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GEP - Análise em Dez Anos - Escrito Até Dez 2011
GEP - Análise em Dez Anos - Escrito Até Dez 2011
Resumo:
Introdução:
Objetivos:
O objetivo desse estudo foi realizar uma análise das complicações imediatas, técnicas e
infecciosas da Gastrostomia Endoscópica Percutânea (GEP) no período de 2000 a 2011,
realizadas por uma equipe de referência, nos pacientes neurológicos.
Metodologia:
Resultados:
Na nossa avaliação dos 172 casos de GEP, houveram 03 mortes até o 30º dia de pós-
operatório, mas nenhuma diretamente relacionada ao procedimento. Já a taxa geral de
complicações foi 14,6%, dentre os quais 8,2% dos pacientes apresentaram complicações
menores e apenas 6,4% complicações maiores, sendo que a principal complicação menor foi a
infecção do sítio cirúrgico, com 05 casos, e a complicação maior mais prevalente foi a retirada
acidental precoce, juntamente com a Buried Bumper Syndrome, ambos com 04 casos.
A caracterização da amostra está descrita na tabela 01, enquanto que a tabela 02
evidência os fatores de risco estatísticamente comprovados para os pacientes neurológicos
submetidos à GEP. A idade média da população estudada foi de 79,43 anos (Desv. Pad.: 11,66.
Med.: 81 anos), sendo a mínima de 34 e a máxima de 99 anos. A maioria dos pacientes que
tiveram complicações tinha mais de 81 anos, eram mulheres, com doenças
neurodegenerativas, desnutridos, com pneumonias de repetição antes do procedimento e
faziam uso prévio de cateter nasoenteral.
Os pacientes acima de 81 anos tiveram não associação significativa com desnutrição,
mas sim com menor chance de pneumonia no pós-operatório (Odds ratio = 0,975. IC 95%:
0,442-2,152), bem como menor chance de complicações gerais após o procedimento (tabela
02).
Ao considerar-se o tempo de uso prévio do cateter nasoenteral, se maior ou menor
que 06 semanas de duração, verificou-se que o seu uso prolongado está associado com o
aumento da incidência de pneumonia no pós-operatório. Em comparação com quem têm
pouco tempo de uso, os pacientes que utilizaram previamente cateter nasoenteral por mais de
5 semanas parece aumentar a chance de se desenvolver pneumonias após a gastrostomia em
aproximadamente 9,5%. Contudo, o mesmo não se pode dizer com relação ao índice de
complicações gerais e o grau de desnutrição do paciente, visto que não houve nenhuma
correlação estatisticamente significativa.
Por fim, se considerarmos a desnutrição como variável independente a
correlacionarmos com o índice geral de complicações e a taxa de pneumonia pós-operatória
destacam-se correlações significativas para ambas as situações, de modo que o paciente
desnutrido tem maior chance de desenvolver complicações e pneumonias, com um aumento
da chance em 8,8% e 4,3%, respectivamente.
Discussão:
As comorbidades clínicas do paciente são vitais para determinar a indicação e o
momento de inserção para realização da gastrostomia. É importante reconhecer que alguns
pacientes são demasiadamente frágeis à sedação necessária para a endoscopia,
particularmente naqueles pacientes com insuficiência respiratória grave. Uma contra-indicação
absoluta da GEP é a incapacidade de aproximar a parede anterior do estômago à parede
abdominal. Ressecção gástrica prévia, ascite, hepatomegalia e obesidade são algumas
condições que podem impedir transiluminação gástrica e colocação de cateteres. Alimentação
por cateter de gastrostomia não deve ser utilizada quando houver obstrução gastrointestinal.
Contra-indicações relativas à GEP incluem neoplasias, doenças inflamatórias e infiltrativas do
estômago e paredes abdominais6.
A Gastrostomia Endoscópica Percutânea (GEP) estabeleceu-se como uma técnica eficaz
na obtenção de uma via de acesso para nutrição enteral, contendo baixos índices de
complicações, caso a mesma seja realizada através de técnica correta e medidas adequadas de
controle de infecção, com seleção adequada do paciente e seguimento adequado.
As suas complicações são mais prováveis de ocorrer em pacientes idosos com
comorbidades, particularmente aqueles com um processo infeccioso ou que têm uma história
de broncoaspiração11, segundo a maioria dos estudos. As complicações da GEP são divididas
em complicações menores – infecção de sítio cirúrgico, vazamento perisonda, sangramento
local, úlcera gástrica ou cutânea, pneumoperitôneo, íleo paralítico temporário, obstrução de
piloro – e maiores – fasciite necrotizante, buried bumper syndrome, fístulas, retirada acidental
do cateter, parada cárdio-respiratória.
No nosso estudo, a inserção precoce do cateter de gastrostomia não teve relação com
as complicações do procedimento, mas também, concluímos que a presença ou a duração do
cateter nasoenteral prévio não teve associação alguma com a desnutrição dos nossos
pacientes. Um resultado consoante ao de um recente estudo americano onde mostrou-se que
a inserção precoce do cateter de gastrostomia não alterou o número de internações por
causas nutricionais. Contudo o mesmo ressalta que a realização de GEP precoce diminui
significativamente a percentagem de perda de peso 12. Somado a disso, constatamos que o uso
prolongado do CNE está significativamente associado ao aumento da chance de pneumonias
no pós-operatório, possivelmente uma conseqüência não do procedimento diretamente, mas
da maior chance de microaspirações no paciente disfágico por um período de tempo suficiente
para a fisiopatologia da pneumonia ocorrer, independente do procedimento.
Assim, encurtar o tempo de uso dos cateteres nasoenterais pode ser uma alternativa
na diminuição da incidência de pneumonias, como visto num interessante estudo koreano
onde a GEP diminuiu o refluxo gastroesofágico dos pacientes, atenuando uma das bases
fisiopatológicas da microaspiração13, além de controlar a pesa de peso, o que prolonga a
eficácia do sistema imunológico.
Diante disso, fica clara a idéia de que a desnutrição interfere diretamente na evolução
do paciente, sendo que no nosso trabalho, aumentou as chances tanto de pneumonias no pós-
operatório, quanto de complicações em geral. A desnutrição é fator tão importante que pode
influenciar na chance de óbito, como analisou um grupo sueco-londrino, onde baixos valores
de albumina sérica, principalmente associados a altos valores de proteína C reativa, estão
associados independentemente com o aumento do risco de mortalidade nos 30 dias pós-
PEG14.
As taxas de complicações menores e maiores encontradas em nosso estudo são
similares as dispostas na literatura. Em um relatório de 314 pacientes, constatou-se que 13%
tiveram complicações menores, das quais podem incluir infecção de sítio cirúrgico,
deslocamento, vazamento peri-sonda. No mesmo estudo 3% dos pacientes tiveram
complicações maiores, incluindo a perfuração gástrica, sangramento gástrico e
desenvolvimento de hematoma15. Em estudo mais recente, as complicações maiores
emergiram em 3% a 4%, enquanto que as complicações menores, que são mais comuns,
ocorrem em 7% a 20% dos pacientes16, demonstrando compatibilidade com os nossos dados.
Em relação a Buried Bumper Syndrome obtivemos índices menores que a literatura
oriental, que obteve 8,8% dessa complicação17.
Quanto a Infecção de sítio cirúrgico (ISC), essa tem maior probabilidade de ocorrer
quando o cateter de gastrostomia é colocado através de um campo de procedimento
contaminado ou com uma técnica errada em pacientes debilitados e naqueles que não
receberam profilaxia antibiótica18. As cepas de Staphylococcus aureus resistentes têm surgido
como uma importante causa de ISC em alguns centros 19; entretanto, em nosso estudo as cepas
de Pseudomonas aeruginosa foram as mais prevalentes. Complicações infecciosas fúngicas
relacionadas à GEP podem ocorrer, embora muito menos frequente do que as complicações
infecciosas bacterianas. Estes incluem fungos de celulite periestomal, peritonite por Cândida e
abscessos intra-abdominal20.
No tocante a retirada acidental do cateter de gastrostomia, uma complicação comum
que geralmente ocorre em paciente agressivo ou confuso que ocasionalmente puxa o cateter.
Os cateteres que forem removidos nas primeiras quatro semanas após o procedimento, não
devem ser recolocados cegamente à beira-do-leito, porque o trato cirúrgico pode não ter
amadurecido suficientemente entre a parede abdominal e a parede gástrica, deixando um
óstio na parede gástrica. Se ocorrer retirada acidental precoce, o paciente deve ser levado
novamente ao centro cirúrgico para realização de nova endoscopia e passagem de novo
cateter pelo mesmo óstio.
Já a rara Buried Bumper Syndrome é uma consequência de longo prazo decorrente da
compressão excessiva do êmbolo externo do cateter de gastrostomia na parede abdominal 21.
O êmbolo interno causa erosão da parede gástrica, promovendo dor e incapacidade de
nutrição pelo cateter. O diagnóstico pode ser confirmado pela endoscopia, que vai mostrar o
bumper interno “enterrado” na mucosa gástrica. Nos nossos pacientes, buried bumper
syndrome ocorrereu em 04 casos de complicações maiores, todos com sucesso na terapia
instituída.
Outra constatação interessante foi a análise da nossa taxa de óbito em até 30 dias
(1,75%) em relação a outras referências. Vemos que a mesma apresenta valores menores do
que os 5% encontrados em um estudo recente (n=931) 22 ou compatíveis com outros estudos
os quais apontam taxas próximas a 2% 23. Não existe uma relação direta da mortalidade com o
uso da GEP, e sim com a presença de co-morbidades dos pacientes 24.
Todavia, a deficiência na captação de dados referentes às variáveis desse estudo foi
um fator limitante, visto que há uma significativa falta de informações registradas nos
prontuários médicos. A incidência de pneumonia pós-operatória foi a variável com menos
informação, perdendo-se 36,6% dos dados.
Mesmo assim, a falta de informação com relação ao estado nutricional foi de 33,1%,
dados condizentes com a literatura nacional e sulamericana, onde o IBRANUTRI mostra apenas
18,8% dos pacientes avaliados nutricionalmente 25 e o ELAN com menos de 25% dos casos26. O
maior número de registros no nosso estudo provavelmente se deve ao fato de nossa equipe
ser especializada em nutrição terapêutica.
Conclusão:
Faz-se importante ressaltar que o número de pacientes operados por uma única
equipe e analisados em nosso estudo (n=172) foi um dos maiores encontrados, até o
momento, em toda a literatura internacional, endossando o impacto das nossas análises
preliminares em âmbito mundial.
Por fim, concluímos que as taxas de complicações da GEP no nosso serviço são
condizentes com a literatura, confirmando a eficácia e seguridade da GEP no suporte
nutricional enteral dos pacientes, em detrimento de outras formas de nutrição enteral e
parenteral, sendo que a presença de desnutrição aumentou o risco do desenvolvimento de
complicações, enquanto o uso do cateter de nutrição nasoenteral por mais de 05 semanas
aumentou as chances de pneumonias no pós-operatório.
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