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Gestão de Tecnologia

e Inovação para
Engenharia
Material Teórico
Fontes de Inovação na Empresa

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Paulo Renato Pakes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Fontes de Inovação na Empresa

• Introdução;
• Fontes de Conhecimento para a Inovação;
• Desenvolvimento Tecnológico Próprio;
• Inovação Aberta e Inovação pelo Usuário;
• Transferência de Tecnologia;
• Conhecimento Tácito e Conhecimento Codificado;
• Propriedade Intelectual;
• Fontes de Inovação na Indústria Brasileira.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apresentar conceitos sobre fontes de conhecimento para a inovação, desenvolvimen-
to tecnológico, inovação aberta, transferência de tecnologia, conhecimento tácito e
codificado, propriedade intelectual e fontes de inovação da indústria brasileira.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa

Introdução
A literatura sobre inovação mostra que a tecnologia não é apenas exógena e nem
totalmente endógena à empresa. Ou seja, o conhecimento da organização é estru-
turado mediante diferentes fontes de tecnologia e de aprendizado, que podem ser
de origem externa ou interna, e que são utilizadas pelas organizações para lançar
novos produtos, melhorar processos, adotar novos métodos de gestão organizacional
e aumentar a competitividade. Nesta unidade, iremos identificar as diversas fontes
de tecnologia utilizadas pelas empresas, discutir suas características, oportunidades
e limitações, bem como levantar seus impactos potenciais sobre a competitividade.

Fontes de Conhecimento para a Inovação


As fontes de inovação são geralmente classificadas segundo a origem da infor-
mação e do conhecimento utilizado. As fontes internas se referem às atividades rea-
lizadas dentro da organização que são explicitamente voltadas ao desenvolvimento
de produtos e processos, inclusive aquelas voltadas à simples obtenção de melhorias
incrementais por meio de programas de qualidade, treinamento de recursos huma-
nos e aprendizado organizacional (TIGRE, 2014).

Já as fontes externas se referem às atividades empresariais que envolvem a busca


e aquisição de conhecimentos técnicos por meio de (OCDE, 2005):
1. aquisição de informações codificadas, a exemplo de manuais, software,
livros e revistas técnicas, vídeos etc.;
2. contratação de consultorias especializadas;
3. obtenção de licenças de fabricação de produtos e processos; e
4. compra de tecnologias embutidas em máquinas e equipamentos.

A seleção de diferentes fontes de tecnologia está associada às características da


tecnologia em si, às escalas produtivas, às capacitações existentes e às estratégias
adotadas pelas empresas. O Quadro 1 sumariza as principais fontes de tecnologia
utilizadas nas empresas.

Quadro 1
Fontes de Tecnologia Exemplos
P&D, engenharia reversa, participação em redes
Desenvolvimento tecnológico próprio
de pesquisa.
Licenças e patentes, contratos com universidades e centros
Contratos de transferência de tecnologia
de pesquisa.
Tecnologia incorporada Máquinas, equipamentos e software embutido.
Livros, manuais, revistas técnicas, internet, feiras e exposições,
Conhecimento codificado
software aplicativo, cursos e programas educacionais.

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Fontes de Tecnologia Exemplos
Aprendizado cognitivo, contratação de RH experiente,
Conhecimento tácito consultores, informações de clientes e fornecedores,
estágios e treinamento prático.
Processo de aprender fazendo, usando, interagindo, etc.
Aprendizado cumulativo
devidamente documentado e difundido na empresa.
Fonte: Tigre (2014)

Desenvolvimento Tecnológico Próprio


É possível dividir as atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) em: pesquisa
básica, em que o foco é o avanço científico; pesquisa aplicada, que visa à solução de
problemas práticos; e desenvolvimento experimental, voltado à geração de produtos,
serviços e processos. A pesquisa básica é geralmente de longo prazo e seus resulta-
dos são incertos, sendo assim evitada pela grande maioria das empresas. Entretan-
to, destaca-se que seus resultados podem proporcionar avanços tecnológicos para a
sociedade em longo prazo, e por isso são geralmente assumidos por instituições de
pesquisa sem fins lucrativos e financiadas pelo Estado (OCDE, 2005).

Ao centrar seus esforços nas etapas finais do processo de inovação, as empresas


procuram reduzir as incertezas das atividades de P&D. A pesquisa empresarial visa
principalmente ao desenvolvimento de novos produtos, ao aperfeiçoamento de pro-
dutos existentes, à melhoria de processos produtivos e à introdução de inovações
organizacionais. Estima-se que, na fase de pesquisa aplicada, na qual um projeto
básico é transformado em um produto comercial, os investimentos em tecnologia
sejam até dez vezes maiores do que na fase de concepção básica. Isso ocorre por-
que a transformação de uma planta piloto ou protótipo em processos e produtos
comercializáveis requer atividades complexas, como adequação da ideia às neces-
sidades do mercado, busca e seleção de fornecedores, definição de processos de
fabricação, desenvolvimento da rede de serviços aos clientes, obtenção de licenças
junto a órgãos governamentais, registro de marcas e patentes e outras medidas
práticas essenciais para o sucesso do novo produto ao mercado (TIGRE, 2014).

Nos países desenvolvidos, ao contrário do que ocorre em países em desenvolvi-


mento, a maior parte das atividades de P&D é realizada por empresas. Ainda assim
o Estado exerce um papel fundamental na expansão do conhecimento e da base
científica necessária para que o setor produtivo desenvolva tecnologias aplicadas,
principalmente por meio da montagem de infraestrutura, do financiamento e da
concessão de incentivos fiscais para a inovação.

Os projetos de P&D nas empresas podem ter origem tanto na área de vendas,
através da identificação de novas demandas do mercado (demand pull), quanto
nas áreas técnicas que buscam oportunidades tecnológicas para inovar (technology
push). As empresas mais orientadas para o mercado, nas quais a área comercial
tem maior peso nas decisões estratégicas, costumam correr menos riscos. As áreas

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UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa

de vendas costumam avaliar melhor as necessidades de seus clientes e o potencial


do mercado nacional e internacional do que aquelas mais orientadas para tecnolo-
gia. Por outro lado, empresas que vendem para mercados mais sofisticados e inten-
sivos em tecnologia tendem a atribuir mais autonomia às áreas técnicas na definição
de projetos de P&D e estão mais sujeitas às incertezas (FIGUEIREDO, 2011).

Você Sabia? Importante!

O orçamento de P&D de uma empresa varia muito em função de sua estratégia tecno-
lógica e do setor de atividades em que atua. As empresas que desenvolvem atividades
formais de P&D são geralmente de grande porte, embora também existam pequenas
empresas inovadoras, principalmente em novos segmentos industriais. Os esforços de
P&D são geralmente medidos pelo percentual desses gastos em relação ao faturamento
da empresa. Os setores de aeronáutica, farmacêutico e de microeletrônica costumam
gastar mais de 10% de seu faturamento em atividades de P&D, enquanto setores menos
dinâmicos tecnologicamente investem em média menos de 1%.

Um tipo particular de atividade de P&D realizada nas empresas é a engenharia


reversa, uma fonte de tecnologia amplamente utilizada tanto em países desenvolvi-
dos quanto nos países em desenvolvimento. Consiste na reprodução funcional de
produtos e processos lançados originalmente por empresas inovadoras sem trans-
ferência formal de tecnologia. A engenharia reversa é mais do que uma cópia, pois
determinados componentes ou etapas de produção podem estar protegidos por pa-
tentes ou segredo industrial. Para que a nova versão seja competitiva, é necessária
capacitação tecnológica para compreender e modificar a tecnologia original, por
meio do desenvolvimento de novas rotas, da substituição de componentes patente-
ados e da solução de problemas de forma independente.

Por fim, cabe apresentar também a formação de consórcios e redes de P&D,


que tem sido uma tendência mundial diante da maior complexidade científica, da
convergência tecnológica e dos altos custos das atividades de pesquisa. À medida
que diferentes tecnologias convergem, a exemplo do que vem ocorrendo no cha-
mado complexo eletrônico, nenhuma empresa consegue reunir internamente todas
as competências necessárias para desenvolver novos produtos. Assim, precisam
recorrer a alianças estratégicas para complementar suas competências e dividir os
custos e riscos inerentes às inovações. A cooperação pode ocorrer tanto entre em-
presas em uma determinada cadeia produtiva para desenvolver tecnologias comuns
aos seus negócios como também entre empresas concorrentes, principalmente em
soluções tecnológicas básicas típicas de uma fase pré-competitiva.

Tradicionalmente, as empresas multinacionais concentram suas atividades de


desenvolvimento tecnológico em suas matrizes e as subsidiárias mantêm pouca
capacitação ou autonomia para inovar. Mais recentemente, entretanto, observa-se
uma tendência das corporações globais de integrar subsidiárias em outros países
no processo de geração de novas tecnologias. Isso se deve principalmente ao alto
custo e à falta de disponibilidade de recursos humanos em grande escala, além da
necessidade de adaptar produtos a mercados específicos (TIGRE, 2014).

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Inovação Aberta e Inovação pelo Usuário
Os custos crescentes de P&D, associados a ciclos de vida do produto cada
vez mais curtos, têm levado algumas empresas a lançar programas de inovação
aberta (open innovation) e inovação pelo usuário. O termo Open Innovation,
em português, Inovação Aberta (IA), surgiu com o autor Chesbrough (2003). Em
seu livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting
from Technology”, o autor aborda os obstáculos para as empresas manterem-se
inovadoras utilizando apenas seus recursos internos. Assim, Chesbrough (2003)
expõe observações sobre a experiência de algumas empresas em utilizarem novas
formas de gerar inovação tecnológica, diante disso, propõe um novo modelo de
geração de inovação – o modelo Open Innovation. Autores como Dosi (1988),
Freeman (1999), dentre outros, já destacavam a interação entre partes externas
e os membros internos da empresa como forma de prospectar possibilidade de
desenvolvimento de novos conhecimentos e inovação.

O modelo IA, em definição mais recente de Chesbrough et al. (2014, p. 17), é


caracterizado como “um processo de inovação distribuído com base em gestão de
fluxos propositais de conhecimento através das fronteiras organizacionais, utilizan-
do mecanismos pecuniários e não pecuniários em conformidade com o modelo de
negócio da organização”. Contrapõe-se, portanto, à inovação fechada, que trata o
P&D internamente, e passa a explorar as transferências de conhecimento através
dos limites físicos das organizações (HUIZINGH, 2011).

A figura 1 retrata o conceito clássico de funil de inovação de Chesbrough (2003),


o qual divide o processo IA em três etapas principais: (a) projetos de pesquisa;
(b) desenvolvimento; e (c) comercialização.

Ciência e
Tecnologia Novos mercados

Mercado atual

Novos
Projetos de Limites da produtos/serviços
pesquisas empresa

Pesquisa Desenvolvimento Comercialização

Figura 1 – Funil de Inovação (Open Innovation)


Fonte: Adaptado de Chesbrough, 2003

Na fase de pesquisa, as empresas buscam ideias, conceitos, parcerias e proje-


tos de fontes tecnológicas e científicas. Esse modelo enfatiza o fato de que opor-
tunidades externas têm de ser bem exploradas, permitindo o desenvolvimento da
inovação através da exploração de tecnologias e recursos (CHESBROUGH, 2007).

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UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa

Por sua vez, na etapa de desenvolvimento, novas oportunidades, parcerias e projetos


podem surgir. Esse estágio funciona como um filtro para os projetos, que pode ser
endereçado a mercados atuais ou novos e pode resultar em acordos de licenciamen-
to, produtos e serviços projetos de desenvolvimento, iniciativas de transferência de
tecnologia e de capital de risco. Por fim, na fase de comercialização, canais de negó-
cios externos são explorados para gerar valor para a organização (OLIVEIRA, 2017).

Sendo assim, compreende-se que a IA torna as fronteiras das empresas cada vez
mais permeáveis aos ambientes que a circundam, favorecendo suas funções de ne-
gócios e de gestão, minimizando a inércia organizacional e adaptabilidade ao meio
ambiente, possibilitando, com isso, a criação de valor e vantagem competitiva para
o negócio (HUANG et al., 2013).

A Inovação Aberta parte dos seguintes pressupostos (TIGRE, 2014):


1. Por maiores que sejam as organizações de P&D, a maioria dos bons pro-
fissionais da área está fora da empresa;
2. Fontes externas de tecnologia podem agregar valor ao negócio, o que não
desobriga a empresa de ter um P&D forte;
3. Uma empresa não precisa ser inventora de uma tecnologia para comercializá-la;
4. Ser o primeiro a inovar não garante sucesso no mercado, pois o mais im-
portante é ter um modelo de negócio;
5. Pode ser mais lucrativo licenciar para terceiros uma tecnologia desenvol-
vida internamente, mas sem uso imediato, do que tentar explorá-la sem
contar com uma estrutura comercial ou modelo de negócio apropriado.

Você Sabia? Importante!

Redes de Inovação aberta incluem a prestação de serviços técnicos, a aquisição ou trans-


ferência de tecnologia e o estabelecimento de alianças estratégicas e consórcios de pes-
quisa. A pioneira nesse processo foi a Procter & Gamble, que mantém redes de coopera-
ção em áreas relacionadas com sua ampla linha de produtos abrangendo embalagens,
design, distribuição, modelos de negócios, modelos de marketing, métodos de pesquisa
de mercado, licenciamento de marcas e pesquisa tecnológica em diferentes áreas. Em
seus sites de relacionamento, a empresa lista suas demandas por inovação e oferece tec-
nologias para terceiros.

Uma variante desse processo é a inovação pelo usuário, que parte da ideia de
que muitos produtos e serviços são desenvolvidos ou aperfeiçoados por clientes
durante o processo de implementação e uso. Isso ocorre porque os produtos são
originalmente desenvolvidos de forma genérica e, quando usuários individuais se
defrontam com problemas particulares não compartilhados com outros usuários,
eles precisam fazer modificações, ou mesmo desenvolver produtos inteiramente
novos para atender suas necessidades. Frequentemente, usuários compartilham

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suas ideias com fabricantes, levando-os a incorporá-las em seus produtos. Isso in-
clui inovações na forma de usar um produto, na prestação de serviços associados,
na configuração de tecnologias e no desenvolvimento de novas tecnologias propria-
mente ditas (TIGRE, 2014).

Transferência de Tecnologia
O processo de transferência de tecnologia envolve diferentes formas de transmis-
são de conhecimentos, incluindo contratos de assistência técnica, em que a empre-
sa obtém ajuda externa para iniciar o processo produtivo, solucionar problemas ou
lançar novos produtos, obtenção de licenças de fabricação, utilização de patentes e
marcas registradas e a aquisição de serviços técnicos de engenharia (TIGRE, 2014).

A comercialização de tecnologia via licenciamento é uma atividade mais interna-


cional do que doméstica, já que as empresas procuram evitar o fomento de concor-
rentes diretos nos mercados em que atuam. As empresas que obtêm licenças sem
a necessária capacitação tecnológica buscam compensar a falta de competitividade
por meio da obtenção de vantagens competitivas locacionais, menores custos de
aluguéis e mão de obra, logística eficiente, acesso privilegiado a determinados mer-
cados ou fontes exclusivas de matérias-primas e recursos minerais. Esses fatores
podem compensar deficiências tecnológicas, garantindo a sobrevivência de peque-
nas indústrias regionais.

A compra de uma tecnologia mais avançada permite que a empresa inove em


processos ou produtos. Porém, não havendo um esforço próprio para adaptar e
aperfeiçoar a tecnologia adquirida, o ganho de eficiência é de “uma vez só”, sem
produzir efeitos dinâmicos na produtividade. Uma tecnologia não permanece es-
tável ao longo do tempo e, por isso, o licenciamento precisa vir acompanhado de
um esforço interno para absorvê-la e aperfeiçoá-la, visando garantir sua evolução.
Na maioria dos casos, é necessário adaptar a tecnologia adquirida às condições
locais em termos de disponibilidade e custos de fatores de produção, necessidades
dos clientes, escala produtiva e cultura organizacional. A disponibilidade interna de
recursos humanos qualificados para conduzir programas de qualidade, introduzir
melhorias contínuas e adaptar seus produtos e processos às mutantes necessidades
da demanda é fundamental para promover uma efetiva transferência de tecnologia.

Você Sabia? Importante!

As universidades e os centros de pesquisa representam uma fonte de tecnologia na


qual o conhecimento gerado não tem necessariamente o objetivo comercial. As relações
universidade-empresa vêm crescendo, mas esbarram em diferentes práticas e vocações
institucionais que dificultam a cooperação.

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UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa

Conhecimento Tácito
e Conhecimento Codificado
A natureza do conhecimento utilizado em atividades econômicas é usualmente
dividida em codificada e tácita. O conhecimento codificado é apresentado sob a
forma de informação, por meio de manuais, livros, revistas técnicas, software,
fórmulas matemáticas, documentos de patentes, bancos de dados etc. A codifi-
cação permite que o conhecimento seja transmitido, manipulado, armazenado e
reproduzido. Já o conhecimento tácito envolve habilidades e experiências pesso-
ais ou de grupo, apresentando um caráter mais subjetivo. Tal conhecimento difi-
cilmente é passível de transmissão objetiva e, portanto, não pode ser facilmente
transformado em informação. O conhecimento tácito permite a diferenciação da
capacitação entre diferentes empresas, pois constitui uma vantagem competitiva
única. A forma mais comum de se adquirir conhecimento tácito é através da ges-
tão do conhecimento, da acumulação de experiência e da contratação de consul-
tores e profissionais de outras empresas (FIGUEIREDO, 2011).

O conhecimento codificado é mais fácil de transferir, mas sua rápida evolução limita
seus benefícios para quem não adquire a capacitação necessária para aprender a deco-
dificar o conhecimento. A codificação cria a possibilidade de transformar informação em
mercadoria, mas seu valor será muito limitado para aqueles que não têm a capacitação
necessária para compreender e utilizar produtivamente o conhecimento (TIGRE, 2014).

Propriedade Intelectual
O valor de uma determinada tecnologia geralmente depende das condições de
apropriabilidade, ou seja, da possibilidade de o inventor ou inovador manter exclu-
sividade sobre a tecnologia por um determinado período de tempo. Tal controle é
geralmente exercido através da propriedade intelectual sobre bens imateriais, por
meio de patentes. Em alguns casos, a tecnologia não é patenteável, e a proteção é
mantida por segredo industrial. Uma tecnologia facilmente imitável leva os rendi-
mentos monopolistas de uma inovação a quase zero (TIGRE, 2014).

A propriedade intelectual (PI) é essencialmente um direito outorgado pelo


Estado por meio de leis específicas, por um prazo determinado, e que permite ao
seu detentor excluir terceiros de sua comercialização. A PI abrange a propriedade
industrial, copyrights e domínios conexos. A propriedade industrial é o regime de
proteção conferido às invenções, modelos de utilidade, desenhos industriais, mar-
cas e denominações de origem (TIGRE, 2014).

Uma patente de invenção é concedida no caso de o objeto possuir os requisitos


de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, levando em consideração
não apenas a ideia tal como foi expressa, mas sua aplicação prática.

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O modelo de utilidade se refere mais a um detalhe de funcionamento, ou de uti-
lização, do que, propriamente, de estética ou configuração. Trata-se de um disposi-
tivo ou forma nova conferida a um objeto conhecido visando aumentar ou facilitar
sua capacidade de utilização. Por exemplo, uma nova engrenagem em um isqueiro
ou um novo dispositivo para abertura de uma lata constitui um modelo de utilidade
passível de ser patenteado.

O desenho industrial (design) é um bem material que se exterioriza pela for-


ma ou pela disposição de linhas e cores de um objeto suscetível de utilização.
A diferenciação do produto através de design exclusivo é muito importante para a
competitividade de indústrias de bens de consumo e produtos embalados para o
usuário final. Os produtos precisam ser constantemente redesenhados de forma a
incorporar um visual mais atualizado, seguindo tendências culturais, novos padrões
estéticos, mudanças de hábitos do consumidor, uso de novos materiais e compo-
nentes que ganham a preferência do mercado. O design original é passível de ser
protegido pelas leis de propriedade industrial.

As marcas registradas conferem uma identidade ao produto, permitindo sua


identificação pelo consumidor. Desenvolver uma marca forte requer grandes inves-
timentos em propaganda e marketing, mas pode ser uma boa alternativa para fugir
da competição por preços, típica dos produtos sem uma identidade marcante.

Por fim, o direito autoral é o regime de proteção conferido especificamente a cria-


ções literárias, artísticas e científicas. O registro de direito de autor de uma obra
original confere o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra, ou seja, de
impedir que terceiros copiem o que foi criado.

Você Sabia? Importante!

A propriedade intelectual é regida por vários acordos internacionais, desenvolvidos


a partir da Convenção da União de Paris e da Convenção de Berna, ambas de 1883.
Atualmente, o acordo internacional mais importante é o Trade Related Aspextos of
Intellectual Rights Including Trade in Counterfeit Goods (TRIPS), criado em 1994 pela
Organização Mundial de Comércio.

Fontes de Inovação na Indústria Brasileira


O estudo do comportamento inovador da empresa brasileira nos ajuda a enten-
der o processo de desenvolvimento industrial do país. A literatura internacional
está focada essencialmente na experiência dos países avançados nos quais as
atividades de P&D constituem a principal fonte de aquisição de tecnologia. Já
no Brasil, as tendências apontadas nas últimas versões da Pesquisa de Inovação
Tecnológica do IBGE (PINTEC) indicam que a expensão das atividades inovativas
tem se dado com base em outras fontes de tecnologia. No Brasil, a aquisição de

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UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa

máquinas e equipamentos, a realização de treinamentos e de projetos industriais


tem sido as atividades inovativas mais relevantes. Por outro lado, as atividades
internas de P&D vêm perdendo importância. O Gráfico 1 apresenta o grau de
importância atribuída para as atividades inovativas pelas empresas que responde-
ram à última PINTEC (IBGE, 2016).

Figura 2 – Importância relativa das atividades inovativas para a realização de inovações


Fonte: IBGE, 2016

Assim como no período anterior (de 2009 a 2011), verificou-se no intervalo


2012-2014 um padrão baseado no acesso ao conhecimento tecnológico através da
incorporação de máquinas e equipamentos, que figura como a atividade considera-
da de importância alta ou média para 72,5% das empresas inovadoras pertencentes
ao âmbito da pesquisa, seguida da atividade, frequentemente complementar, de
treinamento (62,3%) e da aquisição de software (33,8%). No período de referência
anterior (2009-2011), essa participação foi de 73,5% para aquisição de máquinas e
equipamentos, 59,5% para treinamento e 33,2% para aquisição de software.

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Apesar de atribuir menor importância relativa às atividades de P&D, o cruza-
mento com dados factuais da PINTEC revela que as empresas brasileiras estão
inovando mais: no período 2012 a 2014, do universo de 132.529 empresas com
10 ou mais pessoas ocupadas, 47.693 implementaram produtos ou processos no-
vos ou significativamente aprimorados, perfazendo uma taxa geral de inovação de
36,0%. Houve uma diferença foi de 0,3 ponto percentual acima do verificado no
triênio 2009-2011, quando então a taxa havia sido de 35,7%.

O principal objetivo dos esforços tecnológicos das empresas brasileiras é acom-


panhar a dinâmica competitiva, por meio do lançamento de novos produtos, assim
como pela adaptação de produtos existentes às necessidades do mercado, aos pa-
drões mais rígidos de qualidade e maior aderência a normas técnicas internacionais.
Já a demanda por tecnologias de processos e mudanças organizacionais reflete a
necessidade de reduzir custos de produção, de buscar soluções para problemas am-
bientais, e promover o aumento da produtividade do trabalho.

Você Sabia? Importante!

O registro de propriedade intelectual vem perdendo importância relativa no país, pois


apenas 7,2% das empresas que inovaram depositaram pedidos de patentes em 2008.
Tal tendência sugere que políticas de estímulo à disseminação das fontes abertas de
conhecimento podem constituir alternativas mais promissoras para o desenvolvimento
tecnológico do que restringir a circulação de inovações por meio da concessão de direitos
de propriedade intelectual.

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UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação
PHILIPPI JUNIOR, A.; NETO, A. J. S. Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia
e Inovação. São Paulo: Manole, 2010. (e-book)
Gestão da inovação e do conhecimento
POSSOLI, G. E. Gestão da inovação e do conhecimento. InterSaberes: São Paulo,
2012. 172 p. (e-book)
Inovação em produtos e serviços
PAIXÃO, M. V. Inovação em produtos e serviços. InterSaberes: São Paulo, 2014.
184 p. (e-book)

 Leitura
Manual de Oslo
OCDE. Manual de Oslo.
https://bit.ly/2n8EOK6

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Referências
CHESBROUGH, H. W.; BOGERS, M. Explicating open innovation: clarifying
na emerging paradigm for understanding innovation. New Frontiers in Open
Innovation. Oxford: Oxford University Press, Forthcoming, pp. 3-28, 2014.

CHESBROUGH, H. Open innovation: The new imperative for creating and


profiting from technology. Harvard Business Press, 2003.

CHESBROUGH, H. Business model innovation: it’s not just about technology


anymore. Strategy & leadership, v. 35, n. 6, p. 12-17, 2007.

DOSI, G. Sources, procedures, and microeconomic effects of innovation. Journal


of economic literature, pp. 1120-1171, 1988.

FIGUEIREDO, P. N. Gestão da Inovação: Conceitos, métricas e experiências de


empresas no Brasil. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

HUIZINGH, E. K. Open innovation: State of the art and future perspectives. 


Technovation, v. 31, n. 1, p. 2-9, 2011.

INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Pesquisa de Inovação


Tecnológica – PINTEC. 2014. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/vi-
sualizacao/livros/liv99007.pdf>. Acesso em jun. 2019.

OLIVEIRA, L. S. et al. Analysis of determinants for Open Innovation


implementation in Regional Innovation Systems. RAI Revista de Administração
e Inovação, v. 14, n. 2, pp. 119-129, 2017.

OCDE. Manual de Oslo. 3. ed. FINEP/OECD, 2005.

TIGRE, P. B. Gestão da Inovação: A economia da tecnologia no Brasil. 2. ed.


Elsevier: Rio de Janeiro, 2014. 275 p.

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