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A VONTADE DE DEUS

Uma Visão Bíblica de Como Entender a Vontade de Deus para sua Vida

COMO VIVER A
VONTADE
MORAL DE DEUS
Aula 6

Até agora vimos que esse assunto, acerca da vontade de Deus, é


muito popular no meio da Igreja; afinal, a vontade de Deus é um
tema relevante para todo aquele que o ama e deseja agradá-lo.
Porém, vimos também que por meio de ensinamentos equivocados
gerou-se, entre os cristãos, certa confusão em torno desse assunto.
Isso, até certo ponto, é compreensível, pois a própria Bíblia usa o
termo “vontade de Deus” com significados diferentes.
Para esclarecer e desembaraçar tal confusão, explicamos nas aulas
anteriores que a vontade de Deus pode ter quatro sentidos dife-
rentes (vontade eterna; vontade soberana; vontade moral; vontade
na distribuição dos dons e chamamentos). Vimos também, pelas
Escrituras, que devemos ter uma postura diferenciada em relação
a cada um desses sentidos ou significados da vontade de Deus. No
entanto, devemos tomar cuidado para não pensar que Deus pos-
sui várias vontades diferentes e contrárias entre si. Ele tem uma
única vontade, a qual possui quatro sentidos.

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A VONTADE DE DEUS É NOS APERFEIÇOAR


Todos esses sentidos da vontade de Deus se convergem no fato
de que Deus quer nos aperfeiçoar. O nosso Deus é um Deus de
amor que nos criou para si e nos escolheu antes da fundação do
mundo, para sermos a noiva de seu Filho amado. Ele é fiel em seu
compromisso de nos aperfeiçoar, visto que não aceitará menos que
a perfeição em nós. Por isso, podemos descansar no fato de que
Deus nos levará à perfeição, nos conduzirá à estatura de Cristo e
nos fará ser uma noiva idônea, porque esse é o seu alvo final para
as nossas vidas.
Deus usa todas as coisas com o objetivo de nos aperfeiçoar, até
mesmo aquelas que não estão sob o nosso controle e conhecimen-
to (sua vontade soberana). É para o nosso aperfeiçoamento que ele
nos revela a sua santa lei (sua vontade moral), pois é por meio dela
que ficamos sabendo sobre o estilo de vida que nos é requerido e
para o qual fomos criados – uma vida conforme a própria imagem
e semelhança de Deus. Portanto, nossas forças e energia devem se
concentrar em conhecer profundamente essa lei, permitindo que
ela molde nossa mente e coração, enquanto a praticamos ou até
que ela se torne verdadeiramente o nosso estilo de vida.

“A vontade de Deus para vós é esta: a vossa santifica-


ção...” (1 Ts 4.3a – A21)

OS CINCO FARÓIS PARA NOS GUIAR NA


VONTADE MORAL DE DEUS
Diante do fato da perfeição ser o alvo final de Deus para as nos-
sas vidas, precisamos nos aprofundar em como proceder hoje, em
relação à sua vontade moral. Ao mesmo tempo, não devemos es-
quecer que ainda somos pecadores; não no sentido do pecado nos
dominar, mas no sentido dele ainda habitar em nós. Por isso, nesta
aula, vamos tratar de cinco “faróis”, que servem para nos guiar na
obediência da vontade moral de Deus.

a. Primeiro farol: O Espírito Santo – nosso guia interior

Quando o evangelho nos alcançou estávamos condenados pela


culpa do pecado e escravizados pelo poder dominante que ele
exercia sobre nós. Assim é a vida do homem natural, que ainda
não foi encontrado por Deus nem regenerado mediante a ação do

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Espírito Santo, isto é, ainda não é nascido de novo. Ao nos alcan-


çar com a sua graça, Deus não apenas nos livrou da condenação
do pecado (através da cruz de Jesus – o homem perfeito), mas
também nos deu nova vida livrando-nos do seu domínio (éramos
escravos do pecado).
Contudo, apesar de estarmos livres tanto da condenação como do
domínio do pecado, não estamos livres da sua presença em nós. Tal
libertação só ocorrerá na consumação de todas as coisas, quando o
nosso corpo for glorificado. Porém, até que isso não aconteça, nós
precisamos lidar com o pecado que, constantemente, nos assedia.
Deus, mediante as riquezas de sua graça, disponibilizou em Cristo
Jesus tudo o que nos é necessário para resistir e vencer o pecado
nos dias maus, enquanto aguardamos a nossa bendita esperança.
A primeira benção graciosa que Deus nos concede para resistirmos
ao pecado é vivermos em santidade, ou seja, vivermos conforme
a sua vontade moral, que é a habitação do seu próprio Espírito em
nós. Isso é algo muito grande, complexo e paradoxal, pois por um
lado temos dentro de nós a presença do pecado, e por outro lado
a habitação do Espírito Santo. Olhando dessa forma podemos dizer
que o homem regenerado é um campo de batalha, pois dentro
dele há duas forças opostas lutando para tomar o controle de sua
vida.
Veja o que diz o Apóstolo Paulo na sua carta aos gálatas:

“Por isso digo: deixem que o Espírito guie sua vida.


Assim, não satisfarão os anseios de sua natureza hu-
mana. A natureza humana deseja fazer exatamente o
oposto do que o Espírito quer, e o Espírito nos impele
na direção contrária àquela desejada pela natureza
humana. Essas duas forças se confrontam o tempo
todo, de modo que vocês não têm liberdade de pôr
em prática o que intentam fazer. Quando, porém, são
guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei. (...)
Uma vez que vivemos pelo Espírito, sigamos a dire-
ção do Espírito em todas as áreas de nossa vida.”
(Gl 5.16-18,25 – NVT)

Em Romanos, ele diz:

“Portanto, irmãos, vocês não têm de fazer o que sua


natureza humana lhes pede, porque, se viverem de

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acordo com as exigências dela, morrerão. Se, contu-


do, pelo poder do Espírito, fizerem morrer as obras do
corpo, viverão”. (Rm 8.12,13 – NVT)

Deus nos deu o Espírito Santo para nos capacitar a obedecer a sua
lei. Esse é um fato poderoso! Quando estava chegando próximo do
fim de seu ministério na Terra, Jesus disse: “Quando, porém, vier o
Espírito da verdade, ele vos conduzirá a toda a verdade” (Jo 16.13).
Não precisamos ter medo de viver a vida cristã, pois temos o Espíri-
to Santo conosco e sua função é nos guiar a toda verdade.
No “Breve Catecismo de Westminster”, uma pergunta interessante é
levantada: “Como nos tornamos participantes da redenção adquiri-
da por Cristo?”. A resposta nos interessa: “Tornamo-nos participantes
da redenção adquirida por Cristo, pela eficaz aplicação dela a nós
pelo seu Santo Espírito”. O Espírito Santo é, portanto, o responsável
por aplicar em nós a redenção de Cristo. Ele é aquele que no início
da nossa jornada cristã nos convenceu do pecado e nos levou ao
arrependimento, mas também é ele que renova a nossa mente,
através de iluminar nosso entendimento, para que, assim, possamos
abraçar a vontade de Deus. Ou seja, o Espírito Santo, que é Deus,
trabalha em nossa santificação.
Louis Berkhof define santificação da seguinte maneira:

“... a graciosa e contínua operação do Espírito Santo


pela qual Ele liberta o pecador justificado da corrup-
ção do pecado, renova toda a sua natureza à ima-
gem de Deus, e o capacita a praticar boas obras”.1

Berkhof explica que a santificação consiste de duas partes, que se


desenvolvem conjuntamente: a mortificação do velho homem e a
vivificação do novo homem.

“O velho homem é a natureza humana na medida


em que é dirigida pelo pecado, Rm 6.6; Gl 5.24. No
contexto da passagem de Gálatas, Paulo contrasta

1
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, Pg. 532.

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as obras da carne com as do Espírito, e depois diz: “E


os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com
as suas paixões e concupiscências”. Significa que, no
caso deles, o Espírito obteve predomínio. A vivificação
do novo homem, criado em Cristo Jesus para boas
obras - Enquanto que a primeira parte da santificação
é de caráter negativo, esta é de cunho positivo. É o
ato de Deus pelo qual a disposição santa da alma é
fortalecida, os exercícios santos são incrementados e,
assim, é gerado e promovido um novo curso da vida.
A velha estrutura do pecado vai sendo posta abaixo
aos poucos, e uma nova estrutura é erguida em seu
lugar. Estas duas partes da santificação não são suces-
sivas, mas, sim, simultâneas. Graças a Deus, o levan-
tamento gradual do novo edifício não precisa esperar
até que o antigo esteja completamente demolido. Se
precisasse, nunca poderia começar nesta existência.
Com a gradativa dissolução do antigo, o novo vai
aparecendo. É como arejar uma casa impregnada
de odores pestilentos. Conforme o ar que ali estava é
extraído, o novo ar se precipita para dentro. Esta fa-
ceta positiva da santificação muitas vezes é chamada
ressurreição com Cristo, Rm 6.4, 5; Cl 2.12; 3.1, 2. A
nova vida à qual conduz é chamada viver para Deus,
Rm 6.11; Gl 2.19”.2

Apesar de o Espírito Santo habitar em nós, isso não significa que


nunca mais seremos tentados a pecar ou que nunca mais cairemos
em algum pecado. O trabalho de santificação que ele opera em nós
é processual e contínuo, isto é, quanto mais abrirmos espaço para
ele e quanto mais nos enchermos dele, mais santificados seremos.

2
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, Pg. 533.

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b. Segundo farol: A Bíblia – nosso guia exterior

Muitos cristãos desprezam as Escrituras argumentando que conhe-


cem a vontade de Deus através da revelação do Espírito Santo,
e – dizem eles – esta é uma forma de viver a vida, muito superior
à daqueles que leem a Bíblia. É óbvio que o Espírito Santo, por ser
Deus, é infinitamente superior a um livro, contudo, devemos enten-
der que as Escrituras e o Espírito Santo estão em comum acordo. A
Bíblia é a palavra de Deus escrita por homens, mas inspirada pelo
Espírito Santo, por isso, para entendê-la é necessário que tenhamos
a sua iluminação. É o Espírito Santo que também nos leva a cumprir
o que nela está escrito.
Por outro lado, devemos analisar com cuidado o que uma pessoa
quer dizer quando afirma “conhecer a vontade de Deus através das
revelações do Espírito Santo”. Concordamos que o Espírito é o nosso
guia interior e que age para nos conduzir à verdade. Contudo, mui-
tas pessoas que dizem estar ouvindo o Espírito Santo, na verdade,
estão ouvindo seus próprios pensamentos e desejos; isso faz com
que vivam uma vida instável e totalmente fora da vontade moral
de Deus. Pois bem, se o Espírito Santo é real, fala conosco, nos guia
e trabalha em nossas vidas, como, então, resolver essa questão?
Conhecendo o nosso guia exterior – as Escrituras.
Deus trabalhou durante toda a história para que seu povo pudesse
ter um livro, no qual tivesse a sua palavra escrita, revelada, acessível
e clara. A Bíblia é esse livro, ela é o testemunho exterior que tem
como objetivo revelar a vontade de Deus de forma clara, por isso,
não podemos desprezá-la. Não precisamos viver cheios de dúvidas,
pois o Espírito Santo nunca nos falará algo que esteja em desacordo
com o livro que ele mesmo inspirou; Deus nunca nos falará algo
que seja contra a sua própria palavra. Tudo o que precisamos saber
para viver uma vida santa e justa está nas Escrituras.

“Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa


para ensinar, para repreender, para corrigir, para ins-
truir em justiça; a fim de que o homem de Deus tenha
capacidade e pleno preparo para realizar toda boa
obra.” (2 Tm 3.16,17 – A21)

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A Bíblia é necessária para o conhecimento exato


da vontade de Deus
Na verdade, se não houvesse palavra de Deus escrita, não
poderíamos estar certos quanto à vontade de Deus por ou-
tros meios, tais como a consciência, o conselho dos outros, o
testemunho interior do Espírito Santo, as circunstâncias em
mudança, e o uso de raciocínio santificado e do senso comum.
Tudo isso pode nos dar uma aproximação com a vontade de
Deus de maneira mais ou menos confiável, mas esses meios
só não podem atingir qualquer certeza quanto à vontade de
Deus, pelo menos em um mundo decaído pelo pecado, onde
distorce a nossa percepção do bem e do mal, insira raciocínio
defeituoso no nosso processo de pensamento, e fazer-nos de
vez em quando para suprimir o testemunho da nossa consci-
ência ([Cf.Jer 17:9, Romanos 2:14-15, 1 Coríntios 8:10, Hb
5:14, 10:22; também 1 Tm 4:2, Tito 1:15)].
GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática.

Nossa Bíblia é um livro repleto de histórias e gêneros literários dife-


rentes. É através dela que Deus nos mostra a sua vontade. Ao ler as
histórias do Antigo Testamento, por exemplo, conseguimos conhe-
cer quem Deus é – sua misericórdia, justiça, zelo, amor e fidelidade.
Mas, embora a Bíblia seja repleta de histórias e nos revela o caráter
de Deus, não podemos esquecer que há nela mandamentos claros
que nos fala qual é a vontade moral de Deus, a sua lei. É nesse pon-
to que chegamos aos Dez Mandamentos e ao Sermão do Monte.

OS DEZ MANDAMENTOS
1. Não terás outros deuses diante de mim;
2. Não adorarás ídolos;
3. Não tomarás o nome do Senhor em vão;
4. Lembra-te do dia de sábado para o santificar;
5. Honra teu pai e tua mãe;
6. Não matarás;
7. Não adulterarás;
8. Não furtarás;
9. Não dirás falso testemunho;
10. Não cobiçarás.

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Outra confusão, muito comum no meio cristão, é que muitos pen-


sam que a lei é assunto apenas do Antigo Testamento. Acham que
a era da graça a eliminou e que os mandamentos, apesar de bons,
podem ser esquecidos. Outros confundem a lei com costumes re-
ligiosos, denominacionais ou, até mesmo, com regras de espiritua-
lidade e, com isso, se tornam legalistas. O Sermão do Monte deixa
claro que Deus tem uma vontade boa, perfeita e agradável, a qual
é expressa através da sua lei, que é imutável (“não penseis que
vim revogar a Lei e os profetas” – Mt 5.17). Ou seja, há leis, sim, a
serem cumpridas no Novo Testamento; há mandamentos da parte
de Deus nesta era da graça, que são a estrutura planejada por Deus
para que vivamos em santidade.
Isso não quer dizer que somos salvos pela lei (Ef 2:9; Rm 11:6), afinal
nenhum homem consegue cumpri-la por si mesmo, antes somos
salvos pela fé, para andarmos na lei. Por isso, os Dez Mandamentos
e o Sermão do Monte (uma ampliação e explicação mais detalhada
dos Dez Mandamentos, feita por Jesus) permanecem sendo aquilo
que Deus espera de nós. É essa vontade moral que deve ser nosso
modelo e alvo de vida.
Observe, abaixo, alguns trechos extraídos do Salmo 119:

“Minha alma se consome no anseio constante pelas


tuas ordenanças.” (v. 20)

“Teus estatutos são o motivo dos meus cânticos na


casa onde estou vivendo.” (v. 54)

“Como amo tua lei! Ela é minha meditação o dia


todo.” (v. 97)

“Teus testemunhos são maravilhosos, por isso lhes


obedeço.” (v. 129)

“Abro minha boca e suspiro, pois anseio pelos teus


mandamentos.” (v. 131)

Será que podemos dizer, como o salmista, que amamos a lei de


Deus, a ponto de suspirar? Será que podemos dizer que meditamos
nela o dia todo? Será que ao menos conhecemos a lei de Deus?
Sabemos quais são os Dez Mandamentos? Conhecemos o Sermão

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do Monte e procuramos ardentemente vivê-lo, em nosso dia a dia?


Há quanto tempo você ouviu uma pregação sobre santidade ou
sobre os mandamentos de Deus?
Infelizmente, muitos cristãos gastam a maior parte do seu tempo,
preocupados em descobrir com quem vão se casar, qual faculdade
vão fazer ou onde vão morar e, assim, deixam de lado a vontade
moral de Deus, revelada nas Escrituras. Enquanto se preocupam em
descobrir meios para fazer com que suas vidas deem certo, eles
erram no básico, no descumprimento da lei de Deus, optando por
não trilhar o caminho da santidade nem por valorizar a palavra de
Deus escrita.

O que quer que digamos sobre o Decálogo [Os 10 Manda-


mentos] em si, a regra 1 é certamente verdadeira quanto
à lei de Deus em geral. Ela é “perfeita e restaura a alma” (Sl
19.7). No capítulo 11 argumentei que a Escritura é suficiente
como um guia moral. Visto que a lei de Deus na Escritura defi-
ne pecado e justiça, ela, portanto, define “a sua perfeição em
todos os deveres” e proíbe “o mínimo grau de pecado”.
Se Decálogo é, como argumentei, um resumo da lei de Deus,
então ele resume esse padrão suficiente. Veja a lei do amor,
um resumo ainda mais conciso da lei. Se realmente amamos
a Deus e ao próximo, certamente desejaremos buscar a per-
feição em todos os deveres e evitar o mínimo grau de peca-
do. Se amamos a Deus, guardaremos os seus mandamentos
(Jo 14.15).
(...)
Se queremos servir a Deus, faremos não apenas o que os
mandamentos dizem especificamente (determinado pela
exegese histórico-gramatical), mas também buscaremos,
com a ajuda de Deus, os motivos interiores consistentes com
esses mandamentos.
FRAME, John M. A Doutrina da Vida Cristã. (Editora Cultura Cristã)

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c. Terceiro farol: Renovação da mente através das disciplinas es-


pirituais

Vivemos em um mundo de trevas e, por isso, precisamos constan-


temente estar diante de Deus e de sua palavra. Não tem como vi-
ver uma vida de santidade sem ter uma mente renovada, uma vez
que diariamente somos expostos às mentiras de Satanás. Somente
quando nos dispomos a buscar a verdade nas Escrituras e a ter uma
vida de oração é que teremos a mente renovada para, assim, co-
nhecermos a perfeita vontade de Deus para as nossas vidas.
É a prática das disciplinas espirituais que nos levará a estar em
constante comunhão com Deus, primeiro para conhecer a sua
vontade e segundo para que a sua graça nos leve a amá-la e
obedecê-la de todo o coração. Porque a grande jornada da vida
cristã é “ser transformado de glória em glória” (2 Co 3.18).
Como vimos no ponto anterior, Deus tem uma lei, uma vontade. Se
lermos cuidadosamente o Sermão do Monte perceberemos como
a lei possui um nível alto de santidade, e o quanto é difícil (natural-
mente falando) cumpri-la. Ler a Bíblia, ouvir pregações, orar e jejuar
são exemplos de práticas que deixam nosso coração mais atento
e vigilante na busca pela vontade de Deus, além de nos colocar
numa posição de humildade para, assim, poder receber do Senhor
o poder para obedecê-la.

d. Quarto farol: Obediência e Submissão à lei de Deus

“E sabemos que o conhecemos, se guardarmos seus


mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço, e não
guarda seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade
não está nele; mas todo o que guarda a sua palavra,
neste o amor de Deus tem de fato se aperfeiçoado. E
assim sabemos que estamos nele.” (1 Jo 2.3-5 – A21)

Conhecer a Deus e a sua vontade acontece de acordo com nosso


nível de obediência e submissão a ele. Na primeira epístola de João,
o apóstolo relaciona “conhecimento de Deus” com “guardar os seus
mandamentos”, ao dizer que a verdade não está naqueles que não
levam a sério os seus mandamentos.

“Mas o alimento sólido é para os adultos que, pela


prática, têm suas faculdades morais exercitadas para
distinguir entre o bem e o mal.” (Hb 5.14 – A21)

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Faculdades morais ou sentidos espirituais vêm com o exercício da


obediência à palavra de Deus. Quanto mais nos submetemos à lei
de Deus, mais capacitados nos tornamos para discernir o bem do
mal.

e. Quinto farol: A vida comunitária da Igreja

Outro farol importantíssimo que nos guia à vontade moral de Deus


é a Igreja, ou seja, a vida de comunhão e submissão na igreja local.
Isso significa: ouvir pregações, ser discipulado, pastoreado, aconse-
lhado e exortado por irmãos, confessar pecados, etc.
Não é possível viver sozinho a vida cristã. Ao nos convertermos en-
tramos para uma família – a família de Deus. Nela, somos libertos do
pecado do individualismo e egoísmo e levados a uma vida de amor
ao próximo, servindo-o como a nós mesmos. Devemos sempre sus-
peitar de toda espiritualidade que é vivida isoladamente. Pessoas
assim só “ouvem” a Deus através de si mesmo, e nunca através de
outros.
Deus providenciou para nós meios da graça que nos ajudam no
caminho da obediência, e um deles é a vida de Igreja, em todas as
suas formas. Muitas pessoas têm dificuldade com esse assunto por
terem vivido experiências ruins, traumas ou por terem idealizado
uma comunidade cristã perfeita e se decepcionaram. Mas, inde-
pendente de qual seja o seu caso, lembre-se que fazer parte de
uma igreja local é um mandamento: “não abandonemos a prática
de nos reunir, como é costume de alguns, mas, pelo contrário, ani-
memo-nos uns aos outros, quanto mais vedes que o Dia se aproxi-
ma” (Hb 10.25 – A21).
Sobre viver uma vida comunitária de Igreja, vamos destacar duas
práticas extremamente importantes:

a. Andar com a vida na luz

“Se dissermos que temos comunhão com ele e andar-


mos nas trevas, mentimos e não praticamos a verda-
de; mas, se andarmos na luz, assim como ele está na
luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue
de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.”
(1 Jo 1.6,7 – A21)

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Na busca por viver a vontade moral de Deus, e obedecer aos seus


mandamentos, enfrentaremos muitas tentações, descobriremos
nossas fraquezas e conheceremos muitos de nossos pecados. Para
isso, é essencial ter a vida na luz, isto é, confessar nossos pecados. É
quando humildemente nos abrimos e confessamos os nossos peca-
dos (para Deus e também para outro cristão) que temos comunhão
verdadeira, e o sangue de Jesus nos purifica.
Vemos na passagem acima, que Deus tem um processo para nos
purificar do pecado. E não só isso, ele também providenciou recur-
sos para que isso pudesse acontecer. A vida da igreja e a comunhão
verdadeira são uma arma poderosa para o enfrentamento do peca-
do e para nos levar a fazer a vontade de Deus.

“Portanto, confessai vossos pecados uns aos outros e


orai uns pelos outros para serdes curados.”
(Tg 5.16a – A21)

b. Perdão

Considera-se igreja um grupo de crentes redimidos. Embora uma


comunidade cristã seja a comunidade dos filhos de Deus, ela tam-
bém é uma comunidade de pecadores. Nesse ponto, ingenuidade
e idealismo devem ser descartados. É na igreja que receberemos
as maiores bênçãos de Deus, mas também é na convivência dos
pecadores que podemos ser traídos ou ofendidos.
Jesus nos alertou:

“Se teu irmão pecar contra ti, vai a sós com ele e re-
preende-o; se te ouvir, ganhaste teu irmão.”
(Mt 18.15 – A21)

Frequentemente, um irmão peca contra nós e nós contra ele. Po-


rém, até mesmo quando peca contra mim, ele está me abenço-
ando, pois a situação se torna uma oportunidade de crescimen-
to, tanto para a minha vida como para a vida dele. O evangelho
de Jesus é a mensagem mais poderosa do mundo, porque ele fala
do perdão de Deus em relação a nós, os mais terríveis pecadores.
E o perdão que ele nos deu nos capacita a perdoar nosso irmão.

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O perdão deve ser a tônica da vida da igreja e é o que nos capacita


a permanecer na vida comunitária, essencial para todo cristão –
sem desistir ou desanimar.

“Somente a comunhão que passa pela grande de-


cepção, com seus maus e desagradáveis aspectos,
começa a ser o que ela deve ser diante de Deus, co-
meça a apossar-se na fé da promessa recebida” – D.
Bonhoeffer.

“Então Pedro, aproximando-se dele, perguntou-lhe:


Senhor, até quantas vezes deverei perdoar meu ir-
mão que pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus lhe
respondeu: Não te digo que até sete vezes; mas até
setenta vezes sete.” (Mt 18.21,22 – A21)

“Por isso te digo: Os pecados dela, que são muitos, lhe


são perdoados, pois ela amou muito; mas aquele a
quem se perdoa pouco, este ama pouco.”
(Lc 7.47 – A21)

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