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CURSO DE MESTRADO EM DIREITO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DIREITOS FUNDAMENTAIS


DISCIPLINA: FILOSOFIA POLÍTICA
PROFESSORA: MARGARETH ANNE LEISTER
SEMESTRE: 2011/1

Aluno: Vinicius Martins do Nascimento

Fichamento: Arqueologia do Saber – Michel Foucault

Em Arqueologia do Saber, Foucault, nascido em 15 de outubro de 1926 e morreu


em 25 de julho de 1984, disserta que o melhor método para a extração do
conhecimento é o método arqueológico em contrapartida da análise estrutural, que
cita como disciplinas tão incertas de suas fronteiras, tão indecisas em seu
conteúdo.

Primeiramente cabe uma libertação à alguns conceitos estabelecidos:

tradição: ela visa dar uma importância temporal singular a um conjunto de


fenômenos, ao mesmo tempo sucessivos e idênticos (ou, pelo menos, análogos);
(...) graças a ela, as novidades podem ser isoladas sobre um fundo de
permanência, e seu mérito transferido para a originalidade, o gênio, a decisão
própria dos indivíduos. (...)

influência, que fornece um suporte (...) aos fatos de transmissão e de


comunicação; (...) que liga (...) unidades definidas como indivíduos, obras, noções
ou teorias. (...)

desenvolvimento e evolução: elas [essas noções] permitem reagrupar uma


sucessão de acontecimentos dispersos; relacioná-los a um único e mesmo princípio
organizador; submetê-los ao poder exemplar da vida (...); descobrir, já atuantes
em cada começo, um princípio de coerência e o esboço de uma unidade futura;
controlar o tempo por uma relação continuamente reversível entre uma origem e
um termo jamais determinados, sempre atuantes.

(...) “mentalidade” ou (...) “espírito”, que permitem estabelecer entre os


fenômenos simultâneos ou sucessivos de uma determinada época uma comunidade
de sentido, ligações simbólicas, um jogo de semelhança e de espelho – ou que
fazem sugerir, como princípio de unidade e de explicação, a soberania de uma
consciência coletiva. É preciso pôr em questão, novamente, essas sínteses
acabadas, esses agrupamentos que, na maioria das vezes, são aceito antes de
qualquer exame, esses lanços cuja validade é reconhecida desde o início (...).

Ademais propõe ainda analise apurada de conceitos como “literatura” e “política”


que derivam da era medieval, não se aplicando, objetivamente a nossos tempos.

Ainda resta, a busca utópica pela realidade perdida, com a investigação


interpretativa pela da forma elaborativa do certo autor analisado: ” (...) Não é
preciso remeter o discurso à longínqua presença da origem; é preciso tratá-lo no
jogo de sua instância.”, que através da análise, livre e complementar de elementos
de formação promove uma descrição dos acontecimentos discursivos como
horizonte para a busca das unidades que aí se formam.

Registra que, além das obras, a produção considerada não intelectual do cotidiano
reproduz, com maior fidelidade os tipos de mentalidade, possibilitando através da
história das idéias penetrar nas disciplinas existentes, tratá-las e reinterpretá-las.

Torna-se, então, a disciplina das interferências, a descrição dos círculos


concêntricos que envolvem as obras, as sublinham, as unem umas às outras e as
inserem em tudo que não é obra.

A arqueologia busca definir não os pensamentos, as representações, as imagens, os


temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos discursos, mas os
próprios discursos, enquanto práticas que obedecem a regras. Ela não trata
o discurso como documento, como signo de outra coisa (...); ela se dirige ao
discurso em seu volume próprio, na qualidade de monumento. Não se trata de
uma disciplina interpretativa: não busca um “outro discurso” mais oculto. Recusa-
se a ser “alegórica”.

A arqueologia não procura encontrar a transição contínua e insensível que liga, em


declive suave, os discursos ao que os precede, envolve ou segue. (...) O problema
dela é, pelo contrário, definir os discursos em sua especificidade; mostrar em
que sentido o jogo das regras que utilizam é irredutível a qualquer outro;
segui-los ao longo de suas arestas exteriores para melhor salientá-los.

Não é ordenada pela figura soberana da obra; não busca compreender o momento
em que esta se destacou do horizonte anônimo. Não quer reencontrar o ponto
enigmático em que o individual e o social se invertem um no outro. (...)
A descrição arqueológica, no nível que se coloca, a oposição originalidade-
banalidade, procura estabelecer a regularidade dos enunciados.

Não se pode mais dizer que uma descoberta, a formulação de um princípio geral.
As homogeneidades (e heterogeneidades) enunciativas se entrecruzam com
continuidades (e mudanças) lingüísticas, com identidades (e diferenças) lógicas,
sem que umas e outras caminhem no mesmo ritmo ou se dominem
necessariamente. Entretanto deve existir entre elas um certo número de relações e
interdependências.

Outra direção de pesquisa: as hierarquias internas às regularidades


enunciativas. (...) Todo o campo enunciativo é, ao mesmo tempo, regular e
vigilante: é insone, nas tão confusas unidades chamadas “épocas”, faz surgirem,
com sua especificidade, “períodos enunciativos” que se articulam no temo dos
conceitos, nas fases teóricas, nos estágios de formalização e nas etapas de
evolução lingüística, mas sem se confundir com eles.

A história das idéias, normalmente, dá um crédito de coerência ao discurso que ela


analisa. Essa lei de coerência é uma regra heurísitca, uma obrigação de
procedimento, quase uma coação moral da pesquisa (...); descobre a organização
interna de um texto, a forma de desenvolvimento de uma obra individual, ou ponto
de encontro de discursos diferentes.

De qualquer forma, a análise deve suprimir, sempre que possa, a contradição. A


contradição funciona, então, ao longo do discurso, como o princípio de sua
historicidade. Para a análise arqueológica, as contradições não são nem aparência a
transpor, nem princípios secretos que seria preciso destacar.
Certas contradições localizam-se apenas no plano das proposições ou das
assertivas, são contradições extrínsecas que remetem à oposição entre formações
discursivas distintas. Já as contradições intrínsecas: as que se desenrolam na
própria formação discursiva e que, nascidas em um ponto do sistema das
formações, fazem surgir subsistemas (...). A oposição, aqui, não é terminal:

Os diferentes níveis de contradição, são um fenômeno complexo que se reparte em


diferentes planos da formação discursiva.
- uma inadequação dos objetos
- uma divergência das modalidades enunciativas
- uma incompatibilidade dos conceitos
- uma exclusão das opções teóricas

A análise arqueológica individualiza e descreve formações discursivas criam a


multiplicidade de registros que percorre os interstícios e desvios do cenário objeto
de estudo.

As análises arqueológicas são muito diferentes das que são praticadas comumente
o que implica cinco tarefas distintas:
a) Mostrar como elementos discursivos inteiramente diferentes podem ser
formados a partir de regras análogas (...); mostrar, entre formações diferentes,
osisomorfismos arqueológicos.
b) Mostrar até que ponto essas regras se aplicam ou não do mesmo modo. (...)
definir o modelo arqueológico de cada formação.
c) Mostrar como conceitos perfeitamente diferentes (...) ocupam uma posição
análoga na ramificação de seu sistema de positividade – que são dotados, assim,
de uma isotopia arqueológica – ainda que seu domínio de aplicação, seu grau de
formalização, sobretudo sua gênese histórica, os tornem totalmente estranhos uns
aos outros.
d) Mostrar, em compensação, como uma única e mesma noção (...) pode
abranger dois elementos arqueologicamente distintos (...); indicar as defasagens
arqueológicas.
e) Mostrar, finalmente, como, de uma positividade a outra, podem ser
estabelecidas relações de subordinação ou de complementaridade (...): estabelecer
as correlações arqueológicas.

Visa uma configuração de interpositividade não é um grupo de disciplinas


vizinhas; não é somente um fenômeno observável de semelhança; não é somente a
relação global de diversos discursos com algum outro; é a lei de suas
comunicações.

A arqueologia faz também com que apareçam relações entre as formações


discursivas e domínios não-discursivos (instituições, acontecimentos políticos,
práticas e processos econômicos). Tais aproximações não têm por finalidade revelar
grandes continuidades culturais ou isolar mecanismos de causalidade.

A arqueologia situa sua análise em um outro nível: os fenômenos de expressão, de


reflexos e de simbolização são, para ela, apenas os efeitos de uma leitura global
em busca das analogias formais ou das translações de sentidos. Ela quer mostrar
não como a prática política determinou o sentido e a forma do discurso médio, mas
como e por que ela faz parte de suas condições de emergência, de inserção e de
funcionamento.

A arqueologia parece tratar a história só para imobilizá-la. De um lado descrevendo


suas formações discursivas, abandona as séries temporais que aí se podem
manifestar; busca regras gerais que valem uniformementnte, e da mesma maneira,
em todos os pontos do tempo: não impõe, a um desenvolvimento talvez lento e
imperceptível, a figura coatora de uma sincronia.

Além disso, todas as regras de formação atribuídas pela arqueologia a uma


positividade não têm a mesma generalidade: algumas são mais particulares e
derivam das outras.

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