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5 histórias que muitos assumem estar na Bíblia, mas não estão

Por Natasha Romanzoti, em 18.01.2016

Considerando o fato de que a Bíblia cristã é o livro mais popular da história da humanidade, é
surpreendente o quão pouco as pessoas sabem sobre o que realmente está escrito nele.

Claro, é um texto complicado que foi compilado e traduzido para diferentes línguas ao longo
de milhares de anos, de forma que sua interpretação às vezes é confusa. No entanto, um
monte de histórias e personagens que todo mundo associa com a Bíblia não são exatamente
verdadeiras. Elas foram distorcidas ou construídas pela cultura popular, ao invés de se
basearem no verdadeiro conteúdo da obra. Como:

5. Sodoma e Gomorra foram destruídas por causa da homossexualidade de seus moradores


Se você perguntar a alguém para apontar uma parte da Bíblia onde Deus condena
especificamente a homossexualidade, provavelmente a resposta será Gênesis 19, a história de
Sodoma e Gomorra.

A história popular é que Deus destruiu essas duas cidades devido à homossexualidade
desenfreada (é inclusive daí que vem a palavra “sodomia” como a conhecemos hoje), enviando
dois anjos para extrair de lá apenas Ló, o único cidadão não gay, e sua família antes da ira
descer na região.

O problema é que não há absolutamente nenhuma referência na Bíblia sobre qualquer pessoa
em Sodoma ser gay. Mesmo que houvesse, essa nunca foi a razão para a ira de Deus. Se
qualquer coisa, o maior pecado do povo de Sodoma foi que eles realmente odiavam gente de
fora.

Na história, Deus envia dois anjos em forma humana para Sodoma para visitar a casa de Ló e
informá-lo de que ele devia fazer as malas porque alguma coisa séria, estilo Antigo
Testamento, estava programada para acontecer ali no dia seguinte. Isso porque o povo de
Sodoma era “mau” e os seus pecados eram “graves” – nada mais específico do que isso. Mas
quando os vizinhos de Ló viram que ele tinha visitantes de fora da cidade, reuniram suas
tochas e foram mostrar aos estrangeiros sua incrível hospitalidade (eles faziam isso,
aparentemente, batendo e estuprando).

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É verdade que a turma de linchadores de Sodoma fez uma ameaça clara de estupro contra os
visitantes (masculinos) de Ló. A citação da Bíblia, versão autorizada de King James em
português, é: “Traze-os aqui fora para que tenhamos relações sexuais com eles!”. Em inglês,
não é bem assim. Seria algo como “Traze-os aqui fora para que possamos conhecê-los”, muito
embora, em discurso bíblico, “conhecer” alguém não significasse exatamente tomar um
cafezinho juntos.
Muitos interpretam isso como evidência de quão louco o pessoal de Sodoma era por sexo gay.
Só que fazer uma ameaça de estupro não torna uma pessoa gay. Na verdade, a torna um idiota
violento (as prisões que o digam). Sem contar que essa linha é a única referência a qualquer
tipo de atividade sexual em toda a história. Quando a Bíblia esclarece mais tarde o que
Sodoma tinha feito para irritar Deus, o que é dito é que as pessoas de lá eram preguiçosas,
arrogantes e pouco caridosas.

 5 explicações científicas lógicas para passagens famosas da Bíblia

4. Os sete pecados capitais

Você provavelmente sabe quais são os “sete pecados capitais” por causa do filme Se7en,
mesmo se nunca pôs os pés em uma igreja. Estes são supostamente os sete piores pecados
que você pode cometer: gula, orgulho, luxúria, avareza, ira, preguiça e inveja.

Se você está folheando a Bíblia procurando por eles, esqueça. Eles não estão lá. Se alguém
tivesse dito isso para o personagem de Kevin Spacey no início, ele teria economizado meses de
trabalho.

Os sete pecados são muito amplos, englobando praticamente qualquer tipo de delito que você
possa pensar. De fato, esse é exatamente o ponto – os sete pecados capitais não são uma lista
de regras tiradas da Bíblia, como os Dez Mandamentos. Eles foram formulados pela Igreja
Medieval como uma maneira fácil de classificar todos os pecados.

Ao invés de um guia ditado por Deus, eles eram mais como uma espécie de “compilação” feita
para tornar as 10 bilhões de regras da Bíblia um pouco mais digeríveis para o público em geral,
já que quase ninguém tinha uma cópia real do livro (aquela coisa dos livros não serem
impressos e precisarem ser copiados a mão era realmente um problema na época).

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Então, os pecados capitais foram ditados pela primeira vez no século VI pelo Papa Gregório I,
cuja intenção era chegar a uma pequena lista de elementos básicos de coisas que geravam a
ira de Deus. Logo, esses pecados fizeram a transição da mitologia obscura para cânone da
Bíblia quando Dante escreveu seu poema épico “A Divina Comédia”, mais conhecido por seu
popular capítulo “Inferno”. Ele é dividido em sete círculos com base nos sete pecados mortais.
Esses sete círculos, é claro, também estão longe de serem encontrados na Bíblia.

 Um mapa das contradições na Bíblia

3. Purgatório
Purgatório é supostamente o lugar para onde você vai se não é mau o suficiente para merecer
o inferno, mas também não é santo o suficiente para ganhar uma cabaninha no céu. É como
uma espécie de saguão de aeroporto em seu caminho para a salvação – se Deus não está
bastante confiante de que você está carregando uma bomba cheia de pecado na sua mala,
então você precisa passar pelo raio-X da justiça antes de embarcar para a felicidade eterna.

Na realidade, o purgatório não é algo que a Bíblia descreve literalmente; é mais algo que a
doutrina católica sugere que deve existir a fim de resolver o problema de onde as pessoas vão
depois que morrem, caso não tenham cumprido os requisitos de entrada no céu ou inferno.

Segundo a doutrina católica oficial, a existência do purgatório foi decidida durante o Concílio
de Florença em 1431, porque a Bíblia não especifica seus termos de forma suficientemente
clara (tipo, algumas pessoas decidiram que Deus não ficaria chateado se eles inventassem
alguns detalhes para serem acrescentados no mundo que Ele criou).

Mas os teólogos logo descobriram um outro problema com a escritura: para onde os bebês
vão quando morrem antes de terem a chance de ser batizados? E o que acontece com os
justos que viveram e morreram antes de Jesus nascer?

Deus não seria tão cruel de mandá-los direto para o inferno, certo? Logo, vem o conceito de
limbo, que, distinto do purgatório, é como uma cela temporária para as almas daqueles que
mereciam ir para o céu, mas morreram antes da crucificação de Jesus ou eram demasiado
ignorantes (por exemplo, bebês) para perceber que nasceram no pecado.

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E dado que os conceitos de purgatório e limbo foram inventados depois que a Bíblia foi escrita,
nunca entraram no discurso popular até Dante escrever sobre eles. É, parece que a galera
gosta mais de espalhar a palavra de Dante que de Jesus.

 10 razões pelas quais o inferno não existe

2. A prostituta Maria Madalena

Maria Madalena é uma das personagens femininas mais famosas da Bíblia. O que a maioria das
pessoas pensa é que ela foi discípula de Jesus (ofuscada por 12 caras muito mais famosos), que
foi uma prostituta a quem Jesus perdoou, e que depois passou a segui-lo, lavando seus pés e
se redimindo de uma vida de pecado. Alguns especulam que ela era a favorita de Cristo,
levando a teorias da conspiração sobre a igreja ter encobrido o fato de que eles se casaram.

A realidade, no entanto, é que a Bíblia não fala quase nada sobre ela. Claro, Maria Madalena
aparece nos Evangelhos como uma discípula de Jesus, mas é basicamente só isso. Ela não era
uma prostituta e não era a única mulher em sua comitiva – outras mencionadas são Joana,
mulher de Cuza e alguém chamada Susana.

Basicamente, os mitos que cercam a vida de Madalena surgiram quando as pessoas


começaram a confundi-la com outras pessoas, por conta do fato de que há demasiadas
mulheres na Bíblia chamadas Maria. Na verdade, existem dois outros personagens que foram
consideradas “Maria Madalena” apenas por compartilhar o que foi provavelmente o nome
mais popular da era – Maria de Betânia, irmã de Lázaro, que cozinhou um jantar para Jesus
porque parecia a coisa certa a fazer depois que ele ressuscitou seu irmão, e uma mulher “que
viveu uma vida de pecado”, que pode ou não ter sido chamada Maria também.

Ambas essas outras Marias cumprimentam Jesus jogando perfume em seus pés e limpando-o
com seus cabelos, o que aparentemente era apenas uma coisa normal na época (ninguém na
história parece pensar que isso é estranho). Mas a Igreja Católica medieval presumivelmente
decidiu que tinha muitos personagens na Bíblia e que as pessoas iriam confundir todas essas
Marias, lançando um decreto oficial que todas as três mulheres eram a mesma pessoa.

A igreja voltou atrás dessa alegação em 1969, mas como a maioria das pessoas não
acompanha as minúcias do dogma católico, o mito é que Maria Madalena é a única tal “mulher
pecadora” que limpou os pés de Jesus com seus cabelos. Aliás, a Bíblia não especifica que seu
“pecado” significa que ela era uma prostituta. No entanto, as pessoas imediatamente terem
assumido isso diz muito sobre a nossa sociedade.

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 10 evidências científicas intrigantes sobre histórias bíblicas

1. Satanás provavelmente não é uma pessoa só


Esse é um tópico de muita controvérsia – segundo a tradição cristã tradicional, Satanás foi um
dos primeiros anjos e originalmente um dos favoritos de Deus, até que se rebelou e foi expulso
para a Terra, onde se tornou o príncipe das trevas e o principal antagonista do bem. Mesmo
que você não seja muito religioso, provavelmente supõe que esse cara tem um papel
significativo na Bíblia.

Não é bem assim. Primeiro de tudo, a maioria das referências da Bíblia ao ser que pensamos
como Satanás na verdade provavelmente referem-se a entidades completamente diferentes.
Não é tudo uma criatura só. Por exemplo, a serpente no Jardim do Éden que convenceu Eva a
comer do fruto proibido era provavelmente apenas uma serpente falante ao invés de um
demônio que muda de forma, como evidenciado por Deus amaldiçoando-o a rastejar em sua
barriga pela eternidade.

Mais tarde, no Antigo Testamento, a palavra “Satanás” é apenas usada para significar
“adversário”, da maneira que “anticristo” foi usado para se referir a qualquer um que odiava
os cristãos.
O mais estranho de tudo é que, em uma das poucas vezes que Satanás realmente aparece com
um papel na Bíblia, ele é descrito como uma espécie de conselheiro de Deus. Na história de Jó,
Satanás é um dos muitos anjos que frequentam o tribunal de Deus no reino celestial. Jó é o
humano favorito de Deus devido ao seu senso de justiça, mas Satanás sugere que talvez ele
não seria tão justo se Deus tirasse sua riqueza e família. Deus decide que Satanás tem um bom
argumento e que seu conselho é uma boa ideia, seguindo-o.

Também parece que se referir ao diabo como Lúcifer foi apenas um erro, um simples mal-
entendido – o autor de Isaías 14 tirou esse nome de um rei babilônico, comparando-o a
descida do planeta Vênus (que se traduz aproximadamente a “brilhante estrela da manhã”).
Tradutores posteriores depois decidiram que essa era uma referência a tal da única criatura
demoníaca por trás de todo o mal.

Finalmente, o personagem de Satanás como o general em uma grande batalha contra Deus,
que aparece no livro do Apocalipse, é uma das únicas vezes em que uma descrição física é feita
de tal indivíduo. (Caso você não saiba, as versões do diabo com rabo, chifre, tridente, pele
vermelha, são todas invenções da cultura pop). E o que é falado desse Satanás? Que ele é um
dragão. Diversas vezes, aliás. Uma delas é a citação: “Ele prendeu o dragão, a antiga serpente,
que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos” Apocalipse 20:2. [Cracked]

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