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Landolfo Andrade
Direito da Criança e do Adolescente
Aula 1
ROTEIRO DE AULA
• Considerações iniciais
➢ Definição
o Direito da criança e do adolescente é o conjunto de normas e princípios que disciplinam a tutela dos direitos das
crianças e dos adolescentes em suas relações em face do Poder Público, sociedade e família
o Finalidade: proteger um sujeito especial de direitos - criança e adolescente
o Finalidade específica, objeto específico, princípios exclusivos e específicos
o Ramo autônomo do Direito
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▪ Etta Angell (Missionária metodista que recebeu as denúncias de maus tratos; assistente social) recorre à
Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais (polícia, líderes religiosos; poder judiciário;
ninguém deu ouvidos, sob o pretexto de a criança ser propriedade dos pais; não havia lei ou documento
internacional que reconhecia direitos para criança e adolescente)
▪ Em 10 de abril de 1874, a pequena Mary Ellen atestou o seguinte:
- "Meu pai e minha mãe estão mortos. Eu não sei quantos anos tenho. Não tenho lembrança de minha vida antes
dos Connelly'. Mamãe tinha o hábito de me bater quase todos os dias com um chicote e ele sempre deixava
marcas azuis em meu corpo. Tenho agora uma marca dessas no meu rosto e uma cicatriz de quando mamãe me
golpeou com uma tesoura. Não tenho lembrança de jamais ter sido beijada por quem quer que seja e nunca beijei
a minha mãe. Nunca fiquei no seu colo e ela nunca me fez carinho. Nunca tive coragem de falar isso com a outras
pessoas porque seria castigada. Não sei porque era castigada. Minha mãe nunca dizia nada quando me batia. Não
quero voltar a viver com mamãe porque ela me bate. Não me recordo de jamais ter ido à rua em toda a minha
vida”.
▪ Primeira punição por maus-tratos contra criança da história (1 ano de prisão; perda da custódia;)
• Normatividade Internacional (internacionalização dos direitos humanos; mitigação da soberania dos Estados)
I – Instrumentos de alcance geral (instrumentos homogêneos tutela de todos os seres humanos)
o Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948)
▪ Introduz a concepção contemporânea de direitos humanos (direitos invisíveis; independentes e universais)
▪ Consolida uma ética universal (patamar mínimo de respeito aos direitos humanos)
▪ A infância tem direito a cuidados e assistência especiais
▪ Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social
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o A Convenção Americana dos Direitos Humanos de 1969 (Pacto de San Jose da Costa Rica)
▪ Direito a julgamento por tribunais especializados
▪ Direito à separação dos maiores
▪ Direito à aplicação de medidas de proteção de caráter ressocializatório (não pode sofrer penalização)
▪ Direito de petição perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos (instrumento de controle; falhas no
Estado)
II - Instrumentos de Alcance Especial (instrumentos heterogêneos; voltados especificamente para a tutela das crianças
e adolescentes)1
o A Declaração de Genebra – Carta da Liga sobre a Criança, de 1924
▪ Primeiro instrumento internacional voltado à proteção da criança
▪ Reconhecimento da vulnerabilidade da criança
▪ Instrumento de soft law (não tem força vinculante; componente ético e moral; podem influenciar a edição de
outros documentos internacionais)
▪ Crianças como objeto de proteção (não como sujeitos de direitos)
o Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de Beijing, 1985)
▪ Situações de julgamento por ilícitos penais
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obs. existem diversos instrumentos internacionais que são voltados para grupos vulneráveis específicos: crianças, mulheres,
discriminação racial, idosos, deficiente, etc.
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▪ Especialização da Justiça da Infância
▪ Garantias processuais básicas: juiz imparcial, ampla defesa etc.
▪ Possibilidade de remissão
▪ Excepcionalidade da internação provisória
▪ Brevidade das medidas restritivas de liberdade
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ii) Expede recomendações
❖ Não possui viés vinculante
❖ componente ético
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- Gabão
- Montenegro
- Portugal
- Tailândia
- Brasil?
❖ PR Assinou em 2012;
❖ CN referendou em 2017;
❖ Falta a ratificação do PR
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▪ Incorporação das normas de direito internacional (STF):
• NORMATIVIDADE INTERNA
➢ A PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
o Art. 227. “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)”
▪ Essa proteção e promoção dos direitos da criança e do adolescente é o único direito que o legislador constituinte
originário previu que deve ser protegido/concretizado com prioridade absoluta
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▪ Observe que o rol de direitos previstos demonstra a concretização da universalização dos direitos e da doutrina
da proteção integral
▪ Prioridade absoluta apenas na área da infância e juventude
▪ A expressão jovem foi incluída posteriormente no texto constitucional (EC 65/10)
▪ Veja que se fala em DEVER, quanto à proteção, sendo realizada com prioridade absoluta
▪ Declaração de direitos fundamentais da criança e adolescente
▪ Identificação dos sujeitos de direitos: criança, ao adolescente e ao jovem
▪ Identificação dos sujeitos de deveres: família, sociedade e Estado
▪ Norma alinhada com o conceito contemporâneo de direitos humanos (direitos civis; sociais; dentre outras ordens
para a proteção integral)
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua
efetivação por parte de estrangeiros.
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§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
▪ Sujeitos de deveres:
- Família: CF, art. 226 – produto do matrimônio, da união estável e comunidade formada por qualquer dos pais e
seus filhos
- Sociedade: (O ECA, em seu art. 4º, acrescenta a comunidade)
❖ Comunidade é mais restrita que sociedade
❖ Ex. igreja; escola;
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“núcleo essencial” desta garantia, qual seja, a inimputabilidade penal do indivíduo que, em razão de sua idade,
não reúne as condições necessárias para ser considerado penalmente capaz
- Com base nessa segunda corrente, professor Landolfo entende que a redução, por EC, da maioridade penal, para
16 anos não esvazia o núcleo dessa norma. A própria CF reconhece que uma pessoa com 16 anos possui
capacidade eleitoral ativa
- Contudo, na prática, essa redução não trará resultados em termos de prevenção de novos atos infracionais.
- Não há pacificação
- Adotar a posição do examinador, quando conhecida; ou fundamentar a sua posição, quando não houver uma
posição da banca, ressalvando o entendimento contrário: ex. “Eu entendo que é possível que uma proposta de
emenda constitucional reduza a maioridade penal dos 18 para os 16 anos. Neste caso, a garantia individual de
inimputabilidade, que é cláusula pétrea, está sendo preservada, seu núcleo essencial continua preservado.
Encontra ressonância em outros dispositivos da CF e que reconhece a maturidade de uma pessoa de 16 anos,
conferindo capacidade eleitoral ativa. Esse entendimento é de boa parte da doutrina.
Sem prejuízo, existente respeitáveis vozes em sentido contrário. Para parte da doutrina, não se admite que uma
proposta de EC reduza a maioridade penal para 16 anos, já que estaria ofendendo uma cláusula pétrea
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▪ todas as outras normas que tratam da proteção de crianças e adolescentes devem obediência aos princípios do
ECA
o ECA, Art. 1º “Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.”
▪ Doutrina da Proteção Integral
- Constituição Federal de 1988
- Convenção dos Direitos das Crianças de 1989
- Estatuto da Criança e do Adolescente
▪ Cotejo da doutrina da proteção integral com a doutrina da situação irregular (doutrina vigente à época do código
de menores):
- ao considerar a criança como sujeito de direitos, reconhece-se, para esta, o direito de exigir prestações
positivas do Estado; possibilidade de demandar em face dos próprios pais, quando o direitos estiverem sendo
desrespeitados ou negligenciados;
- a proteção integral garante os direitos fundamentais dos adultos + direitos especiais: ex. ECA assegura o direito
de brincar, lazer, esporte, etc.; proteção global para todas as crianças, independentemente de sua condição
- na doutrina da proteção integral vigora a intervenção mínima, sendo que o caso somente deve ser levado ao
conhecimento e apreciação do juiz da infância e juventude, quando outras instituições e órgãos (competentes;
ex. conselho tutelar) não se mostrarem suficientes para a proteção da criança e adolescente; já na doutrina da
situação irregular, todo e qualquer caso era levado ao juiz, podendo até legislar sobre o assunto, com grande
concentração de poderes
-garantias presentes na teoria da proteção integral: um adolescente que pratica ato infracional terá direito à
ampla defesa, contraditório, defesa técnica; já na doutrina da situação irregular não havia quaisquer garantias
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- na teoria da proteção integral: juiz da infância e juventude, instituições de acolhimento, conselho tutelar, MP,
todos que possuem competência para a proteção e promoção do direito da criança, devem trabalhar com a
seguinte prioridade: criança deve ser mantida no seio de sua família; somente se afasta de sua família em último
caso; já na doutrina da situação irregular a institucionalização era a regra, mesmo em casos simples como a
evasão escolar
- *ECA inovou frente à Convenção de 1989 (a Convenção não faz distinção entre criança e adolescente,
considerando criança toda pessoa menor de 18 anos)
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-Colocação em família substituta pode ser dar pela guarda, tutela ou adoção: a opinião da criança não vincula (a
opinião é apenas levada em consideração pelo magistrado); o consentimento do adolescente vincula o magistrado
(se não concordar com o pedido de adoção, guarda ou tutela, o pedido será julgado improcedente)
- Prática de ato infracional (conduta análoga ao crime): criança pode praticar ato infracional, mas somente sofre
medida de proteção; ao adolescente podem ser aplicadas tanto a medida socioeducativa quanto de proteção
- Atenção para a redação originária do ECA quanto às viagens dos adolescentes: sofreu alteração: somente
independe de autorização judicial os casos a partir dos 16 anos
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- STJ, Súmula 605: “A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na
aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade
de 21 anos.”
❖ Admite-se a execução de medida socioeducativa em meio aberto, ainda que já completos os 18 anos
❖ Sempre com o teto máximo de 21 anos
❖ Entendimento encampado pela Lei do SINASE (Lei 12.594/12): art. 46, §1º: . “No caso de o maior de 18
(dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder a processo-crime, caberá à autoridade
judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da decisão o juízo criminal competente”.
❖ ex. adolescente praticou ato infracional análogo ao crime de estelionato; é movida ação socioeducativa;
no curso da ação completa 18 anos; juiz condena e aplica medida socioeducativa de prestação de serviços à
comunidade; no curso da execução da medida, o adolescente pratica um crime; sendo processado
criminalmente pela conduta; o juiz tem a discricionariedade de decidir pela continuidade da medida de
prestação de serviço à comunidade
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B) Princípio da prioridade absoluta (CF, art. 227; ECA, art. 4º, parágrafo único):
- Em razão desse princípio, todos os direitos das crianças e adolescentes integram o mínimo existencial (ex. não
se admitirá, em ação que busca condenar o município para que construa mais creches, uma defesa com
fundamento na reserva do possível)
- ECA, art. 4º. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende (mínimo):
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; (ex. desastre de Brumadinho; dentre as
vítimas que estão precisando de atendimento, as crianças e adolescentes devem receber atendimento prioritário;
devem ser socorridas em primeiro lugar)
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; (ex. criança com problema de
saúde vai ao pronto socorro; dentre os que estão precisando de atendimento, a criança deve ser priorizada)
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; (ex. Estado, para realizar seus objetivos,
precisa implementar políticas públicas; nessa implementação, deve priorizar políticas públicas para a promoção
e proteção dos direitos da criança e do adolescente)
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
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(d) restrição ao direito de visitação do pai ou mãe que não tenha a guarda do filho, em caso de risco à
integridade física e emocional do infante;
(e) mitigação do princípio da perpetuação da jurisdição em caso de mudança de endereço do infante;
(f) manutenção do vínculo registral entre o filho e o pai quando não comprovado o erro ou falsidade do
registro de nascimento (art. 1.604 do CC); e
(g) possibilidade de adoção de neto por avós, desde que demonstrado o melhor interesse do infante.
ii) Criação deveres para o Poder Público: Ao desenvolver políticas públicas, deve-se tomar decisões
administrativas com base no interesse superior
iii) Máxima operatividade e mínima restrição dos direitos: Conforme o caso concreto será avaliado o melhor
interessa da criança com a mínima restrição em seus direitos
iv) Conformadora do exercício do Poder familiar: Detentores do poder familiar devem exercer esse poder em
conformidade com o princípio
D) Princípio da responsabilidade primária e solidária do Poder Público (ECA, art. 100, III)
- Primária: A União, Estados e Municípios são primariamente responsáveis pela concretização de direitos (pode
exigir de qualquer um desses -solidariamente-)
- ”A plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal,
salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas
de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por
entidades não governamentais;”
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- Arts. 15, 17 e 18. Direito ao respeito e à dignidade
- Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional (art. 247).
- Citados no acórdão: ECA, arts. 15, 17 e 18; CF, arts. 5º, X, X e 227, caput): Direito fundamental ao respeito à
dignidade
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- Ex.: baixa frequência escolar: seria desarrazoável utilizar a perda do poder familiar como primeira medida em
razão da baixa frequência escolar, sem averiguar motivos ou aplicar outras medidas (ex. aplicar matricula e
frequência obrigatória, cobrando dos pais que eles providenciem essa frequência na escola; medida muito mais
proporcional que a institucionalização da criança, por exemplo)
- Proporcional na medida para afastar o risco
- E atual (se o risco não existir mais, não há mais viabilidade) – ex. adolescente com 14 anos pratica um roubo;
esse roubo demora para ser processado; ao final do processo o adolescente está com 17 anos; o adolescente está
trabalhando e nunca mais praticou outro ato infracional; a condição atual do adolescente deve ser levada em
consideração para aplicar a medida socioeducativa; a internação, nesse caso, não estaria sendo observada a
atualidade, já que ele está ressocializado
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- ex. criança com problema de higiene ou nutrição; o conselho tutelar deve dar assistência para essa família para
que ela consiga suprir essa assistência material ou emocional; realizar o acompanhamento e incluir em um
programa de assistência social
- Ex.: adoção à brasileira, Catanduva: uma mãe decidiu que não queria criar o filho; combinou com a vizinha de
entrar no hospital com o documento dessa outra pessoa; essa vizinha tinha interesse em realizar a adoção à
brasileira; essa mãe deu a luz para a criança e na certidão constou a qualificação da vizinha e não da mãe; a vizinha
registrou a criança como se fosse sua; nesse caso o MP retirou a criança da posse da família adotiva,
encaminhando para instituição de acolhimento; realizando um programa para que essa criança voltasse para sua
mãe biológica, sendo feito um trabalho para que essa mãe pudesse receber a criança; caso não fosse possível, a
segunda meta do programa seria encontrar alguém da família da mãe biológica e que tivesse condição de ficar
com a criança; em terceiro caso, seria encaminhada para uma família substituta
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