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Admilson Lima Semedo

Gestão Inteligente dos Resíduos e


Águas (GIRA)
\\\\\\\\\\\\\\

Parte 1: Projeto de Sistema de Reutilização das


Águas Cinzas tratadas no Edifício B da
Unipiaget

Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Campus Universitário da Cidade da Praia


Caixa Postal 775, Palmarejo Grande
Cidade da Praia, Santiago
Cabo Verde

17.5.21
Admilson Lima Semedo

Gestão Inteligente dos Resíduos e Águas


(GIRA)
Parte 1: Projeto de Sistema de Reutilização das Águas
Cinzas tratadas no Edifício B da Unipiaget

Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

Campus Universitário da Cidade da Praia


Caixa Postal 775, Palmarejo Grande
Cidade da Praia, Santiago
Cabo Verde

17.5.21
Admilson Lima Semedo, autor da
monografia intitulada “Projeto de Sistema de
Reutilização das Águas Cinzas tratadas do
Edifício B da UniPiaget”, declaro que, salvo
fontes devidamente citadas e referidas, o
presente documento é fruto do meu trabalho
pessoal, individual e original.

Cidade da Praia, aos 14 de setembro de 2020.

Admilson Lima Semedo

Memória Monográfica apresentada à


Universidade Jean Piaget de Cabo Verde
como parte dos requisitos para a obtenção do
grau de Licenciado em Engenharia de
Construção Civil
Sumário:

Em Cabo Verde, a escassez dos recursos hídricos potenciais constitui uma realidade natural,
associado ao crescimento demográfico e/ou as alterações climáticas. A utilização das
disponibilidades hídricas nacionais é muito dificultada pela irregularidade da sua ocorrência,
tanto no espaço territorial como no tempo. A variabilidade climática do território cabo-verdiano
é a primeira razão para as acentuadas diferenças espaciais que se observam na disponibilidade
de recursos hídricos no nosso país. Os problemas acarretados pela falta de água para rega variam
em retardo no progresso, limitação de atividades económicas e menor qualidade de vida. Uma
alternativa para esses problemas hídricos é a reutilização das águas residuais tratadas. A
reutilização pode ser dada pelas águas cinzas, que são águas servidas provenientes de pontos
da edificação como chuveiros, lavatórios de banheiros, máquinas de lavar roupa, excluindo
águas provenientes de pias de cozinha e vasos sanitários, em função da necessidade de um
maior nível de tratamento.

Com um tratamento correto, essas águas, ao invés de serem despejadas no esgoto doméstico,
podem obter outras funções como reuso para rega agrícola, rega paisagística, uso em descargas
de sanitários, lavagem de carros, uso em mictórios e lavagem de calçadas, reduzindo assim a
quantidade de água despejada e participando para conservação dos recursos hídricos.

A proposta deste trabalho é, portanto, o estudo da concepção e dimensionamento de um sistema


de reutilização das águas cinzas tratadas provenientes dos lavatórios do edifício B da Uni-Piaget
situada na cidade da praia. Com implantação do sistema de reutilização de água servida foi
encontrada uma economia aproximada de 88.810 escudos anuais nos custos de pagamento de
água.

Palavras-chave: Reuso, Tratamento, Águas Cinzas, Dimensionamento e Rega.


Agradecimentos:

A Deus, pelo dom da vida, por me conceder tantas Graças em forma de oportunidades e por
nunca ter me desamparado.

Aos meus pais José Gomes Varela Semedo e Ilda Taty de Araújo Lima, pelo amor
incondicional, serem meus exemplos de caráter e dignidade, e por acreditarem sempre em
mim.

Às minhas irmãs Natacha, Letícia, Zenaida e Sambinha, por compartilharem momentos de


conquista e pela ajuda ao longo do curso.

Ao Filipe Leite, Ricardo Marques, Djena Cande, Dona Mila e Nhá Lina, meus amigos, por
cada palavra de incentivo e por terem sempre acreditado em minha pessoa.

Ao meu orientador Professor Doutor António pela oportunidade de vivenciar novas


experiências e por me ter permitido obter novos conhecimentos, pela orientação e parceria.

Ao meu co-orientador Professor Doutor José Pedro Varela Da Silva pelo apoio e orientaçôes
na relalização da parte final do trabalho.

À Senhor Administradora da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, Dra. Roseli Rocha,
por abraçar este e outros projetos apresentados, desde a criação do Clube de Ciência “Club
I3” até agora, participando ativamente no desenvolvimento deste trabalho. Ao anterior
Administrador, Dr. Carlos Mota, pela confiança e por me ter incentivado a continuar os meus
estudos.

Ao Mestre Péricles Freire, por toda colaboração, ajuda e paciência no decorrer da


experiência.
Ao Engenheiro Adelcides Varela, pela colaboração e apoio na materialização deste
trabalho.

Ao Laboratório de Análises de Águas da Agência Nacional de Água e Saneamento (ANAS)


e à Universidade Jean Piaget de Cabo verde, por toda ajuda concedida no desenvolvimento
das análises de água e materiais necessários.

A todos os docentes, por terem partilhado comigo conhecimento e terem me ajudado a


alcançar os objetivos, durante o decorrer do curso, e que serão decerto importantes na vida
profissional futura.
Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B

Conteúdo:

1 INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 13
1.1 Objetivos Geral e específicos -------------------------------------------------------------- 14
1.1.1 Objetivo Geral -------------------------------------------------------------------------- 14
1.1.2 Objetivos específicos ------------------------------------------------------------------ 14
2 REVISÃO DA LITERATURA ---------------------------------------------------------------------- 15
2.1 Escassez hídrica ------------------------------------------------------------------------------ 15
2.1.1 Escassez hídrica em Cabo Verde ---------------------------------------------------- 16
2.2 Reutilização da água como estratégia de conservação dos recursos hídricos ----- 20
2.2.1 Conceitos e definições ---------------------------------------------------------------- 20
2.2.2 Aplicação da reutilização da água --------------------------------------------------- 20
2.2.3 Reutilização de água como estratégia de conservação dos recursos hídricos - 21
2.3 Efeito ambientais e sanitários no processo de reutilização de água ----------------- 22
2.3.1 Efeito sanitários no processo de reutilização de água ---------------------------- 22
2.3.2 Efeitos da qualidade das águas residuais tratadas nas plantas e no solo ------- 22
2.4 Reutilização de água para rega agrícola e paisagística ------------------------------- 24
2.4.1 Água tratada para rega agrícola ------------------------------------------------------ 24
2.4.2 Água tratada para rega paisagística ------------------------------------------------- 25
2.5 Critérios e parâmetros para controlo da qualidade da água para irrigação ------- 25
2.6 Sistemas de reutilização de águas cinzas tratadas -------------------------------------- 26
2.6.1 Tratamento da água cinza ------------------------------------------------------------- 26
2.6.1.1 Tratamento primário ------------------------------------------------------------- 27
2.6.1.2 Tratamento secundário ---------------------------------------------------------- 27
2.6.1.3 Tratamento terciário ------------------------------------------------------------- 29
2.6.1.4 Sistema de reutilização de águas cinzas tratadas ---------------------------- 30
2.6.1.5 ETAR em Cabo Verde ---------------------------------------------------------- 31
3 ESTUDO DE CASO -------------------------------------------------------------------------------- 33
3.1 Introdução ------------------------------------------------------------------------------------ 33
3.2 Redimensionamento das instalações sanitárias do edifício B ------------------------- 34
3.2.1 Descrição da instalação --------------------------------------------------------------- 34
3.2.2 Redimensionamento das instalações sanitárias do edifício B ------------------- 37
3.3 Avaliação da qualidade da água cinza produzida no edifício B ---------------------- 45
3.3.1 Análise dos resultados ----------------------------------------------------------------- 47
3.3.2 Características Físicas e Químicas: ------------------------------------------------- 47
3.3.2.1 Características microbiológicas: ----------------------------------------------- 51
3.3.3 Conclusão e escolha do sistema de tratamento: ----------------------------------- 51
3.3.4 Teste da solução proposta: ------------------------------------------------------------ 55
3.4 Dimensionamento do sistema de tratamento --------------------------------------------- 55
3.5 Estudo da viabilidade financeira ---------------------------------------------------------- 66
3.5.1 Sem sistema de reuso ------------------------------------------------------------------ 66
3.5.2 Com sistema de reuso ----------------------------------------------------------------- 68
3.5.2.1 Custo de água com sistema de tratamento ----------------------------------- 68
3.5.2.2 Manutenção dos equipamentos ------------------------------------------------ 69
3.5.2.3 Custo de energia ----------------------------------------------------------------- 69
3.5.2.4 Controlo de qualidade de água ------------------------------------------------- 71

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3.5.2.5 Determinação do período de retorno do investimento inicial ------------- 72


4 CONCLUSÃO -------------------------------------------------------------------------------------- 75
5 BIBLIOGRAFIA ------------------------------------------------------------------------------------ 76
6 ANEXO -------------------------------------------------------------------------------------------- 77
6.1 Orçamento dos materiais para execução do sistema de tratamento ----------------- 77
6.2 Exemplo Filtro de Areia Tipo Circular (NBR 13969) ---------------------------------- 78
6.3 Dimensionamento dos agregados --------------------------------------------------------- 79
6.3.1 Dimensionamento caixa de alvenaria para proteção dos tanques --------------- 79
6.3.2 Dimensionamento caixa de inspeção------------------------------------------------ 79
6.3.3 Dimensionamento total dos agregados --------------------------------------------- 79

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Tabelas:
Tabela 1- Características das estações de tratamento das águas residuais (ETAR) existentes
no país. ..................................................................................................................................... 32
Tabela 2- Caudais mínimos de descarga dos aparelhos sanitários ......................................... 38
Tabela 3- Diâmetros mínimos dos ramais de descarga individuais. ....................................... 39
Tabela 4- Dimensionamento dos ramais de descargas individuais do Piso 1 ......................... 39
Tabela 5- Dimensionamento dos ramais de descarda individuais do Piso 0........................... 40
Tabela 6- Diâmetros de ramais de descarga e inclinação dos ramais .................................... 41
Tabela 7- Dimensionamento dos ramais de descarda não individuais do Piso 1 .................... 41
Tabela 8- Dimensionamento dos ramais de descarda não individuais do Piso 0 .................... 41
Tabela 9- Dimensionamento dos tubos de queda ..................................................................... 42
Tabela 10- Dimensionamento dos tubos de quedas das águas cinzas ..................................... 43
Tabela 11- Dimensionamento dos tubos de quedas das águas negras .................................... 43
Tabela 12- Dimensionamento de coletores prediais. ............................................................... 44
Tabela 13- Dimensionamento dos coletores prediais das águas negras ................................. 45
Tabela 14- Dimensionamento dos coletores prediais das águas cinzas .................................. 45
Tabela 15- Parâmetros Físico-químicos da água dos lavatórios do edifício B ....................... 47
Tabela 16- Comparação dos parâmetros físico-químicos dos resultados e os parametros do
Decreto-Lei no 4/2020, de 2 de março ..................................................................................... 49
Tabela 17- Eficiência de remoção de poluentes químicos submetidos a tratamento primário,
secundário, terciário e avançado ............................................................................................. 50
Tabela 18- Faixa prováveis de remoção dos poluentes, conforme o tipo de tratamento e as suas
características. ......................................................................................................................... 52
Tabela 19- Dimensionamento do filtro da Areia e Brita .......................................................... 59
Tabela 20- Dimensionamento do reator de desinfeção UV ..................................................... 59
Tabela 21- Tabela de perda de carga localizada ..................................................................... 62
Tabela 22- Perda de carga localizada. .................................................................................... 64
Tabela 23- Fatura do consumo de água dos lavatórios. .......................................................... 67
Tabela 24- Fatura do consumo com sistema de reuso. ............................................................ 68
Tabela 25- Fatura do consumo de energia. ............................................................................. 70
Tabela 26- Custo médio mensal com o Sistema de Reúso de Águas Cinzas. ........................... 72

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Figuras :
Figura 1-Distribuição da Água no Planeta Terra ................................................................... 15
Figura 2 - Isoietas de Precipitação Media ............................................................................... 18
Figura 3- Chuvas torrenciais no mês de setembro de 2020 em Santiago ................................ 19
Figura 4- Conversão biológica da matéria orgânica nos sistemas aeróbios e anaeróbios de
tratamento de esgoto sanitário ................................................................................................. 28
Figura 5- Processos de desinfeção de esgotos sanitários ........................................................ 29
Figura 6- Fluxograma conceitual das instalações prediais de sistemas de água não potável 31
Figura 7- Edifício B da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. ........................................ 33
Figura 8- Rede separativo da água cinza (amarelo) e água negra (vermelho) no piso 1 do
edifício B. .................................................................................................................................. 35
Figura 9- Rede separativo Água Cinza (amarelo) e Água Negra (vermelho) no piso 0 do edifício
B. ............................................................................................................................................... 36
Figura 10- Câmaras de inspeção “casa de banho Homem” do edifício B. ............................. 46
Figura 11- Amostras das águas cinzas dos lavatórios e da pia da cantina. ............................ 46
Figura 12- Método de Rega...................................................................................................... 49
Figura 13- Esquema do sistema filtro de areia + desinfeção por UV ..................................... 53
Figura 14- Esquema do sistema de tratamento das águas cinzas............................................ 54
Figura 15- Vista da universidade nas diferentes épocas do ano ............................................. 73

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Quadros :
Quadro 1- Características das Águas Residuais que podem ser prejudiciais ao sistema solo-
planta ........................................................................................................................................ 23

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1 Introdução

A água é o recurso natural mais valioso do planeta, pelo que a sua conservação constitui um
dos mais importantes pilares do desenvolvimento sustentável. Nas regiões em que a escassez
de recursos hídricos constitui uma realidade natural e naquelas em que o crescimento
demográfico e/ou as alterações climáticas perspetivam essa escassez, a gestão sustentável dos
recursos hídricos implica a conservação destes recursos e inclui, por conseguinte, a reutilização
da água. Noutras situações de menor escassez de água, a reutilização é praticada por imperativos
de proteção ambiental dos meios recetores.(Helena Monte,Antonio Al,2010)

Em Cabo verde, a reutilização da água para usos não potáveis constitui uma estratégia de
conservação da água que se revela necessária na atualidade, diante da escassez de água que
afeta principalmente as zonas situadas abaixo de 400 m de altitude, com precipitação anual que
não ultrapassa 300 mm, e igualmente as zonas situadas a mais de 500 m de altitude e expostas
aos ventos alísios, com precipitação a rondar 700 mm. Contudo, as ilhas mais aplanadas podem
registrar precipitações anuais inferiores a 250 mm, sendo, portanto, enquadráveis no clima
árido. (INGRH, 2000)

As previsões relativas às alterações climáticas traçam um cenário de agravamento nas ilhas de


Boa Vista, Sal, São Vicente e Maio (a precipitação media anual não ultrapassa 200 mm) no que
toca à disponibilidade de recursos hídricos, onde a reutilização da água constituirá um
imperativo, nomeadamente nas regas agrícola e paisagística.

Cabo verde dispõe atualmente de uma significativa taxa de cobertura do país com serviço de
tratamento de águas residuais urbanas, ao nível de tratamento secundário e terciário, com 11
Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), sendo 9 em funcionamento nos concelhos
da Praia, Santa Catarina, Santa Cruz, Tarrafal de Santiago, São Miguel, São Vicente (Mindelo),
Sal (Santa Maria), Boa Vista e Maio. O efluente final das ETAR existentes representa um
volume de água apreciável, o qual pode constituir uma origem alternativa a aproveitar para
novas utilizações, nomeadamente para rega agrícola.

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Outras alternativas de tratamentos de águas residuais mais simples e económicas podem ser
desenvolvidas a nível doméstico, edifícios públicos e zona rurais de difícil acesso, através da
reutilização de águas cinzas, que representam uma grande quantidade de efluente, e que podem
ser utilizadas para rega e outros usos.

A prática da reutilização das águas cinzas deve basear-se no conhecimento científico e


tecnológico do tratamento de águas residuais(Helena Monte,Antonio Al,2010).

Em Cabo Verde não há ainda orientação e metodologia técnicas para a reutilização de águas
residuais. Por isso, o presente trabalho tem como objetivo contribuir para alicerçar em moldes
sustentáveis o desenvolvimento da prática da reutilização de águas residuais no país, dando
resposta à escassez da água para rega, mas também participar, de certa forma, na estratégia de
gestão sustentável dos recursos hídricos.

1.1 Objetivos Geral e específicos

1.1.1 Objetivo Geral

• Dimensionar um sistema de reutilização de águas cinzas em efluentes


provenientes dos lavatórios do edifício B da Universidade Jean Piaget de Cabo
Verde, para sua aplicação na irrigação do jardim e rega da horta.

1.1.2 Objetivos específicos

• Redimensionar as instalações sanitárias do edifício B;


• Avaliar a eficiência do sistema de tratamento por meio de análises físicas,
químicas e microbiológicas das águas cinzas;
• Dimensionar o sistema de tratamento das águas cinzas do edifício B; e

• Estudar a viabilidade económica do Sistema de tratamento.

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2 Revisão da literatura

2.1 Escassez hídrica

A água é o recurso natural mais valioso do planeta, pelo que a sua gestão e conservação
constituem um dos mais importantes pilares do desenvolvimento sustentável.

Nas regiões em que a escassez de recursos hídricos constitui uma realidade natural e
naquelas em que o crescimento demográfico e/ou as alterações climáticas perspetivam essa
escassez, a gestão sustentável dos recursos hídricos implica a conservação destes recursos
e inclui, por conseguinte, a reutilização da água. (Jerome Antunes,2020)

A água existe, simultaneamente, nos três estados físicos possíveis (sólido, líquido e gasoso)
e numa diversidade de situações. Embora exista em grande quantidade no Planeta Terra
(aproximadamente 1380 milhões de km3), a maior parte da água (cerca de 97,5%) é salgada
e, em consequência, de difícil aproveitamento para grande parte das utilizações mais
frequentes (cf. Figura 1). Ademais, dos 2,5% da água doce, 70% são utilizados na
agricultura, 20% na indústria e 10% no uso doméstico (aproximadamente 38 milhões de
km3), distribuídos do seguinte modo:

• Gelo de Calotes Polares e Glaciares – 77,20%;


• Águas Subterrâneas e Humidade do Solo – 22,40%;
• Lagos e Pântanos – 0,35%;
• Atmosfera – 0,04%;
• Rios – 0,01%;

Figura 1-Distribuição da Água no Planeta Terra

Fonte : Antunes, C.; Bispo, M. e Guindeira, P. 2007.

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Verifica-se, assim, que aproximadamente 3⁄4 da água doce se encontra num estado em que
não é possível a sua utilização, pelo menos a curto e médio prazo, sendo as águas
superficiais uma ínfima parte dessa água.

Para além da sua escassez, a água apresenta ainda uma distribuição irregular no espaço e
no tempo, sendo flagrante o contraste entre regiões secas e húmidas bem como os períodos
de cheia e de estiagem de cursos de água. (Paulo Alexander, 2018).

Em outras situações de menor escassez de água, a reutilização é praticada por imperativos


de protecção ambiental dos meios receptores. (Helena Monte,Antonio Al,2010)

Em Cabo verde, a reutilização da água para usos não potáveis constitui uma estratégia de
conservação da água que se revela necessária na actualidade, em face da escassez de água
que afecta principalmente o setor agrícola, onde 50% da água subterrânea é utilizada para
fins agricola.

As previsões relativas às alterações climáticas traçam um cenário de agravamento no país


no que toca à disponibilidade de recursos hídricos, onde a reutilização da água constituirá
um imperativo, nomeadamente nas regas agrícola e paisagística.

2.1.1 Escassez hídrica em Cabo Verde

Enquadramento:

A República de Cabo Verde, com uma área total é de 4.033 Km2, é um País insular, situado
à 500 km da Costa Ocidental da África. Composto por 10 ilhas de origem vulcânica, 9 das
quais habitadas e com uma população de 492.654 habitantes (Censo 2010), pertencentes a
zona climática Saheliana árida, onde a precipitação anual é muito limitada e a estação da
chuva vai de Agosto a Outubro.

Do ponto de vista climático, o arquipélago de Cabo Verde situa-se numa vasta zona de
clima árido e semiárido, que atravessa a África desde o Atlântico ao Mar Vermelho e se
prolonga pela Ásia. A ocorrência das precipitações está fortemente condicionada pela
posição, ao longo do ano, da Convergência Intertropical (CIT). Quando a CIT atinge a

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latitude do arquipélago, a ilha recebe os aguaceiros da sua estação húmida. Nos anos em
que a CIT, nas suas migrações para norte, demora pouco tempo na região do arquipélago,
ou não chega mesmo a atingi-lo, as precipitações são escassas (Amaral, 1964).

O clima é então caracterizado por uma longa estação seca (8 a 10 meses) e uma curta estação
das chuvas com uma pluviosidade média anual que não ultrapassa 300 mm para 65% do
território situado a menos de 400 m de altitude. Nas zonas situadas acima de 500 m de
altitude, as precipitações podem atingir 700 mm no periodo chuvoso, devido em parte
também à influência dos alísios.

Observações realizadas durante 265 anos (1718 - 1983) mostraram 97 anos de secas mais
ou menos severas, o que equivale a 1 ano de seca em cada 3 anos. Durante o mesmo período
verificaram-se 14 secas com a duração de mais de 3 anos consecutivos. As temperaturas
são geralmente moderadas devido à influência marítima com uma média anual de 27ºC.

Em função do relevo, do clima e o tipo de vegetação, consideram-se hoje as seguintes zonas


bio-climáticas:

• Zona árida: do litoral entre 0 e 200m de altitude, de carácter desértico, foi ao longo
dos anos beneficiado com uma pluviometria anual inferior a 300 mm. A vegetação
é, geralmente, do tipo estepe herbácea;

• Zona semi - árida: situa-se entre 200 e 400 m de altitude, com uma pluviometria
inter-anual que oscila entre 300 e 400 mm. Embora esta zona seja marginal para
agricultura, aqui é praticada em forma de culturas de subsistência nos anos de boa
pluviometria. A vegetação natural em pouco difere da zona árida embora seja mais
diversificada (6º SILUSBA” – Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos
Países de Língua Oficial Portuguesa 821);

• Zona sub - húmida: localizada entre 400 e 600 m de altitude, com uma
pluviometria interanual que oscila entre 400 e 600 mm.

Esta zona é mais vocacionada para a agricultura, podendo encontrar-se aqui várias
espécies lenhosas, arbustivas e arbóreas disseminadas pelos campos agrícolas, tais

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como Acácia farmesiana, Acácia nilotica, Adansonia digitata, Anacardium


occidentale, entre outras espécies afins;

• Zona húmida: situada acima dos 700 m de altitude, com uma pluviometria média
anual superior a 600 mm. Em termos de produção agrícola e forrageira é a mais
produtiva. Nas principais ilhas agrícolas do país (Santo Antão, Santiago, S. Nicolau
e Fogo), estas zonas são consideradas de uma importância vital para a infiltração
das águas pluviais e a recarga dos auíferos.

Figura 2 - Isoietas de Precipitação Media

Fonte: António Pedro Pina, 2016.

Apesar dos reduzidos valores médios anuais das precipitações, nos anos mais húmidos são
comuns as chuvas torrenciais, concentradas em apenas algumas horas. Estas chuvadas, por
razões ligadas à fisiografia e utilização dos solos, escoam-se muito rapidamente, dando origem
a cheias que fazem transbordar o leito das ribeiras e arrastam à sua passagem culturas, animais
e construções, situação que contrasta com os anos em que a precipitação é praticamente nula
em todo o território (Ventura, 2009). A Figura 3 ilustra os estragos provocado pelas chuvas
torrenciais na ilha de Santiago, em setembro de 2020,no bairro de Calabaceira Cidade da Praia.

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Figura 3- Chuvas torrenciais no mês de setembro de 2020 em Santiago

Fonte: Expresso das ilhas.

A geologia da maior parte das ilhas é dominada por emissões de escoadas lávicas e de materiais
piroclásticos (escórias, bagacinas ou "lapilli" e cinzas) subaéreos, predominantemente
basálticas (Gomes e Pina, 2009). Em consequência, os solos são geralmente de textura grosseira
e delgados, com reduzida capacidade para reter a água. Nestas condições as chuvadas
torrenciais abrem grandes rasgos na paisagem onde os homens cultivam hortas abrigadas dos
ventos secos e do calor. As nascentes e as chuvas concentradas alimentam as culturas hortícolas
e frutícolas nesses vales húmidos.

Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. É desta
forma que é feito o abastecimento dos principais centros urbanos (Sal, Mindelo, Boa Vista,
Praia) que, com exceção da ilha da Boa Vista, é da responsabilidade da concessionária Empresa
de Eletricidade e Água (Electra) através do processo da osmose inversa. A capacidade instalada
para a produção de água dessalinizada em Cabo Verde era, em 2009, de 25.950 m3/dia
(Carvalho et al., 2010).

No entanto, a dessalinização, além de exigir investimento inicial avultado, consume muita


energia, o que num país onde praticamente toda a energia é produzia à base de combustíveis
importados, poderá tornar o processo insustentável e a gestão de água um desafio premente e

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sempre atual. Pois, o gasto energético médio para a produção de água dessalinizada é de 3,45
kWh/m3, o que se traduz num gasto energético total anual de 8,9 milhões de kWh, o que
representa cerca de 22 % de toda a energia consumida no país.

Perante este cenário torna-se necessário um novo paradigma de gestão e governança da água,
que fará da Reutilização das águas cinzas tratadas um grande desafio e uma importante
estratégia de conservação dos recursos hídricos.

2.2 Reutilização da água como estratégia de conservação dos


recursos hídricos

2.2.1 Conceitos e definições

Segundo o Guia Técnico de Reutilização de Águas Residuais (2014), a reutilização de água


consiste na utilização de águas residuais tratadas para qualquer finalidade que constitua um
benefício sócio-económico. De facto, existe uma variedade de águas residuais, em função da
sua origem e suas características, sendo uma delas a água cinza.

Friedler e Hadari (2006) definem a água cinzenta como toda a água com origem em
equipamentos geradores de efluentes numa casa com exceção dos sanitários (Friedler, 2006;
Nolde, 1999). Esta é a definição mais aceite entre vários autores, contudo as divergências entre
definições ocorrem nas águas provenientes de equipamentos de lavagem de louça, pois este tipo
de efluentes são os que apresentam maior carga orgânica e concentração de sólidos resultantes
de resíduos alimentares.

O manual para aproveitamento emergencial das águas cinzas (IPT, 2016) define águas cinzas
como as águas já utilizadas em tanques e máquinas de lavar roupa, no banho e em lavatórios de
banheiro. Não se incluem as águas da pia da cozinha e da bacia sanitária.

2.2.2 Aplicação da reutilização da água

A utilização de águas residuais tratadas é praticada preferencialmente para usos que requerem
maior procura deste recurso e que sejam compatíveis com a qualidade mais corrente dos
efluentes de ETAR. A rega agrícola é o grande domínio de aplicação da reutilização de águas

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residuais, pois a agricultura consome cerca de 65% dos recursos hídricos utilizados,
percentagem que diminui nos países de agricultura mais desenvolvida e aumenta nos restantes
(Asano et al., 2007). Em cabo verde também a agricultura consome muita água, pois os últimos
estudos mostram que aproximadamente 50% dos recursos hídricos são utilizados para rega.

Mas a água pode ser reutilizada para diversas outras finalidades, nomeadamente (por ordem
decrescente de volume utilizado) rega paisagística (aplicação na qual se destaca a rega dos
jardins públicos, campos de bola ou de golf), a reutilização industrial (principalmente como
reciclagem de água de arrefecimento), a recarga de aquíferos, determinados usos recreativos e
ambientais, usos urbanos que não obrigam à utilização de água potável e até como reforço de
origem de água bruta para produção de água para consumo humano.

Outra finalidade da reutilização da água é na construção civil. Pois, o reúso da água no canteiro
de obras pode gerar economia de 30% a 50% do consumo e ainda reduzir a produção de esgoto,
medida importante para áreas onde não há sistema de tratamento.
A água de reúso pode ser utilizada na descarga sanitária dos alojamentos, na irrigação de jardins
ou para molhar a terra, visando baixar a poeira do terreno em dias secos. Outra possibilidade
de aproveitamento é na elaboração do concreto, mas isso é algo que precisa ser feito com
cuidado. “Caso a água não potável seja procedente de água cinza, a utilização não requer
cuidados. Mas se ela for obtida do tratamento de água negra ou do esgoto predial pode alterar
a qualidade do concreto devido ao nitrogênio presente na urina”, alerta Ricardo Franci
Gonçalves.1

2.2.3 Reutilização de água como estratégia de conservação dos recursos hídricos

Quando se fala de reutilização de água como estratégia de combate à escassez de recursos


hídricos, está-se a falar de uma reutilização planeada, em que as águas residuais são tratadas e
utilizadas para uma aplicação que representa um benefício sócio-económico. (António, A. e
Helena, M,2010).

A utilização de águas residuais tratadas contribui para uma gestão dos recursos hídricos mais
sustentável, na medida em que:

1
Professor Doutor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo.

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• contribui para aumentar os recursos hídricos necessários para satisfação das


necessidades presentes e futuras para usos mais nobres;
• protege os ecossistemas, na medida em que reduz a quantidade de poluentes lançados
no meio, em consequência da redução do caudal de águas residuais tratadas
descarregado nos meios receptores aquáticos.

2.3 Efeito ambientais e sanitários no processo de reutilização de água

2.3.1 Efeito sanitários no processo de reutilização de água

As águas residuais, mesmo tratadas, contêm ainda compostos químicos e microrganismos


patogénicos em concentração, tanto mais reduzida quanto mais elevado o nível de tratamento.
Na maioria das aplicações de reutilização os riscos sanitários e ambientais decorrentes da pre-
sença desses constituintes são considerados praticamente inexistentes, porque são controlados
adequadamente.

Porém, há perigos cujo risco deve ser avaliado. Os microrganismos patogénicos podem
provocar doenças nos seres humanos e nos animais, algumas de grande gravidade. Igualmente,
certas substâncias, geralmente removidas de forma insuficiente no processo de tratamento, são
perigosas para a saúde humana quando ingeridas e, em alguns casos também, por contacto com
o corpo humano. A reutilização de águas residuais não representa apenas riscos de saúde
pública e animal, pois os seus constituintes também podem afectar o ambiente.

Neste sentido uma avaliação da qualidade da água residual torna-se necessária antes e pós-
tratamento, para garantir uma qualidade da água no sentido de se preservar a saúde publica e o
meio ambiente (plantas e solo), tendo como base os padrões estabelecidos pelas leis em vigor.
(Antonio, A. e Helena, M,2010)

2.3.2 Efeitos da qualidade das águas residuais tratadas nas plantas e no solo

As águas residuais apresentam, na sua constituição, compostos químicos e microbiológicos que


não são removidos ou inactivados na sua totalidade nas estações de tratamento. Alguns desses

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constituintes presentes nos efluentes tratados, interagem com as plantações por elas regadas e
com o solo de suporte ao crescimento das mesmas, podendo esta interacção ser a causa de
alguns riscos para a planta, para a saúde pública e para o ambiente. Exemplo disso é a
acumulação excessiva de sais e metais pesados na planta e no solo, provocando
consequentemente um elevado risco de toxicidade nas plantas (Diana Oliveira, 2012).

Quadro 1- Características das Águas Residuais que podem ser prejudiciais ao sistema solo-planta

Características Parâmetro de Avaliação Efeito

- A elevada salinidade pode provocar danos


e podem prejudicar o bom desenvolvimento da planta;
Condutividade Elétrica (CE)
- Alguns elementos podem ser tóxicos para as
Salinidade Sólidos Dissolvidos
plantas (Na,B,Cl);
Iões específicos (Na,Ca,Mg,CL,B)
- O Na pode induzir problemas de
permeabilidade no solo.

- Elevadas concentrações de SST podem


Sólidos em provocar depósitos de sólidos, entupimento nos
Sólidos suspensos Totais (SST)
suspensão sistemas de rega e ainda reduzir a permeabilidade
do solo.

Carência Química de Oxigénio


Matérias Orgânicas - Em efluentes tratados, estes são parâmetros
(CQO), carência Bioquímica de
Biodegradável que, por norma, não causam grandes problemas.
Oxigénio (CBO)

- Azoto São fundamentais para o


Nutriente - Fósforo crescimento das plantas. A sua presença valoriza
- Potássio a qualidade da água de rega.

Atividade - O pH das águas residuais afeta a solubilidade


pH
hidrogeniónica dos metais e a alcalinidade do solo

- Alguns dos metais acumulam-se nas plantas


e no solo, tomando-se tóxicos para as plantas e animais
Metais Pesados Cd,Cr,Cu,Fe,Hg,Ni,Zn
- A sua presença pode ser um fator limitante
na utilização de águas residuais para rega.

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- Teores excessivos de cloro livre podem


Cloro livre provocar queimaduras nas folhas
Cloro Residual
Cloro Combinado - A presença de Cloro combinado não causa
problemas

Microrganismos
Coliformes Fecais - Organismos causadores de patogenicidade
patogénicos

Fonte: Marecos do Monte e Albuquerque, 2010

2.4 Reutilização de água para rega agrícola e paisagística

2.4.1 Água tratada para rega agrícola

Um sistema de reutilização de águas residuais para rega paisagística é análogo a um sistema de


reutilização para rega agrícola, com a diferença de as plantas serem, neste caso, de interesse
ornamental. A água de rega deve satisfazer as necessidades hídricas das plantas, proporcionar
o seu bom desenvolvimento vegetativo (qualidade agronómica), daí que a qualidade dessas
águas deve cumprir igualmente os requisitos de protecção da saúde pública.

A reutilização de águas residuais para a rega agricola é uma prática muito antiga, sendo
atualmente a aplicação de maior volume, tanto nos países de agricultura mais desenvolvida
como nos países em desenvolvimento.

Como anteriormente referido, a qualidade de águas residuais tratadas para rega deve satisfazer
os requisitos agronómicos e os requisitos de protecção da saúde pública. Deve satisfazer as
necessidades hídricas das plantas e não, pelo contrário, ser o veículo de aplicação de substâncias
prejudiciais ao seu desenvolvimento (como o excesso de sais dissolvidos, de sódio, de metais
pesados, de cloro residual) e podendo transportar substâncias benéficas ao desenvolvimento da
planta (como os chamados nutrientes – compostos de nitrogênio e de fósforo –, o potássio, o
zinco, o enxofre e boro, por exemplo). A protecção da saúde pública exige que o teor de
microrganismos, indicadores de contaminação fecal, seja compatível com o tipo de exposição
humana e animal à rega e aos produtos regados.

O método de irrigação pode proporcionar o contacto directo com as culturas como acontece
com a rega por aspersão e, nesse caso, o tratamento de águas residuais a utilizar na rega deve

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incluir a desinfecção. Tratamento que será indispensável em certas aplicações, em especial nas
culturas destinadas a serem consumidas cruas. Assim, o nível de tratamento das águas residuais,
o método de rega e o tipo de cultura a regar constituem três variáveis dependentes entre si, com
as quais é possível controlar os riscos de saúde pública (Antonio Al. e Helena M,2010).

2.4.2 Água tratada para rega paisagística

A chamada rega paisagística consiste na rega de espaços verdes ornamentais, como parques e
jardins, separadores de auto-estradas, relvados de campos desportivos, nomeadamente de
campos de golfe.

Em termos de volume de água, a rega paisagística constitui a segunda maior aplicação de


reutilização de águas residuais tratadas em países desenvolvidos. Os Estados Unidos da
América (EUA) são o grande exemplo de reutilização para rega paisagística, a qual tende a
aumentar significativamente noutras regiões, como a Europa e o Extremo Oriente.

Em Cabo verde, assiste-se a um interesse crescente pela reutilização de águas residuais tratadas
na rega paisagística, principalmente na irrigação dos jardins que consomem uma quantidade
enorme de água.

Os fatores que condicionam a reutilização para rega paisagística são os mesmos referidos para
a rega agrícola, isto é, características químicas favoráveis ao desenvolvimento das plantas e
características microbiológicas compatíveis com a adequada proteção da saúde pública, embora
geralmente esta seja considerada primordial, dada a elevada probabilidade de contacto humano
com os relvados, nomeadamente no caso dos campos de golfe (António, A. e Helena, M,2010).

2.5 Critérios e parâmetros para controlo da qualidade da água para


irrigação

Os padrões de qualidade da água reutilizada em rega paisagística são semelhantes aos de


irrigação agrícola, principalmente no que diz respeito aos critérios de qualidade agronómica.
Os critérios de qualidade microbiológica devem atender ao uso das plantas que, como se sabe,
é bastante variado.

Quando se trata de reutilização para rega, os constituintes microbiológicos assumem uma


importância significativamente maior que os compostos químicos, pois não se trata de

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reutilização direta ou indireta para produção de água potável, em que a presença no efluente
recuperado de determinados compostos, nomeadamente muitas moléculas orgânicas
complexas, potencialmente cancerígenas, representa também um risco significativo para a
saúde pública (António, A. e Helena, M,2010).

Em cabo verde, a reutilização da água tratada para rega obedece ao estatuído no Decreto-Lei no
4/2020, de 2 de março, que define os parâmetros para controlo da qualidade da água, no que
respeita aos parâmetros físicos, químicos e biológicos que definem a qualidade da água aceite
como adequada para rega, parâmetros que devem ser observados com vista à proteção da Saúde
pública e do ambiente.

O referido diploma legal autoriza a utilização de APR (Aguas pluviais reutilizaveis) e ART
(Aguas residuais tratadas )destinadas a rega, classificando como águas de rega aquelas que
satisfazem o Valor Máximo Admissível (VMA) e o Valor Máximo Recomendado (VMR),
conforme o estatuído no seu artigo 6o, no qual estão definidos os parâmetros que determinam
os métodos e critérios de qualidade da água de rega.

2.6 Sistemas de reutilização de águas cinzas tratadas

2.6.1 Tratamento da água cinza

Conforme os poluentes contidos nos efluentes, que podem ser de natureza física, química e
biológica, os processos de tratamento podem também ser classificados. Assim, as principais
características a serem consideradas na definição do tipo de tratamento de águas cinzas para
reúso são a grande variação de vazão em períodos curtos de tempo e a elevada
biodegradabilidade. Existe uma grande variedade de processos desenvolvidos, variando desde
sistemas simples em residências até séries de tratamentos avançados para reúso em larga escala
(JEFFERSON et al, 1999).

Em função de suas características físico-químicas e biológicas, as águas cinzas podem ser


tratadas por processos de tratamento semelhantes aos utilizados em estações de tratamento de
esgoto sanitário. Entretanto, deve se considerar o facto de que as exigências de qualidade do
efluente tratado são muito superiores no caso de reúso de águas cinzas, sobretudo quando se
trata de reuso em edificações.

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2.6.1.1 Tratamento primário

Tendo em vista as grandes variações de caudal de águas cinzas na escala horária, a utilização
de um tanque de equalização de vazões pode ser importante, dependendo do tipo de tratamento
a ser praticado para regularizar cargas e vazões.

A presença de sólidos grosseiros nas águas cinzas, embora de dimensões reduzidas devido à
presença dos ralos e grelhas nas instalações hidro-sanitárias, impõe a necessidade de uma etapa
de tratamento primário. Podem vir a ser consideráveis as quantidades de areia, cabelos, felpas
de tecidos, restos de alimentos, entre outros tipos de material. A remoção destes sólidos
grosseiros pode ser realizada por meio de grades finas ou peneiras, raramente associadas a uma
etapa de sedimentação (caixa retentora de areia).

Para Christova-Boal et al. (1996), a etapa de filtração de águas cinzas deve ser composta por
três estágios:

• Estágio 1 – Pré-filtro localizado nas saídas da máquina de lavar, do chuveiro e dos


lavatórios, para remover materiais grosseiros;
• Estágio 2 – Uma peneira para remoção de cabelo e partículas de sabão, felpas de tecidos
e gordura corporal.
• Estágio 3 – Filtro fino na linha de suprimento de água para irrigação ou para os vasos
sanitários, para reter precipitados ou material sedimentável.

Se não houver aproveitamento de água cinza originária de cozinhas, não é necessária a inclusão
de caixas de gordura no fluxograma da Estação de Tratamento de Águas Cinzas (ETAC).

2.6.1.2 Tratamento secundário

O tratamento secundário promove a degradação biológica de compostos carbonáceos,


convertendo os carboidratos, óleos e graxas e proteínas a compostos mais simples, como CO2,
H2O, NH3, H2S, entre outros compostos, dependendo do tipo de processo predominante. Pode
ser realizado pela via anaeróbia, aeróbia ou pela associação em série de ambas, anaeróbia e
aeróbia (CAMPOS, 1999).

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Nos sistemas anaeróbios ocorre a conversão da maior parte do material orgânico biodegradável
presente na água residuária em biogás, entre os 70 e 90% (cf. Figura 4). Cerca de 5% a 15% da
matéria orgânica é transformada em biomassa microbiana, constituindo-se no lodo excedente
do sistema. O efluente do sistema contém cerca de 10% a 30% da matéria orgânica nele presente
antes do tratamento. Já nos sistemas aeróbios, a degradação biológica é responsável pela
conversão de 40 a 50% da matéria orgânica da água residuária em CO2. Uma importante fração
desta matéria orgânica (de 50 a 60%) é convertida em biomassa microbiana, produzindo lodo
excedente do sistema. O material orgânico não convertido em gás carbônico ou em biomassa
sai no efluente como material não degradado (5 a 10%). (PROSAB,2006)

Figura 4- Conversão biológica da matéria orgânica nos sistemas aeróbios e anaeróbios de tratamento
de esgoto sanitário

Fonte: Chernicharo, 2001.

Com relação aos processos aeróbios mais utilizados no tratamento de esgoto sanitário, podem
ser citados o tratamento no solo (Vala de filtração, Infiltração rápida, Irrigação subsuperficial e
Escoamento superficial), o tratamento em lagoas (Lagoas de estabilização facultativas, Lagoa
de polimento, Lagoa de alta taxa de produção de algas) e o tratamento em reatores com biofilme
(Filtro biológico percolador, Biofiltro aerado submerso, filtro biológico aerado submerso, Leito
fluidizado aeróbio). Além do tratamento em reatores de lodos ativados (Sistema de lodos
ativados convencional, Sistema de reatores sequenciais em batelada), existe ainda o tratamento
em sistemas de flotação (Microaeração e Flotação, Flotação por Ar Dissolvido).

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2.6.1.3 Tratamento terciário


O tratamento terciário de águas cinzas deve ter como objetivo a desinfecção, uma vez que a
remoção de nutrientes não é uma exigência cabível nos casos de reúso de água em edificações
ou agrícola. O objetivo principal da desinfecção é inativar seletivamente espécies de
organismos presentes no esgoto sanitário, em especial aquelas que ameaçam a saúde humana
(GONÇALVES, 2003).
Os mecanismos envolvidos na desinfecção dos organismos patogênicos podem destruir ou
danificar a parede celular, o citoplasma ou o núcleo celular e alterar importantes compostos
envolvidos no catabolismo, tais como enzimas e seus substratos, e alterar os processos de
síntese e crescimento celular. A desinfecção pode ser realizada através de processos artificiais
ou naturais (cf. Figura 5).

Tanto os processos artificiais como os naturais utilizam o isoladamente ou de forma combinada,


de agentes físicos e químicos para inativar os organismos-alvo. A desinfecção química é
realizada através da aplicação de compostos do grupo fenólico, álcoois, halogênios e metais
pesados. Os agentes químicos mais utilizados na desinfecção de esgotos são cloro, dióxido de
cloro e ozônio. O ozônio é um oxidante extremamente reativo, altamente bactericida, cuja
complexidade operacional e o os custos envolvidos, tanto na implantação quanto no
funcionamento do sistema, ainda dificultam seu uso extensivo. A utilização da radiação
ultravioleta (UV) mostra-se muito competitiva com a cloração / descloração devido à não
geração dos subprodutos tóxicos. A filtração em membranas já integra o fluxograma de algumas
estações de tratamento, e experimenta crescente aplicação devido à redução de preço das
membranas.

Figura 5- Processos de desinfeção de esgotos sanitários

Fonte: Gonçalves, 2003

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2.6.1.4 Sistema de reutilização de águas cinzas tratadas

Um Sistema de Reutilização de Águas Cinzas Tratadas (SRACT) pode ser definido como o
conjunto das infraestruturas que tratam as águas cinzas a um nível adequado para subsequentes
utilizações e as conduzem aos respetivos utilizadores.

De acordo com o Relatório Técnico 5/2017, um SRACT compreende sempre uma ou várias
estações de tratamento de águas residuais e redes de distribuição do efluente tratado ao(s)
utilizador(es). Dependendo do tipo de utilização da água e das condições físicas locais, um
sistema de reutilização de águas cinzas pode incluir ou não:

• Reservatório de regularização do efluente a submeter a tratamento complementar para


ser reutilizado;
• Instalações de tratamento complementar à(s) ETAR existente(s);
• Reservatórios de armazenamento;
• Rede de tubagens de distribuição e aplicação da água residual tratada;
• Estações elevatórias;
• Medidores de caudal abastecido.

Segundo o relatório acima referido, os sistemas prediais de água não potável fazem uso de
fontes alternativas de água, promovendo um abastecimento alternativo em usos que não
oferecem riscos à saúde humana em edificações. Estes sistemas apresentam, em suas
instalações hidráulicas, uma série elementos em comum, conforme ilustra a Figura 6.

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Figura 6- Fluxograma conceitual das instalações prediais de sistemas de água não potável

Fonte: Relatório Técnico 5/2017


Cada sistema de reutilização de águas residuais tratadas é um caso, condicionado
principalmente pelas características quantitativas e qualitativas das águas residuais tratadas,
pelas características físicas do local, pelos tipos de utilização a atender e pela regulamentação
sobre reutilização em vigor.

Consequentemente, os sistemas de reutilização de águas residuais tratadas podem variar


largamente, tanto em dimensão como em complexidade tecnológica. A tecnologia apropriada,
tanto pode consistir num sistema de lagunagem natural como num reator de biomembranas,
consoante as características do sistema.

2.6.1.5 ETAR em Cabo Verde

O Plano Estratégico Nacional de Água e Saneamento (PLENAS) de 8 janeiro de 2015 define


as Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) como sendo as instalações onde se
removem os contaminantes das águas residuais. As águas residuais têm de ser
convenientemente tratadas em ETAR antes de serem descarregadas no meio hídrico.
Cabo Verde conta, atualmente, com 11 ETAR, estando em funcionamento 9 ETAR. As ETAR
de Palmarejo e Ribeira das Vinhas representam cerca de 65% a 70% do total dos efluentes.
O Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB) contém um quadro de caracterização das
estações de tratamento de águas residuais (ETAR) existentes no País:

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Tabela 1- Características das estações de tratamento das águas residuais (ETAR) existentes no país.

Capacidade Capacidade
Início de instalada em instalada em Linha de tratamento
Ilha Localidade Usos
Exploração EETAR ETAR dos efluentes
2010(m3/d) 2018(m3/d)

Possível de
Tratamento Preliminar
Tarrafal 2009 1910 663 reutilizar na
+ LA+ LF + LM
irrigação.

Reutilização
Em Tratamento Preliminar
Sao Miguel 1000 900 muito
construção. + Sedimentação
condicionada.
Santiago Tratamento Preliminar
Reutilização
Santa Cruz 2009 1500 1000 + Sedimentação + IP +
condicionada
F
Santa Catarina 225
Reutilização Tratamento Preliminar
Achada S.A
condicionada. + La
Tratamento Preliminar
Possível de
Palmarejo 1997 14000 8120 + Sedimentação +
reutilizar.
La + UV + Cl
Com
São Ribeira de Tratamento Preliminar
1983 5000 5000 reutilização
Vicente Vinha + LA+ LF + LM
na irrigação.
Tratamento Preliminar
Santa Maria Possível de
2010 1000 +
APP reutilização.
H + La + F + UV
Sal
Possível de Tratamento Preliminar
Santa Maria 2010 2500 1000 reutilizar na + Sedimentação + La +
irrigação. F + UV
Chaves 1000
Boa Vista
Lacacão 1000
LA - Lamas Ativadas; LA - Lagoa Anaeróbica; LF- Lagoa facultativa; LM - Lagoas de Manutenção; F - Filtração; Cl - Cloragem;

UV - Radiação ultravioleta; IP – Infiltração Percolação; H-Homogeneização.

Fonte: Adaptado pelo autor baseado no PLENAS de 8 janeiro de 2015 e do LNEC de 23 de abril de
2018.

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3 Estudo de caso

3.1 Introdução

O presente Trabalho refere-se ao projeto de dimensionamento do Sistema de Tratamento das


Águas Cinzas para o Edifício B da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. A escolha da
Universidade Jean Piaget deve-se ao facto de a Universidade ser um lugar de elevada
concentração de pessoas e, por conseguinte, existir uma elevada produção de águas cinzas que
pode ser reutilizada.

Figura 7- Edifício B da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.

Fonte :Autor

Para realização deste trabalho vai ser utilizada uma metodologia que consistirá em:

• Redimensionar as instalações sanitárias do Bloco B;


• Avaliar a qualidade da água cinza produzida no referido edifício, antes e depois do
tratamento;
• Propor e dimensionar o sistema de tratamento das águas cinzas adequado;
• Elaborar um estudo de viabilidade financeira do projeto.

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3.2 Redimensionamento das instalações sanitárias do edifício B

O estudo da rede, traçado, e redimensionamento, teve como base os projetos iniciais de


arquitetura e rede predial de águas residuais do respetivo edifício e está de acordo com a
legislação, normas, regulamentos e homologações, dos quais se destacam:

• Regulamento Geral dos Sistemas Públicos de Distribuição de Água e de Drenagem de


Águas Residuais (RGSPDADAR);
• Dimensionamento de Redes de Distribuição de Águas em Edifícios do Laboratório
Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

3.2.1 Descrição da instalação

O edifício B é composto por 4 casas de banho, sendo 2 no piso superior e 2 no piso térreo. As
casas de banho, em cada, piso são subdividas em casa de banho para masculinos (do lado
esquerdo) e casa de banho para femininos (do lado direito). Os aparelhos sanitários do edifício
B estão principalmente constituídos por 10 mictórios suspensos, 22 lavatórios e 20 bacias de
retrete.

Após a aquisição dos projetos de canalização do edifício B e a visita a instalacao, verificou-se


uma inadequação entre o “que foi projetado” e o “que foi executado”. Foi necessário realizar
um novo levantamento das instalações bem como o respetivo traçado, separando desta forma
as redes de águas cinzas e negras, como esta indicado na Figura 8 abaixo.

As redes foram separadas em redes de águas cinzas (amarelo) e redes de águas negras
(vermelho). Esta separação é fundamental para facilitar a reutilização das águas cinzas (águas
residuais dos lavatórios neste caso) e permitir elaborar de forma correta o redimensionamento
das instalações sanitárias.

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Figura 8- Rede separativo da água cinza (amarelo) e água negra (vermelho) no piso 1 do edifício B.

Fonte:Autor

Para fazer esses traçados foi necessário fazer o levantamento das instalações existentes e
comparar o tracado do projeto inicial com o realmente executado. Durante esta fase de
levantamento foi comprovado as seguintes anotações do projeto inicial:

• Todos os aparelhos sanitários são equipados com sifão individual ou sifonados em


conjunto com outros aparelhos;
• Os ramais de descarga e coletores foram executados em PVC rígidos, com os
diâmetros e inclinações indicados nas peças desenhadas;
• Os tubos de queda do mesmo material foram prolongados acima da cobertura de
acordo com as disposições regulamentares;
• As câmaras de inspeção foram instaladas a uma distância do tubo de queda inferior
a 10 vezes o seu diâmetro;
• Não foi utilizada a dupla sifonagem.

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Figura 9- Rede separativo Água Cinza (amarelo) e Água Negra (vermelho) no piso 0 do edifício B.

Fonte:Autor

Não foram cumpridas as seguintes premissas:

• Os afluentes domésticos não foram coletados de forma conjunta. Optou-se por um


sistema separativo com tubos e ramais específicos de águas cinzas e negras, o que
facilitará o tratamento das águas cinzas;
• Os efluentes não foram coletados numa caixa de reunião, mas sim executado ramais
de descargas não individuais ligados diretamente aos tubos de queda e câmara de
inspeção;
• Não foram instalados mictórios de espaldar, mas sim mictórios suspensos.

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Este levantamento das instalações nos projetos de ampliação ou remodelação é muito


importante já que permite:

❖ Identificar as falhas no sistema para ter maior controle e atuação;


❖ Estruturar corretamente o sistema de tratamento das águas cinzas;
❖ Dimensionar sem erro. Pois, feito um primeiro dimensionamento das instalações tendo
como base o projeto inicial, foram encontrados valores totalmente absurdos. Como
mencionado anteriormente, as instalações não foram executadas como projetadas.

3.2.2 Redimensionamento das instalações sanitárias do edifício B

Para o estudo do redimensionamento dos sistemas de drenagem de água residuais do bloco B,


nesta secção, baseou-se nos artigos estipulados no titulo V do regulamento relativo aos
elementos de base a considerar no dimensionamento, nomeadamente os caudais de descarga e
os caudais de cálculo e as regras de dimensionamento de cada um dos elementos da rede predial
de drenagem.

O dimensionamento dos ramais de descarga contemplou as condições exigidas pelo


regulamento, de forma a não ser necessário instalar ramais de ventilação secundária nessa
tubagem.

A verificação da capacidade de autolimpeza foi feita para os caudais de projeto, pelo critério
do poder de transporte mínimo para as águas com elevado teor de gordura e/ou lamas. Este
critério estabelece um valor mínimo para a tensão de arrastamento de 0,25 kg/m2.

Os caudais de cálculo foram obtidos atraves do somatório dos caudais de descargas individuais
de cada aparelho. Todos os cálculos foram feitos cumprido o decreto-regulamentar 23/95, de
23 de agosto, e estão sintetizados nos quadros apresentados em baixo.

DIMENSIONAMENTO DOS RAMAIS DE DESCARGA INDIVIDUAIS

O dimensionamento dos ramais de descarga individuais, de acordo com o referido decreto-


regulamentar, baseou-se nos condicionalismos regulamentares seguintes:

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• Nos caudais mínimos de descarga dos aparelhos sanitários indicados na Tabela


2;

• Nos casos em que esta distância foi ultrapassada, dimensionou-se o ramal de


descarga individual a meia secção;

• Nos diâmetros mínimos dos ramais de descarga indicados na Tabela 3.

Os caudais de descarga são os caudais descarregados pelos aparelhos sanitários para as redes
prediais de drenagem. Segundo o RGSPDADAR, os valores mínimos a considerar nos
aparelhos e equipamentos sanitários estão indicados na Tabela 3 e devem estar de acordo com
o fim específico de cada um.

Tabela 2- Caudais mínimos de descarga dos aparelhos sanitários


Caudais de
Aparelhos Sanitários Descarga
(L/min)
Bacia de retrete 90
Banheira 60
Bidé 30
Chuveiro 30
Lavatório 30
Máquina lava-Louça 60
Máquina lava-Roupa 60
Mictório de espaldar 90
Mictório suspenso 60
Pia lava-Louça 30
Tanque 60
Fonte : Decreto-regulamentar nº 23/95, de 23 de agosto

Tendo no Bloco B somente mictórios suspensos, bacia de retrete e lavatórios, os caudais de


descarga mínimos a serem considerados são de 60 L/min, 90 L/min e 30 L/min, respetivamente.
A cada aparelho sanitário foi atribuído um diâmetro mínimo para ramais de descarga de acordo
com a seguinte tabela:

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Tabela 3- Diâmetros mínimos dos ramais de descarga individuais.


Diâmetro
mínimo do
Aparelho Sanitário Ramal de
descarga
(mm)
Bacia de retrete 90
Banheira 40
Bidé 40
Chuveiro 40
Lavatório 40
Máquina lava-Louça 50
Máquina lava-Roupa 50
Mictório de espaldar 75
Mictório suspenso 50
Pia lava-Louça 50
Tanque 50
Fonte : Decreto-regulamentar nº 23/95, de 23 de agosto

Os ramais de descargas mínimos para mictórios suspensos, bacia de retrete e lavatórios são de
50 mm, 90 mm e 40 mm respetivamente. Os diâmetros podem ser também calculados
rigorosamente com a equação 2 (Eq.2) que foi utilizada para os ramais de descarga não
individuais.

As tabelas 4 e 5 apresentados resumem o dimensionamento dos ramais de descargas individuais


de todos os aparelhos sanitários do piso 1 (Tabela 4) e do piso 0 (Tabela 5).

Tabela 4- Dimensionamento dos ramais de descargas individuais do Piso 1

Caudal Caudal de Diametro Diametro


Tipo de Quant. Caudal Seccao cheia(1)
troco descarga descarga Ventil. Secund Inclinacao interior comerc.
aparelho De aparelho de calculo meia (1/2)
individual acum Projeto Adoptado
[-] [-] n l/min l/min l/min [-] [-] m/m mm mm
Casa de Bacia Retr.(Br) 4 90 90 nao (1/2) 0,02 60,6273782 90
banho Mictorio (Mi) 5 60 60 nao (1/2) 0,04 45,7289723 50
(Homem) Lavatorio (Lv) 6 30 30 nao (1/2) 0,03 37,2161297 40

Casa de Bacia Retr.(Br) 6 90 90 nao (1/2) 0,02 60,6273782 90


banho Lavatorio (Lv) 6 30 30 nao (1/2) 0,03 37,2161297 40
(Mulher)

Fonte: Autor

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Tabela 5- Dimensionamento dos ramais de descarda individuais do Piso 0

Caudal Caudal de Diametro Diametro


Tipo de Quant. Caudal Seccao cheia(1)
troco descarga descarga Ventil. Secund Inclinacao interior comerc.
aparelho De aparelho de calculo meia (1/2)
individual acum Projeto Adoptado
[-] [-] n l/min l/min l/min [-] [-] m/m mm mm
Casa de Mictorio (Mi) 5 60 60 nao (1/2) 0,04 45,7289723 50
banho Bacia Retr.(Br) 4 90 90 nao (1/2) 0,02 60,6273782 90
(Homem) Lavatorio (Lv) 6 30 30 nao (1/2) 0,03 37,2161297 40

Casa de Bacia Retr.(Br) 6 90 90 nao (1/2) 0,04 53,238482 90


banho Lavatorio (Lv) 6 30 30 nao (1/2) 0,03 37,2161297 40
(Mulher)

Fonte: Autor

DIMENSIONAMENTO DOS RAMAIS DE DESCARGA NÃO INDIVIDUAIS

Os caudais acumulados a considerar no dimensionamento foram obtidos, fazendo o somatório


dos caudais de descarga atribuídos aos aparelhos sanitários. A partir dos caudais acumulados
pode-se calcular os caudais de cálculos a partir da equação seguinte:

𝑄𝑐 = 7,3497 ∗ 𝑄𝑎0,5352 (Eq.1)


Sendo Qa o caudal acumulado.
Com o caudal de cálculo da equação Eq.1, pode ser determinado com precisão os diâmetros de
descargas não individuais de cada troço através da seguinte expressão obtida a partir da formula
de Manning stricker:

3
𝑄𝑐 8
𝐷= 3 3 (Eq.2)
0,6459𝐾8 𝑖 16

Considerando o escoamento a meia secção. Em que:


a) Qc = caudal de cálculo (m3 /s);
b) K = rugosidade da tubagem (m1/3 /s);
c) i = inclinação (m/m)
Escoamentos a meia secção em tubagens de PVC K=120 m1/3/s.

No dimensionamento, as inclinações não foram escolhidas ao acaso, mas sim de acordo com a
tabela 3.5 do decreto 23/95 do regulamento, representada na Tabela 6 em baixo.

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Tabela 6- Diâmetros de ramais de descarga e inclinação dos ramais

Diâmetro Caudais (L/min)


DN (mm) Interior Inclinação
(mm) 1% 2% 3% 4%
40 36,4 16 23 28 33
50 45,6 30 42 52 60
75 70,6 96 135 165 191
90 85,6 160 226 277 319
110 105,1 276 390 478 552
125 119,5 389 550 673 777

Fonte : Decreto-legislativo nº 23/95, de 23 de agosto


Todas as informações acima citadas permitiram fazer de forma rigorosa o dimensionamento
dos ramais de descardas não individuais, como indicados nas Tabelas 7 e 8, em baixo.
Tabela 7- Dimensionamento dos ramais de descarda não individuais do Piso 1
Quant. Caudal Caudal de Seccao Diametro Diametro
Tipo de Caudal Tensao
troco De descarga descarga Ventil. Secund cheia(1) Inclinacao interior comerc.
aparelho de calculo de Arrast
aparelho individual acum meia (1/2) Projeto Adoptado
[-] [-] n l/min l/min l/min [-] [-] m/m mm mm Kg/m2
Mictorio (Mi) 5 60 300
Casa de 1 Bacia Retr.(Br) 4 90 660 243,008601 nao (1/2) 0,04 77,2667846 90 0,75721449
banho Lavatorio (Lv) 1 30 690
(Homem) 2 Lavatorio (Lv) 5 30 150 107,37759 nao (1/2) 0,02 64,7769458 75 0,31740703

Bacia Retr.(Br) 6 90 540


Casa de 3 219,388488 nao (1/2) 0,01 96,4331069 110 0,23626111
banho Lavatorio (Lv) 1 30 570
(Mulher) 4 Lavatorio (Lv) 5 30 150 107,37759 nao (1/2) 0,02 64,7769458 75 0,31740703

Fonte: Autor
Tabela 8- Dimensionamento dos ramais de descarda não individuais do Piso 0

Quant. Caudal Caudal de Seccao Diametro Diametro


Tipo de Caudal Tensao
troco De descarga descarga Ventil. Secund cheia(1) Inclinacao interior comerc.
aparelho de calculo de Arrast
aparelho individual acum meia (1/2) Projeto Adoptado
[-] [-] n l/min l/min l/min [-] [-] m/m mm mm Kg/m2
Mictorio (Mi) 5 60 300
Casa de
5 Bacia Retr.(Br) 4 90 660 348,036061 nao (1/2) 0,03 93,3082035 125 0,6858153
banho
Tq1 10 - 1350
esquerdo
6 Lavatorio (Lv) 5 30 150 107,37759 nao (1/2) 0,02 64,7769458 75 0,31740703
(Homem)

Bacia Retr.(Br) 6 90 540

Casa de Tq4 6 - 1080


7 313,41983 nao (1/2) 0,02 96,7999813 110 0,47431991
banho
direito Lavatorio (Lv) 1 30 1110
(Mulher)
8 Lavatorio (Lv) 5 30 150 107,37759 nao (1/2) 0,02 64,7769458 75 0,31740703

Fonte: Autor

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A tensão de arrastamento é determinada para garantir a autolimpeza, isto é, para que os sólidos
sedimentáveis contidos nas águas residuais se arrastam para jusante pela ação do próprio
escoamento. Esta condição foi respeitada no dimensionamento, pois todos valores foram
encontrados a partir da fórmula:
𝜏 = 𝛾𝑖𝑅 (Eq.3)

A valor é maior ou igual a 0,25 Kg/m2 ou 2,5 N.m-2.


Em que:çç-
𝜏-Tensao de arrastamento (N.m-2);
𝛾-Peso volúmico da água residual (N.m-3), considerando o peso volúmico da água residual
igual a 9800 N.m-3;
R-Raio hidráulico (m);
i- inclinação (m/m).

DIMENSIONAMENTO DOS TUBOS DE QUEDAS

No dimensionamento dos tubos de queda pelo método proposto no RGSPPDADAR foram


respeitadas as taxas de ocupação permitidas para drenagem sem ventilação secundária,
apresentadas na Tabela 9, em baixo.
Tabela 9- Dimensionamento dos tubos de queda
Diâmetro Caudais (L/min)
DN (mm) Interior Inclinação
(mm) 1/3 1/4 1/5 1/6 1/7
50 45,6 81 50 34 25 20
75 70,6 259 160 111 82 63
90 85,6 433 268 185 136 106
110 105,1 749 464 320 236 182
125 119,5 1055 653 450 332 257
140 133,9 1429 885 610 450 348
160 153 2039 1262 870 642 497
200 191,4 3704 2293 1581 1167 902
250 239,4 6728 4165 2872 2119 1639

Fonte :Decreto-regulamentar nº 23/95, de 23 de agosto

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Os diâmetros foram obtidos com recurso à formula da equação 4:

3 −5
𝐷 = 4,44205𝑄𝑐 8. 𝑡𝑠 8 (Eq. 4)

Nas Tabelas 10 e 11 estão representados os resultados obtidos por este método, tendo em
consideração o diâmetro mínimo de 50 mm para os tubos de queda.
Tabela 10- Dimensionamento dos tubos de quedas das águas cinzas
Caudal de Diametro Diametro Alt. Diametro Diametro
Troço Caudal Taxa de Ventil.
tubos descarga Tubo de comerc. Coluna Coluna comerc. Q/d Material
que converg de calculo ocupacao Sec
acum Queda Adoptado ventil Vent Adoptado
[-] [-] l/min l/min [-] mm mm [-] m mm mm
Casa de
D2 5Lv
banho
(Homem) Total 150 107,37759 0,142 86,47365186 90 nao 0 0 0 1,24173766 PVC
Piso 1
+
Piso 0

Casa de
D3 5Lv
banho
(Mulher) Total 150 107,37759 0,142 86,47365186 90 nao 0 0 0 1,24173766 PVC
Piso 1
+
Piso 0

Fonte: Autor

Tabela 11- Dimensionamento dos tubos de quedas das águas negras


Caudal de Diametro Diametro Alt. Diametro Diametro
Troço Caudal Taxa de Ventil.
tubos descarga Tubo de comerc. Coluna Coluna comerc. Q/d Material
que converg de calculo ocupacao Sec
acum Queda Adoptado ventil Vent Adoptado
[-] [-] l/min l/min [-] mm mm [-] m mm mm
Casa de 4Br+5
banho D1 Mi+1Lv
(Homem)
Total 690 243,008601 0,142 117,4625154 125 nao 0 0 0 2,0688183 PVC
Piso 1
+
Piso 0

Casa de
banho D4
6Br+1Lv
(Mulheres) Total 570 219,388488 0,166 102,5319054 110 nao 0 0 0 2,13970946 PVC
Piso 1
+
Piso 0

Fonte: Autor

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O edifício B é constituindo por apenas 2 pisos, pelo que não foi preciso implementar uma
ventilação secundária. Pois, o RGSPPDADAR recomenda fazer ventilação secundária a
edifícios com altura superior a 35 m ou com caudal de cálculo maior a 700 L/min.

A expressão Q/d é a razão do caudal de cálculo e do diâmetro do tubo de queda. É a condição


que deve ser respeitada para não ocorrer ruídos nos tubos de queda. Este valor deve ser sempre
inferior ou igual a 2,5.

DIMENSIONAMENTO DOS COLETORES PREDIAIS

No caso do RGSPPDADAR, os diâmetros foram obtidos utilizando a fórmula de Maning-


Strickler da equação 2, considerando escoamento a meia secção. As inclinações dos coletores
devem estar compridas entre 10 e 40 mm/m, com os diâmetros mínimos dos coletores não
inferiores a 100 mm.

As inclinações foram obtidas a partir da Tabela 12, sendo que o RGSPPDADAR preconiza uma
inclinação mínima de 2 % para coletores prediais.
Tabela 12- Dimensionamento de coletores prediais.
Diâmetro Caudais (L/min)
DN (mm) Interior Inclinação
(mm) 1% 2% 3% 4%
110 105,1 276 390 478 552
125 119,5 389 550 673 777
140 133,9 527 745 912 1053
160 153 751 1063 1301 1503
200 191,4 1365 1931 2365 2730
250 239,4 2479 3506 4294 4959
315 301,8 4598 6503 7965 9197

Fonte : Decreto-regulamentar nº 23/95, de 23 de agosto

Os cálculos dos ramais de coletores prediais estão apresentados nas Tabelas seguintes:

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Tabela 13- Dimensionamento dos coletores prediais das águas negras


Quant. Caudal Caudal de Seccao Diametro Diametro
Tipo de Caudal Tensao
troco De descarga descarga Ventil. Secund cheia(1) Inclinacao interior comerc. Material
aparelho de calculo de Arrast
aparelho individual acum meia (1/2) Projeto Adoptado
[-] [-] n l/min l/min l/min [-] [-] m/m mm mm Kg/m2
Casa de 0,50719458
CP1 1550 374,744388 nao (1/2) 0,02 103,509098 125 PVC
banho t5
esquerdo

Casa de
CP2 t7 1110 313,41983 nao (1/2) 0,02 96,7999813 110 PVC
banho 0,47431991
direito

2660 500,341198 nao (1/2) 0,02 115,359322 125 PVC


CPN 0,56526068

Fonte: Autor
Tabela 14- Dimensionamento dos coletores prediais das águas cinzas
Quant. Caudal Caudal de Seccao Diametro Diametro
Tipo de Caudal Tensao
troco De descarga descarga Ventil. Secund cheia(1) Inclinacao interior comerc. Material
aparelho de calculo de Arrast
aparelho individual acum meia (1/2) Projeto Adoptado
[-] [-] n l/min l/min l/min [-] [-] m/m mm mm Kg/m2
Casa de
Tq2+t6 300 155,605487 nao (1/2) 0,02 74,4452834 110 PVC
banho CP3 0,36478189
esquerdo

Casa de
Tq3+t8 300 155,605487 nao (1/2) 0,02 74,4452834 110 PVC
banho CP4 0,36478189
direito

CPC 600 225,494608 nao (1/2) 0,02 85,5566768 110 PVC


0,41922772

Fonte: Autor

De referir que, inicialmente os ramais de descargas e os tubos de queda tinham uma só destino
numa caixa de inspeção, que recebia conjuntamente as águas cinzas e as águas negras (cf.
Figura 10). Entretanto com a elaboração do sistema separativo, as redes cinzas e negras são
encaminhadas respetivamente para caixa de inspeção da água cinza e água negra, seguindo,
posteriormente, para coletores também separativos. É na caixa de inspeção da água cinza que
se inicia o sistema de tratamento, como se verá mais adiante e com mais detalhes no capítulo
de dimensionamento do sistema de tratamento das águas cinzas.

3.3 Avaliação da qualidade da água cinza produzida no edifício B

O objetivo da avaliação da qualidade da água residual é conhecer as características físico-


químicas e microbiológicas da água cinza para elaborar o sistema de tratamento mais adequado
possível. Para isso, torna-se desnecessário elaborar uma solução altamente tecnológica para
resolver um problema simples e vice-versa.

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Projeto de Sistema de Reutilização das Águas Cinzas Tratadas do Edifício B

A coleta da água cinza para realizacao de teste foi realizada no dia 27 de julho com apoio do
serviço de manutenção da universidade e, para o efeito, foi necessário abrir as câmaras de
inspeção em alguns pontos específicos, como é possível observar na figura abaixo.(Figura 10)

Figura 10- Câmaras de inspeção “casa de banho Homem” do edifício B.

Fonte:Autor
Como mencionado anteriormente, as câmaras de inspeção ajudaram não só na tomada de
decisão no que diz respeito ao redimensionamento das instalações sanitárias, mas permitiu
sobretudo fazer a recolha das águas cinzas (água da pia da cantina e dos lavatórios do edifício
B) nas garrafas de 1,5 L, que foram enxaguadas com água cinza bruta três vezes e esterilizadas
com água destilada para uniformização do líquido, conforme atestam as imagens em baixo.

Figura 11- Amostras das águas cinzas dos lavatórios e da pia da cantina.

Fonte :Autor
De realçar que, sendo o estudo de caso direcionado exclusivamente para a água cinza dos
lavatórios do Edifício B, a recolha da água da pia da cantina foi feita no caso da ampliação
futura do sistema de tratamento, tendo em conta que a cantina esta situada ao lado do sistema
de tratamento. Por conseguinte, a água recolhida foi encaminhada para Agência Nacional de
Água e Saneamento, mais precisamente para o Departamento de Controle de Qualidade da

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Água, que, através dos métodos de eletrometria, volumetria e espectrofotometria, fez uma
caracterização dos parâmetros físico-química da água recolhida como indicado na Tabela 15
seguinte.

Tabela 15- Parâmetros Físico-químicos da água dos lavatórios do edifício B


Parâmetros Métodos de Análise Resultado Unidade de Medida

Físico-químicos

condutividade
Eletrometria 412 µS/cm
Elétrica (CE)
PH Eletrometria 6,9 Escala de Sorensen
Magnésio Volumetria 2,43 mg/l Mg
Cálcio Volumetria 6 mg/l Ca
Dureza Total Volumetria 25 mg/l CO3Ca
Cloretos Volumetria 134,7 mg/l Cl
Alcalinidade Volumetria 1,8 mg/l CO3Ca
Bicarbonato Volumetria 2,2 mg/l HCO3-
Sulfato Espectrofotometria 12,5 mg/l SO4-
Nitrito Espectrofotometria -0,13 mg/l NO2-
Fluoretos Espectrofotometria 0,14 mg/l F -
Boro Espectrofotometria 0,7 mg/l B
Ferro Espectrofotometria 0,12 mg/l Fe
Zinco Espectrofotometria 0,13 mg/l Zn
Cobre Espectrofotometria 0,11 mg/l Cu
Amónia Espectrofotometria -0,73 mg/l NH4+-N
Fonte : Laboratório da ANAS

3.3.1 Análise dos resultados

3.3.2 Características Físicas e Químicas:

O sistema de tratamento das águas cinzas do edifício B visa garantir uma qualidade da água que
será reutilizada na horta da universidade e na rega paisagística, tendo em conta que os dois
sistemas são análogos. Para tal, a água cinza tratada deve assegurar a proteção da saúde pública
e o bom desenvolvimentos das plantas não causando risco para o solo.

O Decreto-Lei no 4/2020, de 2 de março, estabelece os parâmetros para controlo da qualidade


da água no que tange aos parâmetros físicos, químicos e biológicos, que definem a qualidade

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da água aceite como adequada para rega e que não devem ser ultrapassados para efeitos de
proteção da saúde pública e do ambiente.

Segundo a referida legislação, a autorização para a utilização de APR e ART destinadas a rega
pressupõe a prévia classificação daquelas águas como águas de rega e a satisfação dos valores
Valor Máximo Admissível (VMA) e Valor Máximo Recomendado (VMR) a que se refere o
artigo 60, com base nos resultados de determinação da sua qualidade segundo os métodos e
critérios apresentados. A tabela 16 apresenta uma comparação entres os parâmetros físico-
químicos da água cinza dos lavatórios do edifício B e os valores limites do Decreto-Lei no
4/2020, de 2 de março.

Os resultados mostram que a maior parte dos parâmetros pertencem aos valores limites
estabelecidos pela lei. No entanto, pode se observar uma quantidade elevada de cloretos devido
nomeadamente ao sabonete líquido utilizado para lavar as mãos.
A toxidade causada principalmente pelos elementos como o Cloro, o Sódio e o Boro é um fator
muito prejudicial para a planta já não permitem o seu bom crescimento. O guia técnico sobre a
“reutilização das águas residuais” elaborado por Helena Marecos do Monte e António
Albuquerque aponta algumas medidas práticas para controlar o efeito da toxidade da água nas
plantas, como por exemplo:

• Escolha do tipo de rega adequado, evitando a rega por aspersão que pode agravar a
toxicidade. A escolha da rega por gota-gota é recomendada;
• Mistura da água residual com água natural para reduzir a concentração dos elementos
tóxicos;
• Seleção de cultura tolerante.

De referir ainda o método de rega subterrânea, no qual a água é distribuída por tubagem
enterrada, geralmente de plástico, podendo servir para regar no verão e para drenar no
Inverno. Este método conhecido por subsuperficial ou infiltração ascendente minimiza o
contacto da planta com a água de rega.

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Figura 12- Método de Rega.

Fonte :Rega por micro aspersão, Rega por gota-gota e Rega por aspersão, respetivamente.

Tabela 16- Comparação dos parâmetros físico-químicos dos resultados e os parametros do


Decreto-Lei no 4/2020, de 2 de março

Resultado Unidade de
Parâmetros VMR VMA
da Análise Medida

condutividade
412 700 3000 µS/cm
Elétrica (CE)

PH 6,9 6,5-8,4 6,0-8,5 Escala de Sorensen

Magnésio 2,43 0,2 10 mg/l Mg


Cálcio 6 400 mg/l Ca
Dureza Total 25 mg/l CO3Ca
Irrigação de
superficie-
355
Cloretos 134,7 - mg/l Cl
Irrigação por
aspersão -
106,5
Alcalinidade 1,8 400 mg/l CO3Ca
Bicarbonato 2,2 mg/l HCO3-
Sulfato 12,5 575 960 mg/l SO4-

Nitrito -0,13 5 50 mg/l NO2-

Fluoretos 0,14 1 15 mg/l F -

Boro 0,7 0,7 3 mg/l B

Ferro 0,12 5 mg/l Fe

Zinco 0,13 2 10 mg/l Zn

Cobre 0,11 0,2 5 mg/l Cu

Amónia -0,73 - - mg/l NH4+-N


Fonte:Autor

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O sistema de tratamento adequado deve garantir a remoção total ou parcial dos parâmetros que
estão fora dos limites estabelecidos. A Tabela 17 mostra qual é a eficiência de remoção de
poluentes em cada fase de tratamento. Isto poderá ajudar o projetista na escolha do sistema de
tratamento adequado.

Tabela 17- Eficiência de remoção de poluentes químicos submetidos a tratamento primário,


secundário, terciário e avançado
Remoção do Tratamento (%)
Primário Secundário Terciário Avançado Global
CBO 19 74 5 NA 98
SST 40 55 4 NA 99+
COT 21 64 8 7 99+
ST 9 10 6 72 97
Turvação 12 74 14 0 99+
N-NH4 5 52 1 39 96
N-NO3 0 0 0 0 0
P-PO4 16 28 54 0 98
Arsénio 3 19 30 30 92
Boro 0 0 13 3 17
Cádmio 17 0 67 0 83
Cálcio 3 7 0 88 99
Cloretos 3 0 0 90 94
Crómio 0 32 24 26 83
Cobre 0 33 52 0 83
Ferro 11 59 22 2 94
Chumbo 0 0 93 0 91
Magnésio 1 0 82 13 96
Manganês 4 37 57 0 97
Mercúrio 33 33 0 0 67
Níquel 0 33 11 45 89
Selénio 0 16 0 64 80
Prata 0 75 0 0 75
Sódio 3 0 0 91 94
Sulfatos 9 0 0 91 99+
Zinco 6 64 27 0 97
NA – Não Aplicável.

Fonte: Série Guia Técnico, 2010.

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Pode se observar que os diferentes tipos de tratamentos primários, secundários e terciários têm
uma taxa de remoção ínfima dos elementos tóxicos. Porém, são removidos quase que na sua
totalidade nos tratamentos mais avançado como a ultrafiltração, a microfiltração ou osmose
inversa entre outros. Os tratamentos avançados, mesmo por serem altamente tecnológicos e
eficazes, têm um custo de operação muito alto e dificilmente acessível a todos.
Como a concentração de cloro na água cinza do edifício B não é significativa, a ideia é propor
uma solução simplificada e eficiente, optando-se pela seleção da rega por gota-gota e
misturando a água residual com uma quantidade bem definida de água limpa. Processo este que
será monitorizado com implementação de um sensor no sistema, como se verá mais adiante, na
parte onde será abordada a tecnológica do projeto Gestão Inteligente de Resíduos e Águas
(GIRA).

3.3.2.1 Características microbiológicas:

Embora as águas cinzas dos lavatórios não possuam contribuição dos vasos sanitários, de onde
provém a maior parte dos microrganismos patogénicos, a presença considerável de bactérias
como coliformes, nomeadamente a E. coli, neste tipo de água residual é um fato. A limpeza das
mãos após o uso da sanita, é uma das possíveis fontes de contaminação (PROSAB, 2006).

Para a reutilização da água destinada a agricultura ou irrigação paisagística, o tratamento


exigível é o terciário para eliminar os micro-organismos patogénicos que podem afetar a saúde
pública.
De referir, que na impossibilidade de realizar análises microbiológicas das águas cinzas no
laboratório da ANAS, optou-se por analisar e pesquisar trabalhos realizados em contextos
semelhantes.

3.3.3 Conclusão e escolha do sistema de tratamento:

A partir da análise físico-química das águas cinzas dos lavatórios do edifício B, foi possível
concluir que:

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• os parâmetros físico-químicos das águas cinzas estão na sua maioria dentro dos padrões
estabelecidos pela lei em vigor. Embora seja possível observar uma quantidade de cloro
um pouco acima dos limites, existem medidas simples para controlar o efeito da
toxidade, como a seleção de culturas específicas, a rega por gota-gota ou a mistura do
efluente com água natural;

• Os microrganismos patogénicos presentes nas águas cinzas não são tão relevantes aos
presentes nos ETAR. Contudo, sendo o destino final da água tratada para rega torna-se
necessário garantir e assegurar a proteção da saúde. Neste caso, foi escolhida como
solução a desinfeção por ultravioleta (UV). A desinfeção por UV é uma das práticas
mais antigas utilizadas para tratar água residual, iniciada no início do século XX em
Marselha, França. É um método bastante competitivo em relação aos outros métodos de
desinfeção pois tem a vantagem de não conter produtos químicos que podem ser
prejudiciais para saúde, como o é, por exemplo, a desinfeção por cloro.

Também, o projeto GIRA quer propor um sistema simples e eficaz, de baixo custo e de fácil
manuseio e manutenção.
A Tabela 18 serve de orientação para escolha das combinações possíveis com as características
anteriormente mencionadas.

Tabela 18- Faixa prováveis de remoção dos poluentes, conforme o tipo de tratamento e as suas
características.
Processo Parametros Caracteristicas
Area
Solidos Nitrogenio Califormes Custo odor/cor
DBO5,20 DQO SNF Nitrato Fosfato necess operaçao Manutençao
Sedimentaveis amoniacial Fecais operaçional no effluente
aria
Filtro
40 a 75 40 a 70 60 a 90 70 ou mais - - 20 a 50 - Reduzida Simples Baixo Simples Sim
Anaeróbio
Filtro
Anaeróbio 60 a 95 50 a 80 80 a 95 90 ou mais 30 a 80 30 a 70 30 a 70 - Reduzida Simples Alto Simples Nao
submerso
Filtro de
50 a 85 40 a 75 70 a 95 100 50 a 80 30 a 70 30 a 70 99 ou mais Média Simples Média Simples Nao
Areia
Vala de
50 a 80 40 a 75 70 a 95 100 50 a 80 30 a 70 30 a 70 99,5 ou mais Média Simples Baixo Simples Nao
Filtraçao
Mediana
LAB 70 a 95 60 a 90 80 a 95 90 a 100 60 a 90 30 a 70 50 a 90 - Média Simples Alto complexidad Nao
e
Lagoa com
70 a 90 70 a 85 70 a 95 100 70 a 90 50 a 80 70 a 90 - Média Simples Baixo Simples Nao
Plantas

Fonte :Tabela adaptada pelo autor, segundo as orientações da NBR nº 13969, setembro de
1997

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Analisando a Tabela acima, podemos observar que o tratamento por filtro de areia é uma das
soluções mais simples e económica, que não emite odor desagradável. Esta solução pode ser
adicionada com desinfeção por ultravioleta, por ser um método bastante eficaz nomeadamente
para remoção das bactérias.

Embora o seu custo de operação é moderado, por ser um método que necessita energia elétrica
para funcionar, a sua combinação com filtro de areia tem dado bons resultados nas experiências
realizadas no âmbito New Process for Optimizing Wastewater Reuse from Mauguio to the
Mediterranean Area do (NOWMMA) em 2017. Pois, o sistema garantiu uma “qualité 1”, isto
é, o maior padrão de qualidade para reuso da água no regulamento francês.

Figura 13- Esquema do sistema filtro de areia + desinfeção por UV

Fonte : NOWMMA, 2017

Neste sentido, o tratamento mais adequado para as águas cinzas pode ser a combinação
seguinte:

❖ Filtro de brita + Filtro de areia + desinfeção por radiação ultavioleta (UV) + Stockage +
Reservatório (cf. Figura 14).

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Figura 14- Esquema do sistema de tratamento das águas cinzas.

Fonte:Autor

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3.3.4 Teste da solução proposta:

Após escolha da solução, é recomendável testar os parâmetros físico-químicos e biológicos em


cada fase de tratamento para identificar a sua taxa de remoção. Para tal, deve ser elaborado um
minissistema com quantidades reduzidas de materiais, porque a solução escolhida pode ser
ineficiente.
Devido o tempo reduzido e escassez de recursos, não foi possível realizar este teste que, com
certeza, seria essencial para certificar a eficiência da solução escolhida.

3.4 Dimensionamento do sistema de tratamento

Para fazer o dimensionamento do sistema de tratamento das águas cinzas, procedeu-se à


consulta da NBR 13969:199, a pesquisa elaborada pela PROSAB em 2006 e algumas tabelas
de dimensionamento utilizadas por grandes empresas com grande domínio e experiências em
matéria de dimensionamento.

Dados do Edifício B
Número de pisos 2 -
Número de salas de aula 16 -

Número de bancos por sala 20 -


Número total de alunos por dia 320 -
Número de funcionários 32 -
Número de lavatórios 24 -
Número de sanitas 20 -
Número de mictórios 10 -
Vaso sanitário 6 L/dia
Número de descarga do vaso/dia 352 -
Tempo de rega por dia -mangueira 30 Min

Tempo de rega por dia (Gota-Gota) 180 Min

Necessidade Rega do Jardim e Horta 606 L/dia

Fonte: Autor (2020)

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CÁLCULO DAS DEMANDAS NÃO POTÁVEIS:

Para o cálculo das demandas não potáveis, utiliza-se a seguinte equação:


𝑄𝑁𝑃 = 𝑄𝐼𝑁𝑇 + 𝑄𝐸𝑋𝑇
(Eq.5)

Onde:
QNP = somatório das demandas não potáveis (L/d);
QINT = somatório das demandas internas (L/d);
QEXT = somatório das demandas externas (L/d).

- Cálculo das demandas internas

População = 16 salas x 20 pessoas por salas, População = 320 pessoas.


A demanda interna corresponde apenas ao volume de água a ser utilizada no interior do edifício,
acrescida de um potencial de perdas de 10%. No entanto, a água tratada não vai ser reutilizada
para necessidades no interior pelo que seu valor é zero.
QINT = 0 L / d.

- Cálculo das demandas externas:


A demanda externa, neste caso, será considerada como a irrigação do jardim e da horta ao lado
da cantina da universidade. Considerando os dados do caudal da rega pela mangueira e a rega
Gota-Gota, podemos determinar as demandas externas em água, como apresentado no quadro
abaixo.

Caudal da Rega Mangueira(L/min) 20


Caudal da Rega Gota Gota(L/Hora) 2

QEXT = (180*(2/60) + 30*20) *1,1 L / d


QEXT =666,6 L / d.

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- Cálculo da demanda total de água não potável:


A demanda total será dada pela soma das demandas internas e externas à edificação, assim
representada:
QNP = QINT + QEXT
QNP = 0+666,6 L / d
QNP =666,6 L / d

ESTIMATIVA DA PRODUÇÃO DE ÁGUA:

Serão adotados os seguintes dados para cálculo da produção de águas cinzas:

Caudal (q)=20L/min
Lavatório Duração (t)=4min/hab.dia
Frequência (f)=1,0 vez/dia
Caudal (q)=20L/min
Chuveiro Duração (t)=10min/hab.dia
Frequência (f)=1,5 vez/dia
Caudal (q)=20L/min
Tanque Duração (t)=5min/hab.dia
Frequência (f)=1,0 vez/dia
Caudal (q)=108L/min
Máquina de
Duração (t)=1ciclo/dia
lavar
20% de apartamento com máquina

Fonte: Uso Racional da Água nas Edificações

Considerando a hipótese de que cada aluno usa o lavatório uma vez por dia e numa duração de
¼ de minutos, estima-se que a produção da água cinza seja:

QEst =20*0,25*1*320 L / d
QEst =1600 L / d ou 1,6 m3/d

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Podemos observar que a estimativa da produção de água cinza é praticamente duas vezes
superior às necessidades. Quer dizer que a diferença (41% da água tratada) pode ser utilizada
em outras tarefas como a lavagem de pavimento ou a lavagem de carros, por exemplo, que são
atividades do dia-dia da universidade.

DIMENSIONAMENTO DOS FILTROS DE AREIA E DE BRITA

Os efluentes provenientes dos lavatórios do bloco B vão passar para um tratamento primário
com filtro de brita, assegurando a remoção do sabão e dos sólidos em suspensão e depois vão
seguir para o filtro de areia que vai fazer um tratamento tanto físico como biológico.

O dimensionado dos filtros de areia e brita foi feito a partir das indicações da NBR 13969/97,
utilizando uma taxa de aplicação hidráulica de 200 L/dia.m2). A brita para este filtro é
classificada como Brita 2 (diâmetro de 12,5 a 25,0 mm).

O filtro de areia tem duas camadas filtrantes, sendo uma camada de areia de 0,70 m e outra de
brita de 0,25m, como representado na Figura 1 do Anexo. O efluente é distribuído
superficialmente e pelo meio filtrante até o fundo onde existe uma tubulação que encaminha a
água cinza tratada para a desinfecção.

A partir dos dados de demanda, pode-se dimensionar os filtros para o tratamento das águas
cinzas, que neste caso serão de base circular. Tem-se então:

𝑄𝐸𝑋𝑇
𝐴= (Eq.7)
𝑇𝐴𝑆

Com:

𝐷 = (𝐴 ∗ 4/ π)1/2 (Eq.8)

Onde:
A = área superficial;
D = diâmetro em metros;
QEst = 1600 litros/dia (1,6 m3/dia);
TAS = taxa superficial aplicada de 200 L / m2.dia (0,2 m3 / m2.dia).
Assim, tem-se os seguintes resultados, como apresentado na Tabela 19 abaixo.

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Tabela 19- Dimensionamento do filtro da Areia e Brita


Caudal (m3/dia) Taxa de Área Diâmetro Altura
Ocupação(m3/m2.dia) superficial (m)

1,6 0,2 8 1,42766122 1


Fonte:Autor

DESINFECÇÃO

A desinfeção será feita por um reator UV em linha, como esquematizado na Figura 14.
O cilindro contém uma ou mais lâmpadas, cujo o objetivo é neutralizar os microrganismos
patogénico. As lâmpadas devem ser instaladas logo após o filtro de areia para evitar a
concentração elevada de matérias suspensas e, em consequência, o seu desempenho.

Segundo a tabela de dimensionamento do reator UV da “Oz Water”, empresa francesa


especializada no tratamento da água pelos métodos de desinfeção e ozona, é primordial
conhecer o caudal a ser tratado para o dimensionamento. Tendo em conta que neste projeto o
caudal é aproximadamente de 0,322 m3/h, podemos observar que o reator de 16W, com uma
lâmpada de desinfeção de 70-90 mJ/cm2 é o mais adequado, custando aproximadamente 118
euros ou seja 13.000 escudos cabo-verdianos.

Tabela 20- Dimensionamento do reator de desinfeção UV


Qualite professionnelle+compteur d heures intégré
sterilisateur Uv-C inox
+Voyant de fonctionnement des lampes +bouton on/off
16W 25W 55W 105 210W 315W 420W 630W 840W
1 lampe 1 lampe 1 lampe 1 lampe 2 lampes 3 lampes 4 lampes 6 lampes 8 lampes
38mm 38mm 50,8mm 63mm 75mm 100mm
Raccord 6,35mm 20mm 32mm
1,5' 1,5' 2' 2,5' 3' 4'
entrée/sortie 1/4' 3/4' 1'
DN 40 DN 40 DN 50 DN 63 DN 75 DN 100
Dimensions 5x6,5x32cm 6,2x7,5x58cm6,2x7,5x94cm 13x23x93cm 13x23x93cm 16x28x93cm 16x28x93cm 18x33x93cm 23x44x93cm
Debit maximal
0,7m3/h 2m3/h 6m3/h 4,6m3/h 14m3/h 25m3/h 40m3/h 60m3/h 80m3/h
de la pompe
Piscine/
volume de
Industrie
traitement 0,3-0,8m3/h 0,8-2m3/h 2-6m3/h 5-10m3/h 13-23m3/h 25-47m3/h 50-70m3/h 72-95m3/h 96-120m3/h
circuit
pompe 12/24h
fermé
Piscine/
volume de
Industrie
traitement 0,6-1,6m3/h 1,6-4m3/h 4-12m3/h 10-20m3/h 26-46m3/h 50-94m3/h 100-140m3/h140-190m3/h 192-240m3/h
circuit
pompe 12/24h
fermé
Sanitaire Capacite de
selon debit desinfection 0,7m3/h 2m3/h 6m3/h 9m3/h 14m3/h 25m3/h 40m3/h 60m3/h 80m3/h
30-50 mJ/cm2
Eau
Capacite de
desinfection 0,4m3/h 1m3/h 3m3/h 6m3/h 9m3/h 13,3m3/h 18m3/h 26,6m3/h 36,6m3/h
domestique
selon debit 70-90 mJ/cm2

Durée de vie des


9000h 9000h 9000h 13000h 13000h 13000h 13000h 13000h 13000h
lampes

Tarifs TTC € 118,00 € 178,00 € 270,00 € 899,00 € 1 428,00 € 1 582,00 € 1 824,00 € 2 388,00 € 2 970,00
Tableau a titre indicatif,car la capacité de désinfection depend de la qualité d eau de base

Fonte: Oz Water

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DIMENSIONAMENTO DA BOMBA CENTRIFÚGA:

- Caudal de recalque:
A partir da caudal de recalque e da quantidade de horas diárias de funcionamento da bomba
pode ser definido o diâmetro de recalque, através da equação seguinte:
𝐶𝐷
𝑄𝑟𝑒𝑐 = 𝑁𝐹 (Eq.9)

Em que:
Qrec: Caudal de recalque (m3/h);
CD: Consumo de água (L);
NF: Número de horas de funcionamento.

Assim:
𝐶𝐷 1600 𝐿
𝑄𝑟𝑒𝑐 = 𝑁𝐹 = 5ℎ

Qrec=320 l/h ou 0,320 m3/h ou 8,88*10-5 m3/s ou 0,0880 l/s.

- Diâmetro de recalque:
O diâmetro de recalque pode ser definido a partir da fórmula de Forchheimer:
4
𝐷 = 1,3 ∗ √𝑄𝑟𝑒𝑐 ∗ √𝑋 (Eq.10)
Em que:
D: Diâmetro de recalque (m)
Qrec: Caudal de recalque (m3/s)
X: Relação entre as horas de funcionamento da bomba no período de 24h.

Assim:
0,32 4 5
𝐷 = 1,3 ∗ √3600 𝑠 ∗ √24

D=0,0082 m ou 8,2 mm.

- Perda de carga unitária:

A perda de carga é a energia perdida do fluído em escoamento. É calculada utilizando a fórmula


de Fair-Whipple-Hsia para tubulação de plástico (PVC) e diâmetros menores.

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𝑄 1,75
𝐽 = 0,000859 ∗ 𝐷4,75 (Eq.11)

- Perda de carga unitária para secção:


𝑄1,75
𝐽 = 0,000859 ∗
𝐷𝑠𝑢𝑐 4,75

O método do diâmetro económico diz que para o diâmetro da sucção (Dsuc) deve-se adotar o
diâmetro comercial imediatamente superior ao adotado para o recalque. Neste sentido, o
diâmetro da sucção escolhido é de 15mm.

Assim:
(8,88∗10−5 )1,75
𝐽 = 0,000859 ∗ 0,0154,75

𝐽 =0,032 m/m

Onde:
J: carga unitária (m/m)
Q: Caudal (m3/s)
Dsuc: Diâmetro de sucção (m)

-Perda de carga unitária para recalque


𝑄1,75
𝐽 = 0,000859 ∗
𝐷𝑟𝑒𝑐 4,75

Tem-se:
(8,88 ∗ 10−5 )1,75
𝐽 = 0,000859 ∗
0,00824,75
𝐽 =0,560 m/m

Onde:
J: carga unitária (m/m);
Q: Caudal (m3/s);

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Drec: Diâmetro de recalque (m).

- Cálculo da altura manométrica


Para cálculos das alturas manométricas, vai-se precisar dalguns dados da tubulação que se
encontram resumido na tabela seguinte:

Comprimento
Altura Altura
Real
Sucção Recalque
da Tabulação
10,5 m 0,7 m 2m
Fonte :Autor

- Cálculo da altura manométrica de sucção

A altura estática de sucção é o tamanho do nível de líquido até o centro da bomba. Como se
pode constatar no quadro acima, a altura estática de sucção (Hsuc) é de 0,7m, ou seja, 0,700 mca.

- Comprimento real da sucção da tubulação da sucção (LR) é:


LR=0,7 m+0,3m+1,5m
LR=2,50 m

- Comprimento equivalente (Leq) é o comprimento do tubo que apresenta perda de carga de


acordo com os acessórios utilizados.
A tabela seguinte mostra os cálculos para o comprimento equivalente em metros de tubos PVC.

Tabela 21- Tabela de perda de carga localizada

(Comprimento equivalente em metros de tubo PVC)


Comprimento Equivalente Sucção

tipo quantidade Leq


válvula de pé 1 13
curva 90 1 0,4

Total 13,4
Fonte:Autor

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- Comprimento total (LT) é a soma do comprimento real com comprimento equivalente:


𝐿𝑇 = 𝐿𝑅 + 𝐿𝑒𝑞 (Eq.12)
Assim:
LT=13,4 m+0,7m;
LT=14,1 m.

- Altura devido as perdas na sucção (∆𝐻𝑠𝑢𝑐) é o comprimento total com as perdas de energia
do fluido, traduzido pela seguinte expressão:

∆𝐻𝑠𝑢𝑐 = 𝐿𝑇 ∗ 𝐽 (Eq.13)

Assim:
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 = 14,1 ∗ 0,032;
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 =0,451 mca.

- Altura manométrica de sucção ( 𝐻𝑠𝑢𝑐. 𝑚𝑎𝑛) é a soma da altura estática com a altura devido
as perdas de energia, representada pela expressão seguinte:
𝐻𝑠𝑢𝑐. 𝑚𝑎𝑛 = 𝐻𝑠𝑢𝑐 + ∆𝐻𝑠𝑢𝑐 (Eq.14)

𝐻𝑠𝑢𝑐. 𝑚𝑎𝑛 =0,7 mca +0,451 mca;


𝐻𝑠𝑢𝑐. 𝑚𝑎𝑛 = 1,15 𝑚𝑐𝑎.

- Cálculo da altura manométrica de recalque

A altura estática de recalque (Hrec):

A altura de sucção é de 2 m, ou seja, a altura estática de sucção é o tamanho do nível de líquido


até o centro da bomba, representado da seguinte forma:
Hsuc=2 mca

- Comprimento real de recalque da tubulação da sucção (LR):

O comprimento da sucção é:

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LR=3m+2m;
LR=5,00.

- Comprimento equivalente (Leq) é o comprimento do tubo que apresenta perda de carga de


acordo com os acessórios utilizados tabela mostra os cálculos para o comprimento equivalente

Tabela 22- Perda de carga localizada.

(Comprimento equivalente em metros de tubo PVC)


comprimento equivalente recalque

Tipo quantidade Leq


curva 90 1 0,4
registro de gaveta 1 0,3
valvula de retencao 1 9,7
Total 10,4

Fonte:Autor

- Comprimento total (LT) é a soma do comprimento real com comprimento equivalente:


𝐿𝑇 = 𝐿𝑅 + 𝐿𝑒𝑞 (Eq.15)
Assim, tem-se que:
LT=5 m+10,4 m;
LT=15,4 m.

- Altura devido as perdas na sucção (∆𝐻𝑟𝑒𝑐) é o comprimento total com as perdas de energia
do fluido, traduzido pela fórmula seguinte:
∆𝐻𝑟𝑒𝑐 = 𝐿𝑇 ∗ 𝐽 (Eq.16)
Assim:
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 = 15,4 ∗0,56;
∆𝐻𝑠𝑢𝑐 =8,62 mca.

- Altura manométrica de recalque(𝐻𝑟𝑒𝑐. 𝑚𝑎𝑛):


A altura manométrica é a soma da altura estática com altura devido as perdas de energia,
representada da seguinte forma:
𝐻𝑟𝑒𝑐. 𝑚𝑎𝑛 = 𝐻𝑟𝑒𝑐 + ∆𝐻𝑟𝑒𝑐 (Eq.17)

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Assim:
∆𝐻𝑟𝑒𝑐. 𝑚𝑎𝑛=2mca +8,62 mca;
∆𝐻𝑟𝑒𝑐. 𝑚𝑎𝑛 = 10,6𝑚𝑐𝑎.

- Altura manométrica Total (Hman) a energia de transporte do fluido da sucção para o recalque,
com um determinado caudal.
Soma a altura manométrica de sucção e do recalque:

𝐻𝑚𝑎𝑛 = 𝐻𝑟𝑒𝑐. 𝑚𝑎𝑛 + 𝐻𝑠𝑢𝑐. 𝑚𝑎𝑛 (Eq.18)


Assim:
𝐻𝑚𝑎𝑛 = 10,6 + 1,15;
𝐻𝑚𝑎𝑛 = 11,75 𝑚𝑐𝑎 .

- Escolha da bomba:
Para a escolha da bomba deve ser levada em consideração a caudal, a altura manométrica total
e o rendimento da bomba para calcular a potência mínima necessária para o funcionamento:

𝑄∗𝐻𝑚𝑎𝑛
𝑃= (Eq.18)
75∗𝑅

Assim:
0,088 ∗ 11,75
𝑃=
75 ∗ 0,5
𝑃 =0,027 Cv

A potência comercial escolhida é uma bomba de 0,25 CV.


Onde:
P: Potência (Cv);
Q: Caudal (L/s);
Hman: altura manométrica (mca);
Rendimento=50% ou 0,5.

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DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO:

Esta unidade receberá o efluente do tratamento das águas cinzas. Para o seu dimensionamento
foi adotado o volume útil para abastecer a unidade sanitária durante 2 (dois) dias consecutivos.

Volume Total de Reservação = Q (litros/dia) x 2 (dias)


Volume Total de Reservação=1600 L/dia) x2 =3200 L

3.5 Estudo da viabilidade financeira

No estudo de viabilidade financeira para o sistema de reuso no Edifício B, para efeito de


comparação, foram consideradas duas situações: Opção 1 – SEM Sistema de Reuso (Tabela 23)
e a Opção 2 – COM Sistema de Reuso (Tabela 26).

No custo operacional do sistema estão considerados os serviços de:


• mão-de-obra (não necessita ser qualificada);
• limpeza e troca das lâmpadas;
• manutenção de equipamentos;
• custo de energia;
• Custo da água com uso do Sistema de tratamento;
• Controlo de qualidade da água tratada.

3.5.1 Sem sistema de reuso

O consumo de água potável nos lavatórios do edifício B é aproximadamente 1600 L/dia.

O caudal mensal é calculado considerando uma utilização de 30 dias uteis. Assim, tem-se:

Caudalmens=1,6 m3/dia*30 dias

Caudalmens=48 m3

De acordo com a Deliberação no 29 /CA/2019, de 31 de outubro de 2019, sobre “a revisão de


tarifas de água e de saneamento da empresa ADS” o edifício universitário é considerado um
consumidor de categoria não doméstico com uma tarifa variável de 345 Esc./m3 e uma tarifa
fixa de 532 Esc./m3.

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Considerando que o cantador da universidade é calibre médio, ou seja, o diâmetro limite de 25


mm a 40 mm), será possível obter o preço da água para rega do jardim e da horta, tendo em
conta os seguintes dados:

Subtotal = Valor unitário*Quantidade

IVA=0,15*Subtotal

Valor a pagar =Subtotal +IVA

Tabela 23- Fatura do consumo de água dos lavatórios.

Descrição
do
Valor IVA Valor mensal
consumo Quantidade Unidade Subtotal
Unitário (15%) a Pagar
da água
com reuso
Água (tarifa
variável) 48 m3 345 16.560 2 484,00 19 044,00
1º escalão
água
29 Dias - 532 79,80 611,80
(tarifa fixa)

Saneamento
20 % 16560 3312 496,80 3 808,80
(trf. variável)

Saneamento
20 % 532 106,4 15,96 122,36
(trf. fixa)
Total 20 510,40 3 076,56 23 586,96 ECV
Fonte: Adaptado pelo Autor, a partir do recibo da ADS

Sem o sistema de reuso de água, o custo de água potável para uso nos lavatórios do edifício B
será de aproximativamente 23.586 ECV, podendo ascender ao montante de 283.043 ECV por
ano.

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3.5.2 Com sistema de reuso


3.5.2.1 Custo de água com sistema de tratamento

O caudal mensal com uso do sistema de tratamento é calculado subtraindo o caudal de consumo
de água nos lavatórios e as necessidades de água para rega do jardim e da horta, de acordo com
o seguinte:

Caudalmens=1,6 m3/dia*30 dias-0,666 m3/dia*30 dias

Caudalmens=28,002 m3

Tabela 24- Fatura do consumo com sistema de reuso.


Descrição do
consumo Valor IVA Valor a
Quantidade Unidade Subtotal
de água com Unitário (15%) Pagar
reuso
Água (tarifa
variável) 28,002 m3 345 9660,69 1 449,10 11 109,79
1 escalão
água
29 Dias - 532 79,80
(tarifa fixa) 611,80
Saneamento
20 % 9660,69 1932,138 289,82 2 221,96
(trf. variável)
Saneamento
20 % 532 106,4 15,96
(trf. fixa) 122,36

Total 12 231,23 1 834,68


14 065,91ECV
Fonte :Adaptado pelo Autor, a partir do recibo da ADS

A Tabela 24 mostra um valor relativamente baixo da fatura de água dos lavatórios com uso do
sistema de tratamento. O valor mensal inicial de 23.586 ECV baixou consideravelmente para
14.065 ECV.

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3.5.2.2 Manutenção dos equipamentos

Segundo NOWMMA, o sistema de tratamento de água cinza escolhido necessita de pouca


experiência para funcionar e uma manutenção mínima, que consistirá na verificação do bom
funcionamento de todos elementos.

A utilização de filtro de areia no processo de tratamento é relativamente eficaz e tem uma


duração de vida útil entre os 5 e 10 anos, o que diminuirá bastante os custos de manutenção.

O reator Ultravioleta (UV) não precisa de manutenção particular, além do controlo dos órgãos
de medidas que deve ser feito regularmente. A limpeza das lâmpadas é simples de se fazer,
podendo ser feito através de um sistema de limpeza automático com lâmpadas integradas dentro
do reator UV. Igualmente, a troca das lâmpadas faz-se consoante a sua duração de vida (5 a 10
anos).

3.5.2.3 Custo de energia

O consumo de energia mensal é de 3 KWh/mês, com um custo mensal a rondar os 339,26


ECV.

-Bomba centrífuga (1/4 Cv):

𝑃∗𝐻∗𝐷
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎(𝑘𝑤ℎ) = (Eq.19)
1000

Onde:

P: Potencia da Bomba;

H: Número de horas utilizadas;

D: Número de dias de uso ao mês;

A potência em Watt é igual a (0,25 CV*0,736)/1000=184 watt.

Considerando a utilização da bomba 5 horas por dia e 3 vezes por semana, tem-se então:

184∗5∗12
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = 1000

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𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = 11,04 kWh/mes

A Universidade Jean Piaget é um consumidor de tarifa MT (media tensão), mas como o


valor do consumo da energia é mínimo (11,04 kWh/mês), o cálculo do consumo mensal de
energia é feito como se fosse um consumidor de baixa tensão.

Tabela 25- Fatura do consumo de energia.


Descrição do Explicação Valor
Faturado Valor a Pagar
Consumo dos valores Unitário

Eletricidade de
11,04*(29d*12/365d) 10,5258082 20,99 220,94
0-60

Taxa de potência 105*1 mês 1 105 105,00

Contribuição IP 2,58*4,44% 4,63135562 20,99 97,21


IVA 15% (220,94+105+97,21)*0,15 - - 63,47
Contribuição
424*1 - - -
audiovisual

Total 146,98
486,62ECV
Fonte :Adaptado pelo Autor, a partir do recibo da Electra

- Reator UV
Pode-se calcular o consumo de energia do reator com a Equação -19, utilizando uma potência
do reator UV de 16W, funcionando 5 horas por dia e 3 vezes por semana. Assim:

16 ∗ 5 ∗ 12
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑈𝑉 =
1000

𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑈𝑉 = 0,96 𝐾𝑊ℎ/𝑚𝑒𝑠

Fazendo o mesmo cálculo da Tabela - 22, encontra-se um custo de 152,56 ECV, sendo o valor
mensal total de energia da bomba e do reator UV de 639,18 ECV.

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A duração da lâmpada é de 9000 horas, ou seja, de 12,5 anos, pelo que utilizando a lâmpada 5
horas por dias e 3 vezes por semana, o custo seria de aproximadamente 2.000 ECV/lâmpada,
facto que faria com que o custo da troca das lâmpadas fosse relativamente baixo.

3.5.2.4 Controlo de qualidade de água

O controlo de qualidade de água residual é definido como sendo o conjunto de ações de


avaliação da qualidade de água realizadas com carácter regular pela entidade responsável pela
gestão dos recursos hídricos, em sistemas naturais ou pela entidade gestora do sistema de
abastecimento de água, do sistema de tratamento de águas residuais ou da instalação industrial,
com vista à manutenção permanente da sua qualidade em conformidade com a norma ou padrão
estabelecido legalmente (PLENAS, 2015).

Segundo o Administrador da Agência Nacional de Água e Saneamento, António Pina, “a


responsabilidade pelo controlo de qualidade de água residual tratada destina à rega é do
projetista. O papel da ANAS é de controlar e aprovar a adequação da qualidade das análises
com os padrões estabelecidos pelo Decreto-lei nº 4/2020, de 2 de março”.

Nos projetos de reutilização de água residual para rega é necessário fazer um controlo de
qualidade dos parâmetros químicos e microbiológicos na fase do projeto para propor a melhor
solução e pós-tratamento para garantir continuamente da boa qualidade da água tratada ao longo
do tempo. Processo que deve ser feito semanal, mensal ou anualmente, consoante os parâmetros
definidos na referida legislação.

No entanto, depois da orçamentação de todos parâmetros estabelecidos pelo Decreto-lei nº


4/2020 numa empresa especializada, observou-se que o custo de contro de qualidade será
elevado, em torno de 190.895 ECV. Se se incluir o custo de controlo da qualidade da água
residual tratada no orçamento dos pequenos projetos a solução não seria viável. Assim, fazem-
se necessários estudos e incentivos do governo e/ou das entidades gestora e de regulação
(ANAS) e (ARME), bem como das empresas responsáveis pelas análises da água, no sentido
de minimizar os custos, em especial das análises, pelo contrário, os projetos com pequenos
caudais serão inviáveis. Projetos estes que são primordiais para assegurar a sustentabilidade dos
recursos hídricos e mitigar a emergência hídrica, que já se faz sentir em Cabo Verde neste
momento.

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Neste trabalho não será considerado o custo de controlo de qualidade da água, porquanto que
esta pesquisa foi feita em parceria com a ANAS que assumiu realizar as análises no seu
laboratório sem custos para o autor (universidade), mas em qualquer trabalho de reutilização
de água estes custos devem ser obrigatoriamente incluídos.

Os custos totais com o sistema de reuso estão representados na Tabela 26 em abaixo.

Tabela 26- Custo médio mensal com o Sistema de Reúso de Águas Cinzas.

Item Descrição Custos

1 Mão-de-obra 0

2 Controlo de qualidade da água 0

3 Manutenção dos equipamentos 0

4 Custo da água com sistema de tratamento 14 065 ECV

5 custo de energia 639,18 ECV

Total
14.705 ECV

Fonte:Autor

3.5.2.5 Determinação do período de retorno do investimento inicial

A partir da leitura das Tabelas 23 e 26, fica evidente que o sistema de reuso vai permitir uma
economia em aproximativamente 8. 881 ECV mensal ou 88.8810 ECV anuais para 19,98 m3
de água tratada.

Parece possível concluir que, dos 48 m3 de águas cinzas dos lavatórios produzidas
mensalmente, o reuso de 19,98 m3 para irrigação do jardim e da horta vai custar somente 14.705
ECV mensais, garantido uma economia mensal de aproximadamente 41 %.

A restante água tratada (28,02 m3) poderá ser utilizada para outras necessidades como a
lavagem de viaturas ou de pisos, o que permitirá fazer uma economia no custo de produção,
incluindo o de energia, de 23.220 ECV mensal e de 232.200 ECV anual.

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De realçar que, o objetivo é reutilizar 100 % das águas cinzas produzidas para irrigação e isto
só será possível com o crescimento da demanda, nomeadamente o surgimento de “projetos
verdes” como a plantação de árvores ou de flores, assegurando um visual agradável, mesmo
nos meses de temperaturas mais altas, através da irrigação contínua.

Figura 15- Vista da universidade nas diferentes épocas do ano

Fonte : Ricardo Marques

Em suma, com um investimento total de 155.256 ECV (cf. anexo 6.1 – relação de materiais,
equipamentos e mão-de-obra para execução do sistema) consegue-se uma poupança a rondar
os 88.810 ECV anuais, cujo período de retorno é calculado através da equação seguinte:
𝑃
𝑛=𝑈 (Eq.20)

Onde:
N= o número de anos;
P= o valor do investimento inicial, que é de 155.256 ECV;
U= o valor da parcela de economia anual, 88.810 ECV;
Assim, tem-se:

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155256
=1,75 anos.
88810

Portanto, o retorno do investimento inicial estará garantido em aproximadamente 2 anos.

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4 Conclusão

A disponibilidade de recursos hídricos não é constante ao longo do ano, refletindo a


sazonalidade climática. Pelo contrário, a necessidade de água para atividades humanas tende a
aumentar de forma permanente, em razão do elevado crescimento populacional e, em
consequência, da urbanização, do desenvolvimento industrial e da agricultura, particularmente
em períodos de baixa precipitação atmosférica e de elevada evaporação. Tais situações podem
originar sérios desequilíbrios entre a necessidade e a disponibilidade de água, podendo atingir
níveis graves em anos de escassez de precipitação.

Com o presente trabalho procurou-se desenvolver e propor processo de reuso deste precioso
bem que é a água, em alternativa aos sinais evidentes de escassez, com algumas partes do
planeta a experimentarem períodos de seca severa, como é o caso de Cabo Verde que tem sido
muito fustigado nos últimos três anos, gerando um conjunto de problemas de várias ordens.

Este projeto de reutilização de águas cinzas tratadas no Edifício B da Universidade Jean Piaget
foi elaborado através de uma pesquisa que resultou no dimensionamento integral da solução
escolhida, que é simples, acessível e de baixo custo, cujo retorno do investimento inicial é
garantido em aproximadamente 2 anos.

Com relação aos cuidados inerentes ao sistema de reuso de águas cinzas, pode-se afirma que
todos os pontos onde a água é disponibilizada devem ser devidamente sinalizados e de acesso
restrito. Ademais, devem ser destacadas pessoas que além de fiscalizarem o local sejam também
capazes de realizar a manutenção necessária do sistema, bem como de alertar para os riscos da
utilização de águas cinzas tratadas.

A possibilidade de conservar os recursos que tendem a ser cada vez mais escassos e, por
conseguinte, mais precioso não deve ser pensado apenas do ponto de vista económico, mas
também, e sobretudo, na perspetiva de sustentabilidade ambiental e planetária, pelo que se
considera importante que existam meios de incentivos e políticas públicas direcionadas para a
promoção e desenvolvimento de projetos do tipo, e que contribuam para a diminuição drástica
dos custos de controlo da qualidade das águas, podendo ser gratuito para os pequenos projetos.

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5 Bibliografia

ABNT (1982). Construção e instalação de fossas sépticas e disposição dos efluentes finais –
NBR 7229.

ABNT (1997). Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e disposição final


dos efluentes líquidos - Projeto, construção e operação – NBR 13969.

Decreto-regulamentar 23/95, de 23 de agosto. Regula os Sistemas Públicos de Distribuição de


Água e de Drenagem de Águas Residuais – Lisboa.

Decreto-regulamentar 4/2020, de 2 de março. Estabelece os critérios e os parâmetros para


controlo da qualidade da água para rega, águas de origem superficial ou subterrânea,
dessalinizada, águas pluviais recuperadas ou águas residuais tratadas, com o objetivo de
satisfazer ou complementar as necessidades hídricas de culturas agrícolas, florestais,
ornamentais, viveiros, relvados e outros espaços verdes, previamente à adição de fertilizante.
Praia.

LNEC (2008). Dimensionamento de Redes de Distribuição de Águas em Edifícios – Lisboa.

Marecos do Monte, H. & Albuquerque, A. (2010). Reutilização de Águas Residuais – Lisboa.

NOWMMA (2017). Guide d’aide à la décision pour la mise en œuvre d’un projet de
Réutilisation d’Eaux Usées Traitées (REUT) – Roussillon – France.

PROSAB (2006). Tecnologias de Segregação e Tratamento de Esgotos Domésticos na Origem


Visando a Redução do Consumo de Água e da Infra-Estrutura de Coleta, Especialmente nas
Periferias Urbanas. Edital 4 – Rio de Janeiro.

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Anexo

5.1 Orçamento dos materiais para execução do sistema de tratamento

Orçamento dos materiais Necessários para Execução do Sistema de Tratamento

Diâmetro Preço Preço


Tipo Quantidade Unidade Comprimento altura
(mm) Unitário Total

TUBO PVC PN6 5 m 3 110 - 583 2915

TUBO PVC PN6 3 m 3 75 - 331 993

TUBO PVC PN6 1 m 3 90 - 399 399

TUBO PPR recalque 2 m 3 - 998 998


12

TUBO PPR sucção 1 m 1 15 - 760


760
Tanque 2T 3 un - 1,5 - 14850 44550
FORQUILHAS 3 m - 90 - 375 1125
CURVAS 90 4 m - 90 160 640
CURVAS 45 4 un - 90 - 161 644
RESERVATÓRIO
1 un - - - 65960 65960
3T
sifão
2 un - 75 - 750 1500
3 bocas 75
BOMBA 0,25 Cv
1 un - - - 7000 7000
(Tucan 0,5)
AREIA FINA 762 kg - - - 1,9 1447,8

Reator UV
- - - - - - 13000
/sem transporte

Cimento 10 sacos - - 875 8750


BRITAS 2 219 kg - - - 1,8 394,2
Blocos (50*20*15) 76 un - - - 55 4180
155.256
Total
ECV

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5.2 Exemplo Filtro de Areia Tipo Circular (NBR 13969)

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5.3 Dimensionamento dos agregados


5.3.1 Dimensionamento caixa de alvenaria para proteção dos tanques

Volume
Volume betao Volume Volume
Num de Reboco
largura Area lateral Num de blocos impermeabiliz Reboco ass. Reboco
Profundidade(h) largura min blocos/m2 assentanent
adoptada (m2) face lateral (un) ante (1:3) revistimento
(un/m2) o
10cm(m3) (m3/m2) (m3)
adoptado
1 1,5 1,5 1,5 15,75 10,5 0,225 0,0075 0,01125 0,03
Total 63 - 0,225 0,007875 0,045 0,12

Consumo Quantidade Quantidade Quantidade


(dm3) cimento(kg) de areia (Kg) de Brita

bet impermeab 83,401222 59,57230143 98,1190847 66,191446


reboc. Assent 28,36090804 20,25779146 33,36577417 0
reboc. Revest 75,62908811 54,02077722 88,97539778 0
betao.Tampa 0 0 0 0
Total 140,5434136 231,4832695 69,5010183
Numeros de
sacos 2,810868272 4,62966539 1,39002037

5.3.2 Dimensionamento caixa de inspeção


Volume
Volume betao Volume Volume
Num de Reboco Volume
largura Area lateral Num de blocos impermeabiliz Reboco ass. Reboco
Profundidade(h) largura min blocos/m2 assentanent Betao Tampa
adoptada (m2) face lateral (un) ante (1:3) revistimento
(un/m2) o (m3)
10cm(m3) (m3/m2) (m3)
adoptado
0,5 0,4 0,6 0,3 3,15 10,5 0,009 0,0075 0,00225 0,006 0,008
Total 12,6 - 0,009 0,007875 0,009 0,024 0,008

Consumo Quantidade Quantidade Quantidade


(dm3) cimento(kg) de areia (Kg) de Brita

bet impermeab 3,33604888 2,382892057 3,924763388 2,64765784


reboc. Assent 5,672181608 4,051558292 6,673154833 0
reboc. Revest 15,12581762 10,80415544 17,79507956 0
betao.Tampa 2,965376782 2,118126273 3,488678567 2,35347364
Total 20,32456867 33,47576016 5,25118805
Numeros de sacos
0,406491373 0,669515203 0,10502376

5.3.3 Dimensionamento total dos agregados

Consumo Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade


(dm3) cimento(kg) de areia (Kg) de Brita de blocos
Total 462,2793782 761,4013288 219,0054311 75,6
Numeros -
de sacos 9,245587563 15,22802658 4,380108622

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