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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

Vinícius Nogueira Moreira Godinho

Avaliação acústica do violão clássico


Comparação entre modelo industrial e modelo artesanal

Goiânia,
2021
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Vinicius Nogueira Moreira Godinho

AVALIAÇÃO ACUSTICA DO VIOLÃO CLÁSSICO


COMPARAÇÃO ENTRE MODELO INDUSTRIAL E MODELO ARTESANAL

Projeto de pesquisa apresentado a Escola de Música e


Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás para
avaliação final da disciplina de acústica I
Linha de Pesquisa: sonologia
Orientador: Anselmo Guerra

Goiânia,
2021
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1. INTRODUÇÃO

O violão é um dos instrumentos mais populares, demonstra ter muitas sonoridades


e aplicações sociais diferentes, Couto (2002) diz que: “Os violões são instrumentos de
cordas comuns em várias culturas e estilos musicais. Pode-se notar, sem grandes
dificuldades, uma enorme variedade de violões existentes em diversos países e nas
inúmeras lojas de instrumentos musicais”.
Um iniciante que gasta 300R$ em um violão para começar a aprender, fica
muitíssimo satisfeito com seu instrumento. Um músico profissional já reclamaria da
qualidade deste mesmo instrumento.
Desta maneira, buscamos comparar gravações de um violão feito por um luthier, de
forma artesanal, considerado um instrumento de excelente sonoridade, e um violão
industrial de baixo custo, onde a sonoridade esperada é bem inferior.
A partir da gravação dos dois instrumentos, faremos a comparação dos gráficos
obtidos, para identificar os aspectos acústicos que fazem com que os músicos tenham
preferência pela sonoridade de um dos modelos gravados.
Esta pesquisa é apenas um pequeno passo em direção a compreender quais os
aspectos sonoros/acústicos que o violonista busca em um bom violão.

2. O SOM

Para definirmos som devemos ter 3 atributos: intensidade, frequência e timbre


desse som. Couto (2002) e Teixeira (2017) trazem algumas definições do som que:

“Cientificamente, se sabe que o som se comporta como uma onda,


ou conjunto de ondas distintas. Sabe-se também que este possui algumas
características intrínsecas chamadas de qualidades fisiológicas do som. São
elas, a intensidade, a altura e o timbre. Tais características são as responsáveis
pela possibilidade de distinção entre os sons.” (COUTO, 2002)

“A definição do som depende basicamente de três parâmetros, a


frequência, a intensidade e o timbre” (Teixeira; Stoppa; 2017)

Como explica couto, um som complexo é formado pela somatória de “sons mais
simples”, chamados de harmônicos parciais. A intensidade e frequência destes
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harmônicos combinados nos dá o “DNA” do som. Os harmônicos parciais são a


assinatura acústica de cada instrumento musical. Sobre os olhos da teoria de Fourier,
Couto diz que:

O som é uma onda. Por ser uma onda, pode-se analisá-lo através das
teorias de Fourier, onde mostram que uma onda qualquer é, na verdade, formada
pela somatória de várias outras ondas de formato senoidal (COUTO, 2008)

A transformada de Fourier é uma forma para determinar quais os harmônicos


possíveis como (Teixeira; Stoppa, 2017) explicita:

...temos uma determinada forma de onda complexa e queremos


determinar as freqüências das senóides que a compõe, ou seja, a fundamental e
os possíveis harmônicos. Para isso, necessitamos fazer uma análise no domínio
da freqüência e a ferramenta utilizada para isso é a Transformada de Fourier.
(Teixeira; Stoppa, 2017)

Não é intenção deste trabalho descrever a matemática acerca da Transformada


de Fourier, e sim usá-la apenas como ferramenta de transformação para se obter uma
forma equivalente dos sinais no domínio da frequência. Para tanto, usaremos um
software analisador de espectros.

Figura 1 Harmônicos violão clássico


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Apartir do software também conseguimos mensurar outras qualidades do som,


denominamos estas qualidades agrupados de envelope sonoro ou envoltória. A
envoltória é definida por um gráfico de intensidade sonora por tempo. Nele podemos
observar 4 períodos distintos: ataque, decaimento, sustain e release.

Figura 2 Envelope sonoro de uma nota genérica

Henrique (2002) diz que o ataque corresponde a passagem do silencio ao som. O


release se dá no período que o som se extingue, enquanto o sustain se dá em todo o
período transitório do ataque ao release.
Todos as etapas sonoras são importantes para identificar o som de um instrumento.
É no período de estabilidade da nota em que mensuramos altura e intensidade do som.

3. O VIOLÃO CLÁSSICO

O violão clássico como conhecemos hoje foi criado em 1859 pelo luthier Antônio
de Torres, dentre as principais alterações destacadas por Zaczéski(2018):

“As principais modificações introduzidas por Torres foram: aumento do


tamanho da caixa acústica, modificações das proporções, modificações do
reforço interno do tampo em forma de leque (com sete barras longitudinais
dispostas simetricamente) e a definição do comprimento de escala em 650 mm”
(ZACZÉSKI,2018).

Zaczéski(2018) também diz que, este instrumento faz parte da família dos
cordófonos dedilhados, onde o som é produzido pelas cordas, que são pulsadas pelos
dedos. O violão possui 6 ordens de cordas simples, com comprimento de corda vibrante
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de 65cm, esse comprimento é definido pelos pontos de apoio da corda, ou seja é a


distância entre a pestana (6) e o rastilho(5), fabricadas em osso para suportar tamanha
pressão das cordas. Como se pode ver na imagem abaixo:

Figura 3 Visão explodida de um violão. 1 fundo, 2 lateral, 3 tampo, 4 cavalete, 5 rastilho, 6 pestana, 7 mão, 8 braço, 9
escala, 10 salto e 11 boca.

Sobre os materiais que compõem o violão clássico, a madeira utilizada no tampo


do violão é a que tem maior efeito sobre o som (3). A madeira mais utilizada e favorita
dos violonistas é o abeto (spruce). No fundo(1) e nas laterais(2) da caixa acústica do
violão, a melhor madeira é o jacarandá (rosewood). Para o braço(8) a madeira preferida
é o mogno de duas espécies e logo depois o cedro da espécie Cedrela fissilis. Para o
espelho do braço ou escala (9), o ébano é quase sempre a madeira eleita. A mesma
madeira da escala é usada no cavalete (4) (CHAVES, 2018)

Um violão produzido de forma artesanal por um luthier, tende a manter as formas


tradicionais de construção e a qualidade dos materiais, buscando fidelidade ao timbre
característico do violão clássico, apesar de cada instrumento ter um som único,
decorrente das características únicas de cada madeira.

O que não é prioridade para os violões industriais que utilizam materiais de baixo
custo e busca padronizar o som e estética do instrumento. A grande maioria dos violões
industriais usa madeira laminada ou compensada nos tampos fundos e laterais,
proporcionando uma maior homogeneidade de som entre as diferentes peças
produzidas, mas perdendo sonoridade. Os pontos de apoio das cordas (pestana e
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rastilho) nestes violões industriais também são feitos de mateiras mais baratos, são feitos
de plástico. O plástico e um material mole que influencia diretamente na absorção de
vibração da corda, acarretando uma diminuição do sustain das notas.

4. OBJETIVOS:

4.1. OBJETIVO GERAL:

 Comparar as qualidades acústicas de dois violões clássicos

4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

 Gravação dos violões


 Analise pela FFT dos principais harmônicos de cada violão
 Comparação do envelope sonoro de cada violão
 Comparação de resultados entre os violões

5. METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE AÇÃO

Qualitativo usando recursos do quantitativo. A análise será qualitativa, a partir da


mensuração quantitativa das parciais responsáveis pelo timbre de cada violão. Em cada
nota das gravações, teremos dados qualitativos e quantitativos para avaliar.

“O volume, juntamente com a altura, o timbre e a duração, é um dos


atributos utilizados para descrever o som subjetivamente. Cada um destes
atributos depende de um ou mais parâmetros físicos mensuráveis” (NAVEDA,
2002)

Os dados serão coletados a partir da gravação de áudio de dois violões;


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 Os violões:

O violão industrial aqui usado e um modelo gianini te tampo e laterais laminados


braço de cedro, escala de ipê, pestana e rastilhos de plástico. Seu valor aproximado é de
menos de 500R$. Suas cordas são canário, o modelo mais barato. A escolha deste violão
se deu por ser considerado um violão de baixo custo muito acessível e escolhido pelos
iniciantes. Outro motivo foi de ele ter sido abandonado pelo dono na oficina de
restauração pois os serviços superavam o valor do instrumento. O luthier fez os restauros
adequados (troca de trastes, colagem do cavalete e salto, e regulagem completa).

O violão artesanal utilizado na pesquisa é um violão modelo clássico feito pelo


luthier Marcos Evangelista em 2015. Tampo de abeto com leque tradicional
Torres/Hauser, fundo e lateral de jacarandá africano, braço de mogno escala de ébano
pestana e rastilho em osso. O violão já foi amplamente elogiado pelos alunos e
professores da EMAC, e em festivais de violão de todo brasil. Seu custo no mercado hoje
é de 9 mil reais.

 A gravação:

A gravação será feita utilizando um microfone de lapela ligado diretamente ao


celular, e posicionado no suporte ergonômico utilizado pelo músico.
O mesmo músico executará todas as gravações, utilizando a técnica de toque
apoiado.
As notas gravadas são as notas da escala de dó na primeira região do braço do
violão.
A escala será gravada em 3 timbres diferentes, metálico, aveludado e normal.

 Os Gráficos:

Para cada nota gravada, temos um gráfico tridimensional relacionado de onde


levantamos importantes informações.
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Figura 4 Representação tridimensional do som

Cada plano deste gráfico revela características diferentes do som. No plano


dinâmico percebemos as características de envelope sonoro da nota, mesurando ataque,
período estável e o decaimento. O plano harmônico nos entrega quais as frequências e
intensidades de cada parcial do som. E o plano melódico diz qual a frequência e tempo
da nota tocada.
Neste trabalho faremos comparação entre os gráficos de algumas notas. Os
gráficos serão comparado dois a dois, sendo estes relativos a mesma nota tacada na
mesma região de ataque só que em violões diferentes. Essa comparação se dará tanto
no plano dinâmico quanto no plano harmônico, ou seja vamos analisar dois gráficos para
cada nota. Os pontos importantes de observação no plano dinâmico são o ataque, o
sustain, o decaimento e a amplitude. Já no plano harmônico nos interessa identificar a
intensidade, frequência, e a largura de banda dos 5 primeiros harmônicos.
E esperado que o violão de baixo custo apresente no plano dinâmico um menor
sustain, uma menor e amplitude sonora, e um decaimento sonoro mais rápido, em relação
ao violão artesanal. Comparando os planos harmônicos, devemos perceber harmônicos
menos definidos no violão de baixo custo. Estes harmônicos deveram ter menor
intensidade e maior largura de banda, no violão industrial. Em contra mão que os
artesanais com matéria prima de qualidade proporciona harmônicos mais definidos e
mais intensos, e mais numerosos.
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6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

ATIVIDADE Início Término


Revisão da ▪ Seleção dos textos base
Literatura
▪ Captação de som e plotagem dos
Organização de
Dados gráficos

Análise e ▪ Comparação dos gráficos


Interpretação dos correspondentes
Dados
▪ Elaboração do texto final
Apresentação dos
Resultados
▪ Entrega do relatório Final ou defesa
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7. REFERÊNCIAS:

Henrique, Luís L.; Acústica musical. 1. ed. Portugal: Lisboa, 2002.

ZACZÉSKI, Monicky E.; BERCKET, Carlos H.; BARROS, Thales G.; FERREIRA, Ana
L.; FREITAS, Thiago C.; Violão: aspectos acústicos, estruturais e históricos. In:
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE FÍSICA, vol.40, nº1, 2018, Curitiba.

CHAVES, Alaor Evolução na construção execução do violão clássico. Disponível


em http://alaorchaves.com.br/evolucao-na-construcao-e-execucao-do-violao-classico/
Acesso em 08/11/2021.

NAVEDA, Luiz Alberto B. de. O timbre e o volume sonoro do violão: Uma abordagem
acústica e psicoacústica. 2002. 189 f. Dissertação de mestrado (mestre em música).
Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2002.

COUTO, André Luiz de Macedo. Física do violão. 2008. 27 f. Trabalho de conclusão


de curso (curso de física). Universidade Católica de Brasília, Brasília. 2008.

TEIXEIRA, Alexandre Carlos da Silva ; STOPPA, Marcelo H.; Transformata de Fourier


aplicada à análise espectral de notas e acordes musicais. Disponível em
http://docplayer.com.br/52145893-Transformada-de-fourier-aplicada-a-analise-
espectral-de-notas-e-acordes-musicais.html. .2017.Acesso em 08/11/2021.

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