2 (x) = 1 − 1 =1− sec2 (x)
cos2 (x)
1
=1− 1+tg2 (x)
2
tg (x) t2
= 1+tg2 (x) = 1+t2
1 1 1 1
cos (x) =
2
1 = sec2 x = 1+tg2 (x) = 1+t2 .
cos2 (x)

198
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

1
Como t = tg(x) então x = arctg(t) ou seja dx = 1+t2 dt Logo
R R 2
1 1
f (sen2 (x), cos2 (x))dx = f ( 1+t
t
2 , 1+t2 ) 1+t2 dt
R
= g(t)dt
= G(tg(x)) + C.

onde G é uma primitiva da função racional g na variável t tal que

t2 1 1
g(t) = f ( , ) .
1 + t 1 + t 1 + t2
2 2

Vamos agora resolver um integral em que na função integranda o seno e coseno apare-
cem ambos elevados a expoentes pares ou pode ser reescrita de modo que tal aconteça.
Apresentamos já de seguida um exemplo.

Exemplo 15.2. Desenvolva o integral


Z
1 + sen2 x
dx.
1 + cos2 (x)

Então como 2
1
sen2 (x) = 1+t
t
2 , cos (x) =
2
1+t2 ,
1
dx = 1+t2 dt
vem 2
t
R 1+sen2 x
R 1+ 1+t 1
=
2
1+cos2 (x) dx 1
1+ 1+t2
1+t2 dt
R 1+2t2
= (2+t2 )(1+t2 ) dt.

1+2t2
Vamos agora decompor a fração racional em t, (2+t2 )(1+t2 ) em frações racionais sim-
ples ou elementos simples. Assim, vem

1 + 2t2 At + B Ct + D
= + .
(2 + t )(1 + t )
2 2 2+t 2 1 + t2
h i
1+2t2
Logo Ci + D = 2+t2 . Logo
|t=i

1 + 2i2
Ci + D = [ ]|t=i
2 + i2
1−2
Ci + D =
2−1
−1
Ci + D = .
1
E portanto
Ci + D = −1
199
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

(C = 0) ∧ (D = −1).
Assim, vem
1 + 2t2 At + B 1
= − .
(2 + t )(1 + t )
2 2 2+t 2 1 + t2
Agora determinem-se as outras constantes A e B.
 
√ 1 + 2t2
A 2i + B =
1 + t2 t=√2i
Logo
√ 1 + 22i2
A 2i + B = ,
1 + 2i2
ou seja
√ 1−4
A 2i + B = ,
1−2
√ −3
⇔ A 2i + B =
−1

⇔ A 2i + B = 3.
E portanto
(A = 0) ∧ (B = 3),
Assim
1 + 2t2 3 1
= − ,
(2 + t2 )(1 + t2 ) 2 + t2 1 + t2
e portanto Z Z Z
1 + 2t2 3 1
dt = dt − dt.
(2 + t2 )(1 + t2 ) 2 + t2 1 + t2
Logo Z Z
1 + 2t2 3 1
dt = 2 dt − arctg(t) + C.
(2 + t )(1 + t )
2 2 2 1 + t2
Assim, vem
Z Z
1 + 2t2 3 1
dt = 2 dt − arctg(t) + C.
(2 + t2 )(1 + t2 ) 2

1+ √t
2

Mas então
Z Z √1
1 + 2t2 3 2
dt = √ 2 dt − arctg(t) + C,
(2 + t2 )(1 + t2 )

2 1+ √t
2

200
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Ou seja
Z  
1 + 2t2 3 t
dt = √ arctg √ − (arctg(t))|t=tg(x) + C.
(2 + t )(1 + t )
2 2
2 2

E portanto
Z  
1 + sen2 x 3 tg(x)
dx = √ arctg √ − arctg(tg(x)) + C.
1 + cos (x)
2
2 2

E finalmente concluimos que


Z  
1 + sen2 x 3 tg(x)
dx = √ arctg √ − x + C.
1 + cos2 (x) 2 2

15.2 Integrais do Tipo f (sen(x), cos(x))dx onde f é


R

uma função ímpar em · · · .


Observação 15.1. Quando temos que uma função de R2 em R que a (x, y) as-
socia f (x, y) tal que f (−x, y) = f (x, y) dizemos que f é impar em x e quando
f (x, −y) = −f (x, y) dizemos que f é impar em y. Por abuso de linguagem quando
f (−sen(x), cos(x)) = −f (sen(x), cos(x)) dizemos que f é impar em sen(x) e quando
f (sen(x), − cos(x)) = −f (sen(x), cos(x)) dizemos que f é impar em cos(x). Quando
R
pretendemos desenvolver f (sen(x), cos(x))dx onde f é uma função racional de duas
variáveis e é impar em sen(x) deve-se fazer a mudança t = cos(x) e quando f é impar
em cos(x) deve-se fazer a mudança t = sen(x).
R
Exemplo 15.3. Desenvolva sen3 (x)dx
Como f (sen(x), cos(x)) = sen3 (x) e f (−sen(x), cos(x)) = −f (sen(x), cos(x)) então
f é impar em sen(x) e portanto faz-se t = cos(x) e dt = −sen(x)dx Assim, vem
R R
sen3 (x)dx = sen2 (x)sen(x)dx
R
= − (1 − cos2 (x))(−sen(x))dx
R
= − (1 − t2 )dt
R R
= − 1dt + t2 dt
3
= [−t + t3 ]|t=cos(x) + C
3
= − cos(x) + cos3(x) + C.
R cos3 x
Exemplo 15.4. Desenvolva o seguinte integral 1+cos2 (x) dx
cos3 x
Considerando f (sen(x), cos(x)) = 1+cos2 (x) , como

− cos3 x
f (sen(x), − cos(x)) = 1+cos2 x
cos3 x
= − 1+cos 2x

= −f (sen(x), cos(x))
201
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

então f é impar em cos(x) e portanto faz-se a mudança t = sen(x) e portanto dt =


cos(x)dx Assim, vem
R cos3 x
R cos2 (x) cos(x)
1+cos2 (x) dx = 2 dx
R (1−sen2 (x)) cos(x)1+cos (x)
= 1+(1−sen2 (x)) dx
R (1−sen 2
(x)) cos(x)
= 2−sen2 (x) dx
R 1−t2
= 2−t2 dt
R 2 −1
= tt2 −2 dt 
R
= 1 + t21−2 dt
R
= (t)|t=sen(x) + t21−2 dt
R 1 1√
R 1 1√
= (t)|t=sen(x) + 2√ dt − 2√ dt
 2 t− 2 √ 2 t+ 2
√ 
1 1
= (t)|t=sen(x) + 2√2 ln |t − 2| − 2√2 ln |t + 2| +C
 √  |t=∈(x)
1 t−√2
= (t)|t=sen(x) + 2√ ln t+ 2 +C
2 √ |t=sen(x)
1 sen(x)−√2
= sen(x) + 2√ 2
ln sen(x)+ 2
+C

202
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

16 Outro√método para obter


f (x, ax2 + bx + c)dx.
R

R √
Os integrais da forma f (x, ax2 + bx + c)dx onde f é uma função racional em
duas variáveis podem ser desenvolvidos utilizando outro método que não o descrito
R
anteriormente, podem ser transformados em integrais√ do tipo f (sen(x), cos(x))dx
baseando-nos na ideia que devemos converter a raiz ax + bx + c numa função tri-
2

gonométrica recorrendo a relações trigonométricas

1 − sen2 (x) = cos2 (x),


1 − cos2 (x) = sen2 (x),
1 + tg 2 (x) = sec2 (x),
1 + cotg2 x = cosec2 (x),
sec2 x − 1 = tg 2 (x),
cosec2 (x) = 1 − cotg2 (x).
R p
Os integrais da forma f (x, p2 x2 + q 2 dt podem ser convertidos em integrais de
funções racionais em sen(x) e cos(x) fazendo a mudança x = pq tg(t). Por sua vez,
R p
para os integrais da forma f (x, p2 x2 − q 2 )dx fazemos a mudança x = qp sec (t) para
R
os transformar num integral do tipo g(sen(t), cos(t))dt onde g é uma função
p racional
R
de duas variáveis. Por sua vez, para integrar integrais do tipo f (x, q 2 − p2 x2 dx
faz-se a mudança x = qp sen(t) ou x = pq cos(t) para o transformar num integral do
R
tipo g(sen(t), cos(t))dt. Por sua vez, para convertemos os integrais da forma
Z p
f (x, ax2 + bx + c)dx

R p
nos integrais da forma f (u, ±p2 u2 ± q 2 )du atravéz da mudança u = x + 2a b
e
R
depois transformamos estes em integrais g(sen(t), cos(t))dt. Segue-se a apresentação
de alguns para elucidar melhor as nossas ideias.

Exemplo 16.1. Obtenha os seguntes integrais


R 1
a) √16−9x 2
dx;
R 1
b √1+x2 dx;
R
c) √25x1 2 −9 dx.
203
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

a) x = 34 sen(t). Logo t = arcsen( 43 x) e dx = 4


3 cos(t)dt
R R
√ 1 1 4
2 dx = cos(t)dt

16−9x
R 16−16sen2 t 3 R
4 1
=3 √ 1
cos(t)dt = 3 √ 1 2 cos(t)dt
4 1−sen2 (t) cos (t)
R
= 31 dt = 13 (t)t=arcsen( 34 x) + C
= 31 arcsen( 34 x) + C;

b) Z p
1 + x2 dx

x = tg(t), t = arctg(x), dx = sec2 (t)dt


R R
√ 1 dx = √ 1 2 sec2 (t)dt
1+x2 1+tg (t)
R R
= √ 1 2 sec2 (t)dt = sec1(t) sec2 (t)dt
sec (t
R
= sec tdt = [ln | sec (t) + tg(t)|]t=arctgx + C√
= ln | sec arctg(x| + tg(arctg(x))| + C = ln | 1 + x2 + x| + C.
p
Note-se que como sec(t) = 1 + tg 2 t então
p p
sec (arctgx) = 1 + tg 2 (arctgx) = 1 + x2 .

c) Z
1
√ dx
25x2 − 9

Faz-se x = 53 sec(t) e portanto dx = 3


5 sec (t)tg(t)dt e sec(t) = 5
3x e tg(t) =
p q
sec2 (t) − 1 = 259 x − 1. Logo
2

R R
√ 1 dx = √9 sec12 t−9 53 sec (t)tg(t)dt
R 25x2 −9
= 3√sec12 t−1 53 sec (t)tg(t)dt
R
= √1 3
sec (t)tg(t)dt
3 tg2 (t) 5
R
= 15 tg(t) 1
sec (t)tg(t)dt
1
R
= 5 sec (t)dt
= ( 15 ln | sec (t) + tg(t))|t=arcsec( 5 x) + C
q 3
1
= ln 53 x + 25
9 x − 1 + C.
2
5

R √
Observação 16.1. Assim, para desenvolver os integrais da f (x, ax2 + bx + c)dx
temos que considerar 3 casos.

4ac−b2
1) 4ac − b2 > 0 e a > 0 então faz-se a mudança x + b
2a = 2a tg(t)(x + b
2a =

204
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

√ √
4ac−b2 4ac−b2
2a cotg(t)), donde dx = 2a sec2 (t)dt Neste caso, tem-se
R √ R √ q 
f (x, ax2 + bx + c)dx = f (x, a x2 + ab x + ac )dx
R √ q 
b2 b2
= f (x, a x2 + ab x + 4a 2 − 4a2 + a )dx
c

R √ q b2 4ac−b2

= f (x, a x2 + ab x + 4a 2 + 4a 2 )dx
r
R √ b 2
 2

= f (x, a x + 2a + 4ac−b
4a2 )dx
√ q  √
b √
R 2
= f ( 4ac−b tg(t) − , a 4ac−b2
tg 2 (t) + 4ac−b2 ) 4ac−b2 sec2 (t)dt
2a 2a 2 2
R √ q 4a p 4a

2a
2 b √ 4ac−b2 2 (t) + 1)) 4ac−b2 sec2 (t)dt
= f ( 4ac−b
2a tg(t) − 2a , a 2 (tg
R √4ac−b2 q 4a p √
2a
b √ 4ac−b2 4ac−b2
= f ( 2a tg(t) − 2a , a 4a2 (sec (t))) 2a sec2 (t)dt
2
R √4ac−b2 q √
b √ 2 4ac−b2
= f ( 2a tg(t) − 2a , a 4ac−b 4a2 sec(t)) 2a sec2 (t)dt
R
e logo caimos no caso dos integrais do tipo g(sen(x), cos(x))dx onde g é uma
função racional em duas variáveis.

−4ac 2
2) 4ac−b2 < 0 e a > 0 neste caso faz-se a mudança x+ 2ab
= b 2a sec (t). E pro-
R
cedendo como no caso 1 chegariamos a um integral da forma g(sen(x), cos(x))dx
onde g é uma função racional em- duas variáveis.

−4ac 2
3) 4ac − b2 < 0 ea < 0 então faz-se a mudança x + 2ab
= b 2a sen(t). E proce-
R
dendo como no caso 1 chegariamos a um integral da forma g(sen(x), cos(x))dx
onde g é uma função racional em duas variáveis.

Terminamos estes apontamentos sobre estes integrais com um exemplo, mais sofisti-
cado Z Z
1 1
√ dx = √ dx
−x − 2x
2 −x − 2x − 1 + 1
2

Logo, fazendo x + 1 = sen(t), dx = cos(t)dt


R 1
R 1

−x2 −2x
dx = √ dx
1−(x+1)2
R
= √ cos(t)2 dt
1−sen (t)
R cos(t)
= dt
R cos(t)
= dt = (t)|t=arcsen(x+1) + C
= arcsen(x + 1) + C.

205
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

17 Sucessões
Definição 17.1. Uma sucessão real é uma função de N em R. Geralmente em vez de
dizermos considere a sucessão a : N 7→ R : n 7→ a(n) vamos passar a dizer considere a
sucessão {an }{n∈N} , ou considere a sucessão (an ){n∈N} , ou considere a sucessão an .
Definição 17.2. Diz-se que a sucessão bn é uma subsucessão ou uma sucessão parcial
da sucessão an se e só se ∃g : N 7→ N estritamente crescente tal que bn = ag(n) . Por
exemplo a sucessão (an )n∈N tem duas sucessões parciais óbvias a sucessão dos termos
pares bn e a sucessão dos termos impares cn , que se definem do seguinte modo bn = a2n
e cn = a2n−1 .
Definição 17.3. Diz-se que uma sucessão an converge para l ou que limn→+∞ an = l,
isto é se e só se
∀ǫ > 0∃p ∈ N : n > p ⇒ |an − l| < ǫ.
Se limn→+∞ an não existe, ou dá mais infinito ou menos infinito dizemos que a
sucessão an diverge.
Definição 17.4. {Definição de sucessão crescente, decrescente e monótona} Uma su-
cessão (an )n∈N diz-se crescente se e só se ∀n ∈ N, an ≤ an+1 . Uma sucessão (an )n∈N
diz-se decrescente se e só se ∀n ∈ N, an ≥ an+1 . Uma sucessão (an )n∈N diz-se monó-
tona se e só se ou for uma sucessão crescente ou for uma sucessão decrescente.

Exemplo 17.1. A sucessão cujo termo geral é an = n+1


n é decrescente. Pois

an+1 − an = n+2 n+1


n+1 − n
(n+2)n−(n+1)2
= n(n+1)
n2 +2n−n2 −2n−1
= n(n+1)
1
= − n(n+1) ≤ 0.

Como mostramos que


an+1 − an ≤ 0, ∀n ∈ N
então (an ){n∈N} é uma sucessão decrescente. A sucessão an diz-se monótona decres-
cente.
Exemplo 17.2. A sucessão cujo termo geral é an = n−1
n é crescente. Pois como

n2 −(n+1)(n−1)
an+1 − an = n
n+1 − n−1
n = n(n+1)
n2 −(n2 −1) 1
= n(n+1) = n(n+1) ≥ 0.
207
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Como mostramos que an+1 − an ≥ 0, ∀n ∈ N, então a sucessão an é crescente. A


sucessão an diz-se monótona crescente.

Definição 17.5. {Sucessão majorada, minorada, limitada } Uma sucessão (an )n∈N
diz-se majorada se ∃M ∈ R : an ≤ M, ∀n ∈ N. Uma sucessão (an )n diz-se minorada
se ∃M ∈ R : an ≥ M, ∀n ∈ N. Uma sucessão (an )n diz-se limitada se ∃M ∈ R :
|an | ≤ M, ∀n ∈ N.

1
Exemplo 17.3. A sucessão an = n+1 n = 1 + n é decrescente e minorada pois an =
1 + n ≥ 1. E por sua vez, tem-se que inf{an : n ∈ N} = inf{1 + n1 , n ∈ N} = 1 e
1

1
n(1+ n )
limn→+∞ n =
n+1
limn→+∞ n
1+ 1
= limn→+∞ 1 n = 1.

1
Exemplo 17.4. A sucessão an = n−1n = 1− n é crescente e a sucessão an é majorada
pois an ≤ 1, ∀n ∈ N. Por sua vez, tem-se limn→+∞ an = limn→+∞ (1 − n1 ) = 1. E
tem-se sup{1 − n1 : n ∈ N} = 1.

Observação 17.1. Notem que uma sucessão é limitada se e só se é majorada e


minorada.

Exemplo 17.5. A sucessão cujo termo geral é an = senn


n2 é limitada pois

sen(n) 1
|an | = | | ≤ 2 ≤ 1.
n2 n
Assim, mostramos que |an | ≤ 1, ∀n ∈ N , ou seja mostramos que a sucessão an é
limitada.

Definição 17.6. Seja (an )n∈N uma sucessão de números reais. Então.
a) (limn→+∞ an = +∞) ⇔ ∀M > 0∃p ∈ N : ∀n ∈ N, (n > p) ⇒ an > M
b) (limn→+∞ an = −∞) ⇔ ∀M < 0∃p ∈ N : ∀n ∈ N, (n > p) ⇒ an < M
c) (limn→+∞ an = ∞) ⇔ ∀M > 0∃p ∈ N : ∀n ∈ N, (n > p) ⇒ |an | > M
d) (limn→+∞ an = 0) ⇔ ∀ǫ > 0∃p ∈ N : ∀n ∈ N, (n > p) ⇒ |an | < ǫ.

Teorema 17.1. {Propriedades sobre limites} Sejam (an )n∈N e (bn )n∈N sucessões de
números reais convergentes e c um número real então
a) limn→+∞ (an ± bn ) = limn→+∞ an ± limn→+∞ bn ;
b) limn→+∞ (an bn ) = limn→+∞ an limn→+∞ bn ;
c) limn→+∞ (can ) = c limn→+∞ an ;
limn→+∞ an
d) limn→+∞ an
bn = limn→+∞ bn se limn→+∞ bn 6= 0;
e) limn→+∞ c = c.

Exercício 17.1. Mostre que:


208
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

an −bn
a) se (0 < a < b) ∧ (0 < a < 1) então limn→+∞ an bn = −∞.
an −bn
b) se (0 < a < b) ∧ (a > 1)) então limn→+∞ an bn = 0.

Resolução 17.1. a) Suponhamos então que 0 < a < b. Mas então 0 < a
b < 1.
Assim, vem
b ) −1)
bn (( a
n
an −bn
limn→+∞ an bn = limn→+∞ an bn
(( ab ) −1)
n

= limn→+∞ an
= 0−1
0+
Notem que limn→+∞ an = 0porque|a|<1.
= − 01+
= −∞;

b) Neste caso como 0 < a < b e a > 1 então


an −bn
limn→+∞ an bn
(( ab ) −1)
n

= limn→+∞ an
= 0−1
+∞
−1
= +∞
= 0.

an −bn
Notem que se 0 < a < b e a = 1 então limn→+∞ an bn = −1.

Exercício 17.2. Para cada uma das sucessões calcule (an )n∈N o limite do termo geral
e caso tal limite não exista, justifique a sua resposta.
n3 +n2 +1
a) an = n3 +n2 +n ;
n2 +1
b) an = n3 +n2 +n+1 ;
n2 +1
c) an = n+1 ;
d) an = sen( π2 n);

e) an = n
3n + 4n ;
 n2
n2 +1
f) limn→+∞ n2 +2 .

Resolução 17.2. a)

n3 +n2 +1
limn→+∞ an = limn→+∞ n3 +n2 +n
3 1
n (1+ n + n13 )
= limn→+∞ n (1+ n + n12
3 1
)
1
1+ n + n13
= limn→+∞ 1+ n + n12
1

= 1+0+0
1+0+0
= 1.
209
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

b)
n2 +1
limn→+∞ an = limn→+∞ n3 +n2 +n+1
n2 (1+ n12 )
= limn→+∞ n3 (1+ n1
+ n12 + n13 )
1+ n12
= limn→+∞ n(1+ 1 + 1 + 1 )
n n2 n3
= limn→+∞ 1+0
+∞
= 0.

c)
n2 +1 n2 (1+ n12 )
limn→+∞ an = limn→+∞ n+1 = limn→+∞ n(1+ n1
)
n(1+ n12 )
= limn→+∞ 1
1+ n
+∞
= 1+0 = +∞

d) limn→+∞ sen( π2 n) não existe, pois


 
limk→+∞ sen (1 + 4k) π2 = limk→+∞ sen π
2 + 2π

= limk→+∞ sen π2
=1

e 
limk→+∞ sen (3 + 4k) π2

= limk→+∞ sen 3π
2 + 2π
= limk→+∞ sen 3π
2
= −1

e)
√ q 
3 n

limn→+∞ n 3n + 4n = limn→+∞ n 4n 4 +1
q n 
= 4 n 34 + 1 = 4 ∗ 1

f)
 n2
n2 +1
limn→+∞ n2 +2 = 1+∞ (= indeterminação)
 n2 n2 +1

n2 +1 ln n2
limn→+∞ n2 +2 = limn→+∞ e n2 +2 .

Tem-se  
n2 +1
limn→+∞ ln n2 +2 n2

= limn→+∞ ln(n + 1) − ln(n
2
+ 2) n2
2

ln(n2 +1)−ln(n2 +2)


= limn→+∞ 1
n2

210
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

 
ln(x2 +1)−ln(x2 +2)
Calcule-se agora o limx→+∞ 1 Tem-se:
x2

 
ln(x2 +1)−ln(x2 +2)
limx→+∞ 1 (= 00 )
x2
2x 2x
x2 +1
− x2 +2
= limx→+∞ 2
− x3
3
2x∗x
= limx→+∞ −2(x2 +1)(x2 +2)
4
= limx→+∞ −2(x42x
+3x2 +2)
x4
= − limx→+∞ x4 +3x 2 +2
4
= − limx→+∞ x4 (1+x3 + 2 )
x2 x4
= − limx→+∞ 1+ 31+ 2
x2 x4
= −1.

Logo  
ln(n2 + 1) − ln(n2 + 2)
lim 1 = −1.
n→+∞
n2

E portanto  
n2 + 1
lim ln n2 = −1.
n→+∞ n2 + 2
Assim
 n2
n2 + 1
lim = e−1
n→+∞ n2 + 2
Teorema 17.2. Se a sucessão (an )n∈N é convergente então (an )n∈N é limitada.

Demonstração. Seja l = limn→+∞ an . Seja p um número natural tal que n > p ⇒


|an − l| < 1. Mas então para n > p tem-se −1 < an − l < 1 , mas então n > p implica
que −1 + l < an < 1 + l. Assim,

|an | ≤ max{|a1 |, |a2 |, . . . , |ap |, | − l + 1|, |l + 1|}, ∀n ∈ N, ∀n ∈ N

logo a sucessão (an )n∈N é limitada.

Teorema 17.3. {Teorema de enquadramento para sucessões} Se ∃p ∈ N : ∀p ∈ N :


n ≥ p ⇒ an ≤ bn ≤ cn e se limn→+∞ an = l e limn→+∞ cn = l então limn→+∞ bn = l

Demonstração. Sejam ǫ > 0 e l = limn→+∞ an = limn→+∞ cn Como l = limn→+∞ an


então seja p1 ∈ N tal que (n > p1 ) ⇒ (−l + ǫ < an < l + ǫ). Por sua vez, como
l = limn→+∞ cn seja p2 ∈ N tal que (n > p2 ) ⇒ (−l + ǫ < cn < l + ǫ). Seja
p3 = max{p1 , p2 }. Mas então para n ∈ N tem-se n > p3 tem-se −l − ǫ < an ≤ bn ≤
cn < l + ǫ. Ou seja (n > p3 ) ⇒ (|bn − l| < ǫ). Logo mostramos que ∀ǫ > 0∃p ∈ N :
∀n ∈ N, (n > p) ⇒ (|bn − l| < ǫ). Ou seja mostramos que limn→+∞ bn = l.
 
Exemplo 17.6. Mostre que limn→+∞ √n12 +1 + √n12 +2 + · · · + √n12 +n = 1. Com
211
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

efeito tem-se
1 1 1
√ ≤√ ≤ √ , ∀i = 1, · · · n
n +n
2 n +i
2 n +1
2

Somando as n igualdades acima, vem


n
n X 1 n
√ ≤ √ ≤ √ .
n2 + n i=1
n 2+i n 2+1

Ou seja, obtemos

n 1 1 1 n
√ ≤√ +√ + ···+ √ ≤√
n +n
2 n +1
2 n +2
2 n +n
2 n +1
2

Como
limn→+∞ √ n
n2 +1
= limn→+∞ p n = limn→+∞ p 1
n 1+ n12 1 1+ n12
= 1,
e
limn→+∞ √ n
n2 +n
= limn→+∞ √n 1
= limn→+∞ √ 1 1
n 1+ n 1 1+ n
= 1,
então pelo Teorema de enquadramento de limites 17.3 temos que
 
1 1 1
lim √ +√ + ···+ √ = 1.
n→+∞ n2 + 1 n2 + 2 n2 + n

Teorema 17.4. limn→+∞ |an | = 0 se e só se limn→+∞ an = 0.

Teorema 17.5. Seja (un ){n∈N} uma sucessão de números reais tal limn→+∞ un = 0
e (vn ){n∈N} uma sucesão de números reais limitada. Então limn→+∞ un vn = 0.

Demonstração. Como vn é uma sucessão limitada então existe M ∈ R tal que |vn | <
M, ∀n ∈ N : Mas então
0 ≤ |un vn | ≤ |un |M, ∀n ∈ N
Como limn→+∞ |un | = 0 então limn→+∞ |un vn | = 0 e portanto pelo Teorema (??)
tem-se que limn→+∞ un vn = 0.

0, −1 < r < 1
Teorema 17.6. Seja r um número real. Ent ao limn→+∞ r = n
1, r = 1
, limn→+∞ rn = +∞ se r > 1, limn→+∞ rn = ∞ se r < −1 , se r = −1 então
limn→+∞ (−1)2n = 1 e limn→+∞ (−1)2n−1 = −1, e portanto a sucessão rn diverge
quando r = −1.

Teorema 17.7. Toda a sucessão crescente e majorada é convergente.

Demonstração. Sejam (an ){n∈N} uma sucessão majorada e crescente e l = sup{an :


n ∈ N}. Vamos mostrar que an converge para l. Como l é o menor dos majorantes
212
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

dos termos da sucessão an então l − ǫ já não é um majorante dos termos da sucessão


an . Mas então ∃p ∈ N tal que ap ∈]l − ǫ, l]. Como a sucessão (an ){n∈N} é crescente
então (n > p) → (an ∈]l − ǫ, l]). Logo, mostramos que ∀ǫ > 0∃p ∈ N : ∀n ∈ N : (n >
p) ⇒ (−l + ǫ < an ≤ l). Ou seja mostramos que ∀ǫ > 0∃p ∈ N : ∀n ∈ N : (n > p) ⇒
(−l + ǫ < an ≤ l + ǫ). Ou seja provamos que limn→+∞ an = l

Teorema 17.8. Toda a sucessão decrescente e minorada é convergente.

Demonstração. Sejam (an ){n∈N} uma sucessão minorada e decrescente e l = inf{an :


n ∈ N} Como l é o maior dos minorantes dos termos da sucessão (an ){n∈N} então
l + ǫ já não é minorante. Mas então existe p ∈ N tal que l ≤ ap < l + ǫ. Mas,
como a sucessão é decrescente então ∀n ∈ N, n > p ⇒ (l ≤ an ≤ ap < l + ǫ. Logo
∀n ∈ N, n > p ⇒ (l − ǫ < an < l + ǫ). Logo mostramos que ∀ǫ > 0∃p ∈ N : ∀n ∈
N(n > p) ⇒ |an − l|| < ǫ. Ou seja mostramos que limn→+∞ an = l.

Teorema 17.9. Qualquer sucessão de números reais (un ){n∈N} admite uma sucessão
parcial monótona

Demonstração. Considere-se o conjunto U = {n ∈ N : ∀m ∈ N, m > n ⇒ um < un }


Então se o conjunto U tem uma infinidade de elementos então escolha-se n1 < n2 <
· · · < nk < com ni ∈ U. Mas então por definição a sucessão parcial {uni }{i∈N} é uma
sucessão decrescente da sucessão (un ){n∈N} . Se o número de elementos de U for finito,
então escolhe-se um número natural n1 ∈ N maior que qualquer elemento de U. Mas
como n1 6∈ U então existe n2 > n1 tal que un2 ≥ un1 por sua vez, como n2 6∈ U
então escolha-se n3 > n2 tal que un3 6∈ U e tal que un3 ≥ un2 . Prosseguindo com este
pensamento chegamos a uma sucessão parcial {uni }{i∈N} da sucessão (un ){n∈N} que
é crescente.

Corolário 17.0.1. Qualquer sucessão limitada tem uma sucessão parcial convergente.

Demonstração. Seja (un ){n∈N} uma sucessão de números reais, então pelo Teorema
17.9 anterior ela admite uma sucessão parcial monótona, seja ela (bn ){n∈N} = (ag(n) ){n∈N} .
Mas como a sucessão (un ){n∈N} é limitada então ela é majorada e minorada e por-
tanto (bn ){n∈N} é majorada e minorada. Se a sucessão parcial (bn ){n∈N} é crescente
então como ela é majorada então pelo Teorema 17.7 ela é convergente. Se a sucessão
parcial (bn ){n∈N} é decrescente como ela é minorada então pelo Teorema 17.8 ela é
convergente,

Definição 17.7. {Sucessão de Cauchy} Diz-se que uma sucessão (an )n∈N é uma
sucessão de Cauchy se e só se

∀ǫ > 0∃p ∈ N : ∀m, n ∈ N, ((m > p) ∧ (n > p)) ⇒ |am − an | < ǫ

Teorema 17.10. Toda a sucessão de números reais convergente é uma sucessão de


Cauchy.
213
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Demonstração. Seja (un ){n∈N} uma sucessão convergente e l = limn→+∞ un . Seja ǫ


um número real posítivo e seja p um número natural tal que n > p ⇒ |un − l| < 2ǫ .
Então sejam n e m dois números naturais maiores que p então |un − um | = |un − l +
l − um | ≤ |un − l| + |l − um | = |un − l| + |um − l| < 2ǫ + 2ǫ = ǫ. Logo mostramos que
∀ǫ > 0, ∀m, n ∈ N, ((n > p) ∧ (m > p)) ⇒ |un − um | < ǫ. Assim, podemos concluir
que a sucessão (un ){n∈N} é uma sucessão de Cauchy.

Teorema 17.11. Seja (an )n∈N uma sucessão de Cauchy então (an )n∈N é uma suces-
são limitada.

Demonstração. Sejam (un ){n∈N} uma sucessão de Cauchy e p um número natural tal
que para todo número natural n se verifique n > p ⇒ |un − up+1 | < 2. Mas então
−2 − up+1 < un < 2 + up+1 donde |un | < max |2 − up+1 |, |2 + up+1 | para n > p.
Logo podemos concluir que |un | < max{|2 − up+1 |, |2 + up+1 |, |u1 |, |u1 |, · · · , |up |}. E
portanto (un ){n∈N} é uma sucessão limitada.

Teorema 17.12. Toda a sucessão de Cauchy, admite uma sucessão parcial conver-
gente.

Demonstração. Como toda a sucessão admite uma sucessão parcial monótona e como
toda a sucessão de Cauchy é limitada, logo toda a sucessão de Cauchy admite uma
sucessão parcial monótona e limitada. Como toda a sucessão monótona e limitada
é convergente então toda a sucessão de Cauchy admite uma sucessão parcial conver-
gente.

Teorema 17.13. Toda a sucessão de Cauchy, é convergente.

Demonstração. Seja (un ){n∈N} uma sucessão de Cauchy e seja bn = (ug(n) ){n∈N} ,
notem que g é estritamente crescente, uma sucessão parcial da sucessão (un ){n∈N}
convergente e seja l = limn→+∞ bn = l. Mas então escolha-se p ∈ N tal que |bn −l| < 2ǫ .
Escolha-se p1 > p tal que para todo o número natural n se verifique ((n > p1 ) ∧ (m >
p1 )) ⇒ |un − um | < 2ǫ . Mas então, temos que para n > p1 então g(n) > p1 e portanto
|un − l| = |un − ug(n) + ug(n) − l| < |un − ug(n) | + |ug(n) − l| < 2ǫ + 2ǫ = ǫ. Logo como
mostramos que existe p1 ∈ N tal que |un − l| < ǫ para n > p1 . Logo mostramos que a
sucessão (un ){n∈N} converge e que limn→+∞ un = l.

17.0.1 Princípio de Indução Matemática


O princípio de indução de matemática, é uma axioma que estabelece a igualdade entre
o conjunto dos naturais e uma das suas partes A, pode ser enunciado da seguinte
forma: Se A ⊂ N é tal que
a) 1 ∈ A,
b) (n ∈ A) ⇒ (n + 1 ∈ A)
então A = N.
214
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

n
X
Exercício 17.3. Mostre que (2k − 1) = n2 , ∀n ∈ N.
k=1
n
X
Resolução 17.3. Seja A = {n ∈ N : (2k − 1) = n2 } Mostremos então que
k=1
a) 1 ∈ A,
b) ∀k ∈ N, (k ∈ A) ⇒ (k + 1 ∈ A).
X1
Temos que 1 ∈ A pois (2j − 1) = 1 = 12 . Mostre-se agora que
j=1

(k ∈ A) ⇒ ((k + 1) ∈ A).

k
X
Seja k ∈ A e suponha-se que (2j − 1) = k 2 . Mostre-se agora que k + 1 ∈ A isto é
j=1
Pk+1
que j=1 (2j − 1) = (k + 1) . Com efeito,
2

k+1
X
(2j − 1)
j=1
k
X
= 2(k + 1) − 1 + (2j − 1)
j=1
= 2k + 2 − 1 + k 2
= k 2 + 2k + 1
= (k + 1)2 .

Logo (k + 1) ∈ A e portanto A = N. E portanto pelo princípio de indução matemática


Xn
(2k − 1) = n2 , ∀n ∈ N.
k=1

Exercício 17.4. Seja (an )n∈N uma sucessão de números reais definida por

a1 = 1
an +3
an+1 = 3

a) Mostre que ∀n ∈ N, an ≤ 23 ;
b) Mostre que an é uma sucessão crescente;
c) Com as conclusões anteriores o quê que pode concluir sobre a convergência da
sucessão an ;
3
d) Mostre que limn→+∞ an = 2

Resolução 17.4. a) Considere-se A = {n ∈ N : an ≤ 23 }. Vamos utilizar o prin-


cípio de indução matemática para mostrar que A = N. Assim, provemos que
i) 1 ∈ A
215
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

ii) ∀k ∈ N, (k ∈ A) ⇒ ((k + 1) ∈ A).


Tem-se a1 = 1 ≤ 32 donde 1 ∈ A. Por sua vez, suponhamos que k ∈ A, mas
então ak ≤ 23 . Mostremos agora que ak+1 ∈ A. Tem-se

ak +3
ak+1 = 3
3
2 +3
≤ 3
9
≤ 2
3
3
≤ 2

Logo k+1 ∈ A. E portanto como mostramos que os items i) e ii) são verdadeiros
então podemos concluir pelo princípio de Indução Matemática que A = N, ou
seja podemos concluir que é verdadeira a proposição ∀n ∈ N, an ≤ 32 .
b) Mostremos agora que a sucessão (an )n∈N é uma sucessão crescente sabendo que
an ≤ 23 . Tem-se
an+1 − an = an3+3 − an
= an +3−3a
3
n

−2an +3
= 3 .
Mas
(an ≤ 32 )
m
−2an ≥ −3
m
−2an + 3 ≥ 0
m
−2an +3
3 ≥ 0.
Logo an+1 − an ≥ 0, ∀n ∈ N. Como an+1 − an ≥ 0, ∀n ∈ N então a sucessão an
é crescente.
c) Como a sucessão an é crescente e majorada então an é uma sucessão conver-
gente.
d) Seja l = limn→+∞ an . Mas então l = limn→+∞ an+1 . Asim, vem

an + 3
lim an+1 = lim .
n→ n→ 3
E portanto  
l+3
l= ⇔ (3l = l + 3)
3
 
2
⇔ (2l = 3) ⇔ l = .
3
Donde limn→+∞ an = 23 .

216
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

18 Séries de Números Reais

18.1 Fundamentos
Definição 18.1. Seja (an ){n∈N} uma sucessão de números reais e (Sn ){n∈N} a suces-
são tal que Sn = a1 + a2 + · · · + an , ∀n ∈ N. Designa-se por série real o par ordenado
+∞
X X X
((an )n∈N , (Sn )n∈N ) e representa-se por an ou an ou an . Os números reais
n=1 n∈N
+∞
X
an s designam-se por termos da série e an diz-se o termo geral da série an e a
n=1
+∞
X
sucessão (Sn ){n∈N} chama-se a sucessão das somas parciais da série an . Diz-se
n=1
+∞
X
que a série an converge se e só se a sucessão das somas parciais (Sn ){n∈N} é con-
n=1
vergente. E se S = limn→+∞ Sn ∈ R dizemos que a soma da série é S e escrevemos
+∞
X
S= an .
n=1

+∞
X 1
Exemplo 18.1. Considere a série . Então a soma parcial de ordem n da série
n=1
2 n

+∞
X 1
é
n=1
2 n
n n
X 1 1 1 − 21
Sn = = .
2k 2 1 − 12
k=1

Mas 1
então:
1 1−( 2 )
1 n

S = limn→+∞ Sn = limn→+∞ 2 1− 12
1 1−0
= 2 1− 12 = 1.
+∞ +∞
X 1 X 1
Logo a série converge e a sua soma é S = 1 e podemos escrever = 1.
n=1
2 n
n=1
2 n

1 Notem
que Sn = r + r 2 + r 3 + · · · + r n e rSn = r 2 + r 3 + · · · + r n+1 e portanto Sn − rS1 = r − r n+1 .
Como r 6= 1 então
r − r n+1 1 − rn
Sn = =r
1−r 1−r

217
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Observação 18.1. A primeira coisa que devemos fazer quando estamos analisar uma
série é ver se o seu termo geral tende para zero ou não. Pois se não tender a série é
divergente. Por essa razão, apresentamos o Teorema 18.1.
+∞
X
Teorema 18.1. Se a série an converge então limn→+∞ an = 0.
n=1

n
X +∞
X
Demonstração. Considere-se Sn = ak . Como a série an converge então limn→+∞ Sn =
k=1 n=1
l ∈ R e portanto limn→+∞ Sn−1 = l ∈ R. Mas, como an = Sn − Sn−1 então

limn→ an = limn→+∞ Sn − limn→+∞ Sn−1


= l − l = 0.

Observação 18.2. Notem que esta condição necessária de convergência apresentada


no Teorema 18.1 de uma série de números reais tem sentido, pois se somarmos por
exemplo muitos termos positivos não nulos da ordem de grandeza de um número não
nulo, pode-se concluir que essa soma pode dar muito grande, por exemplo se o limite
do termo geral de uma série de termos positivos for 1 quando n tende para infinito,
então é natural que a soma Sn tenda para +∞.
+∞
X
Teorema 18.2. {Série geométrica} A série rn converge se e só se |r| < 1 e se
n=1
+∞
X r
|r| < 1 tem-se rn = .
n=1
1−r

Demonstração. Com efeito, se r ∈]−∞, −1[∪]1, +∞[ então a sucessão (rn )n∈N diverge
+∞
X
e portanto pelo Teorema 18.1 a série rn diverge. Se r = 1 então o termo geral
n=1
+∞
X
da série n
r é rn = 1 e portanto limn→+∞ rn = 1. E portanto mais uma vez, pelo
n=1
+∞
X
Teorema 18.1 a série rn diverge. Seja r tal que |r| < 1. Determinemos agora a
n=1
P+∞ P+∞
soma parcial de ordem n da série n=1 rn . Mostremos, então que a série n=1 rn
Pn=1
converge. Temos que Sn = k=1 rn = r +r2 +r3 +· · ·+rn e rSn = r2 +r3 +· · ·+rn+1
e portanto
Sn − rSn = r − rn+1 .
r−r n+1
Logo para r 6= 1 obtemos Sn = 1−r . Assim,

1 − rn
Sn = r .
1 − rn
218
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Como |r| < 1 então limn→+∞ rn = 0. Assim, vem

S = limn→+∞ Sn
n
= limn→+∞ r 1−r
1−r n
1−limn→+∞ r n .
=r 1−r
= 1−r
r

+∞
X
Logo, mostramos que se |r| < 1 então a série rn converge e a sua soma é r
1−r .
n=1
+∞
X r
Donde podemos escrever rn = Logo mostramos que a série converge se e só
n=1
1−r
se |r| < 1 e a sua soma é S = r
1−r

∞  n
X 1 1 1
Observação 18.3. Assim, a soma da série convergente éS= 3 1− 13 , isto
n=1
3
∞  n
1
X 1 1
éS= e portanto podemos escrever = .
2
n=1
3 2

Observação 18.4. Vamos agora falar das séries telescópicas ou de Mengoli, que são
+∞
X
as séries de números reais an em que an = bn − bn+k ou em que an = bn+k − bn .
n=1
Vamos só analisar aquelas em em que an = bn+1 − bn . O caso geral em que un =
bn+k − bn procede-se de um modo idêntico.

Teorema 18.3. Série de Mengoli ou Telescópica Considere a série telescópica


+∞
X +∞
X
an onde an = bn+1 − bn . Então a série an converge se só se bn for uma
n=1 n=1
+∞
X
sucessão convergente. A série an converge se e só (bn )n∈N e se l = limn→+∞ bn
n=1
+∞
X
então an = l − b 1 .
n=1

Demonstração. Tem-se
n
X
Sn = ak
k=1 .
n
X
= (bk+1 − bk )
k=1

Mas então

Sn = (b2 − b1 ) + (b3 − b2 ) + · · · + (bn − bn−1 ) + (bn+1 − bn ),


219
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

e portanto
Sn = bn+1 − b1 .
+∞
X
Logo Sn converge se e só se a sucessão bn − b1 converge e portanto a série an
n=1
converge se e só se bn converge. E neste caso, tem-se

S = limn→+∞ Sn
= limn→+∞ (bn+1 − b1 )
= l − b1 .

+∞
X
Logo concluimos que an = l − b 1 .
n=1

+∞
X
Observação 18.5. Notem que no caso de a série swer da forma an com an =
n=1
bn − bn+1 então, as conclusões sobre a convergência desta série são análogas, a série
converge se e só se a sucessão (bn ){n∈N} converge e quando (bn ){n∈N} converge e
+∞
X
então, procedendo como anteriormente chegamos à conclusão que an = b1 − l.
n=1
Para determinar a soma de uma série telescópica não se deve decorar mas proceder
como na demonstração do Teorema ??.

+∞  
X 1 1
Exemplo 18.2. Mostre que a série − converge e determine a
n=1
(n)! (n + 1)!
1
sua soma. Notem que neste caso temos bn = n! e como limn→+∞ bn = 0 então a série
+∞  
X 1 1
− converge. Determinemos, então a soma desta série. Tem-se
n=1
(n)! (n + 1)!

n  
X 1 1
Sn = −
(k)! (k + 1)!
k=1
1 1 1 1 1 1 1
= (1 − 2! ) + ( 2! − 3! ) + ( 3! − 4! ) + · · · + ( n! − (n+1)! )
1
= 1 − (n+1)! .

Logo  
1
S = limn→+∞ Sn = limn→+∞ 1 − (n+1)!
1
= 1 − limn→+∞ (n+1)! 1 − 0 = 1.

+∞
X +∞
X
Teorema 18.4. Sejam α e β números reais e an e bn séries convergentes.
n=1 n=1
220
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X
Então a série (αan + βbn ) é convergente e
n=1

+∞
X +∞
X +∞
X
(αan + βbn ) = α an + β bn .
n=1 n=1 n=1

+∞
X +∞
X
Demonstração. Suponhamos então que an e bn são séries convergentes e que
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
an = A e que bn = B. Calculemos agora a soma parcial de ordem n da série
n=1 n=1

+∞
X
(αan + βbn )
n=1

Assim, tem-se
n
X
Sn = (αak + βbk )
k=1
n
X n
X
=α ak + β bk .
k=1 k=1
+∞
X n
X +∞
X
Como an converge então A = limn→+∞ ak e como bn converge então
n=1 k=1 n=1
n
X
B = limn→+∞ bk . Mas então temos que
k=1
n
X n
X
S = limn→+∞ Sn = α limn→+∞ ak + β lim bk
n→+∞
k=1 k=1
= αA + βB.
P+∞
E portanto n=1 (αan + βbn ) converge e

+∞
X +∞
X +∞
X
(αan + βbn ) = α an + β bn .
n=1 n=1 n=1

P+∞ 1
Exemplo 18.3. Determine a soma da série n=1 n(n+3) . Vamos agora decompor o
1
termo geral an = n(n+3) como uma diferença de termos de uma sucessão (bn ){n∈N} .
1 1 1 1 1
Como x(x+3) =A x + x+3 e A = ( x+3 )|x=0 = 3 e B = ( x )|x=−3 = − 3 então obtemos
B

1
x(x+3) = 31 x1 − 31 x+3
1
 
= 13 x1 − x+31
.
221
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Logo  
1 1 1 1
= − .
n(n + 3) 3 n n+3
Assim, vem P+∞ 1
n=1 n(n+3)
P+∞ 1  1 1

= n=1 3 n − n+3
P+∞  
= 31 n=1 n1 − n+31

P+∞  
= 31 n=1 n1 − n+11
+ n+11
+ 1
n+2 − 1
n+2 − 1
n+3
P+∞  
= 31 n=1 n1 − n+11
+
P  
1 +∞ 1 1
+ 3 n=1 n+1 − n+2
P+∞  1 
+ 31 n=1 n+2 1
− n+3 .
+∞   X+∞   +∞  
X 1 1 1 1 X 1 1
As séries − , − , e − são to-
n=1
n n+1 n=1
n+1 n+2 n=1
n+2 n+3
1
das convergentes pois são todas telescópicas e limn→+∞ n1 = 0, limn→+∞ n+1 = 0
1
e limn→+∞ n+2 = 0. Vamos então determinar as expressões das somas parciais de
ordem n destas séries. Designem-se as suas somas parciais de ordem n por Sn1 , Sn2 e
Sn3 respectivamente. Tem-se
n  
X 1 1
=
Sn1 −
k k+1
 k=1 
= (1 − 12 ) + ( 12 − 31 ) + · · · + ( n1 − 1
n+1 )
1
=1− n+1 .

Logo
S1 = lim n→+∞ S
n
1
P+∞  1 1
n=1 n − n+1
= limn→+∞ S
n
1

1
= limn→+∞ 1 − n+1
1
=1− limn→+∞ n+1
=1−0
= 1,
P  
S2 = Sn2 = nk=1 k+1 1
− k+2 1
 
= ( 12 − 31 ) + ( 13 − 41 ) + · · · + ( n+1
1
− 1
n+2 )
1 1
= 2 − n+2 .

222
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Assim,
P+∞  1 1

S2 = n+1 − n+2
n=1
= limn→+∞ S 2
n 
= limn→+∞ 21 − n+21

1 1
= 2 − limn→+∞ n+2
1
= 2 −0
1
= 2.

Tem-se
S3 = limn→+∞ Sn3
n  
X 1 1
= limn→+∞ Sn
3

k+2 k+3
 k=1 
= limn→+∞ ( 13 − 41 ) + ( 14 − 51 ) + · · · + ( n+2
1
− 1
n+3 )
1 1
= limn→+∞ 3 − n+3 .

E portanto
P+∞  1 1

S3 = n=1 n+2 − n+3
= limn→+∞ S 3
n 
= limn→+∞ 21 − n+21

1 1
= 3 − limn→+∞ n+3
1
= 3 −0
1
= 3.
+∞   X +∞   +∞  
X 1 1 1 1 X 1 1
Como as séries − , − , e −
n=1
n n+1 n=1
n+1 n+2 n=1
n+2 n+3
são todas convergentes então pelo Teorema 18.4 vem
+∞
X 1
n=1
n(n + 3)
= 31 1 + 11
32 + 11
33
= 31 11
6
= 11
18 .

P+∞ 2n +3n +4n


Exercício 18.1. Determine a soma da série n=1 5n .

+∞ n X +∞ n +∞ n
X 2 3 X 4
Resolução 18.1. Como as séries , e são séries geométrica
n=1
5 n
n=1
5 n
n=1
5 n

cujas razões são respectivamente 52 , 53 e 4


5então estas séries são todas convergentes e
223
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

portanto pelo Teorema 18.4 podemos escrever


+∞ n
X 2 + 3n + 4n
n=1
5n
+∞
X 2 n X
 +∞  n +∞  n
3 X 4
= + +
n=1
5 n=1 n
5 n=1
5
2 1−( 5 ) 1−( 3 ) 4 1−( 5 )
2 n 4 n

= limn→+∞ 5 1− 2 + limn→+∞ 35 1− 53 + limn→+∞


(5) (5) 5 1−( 4 )
5

= 25 1−
1−0
2 + 5
3 1−0
1− 3 + 5
4 1−0
1− 4
5 5 5
2 1−0 3 1−0 4 1−0
= 5 35 + 5 25 + 5 15
2 3
= 3 + 2 +4
37
= 6 .

Exercício 18.2. Determine a soma das seguintes séries convergentes de números


reais
P+∞  1 2

1
a) n=1 2n + (n+1)(n+2) . Sugestão determine A e B tais que (n+1)(n+2) =
A
n+1 + B
n+2 .
+∞
X 1
b)
n=1
3 n

c) 1 − 31 + 91 − 27
1
+ ···+
P+∞ 1
d) n=1 n(2+n) .

Resolução 18.2. a)
+∞   X +∞ +∞
X 1 2 1 X 2
+ = + S =
n=1
2 n (n + 1)(n + 2) n=1
2 n
n=1
(n + 1)(n + 2)
+∞ +∞
X 1 X 1
= +2
n=1
2 n
n=1
(n + 1)(n + 2)
+∞  
X 1 1
= 12 1−1 1 + 2 −
2
n=1
n+1 n+2
 
1 1 1 1
= 2 1 + 2 limn→+∞ (1/2 − 1/3) + (1/3 − 1/4) + · · · + ( n+1 − n+2 )
2
1
= 1 + 2 limn→+∞ (1/2 − n+2 )
= 1 + 2( 21 )
=1+1
= 2.
224
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

b) Como
+∞
X 1 1 1
S= =
n=1
3 n 31− 1
3
1 1 13
= 3 23 = 32
1
= 2.

c) Tem-se
1 1 1
S =1− 3 ++ ···+
9 − 27
+∞ n−1
X 1 1
= limn→+∞ (−1)n−1 =1∗ 
n=1
3 1 − − 31
= 1+1 1 = 14 = 43 .
3 3

1 1 1 1 1
d) Como n(n+2) = 2n − 2 n+2 então

+∞
1 X
S = limn→+∞
n=1
n(2 + n)
+∞
X 11 1 1
= limn→+∞ ( − )
n=1
2 n 2n+2
n
X 11 1 1
= limn→+∞ ( − )
2k 2k+2
k=1 
n 
X 1 1
= 12 limn→+∞ −
k k+2
k=1
1
= limn→+∞ (1 − 31 ) + ( 21 − 41 ) + ( 31 − 15 )+ 
2
1
+ · · · + ( n−2 − n1 ) + ( n−1
1 1
− n+1 ) + ( n1 − n+2
1
)
 
1 1 1 1
= 2 limn→+∞ 1 + 2 − n+1 − n+2

= 12 1 + 21 = 12 23 = 43 .

+∞
X 1
Observação 18.6. Seja p > 0. As séries p
chamam-se séries de Riemann.
n=1
n
Vamos mostrar que estas séries são convergentes se e só se p > 1. Mas antes vamos
apresentar o critério do Integral no Teorema 18.5.

Observação 18.7. Notem que pelas figuras podemos dizer que Sn−1 dá o valor da
Rn
área da região cinzenta e Sn − a1 dá o valor da área vermelha e 1 f (x)dx como f é
positiva representa o valor da área da região verde, da região do espaço limitada por
x = 1, , x = n, y = 0 e y = f (x).

225
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

18.2 Séries de Termos Posítivos


Teorema 18.5. {Critério do integral } Suponha que f é uma função integrável,
P+∞
positiva e decrescente em [1, +∞[ , e seja an = f (n), ∀n ∈ N. Então a série n=1 an
R +∞
é convergente se e só se o integral impróprio 1 f (x)dx for convergente.

P
Demonstração. Considere-se a seguinte notação Sn = nk=1 ak . Mas então Sn − a1 ≤
Rn R +∞
1 f (x)dx
Rn
≤ Sn−1 . Como o integral 1 f (x)dx converge, então a sucessão que a n
Rn R +∞
associa 1 f (x)dx é convergente e como se tem 1 f (x)dx ≤ 1 f (x)dx. Mas então
R +∞ R +∞
Sn −a1 ≤ 1 f (x)dx e portanto Sn < 1 f (x)dx+a1 . Mas então a sucessão parcial
Sn é crescente2 e majorada e portanto Sn é uma sucessão convergente, ou a seja a série
+∞
X +∞
X R +∞
an converge. Mostremos agora que se a série an converge então 1 f (x)dx
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
converge. Se a série an converge então S = an ≥ Sn e como Sn − an ≥
Rn n=1 n=1 Rn
1 f (x)dx, então
R +∞
limn→+∞ Sn − limn→+∞ an ≥ limn→+∞ 1 f (x)dx. Assim,3 tem-
R +∞
se S − 0 ≥ 1 f (x)dx, ou seja S ≥ 1 f (x)dx e portanto o integral impróprio
R +∞
n=1 f (x)dx converge.

+∞
X 1
Teorema 18.6. As séries de Riemann convergem se e só se p > 1Seja
n=1
np
+∞
X 1
p um número real positivo. Então a série converge se e só se p > 1.
n=1
np

Demonstração. Seja f (x) = x1p , x ∈ [1, +∞[ então , f (x) > 0, ∀x ∈ [1, +∞[, f é
integrável em [1, +∞[ pois f é uma função contínua em [1, +∞[ e f é decrescente em
p
[1, +∞[ pois f ′ (x) = (x−p )′ = (−p)x−p−1 = − xp+1 < 0, ∀x ∈ [1, +∞[. E portanto
R +∞
como an = f (n) então pelo critério do integral, como o integral impróprio 1 f (x)dx
+∞
X 1
converge se e só se p > 1 então a série converge se e só se p > 1.
n=1
np

+∞
X
Definição 18.2. Seja an uma série de números reais convergente então define-se
n=1
o resto de ordem n da soma parcial Sn como sendo Rn = S −Sn = an+1 +an+2 +· · ·+.
2 Notem que
Sn+1 − Sn = a1 + a2 + · · · + an + an+1 − (an + an−1 + · · · + a2 + a1 )
= an+1 ≥ 0
. Logo Sn+1 − Sn ≥ 0, ∀n ∈ N e portanto Sn é uma sucessão crescente
3 Notem que limn→+∞ an = 0
226
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Observação 18.8. Se olharmos para a figura, quando an = f (n) com f (x) positiva e
+∞
X
decrescente então quando consideramos a série convergente an podemos dizer que
n=1
+∞
X Z +∞
Rn = S − Sn = ak ≤ f (x)dx.
k=n+1 n

P+∞
Por sua vez, pela figura que se segue fácilmente vemos que para a série n=1 an se
R +∞
tem n+1 f (x)dx ≤ Rn .

P+∞
Teorema 18.7. Seja n=1 an uma série de números reais positivos convergente tal
que an = f (n) com f uma funçõ integrável, decrescente e positiva em [1, +∞[ então
Z +∞ Z +∞
f (x)dx ≤ Rn ≤ f (x)dx.
n+1 n

R k+1 P+∞
Demonstração. Temos que ak+1 ≤ k f (x)dx e portanto Rn = k=n+1 ak ≤
+∞ Z k+1
X Z +∞
R k+2
f (x)dx = f (x)dx. Por sua vez, temos que k+1 f (x)dx ≤ ak+1 e
k=n k n
R +∞ P+∞ R k+2 P+∞
portanto n+1
f (x)dx = k=n k+1 f (x)dx ≤ k=n ak+1 = Rn .

Observação 18.9. Ficamos a saber que as séries de Riemann convergem se e só


se p > 1. E são estas séries que muitas vezes se utilizam no critério de comparação.
P+∞ P+∞
Portanto daqui em diante, não precisamos de mostrar que as séries n=1 n1 , n=1 11
P+∞ P+∞ n5
são divergentes e que as séries n=1 n12 , n=1 n15 são convergentes. Dizemos apenas
que as duas primeiras divergem porque são séries de Riemann com p < 1 e que as
segundas convergem porque são séries de Riemann com p > 1. Quando, se aplica o
critério do integral? Tal vez a resposta a esta questão seja vale apena aplicar o critério
do integral, se o termo geral da série for sempre positivo e se for fácil de ver que a
função f (x) = ax é decrescente em [1, +∞[ e se soubermos integrar f em [1, +∞[.
Apresentamos de seguida um exemplo que está exactamente nesta situação.

x
+∞
X 1
Exemplo 18.4. Mostre que diverge. Com efeito, tem-se como
n=1
(n + 1) ln(n + 1)
1
f (x) = (x+1) ln(x+1) ≥ 0, ∀x ∈ [1, +∞[,f é integrável em [1, +∞[ pois f é uma função
contínua em [1, +∞[ e f é decrescente em [1, +∞[ pois f ′ (x) = (((x + 1) ln(x +
1))−1 )′ = (−1)((x + 1) ln(x + 1))−2 (ln(x + 1) + 1) e portanto f ′ (x) < 0, ∀x ∈ [1, +∞[.
227
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Como
R +∞ 1 R l x+11

1
x+1
ln(x+1) dx = lim l→+∞ 1 ln(x+1)
dx
= liml→+∞ [ln(ln(x + 1))]l1 = liml→+∞ [ln(ln(l + 1)) − ln(ln(2))]
= +∞ − ln(ln(2))
= +∞

+∞
R +∞ 1 X 1
então ln(x+1) dx diverge e portanto pelo critério do integral a série
x+1
1
n=1
(n + 1) ln(n + 1)
diverge.
+∞
X
Exemplo 18.5. Mostre que a série e−n é convergente. Tem-se que an = f (n)
n=1
com f (x) = e−x . É evidente que f é contínua em [1, +∞[ e portanto integrável em
[1, +∞[, como f ′ (x) = −e−x então f é decrescente em [1, +∞[. É evidente que
f (x) = e−x ≥ 0, ∀x ∈ [1, +∞[. Como
R +∞
1 e−x
Ra
= lima→+∞ 1 e−x
= − lima→+∞ [e−x ]a1
= − lima→+∞ [e−a − e−1 ]
= −e−∞ + e−1
= 0 + e−1
= e−1 ∈ R
R +∞
então o integral impróprio 1 e−x converge e portanto pelo critério do integral a
P+∞
série displaystyle n=1 e−n converge.
+∞
X
Observação 18.10. Se a soma das áreas verdes(se a série bn convergir) for um
n=1
número real então a soma dos valores das áreas vermelhas é um número real( a série
+∞
X
an ) converge. Se a soma das áreas vermelhas for muito grande +∞, isto é se a
n=1
+∞
X
série an divergir então a soma dos valores das áreas verdes é muito grande (+∞)
n=1
+∞
X
e portanto a série bn diverge.
n=1

+∞
X +∞
X
Teorema 18.8. Primeiro Critério de ComparaçãoSejam an e bn duas
n=1 n=1
séries de termos posítivos tais que an ≤ bn , ∀n ∈ N. Então:
228
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X +∞
X
a) se bn converge então an converge;
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
b) se an diverge então bn diverge.
n=1 n=1

+∞
X
Demonstração. a) Suponhamos que a série bn converge. Mas então a sucessão
n=1
n
X +∞
X
Sn′ = bk é convergente e além disso, como Sn′ ≤ bn . A sucessão Sn =
k=1 n=1
n
X
ak é uma sucessão crescente. Pois
k=1

n+1
X n
X
Sn+1 − Sn = ak − ak = an+1 ≥ 0.
k=1 k=1

+∞
X
E como an ≤ bn , ∀n ∈ N então Sn ≤ Sn′ e portanto Sn ≤ bn ∈ R. Mas então
n=1
a sucessão Sn é crescente e majorada e portanto a sucessão (Sn ){n∈N} converge.
+∞
X
Ou seja a série an é convergente.
n=1
+∞
X
b) Como a série an é divergente e é uma série de termos positivos, e como a
n=1
sucessão das somas parciais Sn é uma sucessão crescente então limn→+∞ Sn =
Xn Xn
+∞. Mas como Sn = ak ≤ bk = Sn′ então limn→+∞ Sn′ = +∞ e portanto
k=1 k=1
+∞
X
a série bn é divergente.
n=1

Observação 18.11. Aplica-se o primeiro critério de comparação de séries de termos


positivos quando analisamos a convergência duma série e quando for fácil de majorar(
minorar) o termo da série de termos positivos por uma série de termos positivos que
seja convergente(divergente).

Exercício 18.3. Estude as seguintes séries de números reais quanto à convergência


+∞
X 1
a) 4 + n3 + n2
n=1
n
+∞ 2
X n +1
b)
n=1
n3
229
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 18.3. que chatice

a) Tem-se n4 +n13 +n2 ≥ 0, ∀n ∈ N, logo podemos utilizar o primeiro critério de


comparação de séries. Como n4 + n3 + n2 > n4 então n4 +n13 +n2 < n14 . Como
+∞
X 1
a série converge, pois é uma série de Riemann com p = 4 > 1, en-
n=1
n4
tão pelo primeiro critério de comparação de séries de termos positivos a série
+∞
X 1
4 + n3 + n2
converge.
n=1
n
2 2 2
b) Temos que n2 + 1 > n2 e portanto nn+13 > nn3 ou seja nn+1
3 > n1 e portanto como
+∞
X1 +∞
X 1
é uma série divergente, pois é uma série de Riemann p
com p = 1
n=1
n n=1
n
e as séries de Riemann convergem se e só p > 1, então pelo primeiro critério
+∞ 2
X n +1
de comparação de séries de termos positivos a série diverge.
n=1
n3

Observação 18.12. Mas este critério de comparação para séries de termos positivos
tem o defeito de termos de saber majorar ou minorar o termo geral de uma sucessão
de números reais muito bem por o termo geral de uma série convergente ou divergente
respectivamente. E portanto interessa trabalhar com um critério que analise o termo
+∞
X +∞
X
geral da série de números reais quando n é grande, pois as séries an e an são
n=1 n=p
da mesma natureza. Por essa razão, se recorre ao segundo critério de comparação,
que eu chamo critŕio do quociente ou da razão.
+∞
X +∞
X
Teorema 18.9. Critério do quociente ou da razãoSejam an e bn séries
n=1 n=1
de termos posítivos. Se limn→+∞ an
bn existe então:
+∞
X +∞
X
Se limn→+∞ abnn = L > 0 então ambas as séries an e bn são convergentes ou
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
ambas as séries an e bn são divergentes.
n=1 n=1

Demonstração. Como limn→+∞ abnn = l então considere-se p ∈ N tal que para p > n

se tenha abnn − L < L2 . Mas então, para n > p 4

3L 3L
tem-se L
2 < an
bn < 2 e portanto L
2 bn < an < 2 bn para n > p. Logo pelo primeiro
+∞
X P+∞
critério de comparação as séries an e n=p+1 bn são ambas convergentes ou
n=p+1
an
4 Note-se que como limn→+∞ bn
= L então existe uma ordem p tal que para n > p se | ab n −L| < L
2
.
 n
L an L L an 3L
Logo (n > p) ⇒ L − 2 bn
<L+ 2
e portanto para n > p tem-se 2
< bn
< 2
.
230
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X P+∞
ambas divergentes. E portanto as séries an e n=1 bn são ambas convergentes ou
n=1
são ambas divergentes.

+∞
X +∞
X
Corolário 18.2.1. Sejam an e bn duas séries de termos positivos e existe
n=1 n=1
limn→+∞ an
bn . Então:
a) se limn→+∞ an
bn = 0 então :
+∞
X +∞
X
i) se bn converge então an converge.
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
ii) se an diverge então bn diverge.
n=1 n=1
b) Se limn→+∞ an
bn = +∞ então:
+∞
X +∞
X
i) se an converge então bn converge.
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
ii) se bn diverge então an diverge.
n=1 n=1

Demonstração. a) Se limn→+∞ abnn = 0 então ∀ǫ > 0, ∃p ∈ N : ∀n ∈ N, (n ≥ p) ⇒


an
bn < ǫ. Mas então, considere-se ǫ = 1 e seja p ∈ N tal que para n ≥ p se
+∞
X
verifique abnn < 1. mas então para n ≥ p, an < bn e portanto se a série bn
n=1
P+∞
converge então a série n=p+1 bn converge e portanto pelo primeiro critério de
+∞
X +∞
X
comparação de séries a série an converge e portanto a série an converge
n=p+1 n=1
+∞
X +∞
X
e portanto provamos [i)]. Se a série an diverge, então a série an diverge
n=1 n=p+1
+∞
X +∞
X
e portanto a série bn diverge e portanto a série bn diverge e provamos
n=p+1 n=1
a alínea a).
b) Se limn→+∞ abnn = +∞ então ∀M > o, ∃p ∈ N : ∀n ∈ N, (n ≥ p) ⇒ abnn > M.
Escolha-se M = 2 e seja p ∈ N tal que para n ≥ p se verifique abnn > M. Mas
+∞
X
então para n ≥ p, an > 2bn . Logo se a série an converge, então a série
n=1
+∞
X P+∞
an converge e portanto a série n=p+1 bn converge e portanto a série
n=p+1
231
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X +∞
X
bn converge e portanto provamos a alínea i) do item b). Se bn diverge
n=1 n=1
+∞
X P+∞
então a série bn diverge e portanto a série n=p+1 an diverge e portanto
n=p+1
P+∞
a série n=1 an diverge. Provamos assim a alínea ii) do item b)].

Observação 18.13. Mas, podemos mais ou menos olhar para o termo da série e
dizer se ela converge ou não? Em muitos exemplos a resposta é sim. Desde que
consigamos aproximar para n grande o termo geral da série pelo termo geral de outra
série que saibamos que é convergente ou divergente.

Observação 18.14. Supomos que na prova do Teorema anterior que bn > 0 a partir
de uma certa ordem. Para podermos considerar abnn .
+∞
X n+1
Exercício 18.4. Determine se a série converge ou diverge.
n=1
n2 + 1

+∞
X n+1
Resolução 18.4. Note-se que em primeiro lugar que a série é de termos
n=1
n2 + 1
1
positivos. Pois ≥ 0, ∀n ∈ N. Para n grande podemos dizer que nn+1
n+1
n2 +1 2 +1 ≈ n2 = n e
n

+∞ +∞
an X n+1 X 1
portanto devemos comparar a série lim = com a série . Como
n→+∞ bn
n=1
n +1
2
n=1
n

n+1
n2 +1 n2 +n
limn→+∞ 1 = limn→+∞ n2 +1
n
2 1
n (1+ n )
= limn→+∞ n2 (1+ n12 )
1+ 1
= limn→+∞ 1+ n1
n2
= 1 6= 0

+∞
X 1
e é uma série de termos positivos divergente então como limn→+∞ an
bn = 1 6= 0
n=1
n
+∞
X n+1
então pelo critério do quociente podemos dizer que a série 2+1
é divergente.
n=1
n
P+∞
Exercício 18.5. Diga se a série √2n−1 converge ou diverge.
n=1 n6 +1

Resolução 18.5. Antes de tudo temos que √2n−1 ≥ 0, ∀n ∈ N. Note-se que para n
n6 +1
grande podemos dizer que
√2n−1 ≈ √n
n6 +1 n6
= n2n3
= n22 .
232
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞ +∞
X 2n − 1 X 1
Então, devemos comparar a série √ com a série 2
. Como
n=1
n +1
6
n=1
n

√n−1
n6 +1 (2n−1)n2
limn→+∞ an
bn = limn→+∞ 1 = limn→+∞ √
n6 +1
n2
3 1
3
−n2 n (2− n )
= limn→+∞ p2n6 = limn→+∞ 3 p
n (1+ n16 ) n (1+ n16 )
1
2− 2−0
= limn→+∞ p n 1 = 1+0 = 21
1+ n6

= 2 6= 0.

+∞
X n−1
Logo como limn→+∞ an
bn = 2 6= 0 pelo critério do quociente como a série √
n=1
n6 + 1
+∞
X 1
é de termos positivos e a série é convergente, pois trata-se de uma série de
n=1
n2
+∞
X n−1
Riemann com p = 2 > 1, então a série √ é convergente.
n=1
n6 + 1

Teorema 18.10. Critério d’Alembert Sejam (an )n∈N uma sucessão de números
+∞
X
reais e p1 um númro natural tal que an > 0 para n > p1 . Considere-se a série an de
n=1
an+1 an+1
termos posítivos e supounhamos que existe limn→+∞ an . Então se limn→+∞ an =
L. Então:
+∞
X
a) se L < 1, a série an converge;
n=1
+∞
X
b) se L > 1, a série an diverge;
n=1
+∞
X
c) se L = 1+ então an diverge;
n=1
+∞
X
d) se L = 1− então an nada se pode concluir;
n=1
+∞
X
an+1
e) se limn→+∞ an = +∞ então a série an diverge;
n=1

Demonstração. que chatice

an+1 1 L
a) Suponhamos que limn→+∞ an = L e L < 1. Escolha-se ǫ = 2 e considere-se
233
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

a
5
p ∈ N tal que para n ≥ p ⇒ aan+1n
< r = 1+L2 . Mas então ap < r e portanto
p+1

ap+2
ap+1 < rap . Por sua vez, ap+1 < r e portanto ap+2 < rap+1 . Logo ap+2 < r(rap )
, ou seja ap+2 < r2 ap . e portanto ap+j < rj ap . Assim, temos que ak < rk−p ap
para k > p. Logo
ak < rk−p ap
k
= rrp ap
+∞
X
P+∞
e portanto como a série k=p+1 r converge então a série
k 6
ak converge e
k=p+1
+∞
X
portanto a série ak . converge.
k=1
b) Se limn→+∞ aan+1
n
= L > 1. Então para ǫ = L−1 2 escolha-se um número natural
p > p1 tal que para n ≥ p ⇒ aan+1 n
> L − 2 . Logo para n > p tem-se que
L−1
ap+1 ap+2
ap > r = L+1
2 e portanto a p+1 > ra ,
p ap+1 > r e portanto ap+2 > ap+1 r, mas
como ap+1 > ap r então ap+2 > r ap . E de um modo geral obtemos ap+j > rj ap .
2
k
Mas então ak > rk−p ap para k > p + 1. Logo ak > rrp ap . Como r > 1 então
+∞
X
limk→+∞ rk = +∞, então limk→+∞ ak = +∞ e portanto a série ak diverge.
n=1
c) Se limn→+∞ aan+1
n
= 1+ então ∃p ∈ N tal que p > p1 e tal que para n > p se
an+1
verifica an ≥ 1. Mas então, tem-se an+1 ≥ an para n > p e portanto ap+2 ≥
ap+1 , ap+3 ≥ ap+2 e portanto ap+2 ≥ ap+1 , ap+3 ≥ ap+1 , · · · ap+1+j ≥ ap+1 . E
+∞
X
portanto an ≥ ap+1 , ∀n ≥ p + 2, logo limn→+∞ an 6= 0 e portanto a série an
n=1
diverge.
d) Se limn→+∞ aan+1
n
= 1− então nada se pode concluir. Para justificar esta con-
clusão temos de apresentar dois exemplos de séries tal que ambas verifiquem
limn→+∞ aan+1
n
= 1− mas uma seja convergente e outra divergente. Com efeito,
5 Note-se an+1
que como limn→+∞ an
= L < 1 então

∀ǫ > 0∃p ∈ N : n ≥ p > p1 ⇒
an+1
− L < ǫ.
an
1−L
Mas então para ǫ = 2
escolha-se p ∈ N tal que para n > p se tenha

an+1 1−L
− L < .
an 2
1−L an+1 1−L 3L−1
Mas então para n ≥ p tem-se L − 2
< an
< L+ 2
. Logo para n ≥ p tem-se 2
<
+∞
an+1
X
1+L
an
< 2
. Mas como an é uma série de termos positivos então temo
n=1
an+1
0≤ <r
an
para n ≥ p.
6 Notem 1+L
que esta série é geométrica e 0 < r = 2
<1
234
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X 1 1
se considerarmos temos neste caso que an = n então temos que
n=1
n

an+1
limn→+∞ an
1
= limn→+∞ n+1
1
n
= limn→+∞ n
n+1 = 1−1

+∞ +∞
X 1 X 1 1
e a série diverge. Se considerarmos a série 2
e an = n2 temos que
n=1
n n=1
n

an+1
limn→+∞ an
1
(n+1)2
= limn→+∞ 1
n2
2
= limn→+∞ n
(n+1)2
n2 ∗1
= limn→+∞ n2 (1+ 1 2
n)
1
= limn→+∞ (1+ 1 )2
n
=1 −

+∞
X 1
E é uma série convergente porque é uma séries de Riemann com p = 2 >
n=1
n2
1.
an+1
e) Se limn→+∞ an = M então
 
+ an+1
∀M ∈ R ∃p ∈ N∀n ∈ N, (n ≥ p) ⇒ >M .
an

Então, seja p um número natural tal que n > p1 e para todo o n ∈ N se tenha

(n > p) ⇒ (an+1 > 2an ) .

Mas então temos, queap+2 > 2ap+1 e ap+3 > 2ap+2 e portanto ap+3 > 2(2ap+1 ),
ou seja ap+3 > 22 ap+1 e portanto ap+1+j > 2j ap+1 . Assim, vem

ak > 2k−(p+1) ap+1 , ∀k ≥ p

donde
lim ak ≥ lim 2k−(p+1) ap = +∞
k→+∞ k→+∞

+∞
X
e portanto a série an diverge.
n=1

Observação 18.15. Quando devemos aplicar o critério d’Alembert, em geral quando


235
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X
o termo geral da série an for um quociente em que o numerador e o denominador
n=1
são produtos de factores. É evidente que faz jeito que verifiquemos em primeiro lugar
que limn→+∞ an = 0.
+∞
X 3n n!
Exemplo 18.6. Considere-se a série . Em primeiro lugar te-
n=1
2 ∗ 4 ∗ 6 · · · ∗ 2n
3n n! 3n n!
mos que 2∗4∗6···∗2n ≥ 0, ∀n ∈ N. Neste caso, tem-se an = 2∗4∗6···∗2n e an+1 =
3n+1 (n+1)!
2∗4∗6∗···∗2n∗2(n+1) E portanto

an+1
limn→+∞ an
3n+1 (n+1)!

= limn→+∞ 2∗4∗6∗···∗2n∗2(n+1)
3n n!
2∗4∗6···∗2n
3(n+1)
= 2(n+1)
3
= 2 > 1.

an+1 3 P+∞ 3n n!
Logo como limn→+∞ an = 2 > 1 então pelo critério d’Alembert a série n=1 2∗4∗6···∗2n
diverge.

Observação 18.16. Muitas vezes o termo geral de uma série de números reais não
é um quociente de dois produtos de factores mas sim uma potência de uma expressão
matemática de expoente n e neste caso o critério de Cauchy para analisar a conver-
gência da seérie neste caso é adequado. Desde que o limite do termo geral an tenda
para zero quando n tende para +∞.
+∞
X
Teorema 18.11. {Critério de Cauchy} Sejam an uma série de termos positivos
n=1
1
e suponhamos que existe limn→+∞ (an ) n . Então se limn→+∞ an = L então tem-se:
+∞
X
a) se L < 1 então a série an converge;
n=1
+∞
X
b) se L > 1 então a série an diverge;
n=1
+∞
X
c) se L = 1+1 então a série an diverge.
n=1
+∞
X
d) se L = 1−1 então nada se pode concluir sobre a convergência da série an .
n=1
+∞
X
e) se L = +∞ então a série an diverge.
n=1

1 1−L
Demonstração. a) Seja L = limn→+∞ (an ) n e L < 1. Seja ǫ = 2
236
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

7
1
para n > p → (an ) n < r. Mas então an < rn para n > p, como a série
+∞
X +∞
X
geométrica rn converge pois 0 < r < 1 então a série an converge e
n=p+1 n=p+1
+∞
X
portanto a série an converge.
n=1
1
b) Sejam L = limn→+∞ (an ) n com L > 1 e ǫ = L−1 2 . Então existe uma ordem
1
p ∈ N tal que (n > p) ⇒ ((an ) n > L − L−12 ). Logo para n > p tem-se (n >
1
p) ⇒ ((an ) n > L+1
2 ) = r > 1. Mas então a n > r n
para n > p. E portanto
+∞
X
limn→+∞ an = +∞, o que nos permite concluir que a série an diverge.
n=1
1 1
c) Se limn→+∞ (an ) n = 1+ . Então existe p ∈ N tal que para n > p então (an ) n ≥
1+1 , mas então para n > p verifica-se an ≥ 1 logo limn→+∞ 6= 0 e portanto a
+∞
X
série an diverge.
n=1
1
d) Se limn→+∞ (an ) n = 1−1 então nada se pode concluir.Com efeito tem-se se
+∞
√ X 1
an = n1 então limn→+∞ n an = limn→+∞ √ 1
nn = 1
−1
e a série diverge. Se
n=1
n
1
considerarmos an = n2 então
q 
1
limn→+∞ n2
n

1
= limn→+∞ √n 2
n
1
= limn→+∞ ( √
n
n)2
=1 −

+∞
X 1
e a série 2
converge.
n=1
n

e) Suponhamos que limn→+∞ n an = +∞. Então existe p ∈ N tal que para n > p

então n an > 2 mas então n > p tem-se an > 2n . Logo limn→+∞ an = +∞ e
7 Como
1
lim (an ) n = L < 1
n→+∞
então
1
∀ǫ > 0∀n ∈ N : (n ≥ p) ⇒ (an ) n − L < ǫ.

1−L 1 1−L
Mas então para ǫ = 2
escolha-se p ∈ N tal que (n > p) ⇒ (an ) n − L < 2
. Logo para
1 1
n ≥ p tem-se L − 1−L
2
< (an ) n
−l < L+ 1−L
2
. Assim para n > p tem-se 2l − r < (an ) n <
1+L
2
= r < 1. Como a n ≥ 0, ∀n ∈ N então
1
0 ≤ (an ) n < r
para n > p.
237
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X
portanto a série an diverge.
n=1

Exemplo 18.7. que chatice


+∞
X 1
Considere a série a série . Como o termo geral desta série é sempre po-
n=1
(n + 1)n
√ q
1 1
sitivo então podemos utilizar o critério de Cauchy. n an = n (n+2) n = n+2 = 0 < 1.

+∞
X 1
Logo pelo critério de Cauchy a série converge.
n=1
(n + 1)n

+∞  2n
X 3n + 1
Exercício 18.6. Mostre que a série é divergente.
n=1
4 − 2n

Resolução 18.6. Como


s
 2n 
3n+1
limn→+∞ n
4−2n
 2
3n+1
= limn→+∞ 4−2n
 1
2
n(3+ n
= limn→+∞ 4
n( n −2
 1 2
3+
= limn→+∞ 4
n
n −2
3+0 2
= ( 0−2 )
9
= 4 >1

+∞  2n
X 3n + 1
então a série é divergente.
n=1
4 − 2n

Definição 18.3. Séries alternadas de números reais são séries cujos termos podem
ser alternadamente posítivos e negativos.

Exemplo 18.8. que chatice


+∞
X (−1) n
A série é uma série alternada.
n=0
n2

Teorema 18.12. {Critério de Leibnitz} Seja (bn ){n∈N} uma sucessão decrescente de
+∞
X
números positivos tal que limn→+∞ bn = 0. Então a série (−1)n−1 bn converge.
n=1

Demonstração. • Prove-se que S2n converge


• Prove-se que S2n é uma sucessão majorada, limn→+∞ S2n = L.
238
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

• Prove-se que S2n+1 = s2n + a2n+1


• limn→+∞ S2n+1 = limn→+∞ S2n = L.
P+∞
• Sn converge para L logo a série converge e n=1 (−1)
n−1
an = L.
S2n é crescente.

S 2 = a1 − a2 ,
S4 = (a1 − a2 ) + (a3 − a4 ) = S2 + (a3 − a4 ) ≥ S2
S6 = (a1 − a2 ) + (a3 − a4 ) + (a5 − a6 ) = S4 + (a5 − a6 ) ≥ S4 ;
· · · , S2n = S2n−2 + (a2n−1 − a2n ) > S2(n−1)

Logo S2n é crescente.


S 2 = a1 − a2 ≤ a1
S4 = a1 − (a2 − a3 ) − a4 ≤ a1
· · · , S2n = a1 − (a2 − b3 ) − (a4 − a5 ) − · · · − (a2n−2 − a2n−1 ) − a2n ≤ a1
Logo S2n é crescente e majorada portanto é convergente para um número L. Mas
então como
S2n+1 = S2n + a2n+1
,
lim S2n+1 = lim S2n + lim a2n+1
n→+∞ n→+∞ n→+∞

limn→+∞ S2n+1 = limn→+∞ S2n + limn→+∞ a2n+1


=L+0
limn→+∞ S2n+1 = limn→+∞ S2n = L,
+∞
X
Portanto Sn converge para L e (−1)n−1 an = L.
n=1

+∞
X
P+∞
Teorema 18.13. Seja n=1 an uma série de números reais. Se |an | converge
n=1
P+∞
então a série n=1 an converge.

Demonstração. que chatice


Como
−|ak | ≤ ak ≤ |ak |
então
0 ≤ ak + |ak | ≤ 2|ak |.
+∞
X
P+∞
Mas então como displaystyle n=1 |ak | converge, então 2|ak | converge e portanto
n=1
+∞
X
pelo primeiro critério de comparação (ak + |ak |) converge. Por sua vez, como
k=1
239
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X +∞
X P+∞
ak = ak + |ak | − |ak | e (ak + |ak |) converge e (|ak |) converge então n=1 ak
k=1 k=1
converge.

+∞
X
Teorema 18.14. Seja (−1)n−1 an uma série alternada tal que an ≥ 0, ∀n ∈ N
n=1
e tal que (an )n∈N é uma sucessão decrescente e tal que limn→+∞ an = 0. Se S =
+∞
X
(−1)n−1 an então |S − an | ≤ an+1
n=1

Demonstração. que chatice


Considere-se8

S − Sn = (−1)n an+1 + (−1)n+1 an+2 + (−1)n+2 an+3 + · · · +

S − Sn = Rn = (−1)n (an+1 − an+2 + an+3 − · · · ) Mas então |Rn | = |S − Sn | =


an+1 − an+2 + an+3 − · · · Como |Rn | = |S − Sn | = an+1 − an+2 + an+3 − · · · então
|Rn | = |S −Sn | = an+1 −(an+2 −an+3 )−(an+4 −an+5 )−· · · . Logo |S −Sn | ≤ an+1

Definição 18.4. definição de série absolutamente convergenteque chatice


+∞
X +∞
X
A série an diz-se absolutamente convergente se e só se |an | converge.
n=1 n=1

Definição 18.5. {definição de série simplesmente convergente} que chatice


+∞
X +∞
X
Uma série an diz-se simplesmente convergente se e só se a série an converge
n=1 n=1
+∞
X
e |an | diverge.
n=1

Exemplo 18.9. {Exemplo de uma série absolutamente convergente} que chatice


+∞ ∞
X sen(n) X sen(n)
A série 2
é absolutamente convergente pois a série n2 é conver-

n=1
n n=1
+∞
X 1
gente, pois sen(n) 1
n 2 ≤ n2 e portanto como a série converge então a série

n=1
n2

X sen(n)
n2 converge pelo critério de comparação de séries de termos positivos e

n=1
+∞
X sen(n)
portanto a série converge absolutamente.
n=1
n2
+∞
X
8 Notem que a série (−1)k−1 ak também verifica o critério de Leibniz e portanto é convergente
k=n+1
240
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X (−1)n
Exemplo 18.10. {Exemplo de série simplesmente convergente} A série é
n=1
n
n
simplesmente convergente. Pois considere-se an = | (−1) 1 1
n | = n . A sucessão an = n é
1 1 1
decrescente pois an+1 −an = n+1 − n = n(n+1) = − n(n+1) Logo an+1 −an ≤ 0, ∀n ∈ N
n−n−1

e portanto an é uma sucessão decrescente e como limn→+∞ an = 0 então pelo critério


+∞
X (−1)n
de Leibniz podemos concluir que a série alternada converge. Mas como a
n=1
n
+∞
X 1
série dos módulos desta série é a série de Riemann que é uma série divergente
n=1
n
+∞
X (−1)n
então a série converge simplesmente.
n=1
n

+∞
X 1
Exercício 18.7. Mostre que a série sen(nπ) converge absolutamene
n=1
2n

+∞  n

1 n
X 1
Resolução 18.7. Como |sen(nπ) 21n | ≤ 1
= e como a série converge
2n 2
n=1
2
+∞
1
X 1
por ser uma série geométrica de razão r = então a série sen(nπ) converge
2
n=1
2n
absolutamente.

Definição 18.6. Diz-se que uma sucessão (bn ){n∈N} é uma reordenação de uma suces-
são (an ){n∈N} se existe uma aplicação bijectiva g : N 7→ N tal que bn = ag(n) , ∀n ∈ N
+∞
X
Teorema 18.15. Se an converge absolutamente e (bn ){n∈N} é uma reordenação
n=1
+∞
X +∞
X
P+∞
de (an ){n∈N} então n=1 bn converge absolutamente e bn = an .
n=1 n=1

18.3 Séries de Termos Positivos e Negativos, não


Necessáriamente Alternadas
+∞
X
Quando a série an não é uma série de termos positivos, então, podemos aplicar
n=1
os critérios de comparação de séries de termos positivos às séries dos módulos. Quer
o critério de d’Alembert , quer o critério de Cauchy (18.11) permitem-se construir
critérios de convergência que apresentamos nos Teoremas (18.16) e (18.17).
P+∞
Teorema 18.16. Critério d’Alembert Seja displaystyle n=1 an com an 6= 0, ∀n ∈
N. Se limn→+∞ |a|an+1
n|
|
= L ∈ R então:
241
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X
a) se L < 1 então a série an converge absolutamente ;
n=1
+∞
X
b) se L > 1 então a série an diverge;
n=1
+∞
X
|an+1 |
c) Se limn→+∞ |an | = 1+ então a série an diverge.
n=1
+∞
X
|an+1 |
d) se limn→+∞ |an | = 1− então nada se pode concluir sobre a série an .
n=1
|an+1 | P+∞
Se limn→+∞ |an | = +∞ então a série n=1 an diverge.

P+∞
Teorema p18.17. Critério de Cauchy Seja n=1 an com an 6= 0, ∀n ∈ N. Se
limn→+∞ n |an | = L ∈ R então:
+∞
X
a) se L < 1 então a série an converge absolutamente;
n=1
+∞
X
b) se L > 1 então a série an diverge;
n=1
+∞
X
p
c) se limn→+∞ n
|an | = 1+ então a série an diverge;
n=1
p
d) se limn→+∞ n
|an | = 1− então nada se pode concluir sobre a convergência da
+∞
X
série an .
n=1
+∞
X
p
Se limn→+∞ n
|an | = +∞ então a série an diverge.
n=1

EEEEE

242
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

19 Aplicações

19.1 Comprimento de uma Curva


Teorema 19.1. Sejam f : [a, b] 7→ R uma função de classe C 1 em [a, b] C = {(x, y) ∈
R2 : (a ≤ x ≤ b) ∧ p
(y = f (x))}. Então o comprimento de C que designamos por l(C)
Rb
verifica l(C) = a 1 + (f ′ (x))2 dx.

Demonstração. Considere-se a seguinte figura:

Sejam f uma função de classe C 1 no intervalo [a, b], C = {(x, y) ∈ R2 : (a ≤


x ≤ b) ∧ (y = f (x))}, (xi , 0) pontos do eixo Ox com x0 = a < x1 < · · · < xn =
b, xi = a + i b−an , i = 0, · · · , n. Considere-se a linha poligonal [P0 P1 · · · Pn ] tal que
Pi = (xi , f (xi )), i = 0, · · · , n. Ao comprimento da linha poligonal chamamos sn e
ao comprimento do segmento Pi−1 Pi chamamos △si . Assim o comprimento da linha
Xn
poligonal é sn = △si . Chama-se comprimento s da linha C ao limite para o qual
i=1
tende o comprimento sn da linha poligonal associada ao gráfico de f quando n → +∞.
n
X
s = lim sn = lim △si
n→+∞ n→+∞
i=1

Considerando △xi = xi − xi−1 e △yi = yi − yi−1 . Tem-se


s  2
p △yi
△si = (△xi )2 + (△yi )2 = 1+ △xi .
△xi

Mas pelo Teorema de Lagrange1 existe um ζi ∈]xi−1 , xi [ tal que

△yi f (xi ) − f (xi−1 )


= = f ′ (ζi ), △yi = f ′ (ζi )△xi
△xi xi − xi−1

Assim p
△si = 1 + (f ′ (ζi ))2 △xi .
1O Teorema de Lagrange diz que se f é uma função contínua em [a, b] e é diferenciável em ]a, b[
f (b)−f (a)
então existe um ponto yi tal que b−a
= f ′ (yi )
243
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Mas então, como f é de classe C 1 em [a, b] tem-se


n p
X
s = lim sn = lim 1 + (f ′ (ζi ))2 △xi
n→+∞ n→+∞
i=1

Z b p
= 1 + (f ′ (x))2 dx
a

Observação 19.1. Muitas vezes temos de apresentar as fórmulas de cálculo de uma


forma menemónica. Assim para calcular o comprimento de uma curva C 2 definida
R
por y = y(x) com x ∈ [a, b] utilizamos a menemónica s = AB ds.
R R b ds
s = l(C)
√ = AB ds = a dx dx
R b (dx)2 +(dy)2
= a r dx dx
 2
dx 2
Rb  dy
= a dx + dx dx
r  2
Rb dy
= a 1 + dx dx

Por sua vez, para calcular o comprimento de uma curva C com x = x(y) com y ∈ [c, d]
, utiliza-se a menemónica
R R d ds
s = l(C) = CD ds = c dy dy

R d (dx)2 +(dy)2
= c dy
r dy r
R d  dx 2  dy 2 R d  dx 2
= c dy + dy dy = c dy + 1dy

onde c e d são as ordenadas dos pontos C e D, sendo C o ponto inicial e D o ponto


final da curva x = g(y), y ∈ [c, d] C correspondentes a y = c e y = d.

Exercício 19.1. Considere f (x) = 3x calcule o comprimento do gráfico de f entre


os pontos A = (1, 3) e B = (2, 6).

Resolução 19.1. Tem-se, como f ′ (x) = 3.


R2√ √
s = 1 1 + 9dx = 10[x]21
√ √
= 10(2 − 1) = 10.
3
Exercício 19.2. Encontre o comprimento de arco da curva C tal que y = x 2 com
x ∈ [0, 5].
2O ponto A é o ponto da curva C correspondente a x = a e o ponto B é o ponto da curva
correspondente a x = b
244
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

dy 1
Resolução 19.2. Temos que f ′ (x) = dx = 32 x 2 . Logo

s = l(C) r
R R 5 ds R5  2
dy
= AB ds = 0 dx dx = 0 1 + dx dx
R5 q R  1
5
= 0 1 + 94 xdx = 49 0 49 1 + 49 x 2 dx
3
(1+ 94 x) 2 3
= 94 3 = 278
( 1 + 94 x 2 )|50
h 2 3 i 
8
= 27 1 + 49 5 2 − 1 = 27 8 344
8 −1
8 335 335
= 27 8 = 27 .

3
Exercício 19.3. Encontre o comprimento da linha C definida por x = 3y 2 − 1 com
y ∈ [0, 4].

Resolução 19.3. Neste caso pensamos na linha C como o gráfico de uma função que
3 9 21
depende de y e então3 considerando x = f (y) = 3y 2 − 1 obtemos dx dy = f (y) = 2 y

e portanto R R
s = l(C) = CD ds = CD dy ds
dy
R4p
= 0 q1 + (f (y)) dy
′ 2
R4 R 4 81  12
= 0 1 + 81 4
4 ydy = 81 0 4 1 + 4 y
81
dy
3
4 (1+ 4 y ) 4
81 2  3
8
= 81 [ 3 ]0 = 243 [ 1 + 81 4 y ]0
2 4

8
√2 
= 243 82 82 − 1 .

Observação 19.2. Notem quando a linha C está p definida por x = x(u) e y = y(u)
com u ∈ [a, b] então, utiliza-se o pensamento ds = (dx)2 + (dy)2 . Logo
√ q
(dx)2 +(dy)2 (dx)2 (dy)2
ds
=
du r du = (du)2 + (du)2
 2
dx 2
 dy
= du + du

Logo, considerando o ponto A como sendo o ponto inicial da curva C correspondente


a u = a e o ponto B como sendo o ponto final da curva C, correspondente a u = b.
s
Z Z b Z b  2  2
ds dx dy
L(C) = ds = du = + du.
AB a du a du du

Exercício 19.4. Considere a curva C que é o arco da curva x = t2 , y = t3 com


t ∈ [0, 4]. Calcule o comprimento da curva C.

3 Notem
C é o ponto da curva C correspondente a y = 0 e D é o ponto da curva C correspondente
ay=4
245
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 19.4. Como4 dx


dt = 2t, dy
dt = 3t então tem-se:
2

R R4
s = l(C)r = AB ds = 0 ds dt dt
R4 dx 2
   2 R4√
= 0 dt + dy dt dt = 0 4t2 + 9t4 dt
R4 q 2 R4 q 2
= 0 2t 1 + 9t4 dt = 49 0 t 29 1 + 9t4 dt
2
3 q
1+ 9t4 2 2 3
= 49 ( 3 )|40 = 278
( 1 + 9t4 )|40
8
√2
= 27 (37 37 − 1).

Observação 19.3. Muitas vezes uma curva C está definida em coordenadas polares
x = f (θ), y = f (θ) com θ ∈ [θ1 , θ2 ]. Então neste caso temos que
p s s   2
2
ds (dx)2 + (dy)2 (dx)2 (dy)2 dx dy
= = + = + .
dθ dθ (dθ)2 (dθ)2 dθ dθ

Logo, considerando A o ponto inicial da curva C, correspondente a θ = θ1 e B o


ponto final da curva C, correspondente a θ = θ2 vem
R
l(C) = AB ds
R θ ds
= θ12 dθ dθ
r  2
dx 2
R θ2  dy
= θ1 dθ + dθ dθ

Exercício 19.5. Encontre o comprimento do arco C definido por x = θ − sen(θ), y =


1 − cos(θ) com θ ∈ [0, 2π].
dy
Resolução 19.5. Tem-se dx
dθ = 1 − cos(θ), dθ = 0 + sen(θ) e portanto
R R θ ds
s = l(C) = AB ds = θ12 dθ dθ
R 2π p R p
= 0 (1 − cos(θ))2 + (sen(θ)) 2 dθ = 2π (1 − cos(θ))2 + (sen(θ))2 dθ
0
R 2π p R 2π q 1

= 0 2(1 − cos(θ))dθ = 0 4sen2 2 θ dθ
R 2π  R 2π 1 
= 2 0 sen 2 θ dθ = 4 0 2 sen 21 θ dθ
1

= −4[cos 2θ ]2π
0 = −4(−2) = 8.

19.2 Área de uma Superfície de Revolução


Teorema 19.2. Seja f : [a, b] 7→ R uma função de classe C 1 em [a, b]. Então a área
da superfície S que se obtém rodando o gráfico de f em torno do eixo Ox é
Z b p
area(S) = 2π f (x) 1 + (f ′ (x))2 dx.
a
4 Considere-se
A o ponto inicial da curva correspondente a t = 0 e B é o ponto da curva C corres-
pondente a t = 4
246
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Demonstração. Considere-se a figura

Sejam f : [a, b] 7→ R de classe C 1 em [a, b] e (xi , 0) pontos do eixo Ox tal que


xi = a + b−an i, i = 0, · · · , n. Então definimos a área da superfície S, area(S), que
se obtém rodando o gráfico de f em torno do eixo Ox entre x = a e x = b como
sendo o número real tal que area(S) = limn→+∞ area(Sn ) onde Sn é a superfície de
revolução que se obtém rodando a linha poligonal [P0 P1 · · · Pn ] onde Pi = (xi , f (xi ))
p de cone entre
para i = 0, 1, · · · , n em torno do eixo Ox. Note-se que área do tronco 5

os planos verticais x = xi−1 e x = xi é △Si = π(f (xi−1 ) + f (xi )) 1 + (f (ζi ))2 △xi .

Pn
Logo tem-se area(S) = limn→+∞ i=1 △Si . Assim, no nosso caso a área da superfície
de revolução Sn obtida rodando a linha poligonal é
n
X
area(Sn ) = △Si
i

n
X p
= π(f (xi−1 ) + f (xi )) 1 + (f ′ (ζi ))2 △xi
i=1
n
X p
area(Sn ) = π (f (xi−1 ) + f (xi ) 1 + (f ′ (ζi ))2 △xi
i=1
n
X p
area(Sn ) ≈ π (f (ζi ) + f (ζi )) 1 + (f ′ (ζi ))2 △xi
i=1
n
X p
area(Sn ) ≈ 2π (f (ζi ))) 1 + (f ′ (ζi ))2 △xi .
i=1

Note-se que aqui fizemos uma aproximação, isto é supomos que f (xi ) ≈ f (xi−1 ) =≈
f (ζi ) pois quando xi−1 está muito próximo de xi é isso que acontece. Logo relem-
brando a definição de soma de Riemann de uma função de classe C 1 em [a, b] obtemos
Z b p
area(S) = lim area(Sn ) = 2π f (x) 1 + (f ′ (x))2 dx.
n→+∞ a

Observação 19.4. Muitas vezes para ser mais fácil guardar uma fórmula na memória
p uma forma menemónica. Assim, vamos dizer que area(S) =
temos que guardá-la de
R
2π AB yds com ds = (dx)2 + (dy)2 onde A e B são os ponto inicial e final da linha

5 Vamos supor que 0 < a < b. Note-se que a área lateral do tronco do cone cone entre os planos
verticais x = xi−1 e x = xi é △Si = π(f (xi−1 )+f (xi ))△si onde si é o comprimento do segmento
que une os pontos Pi−1 a Pi , ver o livro Cálculo 1, James Stuart
247
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

C que rodamos em torno do eixo Ox. Assim, vem


R
area(S) = 2π AB yds
Rb
= 2π a y(x) √
ds
dx dx
Rb (dx)2 +(dy)2
= 2π a y(x)q dx dx
Rb (dx)2 (dy)2
= 2π a y(x) (dx)2 + (dx)2 dx
Rb q
dy 2
= 2π a y(x) 1 + ( dx ) dx.

E quando rodamos uma linha C definida por x = x(y) com y ∈ [c, d] em torno do eixo
R
Oy então escrevemos area(S) = 2π CD xds com C o ponto da curva C correspondente
a y = c e D o ponto da curva C correspondente a y = d. E então com esta menemónica
começamos a trabalhar
R
area(S) = CD xds
Rd
= 2π c x(y) dy
ds
dy

Rd (dx)2 +(dy)2
= 2π c x(y) dy
r dy  2
Rd 2
= 2π c x(y) dx
dy + dy dy dy
r 
Rd 2
= 2π c x(y) dx
dy + 1dy.

Exercício 19.6. Calcule a área da superfície lateral S do sólido de revolução que se


obtém rodando o segmento de recta y = 1 entre x = 1 e x = 2 em torno do eixo Ox.
Neste caso f (x) = 1, x ∈ [1, 2], f ′ (x) = 0

Resolução 19.6. Tem-se


R R2
area(S) = 2π AB yds = 2π 1 y(x) dx
ds
dx
R2 p R2 p
= 2π 1 1 1 + (f (x)) dx = 2π 1 1 1 + (f ′ (x))2 dx
′ 2
R2 √ R2
= 2π 1 1 ∗ 1 + 02 dx = 2π 1 1dx
= 2π(x)|21 = 2π(2 − 1) = 2π.

Notem que a Superfície S é a superfície lateral de um cílindro de raio 1 e altura 1


e a sua área é igual ao produto do comprimento da circunferência de raio 1 vezes a
altura que é um. Portanto area(S) = 2π ∗ 1 = 2π.

Exercício 19.7. Encontre a área da superfície que se obtém rodando a linha C defi-
nida6 por x = y 3 com y ∈ [0, 1] em torno do eixo Oy.

6 Notem que C = (0, 0), D = (1, 1)


248
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 19.7. Como dx


dy = 3y 2
R R1
area(S) = 2π CD x(y)ds = 2π 0 x(y) dyds
dy
r  
R1 2 R1 p
= 2π 0 y 3 1 + dxdy dy = 2π 0 y 3 1 + 9y 4 dy
3
2
R1  12 2 (1+9y 4
)2
= 36 π 0 36y
3
1 + 9y 4
dy = 36 π( 3 )|10
√ 2
= 27 (10 10 −
π
1).

Exercício 19.8. Encontre a área da superfície de revolução que se obtém rodando


em torno do eixo Ox a linha C 7 definida por x(t) = a cos3 (t), y(t) = asen3 (t) com
t ∈ [0, π2 ].

Resolução 19.8. Tem-se dx


dt = −3a cos2 (t)sen(t), dy
dt = 3asen (t) cos(t).
2


R R Rπ (dx)2 +(dy)2
area(S) = 2π ABr yds = 2π AB y(t) ds dt dt = 2π 0
y(t) dt dt
R π2  2
dx 2

= 4π 0 asen3 (t) dt + dy dt dt
R π2 p
= 4π 0 asen3 (t) 9a2 cos4 (t)sen2 (t) + 9a2 sen4 (t) cos2 (t)dt
Rπ p Rπ
= 4π 02 asen3 (t) 9a2 cos2 (t)sen2 (t)dt = 4π 02 asen3 (t)3a cos(t)sen(t)dt
Rπ 5 π 2
= 12a2 π 02 sen4 (t) cos(t)dt = 12a2 π( sin5 (t) )|02 = 12a5 π .

19.3 Centro de Gravidade de n Particulas.


Considere-se um sistema de massas pontuais m1 , m2 , · · · , mn localizadas nos pontos
(x1 , y1 ), (x2 , y2 ), · · · , (xn−1 , yn−1 ) e (xn , yn ). O centro de gravidade do sistema destas
m particulas é por definição o ponto (xc , yc ) tal que

= x1 mm1 +x
xc P 2 m2 +···+xn mn
1 +m2 +···+mn
n
x i mi
= Pi=1
n
m
;
i
i=1

yc = y1 mm1 +y 2 m2 +···+yn mn
Pn=1 1 +m2 +···+mn
y i mi
= Pi=1n
m
.
i
i=1

7 Notem que A = (a, f (a)), B = (b, f (b))


249
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

20 Centro de Gravidade de uma


Região do Plano
Teorema 20.1. Sejam f, g : [a, b] 7→ R funções de Classe C 1 em [a, b], com g(x) ≤
f (x), ∀x ∈ [a, b] e D a região de R2 tal que

D = {(x, y) ∈ R2 : (a ≤ x ≤ b) ∧ (g(x) ≤ y ≤ f (x))}.

Imaginando D como sendo uma região do plano de densidade constante então o centro
de gravidade de D é o ponto (xc , yc ) tal que
Rb
x(f (x) − g(x))
xc = a
area(D)

1
Rb
2 (f (x) + g(x))(f (x) − g(x))dx
yc = a
.
area(D)

Demonstração. Sejam f e g duas funções de classe C 1 em [a, b] tais que g(x) ≤ f (x).
E considerem-se os pontos (xi , 0) do eixo Ox com i = 0, 1, · · · , n. Seja D = {(x, y) ∈
R2 : (a ≤ x ≤ b) ∧ (g(x) ≤ y ≤ f (x))}. Por sua vez, a cada intervalo [xi−1 , xi ]
para i = 1, · · · , n vamos associar um rectângulo Ri do seguinte modo:considere-se
x∗i = xi−12+xi . Então o rectângulo Ri tem a base superior na recta horizontal y = f (x∗i )
e a base inferior na recta horizontal y = g(x∗i ) e os lados laterais do rectângulo Ri
encontram-se nas recta verticais x = xi−1 e x = xi . Assim a área de Ri verifica
area(Ri ) = (f (x∗i ) − g(x∗i ))(xi − xi−1 ) = (f (x∗i ) − g(x∗i ))△xi .
Determinemos agora o centro de gravidade de uma região D do plano R2 que ima-
ginamos que é uma lâmina fina, homogénea, de modo que a densidade superficial é
constante e é ρ(ρ é a massa por unidade de área).
Vamos agora considerar Dn = ∪ni=1 Ri . Seja mi a massa do rectângulo Ri para i =
1, · · · , n. Então a massa do rectângulo Ri é mi = ρarea(Ri ) para i = 1, · · · , n. Neste
caso definimos o centro de gravidade de Dn como sendo o centro de gravidade do
sistema de particulas m1 , · · · , mn com mi localizada no centro do rectângulo Ri para
i = 1, · · · n, que se encontra no ponto de encontro das diagonais do rectângulo Ri .
Então a massa do rectângulo Ri é mi = ρ(f (x∗i ) − g(x∗i ))(xi − xi−1 ) Para cada
f (x∗ ∗
i )+g(xi )
rectângulo Ri o centro do rectângulo tem coordenadas (x∗i , 2 ).
251
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Considere-se o centro de gravidade (xn , yn ) destas n particulas, isto é o centro de


gravidade de Dn , da região do plano que é a reunião dos n rectângulos. Mas então
considerando a interpretação geométrica que demos podemos concluir que
Pn ∗
xi ρ[f (x∗ ∗
i −g(xi )](xi −xi−1 )
xn = Pi=1
n ∗
ρ[f (x )−g(x‘∗i )](xi −xi−1 )
Pni=1 f (x∗i i)+g(x∗i )
ρ [f (x∗ ∗
i )−g(xi )](xi −xi−1 )
yn = i=1 Pn 2ρ(f (x∗ )−g(x ∗ ))(x −x ) .
i i i i
i=1

Como a região Dn quando n é grande se aproxima de D então definimos o centro de


gravidade da região D como sendo o ponto (xc , yc ) tal que

(xc , yc ) = lim (xn , yn ).


n→+∞

Mas então
n
X
x∗i ρ[f (x∗i ) − g(x∗i )]△xi
xc = limn→+∞ n
i=1
X
ρ[f (x∗i ) − g(x∗i )](xi − xi−1 )
Rb i=1
ρx(f (x)−g(x))dx
= Rb
a
;
ρ(f (x)−g(x))dx
a
n
X f (x∗i ) + g(x∗i )
ρ [f (x∗i ) − g(x∗i )](xi − xi−1 )
2
yc = limn→+∞ i=1
n
X
ρ(f (x∗i ) − g(x∗i ))(xi − xi−1 )
Rb i=1
1
ρ(f (x)+g(x))(f (x)−g(x))dx
= 2 a Rb .
ρ(f (x)−g(x))dx
a

Logo, como ρ é constante então


Rb
x(f (x) − g(x))dx
xc = Ra b
a
(f (x) − g(x))dx

1
Rb
2 (f (x) + g(x))(f (x) − g(x))dx
yc = a
Rb .
a
(f (x) − g(x))dx
Ou seja
Rb
x(f (x) − g(x))dx
xc = a
area(D)
1
Rb
a (f (x) − g 2 (x))dx
2
2
yc =
area(D)
252
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Observação 20.1. Aqui vale apena dizer, que como as fórmulas para o cálculo do
centro de gravidade da região D quando a densidade ρ é constante não depende da
densidade então vamos passar a defini-lo como centro geométrico da figura da re-
gião plana D. Do mesmo que dissemos anteriormente quando temos uma região D
delimitada pelas curvas x = f (y) e x = g(y) e entre y = c e y = d onde c ≤ d
g(y) ≤ f (y), ∀y ∈ [c, d] então o centro geométrico de D é o ponto (xg , yg ) tal que
Rd
y(f (y) − g(y))dy
xg = c
area(D)

1
Rd
2 (f 2 (y) − g 2 (y))dy
yg = c
area(D)

20.0.1 Centro de Gravidade de uma Linha de Densidade Constante

Teorema 20.2. Seja f : [a, b] 7→ R tal que f é uma função de classe C 1 em [a, b].
Então supondo que C é um fio de densidade constante então o centro de gravidade de
C é o ponto (xc , yc ) tal que
Rb √
x 1+(f ′ (x))2 dx
xc = Ra b √ ;
1+(f ′ (x))2 dx
R ba √
f (x) 1+(f ′ (x))2 dx
yc = aR b √ ′ 2
.
1+(f (x)) dx
a

Demonstração.
Seja C = {(x, y) ∈ R : (a ≤ x ≤ b) ∧ (y = f (x))} e vamos imaginar este conjunto
2

como um fio fino, homogéneo, com uma função densidade ρ constante ( massa por
unidade de comprimento). Sejam f uma função de classe C 1 em [a, b], (xi , 0) para
i = 0, · · · , n pontos do eixo Ox, com xi = a + b−a n i, i = 0, 1, · · · , n. Agora, vamos
construir uma linha Cn formada por segmentos: considere-se x∗i o ponto médio do
intervalo [xi−1 , xi ]. Em seguida para x∗i consideramos o segmento Pi−1 Pi da recta
secante ao gráfico de f passando nos ponto (xi−1 , f (xi−1 )) e (xi , f (xi )). Em seguida
calculamos o centro de gravidade dessa linha interpretando cada segmento Pi−1 Pi
como uma particula cujo centro de gravidade está no ponto (x∗i , f (x∗i )), e cuja massa
é a densidade vezes o comprimento do segmento,pnotem que fizemos uma suposição,
que ficará para o leitor descobrir, ou seja mi = ρ 1 + (f ′ (x∗i ))2 △xi . Assim, o centro
de gravidade do sistema de n particulas (x∗i , f (x∗i )), i = 1, · · · , n com s massas mi =
253
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

p
ρ 1 + (f ′ (x∗i ))2 △xi , i = 1, · · · , n é o ponto do espaço (xn , yn ) tal que
n
X q
x∗i ρ 1 + (f ′ (x∗i ))2 △xi
xn = i=1
n q
X
ρ 1 + (f ′ (x∗i ))2 △xi
i=1
n
X q
f (x∗i )ρ 1 + (f ′ (x∗i ))2 △xi
yn = i=1
n q .
X
ρ 1 + (f ′ (x∗i ))2 △xi
i=1

O que estamos a dizer é que o centro de massa da linha poligonal Cn é o ponto (xn , yn ).
Como quando n → +∞ Cn tende para C então definimos o centro de gravidade do fio
C como sendo o ponto (xc , yc ) = limn→+∞ (xn , yn ). Assim, lembrando a definição de
somas de Riemann, podemos escrever:
Rb √
x 1+(f ′ (x))2 dx
xc = Ra b √
1+(f ′ (x))2 dx
R ba √
f (x) 1+(f ′ (x))2 dx
yc = aR
b√
′ 21+(f (x)) dx
a

Observação 20.2. Como as fórmulas em cima não dependem da função densidade


quando ela é constante, então vamos passar a chamar ao centro de gravidade da linha
o centro geométrico da linha. E tal como escrevemos anterior vamos escrever as
fórmulas do cálculo de (xc , yc ) de um modo mais menemónico. Assim se C é uma
linha1 que é o gráfico de uma função y = f (x) com x ∈ [a, b] então:
R
xds
xc = RAB
R AB ds
f (x)ds
yc = ABR .
ds
AB

Assim se C é uma linha2 que é o gráfico de uma função x = f (y) com y ∈ [c, d] então:
R
yds
xc = RCD
R CD ds
f (y)ds
yc = CDR .
ds
CD

1 Note-se que A = (a, f (a)) e B = (b, f (b))


2 Note-se que C = (f (c), c) e D = (f (d), d)
254
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

20.1 Resumo

20.1.1 Comprimento de uma Curva


Teorema 20.3. Seja f : [a, b] 7→ R uma função de classe C 1 em [a, b]. Então o
comprimento de C = {(x, y) ∈ R2 : (a ≤ x ≤ b) ∧ (y = f (x))}, que designamos por
Rbp
l(C) verifica: l(C) = a 1 + (f ′ (x))2 dx.

20.1.2 Área de uma Superfície de Revolução


Teorema 20.4. Seja f : [a, b] 7→ R uma função de classe C 1 em [a, b]. Então a área
da superfície S que se obtém rodando o gráfico de f em torno do eixo Ox é
Z b p
area(S) = 2π f (x) 1 + (f ′ (x))2 dx.
a

20.1.3 Centro de Gravidade de m Particulas


Considere-se um sistema de massas pontuais m1 , m2 , · · · , mn localizadas nos pontos
(x1 , y1 ), (x2 , y2 ), · · · , (xn , yn ). O centro de gravidade do sistema é por definição o
ponto (xc , yc ) tal que
n
X
xi mi
x1 m1 +x2 m2 +···+xn mn
xc = m1 +m2 +···+mn = i=1
P n
mi
i=1

n=1
X
y i mi
y1 m1 +y2 m2 +···+yn mn
yc = m1 +m2 +···+mn = i=1
P n
mi
.
i=1

20.1.4 Centro de Gravidade de uma Região do Plano


Teorema 20.5. Sejam f, g : [a, b] 7→ R funções de Classe C 1 em [a, b], com g(x) ≤
f (x), ∀x ∈ [a, b] e D a região de R2 tal que

D = {(x, y) ∈ R2 :: (a ≤ x ≤ b) ∧ (g(x) ≤ y ≤ f (x))}.

Imaginando D como sendo uma região do plano de densidade constante então o centro
de gravidade de D é o ponto (xc , yc ) tal que
Rb
x(f (x) − g(x))
xc = a
area(D)
255
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

1
Rb
2 (f 2 (x) − g 2 (x))dx
yc = a
area(D)

20.1.5 Centro de Gravidade de um Fio de Densidade Constante


Teorema 20.6. Seja f : [a, b] 7→ R tal que f é uma função de classe C 1 em [a, b].
Então supondo que C é um fio de densidade constante então o centro de gravidade de
C é o ponto (xc , yc ) tal que
Rb √
x 1+(f ′ (x))2 dx
xc = Ra b √
1+(f ′ (x))2 dx
R ba √
f (x) 1+(f ′ (x))2 dx
yc = aR
b√
′ 2
.
1+(f (x)) dx
a

Observação 20.3. O centro de gravidade quando a densidade é constante de uma


região plana D coincide com o centro geométrico da região D. O centro geométrico
de uma linha quando a densidade é constante coincide com o centro geométrico dessa
linha.

256
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

21 Integrais Impróprios
Rb
Observação 21.1. No integral definido a f (x)dx , exige-se que o intervalo [a, b] seja
fechado e limitado e que a função f seja limitada. Vamos agora generalizar a definição
de integral definido para o caso em que uma destas condições não é verificada.

21.1 Integrais Impróprios de Primeira Espécie


Definição 21.1. Sejam α e β números reais. Chama-se integral impróprio de pri-
meira espécie a qualquer dos integrais:
Z +∞ Z β Z +∞
f (t)dt, f (t)dt, f (t)dt
α −∞ −∞

onde f é integrável em qualquer intervalo [α, x], x ≥ α; [β, x], x ≤ β; [a, b], ∀a, b ∈ R :
a < b respectivamente.

Figura 21.1: Integral de primeira espécie associado a uma região ilimidata à direita

Figura 21.2: Integral de primeira espécie associado a uma região ilimitada à direita

Figura 21.3: Integral de primeira espécie associado a uma região ilimitada à direita e
à esquerda

Definição 21.2. Sejam α e β números reais


R +∞
a) Seja f : [α, +∞[7→ R. Diz-se que o integral impróprio α f (t)dt com f inte-
grável em qualquer intervalo da forma [α, x] com x > α é convergente se e só
Rx
se existir o limite limx→+∞ α f (t)dt e for um número real e neste caso escre-
R +∞ Rx
vemos α f (t)dt = limx→+∞ α f (t)dt. Caso contrário, isto é se não existe
Rx Rx Rx
limx→+∞ α f (t)dt ou limx→+∞ α f (t)dt = +∞ ou limx→+∞ α f (t)dt = −∞
R +∞
dizemos que o integral impróprio α f (t)dt é divergente.
257
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1


b) Seja f :] − ∞, β] 7→ R. Diz-se que o integral impróprio −∞ f (t)dt com f inte-
grável em qualquer intervalo da forma [x, β] com x < β é convergente se e só

se existir o limite limx→−∞ x f (t)dt e for um número real e neste caso escre-
Rβ Rβ
vemos −∞ f (t)dt = limx→−∞ x f (t)dt. Caso contrário, isto é se não existe
Rβ Rβ Rβ
limx→−∞ x f (t)dt ou limx→−∞ x f (t)dt = +∞ ou limx→−∞ x f (t)dt = −∞

dizemos que o integral impróprio −∞ f (t)dt é divergente.
c) Seja f :] − ∞, +∞[7→ R uma função integrável em qualquer intervalo da forma
Rγ R +∞
[α, β] com α < β. Seja γ ∈ R. Se os integrais −∞ f (t)dt e γ f (t)dt fo-
R +∞
rem ambos convergentes então o integral impróprio −∞ f (t)dt é convergente e
escrevemos Z Z Z
+∞ γ +∞
f (t)dt = f (t)dt + f (t)dt.
−∞ −∞ γ
Rγ R +∞
Se o integral impróprio −∞f (t)dt ou o integral impróprio γ f (t)dt é diver-
R +∞
gente então o integral impróprio −∞ f (t)dt é divergente.

Observação 21.2. {Notação} Muitas vezes quando o limite de uma expressão dá


mais infinito, menos infinito ou infinito sem sinal nós escrevemos por abuso de lin-
R +∞ Rβ R +∞
guagem que α f (t)dt( −∞ f (t)dt( −∞ f (t)dt)) = +∞, −∞, ∞.

Exercício 21.1. Diga se os seguintes integrais impróprios são convergentes:


R −2
a) −∞ e−t dt;
R +∞
b) 1 t3 dt;
R +∞ 1
c) 2 t4 dt;
R +∞
d) −∞ cos(t)dt.

Resolução 21.1. Que coisa chata


a) Como
R −2 R −2
limx→−∞ x e−t dt = − limx→−∞ x e−t (−1)dt
= − limx→−∞ (e−t )|−2
x = − limx→−∞ (e − e
2 −x
)
= −(e − e ) = −e + ∞ = +∞
2 +∞ 2

R −2
então o integral impróprio −∞ e−t dt é divergente.
b) Como
Rx 4
limx→+∞ 1 t3 dt = limx→+∞ ( t4 )|x1
4 4 4
= limx→+∞ ( x4 − 14 ) = limx→+∞ ( x4 − 41 )
= +∞ − 14 = +∞
R +∞
então o integral impróprio 1 t3 dt é divergente.
258
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

c) Rx
limx→+∞ 2 t14 dt
Rx
= limx→+∞ 2 t−4 dt
−3
= limx→+∞ ( t−3 )|x2
−3 −3
= limx→+∞ ( x−3 − 2−3 )
1
= 0− + 24
1
= 24 .
R +∞ 1
Logo o integral impróprio 2 t4 dt é convergente e portanto podemos escrever
R +∞ 1 1
que 2 t4 dt = 24 .
d) Considere-se a igualdade:
Z +∞ Z +∞ Z 0
cos(t)dt = cos(t)dt + cos(t)dt
−∞ 0 −∞

Como Rx
limx→+∞ 0 cos(t)dt = limx→+∞ (sen(t))|x0
= limx→+∞ (sen(x) − sen(0)) = limx→+∞ sen(x)]
R +∞ R +∞
e limx→+∞ sen(x) não exite então 0 cos(t)dt é divergente e portanto −∞ cos(t)dt
é divergente.

21.2 Integrais Impróprios de Segunda Espécie.


Definição 21.3. {Definição de integral imróprio de segunda espécie} Os integrais da

forma α f (t)dt dizem-se integrais impróprios de segunda espécie se
f é uma função real de variável real definida em ]α, β] não limitada em ]α, β], mas
limitada e integrável em qualquer intervalo da forma [x, β] com x > α, ou se f é uma
função real de variável real definida em [α, β[ não limitada em [α, β[, mas limitada e
integrável em qualquer intervalo da forma [α, x] com x < β.

Figura 21.4: Integral impróprio de segunda espécie, f tem uma assimptota à esquerda

Figura 21.5: Integral impróprio de segunda espécie, f tem uma assimptota à direita


Definição 21.4. {Convergência de integrais impróprios do tipo α f (t)dt, com a
função integranda ilimitada perto de β, por exemplo quando f é contínua em I = [α, β[
e f tem uma assimptota em x = β} Seja f : [α, β[7→ R uma função não limitada em
259
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

[α, β[ mas integrável em qualquer intervalo da forma [α, x] com x < β. Então o integral
Rβ Rx
impróprio α f (t)dt diz-se convergente se e só se existir o limx→β − α f (t)dt e for um
Rβ Rx
número real e neste caso escrevemos α f (t)dt = limx→β − α f (t)dt. Caso tal limite

não exista, ou dê +∞ ou −∞ então o integral impróprio α f (t)dt diz-se divergente.

Definição 21.5. {integrais impróprios do tipo α f (t)dt, com a função integranda
ilimitada perto de α.} Seja f :]α, β] 7→ R uma função não limitada em ]α, β] mas
integrável em qualquer intervalo da forma [x, β] com x > α. Então o integral im-
Rβ Rβ
próprio α f (t)dt diz-se convergente se e só se existir o limx→α+ x f (t)dt e for um
Rβ Rβ
número real e neste caso escrevemos α f (t)dt = limx→α+ x f (t)dt. Caso tal limite

não exista, ou dé +∞ ou −∞ então o integral impróprio α f (t)dt diz-se divergente.

Exercício 21.2. Diga quais dos seguintes integrais impróprios de segunda espécie são
convergentes.
R4 1
a) 3 1 dt;
(t−3) 3
R4 1
b) 3 4−t dt;
R8 1
c) 6 1 dt.
(t−6) 3

Resolução 21.2. Que chatice

a) Tem-se1
R4 1
R4 − 13
lima→3+ a (t−3) 31 dt = lima→3
+
a (t − 3) dt
1
− +1 2

lima→3+ ( (t−3) )|4a = lima→3+ ( (t−3)


3 3
= − 13 +1 2 )|4a
3
3 2 2 3
= 2 lima→3 ((4 − 3) − (a − 3) ). = 2 (1 − 0)
+ 3 3 = 23 .
R4 1
R4 1
Logo 3 (t−3) 13
dt é um integral impróprio convergente e 3 (t−3) 13
dt = 23 .

b) Como 2

Rb 1
limb→4− 3 4−t dt = − limb→4− (ln |4 − t|)|b3
= − limb→4− (ln |4 − b| − ln 1)) = − ln 0+ + 0 = +∞
R4 1
então 3 4−t dt é divergente.

1A
R4 1
função integranda de 1 dt tem uma assimptota vertical em x = 3 e por sua vez em
3 (t−3) 3
qualquer intervalo da forma [x, 4] com 4 ≥ x > 3 a função integranda é integrável, pois é contínua
R4 1
em ]3, 4], assim 1 dt é um integral impróprio de segunda espécie
3 (t−3) 3
2A
R41
função integranda de dt tem uma assimptota vertical em x = 4 e por sua vez em
3 4−t
qualquer intervalo da forma [3, x] com 4 > x ≥ 3 a função integranda é integrável, pois é uma
R4 1
função contínua em [3, 4[, assim 4−t
dt é um integral impróprio de segunda espécie
3
260
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

c) Como3
R8 1
lima→6+ a (t−6) 31
dt
R8 1
= lima→6+ a (t − 6)− 3 dt
1
− +1
lima→6+ ( (t−6)
3
= − 1 +1
)|8a
3
2

= lima→6+ ( (t−6)
3
2 )|8a
3
2 2
= 32 limx→6+ ((8 − 6) 3 − (a − 6) 3 )|
2 2
= 32 (2 3 − (6+ − 6) 3 )
2
= 23 √
(2 3 − 0+ )
334
= 2
R8 1 R8 √
3
1 3 4
então o integral impróprio 6 1 dt é convergente e 6 1 dt = 2 .
(t−6) 3 (t−6) 3

21.3 Definição de Área duma Região Ilimitada


Definição 21.6. {Definição de área duma região ilimitada}
a) Sejam α ∈ R, f uma função real de variável real definida em [α, +∞[ tal que f
é integrável em qualquer intervalo da forma [α, x] com x > α e tal que f (x) ≥
0, ∀x ∈ [α, +∞[, e D = {(x, y) ∈ R2 : x ∈ [α, +∞[∧0 ≤ y ≤ f (x)}. Então
R +∞
define-se àrea de D através da seguinte igualdade àrea(D) = α f (x)dx
b) Sejam f :] − ∞, β] 7→ R tal que f é integrável em qualquer intervalo da forma
[x, β] com x < β e tal e tal que f (x) ≥ 0, ∀x ∈] − ∞, β] e D = {(x, y) ∈ R2 :
x ∈] − ∞, β] ∧ 0 ≤ y ≤ f (x)}. Então define-se a àrea de D através da seguinte

igualdade àrea(D) = −∞ f (t)dt.
c) Sejam f :] − ∞, +∞] 7→ R tal que f é integrável em qualquer intervalo da forma
[a, b] com a < b e tal que f (x) ≥ 0, ∀x ∈] − ∞, +∞[ e D = {(x, y) ∈ R2 : x ∈
] − ∞, +∞[∧0 ≤ y ≤ f (x)}. Então define-se a àrea de D através da seguinte
R +∞
igualdade àrea(D) = −∞ f (t)dt.
d) Sejam a, b ∈ R, a < b, f uma função real de variável real definida em [a, b[
e não limitada em [a, b[ tal que f é integrável em qualquer intervalo da forma
[a, x] com x < b e tal que f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b[, e D = {(x, y) ∈ R2 : x ∈
[a, b[∧0 ≤ y ≤ f (x)}. Então define-se a área de D através da seguinte igualdade
Rb
área(D) = a f (x)dx.
e) Sejam a, b ∈ R, a < b, f uma função real de variável real definida em ]a, b]
e não limitada em ]a, b] tal que f é integrável em qualquer intervalo da forma
[x, b] com x > a e tal que f (x) ≥ 0, ∀x ∈]a, b], e D = {(x, y) ∈ R2 : x ∈
3A
R8 1
função integranda de 6 1 dt é uma função que tem uma assimptota vertical em x = 6
(t−6) 3
e em qualquer intervalo da forma [x, 8] com x > 6 é uma função integrável pois a função f tal
1
R8 1
que f (t) = 1 é contínua em ]6, 8]. Logo o integral 1 dt é um integral impróprio de
(t−6) 3 6 (t−6) 3
segunda espécie
261
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

]a, b] ∧ 0 ≤ y ≤ f (x)}. Então define-se a àrea de D através da seguinte igualdade


Rb
àrea(D) = a f (x)dx.
R
Observação 21.3. Em alguns casos é dificil ver se um integral impróprio I f (x)dx
é convergente ou não. Pois muitas vezes não sabemos integrar a função f outras vezes
porque é muito complicado determinar uma primitiva de uma função real de variável
real, então utilizam-se integrais impróprios de que já sabemos o comportamento para
comparar.

Teorema 21.1. Seja α um número real tal que α > 0. Então o integral impróprio
R +∞ 1
α tp dt é convergente se e só se p > 1.

Demonstração. Tem-se para p 6= 1


Rx Rx
limx→+∞ α t1p dt = limx→+∞ α t−p dt
−p+1 −p+1
α−p+1
= limx→+∞ ( t−p+1 )|xα = limx→+∞ ( x−p+1 − −p+1 ).

−p+1 −p+1 −p+1 −p+1


Se p > 1, ou seja se −p + 1 < 0 então limx→+∞ ( x−p+1 − α−p+1 ) = 0 − α−p+1 = αp−1
R +∞ R +∞ −p+1
e portanto o integral impróprio α t1p dt é convergente e tem-se α t1p dt = αp−1 .
Se p < 1 ou seja se −p + 1 > 0 então
Rx
limx→+∞ α t1p dt
−p+1
α−p+1
= limx→+∞ ( x−p+1 − −p+1 )
−p+1
= +∞ − α
−p+1
= +∞
R +∞ 1
e portanto o integral impróprio α tp dt é divergente.
Se p = 1 então tem-se
Rx Rx
limx→+∞ α t1p dt = limx→+∞ α 1t dt
= limx→+∞ (ln |t|)|xα
= limx→+∞ (ln |x| − ln |α|)
= +∞ − ln |α|
= +∞,
R +∞
e portanto α 1t dt é um integral impróprio divergente. Logo mostramos que o
R +∞
integral impróprio α t1p dt converge se e só se p > 1.

R +∞
Observação 21.4. {Resumindo para os integrais α t1p dt tem-se:} se α > 0 então:
R +∞
a) se p > 1 então o integral impróprio α t1p dt é convergente.
R +∞
b) se p < 1 então o integral impróprio α t1p dt é divergente.
R +∞
c) se p = 1 então o integral impróprio α t1p dt é divergente.
262
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1


Observação 21.5. {Resumindo para os integrais −∞ t1p dt com α < 0 tem-se} Seja
α < 0 então:

a) se p > 1 então o integral impróprio −∞ t1p dt é convergente.

b) se p < 1 então o integral impróprio −∞ t1p dt é divergente.

c) se p = 1 então o integral impróprio −∞ t1p dt é divergente.
Rb 1
Teorema 21.2. O integral impróprio a (b−t)p dt é convergente se e só se p < 1.

Demonstração. Temos que para p 6= 1


Rx 1
Rx
limx→b− a (b−t)p
dt = limx→b− a (b − t)−p dt
−p+1
= − limx→b− ( (b−t)
−p+1 )|a
x
−p+1 −p+1
= − limx→b− ( (b−x)
−p+1 − (b−a)
−p+1 )

−p+1
Donde se p > 1 então −p + 1 < 0 e portanto limx→b− [− (b−x) 1
−p+1 ] = 0+ = +∞ e
Rx 1 −p+1
portanto limx→b− a (b−t)p dt = +∞ + (b−a) −p+1 = +∞. E portanto o integral im-
Rb 1
próprio a (b−t)p dt é divergente para p > 1. Se p < 1 então 1 − p > 0 e portanto
−p+1 Rx 1 (b−a)−p+1 −p+1
limx→b− (b−x) −p+1 = 0 e limx→b− a (b−t) p dt = 0 + −p+1 = + (b−a)
−p+1 . E por-
Rb 1
tanto o integral impróprio a (b−t) p dt é convergente se p < 1 e podemos escrever
Rb 1 (b−a)−p+1
a (b−t)p
dt = + −p+1 . Se p = 1 então
Rx 1
limx→b− a b−t dt
= limx→b− (− ln |b − t|)|xa
= limx→b− (− ln |b − x| + ln |b − a|)
= +∞ + ln |b − a| = +∞.
Rb 1
E portanto o integral impróprio a (b−t) p dt é divergente. Logo mostramos que o
Rb 1
integral impróprio a (b−t)p dt converge se e só se p < 1.
Rb 1
Observação 21.6. {Resumindo para os integrais impróprios a (b−t) p dt tem-se}
Rb 1
a) Se p > 1 então o integral impróprio a (b−t)p dt é divergente
Rb 1
b) Se p < 1 então o integral impróprio a (b−t) p dt é convergente
Rb 1
c) Se p = 1 então o integral impróprio a (b−t)p dt é divergente.
Rb 1
Observação 21.7. {Resumindo para os integrais impróprios a (t−a) p dt tem-se}
Rb 1
a) Se p > 1 então o integral impróprio a (t−a)p dt é divergente
Rb 1
b) Se p < 1 então o integral impróprio a (t−a) p dt é convergente
Rb 1
c) Se p = 1 então o integral impróprio a (t−a)p dt é divergente.
263
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Observação 21.8. Muitas vezes as funções integrandas dos integrais impróprios são
complicadas demais para perdermos tempo a integrá-las ou podem mesmo não ad-
mitir primitivas mas nós devemos ter a capacidade de saber responder se o inte-
gral impróprio é convergente ou não. Por exemplo será que o integral impróprio
R +∞ −x
0 e sen2 (x)dx é convergente? Voltaremos a este integral após a apresentação do
primeiro critério de comparação entre integrais impróprios do mesmo tipo:

Observação 21.9. Para ser mais fácil de apreender e guardar na memória o primeiro
critério de comparação devemos notar que a um integral impróprio quer de primeira
espécie quer de segunda espécie está sempre associada uma área de uma região do
espaço.

21.4 Critérios de Comparação de Integrais Impróprios


de Funções Positivas

21.4.1 Primeiro Critério de Comparação


Teorema 21.3. {Critério de comparação para os integrais impróprios de primeira
espécie em [a, +∞[} Sejam a > 0 e f e g :][a, +∞[7→ R funções integráveis em qualquer
intervalo da forma [a, x] com a < x e suponhamos que 0 ≤ f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, +∞[.
Então:
R +∞ R +∞
a) se a g(t)dt é convergente então a f (t)dt é convergente;
R +∞ R +∞
b) se a f (t)dt é divergente então a g(t)dt é divergente.

Demonstração.
Rx
a) Considerem-se as funções F e G tais que F (x) = a f (t)dt, ∀x ∈ [a, +∞[ e tal
Rx
que G(x) = a g(t)dt, ∀x ∈ [a, +∞[. Como f (t) ≥ 0 e g(t) ≥ 0 para t ∈ [a, +∞[
então as funções F e G são funções crescentes. Como f (t) ≤ g(t), ∀t ∈ [a, x] então
R +∞
F (x) ≤ G(x), ∀x ∈ [a, +∞[. Como G é crescente e como limx→+∞ G(x) = a g(t)dt
R +∞ R +∞
conclui-se que G(x) ≤ a g(t)dt. E portanto F (x) ≤ a g(t)dt, ∀x ∈ [a, +∞[.
Como a função F é crescente e majorada então ∃ limx→+∞ F (x) e esse limite é finito
R +∞
e portanto a f (t)dt converge.
R +∞ R +∞
b) Se a f (t)dt é divergente então a g(t)dt é divergente. Pois se fosse convergente
R +∞
então concluiriamos pela alínea anterior que a f (t)dt seria convergente. O que
R +∞
seria absurdo. Pois concluiriamos que a f (t)dt seria convergente e divergente . E
R +∞
como esta contradição vem da hipótese de admitirmos a g(t)dt é convergente logo
a conclusão é que ele só pode ser divergente.
264
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

O critério de comparação quando as funções são posítivas, tem uma interpretação


de áreas, se a área abaixo do gráfico g é finita, então a área abaixo do gráfico de f
também é finita(um número)

O critério de comparação quando as funções são posítivas permite-nos concluir que


se a área abaixo do gráfico f é infinita, então a área abaixo do gráfico de g também é
infinita(+∞))

Nos 3 teoremas que se seguem a demonstração seria análoga à que fizemos na prova
feita acima e portanto não apresentamos as provas dos 3 teoremas que apresentamos
já de seguida.
Teorema 21.4. Critério de comparação para os integrais impróprios de primeira
espécie definidos em ] − ∞, b] Sejam f e g funções integráveis em qualquer intervalo
da forma [x, b] com x < b e suponhamos que 0 ≤ f (x) ≤ g(x), ∀x ∈] − ∞, b]. Então
Rb Rb
a) se −∞ g(t)dt é convergente então −∞ f (t)dt é convergente.
Rb Rb
b) se −∞ f (t)dt é divergente então −∞ g(t)dt é divergente.
Teorema 21.5. {Critério de comparação para os integrais impróprios de segunda
Rb
espécie I = a f (x)dx , com a função integranda f ilimitada perto de x = b} Sejam f
e g funções ilimitadas em [a, b[ mas integráveis em qualquer intervalo da forma [a, x]
com a < x < b e suponhamos que 0 ≤ f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b[. Então:
Rb Rb
a) se o integral impróprio a g(t)dt converge então o integral impróprio a f (t)dt
converge.
Rb Rb
b) se o integral impróprio a f (t)dt diverge então o integral impróprio a g(t)dt
diverge.
Teorema 21.6. {Primeiro Critério de comparação de integrais impróprios de segunda
Rb
espécie I = a f (x)dx, com função integranda f ilimitada perto de x = a} Sejam f e
g funções ilimitadas em ]a, b] e integráveis em qualquer intervalo da forma [x, b] com
a < x < b e suponhamos que 0 ≤ f (x) ≤ g(x), ∀x ∈]a, b]. Então
Rb Rb
a) se o integral impróprio a g(t)dt é convergente então o integral impróprio a f (t)dt
é convergente.
Rb Rb
b) se o integral impróprio a f (t)dt é divergente então o integral impróprio a g(t)dt
é divergente.
R +∞
Exemplo 21.1. Regressemos ao integral impróprio 0 e−t sen2 (t)dt. Tem-se que
0 ≤ e−x sen2 (x) ≤ e−x , ∀x ∈ [0. + ∞[. Como
R +∞ Rx Rx
0
e−t dt = − limx→+∞ 0 (−e−t )dt = − limx→+∞ 0 (−e−t )dt
= − limx→+∞ (e−x − e0 ) = − limx→+∞ (e−x − 1) = −(0 − 1)
=1
265
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

R +∞
então 0 e−t dt é convergente e portanto pelo primeiro critério de comparação de
R +∞
integrais impróprios podemos concluir que 0 e−t sen2 (t)dt é convergente.

Observação 21.10. Mas este critério de comparação tem um defeito exige que ma-
R
joremos a função integranda do integral impróprio I f (x)dx por outra em todo o
domínio de integração e tal exige que eu saiba muito bem as propriedades dos núme-
ros reais e potanto será natural apresentar um critério que se preocupe em dizer que
a função integranda se comporta tal como outra mais simples de analisar quanto à
convergêmcia, mas sem compará-la com a função integranda em todo o domínio de
integração mas apenas onde é necessário. Por essa razão apresentamos o critério do
quociente. Mas antes paresentamos um critério que nos será útil, quando necessitar-
R
mos de provar que se um integral impróprio I |f (x)|dx é absolutamente convergente
R
então o integral impróprio f (x)dx converge.

Teorema 21.7. Sejam f, g : [a, +∞[7→ R e tais que f e g são funções integráveis
em qualquer intervalo da forma [a, x] com x > a. Então se os integrais impróprios
R +∞ R +∞
a f (x)dx e a g(x)dx são convergentes e α e β são números reais então o in-
R +∞ R +∞ R +∞
tegral a (αf + βg)(x)dx é convergente e a (αf + βg)(x)dx = α a f (x)dx +
R +∞
β a g(x)dx.

Observação 21.11. É evidente que o Teorema (21.7) pode ser formulado para qual-
quer tipo de integrais impróprios, é o que faremos no próximo Teorema.
R R
Teorema 21.8. Considere-se os integrais impróprios I f (t)dt e I g(t)dt da mesma
R R
espécie e sejam α e β dois números reais. Então se I f (t)dt e I g(t)dt são conver-
R
gentes então I (αf + βg)(x)dx é convergente e tem-se
Z Z Z
(αf + βg)(x)dx = α f (x)dx + β g(x)dx
I I I
R +∞ R +∞
Teorema 21.9. Os integrais impróprios a
f (t)d e b
f (t)dt são da mesma na-
tureza.
Rx
Demonstração. Sejam a e b números tais que b > a Seja x > b. Então a f (t)dt =
Rb Rx Rx Rb Rx
a
f (t)dt+ b f (t)dt. E portanto limx→+∞ a f (t)dt = a f (t)dt+limx→+∞ b f (t)dt.
R +∞
E portanto o integral impróprio a f (t)dt é convergente(divergente) se e só o integral
R +∞
impróprio b f (t)dt é convergente(divergente).

21.4.2 Segundo Critério de Comparação de Integrais Impróprios,


Critério do Quociente
Teorema 21.10. {Critério do quociente para os integrais impróprios de primeira
espécie} Sejam f e g duas funções reais de variável real definidas em [a, +∞[ e tais
266
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

que são funções integráveis em qualquer intervalo da forma [a, x] com x > a tais que
R +∞
f (x) ≥ 0 ∧ g(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, +∞[ e considerem-se os integrais impróprios a f (t)dt
R +∞ (x)
e a g(t)dt . Se limx→+∞ fg(x) = L ∈ R+ \ {0} então os integrais impróprios
R +∞ R +∞
a f (t)dt e a g(t)dt são da mesma natureza, isto é são ambos convergentes ou
(x)
são ambos divergentes. Se limx→+∞ fg(x) = 0 então concluimos que:
R +∞ R +∞
a) se a g(x)dx é convergente então a f (x)dx é convergente;
R +∞ R +∞
b) se a f (x)dx é divergente então a g(x)dx é divergente.
(x)
Se limx→+∞ fg(x) = +∞ então;
R +∞ R +∞
a) se a g(x)dx é divergente então a f (x)dx é divergente.
R +∞ R +∞
b) se a f (x)dx é convergente então a g(x)dx é convergente.

(x)
Demonstração. a) Suponhamos que limx→+∞ fg(x) = L ∈ R+ . Então para ǫ = L4 ,

(x)
existe ∃M > a tal que, fg(x) − L < L4 para x > M. Mas então para x > M

f (x)
tem-se − L4 < g(x) − L < 4 . Assim,
L
podemos dizer que para x > M se verifica
3L f (x) 5L
que <
4 concluimos que 3L
g(x) < 4 . E finalmente,
5L
4 g(x) < f (x) < 4 g(x).
Logo pelo primeiro critério de comparação concluimos que os integrais impró-
R +∞ R +∞
prios M f (t)dt e M g(t)dt são da mesma natureza e portanto os integrais
R +∞ R +∞
impróprios a f (t)dt e a g(t)dt são da mesma natureza.
(x)
b) Seja ǫ um número real tal que ǫ > 0. Se limx→+∞ fg(x) = 0 então existe M > a

f (x)
tal que para x ≥ M então g(x) < ǫ. Mas como f e g são ambas funções
(x)
posítivas em [a, +∞[ então temos que fg(x) < ǫ para x > M. Assim f (x) < ǫg(x)
R +∞ R +∞
para x > M. Logo se o integral a g(t)dt converge então M g(t)dt converge
R +∞ R +∞ R +∞
e portanto M f (t)dt e a f (t)dt convergem. Por sua vez, se a f (t)dt
R +∞ R +∞ R +∞
diverge então M f (t)dt diverge e portanto M g(t)dt e a g(t)dt divergem.
f (x)
c) Se limx→+∞ g(x) = +∞ então dado N > 0 existe M > a tal que para x > M se
f (x) f (x)
tem g(x) > N. Então escolha-se N = 1 então > 1 para x > M. Mas então
g(x)
R +∞
f (x) > g(x) para x > M. Mas então se o integral impróprio a g(t)dt é diver-
R +∞ R +∞
gente então M g(t)dt é divergente e portanto M f (t)dt é divergente e por-
R +∞ R +∞ R +∞
tanto a f (t)dt é divergente. Se a f (t)dt é convergente então M f (t)dt
é convergente e portanto pelo critério de comparação de integrais impróprios
R +∞
podemos concluir que M g(t)dt ’e convergente e portanto concluimos que
R +∞
a g(t)dt converge.

Teorema 21.11. {Critério do quociente para os integrais impróprios de primeira


espécie} Sejam f e g duas funções reais de variável real definidas em ] − ∞, b] e tais
que são funções integráveis em qualquer intervalo da forma [x, b] com x < b e tais que
267
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Rb
f (x) ≥ 0 ∧ g(x) ≥ 0, ∀x ∈] − ∞, b] e considerem-se os integrais impróprios −∞ f (t)dt
Rb (x)
e −∞ g(t)dt . Se limx→−∞ fg(x) = L ∈ R+ \ {0} então os integrais impróprios
Rb Rb
−∞ f (t)dt e −∞ g(t)dt são da mesma natureza, isto é são ambos convergentes ou
(x)
são ambos divergentes. Se limx→−∞ fg(x) = 0 então concluimos que:
Rb Rb
a) se −∞ g(x)dx é convergente então −∞ f (x)dx é convergente;
Rb Rb
b) se −∞ f (x)dx é divergente então −∞ g(x)dx é divergente.
(x)
Se limx→−∞ fg(x) = +∞ então;
Rb Rb
a) se −∞ g(x)dx é divergente então −∞ f (x)dx é divergente.
Rb Rb
b) se −∞ f (x)dx é convergente então −∞ g(x)dx é convergente.
Teorema 21.12. {Critério do quociente para os integrais impróprios de segunda
espécie, com função integranda ilimitada perto de a} Sejam f e g duas funções reais
de variável real não limitadas em ]a, b] e integráveis em qualquer intervalo [x, b] com
b > x > a, e tais que f (x) ≥ 0, ∀x ∈]a, b] ∧ g(x) ≥ 0∀x ∈]a, b] e considerem-se os
Rb Rb (x)
integrais impróprios a f (t)dt e a g(t)dt . Se limx→a+ fg(x) = L ∈ R \ {0} então os
Rb Rb
integrais impróprios a f (t)dt e a g(t)dt são da mesma natureza, isto é são ambos
(x)
convergentes ou são ambos divergentes. Se limx→a+ fg(x) = 0 então concluimos que:
Rb Rb
a) se a g(x)dx é convergente então a f (x)dx é convergente;
Rb Rb
b) se a f (x)dx é divergente então a g(x)dx é divergente.
(x)
Se limx→a+ fg(x) = +∞ entãoconcluimos que:
Rb Rb
a) se a g(x)dx é divergente então a f (x)dx é divergente;
Rb Rb
b) se a f (x)dx é convergente então a g(x)dx é convergente.
Teorema 21.13. {Critério do quociente para os integrais impróprios de segunda
espécie, com função integranda ilimitada perto de b} Sejam f e g duas funções reais
de variável real não limitadas em [a, b[ mas integráveis em [a, x] com a < x < b e
tais que f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b[ e g(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b[ e considerem-se os integrais
Rb Rb (x)
impróprios a f (t)dt e a g(t)dt de segunda espécie. Se limx→b− fg(x) = L ∈ R \ {0}
Rb Rb
então os integrais impróprios a f (t)dt e a g(t)dt são da mesma natureza, isto é são
(x)
ambos convergentes ou são ambos divergentes. Se limx→b− fg(x) = 0 então concluimos
que:
Rb Rb
a) se a g(x)dx é convergente então a f (x)dx é convergente;
Rb Rb
b) se a f (x)dx é divergente então a g(x)dx é divergente.
(x)
Se limx→b− fg(x) = +∞ então:
Rb Rb
a) se a g(x)dx é divergente então a f (x)dx é divergente.
Rb Rb
b) se a f (x)dx é convergente então a g(x)dx é convergente.
R +∞ x+1
Exercício 21.3. Diga se o integral impróprio 1 x5 +x+1 dx é convergente.
268
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 21.3. Que chatice


+x+1 ≥ 0, ∀x ∈ [1, +∞[ então podemos utilizar o criério do quociente. Visto
Como x5x+1
que
x+1
x5 +x4
limx→+∞ x5 +x+1
1 = limx→+∞ x5 +x+1
x4
1
1+ x
= limx→+∞ 1+ x14 + x15
= 1 6= 0
R +∞ 1
e como 1 x4 dx é convergente, pois p = 4 > 1, então pelo critério do quociente
R +∞ x+1
podemos concluir que o integral impróprio 1 x5 +x+1 dx converge.

Observação 21.12. Temos aqui que dizer que o critério de comparação e o critério
do quociente ambos exigem que as funções comparadas sejam ambas posítivas. Mas
muitas vezes, quando a função integranda do integral impróprio não for posítiva e
a utilização da definição de integral impróprio não permitir dizer se o integral im-
próprio é convergente ou se não é, estudamos o módulo da função integranda e se
o integral impróprio da função módulo for convergente então podemos que o integral
impróprio é convergente. Mas se divergir nada podemos conluir sobre o primeiro. As-
sim, apresentamos o Teorema 21.14. com a demonstração para fundamentar o nosso
pensamento.
R +∞
Teorema 21.14. Se o integral impróprio de primeira espécie a |f (x)|dx é conver-
R +∞ R +∞
gente então o integral impróprio a f (x)dx é convergente e verifica-se | a f (x)dx| ≤
R +∞ Rb
a |f (x)|dx. Se o integral impróprio de primeira espécie −∞ |f (x)|dx é convergente
Rb Rb
então o integral impróprio −∞ f (x)dx é convergente e verifica-se | −∞ f (x)dx| ≤
Rb Rb
−∞ |f (x)|dx Se o integral impróprio de segunda espécie a |f (x)|dx é convergente en-
Rb Rb Rb
tão o integral impróprio a f (x)dx é convergente e verifica-se | a f (x)dx| ≤ a |f (x)|dx

Demonstração. Vamos apresentar a prova para todo o tipo de integrais impróprios


R
suponhamos então que o integral impróprio I |f (x)|dx converge. Mas nós temos
que f (x) = |f (x)| − (|f (x)| − f (x)). Como |f (x)| − f (x) ≤ 2|f (x)|, ∀x ∈ I então
R
o integral impróprio I (|f (x)| − f (x))dx converge devido ao critério de compara-
R
ção de integrais impróprios, pois I 2|f (x)|dx é convergente. Logo como os integrais
R R R
impróprios I |f (x)|dx e I (|f (x)| − f (x))dx são convergentes então I f (x)dx é con-
R
vergente pois f (x) = |f (x)| − (|f (x)| − f (x)) e os integrais impróprios I |f (x)|dx e
R
I (|f (x)| − f (x))dx convergem. Como −|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|, ∀x ∈ I então
Z Z Z
− |f (x)|dx ≤ f (x)dx ≤ |f (x)|dx
I I I

Logo Z Z

f (x)dx ≤ |f (x)|dx

I I

269
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

!htb

Definição 21.7. {Definição de integral impróprio absolutamente convergente e sim-


plesmente convergente} Diz-se que o integral impróprio de primeira ou segunda espécie
R R
I f (x)dx é absolutamente
R
convergente se o integral I |f (x)|dx for convergente. Diz-
R
se que o integral I f (x)dx é simplesmente convergente se for convergente e I |f (x)|dx
for divergente.
R +∞
Exemplo 21.2. O integral impróprio 1 1/x2 sen(x)dx é abolutamente convergente
R +∞ sen(x)
e portanto simplesmente convergente. O integral impróprio 1 x dx é conver-
R +∞ |sen(x)|
gente e o integral impróprio 1 x dx é divergente e portanto o integral impró-
R +∞ sen(x)
prio 1 x dx é simplesmente convergente.

21.5 Integrais Impróprios Mistos


Definição 21.8. Vamos considerar como integrais impróprios mistos os integrais
em que a função integranda tem pelo menos um limite de integração infinito e pelo
menos um ponto onde a função integranda de tais integrais se torna ilimitada, ou
então a função integranda admite pelo menos dois valores pertencentes ao domínio
de integração onde a função integranda fica ilimitada perto desses valores, ou um
valor pertencente ao interior do domínio de integração onde a função integranda fica
R +∞ x R3
ilimitada. Exemplo 1 x(4−x) dx e 1 (3−x)(2−x) dx. Nestes integrais impróprios
x

mistos, o que se faz é decompõem-se em vários integrais impróprios de modo que cada
um seja um integral impróprio só de uma espécie e depois dizemos que o integral
decomposto é convergente se e só se cada um dos integrais impróprios envolvidos for
convergente e divergente se e só se pelo menos um deles for divergente.

R +∞ 1
Exercício 21.4. Diga se o integral impróprio misto 1 x3 −1 dx é convergente, jus-
tifique a sua resposta.

Resolução 21.4. Tem-se como (x−1)(x12 +x+1) ≥ 0, ∀x ∈ [1, +∞[ então 1


3−1 ≥ 0, ∀x ∈
Rx+∞
1
[1, +∞[ e portanto podemos utilizar o critério do quociente. Como 1 x3 −1 dx =
R +∞ 1
R +∞ 1
R 2 1
R +∞ 1
1 (x−1)(x2 +x+1) dx. Como 1 x3 −1 dx = 1 (x−1)(x2 +x+1) dx+ 2 (x−1)(x2 +x+1) dx,
1
1 2 1
x3 −1 ≥ 0, ∀x ∈ [1, +∞[ e limx→1− (x−1)(x1 +x+1) = limx→1− x2 +x+1 = 31 e o integral
x−1
R2 1 R +∞ 1
impróprio 1 x−1 dx é divergente então o integral impróprio 1 (x−1)(x2 +x+1) dx é
divergente
270
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

21.6 Exercícios Resolvidos sobre Séries


+∞
X 4(n + 1)
Exercício 21.5. Mostre que a série é convergente e determine a sua
n=1
n2 (n + 2)2
soma

Resolução 21.5. Bem para mostrar que esta série é convergente vamos mostrar que
a série é uma série de Mengoli. Então vamos tentar descobrir constantes tais que

4x + 4 a b
= 2+ (21.1)
x2 (x + 2)2 x (x + 2)2

Mas então de (21.1) obtemos

4x + 4 a(x + 2)2 bx2


= + (21.2)
x2 (x + 2)2 x2 (x + 2)2 x2 (x + 2)2

E portanto, obtemos para x 6= 0 e x 6= −2 a desigualdade (21.3).

4x + 4 = a(x + 2)2 + bx2 (21.3)

Assim, tem-se (21.4).

4x + 4 = a(x2 + 4x + 4) + bx2 (21.4)

Juntando os termos em x2 , x e constantes no segundo membro de (21.4) concluimos


que:

4x + 4 = (a + b)x2 + 4ax + 4a (21.5)

Mas então igualando os coeficientes em x2 , em x e em número em ambos os membros


da igualdade (21.5) obtemos o sistema (21.6).

 a+b=0
4a = 4 . (21.6)

4a = 4

Assim, obtemos que



b = −1
. (21.7)
a=1

4x+4 1 1
Assim, podemos escrever x2 (x+2)2 = x2 − (x+2)2 para x 6= 0 e para x 6= −1. E portanto
4(n+1) 1 1
temos =
n2 (n+2)2 −
n2 = n12 − (n+1)
(n+1)2 . Mas então como n2 (n+2)2
n+1 1
2 então a série
+∞
X n+1 +∞
X n+1
é uma série de Mengoli. Assim, por a série ser de
n=1
n (n + 2)
2 2
n=1
n2 (n + 2)2
271
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Mengoli então é muito simples de terminar a soma parcial de ordem n desta série.
Assim, tem-se
n
X 4k + 4
Sn =
k (k + 2)2
2
k=1
n
X 1  
1
= −
k2 (k + 2)2
k=1  
= 112 − 312 + 212 −412 + 

+ 312 − 512 + · · · + (n−2)1 1
2 − n2 +
   
1 1 1 1
+ (n−1)2 − (n+1)2 + n2 − (n+2)2
= 1 + 14 − (n+1)
1 1
2 − (n+2)2
1
= 54 − (n+1) 1
2 − (n+2)2 .

Donde como
1
limn→+∞ Sn = 1 + 4
= 45
+∞
X n+1 5
então a série 2 (n + 2)2
é convergente e a sua soma é 4 e portanto podemos
n=1
n
escrever
n
5 X 4n + 4
= .
4 n2 (n + 2)2
k=1

+∞
X n
Exercício 21.6. Verifique se a série é convergente
n=1
7n

Resolução 21.6. Aqui, devemos notar que em primeiro lugar que 7n para n grande
é muito maior que n. Aqui vamos resolver o exercício utilizando este comportamento
do termo geral. Assim, lembrando o binómio de Newton podemos escrever que:
n  
X n 
7 = (1 + 6) =
n n
1n−j 6j
j=0
j
n
X n!
= 1n−j ∗ 6j
j=0
j!(n − j)!
   n−2 2  n−3 3  0 n
= n0 1n 60 + n1 1n−1 6 + n
2 1 6 + n
3 1 6 + ···+ n
n 1 6

≥ n3 63
n!
≥ 3!(n−3)! 63
≥ n(n−1)(n−2)(n−3)!
6(n−3)! 63
≥ n(n − 1)(n − 2)62 .

1 1 1
Assim, obtemos, para n ≥ 3, 7n ≤ 36n(n−1)(n−2) e portanto n
7n ≤ 36n(n−1)(n−2) . Fi-
+∞
1
X 1
nalmente para n ≥ 3 tem-se n
≤ 36(n−1)(n−2) . Agora, a série é
7n
n=3
36(n − 1)(n − 2)
272
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞
X 1 1 1
da mesma natureza de convergência da série . Como ≤
n=1
36(n + 1)(n) 36(n+1)(n) n2

+∞ +∞
X 1 X 1
para n ∈ N e como a série de Dirichelet converge então a série
4

n=1
n 2
n=1
36(n + 1)(n)
+∞
X 1
converge portanto a série converge. Assim, concluimos que a sé-
n=3
36(n − 1)(n − 3)
+∞ +∞
X n X n
rie converge ou seja que a série converge .
n=3
7 n
n=3
7 n

Observação 21.13. é evidente que podiamos ter aplicado o criério d’Alemebert á


+∞
X n
série . Com efeito considerando a notação an = 7nn temos que
n=1
7 n

n+1
an+1
limn→+∞ an = limn→+∞
7n+1
n
7n
1
= limn→+∞ n+1
n 7
n(1+ 1 )
= limn→+∞ 7n n
1+ 1
= limn→+∞ 7 n
1+0
= 7

an+1 1
Donde como an > 0, ∀n ∈ N e limn→+∞ an = 7 < 1 então pelo critério d’Alembert
+∞
X n
a série converge.
n=1
7n

Observação 21.14. Embora o critério d’Alembert permita fácilmente decidir se a


+∞
X n
série converge ou não neste exemplo também será boa ideia para decidir se
n=1
7n
esta série de números reais era convergente utilizar o critério de Cauchy desde que
+∞
X n
saibamos 5 Aplique-se então o critério de Cauchy à série . Assim, considere-se
n=1
7 n

4 Note-se que p = 2 >.


5 Note-se mesmo que não saibamos quando dá este limite, será natural
√ experimentar numa máquina
de calcular para n grande quanto dá a máquina de calcular para n n e este√valor obtido será um
inspiração para então utilizamos matemática para mostrar que limn→+∞ n n Assim, como
√ 1
limn→+∞ n
n = limn→+∞ n n
1
= (eln n ) n
ln n
=e n
ln x
= limx→+∞ e x

lnx
ln x
Agora, calcule-se limx→+∞ e x . Como limx→+∞ x
= ∞

então aplicando a regra de L’Hopital
273
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

an = n
7n . Mas então
√ √
n
n
limn→+∞ n a
n = limn→+∞ √
n n
7

n
n
= limn→+∞ 7
= 17
√ 1
Assim, como an > 0, ∀n ∈ N e limn→+∞ n
an = 7 < 1 então pelo critério de Cauchy
+∞
X n
a série converge.
n=1
7n

Exercício 21.7. Analise a convergência da série


+∞  n
X n+1
n=1
n+2

Resolução 21.7. Será regra de bom senso analizar se o termo geral tende para zero
ou não antes de aplicar a regra deCauchy.
n Assim, apresenta-se os seguintes cálculos,
mas considere-se a notação an = n+2 . Assim, vem
n+1

limn→+∞ an = n
= limn→+∞ n+1
 n+2 1 n
n(1+ )
= limn→+∞ n(1+ n2 )
 n 
(1+ 1 )n
= limn→+∞ (1+ n2 )n
n
1 n
limn→+∞ (1+ n )
= 2 n
limn→+∞ (1+ n )
= e
e2
1
= e 6= 0.

+∞  n
X n+1
Como limn→+∞ an 6= 0 então a série diverge. Aqui vale apena dizer
n=1
n+2

obtemos
ln x
limx→+∞ x
1
= limx→+∞ x
1
1
= limx→+∞ x
1
= +∞
= 0.
ln x √
E portanto limx→+∞ e x = e0 = 1 e consequentemente tem-se limn→+∞ n
n=1
274
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

que se utilizamos o critério de Cauchy obtemos que


r n

limn→+∞ an = limn→+∞
n n+1
n+2

= limn→+∞ n+1
n+2
n(1+ 1 )
= limn→+∞ n(1+ n2 )
n
1+ 1
= limn→+∞ 1+ n2
n
=1 −

Notem que n+2


n+1
< 1 para todo n pois o denominador ser superior em valor ao nume-

rador, por essa razão o limite limn→+∞ n an = 1− . E portanto neste caso o critério
de Cauchy não permitiria concluir nada sobre a natureza da convergência da série
+∞  n
X n+1
.
n=1
n+2

Observação 21.15. Será natural perguntar quando utilizar o critério d’Alembert para
dectetar se uma série de números converge ou diverge. A resposta a esta questão será
quando o termo geral da série for um quociente de duas expressões que se encontram
factorizadas e que saibamos à partida que ou o númerador é bastante maior que o
denominador ou quando o denominador é muito maior que o numerador. Ou quando
o numerador é constante e por exemplo denominador é muito grande e é muito fácil
de factorizar. Esta regra de bom senso, é para não cairmos no caso em que o limite do
termo geral tende para L 6= 0. Assim, apresentamos um exemplo que verifica algumas
dãs regras de bom sendo ditas nesta observação.
+∞
X 1
Exercício 21.8. Mostre que a série é convergente. Utilize o critério de Alem-
n=1
n!
bert.
1
Resolução 21.8. Considere-se então an = n! . Então pelo critério d’Alemebert tem-se
que
1 1
an+1
limn→+∞ an = limn→+∞ (n+1)!
1 = limn→+∞ (n+1)n!
1
n! n!
1
= limn→+∞ n!
(n+1)n! = limn→+∞ n+1 =0
≤1
+∞
X an+1
Então como an é uma série de termos positivos e limn→+∞ an = 0 < 1 então
n=1
+∞
X 1
pelo critério d’Alembert a série converge. Note-se que é natural que a série
n=1
n!
seja convergente pois a n grande estamos a somar termos muito, muito pequenos.

Exercício 21.9. Sabendo que a soma dos n primeiros termos de uma série de nú-
meros reais é Sn = n+2
n+1
calcule o termo geral da série.
275
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Resolução 21.9. Tem-se


an = Sn − Sn−1
= n+1 n
n+2 − n+1
(n+1)2 −n(n+2)
= (n+2)(n+1)
n2 +2n+1−n2 −2n
= (n+2)(n+1)
1
= (n+2)(n+1) .

+∞
X 1
Exercício 21.10. Determine a soma da série .
n=1
n(n + 3)
 
1 1 1 1
Resolução 21.10. Tem-se n(n+3) = 3 n − n+1 . Assim, tem-se

+∞ +∞  
X 1 X 1 1 1
= −
n=1
n(n + 3) n=1 3 n n + 3
+∞  
1
X 1 1
= 3 −
n=1
n n+3

+∞  
X 1 1
Calcule-se agora a soma da série − . Tem-se:
n=1
n n+3

S1 = 1 − 14
 
S2 = 1 − 41 + 12 − 51
  
S3 = 1 − 41 + 12 − 51 + 13 − 61
   
S4 = 1 − 14 + 12 − 51 + 13 − 61 + 14 − 71
..
.
   
Sn= 1 − 14  + 21 − 15 + 31− 16 + 41 − 17 + · ·· + 
1
+ n−3 − n1 + n−2 1 1
− n+1 + n−1 1 1
− n−2 + n1 − 1
n+3

1 1 1 1 1
Assim, Sn = 1 + 2 + 3 − n+1 − n+2 − n+3 e portanto

1 1 11
lim Sn = 1 + + =
n→+∞ 2 3 6
+∞  
X 1 1 1 1 1 11 11
E portanto a soma da série − éS= limn→+∞ Sn = = e
n=1
3 n n+3 3 3 6 18

escrevemos
+∞  
11 X 1 1 1
= −
18 n=1 3 n n + 3

+∞
X 8n
Exercício 21.11. Encontre o valor de a de modo que a série seja
n=0
(a + 1)3n
convergente.
276
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

+∞ +∞  n
8n
X X 8
Resolução 21.11. Temos que = . Assim, podemos
n=0
(a + 1)3n n=0
(a + 1)3
+∞
X 8n 8
dizer que a série é uma série geométrica cuja razão é r = (a+1)3 . Donde
n=0
(a + 1)3n
+∞
X 8n
a série será convergente se e só se |r| < 1. Ou seja será convergente se
n=0
(a + 1)3n

8
e só se (a+1) 3 < 1. Considerem-se as seguintes equivalências:


8 8
(a+1)3 < 1 ⇔ |(a+1)3 | <1
8 < |(a + 1) | ⇔ |a + 1| > 2
3

(a + 1 < −2) ∨ (a + 1 > 2)


(a < −3) ∨ (a > 1).

+∞
X 8n
Donde, a série converge se e só se a ∈] − ∞, −3[∪]1, +∞[.
n=0
(a + 1)3n
+∞
X +∞
X
Exercício 21.12. Considerem-se as séries an e bn de termos positivos tal
n=1 n=1
que existe p ∈ N tal que para n > p se verifica an > 0 e bn > 0 e de tal modo que é
verificada a desigualdade (21.8).

an+1 bn+1
≤ . (21.8)
an bn
+∞
X +∞
X
para n > p. Mostre que então se bn converge então an converge.
n=1 n=1

Resolução 21.12. Como aan+1 n


≤ bn+1 an+1 an
bn para n > p então bn+1 ≤ bn para n > p.
Assim, podemos dizer que para n > p + 1 que abn+1
n+1
≤ abnn . Mas então a sucessão abnn é
um sucessão decrescente e minorada logo converge para o infimo do seu contradomínio.
ap+1 ap+1
Mas por sua vez, podemos dizer abnn ≤ bp+1 para n ≥ p + 1. Considerando C = bp+1
então mostramos que para n ≥ p + 1 que abnn ≤ C e portanto, mostramos que para
+∞
X +∞
X
n ≥ p + 1 que an ≤ Cbn . Assim, como bn converge então an também converge.
n=1 n=1

+∞
X
Exercício 21.13. Suponha que a série de termos positivos converge. Prove que
n=1
+∞ +∞
X √ X √
a série an an+1 também converge. Mostre que se an an+1 converge e se an
n=1 n=1
+∞
X
é uma sucessão decrescente então podemos concluir que a série an converge.
n=1
277
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

√ √ √ √ √
Resolução 21.13. Seja n ∈ N então ( an − an+1 )2 ≥ 0, isto é ( an )2 −2 an an+1 +
√ √
( an+1 )2 ≥ 0 e portanto an +a
2
n+1
≥ an an+1 . Logo, pelo primeiro critério de compa-
+∞
X +∞
X
ração como a série an converge então a série an+1 também converge e portanto
n=1 n=1
+∞
X an + an+1 an +an+1 √
a série converge logo como ≥ an an+1 para todo n ∈ N então
n=1
2 2

+∞
X √
pelo primeiro critério de comparação de séries concluimos que a série an an+1
n=1
converge.
Se a sucessão an é uma sucess ao decrescente então an ≥ an+1 e portanto an an+1 ≥
+∞
√ X √
a2n+1 , ou seja an an+1 ≥ an+1 Logo, se a série ak ak+1 converge então a série
k=1
+∞
X +∞
X
an+1 converge e portanto a série an converge.
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
Exercício 21.14. Suponha que a2n e que b2n são séries convergentes mostre
n=1 n=1
+∞
X
que então a série an b n .
n=1

Resolução 21.14. Como para n ∈ N então a2n − 2an bn + b2n ≥ 0 e portanto a2n + b2n ≥
+∞
X +∞
X
2an bn . Como a2n e b2n são convergentes então pelo primeiro critério comparação
n=1 n=1
+∞
X
a série an bn converge.
n=1
+∞
X a2n
Exercício 21.15. Seja an uma série de termos positivos. Mostre que a
n=1
1 + n2 a2n
é convergente.
a2 a2
Resolução 21.15. Seja n ∈ N. Como para n ∈ N se tem 1+nn2 a2 ≤ n2 an2 e portanto
n n
+∞ +∞
a2n
X 1 X a2n
verifica-se que 1+n2 a2 ≤ n12 . Assim, como converge então a série
n
n=1
n2 n=1
1 + n2 a2n
converge.
+∞
X
Exercício 21.16. Mostre que se a série de números reais posítivos an converge
n=1
+∞
X
então a série a2n converge.
n=1
+∞
X
Resolução 21.16. Como a série an converge então limn→+∞ an = 0, mas então
n=1
278
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

seja p um número natural tal que para n > p se tenha an < 1. Mas então para n > p
+∞
X
temos que a2n ≤ an . Logo como a série an converge então pelo primeiro critério
n=1
+∞
X
de comparação de séries a série a2n converge.
n=1

+∞
X +∞
X
Definição 21.9. Sejam an e bn duas séries de números reais. Define-se
n=0 n=0
+∞
X +∞
X +∞
X
o producto de Cauchy das séries ak e bk como sendo a série cn onde
n=1 n=1 n=0
n
X
cn = ak bn−k .
k=0

+∞
X +∞
X
Observação 21.16. A série producto de Cauchy das séries an e bn denota-se
n=0 n=0
+∞
X +∞
X +∞
X
por an × bn . E o producto de Cauchy da série an por ela própria denota-se
n=0 n=0 n=0
+∞
!2
X
por an
n=0

+∞
!2
X 1
Exercício 21.17. Determine o producto de Cauchy .
n=0
2 n

+∞  2 +∞  2 +∞
X 1 X 1 X
Resolução 21.17. Temos que . Temos que = cn , onde
n=0
2n n=0
2n n=0
n    n +∞  2
X 1 1 X 1 X 1
cn = . Donde c n = e portanto c n = n
. Donde =
2i 2n−i 2n 2n
2n

i=0 i=0 n=0


+∞
X n
.
n=0
2n

279
Breves Apontamentos Introdução à Análise Matemática 1

Bibliografia
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