Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
17.5.21
Admilson Lima Semedo
17.5.21
Admilson Lima Semedo, autor da
monografia intitulada “Projeto de Sistema de
Reutilização das Águas Cinzas tratadas do
Edifício B da UniPiaget”, declaro que, salvo
fontes devidamente citadas e referidas, o
presente documento é fruto do meu trabalho
pessoal, individual e original.
Em Cabo Verde, a escassez dos recursos hídricos potenciais constitui uma realidade natural,
associado ao crescimento demográfico e/ou as alterações climáticas. A utilização das
disponibilidades hídricas nacionais é muito dificultada pela irregularidade da sua ocorrência,
tanto no espaço territorial como no tempo. A variabilidade climática do território cabo-verdiano
é a primeira razão para as acentuadas diferenças espaciais que se observam na disponibilidade
de recursos hídricos no nosso país. Os problemas acarretados pela falta de água para rega variam
em retardo no progresso, limitação de atividades económicas e menor qualidade de vida. Uma
alternativa para esses problemas hídricos é a reutilização das águas residuais tratadas. A
reutilização pode ser dada pelas águas cinzas, que são águas servidas provenientes de pontos
da edificação como chuveiros, lavatórios de banheiros, máquinas de lavar roupa, excluindo
águas provenientes de pias de cozinha e vasos sanitários, em função da necessidade de um
maior nível de tratamento.
Com um tratamento correto, essas águas, ao invés de serem despejadas no esgoto doméstico,
podem obter outras funções como reuso para rega agrícola, rega paisagística, uso em descargas
de sanitários, lavagem de carros, uso em mictórios e lavagem de calçadas, reduzindo assim a
quantidade de água despejada e participando para conservação dos recursos hídricos.
A Deus, pelo dom da vida, por me conceder tantas Graças em forma de oportunidades e por
nunca ter me desamparado.
Aos meus pais José Gomes Varela Semedo e Ilda Taty de Araújo Lima, pelo amor
incondicional, serem meus exemplos de caráter e dignidade, e por acreditarem sempre em
mim.
Ao Filipe Leite, Ricardo Marques, Djena Cande, Dona Mila e Nhá Lina, meus amigos, por
cada palavra de incentivo e por terem sempre acreditado em minha pessoa.
Ao meu co-orientador Professor Doutor José Pedro Varela Da Silva pelo apoio e orientaçôes
na relalização da parte final do trabalho.
À Senhor Administradora da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, Dra. Roseli Rocha,
por abraçar este e outros projetos apresentados, desde a criação do Clube de Ciência “Club
I3” até agora, participando ativamente no desenvolvimento deste trabalho. Ao anterior
Administrador, Dr. Carlos Mota, pela confiança e por me ter incentivado a continuar os meus
estudos.
Conteúdo:
1 INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 13
1.1 Objetivos Geral e específicos -------------------------------------------------------------- 14
1.1.1 Objetivo Geral -------------------------------------------------------------------------- 14
1.1.2 Objetivos específicos ------------------------------------------------------------------ 14
2 REVISÃO DA LITERATURA ---------------------------------------------------------------------- 15
2.1 Escassez hídrica ------------------------------------------------------------------------------ 15
2.1.1 Escassez hídrica em Cabo Verde ---------------------------------------------------- 16
2.2 Reutilização da água como estratégia de conservação dos recursos hídricos ----- 20
2.2.1 Conceitos e definições ---------------------------------------------------------------- 20
2.2.2 Aplicação da reutilização da água --------------------------------------------------- 20
2.2.3 Reutilização de água como estratégia de conservação dos recursos hídricos - 21
2.3 Efeito ambientais e sanitários no processo de reutilização de água ----------------- 22
2.3.1 Efeito sanitários no processo de reutilização de água ---------------------------- 22
2.3.2 Efeitos da qualidade das águas residuais tratadas nas plantas e no solo ------- 22
2.4 Reutilização de água para rega agrícola e paisagística ------------------------------- 24
2.4.1 Água tratada para rega agrícola ------------------------------------------------------ 24
2.4.2 Água tratada para rega paisagística ------------------------------------------------- 25
2.5 Critérios e parâmetros para controlo da qualidade da água para irrigação ------- 25
2.6 Sistemas de reutilização de águas cinzas tratadas -------------------------------------- 26
2.6.1 Tratamento da água cinza ------------------------------------------------------------- 26
2.6.1.1 Tratamento primário ------------------------------------------------------------- 27
2.6.1.2 Tratamento secundário ---------------------------------------------------------- 27
2.6.1.3 Tratamento terciário ------------------------------------------------------------- 29
2.6.1.4 Sistema de reutilização de águas cinzas tratadas ---------------------------- 30
2.6.1.5 ETAR em Cabo Verde ---------------------------------------------------------- 31
3 ESTUDO DE CASO -------------------------------------------------------------------------------- 33
3.1 Introdução ------------------------------------------------------------------------------------ 33
3.2 Redimensionamento das instalações sanitárias do edifício B ------------------------- 34
3.2.1 Descrição da instalação --------------------------------------------------------------- 34
3.2.2 Redimensionamento das instalações sanitárias do edifício B ------------------- 37
3.3 Avaliação da qualidade da água cinza produzida no edifício B ---------------------- 45
3.3.1 Análise dos resultados ----------------------------------------------------------------- 47
3.3.2 Características Físicas e Químicas: ------------------------------------------------- 47
3.3.2.1 Características microbiológicas: ----------------------------------------------- 51
3.3.3 Conclusão e escolha do sistema de tratamento: ----------------------------------- 51
3.3.4 Teste da solução proposta: ------------------------------------------------------------ 55
3.4 Dimensionamento do sistema de tratamento --------------------------------------------- 55
3.5 Estudo da viabilidade financeira ---------------------------------------------------------- 66
3.5.1 Sem sistema de reuso ------------------------------------------------------------------ 66
3.5.2 Com sistema de reuso ----------------------------------------------------------------- 68
3.5.2.1 Custo de água com sistema de tratamento ----------------------------------- 68
3.5.2.2 Manutenção dos equipamentos ------------------------------------------------ 69
3.5.2.3 Custo de energia ----------------------------------------------------------------- 69
3.5.2.4 Controlo de qualidade de água ------------------------------------------------- 71
8/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
9/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Tabelas:
Tabela 1- Características das estações de tratamento das águas residuais (ETAR) existentes
no país. ..................................................................................................................................... 32
Tabela 2- Caudais mínimos de descarga dos aparelhos sanitários ......................................... 38
Tabela 3- Diâmetros mínimos dos ramais de descarga individuais. ....................................... 39
Tabela 4- Dimensionamento dos ramais de descargas individuais do Piso 1 ......................... 39
Tabela 5- Dimensionamento dos ramais de descarda individuais do Piso 0........................... 40
Tabela 6- Diâmetros de ramais de descarga e inclinação dos ramais .................................... 41
Tabela 7- Dimensionamento dos ramais de descarda não individuais do Piso 1 .................... 41
Tabela 8- Dimensionamento dos ramais de descarda não individuais do Piso 0 .................... 41
Tabela 9- Dimensionamento dos tubos de queda ..................................................................... 42
Tabela 10- Dimensionamento dos tubos de quedas das águas cinzas ..................................... 43
Tabela 11- Dimensionamento dos tubos de quedas das águas negras .................................... 43
Tabela 12- Dimensionamento de coletores prediais. ............................................................... 44
Tabela 13- Dimensionamento dos coletores prediais das águas negras ................................. 45
Tabela 14- Dimensionamento dos coletores prediais das águas cinzas .................................. 45
Tabela 15- Parâmetros Físico-químicos da água dos lavatórios do edifício B ....................... 47
Tabela 16- Comparação dos parâmetros físico-químicos dos resultados e os parametros do
Decreto-Lei no 4/2020, de 2 de março ..................................................................................... 49
Tabela 17- Eficiência de remoção de poluentes químicos submetidos a tratamento primário,
secundário, terciário e avançado ............................................................................................. 50
Tabela 18- Faixa prováveis de remoção dos poluentes, conforme o tipo de tratamento e as suas
características. ......................................................................................................................... 52
Tabela 19- Dimensionamento do filtro da Areia e Brita .......................................................... 59
Tabela 20- Dimensionamento do reator de desinfeção UV ..................................................... 59
Tabela 21- Tabela de perda de carga localizada ..................................................................... 62
Tabela 22- Perda de carga localizada. .................................................................................... 64
Tabela 23- Fatura do consumo de água dos lavatórios. .......................................................... 67
Tabela 24- Fatura do consumo com sistema de reuso. ............................................................ 68
Tabela 25- Fatura do consumo de energia. ............................................................................. 70
Tabela 26- Custo médio mensal com o Sistema de Reúso de Águas Cinzas. ........................... 72
10/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Figuras :
Figura 1-Distribuição da Água no Planeta Terra ................................................................... 15
Figura 2 - Isoietas de Precipitação Media ............................................................................... 18
Figura 3- Chuvas torrenciais no mês de setembro de 2020 em Santiago ................................ 19
Figura 4- Conversão biológica da matéria orgânica nos sistemas aeróbios e anaeróbios de
tratamento de esgoto sanitário ................................................................................................. 28
Figura 5- Processos de desinfeção de esgotos sanitários ........................................................ 29
Figura 6- Fluxograma conceitual das instalações prediais de sistemas de água não potável 31
Figura 7- Edifício B da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. ........................................ 33
Figura 8- Rede separativo da água cinza (amarelo) e água negra (vermelho) no piso 1 do
edifício B. .................................................................................................................................. 35
Figura 9- Rede separativo Água Cinza (amarelo) e Água Negra (vermelho) no piso 0 do edifício
B. ............................................................................................................................................... 36
Figura 10- Câmaras de inspeção “casa de banho Homem” do edifício B. ............................. 46
Figura 11- Amostras das águas cinzas dos lavatórios e da pia da cantina. ............................ 46
Figura 12- Método de Rega...................................................................................................... 49
Figura 13- Esquema do sistema filtro de areia + desinfeção por UV ..................................... 53
Figura 14- Esquema do sistema de tratamento das águas cinzas............................................ 54
Figura 15- Vista da universidade nas diferentes épocas do ano ............................................. 73
11/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Quadros :
Quadro 1- Características das Águas Residuais que podem ser prejudiciais ao sistema solo-
planta ........................................................................................................................................ 23
12/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
1 Introdução
A água é o recurso natural mais valioso do planeta, pelo que a sua conservação constitui um
dos mais importantes pilares do desenvolvimento sustentável. Nas regiões em que a escassez
de recursos hídricos constitui uma realidade natural e naquelas em que o crescimento
demográfico e/ou as alterações climáticas perspetivam essa escassez, a gestão sustentável dos
recursos hídricos implica a conservação destes recursos e inclui, por conseguinte, a reutilização
da água. Noutras situações de menor escassez de água, a reutilização é praticada por imperativos
de proteção ambiental dos meios recetores.(Helena Monte,Antonio Al,2010)
Em Cabo verde, a reutilização da água para usos não potáveis constitui uma estratégia de
conservação da água que se revela necessária na atualidade, diante da escassez de água que
afeta principalmente as zonas situadas abaixo de 400 m de altitude, com precipitação anual que
não ultrapassa 300 mm, e igualmente as zonas situadas a mais de 500 m de altitude e expostas
aos ventos alísios, com precipitação a rondar 700 mm. Contudo, as ilhas mais aplanadas podem
registrar precipitações anuais inferiores a 250 mm, sendo, portanto, enquadráveis no clima
árido. (INGRH, 2000)
Cabo verde dispõe atualmente de uma significativa taxa de cobertura do país com serviço de
tratamento de águas residuais urbanas, ao nível de tratamento secundário e terciário, com 11
Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), sendo 9 em funcionamento nos concelhos
da Praia, Santa Catarina, Santa Cruz, Tarrafal de Santiago, São Miguel, São Vicente (Mindelo),
Sal (Santa Maria), Boa Vista e Maio. O efluente final das ETAR existentes representa um
volume de água apreciável, o qual pode constituir uma origem alternativa a aproveitar para
novas utilizações, nomeadamente para rega agrícola.
13/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Outras alternativas de tratamentos de águas residuais mais simples e económicas podem ser
desenvolvidas a nível doméstico, edifícios públicos e zona rurais de difícil acesso, através da
reutilização de águas cinzas, que representam uma grande quantidade de efluente, e que podem
ser utilizadas para rega e outros usos.
Em Cabo Verde não há ainda orientação e metodologia técnicas para a reutilização de águas
residuais. Por isso, o presente trabalho tem como objetivo contribuir para alicerçar em moldes
sustentáveis o desenvolvimento da prática da reutilização de águas residuais no país, dando
resposta à escassez da água para rega, mas também participar, de certa forma, na estratégia de
gestão sustentável dos recursos hídricos.
14/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
2 Revisão da literatura
A água é o recurso natural mais valioso do planeta, pelo que a sua gestão e conservação
constituem um dos mais importantes pilares do desenvolvimento sustentável.
Nas regiões em que a escassez de recursos hídricos constitui uma realidade natural e
naquelas em que o crescimento demográfico e/ou as alterações climáticas perspetivam essa
escassez, a gestão sustentável dos recursos hídricos implica a conservação destes recursos
e inclui, por conseguinte, a reutilização da água. (Jerome Antunes,2020)
A água existe, simultaneamente, nos três estados físicos possíveis (sólido, líquido e gasoso)
e numa diversidade de situações. Embora exista em grande quantidade no Planeta Terra
(aproximadamente 1380 milhões de km3), a maior parte da água (cerca de 97,5%) é salgada
e, em consequência, de difícil aproveitamento para grande parte das utilizações mais
frequentes (cf. Figura 1). Ademais, dos 2,5% da água doce, 70% são utilizados na
agricultura, 20% na indústria e 10% no uso doméstico (aproximadamente 38 milhões de
km3), distribuídos do seguinte modo:
15/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Verifica-se, assim, que aproximadamente 3⁄4 da água doce se encontra num estado em que
não é possível a sua utilização, pelo menos a curto e médio prazo, sendo as águas
superficiais uma ínfima parte dessa água.
Para além da sua escassez, a água apresenta ainda uma distribuição irregular no espaço e
no tempo, sendo flagrante o contraste entre regiões secas e húmidas bem como os períodos
de cheia e de estiagem de cursos de água. (Paulo Alexander, 2018).
Em Cabo verde, a reutilização da água para usos não potáveis constitui uma estratégia de
conservação da água que se revela necessária na actualidade, em face da escassez de água
que afecta principalmente o setor agrícola, onde 50% da água subterrânea é utilizada para
fins agricola.
Enquadramento:
A República de Cabo Verde, com uma área total é de 4.033 Km2, é um País insular, situado
à 500 km da Costa Ocidental da África. Composto por 10 ilhas de origem vulcânica, 9 das
quais habitadas e com uma população de 492.654 habitantes (Censo 2010), pertencentes a
zona climática Saheliana árida, onde a precipitação anual é muito limitada e a estação da
chuva vai de Agosto a Outubro.
Do ponto de vista climático, o arquipélago de Cabo Verde situa-se numa vasta zona de
clima árido e semiárido, que atravessa a África desde o Atlântico ao Mar Vermelho e se
prolonga pela Ásia. A ocorrência das precipitações está fortemente condicionada pela
posição, ao longo do ano, da Convergência Intertropical (CIT). Quando a CIT atinge a
16/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
latitude do arquipélago, a ilha recebe os aguaceiros da sua estação húmida. Nos anos em
que a CIT, nas suas migrações para norte, demora pouco tempo na região do arquipélago,
ou não chega mesmo a atingi-lo, as precipitações são escassas (Amaral, 1964).
O clima é então caracterizado por uma longa estação seca (8 a 10 meses) e uma curta estação
das chuvas com uma pluviosidade média anual que não ultrapassa 300 mm para 65% do
território situado a menos de 400 m de altitude. Nas zonas situadas acima de 500 m de
altitude, as precipitações podem atingir 700 mm no periodo chuvoso, devido em parte
também à influência dos alísios.
Observações realizadas durante 265 anos (1718 - 1983) mostraram 97 anos de secas mais
ou menos severas, o que equivale a 1 ano de seca em cada 3 anos. Durante o mesmo período
verificaram-se 14 secas com a duração de mais de 3 anos consecutivos. As temperaturas
são geralmente moderadas devido à influência marítima com uma média anual de 27ºC.
• Zona árida: do litoral entre 0 e 200m de altitude, de carácter desértico, foi ao longo
dos anos beneficiado com uma pluviometria anual inferior a 300 mm. A vegetação
é, geralmente, do tipo estepe herbácea;
• Zona semi - árida: situa-se entre 200 e 400 m de altitude, com uma pluviometria
inter-anual que oscila entre 300 e 400 mm. Embora esta zona seja marginal para
agricultura, aqui é praticada em forma de culturas de subsistência nos anos de boa
pluviometria. A vegetação natural em pouco difere da zona árida embora seja mais
diversificada (6º SILUSBA” – Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos
Países de Língua Oficial Portuguesa 821);
• Zona sub - húmida: localizada entre 400 e 600 m de altitude, com uma
pluviometria interanual que oscila entre 400 e 600 mm.
Esta zona é mais vocacionada para a agricultura, podendo encontrar-se aqui várias
espécies lenhosas, arbustivas e arbóreas disseminadas pelos campos agrícolas, tais
17/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
• Zona húmida: situada acima dos 700 m de altitude, com uma pluviometria média
anual superior a 600 mm. Em termos de produção agrícola e forrageira é a mais
produtiva. Nas principais ilhas agrícolas do país (Santo Antão, Santiago, S. Nicolau
e Fogo), estas zonas são consideradas de uma importância vital para a infiltração
das águas pluviais e a recarga dos auíferos.
Apesar dos reduzidos valores médios anuais das precipitações, nos anos mais húmidos são
comuns as chuvas torrenciais, concentradas em apenas algumas horas. Estas chuvadas, por
razões ligadas à fisiografia e utilização dos solos, escoam-se muito rapidamente, dando origem
a cheias que fazem transbordar o leito das ribeiras e arrastam à sua passagem culturas, animais
e construções, situação que contrasta com os anos em que a precipitação é praticamente nula
em todo o território (Ventura, 2009). A Figura 3 ilustra os estragos provocado pelas chuvas
torrenciais na ilha de Santiago, em setembro de 2020,no bairro de Calabaceira Cidade da Praia.
18/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
A geologia da maior parte das ilhas é dominada por emissões de escoadas lávicas e de materiais
piroclásticos (escórias, bagacinas ou "lapilli" e cinzas) subaéreos, predominantemente
basálticas (Gomes e Pina, 2009). Em consequência, os solos são geralmente de textura grosseira
e delgados, com reduzida capacidade para reter a água. Nestas condições as chuvadas
torrenciais abrem grandes rasgos na paisagem onde os homens cultivam hortas abrigadas dos
ventos secos e do calor. As nascentes e as chuvas concentradas alimentam as culturas hortícolas
e frutícolas nesses vales húmidos.
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. É desta
forma que é feito o abastecimento dos principais centros urbanos (Sal, Mindelo, Boa Vista,
Praia) que, com exceção da ilha da Boa Vista, é da responsabilidade da concessionária Empresa
de Eletricidade e Água (Electra) através do processo da osmose inversa. A capacidade instalada
para a produção de água dessalinizada em Cabo Verde era, em 2009, de 25.950 m3/dia
(Carvalho et al., 2010).
19/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
sempre atual. Pois, o gasto energético médio para a produção de água dessalinizada é de 3,45
kWh/m3, o que se traduz num gasto energético total anual de 8,9 milhões de kWh, o que
representa cerca de 22 % de toda a energia consumida no país.
Perante este cenário torna-se necessário um novo paradigma de gestão e governança da água,
que fará da Reutilização das águas cinzas tratadas um grande desafio e uma importante
estratégia de conservação dos recursos hídricos.
Friedler e Hadari (2006) definem a água cinzenta como toda a água com origem em
equipamentos geradores de efluentes numa casa com exceção dos sanitários (Friedler, 2006;
Nolde, 1999). Esta é a definição mais aceite entre vários autores, contudo as divergências entre
definições ocorrem nas águas provenientes de equipamentos de lavagem de louça, pois este tipo
de efluentes são os que apresentam maior carga orgânica e concentração de sólidos resultantes
de resíduos alimentares.
O manual para aproveitamento emergencial das águas cinzas (IPT, 2016) define águas cinzas
como as águas já utilizadas em tanques e máquinas de lavar roupa, no banho e em lavatórios de
banheiro. Não se incluem as águas da pia da cozinha e da bacia sanitária.
A utilização de águas residuais tratadas é praticada preferencialmente para usos que requerem
maior procura deste recurso e que sejam compatíveis com a qualidade mais corrente dos
efluentes de ETAR. A rega agrícola é o grande domínio de aplicação da reutilização de águas
20/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
residuais, pois a agricultura consome cerca de 65% dos recursos hídricos utilizados,
percentagem que diminui nos países de agricultura mais desenvolvida e aumenta nos restantes
(Asano et al., 2007). Em cabo verde também a agricultura consome muita água, pois os últimos
estudos mostram que aproximadamente 50% dos recursos hídricos são utilizados para rega.
Mas a água pode ser reutilizada para diversas outras finalidades, nomeadamente (por ordem
decrescente de volume utilizado) rega paisagística (aplicação na qual se destaca a rega dos
jardins públicos, campos de bola ou de golf), a reutilização industrial (principalmente como
reciclagem de água de arrefecimento), a recarga de aquíferos, determinados usos recreativos e
ambientais, usos urbanos que não obrigam à utilização de água potável e até como reforço de
origem de água bruta para produção de água para consumo humano.
Outra finalidade da reutilização da água é na construção civil. Pois, o reúso da água no canteiro
de obras pode gerar economia de 30% a 50% do consumo e ainda reduzir a produção de esgoto,
medida importante para áreas onde não há sistema de tratamento.
A água de reúso pode ser utilizada na descarga sanitária dos alojamentos, na irrigação de jardins
ou para molhar a terra, visando baixar a poeira do terreno em dias secos. Outra possibilidade
de aproveitamento é na elaboração do concreto, mas isso é algo que precisa ser feito com
cuidado. “Caso a água não potável seja procedente de água cinza, a utilização não requer
cuidados. Mas se ela for obtida do tratamento de água negra ou do esgoto predial pode alterar
a qualidade do concreto devido ao nitrogênio presente na urina”, alerta Ricardo Franci
Gonçalves.1
A utilização de águas residuais tratadas contribui para uma gestão dos recursos hídricos mais
sustentável, na medida em que:
1
Professor Doutor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo.
21/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Porém, há perigos cujo risco deve ser avaliado. Os microrganismos patogénicos podem
provocar doenças nos seres humanos e nos animais, algumas de grande gravidade. Igualmente,
certas substâncias, geralmente removidas de forma insuficiente no processo de tratamento, são
perigosas para a saúde humana quando ingeridas e, em alguns casos também, por contacto com
o corpo humano. A reutilização de águas residuais não representa apenas riscos de saúde
pública e animal, pois os seus constituintes também podem afectar o ambiente.
Neste sentido uma avaliação da qualidade da água residual torna-se necessária antes e pós-
tratamento, para garantir uma qualidade da água no sentido de se preservar a saúde publica e o
meio ambiente (plantas e solo), tendo como base os padrões estabelecidos pelas leis em vigor.
(Antonio, A. e Helena, M,2010)
2.3.2 Efeitos da qualidade das águas residuais tratadas nas plantas e no solo
22/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
constituintes presentes nos efluentes tratados, interagem com as plantações por elas regadas e
com o solo de suporte ao crescimento das mesmas, podendo esta interacção ser a causa de
alguns riscos para a planta, para a saúde pública e para o ambiente. Exemplo disso é a
acumulação excessiva de sais e metais pesados na planta e no solo, provocando
consequentemente um elevado risco de toxicidade nas plantas (Diana Oliveira, 2012).
Quadro 1- Características das Águas Residuais que podem ser prejudiciais ao sistema solo-planta
23/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Microrganismos
Coliformes Fecais - Organismos causadores de patogenicidade
patogénicos
A reutilização de águas residuais para a rega agricola é uma prática muito antiga, sendo
atualmente a aplicação de maior volume, tanto nos países de agricultura mais desenvolvida
como nos países em desenvolvimento.
Como anteriormente referido, a qualidade de águas residuais tratadas para rega deve satisfazer
os requisitos agronómicos e os requisitos de protecção da saúde pública. Deve satisfazer as
necessidades hídricas das plantas e não, pelo contrário, ser o veículo de aplicação de substâncias
prejudiciais ao seu desenvolvimento (como o excesso de sais dissolvidos, de sódio, de metais
pesados, de cloro residual) e podendo transportar substâncias benéficas ao desenvolvimento da
planta (como os chamados nutrientes – compostos de nitrogênio e de fósforo –, o potássio, o
zinco, o enxofre e boro, por exemplo). A protecção da saúde pública exige que o teor de
microrganismos, indicadores de contaminação fecal, seja compatível com o tipo de exposição
humana e animal à rega e aos produtos regados.
O método de irrigação pode proporcionar o contacto directo com as culturas como acontece
com a rega por aspersão e, nesse caso, o tratamento de águas residuais a utilizar na rega deve
24/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
incluir a desinfecção. Tratamento que será indispensável em certas aplicações, em especial nas
culturas destinadas a serem consumidas cruas. Assim, o nível de tratamento das águas residuais,
o método de rega e o tipo de cultura a regar constituem três variáveis dependentes entre si, com
as quais é possível controlar os riscos de saúde pública (Antonio Al. e Helena M,2010).
A chamada rega paisagística consiste na rega de espaços verdes ornamentais, como parques e
jardins, separadores de auto-estradas, relvados de campos desportivos, nomeadamente de
campos de golfe.
Em Cabo verde, assiste-se a um interesse crescente pela reutilização de águas residuais tratadas
na rega paisagística, principalmente na irrigação dos jardins que consomem uma quantidade
enorme de água.
Os fatores que condicionam a reutilização para rega paisagística são os mesmos referidos para
a rega agrícola, isto é, características químicas favoráveis ao desenvolvimento das plantas e
características microbiológicas compatíveis com a adequada proteção da saúde pública, embora
geralmente esta seja considerada primordial, dada a elevada probabilidade de contacto humano
com os relvados, nomeadamente no caso dos campos de golfe (António, A. e Helena, M,2010).
25/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
reutilização direta ou indireta para produção de água potável, em que a presença no efluente
recuperado de determinados compostos, nomeadamente muitas moléculas orgânicas
complexas, potencialmente cancerígenas, representa também um risco significativo para a
saúde pública (António, A. e Helena, M,2010).
Em cabo verde, a reutilização da água tratada para rega obedece ao estatuído no Decreto-Lei no
4/2020, de 2 de março, que define os parâmetros para controlo da qualidade da água, no que
respeita aos parâmetros físicos, químicos e biológicos que definem a qualidade da água aceite
como adequada para rega, parâmetros que devem ser observados com vista à proteção da Saúde
pública e do ambiente.
O referido diploma legal autoriza a utilização de APR (Aguas pluviais reutilizaveis) e ART
(Aguas residuais tratadas )destinadas a rega, classificando como águas de rega aquelas que
satisfazem o Valor Máximo Admissível (VMA) e o Valor Máximo Recomendado (VMR),
conforme o estatuído no seu artigo 6o, no qual estão definidos os parâmetros que determinam
os métodos e critérios de qualidade da água de rega.
Conforme os poluentes contidos nos efluentes, que podem ser de natureza física, química e
biológica, os processos de tratamento podem também ser classificados. Assim, as principais
características a serem consideradas na definição do tipo de tratamento de águas cinzas para
reúso são a grande variação de vazão em períodos curtos de tempo e a elevada
biodegradabilidade. Existe uma grande variedade de processos desenvolvidos, variando desde
sistemas simples em residências até séries de tratamentos avançados para reúso em larga escala
(JEFFERSON et al, 1999).
26/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Tendo em vista as grandes variações de caudal de águas cinzas na escala horária, a utilização
de um tanque de equalização de vazões pode ser importante, dependendo do tipo de tratamento
a ser praticado para regularizar cargas e vazões.
A presença de sólidos grosseiros nas águas cinzas, embora de dimensões reduzidas devido à
presença dos ralos e grelhas nas instalações hidro-sanitárias, impõe a necessidade de uma etapa
de tratamento primário. Podem vir a ser consideráveis as quantidades de areia, cabelos, felpas
de tecidos, restos de alimentos, entre outros tipos de material. A remoção destes sólidos
grosseiros pode ser realizada por meio de grades finas ou peneiras, raramente associadas a uma
etapa de sedimentação (caixa retentora de areia).
Para Christova-Boal et al. (1996), a etapa de filtração de águas cinzas deve ser composta por
três estágios:
Se não houver aproveitamento de água cinza originária de cozinhas, não é necessária a inclusão
de caixas de gordura no fluxograma da Estação de Tratamento de Águas Cinzas (ETAC).
27/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Nos sistemas anaeróbios ocorre a conversão da maior parte do material orgânico biodegradável
presente na água residuária em biogás, entre os 70 e 90% (cf. Figura 4). Cerca de 5% a 15% da
matéria orgânica é transformada em biomassa microbiana, constituindo-se no lodo excedente
do sistema. O efluente do sistema contém cerca de 10% a 30% da matéria orgânica nele presente
antes do tratamento. Já nos sistemas aeróbios, a degradação biológica é responsável pela
conversão de 40 a 50% da matéria orgânica da água residuária em CO2. Uma importante fração
desta matéria orgânica (de 50 a 60%) é convertida em biomassa microbiana, produzindo lodo
excedente do sistema. O material orgânico não convertido em gás carbônico ou em biomassa
sai no efluente como material não degradado (5 a 10%). (PROSAB,2006)
Figura 4- Conversão biológica da matéria orgânica nos sistemas aeróbios e anaeróbios de tratamento
de esgoto sanitário
Com relação aos processos aeróbios mais utilizados no tratamento de esgoto sanitário, podem
ser citados o tratamento no solo (Vala de filtração, Infiltração rápida, Irrigação subsuperficial e
Escoamento superficial), o tratamento em lagoas (Lagoas de estabilização facultativas, Lagoa
de polimento, Lagoa de alta taxa de produção de algas) e o tratamento em reatores com biofilme
(Filtro biológico percolador, Biofiltro aerado submerso, filtro biológico aerado submerso, Leito
fluidizado aeróbio). Além do tratamento em reatores de lodos ativados (Sistema de lodos
ativados convencional, Sistema de reatores sequenciais em batelada), existe ainda o tratamento
em sistemas de flotação (Microaeração e Flotação, Flotação por Ar Dissolvido).
28/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
29/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Um Sistema de Reutilização de Águas Cinzas Tratadas (SRACT) pode ser definido como o
conjunto das infraestruturas que tratam as águas cinzas a um nível adequado para subsequentes
utilizações e as conduzem aos respetivos utilizadores.
De acordo com o Relatório Técnico 5/2017, um SRACT compreende sempre uma ou várias
estações de tratamento de águas residuais e redes de distribuição do efluente tratado ao(s)
utilizador(es). Dependendo do tipo de utilização da água e das condições físicas locais, um
sistema de reutilização de águas cinzas pode incluir ou não:
Segundo o relatório acima referido, os sistemas prediais de água não potável fazem uso de
fontes alternativas de água, promovendo um abastecimento alternativo em usos que não
oferecem riscos à saúde humana em edificações. Estes sistemas apresentam, em suas
instalações hidráulicas, uma série elementos em comum, conforme ilustra a Figura 6.
30/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Figura 6- Fluxograma conceitual das instalações prediais de sistemas de água não potável
31/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Tabela 1- Características das estações de tratamento das águas residuais (ETAR) existentes no país.
Capacidade Capacidade
Início de instalada em instalada em Linha de tratamento
Ilha Localidade Usos
Exploração EETAR ETAR dos efluentes
2010(m3/d) 2018(m3/d)
Possível de
Tratamento Preliminar
Tarrafal 2009 1910 663 reutilizar na
+ LA+ LF + LM
irrigação.
Reutilização
Em Tratamento Preliminar
Sao Miguel 1000 900 muito
construção. + Sedimentação
condicionada.
Santiago Tratamento Preliminar
Reutilização
Santa Cruz 2009 1500 1000 + Sedimentação + IP +
condicionada
F
Santa Catarina 225
Reutilização Tratamento Preliminar
Achada S.A
condicionada. + La
Tratamento Preliminar
Possível de
Palmarejo 1997 14000 8120 + Sedimentação +
reutilizar.
La + UV + Cl
Com
São Ribeira de Tratamento Preliminar
1983 5000 5000 reutilização
Vicente Vinha + LA+ LF + LM
na irrigação.
Tratamento Preliminar
Santa Maria Possível de
2010 1000 +
APP reutilização.
H + La + F + UV
Sal
Possível de Tratamento Preliminar
Santa Maria 2010 2500 1000 reutilizar na + Sedimentação + La +
irrigação. F + UV
Chaves 1000
Boa Vista
Lacacão 1000
LA - Lamas Ativadas; LA - Lagoa Anaeróbica; LF- Lagoa facultativa; LM - Lagoas de Manutenção; F - Filtração; Cl - Cloragem;
Fonte: Adaptado pelo autor baseado no PLENAS de 8 janeiro de 2015 e do LNEC de 23 de abril de
2018.
32/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
3 Estudo de caso
3.1 Introdução
Fonte :Autor
Para realização deste trabalho vai ser utilizada uma metodologia que consistirá em:
33/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
O edifício B é composto por 4 casas de banho, sendo 2 no piso superior e 2 no piso térreo. As
casas de banho, em cada, piso são subdividas em casa de banho para masculinos (do lado
esquerdo) e casa de banho para femininos (do lado direito). Os aparelhos sanitários do edifício
B estão principalmente constituídos por 10 mictórios suspensos, 22 lavatórios e 20 bacias de
retrete.
As redes foram separadas em redes de águas cinzas (amarelo) e redes de águas negras
(vermelho). Esta separação é fundamental para facilitar a reutilização das águas cinzas (águas
residuais dos lavatórios neste caso) e permitir elaborar de forma correta o redimensionamento
das instalações sanitárias.
34/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Figura 8- Rede separativo da água cinza (amarelo) e água negra (vermelho) no piso 1 do edifício B.
Fonte:Autor
Para fazer esses traçados foi necessário fazer o levantamento das instalações existentes e
comparar o tracado do projeto inicial com o realmente executado. Durante esta fase de
levantamento foi comprovado as seguintes anotações do projeto inicial:
35/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Figura 9- Rede separativo Água Cinza (amarelo) e Água Negra (vermelho) no piso 0 do edifício B.
Fonte:Autor
36/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
A verificação da capacidade de autolimpeza foi feita para os caudais de projeto, pelo critério
do poder de transporte mínimo para as águas com elevado teor de gordura e/ou lamas. Este
critério estabelece um valor mínimo para a tensão de arrastamento de 0,25 kg/m2.
Os caudais de cálculo foram obtidos atraves do somatório dos caudais de descargas individuais
de cada aparelho. Todos os cálculos foram feitos cumprido o decreto-regulamentar 23/95, de
23 de agosto, e estão sintetizados nos quadros apresentados em baixo.
37/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Os caudais de descarga são os caudais descarregados pelos aparelhos sanitários para as redes
prediais de drenagem. Segundo o RGSPDADAR, os valores mínimos a considerar nos
aparelhos e equipamentos sanitários estão indicados na Tabela 3 e devem estar de acordo com
o fim específico de cada um.
38/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Os ramais de descargas mínimos para mictórios suspensos, bacia de retrete e lavatórios são de
50 mm, 90 mm e 40 mm respetivamente. Os diâmetros podem ser também calculados
rigorosamente com a equação 2 (Eq.2) que foi utilizada para os ramais de descarga não
individuais.
Fonte: Autor
39/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Fonte: Autor
3
𝑄𝑐 8
𝐷= 3 3 (Eq.2)
0,6459𝐾8 𝑖 16
No dimensionamento, as inclinações não foram escolhidas ao acaso, mas sim de acordo com a
tabela 3.5 do decreto 23/95 do regulamento, representada na Tabela 6 em baixo.
40/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Fonte: Autor
Tabela 8- Dimensionamento dos ramais de descarda não individuais do Piso 0
Fonte: Autor
41/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
A tensão de arrastamento é determinada para garantir a autolimpeza, isto é, para que os sólidos
sedimentáveis contidos nas águas residuais se arrastam para jusante pela ação do próprio
escoamento. Esta condição foi respeitada no dimensionamento, pois todos valores foram
encontrados a partir da fórmula:
𝜏 = 𝛾𝑖𝑅 (Eq.3)
42/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
3 −5
𝐷 = 4,44205𝑄𝑐 8. 𝑡𝑠 8 (Eq. 4)
Nas Tabelas 10 e 11 estão representados os resultados obtidos por este método, tendo em
consideração o diâmetro mínimo de 50 mm para os tubos de queda.
Tabela 10- Dimensionamento dos tubos de quedas das águas cinzas
Caudal de Diametro Diametro Alt. Diametro Diametro
Troço Caudal Taxa de Ventil.
tubos descarga Tubo de comerc. Coluna Coluna comerc. Q/d Material
que converg de calculo ocupacao Sec
acum Queda Adoptado ventil Vent Adoptado
[-] [-] l/min l/min [-] mm mm [-] m mm mm
Casa de
D2 5Lv
banho
(Homem) Total 150 107,37759 0,142 86,47365186 90 nao 0 0 0 1,24173766 PVC
Piso 1
+
Piso 0
Casa de
D3 5Lv
banho
(Mulher) Total 150 107,37759 0,142 86,47365186 90 nao 0 0 0 1,24173766 PVC
Piso 1
+
Piso 0
Fonte: Autor
Casa de
banho D4
6Br+1Lv
(Mulheres) Total 570 219,388488 0,166 102,5319054 110 nao 0 0 0 2,13970946 PVC
Piso 1
+
Piso 0
Fonte: Autor
43/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
O edifício B é constituindo por apenas 2 pisos, pelo que não foi preciso implementar uma
ventilação secundária. Pois, o RGSPPDADAR recomenda fazer ventilação secundária a
edifícios com altura superior a 35 m ou com caudal de cálculo maior a 700 L/min.
As inclinações foram obtidas a partir da Tabela 12, sendo que o RGSPPDADAR preconiza uma
inclinação mínima de 2 % para coletores prediais.
Tabela 12- Dimensionamento de coletores prediais.
Diâmetro Caudais (L/min)
DN (mm) Interior Inclinação
(mm) 1% 2% 3% 4%
110 105,1 276 390 478 552
125 119,5 389 550 673 777
140 133,9 527 745 912 1053
160 153 751 1063 1301 1503
200 191,4 1365 1931 2365 2730
250 239,4 2479 3506 4294 4959
315 301,8 4598 6503 7965 9197
Os cálculos dos ramais de coletores prediais estão apresentados nas Tabelas seguintes:
44/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Casa de
CP2 t7 1110 313,41983 nao (1/2) 0,02 96,7999813 110 PVC
banho 0,47431991
direito
Fonte: Autor
Tabela 14- Dimensionamento dos coletores prediais das águas cinzas
Quant. Caudal Caudal de Seccao Diametro Diametro
Tipo de Caudal Tensao
troco De descarga descarga Ventil. Secund cheia(1) Inclinacao interior comerc. Material
aparelho de calculo de Arrast
aparelho individual acum meia (1/2) Projeto Adoptado
[-] [-] n l/min l/min l/min [-] [-] m/m mm mm Kg/m2
Casa de
Tq2+t6 300 155,605487 nao (1/2) 0,02 74,4452834 110 PVC
banho CP3 0,36478189
esquerdo
Casa de
Tq3+t8 300 155,605487 nao (1/2) 0,02 74,4452834 110 PVC
banho CP4 0,36478189
direito
Fonte: Autor
De referir que, inicialmente os ramais de descargas e os tubos de queda tinham uma só destino
numa caixa de inspeção, que recebia conjuntamente as águas cinzas e as águas negras (cf.
Figura 10). Entretanto com a elaboração do sistema separativo, as redes cinzas e negras são
encaminhadas respetivamente para caixa de inspeção da água cinza e água negra, seguindo,
posteriormente, para coletores também separativos. É na caixa de inspeção da água cinza que
se inicia o sistema de tratamento, como se verá mais adiante e com mais detalhes no capítulo
de dimensionamento do sistema de tratamento das águas cinzas.
45/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
A coleta da água cinza para realizacao de teste foi realizada no dia 27 de julho com apoio do
serviço de manutenção da universidade e, para o efeito, foi necessário abrir as câmaras de
inspeção em alguns pontos específicos, como é possível observar na figura abaixo.(Figura 10)
Fonte:Autor
Como mencionado anteriormente, as câmaras de inspeção ajudaram não só na tomada de
decisão no que diz respeito ao redimensionamento das instalações sanitárias, mas permitiu
sobretudo fazer a recolha das águas cinzas (água da pia da cantina e dos lavatórios do edifício
B) nas garrafas de 1,5 L, que foram enxaguadas com água cinza bruta três vezes e esterilizadas
com água destilada para uniformização do líquido, conforme atestam as imagens em baixo.
Figura 11- Amostras das águas cinzas dos lavatórios e da pia da cantina.
Fonte :Autor
De realçar que, sendo o estudo de caso direcionado exclusivamente para a água cinza dos
lavatórios do Edifício B, a recolha da água da pia da cantina foi feita no caso da ampliação
futura do sistema de tratamento, tendo em conta que a cantina esta situada ao lado do sistema
de tratamento. Por conseguinte, a água recolhida foi encaminhada para Agência Nacional de
Água e Saneamento, mais precisamente para o Departamento de Controle de Qualidade da
46/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Água, que, através dos métodos de eletrometria, volumetria e espectrofotometria, fez uma
caracterização dos parâmetros físico-química da água recolhida como indicado na Tabela 15
seguinte.
Físico-químicos
condutividade
Eletrometria 412 µS/cm
Elétrica (CE)
PH Eletrometria 6,9 Escala de Sorensen
Magnésio Volumetria 2,43 mg/l Mg
Cálcio Volumetria 6 mg/l Ca
Dureza Total Volumetria 25 mg/l CO3Ca
Cloretos Volumetria 134,7 mg/l Cl
Alcalinidade Volumetria 1,8 mg/l CO3Ca
Bicarbonato Volumetria 2,2 mg/l HCO3-
Sulfato Espectrofotometria 12,5 mg/l SO4-
Nitrito Espectrofotometria -0,13 mg/l NO2-
Fluoretos Espectrofotometria 0,14 mg/l F -
Boro Espectrofotometria 0,7 mg/l B
Ferro Espectrofotometria 0,12 mg/l Fe
Zinco Espectrofotometria 0,13 mg/l Zn
Cobre Espectrofotometria 0,11 mg/l Cu
Amónia Espectrofotometria -0,73 mg/l NH4+-N
Fonte : Laboratório da ANAS
O sistema de tratamento das águas cinzas do edifício B visa garantir uma qualidade da água que
será reutilizada na horta da universidade e na rega paisagística, tendo em conta que os dois
sistemas são análogos. Para tal, a água cinza tratada deve assegurar a proteção da saúde pública
e o bom desenvolvimentos das plantas não causando risco para o solo.
47/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
da água aceite como adequada para rega e que não devem ser ultrapassados para efeitos de
proteção da saúde pública e do ambiente.
Segundo a referida legislação, a autorização para a utilização de APR e ART destinadas a rega
pressupõe a prévia classificação daquelas águas como águas de rega e a satisfação dos valores
Valor Máximo Admissível (VMA) e Valor Máximo Recomendado (VMR) a que se refere o
artigo 60, com base nos resultados de determinação da sua qualidade segundo os métodos e
critérios apresentados. A tabela 16 apresenta uma comparação entres os parâmetros físico-
químicos da água cinza dos lavatórios do edifício B e os valores limites do Decreto-Lei no
4/2020, de 2 de março.
Os resultados mostram que a maior parte dos parâmetros pertencem aos valores limites
estabelecidos pela lei. No entanto, pode se observar uma quantidade elevada de cloretos devido
nomeadamente ao sabonete líquido utilizado para lavar as mãos.
A toxidade causada principalmente pelos elementos como o Cloro, o Sódio e o Boro é um fator
muito prejudicial para a planta já não permitem o seu bom crescimento. O guia técnico sobre a
“reutilização das águas residuais” elaborado por Helena Marecos do Monte e António
Albuquerque aponta algumas medidas práticas para controlar o efeito da toxidade da água nas
plantas, como por exemplo:
• Escolha do tipo de rega adequado, evitando a rega por aspersão que pode agravar a
toxicidade. A escolha da rega por gota-gota é recomendada;
• Mistura da água residual com água natural para reduzir a concentração dos elementos
tóxicos;
• Seleção de cultura tolerante.
De referir ainda o método de rega subterrânea, no qual a água é distribuída por tubagem
enterrada, geralmente de plástico, podendo servir para regar no verão e para drenar no
Inverno. Este método conhecido por subsuperficial ou infiltração ascendente minimiza o
contacto da planta com a água de rega.
48/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Fonte :Rega por micro aspersão, Rega por gota-gota e Rega por aspersão, respetivamente.
Resultado Unidade de
Parâmetros VMR VMA
da Análise Medida
condutividade
412 700 3000 µS/cm
Elétrica (CE)
49/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
O sistema de tratamento adequado deve garantir a remoção total ou parcial dos parâmetros que
estão fora dos limites estabelecidos. A Tabela 17 mostra qual é a eficiência de remoção de
poluentes em cada fase de tratamento. Isto poderá ajudar o projetista na escolha do sistema de
tratamento adequado.
50/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Pode se observar que os diferentes tipos de tratamentos primários, secundários e terciários têm
uma taxa de remoção ínfima dos elementos tóxicos. Porém, são removidos quase que na sua
totalidade nos tratamentos mais avançado como a ultrafiltração, a microfiltração ou osmose
inversa entre outros. Os tratamentos avançados, mesmo por serem altamente tecnológicos e
eficazes, têm um custo de operação muito alto e dificilmente acessível a todos.
Como a concentração de cloro na água cinza do edifício B não é significativa, a ideia é propor
uma solução simplificada e eficiente, optando-se pela seleção da rega por gota-gota e
misturando a água residual com uma quantidade bem definida de água limpa. Processo este que
será monitorizado com implementação de um sensor no sistema, como se verá mais adiante, na
parte onde será abordada a tecnológica do projeto Gestão Inteligente de Resíduos e Águas
(GIRA).
Embora as águas cinzas dos lavatórios não possuam contribuição dos vasos sanitários, de onde
provém a maior parte dos microrganismos patogénicos, a presença considerável de bactérias
como coliformes, nomeadamente a E. coli, neste tipo de água residual é um fato. A limpeza das
mãos após o uso da sanita, é uma das possíveis fontes de contaminação (PROSAB, 2006).
A partir da análise físico-química das águas cinzas dos lavatórios do edifício B, foi possível
concluir que:
51/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
• os parâmetros físico-químicos das águas cinzas estão na sua maioria dentro dos padrões
estabelecidos pela lei em vigor. Embora seja possível observar uma quantidade de cloro
um pouco acima dos limites, existem medidas simples para controlar o efeito da
toxidade, como a seleção de culturas específicas, a rega por gota-gota ou a mistura do
efluente com água natural;
• Os microrganismos patogénicos presentes nas águas cinzas não são tão relevantes aos
presentes nos ETAR. Contudo, sendo o destino final da água tratada para rega torna-se
necessário garantir e assegurar a proteção da saúde. Neste caso, foi escolhida como
solução a desinfeção por ultravioleta (UV). A desinfeção por UV é uma das práticas
mais antigas utilizadas para tratar água residual, iniciada no início do século XX em
Marselha, França. É um método bastante competitivo em relação aos outros métodos de
desinfeção pois tem a vantagem de não conter produtos químicos que podem ser
prejudiciais para saúde, como o é, por exemplo, a desinfeção por cloro.
Também, o projeto GIRA quer propor um sistema simples e eficaz, de baixo custo e de fácil
manuseio e manutenção.
A Tabela 18 serve de orientação para escolha das combinações possíveis com as características
anteriormente mencionadas.
Tabela 18- Faixa prováveis de remoção dos poluentes, conforme o tipo de tratamento e as suas
características.
Processo Parametros Caracteristicas
Area
Solidos Nitrogenio Califormes Custo odor/cor
DBO5,20 DQO SNF Nitrato Fosfato necess operaçao Manutençao
Sedimentaveis amoniacial Fecais operaçional no effluente
aria
Filtro
40 a 75 40 a 70 60 a 90 70 ou mais - - 20 a 50 - Reduzida Simples Baixo Simples Sim
Anaeróbio
Filtro
Anaeróbio 60 a 95 50 a 80 80 a 95 90 ou mais 30 a 80 30 a 70 30 a 70 - Reduzida Simples Alto Simples Nao
submerso
Filtro de
50 a 85 40 a 75 70 a 95 100 50 a 80 30 a 70 30 a 70 99 ou mais Média Simples Média Simples Nao
Areia
Vala de
50 a 80 40 a 75 70 a 95 100 50 a 80 30 a 70 30 a 70 99,5 ou mais Média Simples Baixo Simples Nao
Filtraçao
Mediana
LAB 70 a 95 60 a 90 80 a 95 90 a 100 60 a 90 30 a 70 50 a 90 - Média Simples Alto complexidad Nao
e
Lagoa com
70 a 90 70 a 85 70 a 95 100 70 a 90 50 a 80 70 a 90 - Média Simples Baixo Simples Nao
Plantas
Fonte :Tabela adaptada pelo autor, segundo as orientações da NBR nº 13969, setembro de
1997
52/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Analisando a Tabela acima, podemos observar que o tratamento por filtro de areia é uma das
soluções mais simples e económica, que não emite odor desagradável. Esta solução pode ser
adicionada com desinfeção por ultravioleta, por ser um método bastante eficaz nomeadamente
para remoção das bactérias.
Embora o seu custo de operação é moderado, por ser um método que necessita energia elétrica
para funcionar, a sua combinação com filtro de areia tem dado bons resultados nas experiências
realizadas no âmbito New Process for Optimizing Wastewater Reuse from Mauguio to the
Mediterranean Area do (NOWMMA) em 2017. Pois, o sistema garantiu uma “qualité 1”, isto
é, o maior padrão de qualidade para reuso da água no regulamento francês.
Neste sentido, o tratamento mais adequado para as águas cinzas pode ser a combinação
seguinte:
❖ Filtro de brita + Filtro de areia + desinfeção por radiação ultavioleta (UV) + Stockage +
Reservatório (cf. Figura 14).
53/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Fonte:Autor
54/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Dados do Edifício B
Número de pisos 2 -
Número de salas de aula 16 -
55/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Onde:
QNP = somatório das demandas não potáveis (L/d);
QINT = somatório das demandas internas (L/d);
QEXT = somatório das demandas externas (L/d).
56/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Caudal (q)=20L/min
Lavatório Duração (t)=4min/hab.dia
Frequência (f)=1,0 vez/dia
Caudal (q)=20L/min
Chuveiro Duração (t)=10min/hab.dia
Frequência (f)=1,5 vez/dia
Caudal (q)=20L/min
Tanque Duração (t)=5min/hab.dia
Frequência (f)=1,0 vez/dia
Caudal (q)=108L/min
Máquina de
Duração (t)=1ciclo/dia
lavar
20% de apartamento com máquina
Considerando a hipótese de que cada aluno usa o lavatório uma vez por dia e numa duração de
¼ de minutos, estima-se que a produção da água cinza seja:
QEst =20*0,25*1*320 L / d
QEst =1600 L / d ou 1,6 m3/d
57/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Podemos observar que a estimativa da produção de água cinza é praticamente duas vezes
superior às necessidades. Quer dizer que a diferença (41% da água tratada) pode ser utilizada
em outras tarefas como a lavagem de pavimento ou a lavagem de carros, por exemplo, que são
atividades do dia-dia da universidade.
Os efluentes provenientes dos lavatórios do bloco B vão passar para um tratamento primário
com filtro de brita, assegurando a remoção do sabão e dos sólidos em suspensão e depois vão
seguir para o filtro de areia que vai fazer um tratamento tanto físico como biológico.
O dimensionado dos filtros de areia e brita foi feito a partir das indicações da NBR 13969/97,
utilizando uma taxa de aplicação hidráulica de 200 L/dia.m2). A brita para este filtro é
classificada como Brita 2 (diâmetro de 12,5 a 25,0 mm).
O filtro de areia tem duas camadas filtrantes, sendo uma camada de areia de 0,70 m e outra de
brita de 0,25m, como representado na Figura 1 do Anexo. O efluente é distribuído
superficialmente e pelo meio filtrante até o fundo onde existe uma tubulação que encaminha a
água cinza tratada para a desinfecção.
A partir dos dados de demanda, pode-se dimensionar os filtros para o tratamento das águas
cinzas, que neste caso serão de base circular. Tem-se então:
𝑄𝐸𝑋𝑇
𝐴= (Eq.7)
𝑇𝐴𝑆
Com:
𝐷 = (𝐴 ∗ 4/ π)1/2 (Eq.8)
Onde:
A = área superficial;
D = diâmetro em metros;
QEst = 1600 litros/dia (1,6 m3/dia);
TAS = taxa superficial aplicada de 200 L / m2.dia (0,2 m3 / m2.dia).
Assim, tem-se os seguintes resultados, como apresentado na Tabela 19 abaixo.
58/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
DESINFECÇÃO
A desinfeção será feita por um reator UV em linha, como esquematizado na Figura 14.
O cilindro contém uma ou mais lâmpadas, cujo o objetivo é neutralizar os microrganismos
patogénico. As lâmpadas devem ser instaladas logo após o filtro de areia para evitar a
concentração elevada de matérias suspensas e, em consequência, o seu desempenho.
Tarifs TTC € 118,00 € 178,00 € 270,00 € 899,00 € 1 428,00 € 1 582,00 € 1 824,00 € 2 388,00 € 2 970,00
Tableau a titre indicatif,car la capacité de désinfection depend de la qualité d eau de base
Fonte: Oz Water
59/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
- Caudal de recalque:
A partir da caudal de recalque e da quantidade de horas diárias de funcionamento da bomba
pode ser definido o diâmetro de recalque, através da equação seguinte:
𝐶𝐷
𝑄𝑟𝑒𝑐 = 𝑁𝐹 (Eq.9)
Em que:
Qrec: Caudal de recalque (m3/h);
CD: Consumo de água (L);
NF: Número de horas de funcionamento.
Assim:
𝐶𝐷 1600 𝐿
𝑄𝑟𝑒𝑐 = 𝑁𝐹 = 5ℎ
- Diâmetro de recalque:
O diâmetro de recalque pode ser definido a partir da fórmula de Forchheimer:
4
𝐷 = 1,3 ∗ √𝑄𝑟𝑒𝑐 ∗ √𝑋 (Eq.10)
Em que:
D: Diâmetro de recalque (m)
Qrec: Caudal de recalque (m3/s)
X: Relação entre as horas de funcionamento da bomba no período de 24h.
Assim:
0,32 4 5
𝐷 = 1,3 ∗ √3600 𝑠 ∗ √24
60/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
𝑄 1,75
𝐽 = 0,000859 ∗ 𝐷4,75 (Eq.11)
O método do diâmetro económico diz que para o diâmetro da sucção (Dsuc) deve-se adotar o
diâmetro comercial imediatamente superior ao adotado para o recalque. Neste sentido, o
diâmetro da sucção escolhido é de 15mm.
Assim:
(8,88∗10−5 )1,75
𝐽 = 0,000859 ∗ 0,0154,75
𝐽 =0,032 m/m
Onde:
J: carga unitária (m/m)
Q: Caudal (m3/s)
Dsuc: Diâmetro de sucção (m)
Tem-se:
(8,88 ∗ 10−5 )1,75
𝐽 = 0,000859 ∗
0,00824,75
𝐽 =0,560 m/m
Onde:
J: carga unitária (m/m);
Q: Caudal (m3/s);
61/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Comprimento
Altura Altura
Real
Sucção Recalque
da Tabulação
10,5 m 0,7 m 2m
Fonte :Autor
A altura estática de sucção é o tamanho do nível de líquido até o centro da bomba. Como se
pode constatar no quadro acima, a altura estática de sucção (Hsuc) é de 0,7m, ou seja, 0,700 mca.
Total 13,4
Fonte:Autor
62/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
- Altura devido as perdas na sucção (∆𝐻𝑠𝑢𝑐) é o comprimento total com as perdas de energia
do fluido, traduzido pela seguinte expressão:
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 = 𝐿𝑇 ∗ 𝐽 (Eq.13)
Assim:
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 = 14,1 ∗ 0,032;
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 =0,451 mca.
- Altura manométrica de sucção ( 𝐻𝑠𝑢𝑐. 𝑚𝑎𝑛) é a soma da altura estática com a altura devido
as perdas de energia, representada pela expressão seguinte:
𝐻𝑠𝑢𝑐. 𝑚𝑎𝑛 = 𝐻𝑠𝑢𝑐 + ∆𝐻𝑠𝑢𝑐 (Eq.14)
O comprimento da sucção é:
63/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
LR=3m+2m;
LR=5,00.
Fonte:Autor
- Altura devido as perdas na sucção (∆𝐻𝑟𝑒𝑐) é o comprimento total com as perdas de energia
do fluido, traduzido pela fórmula seguinte:
∆𝐻𝑟𝑒𝑐 = 𝐿𝑇 ∗ 𝐽 (Eq.16)
Assim:
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 = 15,4 ∗0,56;
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 =8,62 mca.
64/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Assim:
∆𝐻𝑟𝑒𝑐. 𝑚𝑎𝑛=2mca +8,62 mca;
∆𝐻𝑟𝑒𝑐. 𝑚𝑎𝑛 = 10,6𝑚𝑐𝑎.
- Altura manométrica Total (Hman) a energia de transporte do fluido da sucção para o recalque,
com um determinado caudal.
Soma a altura manométrica de sucção e do recalque:
- Escolha da bomba:
Para a escolha da bomba deve ser levada em consideração a caudal, a altura manométrica total
e o rendimento da bomba para calcular a potência mínima necessária para o funcionamento:
𝑄∗𝐻𝑚𝑎𝑛
𝑃= (Eq.18)
75∗𝑅
Assim:
0,088 ∗ 11,75
𝑃=
75 ∗ 0,5
𝑃 =0,027 Cv
65/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO:
Esta unidade receberá o efluente do tratamento das águas cinzas. Para o seu dimensionamento
foi adotado o volume útil para abastecer a unidade sanitária durante 2 (dois) dias consecutivos.
O caudal mensal é calculado considerando uma utilização de 30 dias uteis. Assim, tem-se:
Caudalmens=48 m3
66/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
IVA=0,15*Subtotal
Descrição
do
Valor IVA Valor mensal
consumo Quantidade Unidade Subtotal
Unitário (15%) a Pagar
da água
com reuso
Água (tarifa
variável) 48 m3 345 16.560 2 484,00 19 044,00
1º escalão
água
29 Dias - 532 79,80 611,80
(tarifa fixa)
Saneamento
20 % 16560 3312 496,80 3 808,80
(trf. variável)
Saneamento
20 % 532 106,4 15,96 122,36
(trf. fixa)
Total 20 510,40 3 076,56 23 586,96 ECV
Fonte: Adaptado pelo Autor, a partir do recibo da ADS
Sem o sistema de reuso de água, o custo de água potável para uso nos lavatórios do edifício B
será de aproximativamente 23.586 ECV, podendo ascender ao montante de 283.043 ECV por
ano.
67/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
O caudal mensal com uso do sistema de tratamento é calculado subtraindo o caudal de consumo
de água nos lavatórios e as necessidades de água para rega do jardim e da horta, de acordo com
o seguinte:
Caudalmens=28,002 m3
A Tabela 24 mostra um valor relativamente baixo da fatura de água dos lavatórios com uso do
sistema de tratamento. O valor mensal inicial de 23.586 ECV baixou consideravelmente para
14.065 ECV.
68/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
O reator Ultravioleta (UV) não precisa de manutenção particular, além do controlo dos órgãos
de medidas que deve ser feito regularmente. A limpeza das lâmpadas é simples de se fazer,
podendo ser feito através de um sistema de limpeza automático com lâmpadas integradas dentro
do reator UV. Igualmente, a troca das lâmpadas faz-se consoante a sua duração de vida (5 a 10
anos).
𝑃∗𝐻∗𝐷
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎(𝑘𝑤ℎ) = (Eq.19)
1000
Onde:
P: Potencia da Bomba;
Considerando a utilização da bomba 5 horas por dia e 3 vezes por semana, tem-se então:
184∗5∗12
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = 1000
69/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Eletricidade de
11,04*(29d*12/365d) 10,5258082 20,99 220,94
0-60
Total 146,98
486,62ECV
Fonte :Adaptado pelo Autor, a partir do recibo da Electra
- Reator UV
Pode-se calcular o consumo de energia do reator com a Equação -19, utilizando uma potência
do reator UV de 16W, funcionando 5 horas por dia e 3 vezes por semana. Assim:
16 ∗ 5 ∗ 12
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑈𝑉 =
1000
Fazendo o mesmo cálculo da Tabela - 22, encontra-se um custo de 152,56 ECV, sendo o valor
mensal total de energia da bomba e do reator UV de 639,18 ECV.
70/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
A duração da lâmpada é de 9000 horas, ou seja, de 12,5 anos, pelo que utilizando a lâmpada 5
horas por dias e 3 vezes por semana, o custo seria de aproximadamente 2.000 ECV/lâmpada,
facto que faria com que o custo da troca das lâmpadas fosse relativamente baixo.
Nos projetos de reutilização de água residual para rega é necessário fazer um controlo de
qualidade dos parâmetros químicos e microbiológicos na fase do projeto para propor a melhor
solução e pós-tratamento para garantir continuamente da boa qualidade da água tratada ao longo
do tempo. Processo que deve ser feito semanal, mensal ou anualmente, consoante os parâmetros
definidos na referida legislação.
71/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Neste trabalho não será considerado o custo de controlo de qualidade da água, porquanto que
esta pesquisa foi feita em parceria com a ANAS que assumiu realizar as análises no seu
laboratório sem custos para o autor (universidade), mas em qualquer trabalho de reutilização
de água estes custos devem ser obrigatoriamente incluídos.
Tabela 26- Custo médio mensal com o Sistema de Reúso de Águas Cinzas.
1 Mão-de-obra 0
Total
14.705 ECV
Fonte:Autor
A partir da leitura das Tabelas 23 e 26, fica evidente que o sistema de reuso vai permitir uma
economia em aproximativamente 8. 881 ECV mensal ou 88.8810 ECV anuais para 19,98 m3
de água tratada.
Parece possível concluir que, dos 48 m3 de águas cinzas dos lavatórios produzidas
mensalmente, o reuso de 19,98 m3 para irrigação do jardim e da horta vai custar somente 14.705
ECV mensais, garantido uma economia mensal de aproximadamente 41 %.
A restante água tratada (28,02 m3) poderá ser utilizada para outras necessidades como a
lavagem de viaturas ou de pisos, o que permitirá fazer uma economia no custo de produção,
incluindo o de energia, de 23.220 ECV mensal e de 232.200 ECV anual.
72/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
De realçar que, o objetivo é reutilizar 100 % das águas cinzas produzidas para irrigação e isto
só será possível com o crescimento da demanda, nomeadamente o surgimento de “projetos
verdes” como a plantação de árvores ou de flores, assegurando um visual agradável, mesmo
nos meses de temperaturas mais altas, através da irrigação contínua.
Em suma, com um investimento total de 155.256 ECV (cf. anexo 6.1 – relação de materiais,
equipamentos e mão-de-obra para execução do sistema) consegue-se uma poupança a rondar
os 88.810 ECV anuais, cujo período de retorno é calculado através da equação seguinte:
𝑃
𝑛=𝑈 (Eq.20)
Onde:
N= o número de anos;
P= o valor do investimento inicial, que é de 155.256 ECV;
U= o valor da parcela de economia anual, 88.810 ECV;
Assim, tem-se:
73/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
155256
=1,75 anos.
88810
74/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
4 Conclusão
Com o presente trabalho procurou-se desenvolver e propor processo de reuso deste precioso
bem que é a água, em alternativa aos sinais evidentes de escassez, com algumas partes do
planeta a experimentarem períodos de seca severa, como é o caso de Cabo Verde que tem sido
muito fustigado nos últimos três anos, gerando um conjunto de problemas de várias ordens.
Este projeto de reutilização de águas cinzas tratadas no Edifício B da Universidade Jean Piaget
foi elaborado através de uma pesquisa que resultou no dimensionamento integral da solução
escolhida, que é simples, acessível e de baixo custo, cujo retorno do investimento inicial é
garantido em aproximadamente 2 anos.
Com relação aos cuidados inerentes ao sistema de reuso de águas cinzas, pode-se afirma que
todos os pontos onde a água é disponibilizada devem ser devidamente sinalizados e de acesso
restrito. Ademais, devem ser destacadas pessoas que além de fiscalizarem o local sejam também
capazes de realizar a manutenção necessária do sistema, bem como de alertar para os riscos da
utilização de águas cinzas tratadas.
A possibilidade de conservar os recursos que tendem a ser cada vez mais escassos e, por
conseguinte, mais precioso não deve ser pensado apenas do ponto de vista económico, mas
também, e sobretudo, na perspetiva de sustentabilidade ambiental e planetária, pelo que se
considera importante que existam meios de incentivos e políticas públicas direcionadas para a
promoção e desenvolvimento de projetos do tipo, e que contribuam para a diminuição drástica
dos custos de controlo da qualidade das águas, podendo ser gratuito para os pequenos projetos.
75/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
5 Bibliografia
ABNT (1982). Construção e instalação de fossas sépticas e disposição dos efluentes finais –
NBR 7229.
NOWMMA (2017). Guide d’aide à la décision pour la mise en œuvre d’un projet de
Réutilisation d’Eaux Usées Traitées (REUT) – Roussillon – France.
76/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Anexo
Reator UV
- - - - - - 13000
/sem transporte
77/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
78/79
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B
Volume
Volume betao Volume Volume
Num de Reboco
largura Area lateral Num de blocos impermeabiliz Reboco ass. Reboco
Profundidade(h) largura min blocos/m2 assentanent
adoptada (m2) face lateral (un) ante (1:3) revistimento
(un/m2) o
10cm(m3) (m3/m2) (m3)
adoptado
1 1,5 1,5 1,5 15,75 10,5 0,225 0,0075 0,01125 0,03
Total 63 - 0,225 0,007875 0,045 0,12
79/79